Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros

Fundado em 27 de Dezembro de 2006

VOLUME VIII

MONTES CLAROS
MINAS GERAIS – BRASIL
2011


COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007


Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Jornalista LUIS RIBEIRO
Dr. WANDERLINO ARRUDA


DIRETORIA 2010- 2011

PRESIDENTE DE HONRA Dr. LUIZ DE PAULA FERREIRA
PRESIDENTE Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
1º VICE - PRESIDENTE Dr. WANDERLINO ARRUDA
2º VICE - PRESIDENTE Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
DIRETORA EXECUTIVA ROBERTO CARLOS M. SANTIAGO
DIRETOR-SECRETÁRIO Dr. PETRÔNIO BRAZ
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO Profa. MARTA VERÔNICA V. LEITE
DIRETOR DE FINANÇAS Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
DIRETOR DE FINANÇAS ADJUNTO Profa. KARLA CELENE CAMPOS
DIRETORA DE PROTOCOLO Dra. MARIA DA GLÓRIA C. MAMELUQUE
DIRETORA CULTURAL Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO
DIRETORA DE BIBLIOTECA Profa. RUTH TUPINAMBÁ GRAÇA
DIRETORA DE MUSEU Profa. MARIA LUÍZA SILVEIRA TELLES
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS Jornalista REGINAURO R. DA SILVA
DIRETORIA DE JORNALISMO Jornalista BENEDITO DE PAULA SAID
DIRETORA DE CURSOS Profa. MARIA GERALDA DE SENA SOUZA

CONSELHO CONSULTIVO

Dr. JOSÉ GERALDO DE FREITAS DRUMOND
Dr. WALDYR DE SENA BATISTA
Profa. YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Prof. IVO DAS CHAGAS
Profa. ANETE MARÍLIA PEREIRA
Profa. MARIA APARECIDA COSTA


COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Prof. CÉSAR HENRIQUE DE QUEIROZ PORTO
Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA

Prof. GY REIS GOMES BRITO
Profa. CLÁUDIA REGINA ALMEIDA

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIO
S

Jornalista MAGNOS DENNER MEDEIROS
Profa. MIRIAM CARVALHO
Dra. FELICIDADE VASCONCELOS TUPINAMBÁ
Profa. ZORAIDE GUERRA DAVID
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

COMISSÃO DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO

Dr. PETRÔNIO BRAZ - coordenador
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. ITAMAURY TELLES DE OLIVEIRA
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Prof. JUVENAL CALDEIRA DURÃES
Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Jornalista LUIS CARLOS NOVAES


COMISSÃO REVISORA DA REVISTA

Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
Dr. WANDERLINO ARRUDA


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Dr José Santos Rameta Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Escritora Milene A. Coutinho Maurício Alfredo de Souza Coutinho
03
Padre Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Cel. Lázaro Francisco Sena Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Profª Yvonne de Oliveira Silveira Antônio Ferreira de Oliveira
06
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Professora Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Professora Anete Marilia Pereira Antônio Jorge
09
Professora Isabel Rebelo de Paula Antônio Lafetá Rebelo
10
Professora Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Jornalista Reginauro Rodrigues da Silva Ary Oliveira
12
Dr Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Dr Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Professora Karla Celene Campos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Jornalista Magnus Denner Medeiros Ataliba Machado
16
Dr Waldir de Senna Batista Athos Braga
17
Profa. Marta Verônica Vasconcelos Leite Auguste de Saint Hillaire
18
Dr Petrônio Braz Brasiliano Braz
19
Dr Luiz de Paula Ferreira Caio Mário Lafetá
20
Professora Felicidade Patrocínio Camilo Prates
21
Profa.Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Dr. Ajax Amaral Tolentino Carlos Gomes da Mota
23
Historiador Hélio de Morais Carlos José Versiani
24
VAGA Celestino Soares da Cruz
25
Dr Ronaldo José de Almentida Corbiniano R Aquino
26
Profa. Maria Rejane Rodrigues Ruas Colares Cyro dos Anjos
27
Professora Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Jornalista Jerusia Xavier Arruda Darcy Ribeiro
29
Professora Filomena Luciene Cordeiro Demóstenes Rockert
30
VAGA Dona Tirbutina
31
Professora Clarice Sarmento Dulce Sarmento
32
Dr Edgar Antunes Pereira Edgar Martins Pereira
33
Dr Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Profa. Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35
Dr. Antônio Ferreira Cabral Ezequiel Pereira
36
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Dra. Jussara Veloso Ferreira Antunes Francisco Barbosa Cursino
38
Professora Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
Professor Ivo das Chagas Gentil Gonzaga
40
Drª Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Dr Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Professora Maria Luiza Silveira Teles Geraldo Tito da Silveira
43
Professor Benedito de Paula Said Godofredo Guedes
44
Hist. Roberto Carlos Morais Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
VAGA Henrique Oliva Brasil
46
Professora Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Jornalista Paulo César Narciso Soares Hermenegildo Chaves
48
Profa. Maria das Dores Antunes Câmara Hermes Augusto de Paula
49
Dra. Maria Fernanda M. Brito Ramos Irmã Beata
50
Jornalista Délio Pinheiro Neto Jair Oliveira
51
Dr José Carlos Vale de Lima João Alencar Athayde
52
Profa. Maria Isabel M. F. Sobreira João Chaves
53
Dr João Carlos M. Sobreira de Carvalho João Batista de Paula
54
Adnauer Denarte Dávila João José Alves
55
Professora Claúdia Regina Almeida João Luiz de Almeida
56
Dra. Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
Jornalista Luiz Carlos Novaes João Novaes Avelins
58
Profa. Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Jornalista Luiz Ribeiro dos Santos João Vale Maurício
60
Dr. Manoel Messias Oliveira Jorge Tadeu Guimarães
61
Jornalista Girleno Alencar Soares José Alves de Macedo
62
Profº José Geraldo de Freitas Drumond José Esteves Rodrigues
63
Historiador Pedro de Oliveira José Gomes Machado
64
Professora Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Dra. Maria de Lourdes Chaves José Gonçalves de Ulhôa
66
Arqueólogo Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Dr Elias Siuffi José Monteiro Fonseca
68
Professora Rejane Meireles Amaral José Nunes Mourão
69
Dr. Aderbal Esteves José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
Jornalista Márcia Sá José Tomaz Oliveira
71
Dra. Edwirges Teixeira de Freitas Júlio César de Melo Franco
72
Jornalista Theodomiro Paulino Correa Lazinho Pimenta
73
Dra. Maria das Mercês Paixão Guedes Lilia Câmara
74
Professor Laurindo Mekie Pereira Luiz Milton Prates
75
VAGA Manoel Ambrósio
76
VAGA Manoel Esteves
77
Profª Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Jornalista Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Professora Maria José Colares Moreira Mauro de Araújo Moreira
80
VAGA Miguel Braga
81
Prof. Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Dr Haroldo Lívio de Oliveira Nelson Viana
83
VAGA Newton Caetano d’Angelis
84
Dr Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
Historiador Expedito Veloso Barbosa Armênio Veloso
86
Professora Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Profa. Marta Edith Sayago M Marques Pedro Martins de Sant’Anna
88
Professora Miriam Carvalho Plínio Ribeiro dos Santos
89
VAGA Robson Costa
90
Hostoriador José Henrique Brandão Romeu Barcelos Costa
91
Dr Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Professor Roberto Pinto Fonseca Sebastião Tupinambá
93
Dr Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Dr Luiz Pires Filho Teófilo Ribeiro Filho
95
Profa. Marilene Veloso Tófolo Terezinha Vasquez
96
Professora Ruth Tupinambá Graça Tobias Leal Tupinambá
97
VAGA Urbino Vianna
98
VAGA Virgilio Abreu de Paula
99
Cel. Antônio Moreira Neto Waldemar Versiani dos Anjos
100
Professora Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

Sócios Correspondentes

Jornalista Adriano Souto Belo Horizonte - MG
Prof. Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas - BA
Jornalista Alberto Sena Batista Belo Horizonte - MG
Dr.André Kohene Caetité -BA
Prof. Regente Armênio Graça Filho Rio de Janeiro- RJ
Dr. Ático Vilas-Boas da Mota Macaúbas - BA
Dr. Augusto José Vieira Neto Belo Horizonte - MG
Dr. Avay Miranda Brasilia - DF
Jornalista Carlos Lindenberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Escritora Carmem Netto Victória Belo Horizonte - MG
Jornalista Cláudia Correia Costa Carvalho Luz - MG
Jornalista Cintia Bernes Belo Horizonte - MG
Historiadora Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Historiador Daniel Antunes Júnior Espinosas - MG
Historiador Dario Cardoso Vale Belo Horizonte - MG
Dr. Dêniston Fernandes Diamantino Januária - MG
Historiador Domingos Diniz Pirapora - MG
Dr. Enock Sacramento
São Paulo - SP
Dr. Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte - MG
Dr. Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte MG
Escritor Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Jornalista Genoveva Ruisdias Belo Horizonte - MG
Jornalista Geraldo Henriques (Riky Tereze) New York - USA
Prof. Herbet Sardinha Pinto Belo Horizonte - MG
Dr. Hermano Baggio Pirapora - MG
Jornalista Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
Jornalista João Martins Guanambi - BA
Dr. Jorge Lasmar Belo Horizonte MG
Dr. Leonardo Alvares da Silva Campos Belo Horizonte - MG
Prof. José Eustáquio Machado Coelho Belo Horizonte MG
Prof. Dr. Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
Dr. José Walter Pires Brumado - BA
Dr. Marco Aurélio Baggio Belo Horizonte MG
Profa. Dra. Maria da Consolação M. Figueiredo Cowen London - England
Prof. Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Jornalista Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Escritor Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Profa. Terezinha Teixeira Santos Guanambi - BA
Prof.Thiago Carvalho Makiyama Gunma-Ken - Japão
Prof. Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Historiador Zanoni Eustáquio Roque Neves
Belo Horizonte - MG

NOTAS DOS COORDENADORES DA EDIÇÃO

............A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à seqüência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes;

............A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados;

............A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.


FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.

APRESENTAÇÃO

“Todos sabem fazer história - mas só os grandes sabem escrevê-la.”
(Oscar Wilde)

...........Estamos agora publicando o oitavo número da Revista do Instituto, sempre com capas coloridas, repleta de fotografias e de textos dos mais influentes historiadores de Montes Claros. Apesar de ainda não ter o reconhecimento das autoridades políticas de nossa terra, o que é uma falta imperdoável, mesmo assim nós temos a consciência de que estamos fazendo um trabalho de importância inquestionável para a nossa cidade e a nossa gente.

............Aliás, é sempre assim quando se trata de cultura, alguns segmentos da sociedade, principalmente a classe política, não valorizam como deveriam as realizações dos que procuram preservar, pesquisar, estudar, catalogar e resgatar os fatos históricos da nossa terra. Há muito que solicitamos da Câmara Municipal de Montes Claros o reconhecimento do IHGMC como sendo de utilidade pública, o que não aconteceu até agora. Mas, continuamos na estrada, sinuosa e íngreme, até quando for possível trilhar esse caminho.

............Por ser assim, trata-se, a Revista do Instituto de uma obra de utilidade para todos – estudantes ou estudiosos da história antiga de Montes Claros e região. Ainda mais quando se fala das famílias tradicionais que fizeram nascer à beira do córrego Vieiras um núcleo de habitação sob a proteção de São José e de Nossa Senhora da Conceição. Ninguém há que desconheça hoje a importância da história de nossa terra e é por isso mesmo que o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros traz a lume, a cada seis meses, uma nova edição de sua Revista.

............No entanto, em nossa história contemporânea, já de si tão escassa, não há, ao que sabemos, nenhum outro processo de registros atuais senão as edições de nossa revista semestral. Isso, não obstante os diversos livros publicados, o que não se fazia, em Montes Claros, em anos anteriores.

............Portanto, agora editamos o seu oitavo número. Não nos pareceu de grande vantagem sobrecarregá-la com textos científicos, assim como querem alguns de nossos confrades, uma vez que o nosso objetivo é alcançar um número maior de leitores e com isso facilitar a divulgação da história com o seu melhor proveito. Sem descer às minúcias, esforçamo-nos em produzir textos simples, mas ricos de informações que possam satisfazer a curiosidade das pessoas. Na verdade, Montes Claros tem uma belíssima história, o que precisa é divulgá-la com o esmero e o carinho então necessário.

Dário Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC


HOMENAGENS


Historiador João Botelho Neto

Cônego Adherbal Murta de Almeida

Poeta Reivaldo Canela

Escritor
Olyntho da Silveira

Necésio de Morais

 

EPITÁFIO

Para um túmulo de amigo

“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”.

(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, I.)

 


 

Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros
Fundado em 27 de Dezembro de 2006

 


 

DOUVILLE EM MONTES CLAROS

Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

............João Batista Douville, viajante e naturalista francês, que esteve na Vila de Montes Claros das Formigas, no ano de 1836, conforme disse o pesquisador George Gardner, no seu livro “Viagem ao Interior do Brasil”. Ainda disse Gardner que o Dr. Douville esteve por algum tempo alojado na casa do padre Antônio Gonçalves Chaves, que era vereador da vila naquela oportunidade.

............A sua viagem ao interior africano e a sua estadia no Porto de Moçamedes, levou Portugal a pensar sério sobre a ocupação do Brasil.

............Nas informações colhidas por George Gardner sobre a presença de Douville com o padre Antônio Gonçalves Chaves, há de se notar que o povo de Formigas não acreditava que se tratava do verdadeiro Douville, pois tinha os moradores a desconfiança de suas ações como médico. “O vigário, bem como outras pessoas inteligentes de Formigas, suspeitavam-no de embusteiro, concluindo que não era o verdadeiro Douville, que se dizia ter viajado na África, mas outra pessoa que obtivera fraudulentamente a posse de seus papéis”.

Pesquisa: Viagem ao Interior do Brasil – 1836/1841 - George Gardner. Livraria Itatiaia Editora Ltda. São Paulo. Páginas: 194/195. Reprodução do Texto: Encyclopedia e Diccionário Internacional. Volume VI. W.M. Jackson Ing. Página 3.745.

............Sabe-se que o Dr. Douville foi fazer um atendimento médico a um enfermo, numa fazenda perto do Rio São Francisco. Não logrando êxito de cura, pois o paciente veio a falecer, a família então lhe negou o pagamento de duzentos mil-réis, conforme havia anteriormente combinado. O Dr. Douville insistiu em receber o dinheiro, o que foi feito pelos herdeiros do morto. Entretanto, quando ele desceu para embarcar numa canoa às margens do velho Chico, foi surpreendido por um jagunço a mando dos filhos do finado fazendeiro, que o assassinou e ainda restituiu a quantia paga e roubou-lhe todos os seus pertences.

............Nas pesquisas que fizemos a respeito de Douville, entendemos que se tratava realmente do verdadeiro João Baptista Douville, pois há registros de sua passagem por aqui. Entretanto, encontramos outros assinalamentos de que teria visitado a América do Sul antes mesmo de sua viagem ao continente africano. Vejamos o que diz a Enciclopédia Britânica de W. M. Jackson: “Douville percorreu primeiro a Europa, a Ásia e a América do Sul, depois dirigiu-se à África em 1827”, Se assim aconteceu, ele teria vindo ao Brasil por duas oportunidades. A primeira vez antes de 1827 e a segunda vez em 1835, ano de sua morte. Nota-se que não foi em 1836, como afirmou o pesquisador George Gardner. Vejamos: “Em 1836 ele visitou Formigas e viveu algum tempo em casa do vigário, fazendo-se passar como Dr. Douville”. Aliás, este ano de 1836 foi a data da visita do pesquisador Gardner à cidade de Montes Claros e não do Dr. Douville.


A CASA DA TORRE

Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

............Eu e a minha família fizemos uma viagem inesquecível pelo tempo de outrora. Visitamos o nordeste brasileiro, desde a encantadora cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, até a mística cidade de Salvador, na Bahia. Entretanto, não foram as praias do Porto de Galinhas (Pernambuco) e nem tampouco as dunas de areias da cidade de Natal (Rio Grande do Norte) as coisas que mais atraíram a nossa imaginação. Na verdade, quando chegamos a Mata de São João – Bahia, que avistamos as belas ruínas do Castelo dos D’Ávilas, foi como se a gente retornasse o tempo a mais de quatro séculos. As ruínas do Castelo são realmente de uma boniteza indescritível.

............Pode-se dizer que o belíssimo Castelo da Torre, do jovem Garcia D’Ávila, é simplesmente admirável! Conta a nossa história que Garcia veio para o Brasil em companhia do primeiro governador geral, Tomé de Souza, por determinação do rei de Portugal, D. João. Aqui, Garcia D’Ávila exerceu a função de almoxarife, tendo recebido como adiantamento dos seus serviços prestados à coroa algumas cabeças de gado. Em seguida recebeu ainda algumas léguas de terras no litoral norte, e foi aí que ele escolheu a Colina de Tatuapara para construir o seu Castelo, em pedras portuguesas, com diversos compartimentos. As suas paredes de pedras são largas o que denuncia a importância da construção para aquela época.

............Sabe-se que o Castelo foi utilizado por muito tempo como residência oficial dos D’Ávilas. Em virtude de sua posição privilegiada e estratégica, ele passou a ser usado como base militar, cumprindo assim a nobre missão de enviar mensagens a longa distância. Construída de maneira que lembra o estilo medieval, a Casa da Torre foi edificada em três etapas, a saber: a primeira iniciada em 1551 e concluída em 1640; a segunda de 1660 a 1676 e finalmente a terceira etapa de 1680 a 1716.

............Quando conquistamos os primeiros cem metros de uma íngreme rampa, calçada de pedras sem nivelamento e avistamos o grandioso Cruzeiro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, num descampado plano e com vista para o mar, a nossa primeira impressão era de que estávamos numa época bem fora da nossa realidade. A lembrança dos colonizadores portugueses, dos fazendeiros e dos criadores de gado na margem do rio São Francisco, dos mineradores e de todas as formas de entradas e bandeiras no solo do sertão brasileiro haveriam de iniciar naquele momento.

............Hoje o Castelo de Garcia D’Ávila, depois de 460 anos de existência, está tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na condição de monumento histórico da mais alta importância para a história da gente brasileira. Além da emoção de conhecer de perto este suntuoso Castelo dos D’Ávilas, confessamos com muito orgulho que a maior emoção ainda foi ver o nosso neto, Arthur Rodrigues Cotrim, com apenas três anos de idade, correr animadamente em busca do Castelo como se ali estivessem guardadas todas as lembranças do mundo. Poucos sabem, mas a Casa da Torre (Garcia D’Ávila) e a Casa da Ponte (Antônio Guedes de Brito) foram de grande importância para a formação histórica da cidade de Montes Claros.


UM LUGAR

Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Cadeira N. 46
Patrono: Herbert de Souza - Betinho

 

Granjas Reunidas era um lugar
Nem cidade, vila ou fazenda,
Mas, um lugar.

Lugar bonito de plantação

De buganvílias lilases na casa de escadaria do gerente,
De papagaios que floresciam vermelhos em maio e junho,
De barrigudas, que forneciam paina para travesseiros,
Provocavam coceira no nariz e floresciam de rosa em março.

Lugar verde de canaviais

Com folha verde-cana, quando brotava tenra em novembro
E folha verde escura, pronta para o corte na safra,
Canaviais que se embebedavam das águas do Jequitaí
Formavam montanhas brancas de açúcar
E transparentes rios que inebriavam.

Lugar propício para rezar

A igreja São José, bem no alto da praça,
Festejava o padroeiro no mês de março.
Coroação e comemoração a muitos santos
E perseverança à folhinha do Sagrado Coração.

Lugar abençoado pela natureza

Nos relevos cársticos, pespontam cavernas e cabeças de frade,
No sopé da serra, o córrego Baco-Lelê,
Nos rios, as traíras proliferaram-se,
O tatu, jacaré e a codorna faziam parte da fauna.

Lugar de atrativos

O trem que chegava à estação trazendo o cheiro de maçãs,
O cinema misterioso, com cadeiras marcadas,
O piquenique na favela da Malhadinha
E passeio pelos trilhos a Engenheiro Dolabela.

Lugar pequeno com classe burguesa

De imigrantes com Know-How europeu,
De escola com nome do dono do lugar,
De pouso de avião particular
E de clubes itinerantes.

Lugar de contradições

Se era florido, se havia grande e doce produção,
Se possuía infra-estrutura urbana e rural,
Se o espaço retratava paz,
Por que Granjas Reunidas era um lugar?

Lugar do passado

De lembranças vivas,
De ventos que batem em portas que não precisam fechar,
De poeira que levanta no solo abandonado,
De gente sem terra e sem pão,
De poucos que não se tornaram retirantes
E que ainda sonham com aquele lugar.


O MONTESCLARENSE
DOMINGOS LOPES DA SILVA

Fabiano Lopes de Paula
Cadeira N. 66
Patrono: José Lopes de Carvalho

............O tempo é um fio invisível que marca inexoravelmente o correr dos dias. Diz a Bíblia que o importante é viver o dia de hoje, pois cada dia tem o seu cuidado e que o futuro a Deus pertence. O futuro é cada dia que se concretiza e que deve ser bem trabalhado. O passado, no entanto, é um legado que pertence a todos nós. É ele que explica o nosso presente; é o fio pelo qual passam todas as justificativas do que hoje se tem ou não e pelo qual há a continuidade do ser e do ter.

............É muito mais fácil exemplificar, do que definir por palavras um grande homem, um ente querido, um cidadão do porte de Domingos Lopes. Seus exemplos cobrem uma seara tão grande e assim diversificada que não seria aqui judicioso descrevê-lo em toda a sua plenitude de vida. A nossa razão não vem da conexão genealógica apenas, mas pelo dever do reconhecimento e de dar valor a quem realmente o tem. A nossa intenção é que busquemos a tessitura dos fatos nas escolhas das nossas memórias, dos nossos familiares e dos amigos, mesmo sendo seletivas, pois não há como buscá-las todas no amplo convívio e nos feitos de Domingos Lopes. Esperamos que essa lembrança mais abrangente exprima uma parte do perfil do nosso avô. Ressaltamos que as opiniões aqui expressas são dos amigos, dos fatos vividos, que reconhecem o legado desse benemérito, cuja memória nunca se apaga. Foi um exemplo de cidadania e benemerência de Montes Claros.

............A memória pode ser ambígua, pois é um jogo de revelações, ou, por outro lado, de ocultações. Expor é, portanto, reparar o que foi negligenciado, ou mesmo ignorado por alguns.

............O nosso objetivo não é biografá-lo, mas trazer à luz alguns fatos para contribuir um pouco com a história de Montes Claros, de seus grandes homens e de seus atos que deixaram marcas para a posteridade.

............O tempo amarelece as lembranças e deposita involuntariamente poeira no passado, por isso sempre é preciso um sopro para trazer à tona memórias de pessoas que, pela própria vocação e espírito altruísta, beneficiaram de alguma forma a sociedade em que viveram. Assim é a figura do Coronel Domingos Lopes da Silva, grande benemérito de Montes Claros e região. Coronel, não pela força do mandonismo e pelo poder, mas porque foi senhor de carisma, de retidão em seu caráter e laborioso no trato da pecuária e da lavoura, porque, de acréscimo, angariou respeito e notoriedade pelos seus feitos políticos em prol da região e, consequentemente, do montesclarense. Nessa arqueologia, ao revolver as camadas apostas pelo tempo, vislumbramos, no presente, feitos dessa grande figura. Foi tropeiro em sua adolescência, juntamente com o seu fiel irmão Valeriano Lopes, aprendeu o oficio de seleiro, sendo proprietário de uma das primeiras padarias, que se localizava na rua Justino Câmara. Como fazendeiro, teve as fazendas “Graciosa” no distrito Santa Rosa de Lima; uma às margens do rio Verde e, por último, as “Camarinhas” entre Miralta e Nova Esperança.

............Já dizem que é na caminhada que o homem faz a sua história e modifica a história de vida de um povo. Assim “Dumingo de tia Ná”, por esta foi criado, ou “Bibigo” para os mais íntimos ainda. Nasceu a 6 de maio do ano de 1896, na rua Padre Teixeira, a rua “de Baixo”, da união de Francisco Lopes da Silva e Joana Pereira Lopes. Casou-se com D. Vitalina, com quem dividiu por setenta e um anos amor, sonhos, realizações e felicidades. Tiveram três filhos, Maria da Conceição, David e Maria Nazareth, esta casada com Cassimiro de Paula Ferreira, sendo os netos Fabiano, Adriana e Luciano. Foi um pai de extremado carinho e dedicação aos seus filhos, e posteriormente a seus netos, pelos quais não comedia seus esforços de atenção e cuidados.


Domingos Lopes da Silva


Vitalina Lopes esposa do Domingos Lopes / Tia Ná (Maria Pereira Salgado)


Filhos de Domingos Lopes: Maria da Conceição, Maria Nazareth (sentada) e David. / Netos do Domingos Lopes: Luciano, Fabiano e Adriana.


Domingos Lopes e o Ministro Santiago Dantas, Presidente do PTB e Embaixador do Brasil na ONU.


Domingos Lopes com o Presidente João Goulart.


Arlindo Maciel IAPETEC do Pernambuco; Domingos Lopes; Ministro do Trabalho, Batista Ramos, Tancredo Neves (Presidente do Banco do Brasil); Jornalista José Carlos de Lima e prefeito Geraldo Athayde. Foto tirada no centenário de Montes Claros, em 03 de julho de 1957, na residência de Domingos Lopes.


Festa de Agosto: David Lopes, Imperador do Divino. Primeira fila: Francelina Abreu de Oliveira, criança não identificada, Nazareth Lopes, David Lopes (Imperador do Divino), Diva Gomes, Maria da Conceição Lopes (Licota), Caetana Gomes e criança não identificada (da família Aguiar). Fila de trás: Josefina Abreu de Paula, Vitalina Lopes e Domingos Lopes.

 

............Domingos Lopes, segundo afirmam, nasceu político e não fugiu a sua vocação. Alcançou, a partir desse dom, realizações que ficaram na história e na mente do povo. Junto a outros políticos de sua época, Juca Machado e o amigo Dr. Santos, então prefeito local. Logo após a revolução de 30, ele já despontava como grande político que viria trazer benefícios à cidade e à vida da população. Enquanto fazendeiro, já exercia sua política como gerador de empregos e pela forma como administrava suas atividades.

............Nunca esteve à deriva de uma politica democrática que se esboçava em coligações diversas. Seu amigo, o jornalista Dr. José Carlos de Lima, faz uma observação em que reitera o perfil ilustre e despreendido do Sr. Domingos, é que ele foi um articulador político e, na sua atuação como vereador, nunca deixou de lado o desenvolvimento da zona rural, razão de ter tido inúmeros amigos nas sedes dos distritos e nas fazendas, na região norte mineira. Esse tino articulador veio de sua inteligência e do apoio de seus parentes, principalmente de seu irmão Valeriano e dos amigos correligionários.

............Originou-se, também, da sua flexibilidade psicológica, o suficiente para dar erudição ao trivial, pois não cursara além de quarto ano primário no grupo Gonçalves Chaves.

............Foi vereador, mas, posteriormente, sua grande atuação se anifestou como suporte para a eleição, indicações e nomeações de muitos. Homem de visão, não buscava a glória para si, mas visava ao crescimento social como um todo, usando de sua influência e capacidade de articular situações cujo desenrolar era em favor do bem comum. Embora tenha sido convidado por diversas vezes à candidatura para outros cargos políticos, suas constantes recusas parecem ter origem em grande sabedoria, pois é na periferia o melhor local de analisar o que se encontra no centro de uma situação; é daí que a análise se torna mais difícil, pois muitas das vezes não se consegue antever situações ou promover ações. O distanciamento faz parte do saber, é parte do arsenal de ganhar uma batalha. Estando do lado de “fora”, é mais fácil auscultar as insatisfações, os anseios e as dificuldades que podem atropelar um trabalho. Ainda, segundo o jornalista José Carlos de Lima, o Domingos Lopes sabia escutar, dimensionava as ações e, dentro de suas possibilidades, não media esforços para ajudar alguém. A sua grande sabedoria era o suporte de seu trabalho, juntamente com seus companheiros, sempre com clarividência para orientar e daí seguir o melhor caminho.

............Com o ambiente de mudança, complexo ainda pelas forças getulistas, depois do pós-guerra, veio também nessa esteira o impulso trabalhista, que aliás foi sempre a sua bandeira política, a sua vertente de trabalho. Nesse clima de transição, entre o fazer político seguindo os velhos padrões e as novas perspectivas de um estado democrático, seu principal requisito era sustentar as diversas opiniões decorrentes da sociedade, com um fazer político ainda moderno, que surgia diante um quadro pluripartidário, enfim, esboçava-se um caminho para uma democracia plena. Domingos Lopes soube transitar com maestria por esse cenário dimidiado, tendo um papel conciliador, lhano, com a sua donaire inata.

............Sua influência foi marcante na eleição por volta de 1946, após a Constituinte, elegendo Dr. Alfeu de Quadros para prefeito, Geraldo Athayde para deputado estadual e Milton Prates para deputado federal. Três grandes conquistas e três grandes valores para Montes Claros. Candidato à vereança nesse pleito, mediante sua concordância junto a seus correligionários, aceitou retirar sua candidatura e apoiar seu parceiro e primo, Hildeberto de Freitas, “Deba” que se elegeu vereador. Essa foi mais uma prova de sua solidariedade e ausência de egoísmo político, pois sua visão se encontrava bem acima de disputas eleitorais.

............Seu reconhecimento como político e como amigo fê-lo merecer uma justa homenagem de seus amigos, o ministro Santiago Dantas e o Deputado Camilo Nogueira da Gama. O valor dessa amizade foi homenageado ao batizar uma rua na cidade do Rio de Janeiro com o seu nome. Incrivelmente, em sua cidade, não há nenhum logradouro público que leva o seu nome. Amigos, o esquecimento consome o conhecimento, rompe e negligencia o passado e o nome de grandes homens.

............“Nos tempos idos, mas ficados, seu Domingos era festejado (...).” A Gazeta do Norte, de 18/02/1947, nº 1.042, p.3, confirma esses dizeres, ao publicar: “Cel Domingos Lopes da Silva – uma expressão viva do trabalho, da honradez e da pujança do Montesclarense. Um candidato que ausculta a simpatia e preferência do povo”. Benefícios de sua iniciativa melhoraram a estrada entre Santa Rosa a Montes Claros e Montes Claros a Maria da Cruz, feitas por conta própria, sem dúvida, atendeu ao bem comum e lhe trouxe a gratidão do povo, em vez de lucros pessoais, por favorecer o fluxo das atividades agrárias. Estrada difícil, só mais acessível a cavaleiros. Isso o levou a outra empreitada e a vencer, também, outra dificuldade, ao empreender a construção de uma nova estrada de rodagem pela serra de Santa Rosa, na época, considerada intransponível. Essas ações tiveram êxito e contaram com o apoio da prefeitura e de seus companheiros de Câmara.

............Outros gestos de grande político, não mesclados por concorrências pessoais estéreis, marcaram a vida política de Domingos Lopes. No governo de Juscelino Kubitschek, assumiu a presidência do PTB, sendo vice-presidente João Goulart e Ministro do Trabalho Passival Barroso. Criou, em Brasília de Minas, em Montes Claros, Januária e Francisco Sá, o SANDU, hoje INSS; o IAPI; o IAPFESP e o SAPS/COBAL, também, atualmente incorporados ao mesmo Sistema Previdenciário. Conquistas inestimáveis, voltadas para o bem-estar comum e que tiveram o poder de melhorar socialmente a vida da região. Empregos surgiram, melhoria das expectativas e do status social se concretizaram; muitos tiveram estabilidade em suas funções, já que, dentre as quase duas centenas de nomeações destinadas na ocasião para o governo estadual, conseguiu pelo seu esforço que o município de Montes Claros tivesse trinta e três vagas. Esses fatos comprovam sua força política e empenho para imprimir novos contornos na história de sua terra.

............Montes (...) Afirmação contida na crônica de Luizinha Barbosa, filha de seu amigo Neném Barbosa, que foi casada com um sobrinho e afilhado muito querido dele, Francisco Lopes Neto. Soprar a cinza do tempo é preciso. É preciso reencarrilar as contas do tempo, uma a uma, nessa linha que nos leva para a frente cada vez mais, mas que possibilita esse recontar conta por conta, de frente para trás, porque é impossível continuar sem o suporte e o impulso do passado. Festejar o nosso coronel Domingos Lopes é preciso. É questão de relevar a memória dessa figura que foi proeminente em suas intenções e atos, inclusive por não ter se fechado em sua própria situação de vida - tranquila, cuja condição lhe possibilitava viver regiamente sem se lançar no mundo da política. Seus feitos de cidadania, seu prestígio transpunham os limites de sua área de atuação, por esse motivo, à época da eleição de Geraldo Athayde e Milton Prates, conduziu-os numa comitiva para apresentá-los às comunidades de Lontra, Maria da Cruz e Januária. Suas jornadas não tinham o cunho de mostrar prestígio e poder e, sim, facilitar a educação, o crescimento e a melhoria de vida da sociedade.

............“É bom reviver um pouco” – chama, mais uma vez, a atenção Luizinha Barbosa, em sua crônica no Diário de Montes Claros. Não só é bom, mas um dever, pois seu trabalho não foi em vão, foram muitos os beneficiados diretamente por suas ações e influência e, indiretamente, toda a comunidade montes-clarense. Os efeitos de seu trabalho se encontram impregnados na história da cidade e região pela caminhada de um bandeirante comprometido que deixou lastros por onde passou. Em Lontra, ele e seus companheiros inauguraram a agência dos correios e a Avenida Milton Prates. Foi atado assim o fio da comunicação mais rápida, naqueles tempos difíceis, em que as notícias demoravam a chegar e o contato entre as pessoas era custoso. Isso foi uma forma de incentivo e desenvolvimento da língua escrita entre as pessoas de todas as classes sociais e mais uma prova da visão de futuro desse grande homem.

............Desfiar as contas do tempo é preciso, é preciso tocar a vida adiante; mas guardar as contas do passado, polir essas contas e trazê-las ao lume da história, conjugando-as com as do presente, é também preciso. Uma corrente não se faz com somente um ponto, mas com vários que se sucedem mutuamente e com elos para a garantia da continuidade. Fazer da memória um presente é dever de todo cidadão.

............Atrás do político, por que não lembrar a figura do homem Domingos Lopes da rua Padre Teixeira, 145, esposo, pai, avô e amigo? Cordato, bom de prosa, sempre disposto a receber amigos e pronto a fazer novos amigos, receptivo, juntamente com Dona Vitalina, cujo cafezinho entremeava e adoçava os bons papos. Muitos foram os que fizeram parte de suas relações e muitos beneficiados por seu trabalho: os já citados Deba e Geraldo Athaíde e outros da cidade ou região e de fora: Froes Neto, Mauro Moreira, o compadre Zeca Alquimin, Dr. Alfredo Coutinho, Olympio de Abreu, Osmani Barbosa, Neném Barbosa, Zé Dias da Silva, Florentino Vieira Neto, José Raimundo, Tancredo Neves, João Goulart, Santiago Dantas, Elifas Alkimim, Juquinha Pereira, Vital Fonseca, José Carlos de Lima, Durval e Alcebíades dos Santos, Domingos Procópio, João Mendonça, Leonel Beirão de Jesus, José Joaquim e Virgílio Pereira, José e João Soares, Renato e Anísio Rocha, Vicente Carneiro, Sebastião e Antônio Augusto Tupinanbá, Genival Tourinho, Rosental Caldeira, Juventino Gomes, Zeca Guimarães, Pedro Valério, José Avelino, Giovanni e Milton Fagundes e Cândido Bernadino de Souza, dentre inúmeros ou tros. Esse último era seu companheiro nos jogos de buraco, uma de suas predileções.

............Em sua casa, com seus filhos, netos e parentes, não era diferente. Não media esforços para atender sempre, escutando, ponderando e, com sabedoria, dando bons exemplos.

............Lembramos muito de nosso avô a quase todo instante, sempre tivemos uma ligação estreita com ele, sua casa era a nossa casa, e a admiração era mútua, amávamos o nosso avô, e ele por nós demonstrava essa grandiosidade de sentimento e de simplicidade. Fazia por nós, seus três netos aquilo tudo que podia fazer e que estava ao seu alcance. Participou intensamente das nossas vidas, educando-nos com os seus valores. Ficou um vazio imenso após a sua partida e, em seguida, da nossa Vó, e recentemente das duas filhas, restando a eterna gratidão, a imensa saudade.

............Sua casa vivia cheia de amigos e correligionários, e foi assim por muitos anos, mesmo quando se retirara da vida pública.

De conversa agradável, diversificada, trazia o conhecimento que a vida lhe dera espontaneamente, e ele, com perspicácia, soubera aproveitar.

............Falava de política com propriedade e com astúcia, surpreendendo e causando simpatia até mesmo nos mais doutos senhores. Genival Tourinho, amigo, ao comentar sobre o seu perfil, falou-nos dessa clareza e sabedoria, embora não cursasse nada mais do que um curso primário. Era fluente, sendo recebido em qualquer repartição e pelos grandes políticos.

............Durante o centenário de Montes Claros, em 1957, sua casa foi transformada em um dos principais redutos, por lá passando para uma prosa os grandes políticos, como Tancredo Neves, Santiago Dantas, Camilo Nogueira da Gama, juntamente com os políticos montesclarenses, Alpheu de Quadros, Geraldo Athayde e o jornalista do Jornal do Brasil, José Carlos de Lima.

............Contava-nos casos de sua infância, da sua meninice, sempre passados na rua de Baixo onde nasceu, viveu e morreu aos 92 anos, em 1988. Ninguém ficava de fora de suas lembranças, da Dinha Bernarda, a mãe preta que ajudara a criá-lo, juntamente com os seus irmãos Antenor, Valeriano, Du, Maria, João e Joaquim.

............Criou um círculo de amigos, mas, para as confidências do dia-a-dia, elegeu grandes amigos. No bar do Tito dos Anjos, reunia-se sempre naquela mesa com João Mendonça, amigo de sempre, desde os tempos de menino; tinham a mesma idade e, para fechar o triângulo, no outro vértice, o Dr. Alfredo Coutinho, por quem tinha grande admiração. Eram três amigos inseparáveis, cada um com seus destinos diferenciados, unidos pela fidelidade e amizade.

............Sua generosidade, compartilhada com os amigos, era também do tamanho de sua alma.

............Este foi o nosso Coronel Domingos Lopes da Silva, que tantos benefícios trouxe, não só para Montes Claros, mas para toda a região. Ficou conhecido pelo seu trabalho e marcou sua passagem com atos que o tornaram querido e respeitado pela sua grandeza. Altissonante foi o seu trabalho e não há como esquecê-lo, pois suas marcas ficaram por onde passou. Vieram outros e outros virão, mas ele faz parte da corrente que não pode jamais se desfazer da memória de uma era em que, com as dificuldades da época, trilhas foram abertas e, na sequência do tempo, amalgamadas pelos seus sucessores. Grande em seus propósitos, grande nas ações, grande benemérito. Deixou ele uma imagem para a posteridade.

............Esquecê-lo? Jamais. Mas honrar sempre a sua memória e colocá-la sempre no relevo do crescimento e melhoria da região é imprescindível. Dificilmente alguém o viu fazendo propaganda de suas realizações e, na verdade, essas foram numerosas.

............A ele, a nossa gratidão, a nossa homenagem e todo o nosso reconhecimento. Cuidemos da memória dos nossos benfeitores, pois como diz Henriqueta Lisboa em seu poema “O tempo é um fio”:

O tempo é um fio
Bastante frágil.
Um fio fino
Que à toa escapa.

O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro
Com gentileza.
Com mais empenho
Franças espessas.
Malhas e redes com mais astúcia.

O tempo é um fio
Que vale muito.

Franças espessas
Carregam frutos.
Malhas e redes
Apanham peixes.

O tempo é um fio
Por entre os dedos.
Escapa o fio,
Perdeu-se o tempo.

............Teçamos sempre, pois, com carinho e gratidão a rede dos feitos dos nossos antepassados para que não caiamos na mesmice e coisificação de tudo o que já passou. É preciso, portanto, revivenciar o passado e dar a ele o sentido que merece. Nada acontece por acaso; os feitos atuais têm uma dívida com os fatos anteriores.

O tempo é um fio. Bastante frágil.
Um fio fino. Que à toa escapa. Seguremos suas rédeas.
Não o deixemos escapar.


Na ausência da Mãe
uma elegia ao amor eterno

Fabiano Lopes de Paula
Cadeira N. 66
Patrono: José Lopes de Carvalho

............Drummond, o poeta mineiro já questionava: “Por que Deus permite que as mães vão-se embora?” Essa pergunta fez sentido naquela manhã tensa, de um sábado de primavera. Perdia a minha mãe. Foi juntar-se aos seus, aos outros e aos anjos. Desprendeu-se da vida para sempre e não há como voltar atrás, para se fazer por ela o que não foi feito, dizer-lhe coisas que não foram suficientemente ditas, para sussurrar-lhe palavras de amor, gratidão e, sobretudo, pedir-lhe perdão. Joia preciosa com que todos nós, sem distinção, somos agraciados. Sabemos ser ricos possuindo-a, mas, por mais que valorizemos esse tesouro, não o avaliamos suficientemente. O tempo teria sido o necessário para tudo isso? A morte, porém, não espera, vem inexorável, sem tempo nem hora determinados. Desfaz-se um elo da corrente e recuperá-lo... impossível! Somos pegos no meio do caminho, sem dizer tudo a ela ou fazer tudo o que precisaria ser feito. Como deixar-se apoderar de uma dor de morte que não é vã? Como distinguir essa dor de uma saudade? De uma despedida? Não há como, não há palavras que possam expressar esse momento.


Nazaré Lopes, Fabiano, Felicidade e Wanderlino


Petrônio Braz, Nazaré Lopes, Wanderlino e Fabiano

 

............A ausência é um lado escuro do nosso vazio, a subtração perpétua e repentina do afeto e do amor inigualáveis. Como buscar, nas palavras, a tradução para esse amor de mãe, para o amor de filho? Mãe é eternidade, é suavidade, é vento brando, é a pureza do lírio, é cheiro de angélica, é bálsamo que apara as dores, cura feridas. Não passa, é marca indelével na vida de cada um. Em sua inteira dedicação, em seu amor desinteressado, fica impregnada. Morrer é uma certeza. Mas por que as mães? Onde está a educação para os nossos sentimentos? Mãe é imperdível, insubstituível. Vivemos a ilusão da imortalidade, sem querer de forma alguma romper o contrato tácito de amor de mãe pelos seus filhos. A vida, sabemos, provisória, e a morte não escapa do tempo. É irrevogável. Quando perdemos alguém, abre-se, no flanco, a porta, e entroniza a saudade. Minha mãe, há um ano nos separamos, em vida, para vivermos no espírito da saudade e do consolo. Muita coisa vivemos , e nessa convivência, o privilégio de ser seu filho é o maior legado, que, mesmo com esse vazio involuntário, a sua presença é uma constante. Ficará ao meu lado, pois a minha vida foi determinada pelo seu amor. A saudade! É trazer o outro dentro de si, mesmo na ausência. Pensar na morte de minha mãe significa um passo para dentro de mim mesmo, das minhas lembranças, dos meus temores superados com o seu amor. Lembro-me e vejo-a em cada momento, em cada bolero que agora perderam parte de sua cadência, mesmo sendo Siboney, o seu preferido, há um gosto de perda. Perda essa sentida por todos nós, filhos, irmãos e pelos seus fiéis companheiros, seus dois animais de estimação, seu fiel Scott e a sua gata que salvaste de morrer na rua, que testemunharam e dividiram seus últimos momentos. Sei que o Criador a levou para uma nova vida, bem perto dele, merecimento pela sua bondade, carinho e amizade. As mães, de tão boas, não deveriam partir, seu amor é único, é inimitável, é dom que brota do coração, que nada exige, é pura doação. É como diz, ainda, Drummond: é “veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento”. Não há palavras para expressar o vazio que fica com a saída de uma mãe. Parece que só depois sua importância cresce e se afigura mais. Elas se vão, mas ficam e permanecem no coração dos filhos. Deus permite que as mães vão-se embora, mas, na sua infinita bondade presenteia, sem distinção, cada um de nós com uma mãe.

Para Nazareth, com muita saudade.Outubro 2011.


D. FERNANDA RAMOS
A PORTUGUESA MONTES-CLARENSE

Felicidade Patrocínio*
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates

 

............Dentre as riquezas que compõem o cenário de Montes Claros eu observo um fenômeno ímpar. A presença forte e invulgar de mulheres excepcionalmente virtuosas.

............Já foi dito e soprado aos quatro ventos, que a cidade se destaca pela beleza física das mesmas. Isto é verdade e notório, no entanto aos meus olhos, o destaque maior iria para as personalidades femininas que fizeram e fazem o acontecer nesta sociedade tornando-a um espaço físico e cultural bem particular. Tudo começou com D. Tiburtina que se tornou um mito. Depois veio a Irmã Beata que virou lenda e cuja alma, afirmam fazer milagres. Depois vieram outras, dentre as quais, poderíamos citar Dulce Sarmento com sua doce musicalidade, D Taúde, com sua mão férrea dirigindo a antiga Escola Normal. Também na educação, a Mestra Fininha Silveira, mãe do ilustre brasileiro Darcy Ribeiro. Veio do Rio de Janeiro a D. Marina Lorenzo Fernandez e transformou a face da cultura da terra, enriquecendo-a de forma ilimitada. Outras mais aí estão para nos encher de orgulho, algumas com longevidade acima dos 80 anos e com operosidade e ânimo tão pulsantes que fazem inveja a qualquer jovem, por exemplo, a D. Yvonne de Oliveira Silveira presidente da Academia Montes-Clarense de Letras, cujo vigor e inteligência desafiam os limites do tempo. Dentre estas, hoje escolho destacar uma figura muito original e muito amada pelos montes-clarenses. Trata-se da portuguesa/brasileira mais montes-clarense de que temos notícia, a D. Maria Fernanda Reis Monteiro de Brito Ramos, nossa querida Fernanda Ramos. O que eu só vim, a saber, recentemente é que ela é nascida no Brasil, exatamente em Friburgo no Rio de Janeiro, de mãe brasileira, alta funcionária da embaixada portuguesa e pai português que chegou a general lá no país que descobriu o Brasil. Mudou-se para Portugal na mais tenra infância, sendo registrada como portuguesa vindo a acumular dupla nacionalidade já que tinha sido primeiramente registrada no Brasil. Em Portugal, ficou órfã de mãe aos 8 anos de idade, sendo criada, junto aos irmãos pelo pai e pela avó materna que se radicou definitivamente em Portugal. Formou-se em engenharia no ano de 1948, na famosa Universidade de Coimbra, aquela mesma para a qual, os brasileiros mais abastados mandavam os filhos em busca do saber e competência nos tempos da colônia. Quando a vi pela primeira vez, eu ainda era criança. A Casa Ramos, primeira loja de departamentos de Montes Claros, que ocupava a frente inteira do quarteirão mais movimentado do centro comercial, enchia os meus olhos de admiração e curiosidade.

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Artista plástica, membro da Associação dos Artistas Plásticos, do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Academia Feminina de Letras de Montes Claros.
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............Com 2 andares, no interior arquitetura tipo mezanino, havia departamentos organizados para diferentes tipos de mercadorias, num tempo em que o comércio da cidade se constituía de armarinhos. Lá dentro, invariavelmente encontrava-se D. Fernanda com o seu sorriso encantador, seu cabelo liso, quase sempre vestida
com uma bata de gravidez. Foram nove filhos em poucos anos de casada, pois ficou viúva com 37 anos de idade.

............Eu gostava de ouvir a sua pronuncia rápida das palavras, bem aportuguesada, às vezes, ininteligível para mim. Desde então se notava a sua vocação para o mundo dos negócios financeiros.

............O seu marido Arthur Loureiro Ramos, 18 anos mais velho, já residente no Brasil, aonde chegara no ano de 1931, viajou a Portugal e foi descobri-la na região de Mangualte, exatamente em Viseu, onde ela começava a lecionar matemática. O namoro foi rápido, casaram-se em Fevereiro de 1949, pois o Sr. Arthur precisava voltar para os seus negócios no Brasil. O sítio Estância Alegre, no trevo, saída de Montes Claros para Janaúba, residência hoje da D. Fernanda já pertencia ao Sr. Arthur quando se casaram.

............No Brasil, a princípio D. Fernanda ocupou-se com aulas de matemática, mas após a divisão da sociedade dos irmãos Arthur e Antonio Loureiro Ramos no ano de 1956, D. Fernanda assumiu a Loja Ramos com o marido.

............Com a morte deste em 1965, D. Fernanda ficou com 9 filhos, o mais velho com 15 e o mais novo com 1 ano de idade. Passou a administrar a grande loja sozinha. Vendeu-a em 68 para o Sr. Manoel das Neves e mudou-se para Belo Horizonte, onde fez sociedade com Mário H. Simonsen, (economista, banqueiro, ministro da Fazenda no governo Geisel, e do Planejamento no governo Figueiredo), Júlio Bozzano e Sandra Cavalcanti, (todos grandes no setor finanças), ingressando efetivamente no mercado de capitais, através da Empresa Financeira: Ypiranga. Neste período morou por um tempo na Europa, precisamente na Bélgica e na França onde fez o curso: Mercado Comum Europeu. Devido a todo este preparo e às relações estreitas com a alta esfera política e econômica portuguesa, a Empresa Andrade/Gutierrez, um tempo depois a enviou a Portugal para o trabalho de lobby entre as duas nações, para alavancar um contrato de trabalho da empresa, alhures.

............Conta a D. Fernanda que foi munida de todo aparato econômico, carro com chofer, hotel 5 estrelas e salário de 22 mil dólares. O resultado deste empenho trouxe lucros para a empresa.


Maria Fernanda Reis Monteiro de Brito Ramos

............Admirada com essa trajetória, pesquiso um pouco mais e descubro que o desempenho corajoso dessa mulher vibrante lhe trouxe honrarias. Visitando-a vi na parede da sua sala os diplomas que recebeu mundo afora .No ano de 1989 foi eleita presidente do Elos Clube no Mundo. Ao lado da carta patente do Presidente de Portugal Mário Soares, nomeando-a Cônsul Honorária da Nação Portuguesa em Montes Claros (Março de 1996), também vi o documento do Presidente da República, Grão-Mestre da Ordem Honorífica Portuguesa concedendo-lhe o grau de Comendador da Ordem do Mérito, no mês de Junho de 1991. Nesse mesmo ano foi homenageada pelo Elos Clube de Montes Claros, do qual é presidente honorária. Mesmo residindo em Belo Horizonte, D. Fernanda nunca abandonou Montes Claros, esteve sempre aqui fazendo presença em eventos importantes, pois é muito querida por todos que a conhecem. Um efetivo retorno aconteceu a partir de 1974, quando retomou a antiga fazenda Estância e a transformou num hotel/pousada.

............Tudo isto e mais que sei dela me causa incontida admiração, mas o que mais me encanta é quando ela deixa escapar o seu jeito de menina grande, não escondendo franqueza nem verdade, enquanto lhe transbordam, ainda, graça, força e determinação.


PEDRO XAVIER DE MENDONÇA, OITENTA ANOS DE UM SONHO REALIZADO EM FORMA DE EX-VOTO: MEMÓRIAS DO BAIRRO SANTOS REIS EM MONTES CLAROS

Filomena Luciene Cordeiro Reis
Cadeira N.29
Patrono:Demóstenes Rockert
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Cadeira N. 17
Patrono: Auguste de Saint-Hilaire

.RESUMO: Este estudo tem como objetivo registrar os feitos do devoto e folião Pedro Xavier de Mendonça que, na década de 1930, fez promessa aos Santos Reis pedindo a cura para enfermidades de difícil tratamento. Místico, teve um sonho com três aves brancas que entendeu como resposta aos votos realizados. Prometeu então, que
construiria uma capela e um presépio com figuras em tamanho natural. Criou em torno da realização desse ex-voto um grande trabalho social envolvendo toda a comunidade que se organizou em torno da igreja. Hoje os moradores do bairro de Santos Reis reverenciam sua memória e liderança fazendo do ciclo natalino tempo de encontro dos foliões, pastorinhas e de toda a população no templo do grande presépio.

PALAVRAS-CHAVE: Santos Reis, Bairro, ex-voto, memórias.

............A Malhada – como é conhecido por muitos até hoje o bairro Santos Reis – como inicialmente era chamada por constituir um posto de passagem da Estrada Real, onde os viajantes paravam para dar água aos animais, fazerem um pequeno descanso ou mesmo pernoitarem. Vindos do Tejuco atravessavam o largo da Matriz de Nossa Senhora e São José, hoje praça Dr.Chaves e seguiam rumo ao Cedro, depois Veados – hoje Nova Esperança -, de lá seguiam até as margens do Rio São Francisco. Na Obra Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire registrou com detalhes essa passagem em viagem pelo sertão em 1817:

Após deixar Formigas, atravessei as matas despojadas de vegetação, por onde passei para ir ver a salitreira de que dei a descrição no penúltimo capítulo... Caminhara légua e meia pelas catingas de que acabo de falar, quando o terreno mudou: adquiriu uma cor avermelhada e a vegetação se modificou com ele. As catingas sucederam gramíneas salpicadas de árvores tortuosas e enfezadas...

Fiz alto em um grupo de pobres casinhas onde a terra, que
se destacava das paredes, deixava penetrar por todos os lados a luz, o vento e o pó. Ali fui recebido por bons lavradores, ingênuos, acanhados, porém, que mau grado sua indigência, nada quizeram aceitar pela minha alimentação (SAINT-HILAIRE, 2000, p.329).

............Esse importante relato fala exatamente do trecho entre Formigas – hoje Montes Claros -, seguindo em direção a Nova Esperança, indo a Contendas - hoje Brasília de Minas - e de lá até o Rio São Francisco. A Malhada de tantos relatos dos antigos tropeiros da região, só muitas décadas depois da passagem de Saint-Hilaire, recebeu os primeiros habitantes fixos que foram se acomodando ao longo da estrada – que atualmente consiste na rua Geraldino Machado - iniciando ali pequenos comércios. A partir daí, as terras seriam cultivadas em pequenas fazendas e chácaras. Essa ocupação trouxe muitos outros trabalhadores rurais para o local. Esses trabalhadores vieram em busca de melhores condições de vida.

............Sob a liderança do místico Pedro Xavier Mendonça, que herdou as terras do sogro Teófilo Martins de Freitas, filho de tradi cional família montes-clarense, e que para lá se mudou em busca de sossego e de saúde, a comunidade se organizou e se consolidou, sobretudo a partir da construção da gruta-presépio, da realização anual da festa dos Santos Reis com a tradição da Folia e das Pastorinhas.

............O próprio Pedro Mendonça inicia a construção de uma igreja no local, mesmo contra a vontade do vigário da Igreja Matriz, que alegava ser desnecessário a construção de um templo no meio do mato. Persistente e ajudado pelo engenheiro belga responsável pela construção da Catedral da cidade e pelos moradores e foliões, a Igreja foi construída.

Padre Chico morava aqui. Padre Chico e Pedro Mendonça combinava bem pra fazer a festa. Pedro era sacristão. Pedro teve um problema pulmonar e não queria melhorar e se melhorasse, ele ia fazer uma igreja. Sonhou com os pássaros em 32 [1932], e esse homem da Catedral veio fazer a Igreja. Viu os pássaros e botou o nome dos reis mago. Aqui só era chamada Malhada e com o sonho “Malhada dos Santos Reis”. Os santos [os reis magos], ele pediu de São Paulo. Para fazer a igreja, ele carregava no carroção o material. As outra [igrejas] todo mundo ajudou. O padre Dudu não queria, mas ele fez assim mesmo, pois ele queria construir a igreja. Depois ele [Padre Dudu] gostou.1

............Oitenta anos depois de toda essa trajetória dos moradores do bairro Santos Reis, ressaltamos Pedro Xavier Mendonça, trazendo à tona a história uma figura que, por meio de um sonho durante sua enfermidade acreditou que os reis magos o curaram. Foi por causa do pagamento dessa promessa, como ex-voto, que ele construiu uma gruta e uma igreja e ao seu redor reuniu uma comunidade que hoje constitui um dos maiores bairros de Montes Claros. É importante ressaltar que os moradores do bairro Santos Reis tiveram lutas constantes e cotidianas para se estabelecer nesse local e para que a vida acontecesse naquele lugar. Pedro Xavier Mendonça se constituiu um líder, porém não se pode deixar de levar em consideração os embates, conflitos, tensões e consensos para a construção do bairro, que não se faz sozinho, mas com a luta de todos.

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1 - MENDONÇA, Maria José Freitas. Entrevista concedida a Filomena Luciene Cordeiro Reis e Marta Verônica Vasconcelos Leite. Montes Claros, 17 set. 2011.
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PEDRO XAVIER MENDONÇA: UM SONHO, UMA HISTÓRIA


Pedro Xavier Mendonça

............Segundo Hermes de Paula (1979, p.113), Pedro Xavier Mendonça era filho de Casimiro Xavier de Mendonça e Josefina Teixeira de Carvalho. O casal teve oito filhos, sendo estes: Antônio, Joaquina, Pedro, Emília, Josefina, Joana, Maria Natalícia e João. Pedro Xavier Mendonça, o terceiro filho, casou-se com Maria Soares de Freitas (Sinhá) e foi morar nas terras do sogro, Te ófilo Martins de Freitas, na Malhada, hoje conhecido como bairro Santos Reis.

............Ruth Tupinambá Graça (1986) nos informa que, a família do Coronel Casimiro Xavier de Mendonça, avô e pai de Pedro Xavier Mendonça, residia na Praça da Matriz em um sobrado colonial, que hoje pertence a família Mendes. A família Mendonça era rica e muito respeitada, dona de muitos escravos. O casal era muito religioso e faziam romarias a Bom Jesus da Lapa na Bahia, anualmente, levando, além dos filhos, os escravos, amigos e familiares. Eram famosas essas viagens feitas a cavalo durante meses contando com muitas paradas as margens dos rios para o descanso e muita oração. Essas experiências religiosas aliadas a vivências na igreja da Matriz de Nossa Senhora e São José, forjou a personalidade do menino Pedro Xavier Mendonça, que cresceu tendo a Matriz como centro de todas as atenções da pequena Montes Claros - MG. As festas religiosas, as novenas e procissões eram rituais seguidos por todos. A praça da Matriz também era o palco para o profano, pois era onde aconteciam as festas de agosto com as famosas cavalhadas, as serenatas, o circo. Pedro e seus irmãos participavam de todos esses acontecimentos.

............Ainda sobre a família de Pedro Xavier Mendonça, Ruth Tupinambá Graça (1986) acrescenta, que o Coronel Casimiro Xavier Mendonça era sistemático, protótipo do antigo patriarca, mas sua casa era alegre, os filhos tocavam violão e se interessavam pelas tradições, especialmente as folias. “Ele era festeiro. Foi o principal organizador do grupo de pastorinhas que animavam o período natalino. Todos são unânimes em afirmar que Pedro Mendonça realizava os melhores ternos de pastorinhas da região. A sua tradição é mantida até hoje no Conservatório Lorenzo Fernandes” (JORNAL DOS SANTOS REIS, 1997, s.p.).

............Há raros registros acerca de Pedro Xavier Mendonça, o que demonstra possibilidades de trabalhos historiográficos focados ou não em biografias coletivas, de acordo com a proposta da nova história refletindo a história local. A história oral como metodologia, disciplina, fonte e teoria também se configura como viabilidade para pensar essa figura que é viva na memória, sobretudo dos moradores do bairro Santos Reis. Um artista popular, que compunha músicas, escrevia peças teatrais, ensaiava e orientava foliões e pastorinhas por meio de danças e cantos inéditos.

............Criou no bairro Santos Reis a marinhagem, grupo composto por moças que haviam participado das pastorinhas e seguiam nas manifestações do ciclo natalino coordenadas por ele. Essa inovação, se apresentava no bairro, mas também era convidada para se apresentar no centro da cidade de Montes Claros e outras localidades. Sempre com apresentações bonitas e carismáticas chamando a atenção da população nos eventos festivos, como no centenário da cidade de Montes Claros. A marinhagem de Pedro Xavier Mendonça teve participação com música de sua autoria em homenagem à cidade.

Montes Claros de colinas, Montes Claros é cerrado
De colinas verdejantes, panorama que se canta
Todos os seus visitantes do sertão

És a rainha cheia de encantos mil
Salve cidade querida
Pedacinho, pedacinho do meu Brasil (Bis)

Estes sãos os nossos votos
Com toda sinceridade, paz e tranquilidade e muitas prosperidades
Do sertão és a rainha, cheia de encantos mil
Salve cidade querida pedacinho, pedacinho do meu Brasil (Bis)

Estes são os nossos versos com toda sinceridade, paz e prosperidade
Os ilustres visitantes desta cidade do sertão
Fica aqui bem jatente toda nossa gratidão.2

Tio Pedro era um sonhador que cuidava de fazer seus sonhos acontecerem, como a construção da primeira igreja do bairro e do presépio com figuras em tamanho natural que mandou vir de São Paulo e a condução da festa, quase sempre financiada por ele e pelos devotos que o seguiam.3

............Buscando entender esse visionário devoto dos Santos Reis, que tanto talento manifestava, sua sobrinha Virgínia de Paula relata:

__________________
2 - FAGUNDES, Maria Antônia Aragão. Entrevista concedida a Filomena Luciene Cordeiro Reis e Marta Verônica Vasconcelos Leite. Montes Claros, 17 set. 2011.
3 - PAULA, Virginia de. Entrevista concedida a Marta Verônica Vasconcelos Leite. Montes Claros, 10 out. 2011.
__________________

............Entender a formação de Pedro Xavier Mendonça é importante para que se possa compreender como esse homem produziu junto à comunidade dos Santos Reis de forma espontânea e fervorosa tantos empreendimentos, desde a construção da gruta, a igreja, a povoação do que hoje é esse espaço social e a formação de grupos de pastorinhas e foliões. Todo esse trabalho social, numa época de tão poucos recursos é surpreendente, outro dado que chama a atenção é a unanimidade em torno de seu nome. Todas a s pessoas entrevistadas do bairro, se referem a ele como do bem, que tinha uma fé imensa e se colocava a serviço do seu Deus. Hermes de Paula, sobrinho de Pedro Xavier Mendonça, em Chaves (2010) lembra sua participação no Clube São Genesco, uma criação dos primeiros padres premonstratenses, que muito contribuiu para a formação dos rapazes montes-clarenses do início do século XX.

O São Genesco não era um Colégio propriamente. Era Clube onde os rapazes de Montes Claros se educavam. Por que naquela época os rapazes daqui todos andavam armados e a vantagem era dar tiros pelas ruas. E fazer serenatas também. Por isso os seresteiros ficaram mal vistos pela sociedade. Só mudou um pouco com a chegada dos padres de batina branca, os premonstratenses. Eles abriram o clube que recebia a rapaziada (...) Esses jovens se destacariam mais tarde em vários setores, entre eles: Milton Prates, João Chaves, Pedro Mendonça, entre outros (CHAVES, 2010, p. 36).

............Hermes de Paula (CHAVES, 2010) acrescenta que, aos estudos de clássicos da literatura, se seguiam a apresentação de peças teatrais, onde os jovens se revezavam em papéis diversos, inclusive de mulheres, já que o sexo feminino não podia fazer parte do mesmo. A participação ativa nesse Clube possibilitou a Pedro Xavier Mendonça, juntamente com seu talento natural, perceber outras dimensões da vida, colaborando para a efetivação de suas inúmeras criações.

............Enfim, Pedro Xavier Mendonça como liderança e como cidadão, possibilitou a formação de um dos maiores bairros de Montes Claros: Santos Reis. A festa em homenagem aos Magos completa em janeiro de 2012 oitenta anos de realização, hoje envolvendo não só o bairro, mas toda a região norte da cidade de Montes Claros.


REFERÊNCIAS

CHAVES, Amelina Fernandes. Hermes de Paula – passado e presente. Belo Horizonte: Saramandaia, 2010.

FENELON, Déa Ribeiro. Cultura e história social. In: Projeto/história. n.10, Revista da Pós-Graduação em História da PUC/SP. São Paulo: EDUC, 1994.

GRAÇA,Ruth Tupinambá.Montes Claros era assim.Belo Horizonte:Cultura.1986.

JORNAL DOS SANTOS REIS. Promessa faz Pedro Mendonça criar Santos Reis. Montes Claros, n.1, fev. 1997.

PORTELLI, Alessandro; FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. Usos & abusos da história oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2000.


Canto/lamento
do caryocar Pequi


Haroldo Lívio de Oliveira
Cadeira N. 82
Patrono: Nelson Viana

* Texto de Geraldo Fróis

De repente!
pintalgou-se de branco a paisagem,
vindo a promissora mensagem
que irrompe dentre a folhagem.
D’além, também d’aqui,
exubera-se o louvado pequi.

Valoroso muitos me fazem.
Sou apenas mais um na paisagem,
não sonho ou tênue miragem,
resistindo firma na estiagem.
A vida, alegre passagem.
Pois sou de lá e também d’aqui,
sou, pois, somente pequi.

Dou fruto saboroso que se come
saciando o gosto, mitigando a fome.
Fica forte quem consome,
alegre com o licor que tome.

Madeira que não corrói,
e muita coisa constrói.
Só com muita força destrói,
e também jegue não rói.
Dou sombra hospitaleira,
Aliviando a canseira
do pássaro esvoaçante,
do quadrúpede errante,
do verme rastejante,
do ser humano viandante.
Sou amigo de lá e daqui.
Somente sou o pequi.

Vislumbro triste ocorrência:
o progresso, com impenitência,
na sua louca opulência,
age sempre sem clemência,
me levando à falência.
Meus galhos e tronco forte
aguentam todo tipo de sorte.
O fogo e o machado em corte
me conduzem à consequente morte.
Aí... não sou de lá nem daqui.
Foi-se, já não sou o útil...

PEQUI

Grão-Mogol, 01.09.2011.


COISAS DO PASSADO IV

Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França

............Eu ainda recordo com nitidez de coisas que fizeram parte de minha vida nos longínquos e saudosos tempos do passado. Na revista nº. VII, falei sobre a lenha, história que até parece brincadeira, mas naquele tempo era coisa séria e de fundamental importância na vida da população. Sem a lenha a vida era impossível ou quase impossível.

............Agora, falarei das tropas de burros, outro assunto que também parece piada nos nossos dias, porém, imprescindível naquela época tão distante. Aquelas caravanas de aparências primitivas funcionavam como mola mestra do transporte e da movimentação de mercadorias diversas e úteis entre os centros comerciais mais desenvolvidos e dos lugarejos afastados e isolados do sertão mineiro. Sem elas, seria um caos social.

............Meu pai vendeu a fazenda, que sempre refiro nos meus contos, e mudou-se de ramo, estabelecendo-se no povoado de Tamborilzinho, município de Coração de Jesus, com uma “venda” de mercadorias variadas, desde o fumo de rolo a cortes de tecidos finos. Para sortir o negócio, ele fazia compras através dos viajantes que representavam as grandes firmas de Belo Horizonte, de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outros centros comerciais de tal porte. Depois de algum tempo, as referidas compras chegavam à estação ferroviária de Montes Claros nos vagões de trem cargueiro. Então, os donos de tropas de burros eram procurados para transporte das mercadorias ao povoado.

............O negócio cresceu e meu pai achou melhor ter a sua própria tropa. Comprou uma bem estruturada e em pleno funcionamento. Eu, com o entusiasmo de adolescente de quatorze anos de idade, deixei o balcão da loja para ser o encarregado do comboio. Dominguinho Caxiné e Francisco Vermelho foram contratados como tropeiros. Eles acompanhavam os burros a pé. E, com o chocalhar das argolas engastadas nas pontas dos cabos das açoiteiras, eles mantinham perfeita comunicação com os animais. Eu montava um cavalo alazão bem arriado, o que me enchia de imponência e vaidade.

............Nós pegávamos carga de Tamborilzinho para Montes Claros. Depois, outra de volta para o Povoado ou para uma cidadezinha qualquer da região. Assim, era o nosso trabalho. Num vaivém contínuo.

............A tropa era composta de treze animais. Na frente marchava uma mula esguia, cor de mel e portentosa. Nós a chamávamos de “Rainha” quando considerada por sua beleza e elegância ou, de madrinha por sua liderança no comboio. Era uma mula bonita, disciplinada e segura nos seus passos. Além da carga que carregava no lombo, era bem arreada e ornamentada com apetrechos dignos de mula de guia. Na cabeça, tapas de visão lateral enfeitados de espelhos pequenos e redondos no meio de fitas coloridas. No peito, carregava o peitoral cravado de cincerros de tamanhos diversos e com tonalidades combinadas, emitindo um som suave e cadenciado para manter firme e constante a marcha dos animais.

............Em seguida, vinha “Princesa”, mula de bom porte e de cor também,n avermelhada. Tinha uma lista branca na testa e não perdia sua posição naquele desfile pomposo. Logo atrás, vinha um cavalo branco, em pêlo, para charme da tropa. Era uma figura apenas decorativa do comboio, mas tradicional. Os demais cargueiros acompanham na fila, sem trocar de lugar. E no final, o “Passo Preto” como era chamado por nós. Era um burro de estrutura baixa e robusta. Ele vinha sempre atrás, isto é, no coice e não arredava de sua posição. Portava os utensílios de cozinha, os mantimentos, as roupas de troca e de dormir de nosso uso.

............Depois de um longo dia de viagem, quente e ensolarado, poeirento e cansativo, chegávamos num dos postos de pousada. Ali, pernoitávamos e no dia seguinte, continuávamos com a marcha até o destino da viagem. Na chegada, eu, na qualidade de chefe da caravana, tomava uma distância pequena à frente da madrinha com seus chocalhos tocando em harmonia e mantendo os outros animais em fileira e posições corretas. Os dois tropeiros, com entusiasmo, vinham atrás de “piratas” nas mãos.

............Os moradores, quase sempre sem novidades, postavam-se aos lados das ruas, nas portas e nas janelas de suas casas para apreciar a nossa entrada triunfal, com garbo e grandeza, como se fosse a entrada de uma tropa de Júlio César em Roma, depois de uma vitória bélica.

............Percebo que em qualquer situação de vida há espaço para a glória, para o entusiasmo e para a grandeza interior. Como também, há lugar para os percalços, dependendo do estado de espírito de cada um. E, grandes ou pequenos podem dar suas contribuições para o crescimento e bem estar da sociedade. Às vezes, um plebeu sente-se, em certo momento, tão feliz e orgulhoso de seus feitos quanto um nobre com suas façanhas mirabolantes. Nós não éramos diferentes. Sentíamos satisfeitos naquele trabalho simples, mas de tamanha importância àquela gente.

............Os animais rompiam e tomavam suas posições na frente da pousada e de suas respectivas estacas, de maneira impecável. Ali, ficavam esperando a ação dos tropeiros. Cada carga era composta de dois fardos, de peso entre cinquenta e sessenta quilos cada, que empilhados em fileiras e conferidos, os negociantes recebiam suas mercadorias e os burros eram desarreados, raspados, tratados com ração e soltos no mangueiro para pastar, beber água e descansar para a volta do dia seguinte, com novas cargas de produtos da região, com destino ao mercado de Montes Claros.

............Tudo feito, nós tomávamos banhos refrescantes no regato mais próximo, trocávamos de roupas e depois, cuidávamos da cozinha, fincando no chão, uma armação de ferro com alças e ganchos para manter penduradas sobre o fogo as panelas de ferro. Um dos tropeiros cuidava da limpeza do ambiente e o outro, do famoso arroz tropeiro, feito com carne seca em pedaços finos e verdura, para o nosso jantar.

............À noite, depois de um pequeno descanso, começavam chegar, aos poucos, as visitas. Eram os “homens do lugar”, com seus cumprimentos cordiais e atenciosos. Ali, eles sentavam nos cepos espalhados no salão da pousada e iniciavam suas prosas, enquanto um dos nossos companheiros preparava a feijoada e colocava ao fogo para o almoço do dia seguinte, antes da partida. O outro preparava e servia o café tropeiro aos presentes, que o tomavam com gosto. O pó era preparado artesanalmente. Torrado na panela, moído no pilão e ali, feito e adoçado com rapadura. Depois, eles pitavam seus cigarros de palha, sentadas em círculo à beira do fogo, até mais tarde. Suas conversas, apesar da simplicidade, eram interessantes e instrutivas para o enriquecimento de minhas experiências, aprendizagem e formação moral.

............Eu estava no começo da adolescência, mas já agia como gente grande e recebia daqueles homens de bem, um tratamento sério e respeitável, apesar de nossas diferenças de idade.

............Depois das despedidas das agradáveis visitas, nós arrumávamos nossas camas no chão com couros estendidos e forrados com “colchonetes” acolchoados com palha de milho, à beira do fogo. E só acordávamos no dia seguinte para novas providências.

............Levantávamos cedo. Os tropeiros cuidavam dos preparativos para a partida, enquanto eu negociava e acertava os últimos detalhes com os negociantes, para a condução da carga de volta.

............Depois de tudo resolvido e os animais prontos, postados na frente de suas respectivas estacas, Dominguinho dava o aviso de partida com o manejo e o soar das argolas penduradas nas tacas. A madrinha tomava a iniciativa da marcha com som harmonioso dos guizos e chocalhos do peitoral. Atrás dela, enfileiravam os demais animais nas suas rígidas posições e, atrás do “Passo Preto”, caminhavam os tropeiros a passos largos. Então, estava começando uma nova caminhada e tudo se repetia.

............Seguindo os costumes, eu montava o meu cavalo alazão e, mantendo pouca distância atrás, acompanhava o comboio despedindo com acenos amigos do povo hospitaleiro que assistia a nossa partida, com gestos de agradecimento. Talvez, como sinal de gratidão pela nossa participação na sua comunidade, suprindo de mantimentos suas poucas “vendas” para abastecimento de seu povo simples e isolado e, ao mesmo tempo, transportando seus produtos para comercialização.

............Os meios de transportes daquela época para cargas, eram os carros de bois e as tropas de burros e, para montaria, os cavalos amestrados. As estradas eram poucas e precárias e os veículos de transportes, raros.

............Contudo, sinto saudades indeléveis daquelas aventuras e daqueles tempos difíceis, de coisas rústicas e de vida simples. Passagens que conto, com mais detalhes, no livro “Experiências de uma Vida”.

............“Tudo na vida é passageiro assim como a própria vida, tanto as tristezas como também as alegrias”.


O 10º BATALHÃO EM MONTES CLAROS

Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 4
Patrono: Antônio Augusto Veloso (Desem)

O DESTACAMENTO DA POLÍCIA MILITAR

............Antes, era apenas um Destacamento Policial, composto normalmente por um Sargento, um Cabo e vinte Soldados, pertencentes ao 3º Batalhão de Diamantina, mas que operava sob as ordens diretas do Delegado de Polícia, fosse ele civil ou militar. Era assim a situação funcional das Polícias Militares, mais voltadas para as ações tipicamente militares, como força reserva do Exército Brasileiro. Enquanto o “grosso” da tropa permanecia aquartelado, em constante adestramento, apenas uma parte era destacada para os serviços policiais, à disposição das Delegacias. Somente com o Governo Militar pós-1964, foi definido o papel constitucional dessas forças estaduais, como responsáveis primeiras pela manutenção da ordem pública em cada unidade da Federação.


Componentes do Destacamento Policial de Montes Claros, em 1956. O terceiro sentado, da direita para a esquerda, é o Cb Antônio Miranda, mais conhecido como Piloto. O Comandante é o Sgt João de Souza, primeiro à esquerda, sentado, de túnica e gravata.

BREVE RETRATO DE MONTES CLAROS

O Dr. Hermes de Paula, em sua magistral obra ‘MONTES CLAROS, SUA HISTÓRIA, SUA GENTE E SEUS COSTUMES’, publicada em l957, por ocasião do primeiro centenário de elevação da Vila a Cidade de Montes Claros, em linhas gerais nos informa do que existia, àquela época:

- “Presentemente a parte urbana da cidade tem 2.583 prédios, edificados em dez praças e quase uma centena de ruas”;

- “A cidade conta apenas com cinco prédios de três pavimentos: o Clube Montes Claros, a Gazeta do Norte, o Hotel Santa Cruz e dois outros à rua Padre Augusto”;

- “Sob o ponto de vista higiênico, a cidade conta com uma excelente estação de tratamento de água potável, que é filtrada, clorada e distribuída fartamente para todas as casas do perímetro urbano e algumas dos subúrbios, havendo numerosos chafarizes públicos nos bairros”;

- “Cerca de mil residências são ligadas à rede de esgotos, que é coletada pelo rio Vieira”;

- “Existem ótimas instalações de barbearias, bares, restaurantes, padarias, armazéns, cafés, açougues e casas de gêneros alimentícios”;

- “O centro da cidade é calçado com poliedros de calcáreo, material de pouca resistência. O prefeito Alfeu de Quadros (1950) iniciou a pavimentação com paralelepípedos de granito, vindos de Monte Azul e Sete Lagoas”;

- “Em agosto de 1956 a Prefeitura iniciou um calçamento moderno com lajotas exagonais de concreto (blocret)”;

- “Conta a cidade com os seguintes bairros, somando, todos eles, 1890 casas: Roxo Verde, Cintra, Alto São João, Santa Terezinha, Bonfim, Santo Expedito e Santos Reis”.

............Segundo Nélson Viana, em sua obra EFEMÉRIDES MONTES-CLARENSES, pelo censo de 1960 a população total do município era de 132.502 habitantes, sendo 46.531 da zona urbana e 85.971 da zona rural; no distrito sede havia 68.275 habitantes, sendo 40.545 na zona urbana e 27.730 na zona rural. Oberva-se que, àquela época, os atuais municípios de Mirabela e Patis ainda constituíam distritos de Montes Claros, sendo essa a única mudança ocorrida no território, desde então até o momento. Assim, em l956, a cidade de Montes Claros tinha uma população estimada em pouco menos de 40.000 habitantes.

............De modo geral podemos ainda acrescentar algumas informações sobre Montes Claros daquela época:

- mesmo situando-se a longas distâncias dos grandes centros de desenvolvimento da época, ou talvez por isso mesmo, Montes Claros já se constituía em pólo de referência para todo o Norte de Minas, o Vale do Jequitinhonha e o Sudoeste da Bahia, como entreposto comercial atacadista, com rede de ensino médio que incluía seminários religiosos, escolas de normalistas, curso técnico de contabilidade e cursos científicos, além de recursos da área de saúde, como hospitais, clínicas médicas e profissionais especializados no conhecimento das endemias regionais;

- através de ferrovias, a cidade se ligava diretamente a Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, pela Estrada de Ferro Central do Brasil e, indiretamente, a Salvador e o Nordeste, pela Leste Brasileira, que partia de Monte Azul, onde terminavam os trilhos da Central. Diariamente corriam duas composições, em horários diferentes, nos dois sentidos: uma de passageiros e outra mista, de cargas e passageiros. É preciso lembrar que as viagens só eram um pouco menos desconfortáveis do que nos caminhões “pau-de-arara” que predominavam na região, pois os resíduos das “marias-fumaças” e a poeira que se levantava da base dos trilhos por pouco não sufocavam os passageiros que se amontoavam em vagões de 1ª e 2ª classes;

- existiam estradas de rodagem de ligações regionais, embora não se tivesse notícia de asfalto a menos de trezentos quilômetros de distância. Por essas estradas precárias, quando muito, trafegavam algumas “jardineiras”, como meio de transporte coletivo rumo a Salinas, Espinosa, Januária e Pirapora. Para Belo Horizonte, passava-se por Jequitaí, Várzea da Palma e Lassance, até chegar em Corinto, pois ainda não existia a estrada hoje denominada BR l35;

CRIAÇÃO DO 10º BATALHÃO DE INFANTARIA

............O Décimo Batalhão de Infantaria da Polícia Militar de Minas Gerais - 10º BI – foi criado pela Lei nº 1.402, de 29 de dezembro de 1955, sancionada pelo Dr. Clóvis Salgado Gama, Governador em exercício, substituindo o Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, que se licenciara do Governo do Estado, para concorrer à eleição presidencial. Essa mesma lei fixou o efetivo da Polícia Militar para o exercício de 1956, distribuindo o pessoal para as suas diversas Unidades, ficando o 10º BI com um total de 400 homens, assim discriminados por postos e graduações:

1 – Oficiais:

- Tenente-Coronel............................................................ 01
- Major........................................................................... 01
- Capitão........................................................................ 04
- Capitão Médico.............................................................. 01
- Primeiro Tenente............................................................ 04
- Segundo Tenente........................................................... 04
- Segundo Tenente de Administração................................... 02
Soma............................................................................. 17

2 – Praças:

- Primeiro Sargento.......................................................... 08
- Segundo Sargento......................................................... 08
- Terceiro Sargento.......................................................... 23
- Cabo........................................................................... 42
- Soldado...................................................................... 302
Soma............................................................................ 383

3 - Total de Oficiais e Praças ............................................400.

 

INSTALAÇÃO DO 10º BATALHÃO DE INFANTARIA

............Dia 28 de julho de 1956, sábado. Era Presidente da República o Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira; Governador do Estado, o Dr. José Francisco Bias Fortes; Comandante Geral da Polícia Militar, o Coronel Manoel de Assumpção e Souza. Nessa data, instalou-se em Montes Claros o Décimo Batalhão de Infantaria – 10º BI - da Polícia Militar de Minas Gerais, sob o comando do Tenente-Coronel Geraldo Batista, com sede provisória no prédio da Praça Doutor Chaves, esquina com Rua Simeão Ribeiro. Pela Polícia Militar, além do Comandante Geral e do primeiro Comandante da Unidade, estiveram presentes o Cel José Meira Júnior, Chefe do Estado Maior Geral, e grande comitiva de Oficiais, representando os diversos órgãos da Corporação.

............Como representantes do Municipio, assinaram a ata de instalação da Unidade as seguintes pessoas:

- João F. Pimenta, Prefeito em exercício;
- Geraldo Ataíde, Presidente da Câmara;
- Ildeberto Alves de Freitas, Vereador;
- Floriano Neiva, representante da Secretaria de Viação;
- Ten-Cel José Coelho de Araújo, Delegado Especial de Polícia;
- Altino Flores, Geraldo Correa Machado, Laércio de Oliveira Reis, Geraldo Natalino da Silva, Alda Magalhães Sousa, Iracema B. Meira, Lourdes Antunes Pimenta e Altino Teixeira de Carvalho.

............Durante as solenidades, foi lida, pelo Comandante Geral, Cel Manoel de Assumpção e Souza, a mensagem do Sr. Governador do Estado, Dr. José Francisco Bias Fortes, nos seguintes termos: “Ao ensejo da instalação do 10º Batalhão de Infantaria na cidade de Montes Claros, congratulo-me com o povo desse grandioso município e saúdo, por intermédio do Senhor Comandante Geral, Coronel Manoel de Assumpção e Souza, a nova e brilhante Unidade da nossa valorosa Polícia Militar. Estou certo de que o 10º BI honrará, em todos os momentos, as nobres tradições da milícia de Minas, desempenhando as suas funções com a maior eficiência e o mais alto sentimento do dever. Para toda a região norte-mineira, a solenidade de hoje tem uma significação que me dispenso de encarecer. A presença em Montes Claros de uma organização policial como a que hoje se instala, atende a uma antiga e reiterada reivindicação dessa culta e próspera cidade, cujo povo pode orgulhar-se de haver construído em plena região sertaneja um poderoso foco de irradiação espiritual e, ao mesmo tempo, um dos núcleos mais ativos da vida econômica do interior do País.”

............É importante notar que o Batalhão foi instalado oficialmente no prédio da esquina da praça Dr. Chaves com a rua Simeão Ribeiro, onde antes se estabeleceram o Fórum e a Cadeia Pública. Tal prédio, todavia, não oferecia espaço suficiente e adequado para o funcionamento de todas as repartições da Unidade. Ficou ali o que se chamou de Administração, indo o Quartel propriamente dito instalar-se na esquina da avenida Ovídio de Abreu com a praça Raul Soares, mais conhecida como praça da Estação.


Primeira sede da Administração do 10º Batalhão

............Outro fato interessante foi a presença maciça de Oficiais da Polícia Militar, com representantes de praticamente todas as Unidades então existentes, tanto da Capital como do Interior do Estado. É certo que havia muito tempo que não se criava um novo Batalhão, já que o 9º BI se instalara em Barbacena-MG a 10 de julho de 1932, mas a principal razão deve ter sido mesmo a curiosidade e a oportunidade de conhecer o “afamado” sertão norte-mineiro. Quem não compareceu, ou pelo menos não foi citado na ata, foi alguém representando o 3º BI, o velho “Casaca Parda” de Diamantina, que tinha razões de sobra para estar aliviado com a redução da sua área de atuação, mas que, por outro lado, poderia estar magoado pela saudade de tantos amigos e admiradores que conquistou em toda a região.


Quartel da Tropa, na esquina da Praça Raul Soares
com Avenida Ovídio de Abreu


ÁREA DE RESPONSABILIDADE

............Logo após a criação da Unidade, foi definida a sua primeira área de atuação ou circunscrição, com a transferência de destacamentos e diligências permanentes do 3º BI para o 10º BI. Destacamentos eram as frações de tropa localizadas nas sedes de município, ou cidades, enquanto as diligências permanentes localizavam-se em sedes de distrito ou mesmo em povoados sem autonomia política. Ao 10º Batalhão, nesse primeiro momento, coube a responsabilidade sobre 26 (vinte e seis) municípios, com os respectivos destacamentos e diligências policiais relacionados a seguir, inclusive com a previsão de efetivo em pessoal:

1 – Destacamentos:
- Bocaiúva........................................................ 1 Sgt e 5 Sd;
- Brasília........................................................... 1 Sgt e 5 Sd;
- Buenópolis.......................................................1 Cb e 3 Sd;
- Coração de Jesus..............................................1 Sgt e 4 Sd;
- Espinosa..................................................1 Sgt, 1 Cb e 6 Sd;
- Francisco Sá.....................................................1 Cb e 3 Sd;
- Grão Mogol.......................................................1 Cb e 3 Sd;
- Janaúba.......................................................... 1 Sgt e 3 Sd;
- Januária.......................................................... 1 Sgt e 5 Sd;
- Jequitaí........................................................... 1 Cb e 3 Sd.
- Juramento....................................................... 1 Cb e 2 Sd;
- Lassance.........................................................1 Cb e 2 Sd;
- Manga............................................................1 Sgt e 5 Sd;
- Mato Verde.....................................................1 Cb e 2 Sd;
- Monte Azul.................................................... 1 Sgt e 5 Sd;
- Montes Claros..................................... 1 Sgt, 5 Cb e 24 Sd;
- Pirapora................................................ 1 Sgt, 1 Cb e 8 Sd;
- Porteirinha......................................................1 Cb e 4 Sd;
- Rio Pardo de Minas.........................................1 Cb e 4 Sd;
- Salinas............................................................1 Sgt e 5 Sd;
- São Francisco.................................................1 Sgt e 5 Sd;
- São João da Ponte............................................1 Cb e 2 Sd;
- São João do Paraíso........................................ 1 Cb e 3 Sd;
- São Romão......................................................1 Sgt e 3 Sd;
- Taiobeiras....................................................... 1 Cb e 2 Sd;
- Várzea da Palma............................................. 1 Sgt e 4 Sd.

2 – Diligências Permanentes, num total de 22 (vinte e duas), todas elas com 1 Cabo e 1 Soldado, nas sedes dos seguintes distritos: Augusto de Lima, Canabrava, Guaicuí, Granjas Reunidas, Ibiracatu, Itacambira, Itacarambi, Joaquim Felício, Mamonas, Matias Cardoso, Mirabela, Missões, Montalvânia, Nhandutiba, Pandeiros, Perdões, Riacho dos Machados, Rubelita, São Gonçalo, São Sebastião dos Poções, Serranópolis e Ubaí.

............Conforme se verifica, para o policiamento dessa primeira área sob responsabilidade do 10º BI, estavam previstos 197 policiais-militares, sendo 14 Sargentos, 41 Cabos, l42 Soldados e nenhum Oficial. Observa-se que muitas localidades, àquela época distritos, foram emancipadas e hoje constituem municípios; algumas outras estagnaram ou entraram em decadência, ao ponto de não terem previsão de fração policial, atualmente; e, por fim, existem casos como Jaíba, Japonvar e Chapada Gaúcha, que nem existiam como povoados e agora são municípios e cidades em pleno desenvolvimento, carecendo de expressivo efetivo policial-militar para manutenção da ordem pública. Quanto aos demais 203 policiais-militares previstos para completar os 400 do total previsto, ou eram do comando e da administração da Unidade, ou se encontravam em disponibilidade na sede, “prontos” para o serviço.

............Conclui-se, assim, que o Batalhão tinha uma organização militar, sendo constituído legalmente de Companhias, Pelotões e Grupos, em formato próprio para mobilizações de campanha, mas, na prática, já se encontrava no exercício de sua função policial, através dos Destacamentos e Diligências, onde servia praticamente a metade do seu efetivo.


OS PRIMEIROS OFICIAIS

............Uma das primeiras providências do Comandante foi designar os Oficiais e Aspirantes a Oficial para as funções de comando da Unidade, que ficou assim constituída:

- Capitão Aderbal Correa da Silva, Sub Comandante;
- 1º Tenente Filadelfo Werneck, Fiscal Administrativo;
- Aspirante Jair Alves Pinheiro, Chefe da 1ª Seção (S/1);
- Aspirante José Hirton de Melo, Chefe da 2ª Seção (S/2);
- 2º Tenente Idimar Vilas Boas, Chefe da 3ª Seção (S/3) e Comandante da 1ª Companhia de Fuzileiros;
- 2º Tenente Domingos Martins de Oliveira, Comandante da 2ª Companhia de Fuzileiros;
- 2º Tenente Messias Durães de Alkimim, Comandante da Companhia de Comando e Serviços;
- 2º Tenente de Administração João Germano Ferreira, Tesoureiro;
-2º Tenente de Administração Agostinho Geraldo de Melo, Aprovisionador e Almoxarife;
- Aspirante Smith Alves Valentino, Comandante de Pelotão da 1ª Companhia;
- 1º Tenente Dr. João Ildeu Braga, Médico.

............Todos esses Oficiais e Aspirantes, num total de 11 (onze), foram designados para as respectivas funções em caráter interino, em razão da falta de outros de postos superiores para ocupar tais funções como titulares efetivos. Faltavam 1 Major, 3 Capitães, 3 1º Tenentes e 1 2º Tenente. É certo que, àquela época, havia uma defasagem significativa no quadro de Oficiais da Polícia Militar, mas a questão principal é que os poucos existentes não se dispunham a servir no Interior do Estado, salvo como Delegado Especial de Polícia ou como Delegado de Capturas, situação em que detinham, na forma da lei, o chamado “poder de polícia”, ou seja, estavam revestidos da autoridade legal. Não foram raros os casos de transferência de Oficiais para o 10º BI, nos seus primeiros momentos em Montes Claros, que não se concretizaram. Uns conseguiam transferir-se para o Quadro de Delegados Especiais e outros arranjavam uma forma de permanecerem adidos à Unidade anterior, para se livrarem do inóspito sertão norte-mineiro. Destaque portanto para essa equipe pioneira que, sob o comando do abnegado Tenente-Coronel Geraldo Batista e apoiados sobretudo na lealdade e competência funcional de Graduados e Soldados já “curtidos” e adaptados ao clima regional, aqui plantaram a semente de uma grande instituição.


ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO
DE MONTES CLAROS

Luiz de Paula Ferreira
Cadeira N. 19
Patrono: Caio Mário Lafetá

............Impossível falar de Montes Claros, sob o prisma de seu desenvolvimento, sem vincular a comunidade à região em que se assenta e sem situa-la no tempo. Pois sua vocação para o crescimento, e para estimular o progresso, não é recente e tampouco se detém na URBS propriamente dita ou nos limites do Município. Ao contrário, ela se expande pelos cento e tantos mil quilômetros quadrados de sertão nortemineiro, dos quais Montes Claros se tornou pólo natural de convergências.

............As grandes cidades, que no passado se tornaram centros de progresso, não cresceram sozinhas.

............No sistema feudal, a economia era eminentemente rural e a população vivia nos campos e se reunia em aldeias, algumas das quais, por sua localização e outros fatores, se transformaram em comunas ou cidades. Nas cidades a aglomeração humana criou ambiente propício ao desenvolvimento do comércio e posteriormente
da indústria. Historicamente a cidade deu impulso ao conhecimento humano, criou a divisão do trabalho, incentivou o comércio e possibilitou o progresso industrial. E foram os burgueses, comerciantes das cidades, que, ao ruir a estrutura feudal, subvencionaram as enfraquecidas casas reinantes de então para que pudessem unificar seus domínios, fazendo surgir, assim, o estado moderno.

............Guardadas as devidas proporções de tempo e de grandeza, a concentração humana que aqui se verificou deu a Montes Claros condições de desempenhar o papel de agente propulsor do progresso regional.

............Antônio Gonçalves Figueira, ao criar a Fazenda dos Montes Claros, nos albores do Século XVIII, teve o descortínio de abrir três importantes caminhos, como se já vaticinasse para a comunidade nascente o seu destino de empório regional. Um destes caminhos dirigia-se para Matias Cardoso, às margens do Rio São Francisco. O outro, a chamada estrada baiana, passava por Rio Pardo e atingia Tranqueiras, na Bahia, e daí o Nordeste. E a estrada para Pitangui, que a meio caminho se bifurcava para as regiões dos garimpos.

............Antes, em fins do Séc. XVII, o Mestre-de-Campo Antônio Guedes de Brito estabelecera os alicerces econômicos da região, criando os célebres CURRAIS DE GADO, nos vales do Rio São Francisco e de seus afluentes, Rio Verde Grande, Gorutuba, Rio das Velhas e outros, passando a região a ser conhecida como SERTÃO DOS CURRAIS DE GADO. Na esteira do boi, trazido pelo Capitão Guedes de Brito, veio o algodão, para vestir o vaqueiro e suplementar a alimentação dos rebanhos. Definindo-se, desde então, na pecuária e na cotonicultura, a vocação econômica da região.

............A posição geográfica de Montes Claros, a meio caminho entre o sertão alto e as zonas de garimpo e o Sul, tornou a povoação um ponto de encontro mais acessível para todos, transformando-a desde logo no centro comercial mais movimentado da região.

............O naturalista francês August Saint-Hilaire, ao passar por aqui em 1817, realizando viagem de estudos ordenada pela Coroa Portuguesa, encontrou uma povoação com mais de 200 casas e cerca de 800 habitantes, e um crescente comércio de exportação de gado, salitre, couros e peles. O gado bovino e cavalar era comercializado na Bahia, o salitre ia para Vila Rica e para o Rio de Janeiro e as peles se destinavam à confecção de sacaria para o transporte de salitre e algodão. Registra ainda Saint-Hilaire a produção de milho, feijão e farinha de mandioca e assinala a existência de intensivo comércio distribuidor local, inclusive de produtos europeus, recebidos através dos portos da Bahia e do Rio de Janeiro.

............Em 1831 foi o Arraial de Nossa Senhora da Conceição e São José das Formigas elevado à categoria de vila, com a denominação de Vila de Montes Claros das Formigas e finalmente em 3 de julho de 1857 veio a elevação a cidade, com a denominação de Montes Claros.

............Na “Monografia Histórica de Montes Claros”, o Desembargador Antônio Augusto Velloso registra que “em 1892 Montes Claros exportava por tropas e carros-de-bois cerca de 40.000 meios de solas por ano, e ainda couros crus, toucinho salgado, carne seca, farinha de mandioca, algodão, borracha de mangabeira, salitre, tecido grosso de algodão, chapéus de sola, selas, selins e silhões, redes, cachaça e gado em pé”, referindo-se ainda à grande feira semanal, aos sábados, que reunia acima de mil pessoas entre vendedores, compradores e curiosos “para o comércio de feijão, arroz, farinha de mandioca, polvilho, toucinho, carne seca, rapadura e todos os demais gêneros de primeira necessidade. O sal vinha de Januária e de outros portos do São Francisco. O café, à parte pequena safra do município, provinha de São João Batista, Peçanha, Teófilo Otoni e Rio Pardo. Dos municípios do Serro, São João Batista e Conceição importava-se o ferro em barras, cravos, ferraduras e utensílios. O comércio de tecidos, ferragens, armarinhos, louças, molhados em geral, drogas, cobre em obras e em chapas, chumbo de caça, aço e todos os mais efeitos e mercadorias estrangeiras ou de proveniência de outros estados, era feito com o Rio de Janeiro e com a Bahia”.

............A essa época, segundo ainda o testemunho do Desembargador Velloso, Montes Claros já se firmara como centro agrícola e pastoril, com comércio ativo, escola normal, telégrafo, imprensa, contando com cerca de 500 casas de telhas.

............Por volta de 1916, o intercâmbio com o Sul se fazia através das estações ferroviárias de Buenópolis e Várzea da Palma, pagando-se um tostão por quilo de mercadoria transportada em lombo de burros até a via férrea.

............Em 1920, com a população da cidade alcançando 5.000 habitantes, o então presidente da primeira Associação Comercial, o Cel. Francisco Ribeiro dos Santos, inaugurou o primeiro serviço de iluminação elétrica de Montes Claros.

............A estrada de ferro chegara a Corinto em 1906 e a Pirapora e a Diamantina em 1914 e caminhava devagar em direção a Montes Claros, onde finalmente chegou a 1º de setembro de 1926.

............Enquanto para Corinto, Pirapora e Diamantina pouco impulso trouxe a ponta dos trilhos, para Montes Claros a chegada das paralelas de aço e sua interrupção aqui, por quase 20 anos, consolidou em definitivo sua posição de centro coletor de produção regional e distribuidor de bens importados. A ponta dos trilhos trouxe um caloroso alento ao setentrião mineiro. A região sentiu que novos tempos, mais promissores, se aproximavam.

............Estradas estaduais de terra rasgaram o sertão para ligar a ferrovia aos municípios próximos e longínquos, como Francisco Sá, Porteirinha, Monte Azul, Espinosa, Salinas, Pedra Azul, entre outros. E o Cel. João da Silva Maia construiu a estrada para Maria da Cruz e Januária, que administrou cobrando pedágio até a encampação pelo Governo do Estado. Cresceu a produção e o comércio do boi em pé, para as charqueadas e frigoríficos, agora conduzidos nos trens boiadeiros; expandiu-se a exportação de algodão, de mamona em bagas, de peles e solas, de cereais, de toucinho de Montes Claros, como era conhecido o toucinho salgado e seco, em grande parte proveniente da Bahia. Instalaram-se grandes armazéns atacadistas, o transporte em caminhões passou a competir com as tropas de burros e com os carros-de-bois nas precárias estradas de terra do Norte do Estado. Foi uma época de afirmação. Uma verdadeira epopéia de trabalho e de coragem para domar o sertão e integrá-lo à economia do Estado e da Nação.

............E assim chegamos aos tempos mais recentes.

............Antes de finalizarmos, uma resposta, ou pelo menos uma tentativa de resposta, se impõe sobre o por quê de ter sido Montes Claros, entre tantas outras comunidades que se formaram nestes sertões, aquela que polarizou mais intensivamente os interesses regionais.

............A localização geográfica é o fator primeiro que se apresenta ao ser tentada análise dessa natureza. Encontrando-se relativamente próxima dos garimpos de Grão-Mogol, de Minas Novas, do Tejuco e de outras áreas eminentemente consumidoras, e servida por estradas de tropas em todas as direções, Montes Claros teve adequadas condições locacionais para tornar-se um entreposto regional, onde o sertão podia concentrar a maior parte de sua produção disponível e abastecer-se do que necessitasse.

............A posição geográfica terá sido, portanto o fator nº 1.

............A proliferação das estradas de tropas e de carros-de-bois, em todo o sertão, convergindo para Montes Claros, e também a salubridade do local, afastado das vazantes malarígenas dos grandes rios – do São Francisco, do Verde Grande e do Rio das Velhas, também se revelaram fatores altamente positivos.

............Uma outra razão poderosa foi a proximidade das matas ubertosas do Verde Grande, produtoras de milho e ricas em pastagens, responsáveis pelo crescimento dos rebanhos. E por último, mas não o último, um fator altamente decisivo – o homem que aqui se localizou. Destaco em especial a vocação comercial dos montesclarenses, o talento para comprar e vender e para mo tivar a produção, daqueles que vieram do Nordeste, que vieram da Bahia, que vieram do Sul ou que nasceram no próprio sertão e aqui se fixaram para exercer a nobre e progressista profissão do comércio. Foi o talento do comerciante de Montes Claros que superou as dificuldades e soube aproveitar os fatores positivos, consolidando-os em favor do crescimento da comunidade. Somos os continuadores desses gigantes do passado. Não importa onde tenhamos nascido, pois Montes Claros não pede ao que chega o seu batistério.

............Para a Montes Claros de hoje e do futuro, há que se planejar com realismo, o que vale dizer que há de se planejar com grandeza. Para que as necessidades não superem as expectativas, para que os futuros administradores de Montes Claros não se vejam obrigados a administrar como apagadores de incêndios, num processo que o economista Valternômen Coelho, em expressão muito feliz, denominou de administração por crises.


ROMARIA A BOM JESUS DA LAPA

Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães

............O Santuário de Bom Jesus da Lapa, no Oeste da Bahia, é visitado anualmente por milhares de romeiros. Chegam diariamente caravanas de varias regiões do Brasil. A maioria tem origem no Norte de Minas Gerais, com destaque especial às fervorosas romarias da cidade de Montes Claros que são recebidas com carinho pelos clérigos daquela cidade baiana. Ali mineiros e baianos se misturam e se completam na fé.

............A gruta é cercada de muitas curiosidades, mistérios, lendas e mitos, e ostenta no seu altar-mor a Venerada Imagem de Cristo Crucificado, sob o título Bom Jesus a mais de trezentos anos. Em 1691, o português Francisco de Mendonça Mar descobriu a gruta, que até hoje serve como igreja; igreja que, afinal, é considerada o principal centro de referência turístico do Médio São Francisco. Chegar à cidade de Bom Jesus da Lapa e não visitar o Santuário do Bom Jesus seria uma falta de respeito para com o divino.

............Curioso é que no mesmo tempo em que o monge Francisco descobriu a gruta do Bom Jesus, foram descobertas as primeiras minas de ouro, no território que se chamaria posteriormente, Minas Gerais, uma vez que o rio São Francisco era na época o melhor e o único caminho para se penetrar no interior do Brasil.

............As primeiras romarias dos mineiros de Montes Claros para Bom Jesus da Lapa foram feitas a cavalo. Longas viagens desses romeiros feitos cavaleiros andantes pelas estradas poeirentas que duravam, em média, quinze dias para ir e outros quinze para voltar. Muitos fincavam o pé na estrada, calçados de alpercatas e, na cabeça, chapéu de palha revestido de morim alvinitente e circundado com fita verde da esperança, suor encharcando o corpo e o coração batendo forte para bombear o sangue; caminhadas que duravam mais de trinta dias para ir e igual número de dias para voltar. Tudo muito bem planejado com paradas e pernoites em locais definidos. Quase seiscentos quilômetros de Montes Claros a Bom Jesus da Lapa, com jornadas evidentemente cansativas, mas não reclamavam. Seguiam impulsionados pela fé que deixava o romeiro esperançoso e entusiasmado. Depois as viagens foram ficando menos cansativas pela utilização dos caminhões paus-de-araras, até o surgimento de ônibus oferecendo agilidade, comodidade e facilidade aos devotos do Bom Jesus.

............Foi o monge Francisco de Mendonça Mar, mais tarde ordenado padre, adotando o nome de Padre Francisco da Soledade, que fez os primeiros altares, conseguiu paramentos, castiçais e determinou que 6 de agosto fosse comemorado festivamente em honra ao Senhor Bom Jesus da Lapa, mandando posteriormente que colocassem no altar junto à imagem de Cristo Crucificado, as imagens de Santo Antônio de Lisboa e de Nossa Senhora da Soledade. Na “Cova do Monge”, ao lado direito do altar-mor está enterrado o corpo do padre. É a mesma cova onde fazia orações e penitências e que lhe servia de dormitório.

............Quem visita a “Sala das Promessas” ou simplesmente “Sala dos Milagres” sente a contagiante força da fé e da gratidão deixada por cada um dos seus milhares de visitantes e leva a certeza de que tudo é possível ao que crê. O local é um ponto de referência da manifestação da fé no Senhor Bom Jesus. Em dias de grandes movimentos o espaço é tomado por turistas e pagadores de promessas. Ali estão os maiores testemunhos representados pelos milhares de ex-votos, deixados por quem deles se serviram através da fé no Senhor Bom Jesus da Lapa; os objetos depositados no local servem como prova de que os pedidos foram atendidos; eles são expostos também com o objetivo de evidenciar a gratidão dos que recorreram aos cuidados do Bom Jesus.

............São muitos os que vão ali para fazer agradecimentos e renovar pedidos, pois o que vale mesmo é a intenção. Não basta compreender apenas o significado da fé, mas também as intenções, as emoções vivenciadas e ações que se ocultam no interior de cada devoto, o que está no mundo espiritual de cada romeiro, conforme o seu entendimento pessoal.

............Trata-se de um evento religioso e cultural que já dura mais de trezentos anos. A romaria representa uma expressão de fé ao Senhor Bom Jesus e a festa de 6 de agosto é sempre de peregrinação e de agradecimento pelas graças alcançadas.


Bom Jesus da Lapa / BA



MONTES CLAROS – ETERNA LEMBRANÇA

Maria Luiza Silveira Teles
Cadeira N. 42
Patrono: Geraldo Tito da Silveira

............Ruth Tupinambá Graça é dessas pessoas que penso jamais deveriam morrer. Isto porque ela marca fortemente a vida das pessoas e da sua tão amada cidade. Mas, decerto, ela jamais será esquecida por suas obras que registram o passado de Montes Claros, suas transformações e suas grandes figuras.

............Este seu último livro é daqueles que se quer ler de um único fôlego, pois é agradável e nos fala ao coração. Considero isso uma das características da boa literatura.

............De uma maneira tão terna, Ruth vai desfolhando um passado de alegrias, simplicidade, dificuldades e glórias. Tudo que ela conta, a nós que amamos tanto essa terra, nos toca profundamente.

............Suas crônicas são de uma delícia incrível e demonstram uma grande alma, uma pessoa que soube viver intensamente e que muito tem amado a terra em que nasceu.

............Ruth, com os dois livros que escreveu, sem nenhuma pretensão de ser historiadora, acabou por tornar-se uma, de importância fundamental para a História de Montes Claros.

............Cidade sem história é cidade sem identidade. O passado é importantíssimo, pois foi ele que construiu o presente e delineou o futuro. Infelizmente, porém, o montes-clarense, de um modo geral, e seus administradores não têm se preocupado em preservar a história de Montes Claros que, como Ruth fala tão bem, poderia ser contada e mostrada através de seus velhos casarões.

............Eu, que também amo tanto a terra de meus antepassados e que tão bem me acolheu, confesso que choro diante de cada antiga casa que é destruída para dar lugar aos novos edifícios. Não que seja contra o progresso ou não compreenda a necessidade de moradia para uma população que cresceu de forma espantosa. Entretanto, qual o montes-clarense autêntico que pode concordar com a destruição da casa de nosso maior poeta sertanejo, Cândido Canela? Ela deveria ter se tornado um museu, onde as coisas dele seriam preservadas, tal qual eu vi em uma reportagem de televisão sobre uma casa de um grande poeta de uma cidade mineira da qual não me recordo o nome.

............Ruth, em seu livro, mostra a mesma indignação que sinto diante de fatos assim.

............O que seria da História de Montes Claros se não fosse a ideia genial de Wanderlino Arruda e Dário Cotrim, filhos adotivos da cidade, de fundarem o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros? Toda a História acabaria por perder-se, parando definitivamente no que escreveram Hermes de Paula e Nelson Viana. Mas, Ruth, assim como eu e todos os membros do Instituto, não temos como recuperar em arquitetura aquilo que já foi destruído e que, por si só, também contavam o nosso passado...

............Lendo o livro de Ruth, lembrei-me o tempo todo de meu saudoso pai, que já havia me contado muitas daquelas histórias, como a de Exupério Ferrador. Tendo saído daqui na juventude, papai ficou anos cheio de saudosismo de Montes Claros e do Brejo das Almas, cidades que ele tanto amou. E fez tudo para que pudesse voltar, levantando a ideia e ajudando na fundação de um Batalhão da PMMG aqui, instituição que tem servido admiravelmente à nossa sociedade. E qual o reconhecimento da cidade por isso? Vereadores da legislação passada nomearam uma praça com seu nome, praça esta que jamais foi inaugurada pela administração atual. A maior homenagem que já lhe prestaram foi feita pelos fundadores do Instituto, a que já me referi, nomeando uma Cadeira com seu nome, Cadeira esta hoje ocupada por mim. Também o 9º Batalhão prestou-lhe algumas homenagens, depois de sua morte, às quais jamais compareci, pois os seus filhos não foram convidados. É desta forma que as administrações de Montes Claros, com raras exceções, tratam seus filhos ilustres.

............Ai de Montes Claros se não fosse Ruth a lembrar deles, como fez com meu pai, em seu primeiro livro. Mas, resta alguém que saiba quem foi Geraldo Brejeiro, que deixou vinte e quatro obras publicadas, inclusive a História da PMMG, corporação a que ele tanto amava, e mais onze outras obras inéditas?

............Ruth, com mais esta extraordinária obra, entra definitivamente para a nossa História como uma de suas figuras mais importantes e representando, também, uma de suas famílias tradicionais.

............Tudo que eu gostaria de falar sobre Ruth e sua obra já foi falado pelo também saudoso poeta João Vale Maurício, Wanderlino Arruda e Teófilo Pires. Vejamos:

............“Ruth, com inteligência, ternura e sensibilidade, nos conduz a um maravilhoso passeio ao passado. Visitamos a Montes Claros, mocinha-sertaneja, toda cheia de donzelices, meiguices e denguices. Ela nos fala da alma do povo e da simplicidade boa, grande e encantadora da cidade”. (João Valle Maurício); “(...) Depois de Hermes de Paula deverá vir Ruth Tupinambá Graça. Não só deve, como precisa que venha. Precisamos de alguém que conheça a cidade e sua gente, alguém que goste do trabalho de registrar acontecimentos e marcar as presenças das personagens nesses acontecimentos. Alguém que tenha amor suficiente à cidade e que saiba manusear as palavras para pintar e descrever os momentos dignos de registros. Precisamos, sobretudo, de uma pessoa que seja, ao mesmo tempo, repórter, cronista e contadora de histórias. E estas qualidades a autora (...) tem de sobra”, (Wanderlino Arruda). “O livro de Ruth Tupinambá Graça é singela e comovedora narrativa de quem viveu intensamente e, agora, descreve maravilhosamente a (...) sua história”. (Teófilo Pires).

............Ruth, todos nós, montes-clarenses de naturalidade ou filhos adotivos, temos muito a agradecer-lhe e damos graças a Deus por sua saúde, disposição e graça além de sua incontestável competência.

............Você sabe que é uma minha amiga muito querida e a quem admiro profundamente! Entretanto, não falei aqui como amiga, mas como escritora e consultora editorial, acostumada a analisar centenas de obras para uma grande editora. Seu livro é realmente formidável, sem nenhum favor.


AS ENTRADAS, BANDEIRAS E CAVALGADAS

Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasques

............Das entradas, poucos roteiros foram conservados e esses mesmos muito deficientes. Mas a marcha geral foi sempre a mesma, eram a baliza, o farol que guiava os itinerantes, e os rios eram os caminhos que preferiam seguir.

............Portanto os rios tiveram todos importante papel no ¨devassamento ¨ do Brasil, excedem porém qualquer outro, deste ponto de vista, o Paraíba do sul, o Tietê e o São Francisco.

............Entradas eram expedições armadas, mais ou menos numerosas, destinadas a explorar os sertões do Brasil, escravizar índios descobrir terrenos com metais, e pedras preciosas.

............Desde os primeiros tempos do Brasil, envolta com informações verdadeiras, correram sempre notícias fantásticas de supostas riquezas. Nos sertões do interior, falava-se de montanhas tão altas que as aves não podiam transpor, em rios, que de chofre desapareciam para surgir muito além, em lagoas cheias de pérolas, em um lago imenso de que manavam o São Francisco, o Prata e o Amazonas, citava-se o país Eldorado, cujo príncipe vestia-se de ouro resplandecente, vivia em palácios de esmeraldas e safiras e tinha seus domínios fechados por cordilheiras de cristal.

............ O efeito de tais informações foi imediato, as internações começaram logo, ao mesmo tempo que as explorações costeiras. Tanto marcharam e se desenvolveram, que em menos de um século, foram organizadas de forma metódica, e surgiram os bandeirantes.


............Este preâmbulo é apenas para fazer uma associação, entre as entradas, as bandeiras, e as cavalgadas que insistem a resistir ao tempo, e a cada ano renovam-se nas festas dos distritos norte mineiros, como a prestar uma homenagem aos nossos antepassados que trilharam e exploraram os nossos sertões, com itinerários diferentes, mas com bravura e determinação...

............Já se vai longe o tempo em que o bravo homem do campo, o tropeiro, seguindo a estrada real, desbravava as terras do sertão e hoje o sertanejo presta-lhe homenagem, em cavalgadas pelos distritos do Norte de Minas!

............As lembranças, a saudade e os fatos que fizeram a história do homem do campo, do vaqueiro, do velho sertanejo, do homem de chapéu de couro e cigarro de palha, pés descalços, olhar ao longe, da espera de dias melhores, nas lidas diárias, dos sonhos desfeitos, da chuva que não veio, da dura realidade, desfilam pela minha retina...

............Mas o sertanejo não desiste, na colheita que não vingou, na chuva que não veio, novo plantio, nova esperança, olha o céu e segue adiante...

............Por isso a cavalgada resiste ao tempo e aquele que não saiu do campo, que ama a terra e tira dela o seu sustento, gosta da cavalgada, do barulho dos pés dos cavalos, do relincho dos mesmos, e presta a sua homenagem aqueles que um dia aí viveram. Todos enfileirados, os cavalos arreados, bandeiras nas mãos, em frente ao cruzeiro, pedem a bênção ao padroeiro, dizem orações, dão vivas à N. Sra. pedem proteção para a caminhada. Os fogue tes estouram ao longe, o cavalo bem enfeitado é a “madrinha da tropa”, o cavaleiro vai à frente, cumprimenta os que ficam, tira o chapéu da cabeça, homenageando os que não seguem...

............Cada um com o melhor passo desfila orgulhoso de sua montaria, a caminhada será longa, o sol causticante, eles seguem viagem por todo o sertão!

............Na fazenda, os que não foram preparam o almoço, para receber os cavaleiros, que retornarão após visitar vários lugares e outros irão juntar-se a eles. Em cada parada, após os aperitivos, eles seguem viagem, sobem e descem serras, morros, rios e demais acidentes geográficos, cortam viagem e olham a paisagem, contemplam o céu, retornam finalmente ao local de onde partiram...

............Novos aplausos, foguetes, vivas e você ouvirá vindos dos rincões do Norte de Minas, o tropel dos cavalos, o mugido das reses no estouro da boiada, os gritos dos vaqueiros, a poeira subindo pelo vento, o canto dos pássaros nas trilhas do sertão... A festa começa, o almoço, a dança nos terreiros, o canto da viola, o aboio do vaqueiro, e a tarde encobre a colina, no azul do céu, na tarde poeirenta do verão...

............Que povo é este? É gente que canta, que dança e que trabalha... É gente mineira, nossa gente de Minas Gerais, sertaneja, do nosso sertão, dos nossos Gerais... As minas são muitas, como diria o escritor João Guimarães Rosa, “mas falo dos gerais, do chão, do Norte, do rincão, da estrada real, de Montes Claros, do povo do sertão”.

............Porque esta ligação entre as entradas, as bandeiras, as cavalgadas? Porque o homem, presente em todas elas, com objetivos diferentes, épocas também, trazem em comum, o gosto pela aventura, caminhos desconhecidos e vontade de vencer os obstáculos que aparecem ao seu redor.

............Lembrando as palavras do filósofo Santo Agostinho, descritas no livro “Historia da Filosofia”, de Michele Frederico Sciacca, vol. I. Pág. 200.

“O passado, presente e futuro, três modos do tempo, são três atos do espírito, distintos porém solidários, um continuando no outro, por isso o tempo é o durar da consciência, é a conexão entre fatos, que se entrelaçam e ao mesmo tempo se diferenciam”...

Rotílio Manduca

Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasques

............Este nome surgiu para mim, como uma pessoa que aparece num filme de terror... Minha mãe, nas suas lembranças, nos contou que Rotílio era um homem mau, uma espécie de bandoleiro, que assombrava o Norte De Minas. Ele comandava vários cavaleiros, fazia sequestros nas cidades do interior... As pessoas fugiam quando tinham noticias dele, do seu bando, usando chapéu de abas largas, os homens as mulheres e crianças fugiam apavoradas por causa das lendas e atrocidades que corriam sobre ele.

............Quem era Rotílio? Era alguém que comandava um bando, não de tropas regulares, mais aproveitando-se da fraqueza do governo federal (1926), com as guerrilhas da Coluna Prestes, esses bandos eram destacados para combater à ilegalidade, saqueavam e depredavam as populações indefesas do Norte De Minas.

............Na minha procura por este personagem, pesquisei acontecimentos e trajetória da vida social na região do São Francisco, e encontrei semelhanças e diferenças em situações fascinantes, no campo da cultura, onde aparecem elementos mágicos, crendices, costumes imaginários da Região do São Francisco.

............Nos relatos do acontecido, no velho rio, é difícil separar o que foi real, do que brotou da imaginação, e por isso continuo a pesquisar, quem foi Rotílio, essa figura que assombrou os meus sonhos de infância, de medos, de assombrações e lendas. Quem foi essa figura lendária que assombrou o nosso sertão?

............A prova disto está no livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Depois de quase cinco décadas de seu lançamento, reedições da obra prima ainda se procura elucidar questões do romancista.

............Várias são as controvérsias, mas algumas ganham consenso. Uma delas é que Guimarães Rosa retirou personagens, fatos, comportamentos, em suas pesquisas no Noroeste e Norte De Minas.

............- A quase totalidade dos personagens do romance foi identificada. Assim explica Levínio Castilho, várias estórias contadas por antigos moradores, identificaram coronéis e jagunços assemelhados aos personagens: Riobaldo, Hermórgenes, Ricardão, Joãozinho Bem-Bem, etc.

............Alguns traços Zé Bebelo, personagem do citado romance, e sintetizados por Alan Viggiano, definem-o “É um misto de cangaceiros
e aspirante político, que financiado pelo governo, resolvera por ordem naqueles sertões”. Ele fora abandonado por Riobaldo, que depois, incorporado aos jagunços contrários, lhe dá combate. Nas primeiras refregas os homens de Zé Bebelo, ajudados pelos soldados do governo, vão vencendo e jogando os cangaceiros pelo norte.

............Quem foi Rotílio?

............De acordo com a pesquisa feita por Levínio Castilho, e endossada por Saul Martins, antropólogo, especialista em folclore e professor da UFMG Zé Bebelo é a encarnação de Rotílio Manduca. Afirmação cabal e conclusiva emanada de duas pessoas de Januária, amadurecidas por anos de estudos das coisas do São Francisco. De saída, convém dizer que o nome de Rotílio Manduca aparece no Grande Sertão, nas paginas 341, 346, 368. Na figura de Rotílio, como se pode constatar as duas fotografias de Rotílio, publicadas por Saul Martins no Livro Antonio Dó.

CONCLUSÃO:

............Os episódios, os acontecimentos, as lendas, o folclore, refletem-se diretamente na literatura, no campo da cultura, onde os elementos mágicos, os hábitos, costumes, crenças, povoam o imaginário da região do São Francisco. Dentre deste cenário difícil é separar o que foi real e o que brotou da imaginação, e elucidar questões que consigam dar veracidade e legitimidade, na identificação de Rotílio e resgate da sua historia.

............Para mim, Rotílio surge como um personagem, guardado nas gavetas da memória, nas estórias contadas pelos colonos, ao redor do engenho, da lenda passada de boca em boca, que Rotílio era jagunço, pistoleiro, chefe de banda com seus capangas que assombravam seu sertão. Dizia-se justiceiro, mas por onde passava espalhava o terror nas cidades ribeirinhas, nenhuma cidade escapou ao seu terror, ao medo dos saques, dos tiros deste homem que passou para a história como justiceiro do sertão.

............Ele morreu na cidade da Barra, no vapor “Wenceslau Braz”, em 1930. Rotílio foi esfaqueado quando dormia numa rede nas águas do Velho Chico. O rio que o embalou na sua Infância, que assistiu a sua ascensão como líder de jagunços e justiceiros, o rio que o aproximou dos homens poderosos e intelectuais, o mesmo rio que foi a sua mortalha. Assim morreu Rotílio Manduca que renasceu no corpo de Zé Bebelo, no Grande Sertão Veredas.

Seu epitáfio pode ser encontrado na literatura de Cordel:

Rotílio, cabra valente
Mais danado e inteligente
Que o São Francisco já viu;
Mais ligeiro que a piranha,
Foi o cabra de mais manha
Pariu.

Autoria anônima (aput Saul Martins)


Rotílio Manduca


Cangaceiros célebres
do sertão do Urucuia

Petrônio Braz
Cadeira N. 18
Patrono: Brasiliano Braz

............Recebi do acadêmico Adriles Uchoa Filho, membro efetivo da Academia de Letras do Noroeste de Minas (Paracatu), depois de ter lido “Serrano de Pilão Arcado – A saga de Antônio Dó”, cópias de quatro importantes documentos históricos, que passam a integrar, com outros tantos, o meu acervo particular sobre o Sertão.

............O primeiro, da lavra do historiador Olympio Gonzaga, escrito em 1946, relata fatos ocorridos no Sertão, de sua lembrança, de 1900 a 1928. Testemunho expressivo que nos transmite uma realidade. Ele esteve em Capim Branco (Unai) de 1900 a 1912. Ele conheceu pessoalmente cangaceiros famosos do vale do rio Urucuia e nos informa as suas façanhas. Lembra alguns rifões jocosos: “Se o velhaco soubesse o quanto perde em ser velhaco, seria homem de bem mesmo por velhacaria”. Ele descreve fatos e identifica personagens que nos leva ao livro “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, escrito dez anos depois. Não tenho dúvidas de que o imortal escritor teve em suas mãos esse mesmo documento, ou cópia dele, quando da elaboração de sua magistral obra literária.

............Estou com uma empreitada: comparar os nomes e as façanhas descritas por Olympio Gonzaga com as personagens de Guimarães Rosa, empreitada que será também um desafio à professora Ivana Ferrante, para quem passei uma cópia do documento. Começo a crer que nem tudo em “Grande Sertão: Veredas” é ficção em cenário real.

............Olympio Gonzaga se apresenta: “Na luta pela vida, de posse de meu título de normalista pela Escola Normal de Paracatu, em 1° de junho de 1898, na casa que hoje me pertence, juntamente com meu amigo e colega Manoel da Silva Neiva – Neneco – fui nomeado professor público primário na cadeira do sexo masculino do distrito do Rio Preto do Capim Branco (Unahi), tendo entrado em exercício em 1° de Maio de 1900”.

............Escreve ele, adiante: “Durante a minha estada em Capim Branco, Unahi (1900 a 1912) fiquei conhecendo pessoalmente quase todos os cangaceiros célebres do Urucuia: Américo de Queiroz, Ermelindo, João Pirahy, Demétrio Ribeiro (que foram jagunços de Santos Roquete), Firmino, Faustino Preto, Salé, Sacerdote, José Vaqueiro, Vicente Vaqueiro (assassinos do fazendeiro-farmacêutico Nestor da Palma para roubar a casa) e muitos outros facínoras célebres, os quais deram que fazer a polícia mineira nos anos 1912 a 1922”.

............Esclarece ele que “Américo de Queiroz residia em Capim Branco em 1905 com sua família, idade de 23 anos, bom ferreiro, trovador ao violão, com seu primo ajudante de ofício Deusdedit Áfrico da Silva, também bom cantador de modinhas. A esposa de Américo, dona Palmira, era uma senhora clara, franzina, de cabelos pretos de um metro de comprimento, dois filhos travessos Getúlio e Deodato, com 4 e 6 anos de idade”.

............E prossegue Olympio Gonzaga: “Muitas vezes Américo de Queiroz foi meu companheiro de caçadas e pescarias nas muitas matas e cachoeiras e tinguijadas de lagoas. Esta família teve um fim trágico nestes sertões selvagens, assassinados, inclusive dona Palmira, que abortou ao ser sangrada como porco e foi tirada apiruca de sua cabeça com longos cabelos pelo malvado Ermelindo”.

............Estaríamos diante de um scalp (porção de couro cabeludo arrancado, por vezes exibida como troféu de guerra), comum entre os índios americanos do Norte? Na sequência, o historiador relata: “Higino da Rocha foi homem de fortuna abastada, fazendeiro com cerca de duas mil cabeças, negociante no arraial de Burity à margem esquerda do rio Urucuia. Foi este homem arbitrário, velhaco, provocador de questões, quem reduziu e pôs Américo no mau caminho, tendo levado Américo com sua família e Deusdedit para o arraial de Burity, como jagunços, vencendo ordenado de Cr$ 300,00, por mês cada um deles”.

............Conta o historiador que em acertos de contas Hygino da Rocha teria logrado Américo Queiroz e Deusdedit. Ele matou Deusdedit quando este tocava violão e refugiou-se em Formosa (Goiás), onde contratou jagunços.

............Ele escreve: “Na cidade de Formosa, Américo Queiroz reuniu vários celerados, facínoras da pior espécie: Sacerdote com cara de bobo, de uma sagacidade espantosa, facínora perigoso, Faustino Preto, um cabra mal encarado que tinha no lombo 18 mortes, Salé, cujo nome é Clemente da Silva, com várias mortes, Hermilão ou João da Silva, Joaquim, cujo nome é Martinho, Cirilo de Barros e outros cangaceiros perigosos, todos eles naturais do povoado de Serra das Araras, nas fronteiras dos Estados de Minas e Bahia, terra do famoso Antônio Dó cujas façanhas ficaram célebres nas cidades de São Francisco e Januária”.

............Não restam dúvidas de que as lutas das quadrilhas de Américo Queiroz, Higino e Santo Roquete, relatadas com detalhes por Olympio Gonzaga em 1946, estão descritas em “Grande Sertão: Veredas” com outros nomes e com o brilho do imortal acadêmico, pois a semelhança não será mera coincidência.

............Nem sempre quem escreve relatando ou definindo fatos verídicos ou mesmo criados pela força verossímil do imaginá rio, presenciou os fatos. A ficção literária é obra do imaginário, o que nos leva a generalizar afirmando que toda arte é produto do imaginário. Os escritores, e os artistas em geral, ao contrário do historiador que se estriba em documentos escritos, usam materializar os valores existentes sem uma elaboração formal objetivamente definida. Eles criam. Criam dentro de um processo imaginativo coerente, que transforma a sua criatividade em realidade aos olhos do leitor. Eles realizam uma verdadeira interação entre o imaginário e o real.

............A arte, como declara Fernando Pessoa, “é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte”. (Livro do desassossego. São Paulo, Cia. das Letras, 2006:234).

............Na arte literária, Guimarães Rosa, autor do romance “Grande Sertão: veredas”, viu e ouviu o sertão pela voz de outros, embora o tenha pessoalmente descrito de forma insuperável. O próprio Guimarães Rosa informa, sem citar seu nome, que Riobaldo narrou sua saga a “um homem soberano, circunspeto, com toda leitura e suma doutoração”, um homem “que sabe muito, em ideia firme, além de carta de doutor”. Quem é este ouvinte senão o próprio Guimarães Rosa? Com exceção de uma viagem a cavalo empreendida de Cordisburgo a Paracatu, pela periferia do Grande Sertão, fazendo anotações, o grande Viator não penetrou, pessoalmente, no âmago da região por ele tão bem descrita nas andanças de seus personagens. Ele conseguiu chegar ao íntimo da alma do sertanejo, mas não conheceu o interior da terra por ele habitada, o andurrial agreste. Em conversa com Afonso Arinos de Melo Franco teve ele conhecimento da existência da vila Barra da Vaca, postada à margem do rio Urucuia, no interior do Grande Sertão, hoje próspera cidade de Arinos, cenário do conto “Barra da Vaca”, inserido em “Tutameia”.

............O segundo documento, de tão grande valia, senão maior, uma entrevista, em 13 de Dezembro de 1913, com Afonso Arinos de Mello Franco, em Paracatu. Dela extrai-se o agradecimento do também imortal brasileiro ao mesmo Olympio Gonzaga: “Eu te agradeço de coração por teres enfeitado as ruas com arcos de flores na minha chegada aqui, como se eu fosse um Bispo ou Ouvidor”.

............0 terceiro, “Os condenados pelo Santo Ofício de Paracatu”, constante do livro “Lendas do Brasil Central” do mesmo historiador, julgamentos ocorridos entre 1744 e 1790. Não é sem razão que nos disseram que a “História é a mestra da vida”. Sobre os condenados pelo Santo Ofício cuidarei na próxima revista do IHGCM.

............Por derradeiro, o quarto documento, a biografia do Dr. Afrânio de Mello Franco. É o passado que se faz presente. Escreveu Alexandre Herculano que “O mister de recordar o passado é uma espécie de magistratura moral, é uma espécie de sacerdócio. Exercitem-no os que podem e sabem, porque não o fazer é um crime”.


Chica da Silva
- Mito e realidade -

Roberto Pinto da Fonseca
Cadeira N. 92
Patrono: Sebastião Tupinambá

............Milho Verde é uma pequena e charmosa comunidade, muito procurada por turistas e amantes da natureza que se encantam com o seu povo e com suas belezas naturais. Encontra-se encravada na Cordilheira do Espinhaço, num dos trechos mais exuberantes da Estrada Real, entre as cidades de Diamantina e Serro, município ao qual pertence.

............Sua fundação remonta ao princípio do século XVIII, em função da descoberta de jazidas de ouro e, sobretudo, de diamantes. Em 1720, devido à grande riqueza de diamantes na região, a Coroa Portuguesa constituía a Comarca do Serro do Frio, que englobava a Demarcação Diamantina, na qual a comunidade estava incluída.

............No centro da comunidade, no Largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, sendo esta uma das pérolas da arquitetura colonial nos sertões gerais, avista-se o Pico do Itambé, referência dos primeiros aventureiros e bandeirantes que penetraram no Vale do Rio Jequitinhonha.


Igreja do Rosário – Milho Verde

............Neste cenário idílico, entre 1731 e 1735, nasce Francisca da Silva, uma das mais famosas, instigantes e lendárias figuras de nossa história. Era filha do português Antônio Caetano de Sá e da escrava Marina da Costa, originária da Costa da Mina.

............Chica da Silva tinha a tez parda, e não negra. Torna-se escrava do médico português Manuel Pires Sardinha, tendo com ele, em 1751, seu primeiro filho, Simão Pires Sardinha. Em 1753 é comprada pelo contratador de diamantes João Fernandes. Este, além de propiciar-lhe a alforria, torna-se seu amante. Passam a viver juntos e, em 1754, Chica tem outra criança, Francisca de Paula.

............Nesse mesmo ano é lavrado um documento oficial que a coloca na condição de forra, parda e passa a utilizar o sobrenome Silva, que denotava pessoa sem origem definida. Seu nome torna-se, então, Francisca da Silva de Oliveira.

............Nos povoados mineiros, com forte presença de mão-de-obra escrava, o concubinato era uma prática normal. Muitos senhores alforriavam suas escravas e passavam a viver com elas. Esse aspecto se dava sobretudo em função do pouco número de mulheres brancas. Assim, estabelecia-se uma sociedade com alto grau de miscigenação.

............Chica da Silva, como outras mulheres de mesma condição, foi mais uma escrava forra que conseguiu ascensão social, mas que jamais seria aceita como esposa legitima. Nesse contexto, essas mulheres passavam por um processo de assimilação dos valores sociais predominantes na população branca e relegavam a segundo plano – ou mesmo negavam - suas condições de ex-escravas. A ligação com um homem branco e a alforria eram formas de libertação.

............O mito Chica da Silva foi sendo construído através dos tempos e de acordo com o momento histórico, como podemos comprovar a seguir.

............Inicialmente, temos o livro “Memórias do Distrito Diamantino”, escrito em 1853 por Joaquim Felício dos Santos.

............O contexto histórico e social da época em que esse livro foi escrito jamais admitiria uma mulher mulata, escrava e, acima de tudo, vivendo em concubinato com um homem rico e politicamente poderoso. Assim, em hipótese alguma essa mulher seria bem retratada. Por esse motivo, sob a ótica de Joaquim Felício dos Santos Chica da Silva “tinha as feições grosseiras, alta, corpulenta, trazia a cabeça raspada e coberta com uma cabeleira anelada em cachos pendentes, não possuía graças, não possuía beleza, não possuía espírito, não tivera educação, enfim não possuía atrativo algum que pudesse justificar uma forte paixão.”

............Outro livro, “Chica que manda”, do escritor mineiro Agripa de Vasconcelos, por sua vez, mostra uma Chica de maneira muito romanceada.

............O livro da historiadora Júnia Ferreira Furtado, “Chica da Silva e o Contratador de Diamantes”, muito bem elaborado, mostra nossa personagem com um tom de grande ufanismo, “a primeira heroína da nascente nacionalidade brasileira, redentora da sua raça”.

............Em “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles tece a imagem de uma mulher comum, produto de seu tempo, isenta de interpretações e valores impostos durante o transcorrer do tempo.

............Em 1976, o filme do cineasta Cacá Diegues, “Xica da Silva”, se torna um grande sucesso, sendo Chica da Silva interpretada pela atriz Zezé Motta, que deu à personagem um caráter profundamente erótico, com grande ênfase na sexualidade feminina, refletindo a sociedade dos anos 70, de liberação de costumes.

............Aproveitando a forte carga dramática e erótica da personagem no imaginário nacional, nos anos 1980 a TV Manchete lança uma novela, reforçando e adaptando a personagem como uma mulher lindíssima, matreira, sexualmente liberada e tendo os homens como escravos, bem ao gosto popular. O contexto histórico pouco foi levado em conta.


Igreja Nossa Senhora dos Prazeres (Milho Verde)
Local do batismo de Chica da Silva

............Chica da Silva teve treze filhos, doze com o contratador João Fernandes, sendo oito mulheres e quatro homens. Ela e o contratador viveram juntos entre 1753 e 1770, mas a união nunca foi
oficializada. Os costumes e leis da época jamais permitiriam – tão grande seria o escândalo, que os protagonistas optaram por não se submeterem a ele. Assim, optaram por satisfazer aos interesses familiares, econômicos e sociais. Todos os filhos do casal, porém, foram legitimados por João Fernandes como herdeiros.

............Em 1770, João Fernandes foi obrigado a regressar a Portugal, a fim de resolver problemas familiares devido ao falecimento de seu pai.

............Não voltaria mais a rever sua amada. Levou consigo os quatro filhos legítimos, além de Simão Pires, o primeiro filho de Francisca. Cada filha recebeu como herança uma fazenda, o que lhes garantiria recursos financeiros e bons casamentos. Com a morte do contratador em 1779, Chica da Silva continuou sendo a senhora do Tijuco, mantendo sua posição social e suas influências.

............Unindo-se a um dos homens mais poderosos de Minas, a ex-escrava obteve muitas regalias e privilégios, como participar de ordens religiosas e irmandades, o que denotava status social. Esteve presente na Irmandade do Carmo, a mais fechada e prestigiosa do Tijuco, reservada exclusivamente aos brancos. Foi madrinha de inúmeros batismos e casamentos, pois era hábito escolher as pessoas mais influentes para estes encargos. Chegou a possuir em torno de cem escravos. Enviou suas filhas para estudar no Convento de Macaubas, o mais prestigiado e caro educandário daquela época, inclusive com empregados para ajudá-las nas atividades diárias. Possuiu diversas propriedades, como a bela residência em Diamantina, localizada na Rua do Bonfim, sempre aberta à visitação.

............Chica faleceu em 16 de fevereiro de 1796, e sua cerimônia fúnebre foi cercada por “pompas e circunstâncias”. Seu corpo foi sepultado na igreja da Irmandade de São Francisco de Assis, exclusiva da elite branca. Missas e badalos de sinos continuaram a reverenciá-la por muitos dias, afinal homenageavam a Senhora Chica da Silva, a negra que reinou no Tijuco.

............Para aqueles que pretendem aprofundar neste tema tão interessante e de grande importância histórica, indicamos o magnífico livro de Júnia Ferreira Furtado, “Chica da Silva e o Contratador de Diamantes”, da Cia. das Letras, minuciosa e bem escrita pesquisa sobre a “imperatriz do Tijuco.”


BENDITO CASARÃO DA FAFIL

Ruth Tupinambá Graça
Cadeira N. 96
Patrono: Tobias Leal Tupinambá

............Há momentos em nossa vida que não encontramos palavras para traduzir o que sentimentos e o que vai a nosso coração. Foi o que realmente me aconteceu na reinauguração do centenário Casarão da Fafil.

............Quando cheguei à frente do sobrado, todo reconstruído, eu tive o impacto de emoção. Havia muita gente na sua reinauguração: representantes do nosso governador, políticos, secretários e deputados de nossa região. Também havia jornalistas, curiosos e fotógrafos, todos admirados, comentavam a beleza do velho Casarão.

............Eu me senti feliz ao vê-lo tão belo, caprichosamente reformado e com as características perfeitas, principalmente nos detalhes de arquitetura. Outrora, entristecia-me ao vê-lo, nos jornais, em completa decadência, desmoronando-se sob as chuvas e a ação vergonhosa dos vândalos.

............As salas, todas enormes, nos dois pavimentos reconstruídos perfeitamente, com assoalhos de tábuas largas e o teto também artisticamente pintados de várias cores deram muita alegria ao ambiente daquele sobradão de tantos anos abandonado.

............A escada, para o segundo pavimento, foi feita de madeira de lei e o corrimão estava artisticamente trabalhado (cópia perfeita do antigo). Eu fiquei emocionada ao vê-lo. Recordo-me das vezes que eu subia e descia aquela escada, sempre correndo, numa alegria e com a curiosidade infantil, procurando descobrir o que passava lá em cima, naqueles enormes salões.

............Confesso que naquela hora senti muita saudade. A Fely do meu lado percebeu a minha emoção e perguntou-me:

- “Dona Ruth, a senhora quer ir lá em cima, para matar a saudade?

............Apesar dos meus 93 anos, eu aceitei o convite e subi muito devagar, degrau por degrau, (as pernas já não são as mesmas). Mas, a alegria de rever aqueles lugares tão queridos e que tantas recordações me traziam, deram-me forças e eu consegui.

............Percorri todos os cantinhos do Casarão (e foram tantos) e as lembranças afloraram no meu velho coração, que quase chorei com saudades dos doces momentos que ali passei nas várias fases da minha vida.

............Na minha infância, dos sete aos catorze anos, quando a vida se abria pra mim, iniciei ali o meu curso primário (Grupo escolar Gonçalves Chaves) que ali se instalara até sua mudança para o prédio próprio na Praça Dr. João Alves, onde funciona até hoje.

............Esta foi à primeira etapa da minha vida de estudante. Eu era apenas uma criança, sem maldade, inexperiente para enfrentar uma nova vida, mas cheia de responsabilidades. Eu estava assustada, insegura. Mas este casarão acolheu-me como uma galinha de longas asas, agasalhando-me, protegendo-me. Naquele ambiente tão agradável eu me adaptei logo. Foi um tempo feliz. Tive professoras responsáveis, dedicadas, carinhosas. Quando eu já estava na terceira série (eu ainda me lembro), a minha professora Dona Eponina Pimenta convidou-me para tomar um cafezinho gostoso, acompanhado de biscoitos caseiros que a sua empregada trazia-lhe, todos os dias. Naquela época não existia a merenda nas escolas como hoje, então eu adorava aquele convite, estas lembranças jamais esquecerei, em qualquer parte que eu esteja, ou melhor, que eu viva!

............Fiz o primário bem feito que me deu base para prosseguir, com sucesso, os meus estudos. A Escola Normal Oficial de Montes Claros foi criada funcionando no neste mesmo Casarão. Chegando, então, a minha vez de fazer o Curso Normal (Magistério) era o que a nossa cidade podia oferecer a juventude nos anos trintas.

............Foi o melhor tempo da minha vida. Eu era alegre, sonhadora e tudo me divertia. Recordo-me com saudade das minhas colegas, as conversas no recreio, os segredinhos sobre as conquistas, os namoricos, os sucessos e as decepções. Todas, no auge da juventude, tinham o coração cheio de sonhos e esperanças. E os bailes em benéficos da Caixa Escolar? Esses eram frequentes nos grandes salões do Casarão da Fafil (não havia Clube Social em nossa cidade). Esses bailes eram esperados com a maior ansiedade, pois era a única oportunidade de se encontrar com o namorado e dançar de rosto colado, pois, naquele tempo em que tudo era proibido, “pegava mal” às donzelas namorarem. Isto era uma grande aventura, pois os pais eram muitos severos.


Casarão da FAFIL

............Mas muitos namoros começavam nos bailes do Casarão da Fafil, floresceram e se terminavam em casamentos, formando as tradicionais famílias de nossa cidade, das quais existem hoje muitos netos e bisnetos. Eu mesma conheci o meu “príncipe” num desses bailes, naqueles momentos alegres e românticos.

............Hoje, fecho os olhos e procuro recordar sempre do nosso primeiro encontro. Estas sacadas, que vejo agora reconstruídas, foram testemunhas das nossas juras de amor. Casamos-nos e mudamos para Belo Horizonte onde moramos dez anos. O destino trouxe-nos novamente para nossa terra. Nesta altura a Faculdade de Ciências e Letras de Montes Claros já estava inaugurada e funcionava ali. Cheia de entusiasmo, eu resolvi fazer faculdade. Foi o meu terceiro contato com este Casarão maravilhoso, onde passei a minha infância e parte de minha juventude. Finalmente, foi o período mais gratificante da minha vida, eu já contava com 56 anos de idade.

............No dia da minha formatura, em 1976, com 60 anos de idade, ao lado do meu marido, rodeada pelos filhos e netos, recebi o diploma de Pedagogia.

............Acredite quem quiser, mas eu tenho razões de sobra para paparicar esse Casarão, pois ele fez parte de minha vida.

............Agora estou realizada, vendo-o tão maravilhoso (como conheci no passado) e espero que nele se instale logo o Museu Regional do Norte de Minas, para que eu possa mais uma vez usufruir do seu convívio e dele receber as melhores informações.


TANCREDO E JK
AGRADÁVEIS LEMBRANÇAS

Theodomiro Paulino
Cadeira N. 72
Patrono: Lazinho Pimenta

............Tive a honra de receber nomes ilustres e inesquecíveis da política nacional, como o governador de Minas e eterno presidente Tancredo Neves. Hoje é governador de Minas Gerais o seu neto Aécio Neves, meu grande amigo desde a mocidade. Aécio tinha uma casa no condomínio fechado onde também moravam Ronaldo Augusto Ferreira e Lúcio Portella. Eu participei de muitas e belas festas ali, em momentos que considero inesquecíveis. Tive oportunidade de conviver com nosso atual governador quando ele era ainda muito jovem. Tenho por ele uma admiração muito grande, que me alimenta uma grande certeza: ele será presidente da República, para nos comandar com competência, zelo, personalidade e integridade, honrando suas tradições. Fará o que sonhou seu avô, Tancredo Neves, pois, como todos sabem, ele nos deixou antes de assumir a presidência do país. Uma das grandes emoções que tive nesses quarenta anos de jornalismo foi ter recebido, por duas vezes, JK, o maior presidente que este país já teve. Juscelino Kubistchek é, ainda hoje, reverenciado como um político extremamente honesto, honrado
e capaz: em cinco anos de governo, fez o que outros levariam cinquenta anos para fazer. Ele, que foi um homem tantas vezes incompreendido e injustamente criticado, manteve a integridade até o fim, deixando um imenso legado de trabalho e respeito ao dinheiro público para o Brasil. Legado infelizmente atirado, hoje na lama da corrupção e da mediocridade administrativa. Juscelino foi um grande exemplo de presidente, de político digno e de rara visão. Em 1957, por ocasião dos festejos do centenário de Montes Claros e atendendo o convite do prefeito Geraldo Atayde, recebemos a primeira visita do eterno Presidente JK. Dentre outras atividades, inaugurou o calçamento de bloquetes em várias ruas da cidade e visitou a exposição agropecuária daquele ano, sendo recebido pelo presidente da Sociedade Rural, João Alencar Atayde, e outras autoridades. Guardo na memória o menino que eu era, correndo, juntos com outros garotos, atrás do cortejo do principal mandatário da nação, gritando “Viva, Juscelino!”, Naquela época, nem imaginava que iria conhecê-lo pessoalmente, anfitrionando o grande brasileiro em minhas recepções. No Baile Senhorita do Ano (hoje Brotos do Ano), de 1968, tive o prazer de recebê-lo pela primeira vez. JK veio acompanhado do deputado federal Genival Tourinho, seu particular amigo e um dos políticos de maior expressão do país. Um homem de desmedida coragem, demonstrada quando denunciou a famigerada Operação Cristal, época em que correu risco de vida. Juscelino ficou encantado com a beleza de nossas moças e dançou com todas – entre elas, Marilene Mourão, Macir Santos e Eglantine Freire. Quando Eglantine surgiu na passarela, ele me disse: “Essa é digna das passarelas de Paris”. Na verdade, ela desfilava muito bem, com muita classe, categoria e elegância. JK se disse ainda impressionado com a
beleza da juventude montes-clarense e com o nível de elegância de nossas mulheres. Especialmente com as “mais elegantes” que, naquela época faziam grande sucesso na minha lista publicada na revista Montes Claros em Foco e em paginas especiais do Diário de Montes Claros. JK era um verdadeiro “pé de valsa”, dançou até o amanhecer. Ao sair, cumprimentou-me efusivamente pelo sucesso da festa, elogiando, a beleza e elegância da mulher montes-clarense. E prometeu que retornaria para me prestigiar.


Theodomiro Paulino e JK.


JK nos cumprimentando pelo sucesso da festa Brotos do Ano, de 1968, realizada no Automóvel Clube, ao lado Terezinha Tourinho.

............Marina Queiroz, que era a Glamour Girl de Montes Claros, teve o privilégio de sentar-se à mesa ao lado de Juscelino, junto com Raimundo e Terezinha Tourinho. A título de curiosidade, registro uma particularidade de JK. Ele tinha o hábito de, ao aproveitar da toalha para encobrir sua mania de tirar os sapatos, ficando apenas de meias. Quando ia dançar, discretamente puxava uma calçadeira do bolso e providenciava o retorno dos sapatos a seus pés. Depois, voltei a receber Juscelino Kubitschek numa recepção que organizei quando Moacir Lopes era prefeito. Ele e sua esposa Déa Dias Lopes, moravam num sítio belíssimo, na Vargem Grande, que pertencera a Joaquim Costa. E ali promovi uma recepção em homenagem a JK, com a participação do Grupo de Seresta João Chaves, do inesquecível historiador Hermes de Paula, ali presente. Juscelino chegou muito contente, e se disse impressionado com Clarice Maciel, de voz límpida e bela. Ressaltou também sua beleza, dizendo que ela se parecia com uma Madona da era renascentista. Encantado, JK participou da seresta, cantando com o grupo, Peixe Vivo e Amo-te Muito, do nosso inesquecível poeta e seresteiro João Chaves. Juscelino gostava muito de seresta e teceu os melhores elogios ao grupo “João Chaves”, que era famoso em todo país, pois foi através dele que nós conseguimos asfalto para a região. O grupo de seresta também funcionava como verdadeiro embaixador da nossa terra. As nossas estradas eram de terra batida, inclusive a Montes Claros – BH. Numa apresentação em Brasília, nosso seresteiro-mor, Nivaldo Maciel, fez, em versos o pedido de asfalto para a nossa terra ao ministro dos Transportes, Mário Andreazza e ao presidente Costa e Silva. Graças ao grupo e ao impressionante vozeirão de Nivaldo, a BR 135 foi finalmente asfaltada. Depois que Juscelino Kubitschek veio a Montes Claros pela última vez nós o perdemos para sempre num desastre de automóvel, em 1976. Até hoje, uma incógnita: ninguém sabe se o nosso maior presidente foi assassinado em sabotagem ou foi vítima de um simples acidente. Seu enterro comoveu o país, tendo Brasília lhe prestado uma gigantesca homenagem, que balançou os alicerces da ditadura.


TIRO DE GUERRA 87

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

............Aprendemos não para a escola, mas para a vida”, pensamento latino do velho Colégio Diocesano, aulas de latim de Monsenhor Gustavo, que muito têm servido a muitos ao longo da existência. No meu caso, realmente, nunca estudei só para a escola, só com o objetivo imediato de ganhar boas notas, embora uma nota mais alta cause sempre em um adulto uma alegria quase infantil, situação importante em qualquer época da vida. Quero agora falar sobre resultados, sobre alegria íntima, lembranças de inesquecíveis tempos do Tiro de Guerra 87, espaço de civismo do meu saudoso mestre, Sargento Moura. Idos de 1953, turma de quase cem rapazes, todos da mesma idade, todos com o mesmo sonho, povoando por vários meses a poeirenta Praça da Estação, terreiro público onde a velha Rodoviária incomodava o formigueiro humano que entrava e saia de Montes Claros. O prédio de Tiro de Guerra, localização privilegiada, esquina da Rua Tiradentes com a Praça e a Rua Melo Viana, tinha grande espaço de manobras até a estátua de Francisco Sá, no meio de pequeno jardim, no início das outras avenidas. Casa enorme, com salas e salões, tinha nos fundos a moradia do Sargento Moura e um quintal onde um por um havia de montar guarda, dividindo a segurança com um camarada, que ficava na porta de entrada. Não havia cadeiras; havia bancos, duros e pesadões, separados com razoável distância para evitar cotoveladas e outros tipos de brincadeiras tão normais entre a rapaziada. De todos os lados, menos à direita, janelas e mais janelas, que existem até hoje no prédio que veio alguns anos depois, quando o TG saiu para o Bairro Edgar Pereira, mudou de instrutor e permaneceu lá até a chegada do 55 BI. O Sargento Moura, altão, moreno, elegante, imponente, falador sempre, era o dono incontestável do tempo e da turma, primeira e última palavra em qualquer situação, só humilde nas eventuais inspeções ou no exame final do mês de outubro, quando vinha um capitão ou um major, uma espécie de imperador ou professor-chefe, que passava a centralizar todo o nosso interesse e cuidado. O Sargento Moura só era muito sério nas horas de instrução, pois extremamente exigente nas ordens de comando. Nas outras partes do dia, quando íamos ao Tiro para qualquer assunto, ou quando nos encontrava na rua ou em nosso local de trabalho, era como se fosse um colega mais velho, bondoso, amável, sempre um grande amigo, brincalhão, a colocar a mão no ombro de cada um em tom de conselheiro. Como bom professor, sabia de tudo, todos os assuntos eram do seu domínio, pertenciam ao seu mundo de cultura e de experiência humana. Dos companheiros de caserna, se podemos chamar de caserna um local que nos segurava apenas em parte de cada manhã e em algumas horas a mais nos domingos, dos companheiros, temos muito que lembrar. Afinal, havia gente de todo jeito para povoar toda um universo de lembranças, principalmente os mais extrovertidos que deixam marcas pela quase eternidade. Isso para não dizer das influências e notícias de turmas passadas e futuras que - queira ou não - surgem e ressurgem da saudade. No meu tempo, os mais compenetrados eram os dois Renatos, o Veloso e o Almeida, por sinal, os mais capazes, do RDE aos exercícios de marcha e de tiro. Os mais malandros eram o Pamplona e o Souto, os dois terrivelmente imprevisíveis, tanto para nós como para o Sargento. O Souto é hoje bem conhecido, gostando mais de ser chamado de Humberto, sem o Guimarães, depois de eleito deputado estadual e federal, depois de ser ministro, sem favor nenhum, um político sério, um dos mais honestos que o Brasil já teve. Havia os caladões, os resistentes, os corajosos, uns que queriam aparecer, e alguns poucos bem desligados. A maioria, com o máximo de interesse, sempre vibrantes. Bons tempos, com tantas lembranças, que acho terei de voltar ao assunto em outras oportunidades. De alguma forma, fico muito grato ao bom tempo de TG, evocação de importantes e saudáveis momentos de vida. A todas as Semanas do Reservista, até hoje, 55 anos passados, dedico-as à memória dos que passaram pelo inesquecível tempo de vida militar no velho Tiro de Guerra 87. Os destaques são sempre para o Sargento Moura e seus sucessores. E pelo muito aprendizado e experiência!


ENÉAS MINEIRO DE SOUZA

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

............A decisão definitiva de mudar-se para a beira do Rio Verde, no Sapé, meio de mundo cercado, de matas compradas do Dr. Marcianinho, foi tomada em Belo Horizonte. Era uma decisão bem desenhada de sonhos, cheia de cuidados com um cheiro romântico e premeditado de aventuras na densa floresta e nos macios carinhos da mulher mais linda do mundo, que o capitão Enéas Mineiro de Souza acabara de conquistar depois de seis meses de investidas. Maria Aparecida, Neném, maravilha de vinte anos, morena clara, olhos castanhos da cor de uma noite de Caruaru, pele nova e aveludada de doce mangaba, falava com uma musicalidade que só uma fada poderia ter, tudo e muito mais do que o pernambucano pedia a Deus. Era o que Enéas sempre sonhara em todas as horas fáceis e difíceis da vida. Estava decidido, e esta decisão jurada no apartamento novinho do Brasil Palace, de frente para a avenida, não podia vir em hora melhor. Neném não aceitava de modo nenhum morar com ele em Montes Claros, e em Belo Horizonte ele não podia ficar por causa dos negócios aqui na região Norte. O Sapé era uma vilazinha velha, sem conforto,feinha até, mas nada importava, porque ao lado de Neném ele haveria de criar uma cidade nova, novinha, onde ela fosse até mais do que uma rainha. Quem vivesse ou sobrevivesse, veria! Neném ficou em Belo Horizonte duas semanas para dar tempo ao tempo, indo depois para mais uns quinze dias na casa de D. Altina, no Alto São João, em Montes Claros. Foi o prazo para Enéas comprar pneus novos para os caminhões, ajeitar alguma coisa nos motores, aprontar as ferramentas e ensacar o que comer e pegar a gasolina tão difícil na época. Antônio Miguel, Mestre Severino, Epifânio e José Porfírio, além dos motoristas a postos, só esperavam a ordem de viajar. Foi uma dura travessia de muito esforço e suor, principalmente depois de Brejo das Almas, em estradas feitas para animais e quando muito para carroções e carros de bois. As enxadas e os enxadões, as picaretas e alavancas não pararam tempo nenhum pela tarefa de derrubar barrancos e tapar buracos, acertando aqui e ali, empurrando pedras nos carreiros das rodas dentro dos rios e córregos. Dos lados da mataria densa, com cheiro de terra molhada, a natureza espocava em flores e sons, numa alegria depois de chuva rara. Chegaram ao Sapé, afinal, na madrugada do dia 20 de janeiro, ano de guerra de 1942, depois de quase meia semana de pelejas. Foi um sono só para todos nos catres sem conforto da casa já alugada, por carta, a D. Antônia, mãe de Elpídio da Rocha.

............Instalada com a consciência de quem veio para ficar, Neném era, a seu ver, a mais jovem e mais bonita dona de pensão de todo o sertão brasileiro, competente, decidida, a gerir uma casa grande, bem assoalhada e de paredes brancas, logo mais uma hospedaria para doutores da estrada-de-ferro em construção, entre eles os engenheiros Demóstenes Rockert, Novais, Laviola, e os médicos Eduardo Morgado e Darce, todos gente de maior simpatia. Para cumprir as exigências dela e salvar as aparências, Enéas Mineiro de Souza, capitão da Polícia de Pernambuco, era apenas um hóspede a mais, empreiteiro de muitos serviços, desmatador chefe. Nada além disso, pelo menos durante o dia e até a hora em que todos iam dormir... Com as duas empregadas que Neném trouxera de Montes Claros, tudo espelhava limpeza e arRevista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros 118 rumação, já com luz elétrica e água encanada, providenciadas para o maior conforto de todos.

............No mesmo dia 20 de janeiro de 1942, voltando pela velha estrada, Antônio Miguel e o capitão, no meio da esplanada de nunca acabar, capaz de abrigar dois milhões de habitantes se tanto fosse preciso, escolheram um pé de tingui bem copado para localização da primeira barraca do acampamento inicial. A ideia era colocar aquela mataria toda no chão e sobre as bancadas das serras, começando logo uma frente de serviço, tão comum em suas vidas... Era como se ali estivesse começando a história do mundo. E ainda bem, porque, um quilômetro abaixo, em casa, Enéas tinha uma mulher que valia por todas as minas de ouro da terra. Na coragem dos seus companheiros e na sua vontade e determinação de vencer, apareciam os primeiros toques para a existência da fazenda Burarama, de cujas avenidas e praças ele daria mais tarde a formação da futura cidade que, depois de sua morte, receberia o seu nome: Capitão Enéas. Poderia haver momento mais feliz? Impossível!


COLÉGIO DIOCESANO

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

............Não me canso de ter saudades do tempo bom e gostoso das aulas do Colégio Diocesano, de quando podíamos, todos os dias, sentir e ouvir a alegria do Monsenhor Osmar, a braveza do Padre Agostinho e a terna amizade do Monsenhor Gustavo. É de fato um momento inesquecível, de quando cada gesto era uma lição, cada atitude uma experiência de seres em luta e em paz com a vida. Os três juntos, ou cada um em particular, eram para nós, meninos-rapazes, o grau mais alto da sabedoria, a fonte inesgotável de conhecimento, os degraus por onde alcançar a segurança do futuro. É claro que, particularmente, um por um tinha o seu séquito de seguidores, dependendo da esperteza ou do grau de inteligência de cada aluno, ou mesmo da maturidade ou falta de juízo, como podíamos encontrar nos mais sérios como Geraldo Miranda e Nivaldo Neves, ou nos mais afoitos como Pai da Mata e João Doido. Em órbita havia gente de todo jeito, tipo Tereziano Dupin, Renato Pobre, Renato Almeida, Dezinho Dias, Ivan Guedes, Lazinho Pimenta, Raimundo Santana, José Maravilha, personalidades marcantes que iam do folclore à poesia, do trabalho sério à justa compenetração.

............Cada dia era um novo esquema de novidades, de surpresas, uma sensação de estarmos construindo o mundo, preparando-o para a nossa geração e para todas as outras que poderiam vir depois de nós. Ninguém fugia da luta, tirar o corpo de banda, em qualquer tarefa, era um sacrilégio. Matar aulas era pecado capital. Durante a semana não valia nem cinema nem namoro. A ordem era estudar! Uma única transgressão era permitida e só ao Miranda, porque ele havia inovado o sistema, inventado uma saída, namorando com a professora Lourdes, inteligentão que era. O Dezinho Dias, já mais velho um pouco, falava de fazendas, de vez em quando ou toda hora. O Raimundo Santana era um importante, pois tinha bicicleta e tomava uísque antes das provas de matemática. Ivan impunha grande respeito, já era destaque: de vez em quando jantava em restaurante, depois do grêmio e até em dias de semana, pois ganhava boas gorjetas aplicando injeções. A maioria, como eu, não tinha dinheiro nem para picolé ou quebra-queixo, e quando muito, bebíamos caldo de cana. Cafezinho era luxo para pouquíssimos! Professor bom mesmo era o Pedro Santana, vibrante, grã-fino, dominante nas cadeiras de História, Ciências e Inglês, um terror para quem não tivesse as matérias na ponta da língua, a capacidade de responder, falando ou escrevendo, sem gírias. Pedro era tão imponente, que não repetia ternos e gravatas durante um mês, cada dia uma nova cor, hoje um três-botões, amanhã um jaquetão, tudo dentro do melhor figurino de Vavá ou Wilson Drumond. O cabelo, ah! O cabelo era que merecia o maior cuidado! A barba, de um barbear diário na barbearia de Antônio Guedes, com massagem facial, na mesma hora em que também estavam sentados os intelectuais Júlio de Melo Franco e Nelson Vianna, fregueses de manhã cedinho. Errar com Pedro ou com o Padre Agostinho - outro elegante - era imperdoável. A nota menor que um bom aluno podia tirar era dez. O nove era um (de)feito vergonhoso! Havia outros professores famosos e entre eles o Tabajara, a Terezinha Pimenta, Doutor Carlyle, Maria Inês Versiane, D. Rosita Aquino. O professor Belizário, falava latim, declamava admiravelmente, e tinha o cabelo à Castro Alves. Em certas ocasiões, o bispo D. Antônio, simples e simpático, chegava a assistir a algumas aulas, sentado conosco, perguntando e participando, como se não soubesse de tudo! D. Antônio, muito querido de todos os alunos, era a maior inteligência da época, uma cultura universal, um poder oratório que Montes Claros nunca teve igual, nem com Simeão Ribeiro, ou com os doutores Maurício e Georgino. Tudo era um admirável mundo novo, principalmente para mim, que sem ternos e sem paletós - o primeiro foi o Vadiolando Moreira que me deu - achava tudo aquilo um sonho em realização. Maravilhosamente encantado, sedento de aprender, nunca cedendo o primeiro lugar a ninguém, a ninguém mesmo, uma coisa me marcou profundamente a diretiva na vida e me tem servido constantemente de bom exemplo: a alegria de viver de Monsenhor Osmar Novais de Lima, nosso diretor!


HOTEL SÃO JOSÉ

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

............Sempre foi bom e importante para as minhas lembranças o percorrer, aos poucos, a rua Doutor Santos, desde que recebi um pedido do meu amigo Elton Jackson e também em obediência a um esquema tempo/espaço traçado desde as minhas primeiras crônicas sobre o centro de Montes Claros. O meu objetivo era chegar à Rua Bocaiúva e, aí, em atendimento a um sonho de minha amiga Nailê, fiel cobradora de minhas lembranças de vizinho, falar de quando ela era criança, quase menina moça, dos tempos de nascimento do João Wlader e de José Danilo. Passo a passo, saí do Hotel São Luiz, de D. Nazareth Sobreira, e do Bar de Adail Sarmento, no início da rua, até chegar ao Hotel São José, de D. Laura e, depois, de D. Emília e do inesquecível Juca de Chichico e do eterno gerente Geraldo. São lembranças agradáveis, grandemente gratificantes de um jovem que alcançava a idade adulta, já hóspede em hotel, com uma individualidade e uma privacidade nunca antes imaginadas como morador de pensões. No Hotel São José, cuja placa dizia ser o maior e o melhor, ser hóspede já era um grande privilégio, marcava, quer queira quer não, um status de matar de inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles que viviam desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez, um quarto só meu, com pia e guarda roupa, inicialmente, no térreo, do lado de dentro do pátio, na ala da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro andar, quase de frente para os dois mais importantes endereços internos: os apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor do DNOCS, de quem não me lembro mais do nome. Foi uma melhoria de situação social que quase não tinha limites, quando comprei, duas calças de tropical, uma meia dúzia de camisas sociais, novas meias e ... realização de velho sonho, um rádio de segunda mão, rabo¬ quente, que tocava músicas e dava notícias todas as manhãs. O Hotel São José era um mundo à parte, bom, alegre, importante, chique, principalmente depois que “seu” Juca assumiu a direção e realizou uma grande reforma. A saudade marcada com a ausência de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília e a descontraída presença dos filhos, principalmente de uma menina que era a mais bonita da rua Doutor Santos, a Mercesinha, já quase em início de namoro com o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro, Bernadete, todos eram também bastante simpáticos com os hospedes. A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo¬-se a melhor roupa de cada participante do banquete diário, uma etiqueta fiscalizada de perto pelos garçons, principalmente pelo Fernando, que, até hoje, trabalha na profissão Poucos foram os estudantes que conseguiram a permanência no quadro de hóspedes. Um a um ia saindo, pedindo ou recebendo as contas, depois de uma brincadeira mais forte, ou do não respeito à posição da gente importante e seria como era o sisudo e culto fazendeiro Ademar Leal, o milionário Manoel Rocha, a mais graduada figura do Exército na região, o sargento Moura, o advogado José Carlos Antunes, que falava inglês corretamente, Lagoeiro, músico chefe da regional da Rádio Sociedade, o diretor do IBGE, e o próprio dono, seu Juca, o único montes- clarense, na época, a ter feito uma viagem internacional de muitos meses pela Terra Santa e pelo Mundo Antigo. Pode ser exagero de minha parte, mas, para nós, lá era o centro da cidade e da cultura. Bons tempos aqueles, justamente quando iniciava atividades, já com os pés no chão, O jornal de Montes Claros, não sei bem certo, parece-me já com a direção do Oswaldo Antunes, pois o ano em que estamos é o de 1955, quando recebi das mãos do Waldir Senna a presidência do Diretório dos Estudantes e quando foi eleita a nossa rainha mais bonita de todos os tempos, nenhuma outra igualada em elegância e nobreza, nem antes nem depois: Cibele Veloso Milo!


ROTARY CLUBE MONTES CLAROS-NORTE

Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

............A primeira vez que ouvi falar do Rotary Clube Montes Claros - Norte foi pela voz educada e amiga de Nathércio França, num mês de março de 1969, quando ele me convidou para fazer parte da lista de fundadores. Era Nathércio o encarregado de tomar todas as providências para a organização do quadro de sócios e apresentação dos documentos constitutivos, assim como do levantamento das possibilidades de serviços à comunidade pelo novo clube. Trabalho difícil, suado, mas nunca impossível para o dinamismo diplomático de Nathércio. A confiança nele depositada pelo Rotary International seria, marcou, muito antes do tempo previsto, um elogiável sucesso, com o clube oficializado já em maio, com as primeiras reuniões no Automóvel Clube. Foi o saudoso Benoni Gomes da Mota o presidente provisório, conhecido e reconhecido empresário que, no dizer dos jovens repórteres da década de cinquenta, havia sido o melhor presidente da Câmara Municipal de Montes Claros. Éramos trinta e dois os sócios, representantes de quase todos os campos profissionais da cidade, ainda presentes no Clube apenas Victor Hugo Marques Pina e eu. Lembro-me perfeitamente do zelo com que o Nathércio França ensinava aos novos companheiros toda a trajetória de trabalho que deveríamos seguir, de forma a fazer do Rotary Norte um modelo de integração, com todas as possibilidades de firme prestação de serviços. O cuidado dele em semear a boa semente era tanto, sua sincera pregação de filantropia era tão grande, que muitos dos convidados menos decididos preferiram afastar-se logo, nem chegando a oficializar a admissão. O Rotary Norte teria de seguir o exemplo de energia do Rotary Montes Claros, campeão de progresso em todos os setores, decididamente um dos melhores clubes entre os dois mil e quinhentos existentes no Brasil. Estava lançado um enorme compromisso, iniciada uma entusiasmada luta. Dos velhos companheiros do tempo de recebimento da carta constitutiva, dos muitos que trabalharam pela afirmação do clube na primeira fase, olho hoje a relação, e pouco mais posso ver que uma imensa saudade. Quanta distância o tempo tem provocado! De uns, uma eternidade: Antônio Augusto Barbosa Moura, José Comissário Fontes e Ricardino Francisco Tófani, Antônio Brant Maia. Muitos como José Carlos Pereira, Antônio Jorge, Padre Aderbal Murta e Nelson Vilas Boas, que chegaram depois, também já frequentam outro Rotary do mundo maior, deixando entre nós um incomensurável
vazio. De outros, que a vida ainda nos faz companheiros, inclusive em outros Rotary Clubes, uma vontade sincera de que voltem pra o nosso convívio a cada semana, a cada dia de atividades, com um recomeço de alegrias. Tenho certeza de que a felicidade de ontem seria a mesma de hoje! Em 2009, o Rotary Clube de Montes Claros - Norte completou oficialmente seus primeiros quarenta aos de plena atuação. Foi uma oportunidade de muito relembrar, perfilando velhas histórias tão gratas a nossos corações, muitas delas com amplitude nacional e internacional. Que bom viver toda a tradição rotária dos Montes Claros! Um mundo de cultura e de serviços comunitários realizados pelo bom companheirismo de várias gerações. Afinal, foi na Montes Claros de 1926, o local de fundação do terceiro Rotary Clube brasileiro, importante sonho de Antônio Augusto (Niquinho) Teixeira, que, sem dúvida, muito deu certo.


A Câmara de Macaúbas
no Período Imperial

Alan José Alcântara de Figueiredo
Sócio Correspondente
Macaúbas / BA

............As Câmaras Municipais são a mais antiga instituição política do Brasil, pois a primeira a ser instalada foi a da Vila de São Vicente, em 1532, cujo prédio foi mandado construir por Martim Afonso de Sousa. As Câmaras deliberavam sobre assuntos de natureza administrativa, policial e judiciária, além de legislarem no âmbito de cada município. As Ordenações dispunham que às Câmaras competiam “todo o regimento da terra e das obras do Concelho, e de tudo o que puderem saber e entender, porque a terra e os moradores dela possam bem viver e nisto hão de trabalhar” (Leal, 1978, p.61).

............Os membros da Câmara eram eleitos pela comunidade local, embora o direito de votar fosse concedido a uma minoria, restringindo a participação ativa do grosso da população no processo político. Ao longo dos séculos, os critérios de habilitação sofreram alterações: de início, somente os grandes proprietários rurais tinham o direito de votar e ser votado; em meados do século XVII os comerciantes foram inclusos no processo político. Muito tempo se passou até que os direitos políticos se universalizassem no Brasil, pois a mulher só teve direito a voto com a aprovação do Código Eleitoral de 24 de fevereiro de 1932, aprovado pelo Decreto 21.076, fruto da Revolução de 1930, e os analfabetos, com a Constituição de 1988.

............Como órgão administrativo de âmbito local, a Câmara representava a Coroa. A instalação de um novo município acontecia com a posse dos vereadores. Dessa forma, o município de Macaúbas, criado por Decreto de 6 de julho de 1832, passou a existir efetivamente em 22 de setembro de 1833, com a posse dos vereadores e suplentes a seguir relacionados:

Capitão José Ribeiro de Magalhães – Presidente;
Capitão Venâncio Teodoro de Sousa – Secretário;
Capitão Manoel Álvares de Abreu;
Capitão João Antônio do Rego – suplente;
Padre Thomé Fernandes Leão – suplente.

............O ato de instalação aconteceu na casa de residência do Capitão Plácido de Souza Fagundes (em Curralinho?, onde faleceu em 1861), que presidiu a sessão na qualidade de Vice-Presidente da Câmara do Urubu (Paratinga). Assinaram a ata de instalação 63 senhores.

............A fim de organizar a estrutura administrativo-judiciária da nova Vila, Portaria do Juiz Municipal Manoel Fernandes Leão, da mesma data da instalação do município, nomeou Baldoino José de Oliveira para o cargo de 1º Tabelião e Escrivão Municipal e Tibúrcio Raposo Fróes para seu suplente. As câmaras municipais eram responsáveis pelo provimento dos cargos públicos e, até o início do Segundo Reinado, em 1841, elas participavam, inclusive, da nomeação de juízes e promotores enviando listas tríplices para o governo provincial; com a ascensão de D. Pedro II ao Trono, a nomeação destes foi transferida para o Imperador (Neves, 2008, p. 240).

............Antes de perder a faculdade de participar da nomeação dos juízes municipais e de órfãos, a Câmara de Macaúbas ainda fez duas indicações em listas tríplices. Em 22 de novembro de 1835, a Câmara Municipal enviou a lista tríplice ao governo provincial, para fins de nomeação do Promotor Público, constituída pelos cidadãos Francisco Uruguaia de Almeida, Manoel Antônio dos Santos e João Antônio do Rego. Em 25 de maio de 1836, Antônio Miguel da Silva foi nomeado Agente dos Correios e, em 28 de julho do mesmo ano, foram nomeados os Juízes Municipais e de Órfãos e seus suplentes. Na lista tríplice para o primeiro grupo estavam Antônio Lourenço Seixas, Antônio Miguel da Silva e João José da Silva Dourado; na lista para o segundo grupo, os cidadãos Raimundo de Souza Fagundes, Gregório José Correia da Silva e Estevão da Costa Coelho. A segunda indicação foi feita em 10 de abril de 1839, sendo indicados para Juiz Municipal João Machado de Figueiredo, Diogo de Oliveira Sousa e José de Sousa e Almeida; o primeiro “requereu escusa”, mas a Câmara não aceitou. Para Juiz de Órfãos foram indicados Baldoino José do Rego, João Antônio do Rego e João Alves da Costa.

............Em 1840, a Lei nº 124, de 19 de maio desmembrou o primeiro município de Macaúbas, Palmas de Monte Alto que, eclesiasticamente, pertencia à Freguesia de Senhora Sant’Ana de Caetité. Em 30 de agosto desse ano, a Câmara de Macaúbas requereu ao Presidente da Província que autorizasse ao “Vereador mais votado da dita nova Camara compareça nesta por si, ou por seu
Procurador, para tomar posse e juramento”. Mas a solicitação foi indeferida, de maneira que, em 15 de novembro de 1840, o Capitão Plácido de Souza Fagundes, na qualidade de Presidente da Câmara de Macaúbas, coadjuvado pelo Secretário Interino Francisco Uruguaia de Almeida, instalou in loco a “Villa da Senhora Mãi dos Homens de Monte Alto”, empossando os cidadãos que se seguem como Vereadores: Capitão João Pereira de Castro – Presidente, Doutor Cassiano de Souza Lima, Alferes José Pereira de Castro, Francisco de Sousa e Almeida, Antônio José de Lima e Teodózio Alves Aranha – suplente.

............Em 22 de junho de 1882, novamente a Câmara de Macaúbas deslocou-se de sua sede para instalar um novo município, o de Brotas de Macaúbas, que fora desmembrado pela Lei 1.817, de 16 de julho de 1878. A sessão de instalação da “Villa Agricola de Nossa Senhora de Brotas de Macaúbas” foi presidida pelo Vice-Presidente da Câmara de Macaúbas Izidro Baptista Sales, no impedimento do Presidente Tenente-Coronel Antônio Lourenço de Seixas Júnior, sendo Secretário Manoel Florêncio Álvaro Pereira. A nova Câmara constituía-se dos seguintes Vereadores: Francisco Xavier Machado, João Evangelista da Silva Costa, Francisco José da Cunha, Martiniano dos Santos Rosa, Felipe Correia dos Santos, Mamede dos Santos Rosa e Clementino Pereira de Matos.

............Diante do imbricamento de poderes desempenhados pela Câmara, como já visto no início deste texto, os prédios que abrigavam a instituição eram sempre prédios assobradados, imponentes, de estrutura sólida, onde aconteciam as sessões da Câmara e do Júri e onde funcionava a cadeia pública. Na região, podem-se ver ainda as antigas Câmaras de Rio de Contas e de Caetité que abrigam, hoje o Fórum da Comarca e o Arquivo Público Municipal, respectivamente. Macaúbas, entretanto, não chegou a ter um prédio construído para abrigar sua Câmara e cadeia. Em 1838, foi solicitado ao governo provincial recursos para a construção de uma cadeia pública, pois os presos tinham que ser deslocados para as vilas vizinhas. Em ofício de 11 de julho de 1851, a Câmara reitera o pedido para que se construísse ao menos uma sala de 20 palmos geométricos quadrados para a sessão e arquivo da Câmara. Em 1859, ao ser apresentada a relação das necessidades urgentes da Vila ao Presidente da Província, lá estava a construção de cadeia e Casa da Câmara, orçada em 12:000$000 (doze contos de réis) e recursos para a Câmara pagar seus empregados. Em 1873, novamente a casa para a Câmara é apontada como necessidade. Em um relatório ao Governo Provincial datado de 27 de janeiro de 1876 a Câmara informou que se encontrava em ruínas a casa que servia de cadeia desde a criação da vila, construída de adobes e madeira, sem alicerce. Foi apresentada um projeto ao Governo Provincial orçado em 7:257$250 (sete contos duzentos e cinquenta e sete mil duzentos e cinquenta réis). Os dados técnicos do projeto eram os seguintes: 80 palmos de frente por 60 palmos de largura (aproximadamente 17,60 x 13,20m). No pavimento térreo, ficariam a prisão para homens e o quartel em salas maiores, na frente, e prisão para mulheres, latrina e calabouço,
nos fundos). No pavimento superior, duas salas grandes, sendo uma para as sessões do Júri e outra para as sessões da Câmara, na frente, e, nos fundos, salas para água, conselho, prisão de “considerados” e secretaria e arquivo.

............Finalmente, a Lei nº 1.629, de 12 de julho de 1876, autorizou o governo a despender 4:000$000 (quatro contos de réis) com a Casa da Câmara de Macaúbas, quando o Tenente Antônio Lourenço de Seixas ofereceu seu sobrado na Praça da Matriz pelo valor estipulado na referida Lei. Mas o negócio não se efetuou, pois o sobrado foi adquirido em época incerta pelo Coronel Pedro José de Souza e, por herança, transferido ao Coronel Francisco Borges de Figueiredo Filho por cabeça do casal.

............Não há dados conhecidos que comprovem se a verba de quatro contos foi efetivamente liberada. O prédio condigno para cadeia e câmara nunca foi construído. Sabe-se que a casa de número 31 da Rua 7 de Setembro (antiga Rua do Compasso) abrigou a instituição, bem como a velha casa paroquial. Naquela casa permaneceu por muitos anos vestígios de seu uso pela Câmara, quais sejam abertura na porta de dois quartos que servia para passar água e alimento para os encarcerados e o suporte para o sino da Câmara. Na falta de auditório apropriado, as sessões do Júri aconteciam na nave da Igreja Matriz.

............Em 06 dezembro de 1889, a Câmara de Macaúbas aderiu ao novo sistema político do País, instalado em 15 de novembro; o correio chegara com a notícia dois dias antes. O ofício, adiante transcrito na íntegra, foi dirigido ao primeiro Governador do Estado da Bahia Virgílio Clímaco Damásio, que governara apenas durante cinco dias, de maneira que quando o ofício com a notícia chegou a Macaúbas o Estado já era governado pelo Doutor Manoel Vitorino. Eis o texto do ofício que encaminha a ata da aclamação da República em Macaúbas:

............Paço da Câmara Municipal da Vila de Macahubas, 6 de Desembro de 1889

 

.Exmº Snr.

............A Camara Municipal desta Villa, interpretando os sintimentos de seus municipes adherem, com subido jubilo, ao Governo constituído, prestando em seguida juramento de fidelidade, e, reunida em sessão extraordinária para esse fim convocada, proclamou a Republica em seu Municipio, acto que foi abraçado com maximo enthusiasmo.

............É indiscutível o regosijo em que se acha esta Villa e seos districtos, significando assim sua adhesão.

............Esta Camara congratulando-se com os sintimentos patrióticos de V. Exª faz votos pela perduração da liberdade neste Paiz abençoado, e sua ausência de outro mais para exprimir seo regosijo pelo Governo da Republica deposita nas mãos de V. Exª a Copia da acta de sua sessão extraordinária.

............A Camara aproveita a opportunidade para significar a V. Exª seos protestos de viva adhesão e subida concidração.

 

Deus guarde V. Exª

Ilmº Exmº Snr. Governador do Estado Federal da Bahia

Dr. Virgilio Climaco Damazio
Miguel Francisco Brandão
Antônio Ayres do Rego
José Xavier Brandão
José Candido Pereira Machado
José Liandro de Oliveira
Manoel Florêncio Álvaro Pereira

............Essa foi a última composição da Câmara de Vereadores de Macaúbas durante o Período Imperial. Para adequação ao novo regime, o Governador do Estado foi nomeando as Câmaras Municipais até que o País e o Estado tivessem suas constituições e fossem organizadas as eleições. Uma das inovações estabelecidas foi a separação entre os poderes executivo e legislativo no âmbito municipal. Surge assim uma nova figura na estrutura administrativa municipal, a princípio com titulação variada a depender do estado federado: intendente, superintendente ou prefeito, sendo que a Bahia optou pela primeira denominação. Somente após a Revolução de 1930 é que se universalizou a figura do prefeito como chefe do executivo municipal. Dessa forma, por Ato do doutor Manoel Vitorino Pereira de 14 de abril de 1890, foram nomeados os primeiros Vereadores do Período Republicano e o primeiro Intendente, como se segue:

Cônego Firmino Batista Soares – Intendente;
Coronel Martiniano Antônio de Almeida
Coronel Pedro José de Souza
Manoel Florêncio Álvaro Pereira
José da Silva Mandim
José Trajano de Araújo
Vicente Antônio Turisco.

............Essa formação inicial, entretanto foi logo alterada, pois Vicente Antônio Turisco e José da Silva Mandim não aceitaram a nomeação e foram substituídos por Manoel Antônio do Rêgo e João Rodrigues da Silva, por Ato de 27 de agosto de 1890. Estes também foram logo substituídos, em 19 de novembro de 1890, quando o Governador José Gonçalves da Silva nomeou o Capitão Antônio de Seixas Moreira e o cidadão Pedro Barbosa Limeira. Da mesma forma, Ato do Governador Doutor Virgílio Damázio substituiu o Cônego Firmino Soares, no cargo de Intendente Municipal, pelo Capitão Porfírio José Brandão, em 17 de outubro de 1890.


FONTES DE CONSULTA

APEB. Colonial e Provincial, 1342: Correspondências da Câmara de Vereadores de Macaúbas (1833 – 1883).

APEB. Colonial e Provincial, 1343: Correspondências da Câmara de Vereadores de Macaúbas (1862 – 1888).

APEB. Colonial e Provincial, 1360: Correspondências da Câmara de Monte Alto (1840 – 1856).

APEB. Colonial e Provincial, 2463: Juízes de Macaúbas (1830 – 1853)

Arquivo Paroquial de Macaúbas. Livro de Óbitos nº 01(02): 1842 -1865.

BENEDICTS, Mássimo Ricardo. A Bahia de Hoje. 5 ed. Vitória da Conquista: PROART, 1995.

CÁCERES, Florival. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1994.

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto. 4 ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1978.

NEVES, Erivaldo Fagundes. Uma comunidade sertaneja: da sesmaria ao minifúndio. 2 ed. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UEFS, 2008.


CATALÓGO DAS REVISTAS

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
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Texto organizado por Dário Teixeira Cotrim

AUTORES

AMELINA CHAVES

• As lendas de Itacambira – Vol. II – Página 23;
• Caraça: História de Minas – Vol. I – Página 11.
• Chaves. 100 anos do inesquecível Hermes Augusto de Paula (texto de Amélia Souto) – Vol. V – Página 16;
• O dia da consciência negra – Vol. VI. Página 15;
• Um século de Godofredo Guedes – Vol. III – Página 15;
• Uma viagem no Dorso de Eros (texto de Domingos Diniz) – Vol. V – Página 13.

ANTÔNIO AUGUSTO PEREIRA MOURA

• Montes Claros sob os olhos da arquitetura - Inserção da
obra de Antônio Augusto Barbosa Moura - Vol. II – Página 27;
• Montes Claros, sua história, sua gente... Dr. Hermes de Paula – Vol. IV – Página 13;
• Nono e Menininha: para sempre – Vol. IV – Página 37.

ANTÔNIO AUGUSTO VELOSO

• Colonização da Jaíba – Vol. II – Página 11.

AUGUSTO JOSÉ VIEIRA NETO

• Godofredo Guedes – Vol. III – Página 42.
AVAY MIRANDA
• A ocupação desordenada do Cerrado – Vol. III – Página
196;
• A SSPV em Montes Claros e na região – Vol. IV – Página
195;
• Uma constatação: o taiobeirense tem uma inteligência
acima da média – Vol. II – Página 245;
• Vida de Sacrifícios e de Vitórias – Vol. V – Página 162.

CLARICE SARMENTO

• A Igreja dos Morrinhos – Vol. VI – Página 17
• Hermes Augusto de Paula – Vol. I – Página 15.

CÔNEGO NEWTON CAETANO DE ÂNGELIS

• Sítio do São Romão – Vol. V – Página 193.

DÁrio Teixeira Cotrim

• A medicina dos médicos e a outra – Vol. IV – Página 19;
• A morte de um Titã – Vol. IV – Página 44;
• A Princesinha de Montes Claros – Vol. I – Página 19;
• As estradas do Tijuco a Salvador – Vol. VI - Página 21;
• Canhão de Guerra – Vol. VII – Página 18;
• Dona Tiburtina Andrade Alves – Vol. I – Página 21;
• GG: uma arte total – Vol. III – Página 17;
• Memória de Montes Claros – Vol. VII – Página 13;
• O mecânico Gasparino – Vol. I – Página 26;
• O poeta Reivaldo Canela – Vol. III – Página 47;
• Padre Adherbal Murta de Almeida – Vol. II – Página 39;
• Simeão Ribeiro Pires – Vol. I – Página 23.

Edgar Antunes Pereira

• Caso qu’eu ôvi – Vol. I – Página 29.

Eliane Maria Fernandes Ribeiro

• Herbert José de Souza – Vol. IV – Página 49.

FABIANO LOPES DE PAULA

• Dois Construtores do Futuro. Vol. VII – Página 21;
• Montes Claros: Memória, Devoção e Milagres – Vol. VI. Página 27.

Felicidade Patrocínio

• A Arte de Konstantin Christoff. Vol. VI. Página 48;
• A presença artística de Antônio Francisco Lisboa: O
Aleijadinho. Vol. I – Página 38;
• Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros: Criação
e Funcionamento. Vol. III – Página 51;
• Montes Claros no cenário das artes plásticas brasileiras.
Vol. IV – Página 58;
• Montes Claros no cenário das Artes Plásticas Brasileiras.
Vol. V – Página 20;
• Restauração da arte de Godofredo Guedes no ano de seu
centenário. Vol. II – Página 42;
• Sobre Geralda Magela. Vol. V – Página 37;
• Yara Tupinambá. Vol. VII – Página 28.

Felicidade Vasconcelos Tupinambá

• Melo. Vol. IV – Página 73.

Filomena Luciene Cordeiro

• Tratamento documental da Imprensa Norte-mineira: um resgate vda história e da Memória Regional – relato de experiência inclusiva. Vol. II – Página 51.

Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa

• História Repetida. Vol. VII – Página 39
• Labor Clube de Montes Claros. Vol. I – Página 55;
• No colo da mãe, a vida se aprende! Vol. IV – Página 82;
• O Escritório do meu Pai. Vol. II – Página 65;
• O que será Tabatoriba? Vol. V – Página 43;
• Uma rua de ontem e hoje. Vol. VI. Página 61.

Gy Reis Gomes Brito

• Bons velhos tempos da cidade de Montes Claros – Vol. II – Página 75.

Haroldo Lívio

• A Carta. Vol. IV – Página 93;
• Esboço de Konstantin. Vol. VII – Página 46;
• GG, o Letrado. Vol. III – Página 21;
• Historiador João Botelho Neto. Vol. I – Página 59;
• Necésio (Velloso) de Moraes. Vol. VI. Página 67;
• O Fundador de Jornais. Vol. VII – Página 43;
• O milagre do Ouro Branco. Vol. II – Página 95;
• Parabéns, Jornalista Oswaldo Antunes! Vol. VI. Página 64;
• Patão, o Brucutu. Vol. III – Página 24;
• Retratos de Família. Vol. IV – Página 91;
• Secos e Molhados. Vol. I – Página 61.

Itamaury Teles DE OLIVEIRA

• Ao Mestre Konsta, com Carinho. Vol. VII – Página 49;
• Café Galo reinaugurado com festa. Vol. VI. Página 70;
• Casos Pitorescos dos Albores de uma cidade. Vol. V – Página 53;
• Dona Tiburtina: mulher de fibra, sim senhor! Vol. II – Página 99;
• Godofredo Guedes e Porteirinha. Vol. III – Página 27;
• Porteirinha: um ensaio histórico. Vol. III – Página 63;
• Romãozinho de Porteirinha. Vol. I – Página 63.

Ivo das Chagas

• Eu sou o Cerrado. Vol. III – Página 69.

JOÃO VALLE MAURÍCIO

• Festa de Agosto. Vol. VI. Página 75.

Jeremias Macário

• Luta Contra Índios Durou 100 anos, Vol. V – Página 189.

João Carlos M. Sobreira de Carvalho

• O velho Mercado Municipal. Vol. III – Página 79;
• Hotel São Luiz: O Cristo do Godofredo. Vol. II – Página 105.

João Martins

• Castro Silva: um Herói Esquecido. Vol. I – Página 191.

Juvenal Caldeira Durães

• Breve Histórico da Aviação de Montes Claros. Vol. I – Página 69;
• Coisas do Passado II. Vol. VI. Página 80;
• Coisas do Passado III. Vol. VII – Página 54
• Coisas do Passado. Vol. V – Página 61;
• Saudosos Momentos. Vol. IV – Página 97;
• Um breve histórico do ensino de Montes Claros a partir de 1955. Vol. II – Página 109.

Karla Celene Campos

• Gente de Minas: o caso do burrinho da Prefeitura. Vol. II – Página 126;
• Homenagem a Konstantin: O Doce Sabor da Stevia e o
Canivete Suíço. Vol. VII – Página 60;
• O menino pescador e a menina do vento. Vol. III – Página 83;
• Saudades do Agreste. Vol. I – Página 79;
• Sobrados e Sertões: memorialismo, regionalismo e nostalgia na obra de João Valle Maurício. Vol. II – Página 120.

Lázaro Francisco Sena

• A Banda de Música do 10º Batalhão. Vol. VII – Página 62;
• Associação desportiva Tiradentes. Vol. V – Página 68;
• Colégio Tiradentes da Polícia Militar. Vol. IV – Página 102;
• De Minas para a Bahia. Vol. I – Página 86;
• Doutor João Luiz de Almeida: prócer da educação. Vol. III – Página 87;
• Montes Claros: uma hipótese. Vol. II – Página 131;
• Padre Agostinho, a saga de um sacerdote. Vol. VI. Página 88.

Luiz de Paula Ferreira

• Acolhedora Cidade. Vol. VI. Página 102;
• De onde viemos para onde vamos - Vol. III – Página 95;
• Fim de Estio – Vol. VI. Página 100;
• Luzia Burra – Vol. II – Página 137;
• O assistente técnico – Vol. IV – Página 114;
• O pilão no enxoval da noiva – Vol. I – Página 89;
• O sol das cigarras – Vol. IV – Página 112;
• Sonhando Alto – Vol. V – Página 79.

Luiz Ribeiro dos Santos

• Godofredo Guedes, um artista simples e completo (Texto
de Cida Santana e Luiz Ribeiro dos Santos) – Vol. III – Página 32.

Maria Aparecida Costa

• História de Atividades Sociais e Filantrópicas em Montes
Claros: entidade a serviço da vida – Vol. V – Página 81.

Maria Clara Lage Vieira

• Bocaiúva: Gosto mesmo é de você – Vol. II – Página 143;
• Dona Benzinha – Vol. V – Página 99;
• Geraldo Vieira: retrato de um herói – Vol. I – Página 93;
• José Augusto Freire – Vol. VI. Página 104;
• Vovó Letícia – Vol. IV – Página 116.

Maria da Glória Caxito Mameluque

• A Célebre Justiça da Vila Risonha de São Romão. Vol. VII – Página 71;
• Do Desembargador Velloso ao professor Arthur Versiani Velloso. Vol. VI. Página 108;
• Doutor Georgino Jorge de Souza, meu mestre, meu patrono. Vol. II – Página 151;
• Henrique Sapori Neto: Um Construtor do Progresso. Vol. V – Página 106;
• Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão: Decadência e Ascensão. Vol. I – Página 119.
Maria das Mercês Paixão Guedes

• Paixão de Deus. Vol. II – Página 157;
• Petróleo em Montes Claros (Texto de Antálcidas Drumond).
Vol. IV – Página 139;
• Sob a sombra de tuas asas. Vol. I – Página 99.

Maria de Lourdes Chaves

• José Gonçalves de Ulhôa – Vol. II – Página 161;
• Pequeno histórico da Seresta de Montes Claros – Vol. IV – Página 142;
• Ofício de Registro Civil das pessoas naturais, interdições e tutelas – Vol. III – Página 101.

Maria Inês Silveira Carlos

• Mulheres Brejeiras. Vol. I – Página 125;
• Francisco Sá – Vol. II – Página 165.

Maria Luiza Silveira Telles

• Caminho de volta – Vol. III – Página 97;
• Da velha Guarda – Vol. I – Página129;
• O médico e o poeta das cores – Vol. IV – Página 155;
• Eterno Instante – Vol. V – Página 113;
• O velho Instituto – Vol. II – Página 171.
• Os Bares Nunca Fecham – Vol. VI. Página 114.

Marta Verônica Vasconcelos Leite

• Arquitetura do São Francisco – Vol. IV – Página 123;
• Auguste de Saint-hilaire - Vol. III – Página 119;
• Iventariano Itacambira – Vol. VI. Página 120;
• Itacarambi: uma cidade entre rios e cavernas - Vol. I – Página 135.

Miriam Carvalho

• No mural de Cyro dos Anjos: A menina do sobrado – Vol. III – Página 128;
• Romance das ideias – Vol. II – Página 174;
• Literatura/leitura, leitor/escritor – Vol. IV – Página 168;
• Saudação – Vol. VI. Página 133;
• Sobre o poeta Olyntho da Silveira – Vol. V – Página 119.

Olyntho da Silveira

• Lágrimas pelo Comendador – Vol. I – Página 143.

PADRE ANTÔNIO ALVIMAR SOUZA

• A Arquidiocese Centenária e o Concílio Vaticano II. Vol. VI. Página 136

Palmyra Santos Oliveira

• Algumas lembranças da minha Montes Claros – Vol. III – Página 142;
• Largo da Matriz, minha Praça tão querida – Vol. VI. Página 146;
• José Gonçalves de Oliveira: um líder, um lutador – Vol. II – Página 187.

Paulo Costa

• O telegrama – Vol. III – Página 149.

Petrônio Braz

• A conjuração do São Francisco – Vol. II – Página 193;
• A dimensão de um homem – Vol. I – Página 145;
• A imprensa em Montes Claros – Vol. VI. Página 151;
• Gênese do São Francisco – Vol. V – Página 123;
• Maria da Cruz – Vol. IV – Página 173;
• O estreito caminho da uma Academia – Vol. III – Página 155;
• Tradição e Cultura – Vol. II – Página 197.

Rafael Freitas Reys

• A alma está no papel. Vol. I – Página 156.

Roberto Carlos Morais Santiago

• Cachaça da Salinas: história, cultura e agro negócio – Vol. III – Página 163;
• Francisco Gê Acayaba de Montezuma – Vol. VI. Página
155;
• O lendário Anísio Santiago – Vol. II – Página 200;
• O mestre da política mineira – Vol. IV – Página 176;
• Salinas: 120 anos de história – Vol. I – Página 158.

Roberto Pinto da Fonseca

• 1968: o ano que mudou nossas vidas – Vol. II – Página
212.
• O trem do sertão – Vol. V – Página 131;
• Os caminhos do sertão – Vol. I – Página 163;
• Os vapores do São Francisco – Vol. IV – Página 186;
• Ouro e Escravidão em Minas Gerais – Vol. VI. Página 163;

Ruth Tupinambá Graça

• A inesquecível Felicidade Perpétua Tupinambá – Vol. V
– Página 142;
• A réplica do Mercado Municipal – Vol. II – Página 225;
• Exupério, o ferrador – Vol. VI. Página 170;
• Tobias Leal Tupinambá – Vol. I – Página 169.

Wagner Gomes

• Hermes de Paula: a gente para minha gente – Vol. IV – Página 22.

Wanderlino Arruda

• A Grande Noite na Câmara – Vol. V – Página 149;
• Cônsul Fernanda Ramos – Vol. III – Página 181;
• Discurso para Godofredo Guedes – Vol. I – Página 178;
• Godofredo Guedes: nosso Miguel Ângelo – Vol. III –
Página 38;
• Hermes de Paula – Vol. IV – Página 26;
• Ivan de Souza Guedes – Vol. VI. Página 181.
• O vôo do Albatroz, o vôo de Isau – Vol. VI. Página 177;
• Osmar Cunha – Vol. VI. Página 174;
• Reivaldo: a realidade dos sonhos – Vol. III – Página 178;
• Samuel de Souza Figueira Exposição do pintor - Vol. II –
Página 231;
• Um sonho na madrugada – Vol. V – Página 146

Welligton Caldeira Gomes

• A origem do homem – Vol. IV – Página 208;

Wesley Caldeira

• A Primeira Execução de Pena de Morte em Montes Claros
– Vol. III – Página 185.

Yvonne de Oliveira Silveira

• Companheiro – Vol. V – Página 152;
• No tempo dos coronéis – Vol. II – Página 237;
• Sítio Azedo – Vol. V – Página154;
• Meu Patrono – Vol. I – Página 183.

Zanoni Eustáquio Roque Neves

• Antropólogo e humanista Franz Boas (1858-1942) – Vol. IV – Página 220;
• Personagens históricas e datas nacionais – Vol. III – Página 206.

Zoraide Guerra David

• Homenagem à irmã Rosita na Câmara de Montes Claros – Vol. II – Página 241;
• Justa Homenagem - Vol. I – Página 186;
• Retalhos Históricos – Vol. V – Página158.

DOCUMENTOS

Documento Histórico. Vol. I – Página 189;
Documentos Históricos. Vol. I – Página 118;
Documentos Históricos. Vol. I – Página 68;
Foto Histórico. Vol. I – Página185;
História da Drogaria Minas-Brasil. Vol. II – Página 250.

Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

LIVROS RECEBIDOS

- Na Casa do Major – Manoel Messias Oliveira. Millennium/ Cotrim. Montes Claros. 2011.

- Visão de um Espectador: Prefácios e Apresentações – Enélio Lima Petrovich. Editora do Senado Federal. Brasília. 2006.

- Escrevendo, Lendo e Publicando – Enélio Lima Petrovick. Imeph. Fortaleza. 2011.

- Espírito Santo do Pinhal – Marly de Alencar Xavier Bartholomei. Bellini Culltural. São Paulo. 2010.

- Festas nas Águas: Fé e tradição nos rios e mares do Brasil. Horizonte. São Paulo. 2011.

- Cordel Biográfico Hermes Lima – José Walter Pires. OAB-BA. Brumado. 2011.

- Ensaio Histórico do Distrito de Serra Nova – Dário Teixeira Cotrim. A Penna. Rio Pardo de Minas. 2000.

- Idílio de Pórcia e Leolino – Dário Teixeira Cotrim. Papel-Bom. Guanambi - Bahia. 2005.

- Poetas Ilustres In Memoriam – Dário Teixeira Cotrim. Millennium/ Cotrim. Montes Claros. 2011.

- O Caminho das Letras – Júlia Maria Lima Cotrim. Millennium. Montes Claros. 2009.

- Amor Cigano – Ajax Amaral Tolentino. Gráfica e Editora Giordani. Montes Claros. 2006.

- Na Terra do Pequi – Ajax Amaral Tolentino. Gráfica e Editora Giordani. Montes Claros. 2009.

REVISTAS RECEBIDAS

- Liberdade. Ano II. Número XVIII. 6 de outubro de 2011. Oferecimento de Noriel Cohen.

- MagisCultura Mineira. Setembro de 2011. Oferecimento do Dr. Bruno Terra Dias.

- Revista Integração. Oferecimento do confrade João Martis – Guanambi Bahia.

- Revista Imagem – Caetité – Bahia

CATÁLOGO RECEBIDO

- Mulheres Santas Mulheres – Conceição Melo. Artista Plástica


ÍNDICE

Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - 3
Lista de Sócios Efetivos - 5
Lista de Sócios Correspondentes - 8
Homenagens Póstumas - 10
Apresentação - 11

Dário Teixeira Cotrim
Douville em Montes Claros – 15

Dário Teixeira Cotrim
A Casa da Torre – 18

Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Um lugar – 21

Fabiano Lopes de Paula
O montes-clarense Domingos Lopes da Silva – 24

Fabiano Lopes de Paula
Na ausência da mãe uma elegia ao amor eterno – 38

Felicidade Patrocínio
D. Fernanda Ramos a portuguesa montes-clarense – 41

Filomena Luciene Cordeiro Reis / Marta Verônica Vasconcelos Leite
Pedro Xavier de Mendonça, oitenta anos de um sonho realizado em forma de ex-voto: memórias do Bairro Santos Reis em Montes Claros – 46

Haroldo Lívio de Oliveira
* texto de Geraldo Fróis
Canto/lamento do caryocar pequi – 54

Juvenal Caldeira Durães
Coisas do passado IV – 56

Lázaro Francisco Sena
O 10º Batalhão em Montes Claros – 61

Luiz de Paula Ferreira
Aspectos do desenvolvimento de Montes Claros – 73

Manoel Messias Oliveira
Romaria a Bom Jesus da Lapa – 79

Maria Luiza Silveira Teles
Montes Claros – Eterna Lembrança – 82

Marilene Veloso Tófolo
As entradas, bandeiras e cavalgadas – 86

Marilene Veloso Tófolo
Rotílio Manduca – 90

Petrônio Braz
Cangaceiros célebres do Sertão do Urucuia – 94

Roberto Pinto da Fonseca
Chica da Silva - mito e realidade – 99

Ruth Tupinambá Graça
Bendito casarão da Fafil – 105

Theodomiro Paulino
Tancredo e JK agradáveis lembranças – 109

Wanderlino Arruda
Tiro de Guerra 87 – 113

Wanderlino Arruda
Enéas Mineiro de Souza – 116

Wanderlino Arruda
Colégio Diocesano – 119

Wanderlino Arruda
Hotel São José – 122

Wanderlino Arruda
Rotary Clube Montes Claros - Norte – 125

Alan José Alcântara de Figueiredo
A Câmara de Macaúbas no período imperial – 127

Dário Teixeira Cotrim
Catalógo das Revistas – 135

Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - 147


Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@viamoc.com.br
Telefax: (38) 3221-6790
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Reembolso Postal ao Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros,
Rua Santiago Piaçenza, 757 - Bairro de Lourdes
39400-000 - Montes Claros - Minas Gerais
E-mail: ihgmc@gmail.com - Site: www.ihgmc.art.br