COMISSÃO
FUNDADORA 2006-2007
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Jornalista LUIS RIBEIRO
Dr. WANDERLINO ARRUDA
DIRETORIA
2007- 2009
PRESIDENTE
DE HONRA |
Dr.
LUIZ DE PAULA FERREIRA |
PRESIDENTE |
Dr.
WANDERLINO ARRUDA |
1º
VICE - PRESIDENTE |
Dr.
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM |
2º
VICE - PRESIDENTE |
Dr.
HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA |
DIRETORA
EXECUTIVA |
Profa.
MARTA VERONICA V. LEITE |
DIRETOR-SECRETÁRIO |
Dr.
PETRÔNIO BRAZ |
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO |
Coronel
LÁZARO FRANCISCO SENA |
DIRETOR DE FINANÇAS |
Prof.
JUVENAL CALDEIRA DURÃES |
DIRETOR
DE FINANÇAS ADJUNTO |
Historiador
HÉLIO DE MORAIS |
DIRETORA
DE PROTOCOLO |
Profa.
REGINA Mª BARROCA PERES |
DIRETORA
CULTURAL |
Profa.
RAQUEL VELOSO MENDONÇA |
DIRETORA DE BIBLIOTECA |
Escritora
AMELINA CHAVES |
DIRETORA
DE MUSEU |
Historiadora
MILENA A. C. MAURÍCIO |
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS |
Dr.
ITAMAURY TELLES DE OLIVEIRA |
DIRETORIA
DE JORNALISMO |
Jornalista
LUIZ RIBEIRO |
CONSELHO
CONSULTIVO
Dr. JOSÉ GERALDO DE FREITAS DRUMOND
Dr. WALDYR DE SENA BATISTA
Profa. YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA
COMISSÃO
DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA
Prof.
IVO DAS CHAGAS
Profa. ANETE MARÍLIA PEREIRA
Profa. MARIA APARECIDA COSTA
COMISSÃO
DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA
Profa.
MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Prof. CÉSAR HENRIQUE DE QUEIROZ PORTO
Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO
COMISSÃO
DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA
Prof.
GY REIS GOMES BRITO
Profa. CLÁUDIA REGINA ALMEIDA
COMISSÃO
DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS
Jornalista
MAGNOS DENNER MEDEIROS
Profa. MIRIAM CARVALHO
Dra. FELICIDADE VASCONCELOS TUPINAMBÁ
Profa. ZORAIDE GUERRA DAVID
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
COMISSÃO
DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO
Dr.
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM - coordenador
Dr. ITAMAURY TELLES DE OLIVEIRA
Dr. PETRÔNIO BRAZ
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Prof. JUVENAL CALDEIRA DURÃES
Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Jornalista LUIS CARLOS NOVAES
COMISSÃO
REVISORA DA REVISTA
Dr.
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
Dr. WANDERLINO ARRUDA
LISTA
DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC
CD |
Sócios |
Patronos |
01 |
Dr José Santos Rameta |
Alpheu
Gonçalves de Quadros |
02 |
Escritora
Milene A. Coutinho Maurício |
Alfredo de Souza Coutinho |
03 |
Padre
Antônio Alvimar Souza |
Antônio
Augusto Teixeira |
04 |
Professora
Claúdia Regina Almeida |
Antônio
Augusto Veloso (Desemb.) |
05 |
Profª
Yvonne de Oliveira Silveira |
Antônio
Ferreira de Oliveira |
06 |
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira |
Antônio
Gonçalves Chaves |
07 |
Professora
Maria Aparecida Costa |
Antônio
Gonçalves Figueira |
08 |
Professora
Anete Marilia Pereira |
Antônio
Jorge |
09 |
Professora
Isabel Rebelo de Paula |
Antônio
Lafetá Rebelo |
10 |
Professora Maria Florinda Ramos Pina |
Antônio
Loureiro Ramos |
11 |
Jornalista
Reginauro Rodrigues da Silva |
Ary
Oliveira |
12 |
Dr
Antônio Augusto Pereira Moura |
Antônio
Teixeira de Carvalho |
13 |
Dr
Cesar Henrique Queiroz Porto |
Ângelo
Soares Neto |
14 |
Professora
Karla Celene Campos |
Arthur
Jardim Castro Gomes |
15 |
Jornalista
Magnus Denner Medeiros |
Ataliba
Machado |
16 |
Dr
Waldir de Senna Batista |
Athos
Braga |
17 |
Profa.
Marta Verônica Vasconcelos Leite |
Auguste
de Saint Hillaire |
18 |
Dr Petrônio Braz |
Brasiliano
Braz |
19 |
Dr Luiz de Paula Ferreira |
Caio
Mário Lafetá |
20 |
Professora Felicidade Patrocínio |
Camilo
Prates |
21 |
Dr Reivaldo Simões de Souza Canela |
Cândido
Canela |
22 |
Professora
Lygia dos Anjos Braga |
Carlos
Gomes da Mota |
23 |
Historiador
Hélio de Morais |
Carlos
José Versiani |
24 |
Dr
João Carlos Rodrigues Oliveira |
Celestino
Soares da Cruz |
25 |
VAGA |
Corbiniano
R Aquino |
26 |
VAGA |
Cyro
dos Anjos |
27 |
Professora
Regina Maria Barroca Peres |
Dalva
Dias de Paula |
28 |
Escritora
Amelina Chaves |
Darcy
Ribeiro |
29 |
Professora Filomena Luciene Cordeiro |
Demóstenes
Rockert |
30 |
VAGA
|
Dona
Tirbutina |
31 |
Professora
Clarice Sarmento |
Dulce
Sarmento |
32 |
Dr
Edgar Antunes Pereira |
Edgar
Martins Pereira |
33 |
Dr
Wanderlino Arruda |
Enéas
Mineiro de Souza |
34 |
Profa.
Geralda Magela de Sena e Souza |
Eva
Bárbara Teixeira de Carvalho |
35 |
VAGA |
Ezequiel
Pereira |
36 |
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá |
Felicidade
Perpétua Tupinambá |
37 |
VAGA |
Francisco
Barbosa Cursino |
38 |
Professora
Maria Inês Silveira Carlos |
Francisco Sá |
39 |
Professor
Ivo das Chagas |
Gentil
Gonzaga |
40 |
Drª
Maria da Glória Caxito Mameluque |
Georgino
Jorge de Souza |
41 |
Dr
Reinine Simões de Souza |
Geraldo
Athayde |
42 |
Professora
Maria Luiza Silveira Teles |
Geraldo
Tito da Silveira |
43 |
Professor
Benedito de Paula Said |
Godofredo
Guedes |
44 |
Hist.
Roberto Carlos Morais Santiago |
Heloisa
V. dos Anjos Sarmento |
45 |
Jornalista
Angelina de Oliveira Antunes |
Henrique
Oliva Brasil |
46 |
Professora
Eliane Maria F Ribeiro |
Herbert
de Souza – Betinho |
47 |
Jornalista
Paulo César Narciso Soares |
Hermenegildo
Chaves |
48 |
Professora
Raquel Veloso de Mendonça |
Hermes Augusto de Paula |
49 |
Dra.
Maria Fernanda M. Brito Ramos |
Irmã
Beata |
50 |
Escritor
Olyntho Alves da Silveira |
Jair
Oliveira |
51 |
Dr
José Carlos Vale de Lima |
João
Alencar Athayde |
52 |
Profa.
Maria Isabel M. F. Sobreira |
João
Chaves |
53 |
Dr
João Carlos M. Sobreira de Carvalho |
João
Batista de Paula |
54 |
VAGA |
João
José Alves |
55 |
Cel.
Lázaro Francisco Sena |
João
Luiz de Almeida |
56 |
Escritor
João Aroldo Pereira |
João Luiz Lafetá |
57 |
Jornalista
Luiz Carlos Novaes |
João
Novaes Avelins |
58 |
Professor Necésio de Morais |
João
Souto |
59 |
Jornalista
Luiz Ribeiro dos Santos |
João
Vale Maurício |
60 |
VAGA |
Jorge
Tadeu Guimarães |
61 |
Jornalista
Girleno Alencar Soares |
José
Alves de Macedo |
62 |
Profº
José Geraldo de Freitas Drumond |
José
Esteves Rodrigues |
63 |
Historiador Pedro de Oliveira |
José
Gomes Machado |
64 |
Professora
Palmyra Santos Oliveira |
José
Gomes de Oliveira |
65 |
Dra.
Maria de Lourdes Chaves |
José
Gonçalves de Ulhôa |
66 |
Arqueólogo
Fabiano Lopes de Paula |
José
Lopes de Carvalho |
67 |
Dr
Elias Siuffi |
José
Monteiro Fonseca |
68 |
Professora
Rejane Meireles Amaral |
José
Nunes Mourão |
69 |
VAGA |
José
(Juca) Rodrigues Prates Júnior |
70 |
Jornalista
Márcia Sá |
José
Tomaz Oliveira |
71 |
Dr João Caetano Canela |
Júlio
César de Melo Franco |
72 |
Jornalista
Theodomiro Paulino Correa |
Lazinho
Pimenta |
73 |
Dra.
Maria das Mercês Paixão Guedes |
Lilia
Câmara |
74 |
Professor
Laurindo Mekie Pereira |
Luiz Milton Prates |
75 |
VAGA
|
Manoel
Ambrósio |
76 |
VAGA |
Manoel
Esteves |
77 |
Profª
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro |
Mário
Ribeiro da Silveira |
78 |
Jornalista
Américo Martins Filho |
Mário
Versiani Veloso |
79 |
Professora
Maria José Colares Moreira |
Mauro
de Araújo Moreira |
80 |
Jornalista
Hélio Machado |
Miguel
Braga |
81 |
Prof. Juvenal Caldeira Durães |
Nathércio
França |
82 |
Dr
Haroldo Lívio de Oliveira |
Nelson
Viana |
83 |
Historiador
Paulo Costa |
Newton
Caetano d’Angelis |
84 |
Dr
Itamaury Telles de Oliveira |
Newton
Prates |
85 |
VAGA
|
Armênio
Veloso |
86 |
Professora
Zoraide Guerra David |
Patrício
Guerra |
87 |
Profa.
Marta Edith Sayago M Marques |
Pedro
Martins de Sant’Anna |
88 |
Professora
Miriam Carvalho |
Plínio
Ribeiro dos Santos |
89 |
Jornalista
Rosângela Silveira |
Robson
Costa |
90 |
Hostoriador
José Henrique Brandão |
Romeu
Barcelos Costa |
91 |
Dr
Wesley Caldeira |
Sebastião
Sobreira Carvalho |
92 |
Professor
Roberto Pinto Fonseca |
Sebastião
Tupinambá |
93 |
Dr
Dário Teixeira Cotrim |
Simeão
Ribeiro Pires |
94 |
Dr
Luiz Pires Filho |
Teófilo
Ribeiro Filho |
95 |
VAGA |
Terezinha
Vasquez |
96 |
Professora
Ruth Tupinambá Graça |
Tobias
Leal Tupinambá |
97 |
Professor
Gy Reis Gomes Brito |
Urbino
Vianna |
98 |
Jornalista
Rafael Freitas Reis |
Virgilio
Abreu de Paula |
99 |
VAGA |
Waldemar
Versiani dos Anjos |
100 |
Professora
Maria Clara Lage Vieira |
Wan-dick
Dumont |
Sócios
Correspondentes
Dr.André
Kohene |
Caetité
-BA |
Prof.
Regente Armênio Graça Filho |
Rio
de Janeiro- RJ |
Dr.
Ático Vilas-Boas da Mota |
Macaúbas
- BA |
Dr.
Augusto José Vieira Neto |
Belo
Horizonte - MG |
Dr.
Avay Miranda |
Brasilia
- DF |
Jornalista
Carlos Lindenberg Spínola Castro |
Belo
Horizonte - MG |
Escritora
Carmem Netto Victória |
Belo
Horizonte - MG |
Historiadora
Célia do Nascimento Coutinho |
Belo
Horizonte - MG |
Historiador
Daniel Antunes Júnior |
Espinosas
- MG |
Dr.
Enock Sacramento
|
São
Paulo - SP |
Dr.
Fernando Antônio Xavier Brandão |
Belo
Horizonte MG |
Dr.
Eustáquio Wagnar Guimarães Gomes |
Belo
Horizonte - MG |
Escritor
Flávio Henrique Ferreira Pinto |
Belo
Horizonte - MG |
Jornalista
Geraldo Henriques (Riky Tereze) |
New
York - USA |
Prof.
Herbet Sardinha Pinto |
Belo
Horizonte - MG |
Jornalista
Jeremias Macário |
Vitória
da Conquista - BA |
Jornalista
João Martins |
Guanambi
- BA |
Dr.
Jorge Lasmar |
Belo
Horizonte MG |
Prof.
José Eustáquio Machado Coelho |
Belo
Horizonte MG |
Prof.
Dr. Jorge Ponciano Ribeiro |
Brasília
- DF |
Dr.
Marco Aurélio Baggio |
Belo
Horizonte MG |
Profa.
Dra. Maria da Consolação M. Figueiredo Cowen |
London
- England |
Prof.
Moisés Vieira Neto |
Várzea
da Palma - MG |
Jornalista
Paulo César Oliveira |
Belo
Horizonte - MG |
Jornalista
Paulo César Oliveira |
Belo
Horizonte - MG |
Escritor
Reynaldo Veloso Souto |
Belo
Horizonte - MG |
Prof.Thiago
Carvalho Makiyama |
Gunma-Ken
- Japão |
Prof.
Wellington Caldeira Gomes |
Belo
Horizonte - MG |
Historiador
Zanoni Eustáquio Roque Neves
|
Belo
Horizonte - MG |
NOTAS
DOS COORDENADORES DA EDIÇÃO
A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios
efetivos obedeceu à seqüência alfabética
dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos
dos sócios correspondentes; A Revista não se responsabiliza
por conceitos e declarações expedidos em artigos
publicados; A revisão dos disquetes originais foi feita
pelos próprios autores dos artigos publicados.
HOMENAGENS
EPITÁFIO
Para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”.
(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, I.)
FINS
DO IHGMC
Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção
de estudos e a difusão de conhecimentos de história,
geografia e ciências afins, do município de Montes
Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento
da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio
histórico, artístico e cultural.
APRESENTAÇÃO
Deus
quer que nós sejamos produtivos em nossas vidas. Quer que
tenhamos mais do que conhecimento, mais do que simples sonhos ou
simples esforços. Necessário é que coloquemos
nosso raciocínio em prática e sejamos competentes,
eficazes e produtivos, mirando para fora - como quem sonha - e olhando
para dentro - como quem desperta. Importante então é
o pensar e o realizar, tanto melhor se com uma freqüência
organizada e previsível como a que temos feito nas publicações
do nosso Instituto. Em verdade, tudo que realizamos é animado
e sugerido por um verdadeiro amor a Montes Claros e à região
norte-mineira, sempre fonte de boas estórias e histórias,
espelhos de razão e emoção que refletem passado
e presente.
Ainda muito novo, nosso Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros, filho dileto do Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais, pode ser definido e interpretado com dizeres de
Emmanuel: “Ontem, foste o que eras. Amanhã, serás
o que fizeres de ti. Hoje, porém, és o que és.
Por isso mesmo, não te detenhas. Aproveita agora para realizar
o bem que deves e já possas fazer”. Assim, o IHGMC,
responsável pelo levantamento de dados e registros de fatos
e personagens ligados ao históricogeográfico, marca
e marcará nosso mineiríssimo Sertão, principalmente
nos destaques e sotaques regionais, tão próximos da
Bahia e do Nordeste.
Fruto
da organização e do esforço do nosso Vice-presidente
Dário Teixeira Cotrim e da colaboração de muitos
dos nossos associados, temos procurado realizar o melhor e mais
apropriado para cada momento, esta edição, por exemplo,
é dedicada ao Centenário do historiador Hermes de
Paula, sem favor nenhum o homem que mais amou Montes Claros, sua
gente, sua história e seus costumes. Tributo mais do que
merecido, ao mesmo tempo um sincero agradecimento pelo que Hermes
foi e representou até os últimos momentos de sua vida,
quando de nós se separou fisicamente em 1983.
Esperamos
destacar em próximas edições os centenários
de João Chaves, Felicidade Tupinambá, Cândido
Canela e Olynto Silveira, nomes da mais alta expressão de
nossa cultura. São amores a Montes Claros praticamente inseparáveis,
faces de uma só medalha de sucesso no tempo e no espaço.
Com fé e entusiasmo, selaremos esse compromisso com o melhor
da nossa história. Queremos, acima de tudo, manter o ciclo
semestral de publicação desta já tão
querida e esperada Revista.
Podem os leitores esperar!
Wanderlino Arruda
Presidente
HOMENAGEM
ESPECIAL
HERMES DE PAULA
Montes
Claros, sua história,
sua gente...Dr. Hermes de Paula
Antônio Augusto Pereira Moura1
Cadeira N.12
Patrono: Antônio Teixeira de Carvalho
Tom! Para com essa bagunça! Vem comer um biscoito frito que
acabei de fazer!
- Tô indo, Mãenininha! Nonô está me contando
algumas adivinhações! Aliás, o que tem cabeça
e não é gente? E o que cai em pé e corre deitado?
- Ah, menino, sei não. Fala para seu avô guardar este
livro e vir tomar café também. Os biscoitos fritos
já estão esfriando! A receita do livro deu certinho!
- É alho! Igual os que estão aí na cozinha!
E a outra é a chuva!
Daqui a pouco vai cair um toró!
- Oh, Vi... vem comer também! Deixa para pular amarelinha
depois!
- Vamos comer os biscoitos que depois eu vou contar uma história
para vocês! Sabem aquela história da Santa Parteira?
-
Daquele livro, Nonô?
- É sim!
- Ah, então mostra pra gente antes nosso nome no livro de
novo!
- Meninos, a página já está até gasta
de tanto que vocês olham!
-É muito legal, tem o nome da família toda e da gente
também! Como eles sabem, mamãe?
- Foi um enorme trabalho de pesquisa e de levantamento das informações.
Quem fez essa pesquisa foi o Doutor Hermes de Paula e o livro se
chama Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes.”
Em
várias outras oportunidades, novos diálogos como esse
aconteciam. Muitas vezes lendo as adivinhações, outras
vezes as cantigas de roda, os parachoques de caminhão, fazendo
receitas e quitutes sugeridos pelo livro, além das informações
sobre as pessoas, a história e geografia de Montes Claros.
Aprendi muito sobre as principais personalidades, os homens e mulheres
que construíram nossa cidade; sobre plantas medicinais; o
folclore, entre outras curiosidades.
Isso é um pouco da minha infância, com sete, oito anos
de idade, brincando na rua do Grupo Francisco Sá e no quintal
da casa da minha avó, na Rua Barão do Rio Branco.
Foi dessa forma que convivi bastante com os três volumes do
livro escrito por Dr.
Hermes de Paula, conheci e me apaixonei ainda mais pela terra onde
nasci e pelas suas histórias e casos.
Essa pequena passagem ilustra aquilo que muitos de nós vivemos
e que só foi e é possível pelo trabalho de
uma pessoa que, de forma incansável e pelo amor a sua cidade,
organizou e levantou uma quantidade enorme de informações
valiosas que permitem a perpetuação de tradições
e costumes da nossa região. Não tenho a pretensão
de escrever a biografia de uma pessoa tão importante para
Montes Claros, mas fico lisonjeado em poder recordar fatos de minha
infância que remetem à lembrança do Dr. Hermes
de Paula no ano em que comemoramos o centenário de seu nascimento.
Dr. Hermes de Paula nasceu em 6 de dezembro de 1909, filho de Basílio
de Paula Ferreira e dona Joaquina Mendonça de Paula.Cursou
o primário no Grupo Escolar Gonçalves Chaves, Montes
Claros, o secundário no Colégio Arnaldo, Belo Horizonte
e no Instituto Granbery da Igreja Metodista Juiz de Fora. Diplomou-se
em Medicina em 1939 pela Faculdade Fluminense de Medicina - Niterói.2
Pelo
seu destaque no curso, conseguiu um ótimo emprego, segundo
palavras dele , trabalhando no Instituto Vital Brasil, onde foi
assistente do próprio Dr. Vital Brasil. Mas seu amor por
sua terra falou mais alto e o Dr. Hermes de Paula retornou a Montes
Claros.
De volta à sua terra, montou o primeiro laboratório
de análises clínicas da região. Começa
então uma trajetória vencedora e de relevância
para o desenvolvimento do município. Pesquisando em seu próprio
livro e em outras fontes, pode-se elencar os principais cargos e
funções ocupados pelo Dr. Hermes de Paula: diretor-clínico
da Santa Casa, membro do Conselho Consultivo da Associação
Médica de Minas Gerais e fundador da Regional Montes Claros,
membro da Sociedade de Higiene de Minas Gerais,
chefe da 5ª Delegacia Regional de Saúde, professor de
higiene e puericultura da Escola Estadual Professor Plínio
Ribeiro (Montes Claros), médico do Departamento de Estradas
de Rodagem de Minas Gerais - DER/MG, chefe do departamento médico
e assistencial do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
- DNOCS, idealizador, fundador e professor da Faculdade de Medicina
da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES.
Fundou e dirigiu por 16 anos o Grupo de Serestas João Chaves,
época em que o Grupo gravou 8 elepês.3
Além disso, destaca-se também que era membro da Academia
Montesclarense de Letras, da Academia Municipalista de Letras de
Belo Horizonte, da Academia de Letras de Piracicaba - São
Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas
Gerais, do Instituto Genealógico Brasileiro.
Entre suas diversas obras, podemos citar, como escritor, historiador
e folclorista, o livro Montes Claros, sua história, sua gente
e seus costumes em que resgatou toda a história do município,
desde seus primeiros habitantes e os costumes de seu povo através
dos tempos. Além deste, lançou Caderno de Modinhas,
de Pe. Chaves a Pe. Dudu; A medicina dos médicos e a outra
(editado pela UFMG).
Foi
condecorado com a Medalha de Honra de Montes Claros, Medalha da
Inconfidência, Medalha Cultural Mário Dedini (Piracicaba),
Medalha Vital Brasil (MG), Medalha Vital Brasil (SP), Medalhas Civitas-2007
(MG) em Memória.
Doutor Hermes de Paula veio a falecer em 10 de junho de 1983, deixando
um legado incontestável para nossa região.
Esta pequena descrição apenas sugere e demonstra a
importância e o compromisso do Dr. Hermes de Paula com sua
cidade e sua gente.
A cidade cresceu, se modificou, novos hábitos, novos costumes
a par da evolução da sociedade, mas as referências,
aquelas que carregamos conosco, são fruto de cada um e alimentadas
por “causos” e histórias que passam pelas gerações.
O Dr. Hermes de Paula ao reunir essas informações
se tornou o grande responsável pela difusão delas
e, passados 30 anos da segunda edição dessa grande
obra, ainda é referência para os estudos locais e regionais.
Finalizo esta breve homenagem com as palavras do Doutor Hermes de
Paula descritas por seu amigo e companheiro, Dr. Wanderlino Arruda
que, com toda propriedade, retratou o momento em que Doutor Hermes
de Paula agradece a condecoração como “o primeiro
Doutor Honoris Causa da Faculdade de Medicina, uma honra que lhe
é deferida pela capacidade e por um milhão de méritos
como o maior de todos os montes-clarenses”:
(...)Em todos estes anos, questionei-me se eu não havia
cometido um grande erro, escolhendo a minha terra, numa vida humilde
e trabalhosa. Às vezes, eu achava que tinha feito o certo.
Hoje, porém, sei que não poderia ter tomado uma
resolução melhor. Eu fiz bem em vir para Montes
Claros. Senhores, muita coisa me tem acontecido, todas gratas
e muito tenho agradecido a Deus, por elas. Mas, se nada estivesse
ocorrido, só esta noite, só esta cerimônia,
só fato de estar recebendo este diploma das mãos
e dos corações de vocês, eu posso dizer com
toda a minha convicção: valeu a pena. Valeu. Muito
obrigado a todos”. 4
Dr. Hermes de Paula é guardião de
nossa história e, mais que isso, ele integra nossa história.
Não o conheci pessoalmente, mas ele faz parte das deliciosas
lembranças da minha infância e perdura até hoje
como uma lenda, um modelo a ser seguido pelo seu amor à sua
terra e ao seu povo.
A
MEDICINA DOS MÉDICOS E A OUTRA
Dário
Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
O historiador e folclorista Hermes de Paula, autor de Montes Claros,
sua História, sua Gente e seus Costumes, uma das obras mais
completas sobre a história de Montes Claros, uma vez se interessou
pelos estudos do folclore montes clarense. Foi o bastante para que
Montes Claros pudesse ser cognominada como sendo a “Cidade
da arte e da cultura”. O trabalho literário de Hermes
de Paula inclui ainda outros livros: “Caderno de Modinhas”,
“A Medicina dos Médicos e a Outra”, “Sesquicentenário
da Câmara Municipal de Montes Claros” e “Do Padre
Chaves ao Padre Dudu” que teve o título provisório
de “Sesquicentenário da Paróquia de Nossa Senhora
e São José”. Além dos seus livros, vários
folhetos foram publicados com notícias sobre o folclore da
cidade. Aliás, Hermes de Paula respirava o encantamento das
histórias e das lendas que ainda habitam o fantástico
folclore de Montes Claros.
No ano do centenário do seu nascimento (2009), a sociedade
e as entidades literárias – a Academia Montesclarense
de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros – já estão se movimentando para
avivar a memória deste ilustre homem das letras na história
popular da cidade. É nosso objetivo falar de suas obras.
Em vista disso buscamos o livro “A Medicina dos Médicos
e a Outra”, obra publicada no ano de 1982, pela Imprensa Universitária
de Belo Horizonte. O autor e médico, Dr. Hermes Augusto de
Paula, era filho de Basílio de Paula Ferreira e de dona Joaquina
Mendonça de Paula. Ele foi casado com dona Josefina de Abreu
Paula, nasceu na cidade de Montes Claros no dia 6 de dezembro de
1909, diplomando-se em Medicina na Universidade Federal de Minas
Gerais, no dia 19 de dezembro de 1939.
O
livro “A Medicina dos Médicos e a Outra” traz
na primeira parte um apanhado sobre os médicos de Montes
Claros, com pequena biografia de cada um deles. Na segunda parte,
o autor fala da outra medicina, aquela da época anterior
aos médicos, destacando-se Os receituários, Boticários,
Parteiras, Curandeiros, Rezas e Benzeduras. Na verdade, quis o autor,
tão somente, falar das nossas tradições e dos
nossos costumes. As pesquisas de Hermes de Paula sobre esses assuntos
deram-lhe matérias suficientes para os seus livros e a formação
do Grupo de Seresta “João Chaves”.
No prefácio do livro, escrito por João Amílcar
Salgado, encontramos os seguintes dizeres: “Assim, nada
tão apropriado como o Centro de Memória editar um
livro que se trata da medicina dos médicos e a outra, ainda
mais se se referem à região norte de Minas, onde o
mesmo processo curricular foi localizar seu internato rural. Outra
propriedade desta edição consiste em ela ser a segunda
do Centro de memória, seguindo ao estudo de Savassi Rocha
sobre Guimarães Rosa, ex-aluno desta faculdade
que prenunciou o internato rural na tematização, inclusive
de saúde, deste mesmo grande sertão e suas veredas”.
Em vez de recorrer a citações de autores famosos,
o autor buscou uma homenagem simples e oportuna. “Nesta página,
a homenagem do autor a todos aqueles que, por atos, palavras ou
pensamentos, tem praticado, praticam ou praticarão através
dos tempos, a ciência e a arte de curar as doenças
ou minorar os sofrimentos”.
Na
última página do livro o autor registra o seu preito
de admiração e de respeito aos seus colegas das cidades
vizinhas. Na lista de quase duas dezenas de nomes encontramos o
de Gil Alves, de Bocaiúva, médico dedicado e pessoa
humana de valor inquestionável. O saudoso doutor Gil Alves
foi o meu companheiro de Rotary Clube de Bocaiúva, de quem
eu ainda cultuo as inesquecíveis lembranças.
Morreu Hermes de Paula no dia 10 de junho de 1983 e o seu nome penetrou
na galeria dos que sempre e bem souberam servir à humanidade.
Academia Montesclarense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
HERMES
DE PAULA: SUA HISTÓRIA,
PARA A MINHA GENTE
Wagner Gomes
Sócio Correspondente
Belo Horizonte - MG
O meu primeiro contato com ele, ao que me recordo, foi na Chacrinha.
Um grupo animado sempre ali se encontrava para usufruir de todos
os divertimentos que aquele recanto oferecia. Durante um jogo de
futebol, eu atuava como goleiro e estava convalescendo de uma coqueluche
das mais bravas. E sempre que o time contrário ameaçava
fazer um gol, eu gritava para o juiz, que era o próprio Dr.
Hermes: pára, pára, que o goleiro vai tossir. Esse
estratagema foi motivo de muitas piadas, seguidas das melhores risadas
do maior historiador de Montes Claros, que não se cansava
de contar essa história. Na visão de sua filha Virgínia,
assim ela o define: “Ele era assim: pensava em agradar às
crianças, mas não apenas aos seus filhos. Quanto mais
gente ficasse feliz, melhor seria. Ser proprietário de alguma
coisa não teria valor para ele, se não fosse para
compartilhar”. Estimulava a todos que lutassem para conquistar
seus objetivos. Foi com esse espírito que animou os meninos
a construírem o campo de futebol na Chacrinha. Foi feito
por todos: filhos, amigos e primos. Tem até uma foto deles
trabalhando. Inclusive a Virgínia, enxada na mão,
toda animada, aparece na
foto. E assim, o campo foi feito para servir a qualquer criança
que quisesse ir até lá para jogar.
Deixou-me a lição de que construir algo é motivo
de felicidade, e compartilhar o que foi feito, mais ainda. Todos
os que o conheceram guardam dele a imagem de um homem para quem
a vida era para ser vivida. Intensamente, plenamente, com coragem
e alegria. Incomensurável alegria de viver. Conheceu como
poucos a alma de nossa cidade, sabia detalhes da vida de seu povo,
de um conhecimento aprendido no quotidiano – de quem não
era amigo, amigo de infância mesmo? Além da Medicina,
o folclore e a música das serestas foram seu estímulo
preferido durante anos a fio, fazendo um “link” do passado
com o então presente, e lançando sementes para o futuro.
No centenário de Montes Claros se revelou a nossa melhor
figura, ganhando todas as batalhas travadas para que ocorresse uma
festa memorável.
Com sua inegável verve para romancear nossa história,
em seus causos estabelecia uma prosa que tinha a poética
graça de quem tem a compreensão eterna do mistério
da vida. Imagino que nossa aldeia e nosso povo têm uma enorme
dívida com esse grande conterrâneo, cuja importância
em nossa história ainda não está bem dimensionada.
O seu altruísmo não tinha limites. Desde que inaugurou
sua residência, carinhosamente chamada de Chacrinha, ela passou
a ser um ponto de encontro das pessoas, desde as mais humildes até
as da nossa mais alta sociedade, servindo a um só tempo como
restaurante, salão de festas, clube esportivo e, pasmem,
hotel. Qualquer personalidade que viesse a Montes Claros, ali se
hospedava. E, dependendo da fama do visitante, uma multidão
se postava em sua porta, para aplaudir a celebridade, quando saía.
Bons tempos aqueles, tempos românticos.
E o que dizer do Grupo de Serestas que fundou e dirigiu? Imediatamente
reconhecido como o melhor do País, divulgava o nosso nome
pelo mundo afora com a sua música gravada em diversas mídias
até os dias de hoje. Creio que Montes Claros começou
a ser conhecida como terra da arte e da cultura por suas iniciativas.
As festas de agosto e o Pentáurea Clube, que habitam todas
as lembranças dos jovens de minha época, estão
entre suas grandes conquistas em prol da coletividade. Segundo a
lenda,
dizia sempre em tom de brincadeira, repetindo os velhos anarquistas:
“Hay Gobierno? Soy contra”.
Cá para nós, acho que tinha uma propensão para
o anarquismo, embora nunca o tenha visto admitindo essa tendência.
Sempre apregoava sua condição de apolítico.
No entanto, Juscelino Kubitschek fez nascer nele uma enorme simpatia
pelo PSD de outrora. Além de jucapratista, era também
juscelinista. Nutria enorme afetividade pelos amigos e gostava de
Toninho Rebello de corpo e alma. Ainda que tenha dele discordado
quanto à derrubada do mercado velho.
Meu pai, Zé Gomes, me dizia ter testemunhado os dois, Toninho
e Dr. Hermes, fazendo planos para Montes Claros, rindo alto, na
porta da prefeitura, algumas vezes, sentados no banco do jardim.
Segundo Virgínia de Paula, uma vez, ela pegou esses dois
amigos chupando pirulito, enquanto se divertiam projetando a Montes
Claros do futuro! Sintam, nesse gesto, a simplicidade desses dois
grandes vultos de nossa história. Duas almas de crianças
brincando de zelar pela cidade. Não sei se já existe
essa figura, mas minha amiga Virgínia me afirma que, além
de jucapratista e juscelinista, Dr. Hermes era, também, toninhorrebelista!
E através dela também fiquei sabendo que ele se deu
bem com todos os nossos prefeitos.
Ele sempre trabalhou na prefeitura, fosse qual fosse o prefeito,
o que mostra que ele, também, foi respeitado por todos, independentemente
de partidos. Jamais disse ser de oposição. No entanto,
não apoiava tudo o que queriam fazer. Tinha o seu jeito de
se opor. Se visse algo sendo feito contra a cidade, ele interferiria.
Quando Toninho Rebelo elaborou o primeiro Plano Diretor da Cidade,
Dr. Hermes identificou nele uma parte que, a seu ver, ameaçava
o centro da cidade. E lutou contra a implantação dessa
parte. Explicitando sua oposição, conseguiu impedir
o que ameaçava nossa história. Apesar de não
ser político, foi candidato a prefeito duas vezes, sem se
eleger.
Tão amado por todos, mas faltava-lhe jogo de cintura para
ganhar uma eleição. Vejo nisso a prova de que não
é preciso ser prefeito para trazer benefícios para
uma cidade. Quando o Wanderlino Arruda me incentivou a escrever
este texto, imaginei como poderia ser difícil passar para
a atual geração a grandeza desse homem, cuja biografia
é um hino de amor a Montes Claros.
Segundo sua família, Dr. Hermes sempre manifestou querer
em seu velório muito café com biscoito e gente contando
piada. Não queria que ficassem tristes. E em seu enterro,
além de tudo isso acontecer, os catopês, marujos e
caboclinhos, compareceram a caráter. Dançaram no cemitério,
cantando aquelas músicas que ele adorava tanto. Como detalhe,
o seu corpo foi levado pelo Corpo de Bombeiros, uma ideia de tia
Yvonne Silveira.
O que me ocorre testemunhar para a posteridade pode se resumir a
uma afirmação cheia de saudade: difícil encontrar
alguém igual a ele. Durante o seu velório, lembro-me
de ter ouvido de meu pai a seguinte frase, em tom de lamento: “Quem
o conheceu,
certamente, jamais o esquecerá.”
HERMES
DE PAULA
Wanderlino
Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
DOUTOR HERMES DE PAULA
Foi com morosidade que as quase trezentas vozes, que pareciam mais
de mil, pausadamente, atenderam o pedido de silêncio do diretor
José Nildo e Silva para o início dos trabalhos da
segunda Sefam”, o seminário dos professores e alunos
da Faculdade de Medicina. Era uma quarta-feira, meio de semana,
com suspensão de aulas para a maior avaliação
até hoje feita pela nossa Faculdade, um cuidado necessário
para enfrentar o presente de dificuldades e o futuro de incertezas.
O diretor chama para dirigir os trabalhos, o patrono do D. A. e
primeiro dirigente e organizador da escola, Mário Ribeiro.
Caberá a ele, Mário, a formação da mesa,
o anúncio maior da finalidade do encontro. Poucos nomes são
declinados e, quando se levantam, caminham sob aplausos de alunos
que sabem admirar seus professores. Apenas dois professores de fora
são nomeados, fora da mesa, com permanência no auditório:
o professor Álvaro de Azevedo Ávila, diretor da Fadir
e representante da FUMN, e eu, representante da Fafil. Olho, ao
lado, e vejo,
triste uma grande omissão; Hermes de Paula fica esquecido,
não é lembrado, muito embora o Cláudio Pereira,
também exdiretor, esteja mais atrás, também
sem menção.
Iniciados os trabalhos, com apresentações objetivas,
curtas como devem ser, o diretor fala da fundação
da escola, de sua finalidade, anuncia uma palestra sobre a história
de todas as lutas e sofrimentos nestes anos iniciais. Volta a palavra
ao mestre Mário Ribeiro (nessa noite, de Cerimônias)
e, este faz o anúncio maior:
“No auditório está o idealizador da Faculdade
de Medicina do Norte de Minas, o homem que tomou os primeiros passos
para a sua criação, o homem que me convidou para primeiro
diretor. Convido-o para tomar o lugar que lhe compete, que é
seu por direito; que é seu pelo desejo maior de todos nós.
Recebamos Hermes de Paula, o nosso maior nome nesta Escola. A sua
cadeira o espera, Hermes. Venha nos dar a honra”.
E com dificuldade que o doutor Hermes de Paula se levanta e encaminha-se
para o estrado da mesa diretora. Para subir, é necessário
o amparo de uma mão amiga. Nunca se presenciou tantos e tão
demorados aplausos. A turma, de pé, bateu palmas como se
estivesse batendo pela última vez, numa gratidão que
só se tributa a um grande herói, herói e amigo.
É nessa hora que vem a verdadeira declaração
do primeiro dia de trabalho da Sefam. O diretor José Nildo
lê a resolução; Hermes de Paula é declarado
o primeiro Doutor Honoris Causa da Faculdade de Medicina, uma honra
que lhe é deferida pela capacidade e por um milhão
de méritos como o maior de todos os montes-clarenses. Nova
ovação. Alegria e sentimentalismo. Existe algo no
ar que ninguém sabe o que é. Aquele não é
o momento qualquer nas estórias da vida. Existem minutos
que valem por um século. Ou mais...
Hermes de Paula toma a palavra. Não vai falar muito, que
não é de discursos. “Senhores, formei-me em
Medicina em 1937, em
Niterói. Vital Brasil, um dos homens mais famosos na Medicina
brasileira, convidou-me para trabalhar com ele, no seu Instituto
ganhando um dos melhores ordenados que um profissional poderia desejar
ou sonhar, Cr$ 1.800. Além de ganhar tanto dinheiro, muito
para a época, eu teria a oportunidade de ser também
muito famoso. Mas, a saudade de Montes Claros, a lembrança
dos meus amigos, não deixaram que eu ficasse lá. Vim
para cá. Em todos estes anos, questionei-me se eu não
havia cometido um grande erro, escolhendo a minha terra, numa vida
humilde e trabalhosa. Às vezes, eu achava que tinha feito
o certo.. Hoje, porém, sei que não poderia ter tomado
uma resolução melhor. Eu fiz bem em vir para Montes
Claros. Senhores, muita coisa me tem acontecido, todas gratas e
muito tenho agradecido a Deus, por elas. Mas, se nada tivesse ocorrido,
só esta noite, só esta cerimônia, só
fato de estar recebendo este diploma das mãos e dos corações
de vocês, eu posso dizer com toda a minha convicção:
valeu a pena. Valeu. Muito obrigado a todos”.
Dois dias depois, Hermes de Paula se despediu de Montes Claros,
para a viagem eterna. Para nós também, valeu a pena
a vinda dele. Valeu!
HERMES DE PAULA E O FOLCLORE
Com o terceiro artigo a respeito de Hermes de Paula e do seu livro
sobre a história de Montes Claros e de sua gente, espero
ter cumprido a obrigação de despertar muitos de nossos
leitores do JORNAL DE DOMINGO para uma necessidade cultural de relembrar
outros do vasto leque de interesse folclórico e genealógico
de que dispomos nesta velha terra de Gonçalves Figueira.
Creio que falar de Hermes de Paula, suas vivências, seus costumes,
suas gentes é o melhor caminho para a construção
do edifício histórico de Montes Claros. É bem
verdade que muita coisa ainda deve e precisa ser escrita, no presente
e no futuro, mas, mais verdade ainda é que ninguém
poderá fazê-lo sem partir primeiro do alicerce erigido
por Mestre Hermes de Paula.
Com
Hermes, vemos e revemos o bumba-meu-boi, as folias de Reis, a dança
de São Gonçalo, as marujadas, os catopés, as
cavalhadas, as penitências para chover; com Hermes, ouvimos
e aplaudimos as cantigas de ninar, as rezas e benzeduras, as cantigas
de roda. Com ele, sentimos a dureza das secas de noventa, noventa
e nove, trinta e nove, o tempo bom e o tempo bravo. Com ele, visitamos
as lapas, lapinhas, laponas, que não são poucas; vemos
os gambás, os caxinguelês, os tamanduás, os
saruês. Com ele, reconhecemos todos os tipos de madeiras das
nossas florestas tamburil-de-cheiro, violeta, sucupira, pau-de-abóbora,
jacarandá-muxiba, catinga-de-porco. No seu livro, aprendemos
as virtudes de todas as nossas plantas medicinais, entre elas a
losna, a salsa, a alfavaca, o manjericão, a quina-de-barroca
e a catuaba,
estas últimas, no dizer do povo, mui valentes afrodisíacos,
excepcionais para levantar coragem.
Sobre a arruda, planta que dá sorte, diz Hermes de Paula
que é santo remédio para cólica, como chá
ou queimada na cachaça; serve como linimento usando a folha
pura; o sumo é próprio para dor de ouvido e, no geral,
atacado e varejo, é tiro-equeda para benzer contra quebranto
e mau-olhado. Esqueceu-se, no entanto, de dizer que arruda, folha
ou galho, evita feitiço e é um tremendo escorrega-menino,
na hora de parto de mulher.
“Montes Claros, Sua História, Sua Gente e Seus Costumes”
é um repositório de ótimas informações
sobre tudo que é Montes Claros: fundação de
clubes sociais, de escolas, de hospitais, instalação
de comércio e de indústrias, fundação
de órgãos de imprensa, movimento religioso, incêndios
maiores e até informações sobre o dia em que
alguém, por aqui, chupou o primeiro doce gelado, também
chamado de picolé. Algumas observações curiosas
do livro: os jovens Antônio Augusto Veloso e Antônio
Augusto Tupimbá foram os últimos que ganharam discursos
e festas no dia da chegada depois da formatura do curso superior.
Pedro Santos, o famoso Pedrão 70, senhor de muitas lendas,
não é de Montes Claros porque nasceu em São
João da Ponte e estudou
em Ouro Preto, Juiz de Fora e Niterói. Curioso é que
Pedrão foi o maior campeão de corridas de todos os
tempos, jamais batido em 200, 400 ou 600 metros, o que o levou a
ser também um bom craque do futebol nacional.
Tendo sido eu um dos colaboradores da segunda edição
do “Montes Claros Sua História, Sua Gente e Seus Costumes”,
sintome dono de uma gratificante tarefa, contente e bem recompensado
pelo alto valor do livro. Afinal, não é todo dia que
podemos ser companheiros de páginas de tão ilustrada
companheiragem, principalmente de Hermes de Paula, premiado com
medalhas dos governos de Minas e São Paulo e detentor da
mais vasta soma de conhecimentos sobre Vital Brasil, conferencista
elogiado e aplaudido em muitas capitais, homem do sertão
e das serenatas, defensor do pequi e do pequizeiro, intelectual
e pragmático, sem dúvida alguma, o melhor fazedor
de arroz-de-tropeiro e de quentão do mundo...
MONTES CLAROS E HERMES DE PAULA
Montes Claros e Hermes de Paula, suas histórias, suas gentes
e seus costumes, que formidável grande amor! Como sabe esta
cidade gostar deste homem e como pode este homem amar tão
carinhosamente esta cidade! Para Montes Claros, Hermes é
o filho, o irmão, o companheiro, o amante, a extremosa dedicação
do pulsar constante em seu favor o bem-amado, o sempre amado. Em
toda parte, Hermes de Paula: na medicina, na seresta, na literatura,
nos serviços comunitários, na sociedade, na história,
no folclore, em tudo. Para Hermes, Montes Claros a melhor cidade
do mundo e o encontro sagrado e existencial, plenitude de beleza,
de bem-entender, lembrança passado-presente, vivência
plena em ritmo de eternidade.
Perfeitamente definíveis o homem e o historiador, pois, Hermes
de Paula em Montes Claros nasceu e se criou, filho de Basílio
de Paula, nome de rua, e de D. Joaquina Mendonça, nome de
gente que espalhou família por um mundão sem porteiras.
Aqui estudado,
aqui casado, aqui vivido. Se saiu de Montes Claros por algum tempo,
foi para fazer cursos no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte,
e no Granbery, em Juiz de Fora. Dos anos morados em Niterói,
para a Faculdade de Medicina e para o estágio científico,
para cá voltou correndo logo depois de sabedor de tudo sobre
cobras, soroterapia e microbiologia, aprendido com o papa do ofidismo,
Vital Brasil, quase seu sogro.
Hermes de Paula, um homem de sorte, formado pela inteligência,
mas também por efeito de um prêmio de loteria, sem
o que talvez não pudesse ter aqui saído ou à
Faculdade não ter chegado. Hermes de Paula foi sempre um
ativista da cultura, ligado,
ligadão ao povo de sua terra. Sanitarista do Estado, chefe
do Posto de Saúde, diretor da Santa Casa, do Instituto Antônio
Teixeira de Carvalho, da Sociedade de Proteção à
Infância. Fundador da regional da Associação
Médica, idealizador do Pentáurea Clube,
do Grupo de Serestas João Chaves, hoje nacionalmente famoso,
também ajudou na criação do Colégio
São José, do Rotary Clube Montes Claros, do Elos Club,
da Fundação Norte Mineira de Ensino Superior, da Faculdade
de Medicina, da Academia de Letras, do Cassimiro de Abreu e do Ateneu.
Professor de muitas escolas, professor de todas as escolas, membro
da Comissão Mineira de Folclore, do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais, da Sociedade Brasileira de
Folclore, da Sociedade Sul Americana de Genealogia.
Foi Hermes de Paula quem fez a igrejinha do Rosário, a nau
catarineta da Praça Portugal. Foi Hermes quem inspirou a
construção da igreja do Morro do Frade, aquela que
Pedro Santos mandou fazer virada para a fábrica de cimento.
E não seria por causa de Hermes de Paula que ainda existem
catopês, marujos, caboclinhos, canjica, paçoca, festa
de São Pedro, fogueira, quentão, licor de pequi, folclore,
um tudo de tradição de nossa Montes Claros? Será
que sem ele nossa memória poluída e industrial já
não teria enterrado todos os velhos costumes?
Um ótimo documento do seu trabalho e da sua vida, um perfeito
e representativo retrato é o livro Montes Claros, Sua História,
Sua Gente e Seus Costumes, que é mais do que tudo Hermes
de Paula, Montes Claros e bom povo que a construiu. Lançado
em 1957, quando o centenário da cidade, que ele “inventou”,
o livro de Hermes de Paula tem sido uma espécie de bíblia
muito sagrada para quantos estudam nossa história e nossas
estórias e desejam saber os segredos do nosso progresso.
Ler o livro de Hermes de Paula, além de aumentar grandemente
nossos conhecimentos, é, sem dúvida, uma tirada de
doces férias numa sentimental viagem pelo passado. Uma doçura
para o coração
HERMES DE PAULA, UM TRABALHADOR
Trabalho significa só pegar no pesado, ter as mãos
calejadas? Trabalho é suar, cansar-se fisicamente, dormir
à noite moído de dores em todo o corpo? Ou trabalho
é o exercício continuado de uma ou de múltiplas
atividades, esteja ou não desenvolvido para ganhar o pão
de cada dia? Trabalho pode ser também a aplicação
apaixonada do bem e do amor? Pode ser busca estética, busca
de beleza, de cultura, esforço mental em benefício
da coletividade ou do próprio trabalhador? Sempre achei que
sim. Trabalho é a produção do progresso pessoal
e coletivo, aprimoramento da boa vontade em direção
ao semelhante, ação física ou mental sem fronteira
de tempo ou de espaço. Trabalho é modo de fazer a
independência da virtude frente às coisas erradas que
acontecem no mundo. Trabalhar é o realmente viver a alegria
de estar sempre fazendo algo proveitoso e digno de admiração
pela utilidade ou pela beleza.
Levados em conta todos esses considerandos, Hermes de Paula deixou-nos
a todos com imensa saudade depois de ter desenvolvido uma estafante
vida de trabalho. Trabalho de todos os dias - todos mesmo - até
o seu último, na sexta-feira, dia 10 de
junho de 1983, um dia antes da comemoração do “Dia
da Raça”, da nossa lusíada raça, cadinho
de miscigenação de tantas outras.
Foi
Hermes de Paula um artista do trabalho amoroso à terra e
ao povo, menestrel de todas as canções, poeta e trovador
das boas causas, intelectual valorizador do melhor que podem realizar
as lembranças do passado montes-clarense, remoto e recente.
Hermes de Paula respirou e viveu sempre a cidade de Montes Claros,
historiou-a e engrandeceu-a com todas as luzes do seu coração.
Inteligente e lúcido, de memória invejável
e invejada, interessado e perspicaz na observação
dos fatos mais simples,
além de escrever, viveu a história, puxou-a, induziu-a
num hino de encantamento. Foi um homem engajado ao seu tempo, um
trabalhador no sentido mais amplo.
Como homem sem riquezas, existência mais de poesia que de
finanças, viveu sempre dependente do esforço pessoal
aplicado ao ganho de todos os dias. Dedicado, consciente, estudioso,
sempre procurou as vantagens da satisfação numa sincera
prestação de serviços. Viver feliz foi sempre
sua meta principal. Disso dependia sua constante socialização
de uma ponderada alegria, um eloqüente contentamento, tudo
muito bem distribuído a todos que lhe ficavam ao redor.
Hermes, um homem de bem, um homem do amor! Merece a nossa maior
consideração neste ano em que comemoramos o seu Centenário
de Nascimento.
Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros
Fundado em 27 de Dezembro de 2006
Nonô
e Menininha – PARA SEMPRE
Antônio Augusto Pereira Moura
Cadeira N.12
Patrono: Antônio Teixeira de Carvalho
Tudo nesse mundo pode se modificar
Pode até mudar a posição do sol e o mar
Que eu vou te amar. Eu vou te amar.1
Ele, de Juramento, nascido em 06 de janeiro de 1919. Ela, de Francisco
Sá, nascida em 03 de fevereiro de 1927. Uma história
de anônimos não tão anônimos assim. Pessoas
honestas, dedicadas ao trabalho, à família e aos amigos,
que souberam deixar seu nome registrado na memória, pelo
simples fato de terem vivido em plenitude seu período em
nossa companhia.
Quando a gente ama alguém de verdade
Esse amor não se esquece
O tempo passa, tudo passa, mas no peito
Esse amor permanece.1
Amar alguém, compartilhar, viver em comunhão são
expressões que confirmam e exprimem algo maior e sublime
entre duas pessoas. Podem ser lembradas grandes histórias
de amor no cinema,
na literatura e no teatro, mas as que mais mexem conosco são
aquelas que vivenciamos, que presenciamos ou acompanhamos. Estas
fazem parte do nosso dia-a-dia e somente quando algo acontece é
que nos damos conta de que são nelas que a arte se inspira
e retrata.
O amor é energia, é luz
Que ilumina a alma
É a força de dois corações
Que traz a paz e acalma.2
Esta homenagem é para um casal que nos deixou recentemente
e que é um exemplo dessas expressões e histórias
que tanto nos emocionam.
Nonô e Menininha
Menininha e Nonô ou Zelita e Carlúcio se conheceram
e se casaram em apenas 3 meses. O casamento aconteceu em 06 de maio
de 1944 em Montes Claros. Ele, filho de José Joaquim Pereira
(Seu Dé) e Gregória Souza Lima Pereira (Góia),
um dos proprietários
da antiga CASA 5 IRMÃOS, que fez parte da história
de Montes Claros como uma das lojas mais prósperas no seu
tempo. Ela, filha de Altina Xavier e Raimundo Xavier.
Casa 5 Irmãos
Nonô, como todos o conheciam, era um grande galanteador e
se encantou pela beleza de Zelita (Menininha), seu apelido desde
pequena. Ele então desmanchou noivado em Belo Horizonte e
em três meses já estavam casados. Foram 64 anos de
convívio.
Por séculos, milênios
Dimensões qualquer lugar
Somos um do outro
E assim sempre será.4
Viveram todo esse tempo na cidade de Montes Claros onde criaram
sua única filha, Vera, dois netos, Vivianne e Antonio Augusto
que escreve esta homenagem e 4 bisnetos: Thiago, Amanda, Rafael
e Davi. Sempre muito queridos e admirados pela família e
pelos amigos, são pessoas que partem e deixam no coração
dos amigos e parentes a certeza de que nunca serão esquecidos.
Eu quero ter um milhão de amigos
E assim mais forte poder cantar
Menininha, vaidosa, zelosa com seu lar, apaixonada pelas suas plantas
sempre viu em Nonô o seu porto seguro, sua certeza de que
tudo daria certo.
A casa era simples, na Rua Barão do Rio Branco, mas sempre
organizada, bem cuidada e aberta aos amigos. Assistiram juntos às
mudanças dos últimos 60 anos, a virada do século,
as inovações tecnológicas com uma única
certeza: o amor pela família, sua filha, netos e depois os
bisnetos.
Naquela
casa simples
Você falou pra mim
Que eu tivesse cuidado
E não sofresse com as coisas desse mundo
Que
eu fosse um bom menino
Que eu trabalhasse muito
Que o nome do meu pai soubesse honrar
E nunca fosse um vagabundo
Escrevo esta homenagem usando referências à paixão
musical
dela, o cantor Roberto Carlos. Mesmo não sendo do gosto
musical de Nonô, foi ouvido por amor a ela.
Ele, em sua sabedoria, acabou sendo um pai, um amigo,
alguém com quem sempre pude contar
Seu passado vive presente nas experiências
Contidas nesse coração, consciente da beleza das coisas
da vida.
Seu sorriso franco me anima, seu conselho certo me ensina,
Beijo suas mãos e lhe digo
Meu querido, meu velho, meu amigo.
Ela, sempre acolhedora e protetora...
Só queria ouvir sua voz mais uma vez
Me dizendo sorrindo:
Aproveite o seu tempo
Você ainda é um menino
Quando eu era criança
Podia chorar nos seus braços
E ouvir tanta coisa bonita
Na minha aflição
Nos momentos alegres
Sentado ao seu lado sorria
E nas horas difíceis podia
Apertar sua mão
O tempo passou! Ele nos deixou em 30 de agosto de 2008 e ela, sentindo
muito sua partida, o acompanhou em 23 de fevereiro de 2009.
Senti
que alguma coisa ia me dizer
No tempo que restava antes de partir
Mas seu silêncio me dizia muito mais
Que todas as palavras que eu pudesse ouvir
No olhar uma tristeza disfarçava
No peito uma saudade antecipava
Aqui está um gesto de recordação, a certeza
de que deixaram na família e nos amigos boas recordações
e muita saudade!
Com o terço na mão
E com fé aprendi,
Que aceitar a vontade de Deus
É o maior bem da vida
Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito pra viver em paz
Onde com certeza os dois encontraram
Alegria e felicidade com certeza
Quando a gente olha é tarde demais
Vê as marcas que ficam pra trás, no caminho
E depois ainda tem que viver
Procurando dizer tudo sem nada pra dizer, pra dizer
Das lembranças que eu trago na vida
Vocês são a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto vocês bem perto de mim
Outra vez .
____________________________
1Pra
Sempre ( 2003) - Roberto Carlos;
2Amor sem limite (2000) - Roberto Carlos ;
3O Amor é Mais (2000) - Roberto Carlos;
4Pra Sempre ( 2003) - Roberto Carlos;
5Um Milhão de amigos ( 1974) - Roberto Carlos;
6Aquela casa simples (1988) - Roberto Carlos - Erasmo Carlos;
7Meu Querido, Meu Velho, Meu amigo (1977) - Roberto Carlos - Erasmo
Carlos;
8Lady Laura (1978) - Roberto Carlos - Erasmo Carlos;
9A estação (1974) - Roberto Carlos - Erasmo Carlos;
10O terço (1996) - Roberto Carlos - Erasmo Carlos ;
11Além do horizonte (1975) - Roberto Carlos - Erasmo Carlos;
12A estação (1974) - Roberto Carlos - Erasmo Carlos;
13Outra vez (1977) - Isolda
Nonô e Menininha
A
MORTE DE UM TITÃ
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
“Comecei, honrando a memória de meu pai,
e espero acabar, deixando honrada a minha”
Rui Barbosa.
Entre os maiores vultos da geografia, da genealogia e da historiografia
do município de Guanambi e da região sobressai, como
um dos mais importantes, senão o mais importante de todos
eles, o nome do meu saudoso pai Ezequias Manoel Cotrim, que era
carinhosamente conhecido pelo apelido de Seu Quias. Os estudos históricos,
geográficos e genealógicos sempre foram a sua constante.
Incansável, ele buscava insistentemente os livros (O Almanaque
Mundial que era o seu livro de cabeceira) e os mapas (o Atlas Mundial),
tudo isso para sanar as suas dúvidas e aprimorar os seus
conhecimentos. Foi leitor assíduo das revistas: “O
Cruzeiro” e “Fatos & Fotos” e, depois, da
Revista “Manchete”. Sempre se dizia fã incondicional
de Carlos Lacerda, Getúlio Vargas e do general Humberto de
Alencar Castelo Branco, pois nunca duvidou das boas intenções
do governo militar da Revolução de 1964.
Seu Quias nasceu no dia 27 de novembro de 1921, na antiga Vila de
Nossa Senhora do Rosário do Gentio, município de Guanambi/Bahia.
Ele era filho do fazendeiro Manoel Antônio Cotrim e de dona
Ana Maria Meira Couto. Foi lavrador, comerciante e, sobretudo, um
homem de caráter político que combatia bravamente
os desmantelos da administração pública em
todos os seus segmentos. Aliás, como homem público
ele recebia dos seus concidadãos o respeito e a admiração
pelo que sempre representou para a cidade de Guanambi e, principalmente,
para a pacata Vila Nova de Ceraíma. Eleito pelo povo, ele
exerceu o cargo de vereador durante uma década por três
mandatos consecutivos - 1967/1971, 1971/1973 e 1973/1977. Registra-se
com louvor nos anais da história política do município
a sua participação como presidente da Câmara
Municipal de Vereadores (em exercício no ano de 1973), quando
ele ocupou interinamente o cargo de Prefeito Municipal de Guanambi.
Certamente pela sua modéstia poucos avaliaram o grande homem
que ele era. Os seus filhos cultuam-lhe o nome e lhe têm sabido
honrar as qualidades de inteligência e de caráter que
ele possuía.
Ezequias na Câmara Municipal de Vereadores (1973)
Por
outro lado, Seu Quias era um contumaz conhecedor dos nossos costumes
e das nossas tradições. Um contador de causos por
excelência! Em vista disso ele nos deixou um arquivo fotográfico
dos mais completos e de importância inquestionável
sobre a memória política e histórica do seu
rincão querido, o Distrito de Paz
de Nossa Senhora do Rosário do Gentio (atual Vila de Ceraíma).
São centenas de fotografias, alguns documentos e muitos livros
e, ainda, diversas peças do antiquário daquele antigo
distrito. Várias dessas peças estão expostas
hoje no Memorial de Guanambi (Casa de Dona Dedé). Sobre o
estudo da genealogia das famílias de Guanambi, podemos afirmar
com muita convicção que ninguém, mas ninguém
mesmo, sabia mais do que ele sobre as origens das nossas famílias.
Seu Quias dissertava essas origens familiares sempre com alguns
detalhes que ilustravam muito bem o entrelaçamento das árvores
de costados das famílias dos Teixeira, Xavier, Ribeiro, Carvalho
e, em particular, as origens da família COTRIM.
Fundação da Vila Nova de Ceraíma
Na década de cinqüenta, quando a velha vila de Ceraíma
estava condenada a ser eliminada pelas águas de uma barragem
em construção pelo D.N.O.C.S., Seu Quias assumia com
determinação e coragem o compromisso de transferir
a sede da antiga vila do Gentio para um lugar mais seguro onde a
comunidade pudesse presenciar todos os dias, a boca da noite a engolir
o sol. Do mesmo
modo, o senhor Generaldo de Souza Teixeira desejava e batalhava
muito para que a transferência da vila fosse feita em favor
do povoado de Morrinhos, que estava em franco desenvolvimento. Mas,
não foi assim que aconteceu. Naquela oportunidade Seu Quias,
com o apoio de toda a população da vila, recuperava
o velho Cruzeiro do Sangradouro da Lagoa do Gentio (datado de 1854)
para depois fincá-lo por entre os blocos de pedras existentes
no pé do Morro do Espírito Santo, que assinalava o
lugar onde seria construído a sede da Vila Nova de Ceraíma.
Portanto, ele foi o responsável pela criação
da Vila Nova de Ceraíma no ano de 1954.
Ezequias Manoel Cotrim no Cruzeiro da Vila de Ceraíma.
Seu Quias faleceu na cidade de Guanambi no dia de São José
– 19 de março – causando um imenso pesar em toda
a sociedade guanambiense. Durante o velório, não obstante
a presença de inúmeros amigos e familiares, ainda
assim foi sentida, com amarga tristeza, a falta de uma representação
política. É exato que os homens públicos formam
uma sociedade da qual ele tanto apreciava, mas inexplicavelmente
neste dia não houve nenhuma apreciação para
com a sua despedida final. Todavia, os intelectuais da augusta Academia
Guanambiense de Letras estiveram presentes na Câmara Ardente
para levar-lhe o último adeus e, também, conforto
aos seus familiares. Por fim, nós entendemos que morreu um
titã, deixando um vazio enorme no entrevero da política
local e uma saudade sem tamanho no seio de sua família.
O nosso pai Ezequias Manoel Cotrim morreu deixando também
nove filhos, vinte e dois netos, oito bisnetos e um interessante
legado histórico-geográfico sobre a cidade de Guanambi
e a sua região. Sempre há um momento de tristeza quando
se perde um ente querido. É bem verdade! Por isso mesmo,
querido e saudoso pai, se nós lhe trazemos a expressão
de nossa dor, também lhe declaramos confiantes que os seus
ensinamentos, as suas virtudes e o seu caráter de homem probo
hão de servir de estímulo para todos nós e
para as novas gerações, que poderão com isso
construir um mundo bem melhor para se viver. Obrigado, Pai!
HERBERT
JOSÉ DE SOUZA
Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Cadeira N. 46
Patrono: Herbert de Souza - Betinho
“Gente
foi feita para inventar o mundo de novo, para mudar e desmudar,
carregando alegria”.
A citação de Herbert José de Souza, o Betinho,
explica parte de sua essência: o sentimento de pertencimento,
de trabalho pela cidadania, o reinventar o mundo para ajudar o outro
e, acima de tudo, de manter a alegria, mesmo que sua trajetória
de vida tenha sido infestada de dores físicas. A maneira
mais afetiva por mim encontrada para falar de Betinho e apresentar
um diferencial do que já fora apresentado em revistas, foi
recorrer às entrevistas com amigos da nossa terra natal e,
principalmente, aproveitar um pouco do muito escrito pela sua irmã,
Wanda Figueiredo, em um relato apaixonante sobre a família
Souza — o livro, Balaio Mineiro. Reafirmo aqui o privilégio
de tê-lo como patrono e a satisfação em apresentá-lo
a esta entidade.
Herbert de Souza - Betinho
Herbert José de Souza, nascido em três de novembro
de 1935, foi registrado Herbet (sem o r) pelo escrivão, seu
tio Luís – Seu Lu –, intérprete dos americanos
vindos a Bocaiúva por ocasião do eclipse em 1947,
conforme registro em Cartório do Registro Civil. Os pais
de Betinho, Henrique de Souza e Maria da Conceição
Figueiredo, casaram-se em 1923 e passaram a lua-de-mel no Hotel
Avenida, na avenida dos Andradas em Belo Horizonte. Os quatro primeiros
filhos do casal não sobreviveram. Mais tarde, nasceram em
Bocaiúva: Maria Cândida, Zilah, Wanda e Herbert pelas
mãos da parteira Sá Faustina. Em Ribeirão das
Neves nasceram Maria da Glória e Henrique de Souza Filho
(Henfil). Em Belo Horizonte, Filomena e Francisco Mário (Chico
Mário). O meio-irmão Jair dos Santos, mestre-de-obras,
reside em Bocaiúva e possui a idade de Betinho. Os três
filhos do casal, Betinho, Henfil e Chico nasceram com hemofilia,
doença genética que impede o sangue de coagular.
Segundo o jornalista bocaiuvense, Carlos Ferreira Oliveira, a infância
de Betinho foi exemplo de perseverança e luta pela vida,
pois o menino morador da rua Cônego Versiani não podia
machucar-se, jogar bola, correr ou subir em árvores para
apanhar frutas. Quando se sentia muito debilitado e queria passear,
seus amigos o levavam escondido dos pais e adultos a passear em
uma cabra preta puxada por eles. O menino magro, brincalhão,
dos olhos verdes e cabelo loiro, mesmo doente, participou ativamente
da infância dos meninos de Bocaiúva. Betinho teve muitos
“anjos da guarda”, pois, como não podia se machucar,
os amigos, Márcio Efraim, o avô Rodrigo e a irmã
lhe serviam de trampolim para suas traquinagens. Era função
de Wanda ser guia do bode que o tio Geraldo comprou para ele passear.
Ela puxava o carrinho pelas ruas formadas de quartzitos irregulares,
sem deixar que ele se ferisse, pois, se isto ocorresse, ela levava
bronca dos pais e de sua Mãe Grande.
O estudo dos filhos e a doença hemofílica de Betinho,
com hemorragias sucessivas, dores nas articulações,
hematomas, desconhecimento da doença e a impossibilidade
de tratamento na cidade pequena, fizeram o casal se mudar para Ribeirão
das Neves, quando Betinho tinha três anos de idade. O menino
já vivia amores impossíveis: Socorro de Florinda e
Marcolina filha de Bento e Carmélia. O amigo, José
Maria Alkmin, então diretor da penitenciária
local, convidou seu Henrique para fazer parte da equipe seleta como
almoxarife. A família Souza e a empregada doméstica
Maria Leal passaram oito anos em uma vila em frente à penitenciária,
convivendo com os presos que trabalhavam em oficinas de carpintaria,
alfaiataria, cestaria, sapataria, confecção de roupas,
móveis de vime e plantações variadas.
A fim de acalmar os ânimos políticos de Bocaiúva,
em plena ditadura Vargas, José Maria Alkmin oportuniza Seu
Henrique nomeando-o como prefeito da cidade, de 1941 a 1943. Mais
tarde, Alkmin, novamente, consegue emprego para Seu Henrique, agora
em Belo Horizonte, como gerente do Serviço Funerário
da Santa Casa de Misericórdia. Betinho estava então,
com oito anos de idade e estudava na escola estadual Barão
Macaúbas. Faltava muito às aulas, sofria com hemorragias,
artrites e, para agravar sua saúde, aos 15 anos, um médico
amigo diagnosticou-lhe tuberculose. Betinho viveu no quarto do barracão
da sua casa na rua Ouro Preto, no bairro Floresta, de 1950 a 1953.
Durante este período, leu, ouviu novelas, fez aeromodelismo,
escultura e radiotécnica por correspondência, desafiando
dores e desconforto. Ao ler a revista O Cruzeiro, um anúncio
sobre um remédio para tuberculose — Hidrazida —
chamou-lhe a atenção e ele, finalmente, foi curado
depois de três meses de tratamento.
Ainda adolescente, o convívio com os padres dominicanos contribuiu
para sua formação, ajudando-o a se integrar à
Juventude Estudantil Católica (JEC) que se transformou em
Juventude Universitária Católica (JUC). Desde aí,
ele atuou como liderança nacional dos grupos de juventude
católica que representavam as aspirações de
transformações sociais. Em uma publicação
comemorativa dos cinco anos de criação da JEC, de
1958, ele passa a assinar Betinho. Depois de convocar assembleias
estudantis em faculdades e disputar a direção de entidades
como a lendária Ação Popular (AP), surgida
em Belo Horizonte, continuou na luta pela democracia. A base ideológica,
teórica e filosófica da AP foi elaborada pelo jesuíta
brasileiro Henrique Vaz.
Continuando
seu trabalho em prol da cidadania, Betinho elaborou a Teoria dos
Pólos: dominante e dominado, que seria a dialética
do senhor e do escravo de Hegel, transposta para nossa realidade.
Ao lado de Roberto Leal Lobo, o então reitor da Universidade
de São Paulo (USP), a convite da Juventude Comunista, em
1961, foi visitar a URSS, mas não corroborou com as idéias
comunistas. Visitou Kiev, Leningrado, Estônia, e voltou por
Paris. Visitou várias vezes Fidel Castro em Cuba, mas também
não aderiu à guerrilha, nem à luta armada,
por motivos ideológicos. Em 1960, aos 65 anos morre Seu Henrique,
depois de três anos doente. Somente em 1964 a família
conseguiu comprar a primeira casa.
Em 1962, concluiu o curso de Sociologia e Política da Faculdade
de Ciências Econômicas da UFMG. Trabalhava como técnico
de avaliação de projetos relativos ao emprego da mão-de-obra
no Banco de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. Em
1963, trabalhou no Ministério da Educação,
em Brasília, coordenando a assessoria do ministro Paulo de
Tarso e, aos 28 anos, era o mais jovem assessor. Nessa época
participou de conquistas de reformas de base, que nasceram no governo
João Goulart, elaborou estudos sobre a estrutura social brasileira,
a pedido da Comissão Econômica para a América
Latina (CEPAL), da Organização das Nações
Unidas (ONU) e, logo após, para a Superintendência
da Reforma Agrária (SUPRA).
Um pouco antes do golpe, Brizola e Betinho fundaram o Grupo dos
Onze a favor da reforma agrária — um grupo nacional
de resistência. Com o golpe militar de 1964, Betinho engajou-se
contra a ditadura, trabalhou no Uruguai por 11 meses, e, como a
insurreição e a guerrilha não saíram,
voltou para o Brasil. No Uruguai estavam representantes da Frente
de Mobilização Popular, da AP, da IV Internacional,
Brizola, sargentos e oficiais. Betinho se casa no Uruguai por procuração
com Irles Coutinho de Carvalho e, ao voltar para o Brasil, vai para
São Paulo
com
a esposa, clandestinamente. Em 1965 nasce seu filho, Daniel Carvalho
de Souza, e, sem poder trabalhar, foi sustentado pelo irmão
Henfil. Em 1966 teve uma úlcera perfurada, operou-se no Hospital
das Clínicas e o médico garantiu que ele teria 5%
de
possibilidade de sobreviver. Dias antes do Natal foi preso pelo
DOPS. Depois de libertado, por causa de sua doença e pela
tentativa de conseguir informações, Betinho entra
no Consulado do México e passa por severas privações.
Viaja para Cuba em 1967, como representante do Brasil na Organização
Latino-Americana (OLAS), mas com a morte de Che Guevara, a OLAS
não funcionou. Fez, sozinho, um roteiro para despistar os
ditadores: Montevidéu, Buenos Aires, Paris, Praga, Irlanda,
Canadá, Cuba. De volta ao Brasil, vai trabalhar em uma fábrica
de porcelana no ABC paulista para conhecer a realidade operária.
Em 1970, termina seu casamento com Irles e, no mesmo ano, conhece
a nissei Maria Nakano, com quem viveria até o final de sua
vida. Maria é considerada por Betinho como a principal testemunha,
companhia, miragem e verdadeiro amor de sua vida. Eles tiveram um
filho, Henrique, o qual considerava um raio de luz nos seus 47 anos.
Em 1971, com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar
no Chile, sem consentimento da direção da AP. Lá,
mora com José Serra que lhe arranja um emprego na Flacso
e publica um livro sobre a ditadura: O Perverso Milagre Brasileiro,
mas assinou-o como Rodrigo Alarcon. Em Santiago trabalha com Joan
Garcez, assessor de Allende, deposto em 1973, pelo general Augusto
Pinochet. Para escapar da ditadura do Chile, em 1974, Betinho e
Maria foram para a embaixada do Panamá e ficaram por lá
dois meses. Mais tarde, exilou-se no Canadá, onde conseguiu
uma bolsa na York University e, de solidariedade em solidariedade,
chegou à Universidade como professor. Fez doutorado, porém,
não terminou a tese, porque veio a anistia. Organizou um
centro de estudos e recebeu vários convites para trabalhar
em universidades canadenses.
De
1978 até a anistia, em setembro de 1979, o México
o acolheu. Na Universidade Nacional Autônoma do México
(UNAM) organizou seminários, introduziu autores marxistas
americanos e considera este, um período rico em aprendizagens.
Voltou ao Brasil embalado pela música “O bêbado
e a equilibrista” de João Bosco e Aldir Blanc gravado
por Elis Regina, sob uma forte emoção. Ajuda a fundar
o Instituto de Estudos da Religião (ISER) em 1980. O Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE)
foi criado em 1981, considerado uma entidade de caráter suprapartidário
e supra-religioso, dedicada a democratizar a informação
acerca das realidades econômicas, políticas e sociais
do Brasil, onde trabalhou até os últimos dias de sua
vida.
A idéia do IBASE ocorreu da sua experiência durante
o trabalho internacional, onde o contato entre o parlamentar e sua
comunidade é mais estreito, como afirma Carlos Afonso, um
dos economistas colaboradores. Betinho preferiu, então, conquistar
a sociedade em vez do Estado, e não apostar nos partidos,
pois achava que não representavam as prioridades. O IBASE
continua com os ideais de Betinho, e é voltado para a cidadania.
Em 1982, junta-se a um grupo de estudiosos preocupados com a integração
e o desenvolvimento das ciências sociais na América
Latina para fundarem, no Rio, o Cebela — Centro Brasileiro
de Estudos Latino-Americanos. Wanda Figueiredo, ao falar da vida
excepcional de Betinho, cita ainda dezenas de iniciativas que resultaram
da Ação da Cidadania, como o Comitê de Entidades
no Combate à Fome e pela Vida (COEP), que nasceu como comitê
de empresas estatais e rompeu os seus limites, sempre ajudando o
mais necessitado.
Em
1985, ele, Henfil e Chico ficaram sabendo que estavam com Aids,
doença adquirida através das transfusões de
sangue contaminado. No ano seguinte, ele funda a Associação
Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) com um grupo de profissionais
de diversos setores da vida política. Henfil morre em janeiro
de 1988 e Chico Mário em março do mesmo ano. Betinho
continuou
trabalhando incansavelmente pela cidadania: é Defensor do
Povo da Cidade do Rio de Janeiro; participa da Campanha Não
Deixe Sua Cor Passar em Branco; recebe o Prêmio Global 500;
é indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz e organiza
documento “Carta da Terra”, pela luta da reforma agrária.
Em 1992 liderou o Movimento pela Ética na Política,
que culminou com o impeachment do então presidente Fernando
Collor de Mello, em setembro do mesmo ano. Depois do impeachment,
dedicou-se à Ação da Cidadania contra a Miséria
e Pela Vida. A campanha de Betinho objetivava a promoção
da cidadania, o direito ao emprego e a luta pela terra. Em 1994,
lança a Campanha “Natal sem Fome”, que arrecadou
milhares
de toneladas de alimentos. Participava incansavelmente de movimentos
pela integração dos povos, como a Caminhada pela Paz
do Movimento Reage Rio, em novembro de 1995 e o desfile no carnaval
de 1996, quando foi homenageado no enredo da Escola de Samba Império
Serrano, com o tema “E verás que um filho teu não
foge à luta”.
Muito doente, Betinho continuou apresentando alternativas –
foi considerado o homem das idéias pelo jornal O Globo –
e, entre os anos de 1996/1997, apresentou uma proposta para a Agenda
Social Rio 2004, ao Comitê Olímpico Internacional,
quando o Rio de Janeiro se empenhou em sua candidatura, em 1996.
Lançou a Agenda Social Rio 2000, na tentativa de lutar pela
melhoria da qualidade de vida, no Rio de Janeiro e, em 1997, em
um encontro com empresários de todo o país, lançou
a campanha de adesões ao “Balanço Social”,
uma espécie de balanço financeiro onde os indicadores
são os investimentos sociais feitos por empresas.
Aos 61 anos de idade, no dia 9 de agosto de 1997, Betinho morre
em sua casa, no Rio de Janeiro, vítima da hepatite C. Em
11 de agosto seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas no seu
sítio em Itatiaia, seu lugar preferido. Segundo o sociólogo,
a participação deve
ser uma oportunidade efetiva, acessível a todas as pessoas,
e é preciso que ela assuma formas diversas: participação
na vida da família, do bairro, da cidade, do país.
Betinho não foi apenas participativo, pregou a igualdade,
a liberdade, transbordou-se de diversidade e é sinônimo
de solidariedade. Sua vida retrata estes cinco princípios
da democracia, consolidando um exemplo inigualável de vida
para todos.
Em 2004, a Campanha contra a fome ou Campanha do Betinho, conta
com cerca de dois mil comitês no país. Cada comitê
mantém os princípios de autonomia: ética, transparência
e solidariedade. Muitos eventos foram e continuam sendo alavancados
pela Ação da Cidadania. A Ação já
rendeu mais de 10 teses de doutorado e mestrado, o que demonstra
sua importância na realidade brasileira.
Publicou centenas de artigos, ensaios e os livros: Estreitos Nós
(crônicas), Em Defesa do Interesse Nacional (coletânea
de textos de vários autores), No Fio da Navalha (biografia),
A Cura da Aids (ensaios sobre AIDS e Política de Saúde),
Ética e Cidadania
(entrevista), A lista de Ailce (crônicas), Como Se Faz Análise
de Conjuntura, O Estado e o Desenvolvimento Capitalista no Brasil,
A Zeropéia, A Centopéia que Pensava e A Centopéia
Que Sonhava. Finalizo a síntese com a fala de Betinho no
documentário “Os três irmãos de sangue”
quando diz: “Temos uma grande capacidade de diagnóstico,
de análise. Quando chega o momento de ação
pegamos o boné e vamos embora”. E ainda: “Política,
antes de tudo, é sonho, é criação de
sentido para as relações que estabelecemos com os
outros seres humanos, é capacidade de comover-se e indignar-se”.
MONTES
CLAROS NO CENÁRIO DAS ARTES
PLÁSTICAS BRASILEIRAS
Felicidade Patrocinio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
Para aqueles que objetivam um conhecimento completo das Artes plásticas
brasileiras, contextualizadas a partir do séc. XX até
a contemporaneidade, será necessário incluir no roteiro,
uma passagem pelas expressões artísticas de M.Claros.
Podemos explicar. Montes Claros localiza-se no estado de Minas Gerais,
e este é reconhecido como o berço da identidade artística
brasileira, desde quando o mestre escultor e arquiteto Antonio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho, o pintor Ataíde e outros,
marcaram de maneira definitiva, as paisagens montanhosas das Minas,
com as suas obras estéticas. Foi através dessas primeiras
expressões artísticas, genuinamente brasileiras contornadas
pela plástica do Barroco, que alvoreceu o Brasil.
Da mistura de etnias divergentes, fermentadas no “caldeirão”
dos tempos de colônia, com mais intensidade no solo aurífero
das Minas foi surgindo o que poderíamos denominar de “brasilidade”,
uma nova identidade que recolhia nas marcas ancestrais o que havia
de mais forte e belo e atualizava na influência do novo contexto.
E a resposta brasileira à essa simbiose cabocla, cafusa,
mameluca e mulata, resultou num sincretismo cultural de rara beleza.
A partir dessa estreita familiaridade com o Belo, no seu jeito introspectivo,
mas sensível, o mineiro permaneceu antenado, com pés
no chão, mas olhos no mundo, captando as mudanças
de rumo deste com os seus conseqüentes reflexos nas artes.
Assim transplantou as influências do modernismo que já
invadira S.Paulo a partir do movimento de modernização
das artes no ano de 1922, marcado pela Semana de Arte Moderna. Absorvendo
aquela manifestação que “transtornou”
e transformou a atmosfera pictórica do país, Minas,
reinventou a sua modernidade, acrescentando nesse cenário,
através das mãos do então governador Juscelino
Kubistchek, a doce e forte figura do pintor e professor de arte
Alberto da Veiga Guingnard, cujos traços, cores e lirismo,
invadiram para sempre as Minas, levando reflexos e influências
aos Gerais mais distantes.
Por tudo isso e mais, ontem e hoje, a vasta região de Minas
é, um canteiro de artes sem limites, mas, como as Minas e
os Gerais perfazem uma vasta região, necessário se
faz estreitar o foco para uma percepção introdutória.
Vemos aí, então a possibilidade de priorizarmos a
nossa terra, Montes Claros “Cidade da Arte e da Cultura”,
já que neste cenário fermenta e é fecunda a
semente da mais legítima intelectualidade. Esta cidade, que
se localiza num ponto distante no gerais, bem ao norte das minas,
destaca-se no cenário nacional por vários fatores
como: a riqueza e diversidade de suas manifestações
artísticas, um folclore vivo e contagiante, sedia o Conservatório
Estadual de Música Lorenzo Fernandez, que tem o maior número
de matrícula entre os Conservatórios da América
Latina. É sede de uma grande universidade pública
e de inúmeras faculdades particulares, tornando-se, na última
década em importante pólo
universitário brasileiro. É, também, o segundo
entroncamento rodoviário do país, o que sinaliza o
trâmite de influências culturais, mas, principalmente,
tem uma vocação impar para as artes em todas as suas
modalidades, sustentando, desde o ano de 1984 o título de
“Cidade da Arte e da Cultura”. Por isso dentre os muitos
nomes da terra, que bem poderiam representar este slogan, escolhemos
três para um primeiro registro pelo que conseguiram no cenário
das artes plásticas: Raimundo Colares, Konstantin Christoff
e Yara Tupinambá, nomes que são referências
do que há de mais legítimo e elevado na pintura brasileira,
com reconhecimento em todo o território nacional e até
no exterior.
Há muito, tínhamos a curiosidade de conhecer por inteiro,
estes mitos. O propósito deste estudo ofereceu-nos a oportunidade.
Diante da extensão e beleza das suas obras, da complexidade
de suas histórias exigimo-nos esforço e minucioso
cuidado na tarefa de selecionar e restringir ao máximo, para
atender as particularidades deste específico espaço.
Apresentamos então, uma síntese ainda mínima,
mas elucidativa de suas personalidades e obras. Mesmo assim, será
necessário dividir o conteúdo em três
capítulos, publicando-os separadamente nas revistas número
4, 5 e 6, devido ao perfil desta publicação, cuja
totalidade inclui muitos artigos de autores diferentes. Escolhemos
o artista Raymundo Colares para iniciar este percurso.
RAYMUNDO COLARES
Raymundo Colares é considerado com unanimidade como um dos
mais expressivos artistas da geração 60/70 do país.
Sua arte é considerada absolutamente única no cenário
brasileiro.
Colares, surge num momento de transição e sua arte
se apresenta como uma mescla e síntese de múltiplas
fontes:construtivismo, pop, futurismo, minimal arte, cubismo, geometrismo,
o que a classifica como contemporânea.
De
acordo com a especialista em arte”. Lígia Canongia,
“Colares é intelecto, e emoção, clareza
e caos, consegue fazer conviver os domínios excludentes e
confluir os opostos”.
Sua vida inicia-se entre Grão Mogol/MG onde nasce, e Montes
Claros para onde se transfere aos 6 anos de idade, cidade que amou
e adotou como sua, onde construiu a sua memória e o seu imaginário
criativo. Nascido aos 25 de Abril de 1944, quinto filho entre os
nove de Felicíssimo Colares e Joana, Raimundo Felicíssimo
Colares passou a infância numa casa no centro da cidade, numa
esquina da rua Dr. Santos com Dom Pedro II, cujo espaço retangular
era o espaço sobrante de uma grande construção
em
forma de L, o maior e mais moderno cinema de Montes Claros: o Cine
Fátima. Do seu quintal podia-se ouvir a música e os
diálogos dos filmes que Raimundo acabava assistindo no grande
salão auditório. Colares amou a arte do cinema e com
ela conviveu estreitamente. Fazia álbuns de cinema e colecionava
fotos de artistas. Adorava ler histórias em quadrinhos, gibis,
colecionava-os. Era um menino introspectivo, algumas vezes brincalhão.
Lia exageradamente, muito cedo se tornou culto.
Tinha uma boa relação com os irmãos e pela
mãe, adoração. Admirava-a na sua força
e doçura. Separada do marido regia a prole sozinha.
Colares fez o curso primário no Colégio Imaculada
Conceição, colégio de freiras católicas
e continuou como seminarista no Seminário Diocesano Nossa
Senhora Medianeira de todas as Graças, a principal escola
de formação de padres da cidade. No Seminário
ficou pouco tempo, apenas 2 anos, de lá seguiu para o Colégio
Estadual Plínio Ribeiro, a conhecida Escola Normal de Montes
Claros até a segunda série do curso Científico,
ao conquistar, através de concurso, o prêmio Bolsa
de Estudos da Sudene , para terminar o curso em escola preparatória
para o curso superior, na Universidade da Bahia, em Salvador. Raimundo
morou em Salvador durante um ano, encantou-se com a cidade, descobriu
os seus alagados e os pintou na série do mesmo nome. Foi
lá que tomou conhecimento das artes de Piet Mondrian e Paul
Klee, figuras estas que irão revolucionar as suas idéias
ambos, pintores geométricos abstratos. Esses personagens,
com suas artes, fascinarão Colares que imediatamente começa
a pintar.
Há relatos que comprovam a atração de Colares
para o mundo das artes desde a infância, além do contato
assíduo com o cinema, gostava de desenhar e desenhava bem.
Após os primeiros contatos com a arte moderna em Salvador,
pesquisou muito e estreitou os laços de afinidade com Mondrian.
Vimos no acervo dos seus objetos, papéis com traços
e escritos, onde lemos, “Mondrian... ainda entenderei este
cara”. Raimundo descobre-se artista e decide mudar sua trajetória,
dispensa a bolsa de estudos. De Salvador escreve aos pais comunicando
a desistência do curso de Engenharia e a pretensão
de inserção no mundo das artes. Transfere-se para
o Rio de Janeiro.
RAIMUNDO
NO CENÁRIO DAS ARTES NO RIO DE JANEIRO.
A grande metrópole, porta aberta do Brasil para o mundo o
impressiona.
Era o ano de 1965 e Colares tinha entre 20 e 21 anos. O Brasil vivia
a ditadura militar, gerada no golpe de 1964. No contato com a grande
cidade, Raymundo se depara com o progresso, a velocidade, a nova
arquitetura construtivista, o contato com as grandes personalidades
artísticas emergentes, e a geometria que já se acendera
no contato com Mondrian, vão causar a febre criativa de uma
arte única. Até então, autodidata, Colares
inicia contato com expoentes renomados da arte contemporânea
brasileira. Para sobreviver na grande metrópole e paralelo
ao trabalho nas telas, desenvolve um outro que depende também
de criatividade; desenha jóias para a H. Stern. Volta a M.Claros
por um tempo retornando
ao Rio no ano seguinte com a intenção definitiva de
desenvolver efetivamente a sua arte. Em 1966 faz vestibular e se
matricula na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), que abandona
no ano seguinte devido as aulas não corresponderem à
sua expectativa. Continua com suas experiências primordiais
como autodidata, em busca de métodos de criação
mais livres.
Foi nesse período (1966) que tentou pela primeira vez uma
seleção no Salão Nacional de Arte Moderna,
enviando 2 trabalhos, não sendo aceito.
Já no ano de 1967, em busca de referências essenciais
aproxima-se de Ivan Serpa e freqüenta por um tempo os seus
cursos livres no MAM, contudo, sem abandonar as suas pesquisas e
experimentações pessoais. Neste ano de 1967 já
participava de coletivas importantes, por exemplo, a mostra Nova
Objetividade Brasileira no Museu de Arte Moderna daquela cidade(MAM-RJ),
a qual participou, a convite do artista Antonio Dias e da V Exposição
de Arte Brasileira, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio. Participará
também de mais um Salão de Arte, o Salão de
Arte Contemporânea de Campinas. Integra-se à vanguarda
brasileira de artes plásticas, ao lado de expoentes como
Wanda Pimentel, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Antonio
Manuel, Lígia Pape,
Hélio Oiticica e outros, mas será a partir de 1968
que começará a sua colheita de prêmios.
O montesclarense afirma-se como artista e passa a vender a sua arte
em galerias importantes como as Bonino e Klabin. Por alguns períodos
ministrará aulas de arte no Curso de Arte e Atelier Livre
do MAM e ensinará desenho num colégio de Niterói.
Em 1969 realizará a sua primeira exposição
individual no Copacabana Pálace no Rio de Janeiro.
No período entre os anos de 1968 a 1980, conquista 11 prêmios,
os mais significativos no campo das artes plásticas brasileiras
daqueles tempos.
Aqui
registramos todos esses prêmios na sua ordem cronológica:
-1968: Isenção do Júri (Salão Nacional
de Arte Moderna (MEC-RJ), 2º Prêmio de Pintura do Salão
Esso do Artista Jovem (MAM-RJ); Medalha de Ouro do Salão
Paulista de Arte Moderna, Prêmio Aquisição no
Salão da Prefeitura de B.Horizonte.
-1969: Seleção Prévia da Representação
Brasileira à Bienal de Paris (MAM-RJ)1º Prêmio
Salão de Transportes (MAM-RJ), Prêmio de Aquisição
no Salão de Prefeitura de Belo Horizonte.
-1970: Prêmio Viagem ao Exterior do Salão Nacional
de Arte Moderna, Prêmio IBEU na Mostra O Rosto e a Obra, na
galeria desse Instituto c/ acréscimo de passagem p/ EUA e
convite para expor na Art Gallery of the American Cultural Institute
de Whashington.
-1977: Prêmio Aquisição na Exposição
Arte Agora 1, promovida pelo Jornal do Brasil e Museu de Arte Moderna
do R.Janeiro.
-1980: Prêmio Aquisição no Arteboi, Salão
de Artes Plásticas de M.Claros.
-Fala-se também de um primeiro prêmio conquistado aos
23 anos de idade, na V Mostra do Ciclo Retrospectivo de Arte Brasileira,
na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
A
partir de 1970 Colares estará produzindo os seus famosos
gibis, livros objetos feitos com papel recortado e colados em composições
geométricas, que a princípio venderá muito
barato. Sua irmã Terezinha (em entrevista à autora)
dirá que Raimundo apreciava muito a música e interpretação
de Roberto Carlos. Então ficava muito feliz, quando, com
o dinheiro da venda de um gibi, comprava duas fitas cassetes de
Roberto Carlos. Esses gibis, arte objeto, hoje requisitados, procurados
e pesquisados, são reconhecidos como valiosos no cenário
da arte contemporânea. Através do seu manuseio o artista
conseguia a participação e interação
do espectador, aspecto que o preocupava.
Hoje, esses pequenos gibis são comercializados por mais de
R$50.000,00 cada.
Outra expressão que Colares experimentou com originalidade
foi a literatura. Compôs poemas neoconcretos com os quais
presenteava amigos, ou os abandonava nos próprios espaços
em que nasciam. Alguns eram recolhidos num caderno que sempre perdia.
No entanto, alguns dos que foram salvos estão presentes no
livro editado pelo Centro Cultural Light.
A ARTE GEOMÉTRICA DE RAIMUNDO
Todos os críticos brasileiros de arte, de expressão
dessa época, sentem-se motivados a uma observação
mais apurada dessa genuína arte geométrica e tentam
classificá-la. Buscam nela alguma justificativa pop, já
que no momento a pop art explodia nos Estados Unidos. No entanto,
a estudiosa da arte de Colares, Lígia Canongia, refutará
essa possibilidade, ao conferir nos diferentes espaços culturais
e políticos, momentos antagônicos, enquanto a pop arte
norte americana brotava da dinâmica do mundo moderno, onde
é imensa a neutralização do homem contemporâneo
como sujeito, transformado em massa, sem identidade, apenas número
e coisa, paralelamente, aqui no Brasil em meio a plena ditadura,
a luta pela vida começava literalmente no corpo a
corpo, homem versus homem, uma luta em primeiro lugar pela sobrevivência
física num contexto repressor de muita vigilância e
controle.
Em relação à pop art reconhecerá “apenas
a mediação de alguns elementos formais semelhantes”.
Justifica Lígia Canongia que,
”Se a obra de Raimundo Colares é uma mescla, uma síntese
de múltiplas fontes, que vão da arte construtiva ao
pop, do futurismo à arte minimal, do cubismo ao cinema ou
aos comics, é porque ela é antes de tudo, uma obra
contemporânea, com, através e malgrado suas influências
modernas” (Pág. 14, texto Análise das Referências,
livro Raymundo Colares Trajetórias, realização
Centro Cultural Light, 1997). Para um maior entendimento, lembramos
que a arte contemporânea, muitas vezes, traz elementos da
arte moderna, só que mais voltados ao conceito, o que aconteceu
a partir dos anos 60, obrigando-nos a busca desse conceito até
mesmo nas pinturas figurativas e construtivas. No caso de Raimundo,
devido ao tema dos ônibus somos remetidos ao conceito velocidade
e por extensão à “fragmentação
do espaço e do tempo do próprio homem urbano das grandes
cidades (pág. 9, texto sobre o artista e a Exposição,
livro Raymundo Colares Trajetórias, Centro Cultural Light,
RJ, 1997).
Mas, será o próprio Raimundo que se verá influenciado
pelo futurismo italiano e o cinema, tentando sínteses a partir
da influência dos fotogramas da sétima arte e as histórias
em quadrinhos com as quais conviveu estreitamente desde criança,
paralelo às sensações de impacto vivido diante
da velocidade urbana nos grandes centros e o desconcerto do homem
no tempo, a partir da vida moderna.
Colares tinha uma preocupação interessante, “queria
ampliar a escala da sua pintura através de processos mecânicos
como o silk screen, processo de reprodutibilidade técnica,
aspecto que indiretamente remete a linguagem pop.“ De acordo
com relato de sua irmã Terezinha Colares, ele queria democratizar
a sua arte, propiciar a todo o tipo de público o acesso à
sua pintura.
Por isso através de sua técnica e fala, não
só sugeria, mas propunha espaço e condições
para que qualquer pessoa, através de manuseio pessoal pudesse
fazer uma cópia do seu trabalho, em vários tamanhos
e ou materiais, fato inédito no meio dos artistas.
Ele
disse: ”Com isso eu pretendo tirar a minha arte exclusivamente
das mãos do burguês colecionador. Uma pessoa que tenha
quadro meu, vai ter porque gosta e sabendo ainda que qualquer outra
pessoa pode, se quiser, ter o mesmo quadro. Pois qualquer quadro
meu pode ser reproduzido, sem perder sua autenticidade. Nos meus
quadros não há pincelada solta nem o chamado toque
artístico. Por isso qualquer pessoa que os copie obedecendo
a sua estrutura, não estará alterando em nada o trabalho,
que continuará a ser tão meu quanto antes. A minha
principal preocupação é que o quadro não
fique preso apenas a um colecionador ou a um só trabalho.
A única coisa que se gasta é o material. Esse negócio
de direito autoral não existe para mim. Existe, isso sim,
o prazer que alguém se interesse pelo meu trabalho, o reproduza
ele mesmo, e o coloque lá na sua parede, pendure no seu teto,
ou simplesmente pose-o no seu chão. Agora, eu cobro por essa
reprodução, afinal eu vivo disso” (Texto: Colares:
o ônibus e as barreiras a vencer. Jayme Maurício. Correio
da Manhã.1969).
De acordo com o dito vê-se que o artista pode perder a autoria
artesanal da obra, sem prejudicar a sua autoria intelectual, aspecto
bastante discutido na área artística ao longo do século
XX. E, como descreveu acima sua arte apresenta original figuração
de ônibus com cortes e fragmentações denotando
velocidade, e tem colorido vibrante e atraente, com predomínio
do vermelho e amarelo.
Desde o início de sua estadia no Rio de Janeiro, Raimundo
conquistara a companhia de artistas ligados à linguagem construtivista,
com os quais descobrirá afinidades, no entanto, sua figuração
exclusiva denunciará lances futuristas na forma de captação
“dos ritmos de uma urbanidade atual onde a interpenetração
dos ritmos visuais essencializam os movimentos de veículos
automóveis no trânsito de uma cidade grande”
(Pág. 61 texto Trajet e Trajetória de Roberto Pontual,
livro Raimundo Colares Trajetória C. Cult. Light 1997). A
sua forma de representação denota” um sufocamento
e reflete o assombro de alguém que viera de sua pequena cidade
de origem para enfrentar a realidade espasmódica de
um centro urbano de pleno ritmo, o Rio de Janeiro”. (pág.
61 L. Raimundo). Na introdução de uma dimensão
orgânica ou humanista em estruturas originalmente tão
rígidas, Colares, em oposição à ortodoxia
concretista, agrega elementos expressionistas. Há quem defenda
que “a emoção é sempre o ponto de partida
de suas trajetórias” (pág. 62 L.Raimundo). E
não poderia ser diferente a conclusão para todos aqueles
que conheceram Colares pessoalmente, a pessoa Raimundo transparecia
uma sensibilidade quase que comovente,” um misto de paixão
e candura”(pág. 62 L. Raimundo) que parecia buscar
“um pouco de ternura ou
de compreensão”(pág. 63, Frederico Morais, O
globo - 1983). Confrontamos alguns textos técnicos e científicos
desses críticos de arte com relatos de alunas dos Cursos
de Artes Plásticas do Conservatório de Música
Lorenzo Fernandez de Montes Claros Num artigo de Marluce Ramos,
publicado em jornal da cidade após a sua morte lemos: “Seus
problemas existenciais pareciam maiores que ele próprio.
Recusava-se a aceitar os padrões de vida que a sociedade
impusera para todos. Era-lhe difícil submeter-se a
conceitos tradicionais, e aceitar um mundo cheio de preconceitos
e repressões” e então concordamos com aqueles
que o chamaram de “James Dean desglamourizado.” Vê-se
que não só visualplásticamente, mas também
psicologicamente que, “ele sempre
esteve em trânsito, a caminho, está sempre saindo,
sempre chegando. Um bólido no espaço”,(pág.
63, texto Frederico Morais(O globo, 1983)Texto, O sonho não
acabou, de volta à estrada, Colares busca novos caminhos,
livro Raimundo Trajetória. Centro
Cult. Light. 1997). Daí, concluimos daí os flashes
dos ônibus em movimento.
RAIMUNDO PROFESSOR DE ARTE
Após gozar o prêmio Salão Nacional MEC-RJ de
Viagem ao Exterior, que o levou a residir nos EUA por seis meses
e depois na Itália por 18 meses, Colares retorna ao Brasil,
especificamente à sua “aldeia” Montes Claros.
Sentia saudades e desejo de rever os amigos e a paisagem da infância
e adolescência. No ano de 1972, colaborou
para a criação do curso de Decoração
no Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, então
dirigido por D. Marina Helena Fernandez Silva. Montes Claros vivia
naquela época um momento especial no que se refere às
artes. O movimento artístico do Conservatório que
viria a ser por muitos anos o primeiro em número de alunos
no Brasil devido ao dinamismo da sua diretora e à resposta
positiva da população, contaminava a todos e a cidade
respirava os novos ares da arte. A força e o prestígio
de D. Marina, filha do compositor Oscar Lorenzo Fernandez, que viera
do Rio de Janeiro, trazia para a cidade artistas importantes no
cenário nacional para apresentações e cursos,
ocasionando um bom intercâmbio artístico com outras
metrópoles. Montes Claros era mesmo um point da cultura.
Convidado a emprestar o seu talento e conhecimento artísticos,
Raimundo se infiltrou no meio de tudo isso disponibilizando a sua
genialidade e inteligência, contribuindo para o excelente
nível do curso de Decoração, nos seus primeiros
anos, apesar de já ser usuário de drogas, em avançado
grau de dependência. De acordo com depoimento de algumas alunas
das primeiras turmas do referido curso, Raimundo lecionava várias
disciplinas em um mesmo período; Desenho, Pintura, História
da arte e Composição Artística. As suas viagens
e permanências nos Estados Unidos e na Europa, paralelo à
sua experiência gloriosa no cenário das artes brasileiras
alargaram a sua dimensão intelectual que desde jovem se mostrara
plena de profundidade e erudição. Tornara-se poliglota,
traduzindo em aula simultaneamente ao ler, vários textos
de livros europeus e americanos. Conseguia transmitir com lealdade
tudo que aprendera (depoimento das alunas Marluce Ramos e Lúcia
Becatini).
Apesar da simplicidade, tinha personalidade forte e marcante e os
alunos que o adoravam, nos momentos difíceis de crise, o
protegiam. Durante os anos de magistério, Colares precisou
interromper esse exercício várias vezes para atividades
e participações no Rio de Janeiro e as vezes para
proceder a tratamentos contra a dependência das drogas. Internou-se
algumas vezes, em São Paulo e mesmo em Montes Claros, apesar
da cidade não possuir
ainda, espaço de saúde especializado na área
em que o seu problema requeria. De acordo com depoimentos de alunos
a sua contribuição como professor foi imensurável
para as suas formações de estetas.
TRAJETÓRIA INTERROMPIDA
A dependência das drogas intensificou-se, levando Raimundo
à ruína.
Após várias tentativas de desintoxicação
e cura, em março de 1986, Raimundo por vontade própria
se internou no Prontomente, de Montes Claros, instituição
ainda precária, mas paliativa, para tratamento de doenças
mentais. Buscava alívio para a sua dependência das
drogas.
Após alguns dias, amarrado à cama que se incendiou,
não se sabe como (fala-se em cigarros) queimou-se vivo quase
que na completude física. Seu corpo apresentou o que na medicina
se classifica como “grande queimado”. Transladado para
o CTI do Hospital São Lucas, onde resistiu por 3 dias, faleceu
no dia 28 de março, uma Sexta-feira da Paixão, deixando
em estado de choque a cidade de Montes Claros, e transtornado, o
mundo artístico do Brasil.
O nome de Raimundo se fez sinônimo de grande arte e é
reverenciado como presença marcante na história da
arte brasileira. O colecionador de arte, dono de um dos maiores
acervos privados do Brasil, João Sattamini que adquirira
grande parte da obra de Colares, hoje a disponibiliza eventualmente
para mostras de peso. Elas são expostas, eventualmente, no
MAC/Niterói, onde eu tive o orgulho e a satisfação
de contempla-las reunidas, o que propiciou a mim uma visão
do conjunto da obra. Fiquei impressionada, pude então perceber
a dimensão, a força e originalidade desta criação.
O Centro Cultural Light no Rio de Janeiro, no ano de 1997 o homenageou
com a edição de um livro de arte com textos de Ligia
Canongia, Paulo Venâncio Filho, com transcrições
de textos dos críticos Roberto Pontual, Frederico Morais,
Wilson Coutinho,
Reynaldo Roels, além da carta poesia-diálogo de Hélio
Oiticica, paralelo a uma monumental exposição retrospectiva
no período de 9 de Julho a 24 de Agosto. Ambos os eventos
denominados de “Raymundo Colares Trajetória.
Foram filmados bons roteiros sobre o seu percurso. Um deles, ao
qual assistimos e nos emocionamos se intitula : “Colares”,
sob a direção do cineasta Sérgio Bernardes,foi
patrocinado pela Prefeitura de Montes Claros, gestão Mário
Ribeiro e a Secretarioa da Cultura do Estado de Minas Gerais.
Como se vê, pode-se fazer um paralelismo da figura do ônibus,
tão presente em sua imagética, a induzir e explorar
a idéia de velocidade e ultrapassagens rápidas da
vida moderna, com a trajetória da sua vida. Colares, após
20 anos de atividade artística ininterrupta, morreu jovem
e de maneira trágica, deixando para o mundo o legado de uma
imagética única e levando o nome de Montes Claros
ao podium mundial das artes.
Como vimos, grandeza é a medida destes mitos que homenageamos
com o nosso trabalho. Necessário se faz lembrá-los,
reverenciá-los, registrá-los para as gerações
futuras, pois o passado
daqueles que transcendem, não se apaga, torna-se história
e
esta é parte do presente e do futuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LIGHTCentro Cultural. Raimundo Colares Trajetória (Publicação:Livro
de Arte)1997.
www.macniteroi.com.br
www.art-bonobo.com
Relembrando Ray-Saudades de Ray.Artigo de Marluce Ramos.Diário
de Montes Claros-
Maio de 1986.
Panorama das artes plásticas.Séculos XIX e XX.Frederico
Morais..Inst. Cultural Itaú.São Paulo.1989.
Artes em Montes Claros.Wanderlino Arruda.in Tempos de Montes Claros.Belo
Horizonte.
1978.
Entrevista gravada com sua irmã Terezinha Colares.
Sem título, 1968 - Esmalte sobre madeira - enamel on wood
- 160 x 160 cm -
coleção João Leão Sattamini - MAC/Niterói
Ultrapassagem - pista livre II, 1969 - Esmalte sobre madeira - enamel
on
wood - 160 x 160 cm - coleção João Leão
Sattamini - MAC/Niterói
MELO
Felicidade Vasconcelos Tupinambá
Cadeira N. 36
Patrono: Felicidade Perpétua Tupinambá
Eu sou do tempo que ir ao Melo não era simplesmente ir a
um dos bairros mais importantes da cidade. Melo é um lugar
no meu passado. Sobretudo uma referência em minha infância.
Bons tempos aqueles de neta do Seu Antônio de Nico e sobrinha
de Lia do Melo.
Montes Claros, naquela época tinha seus limites muito bem
definidos. Para as bandas do Melo a cidade só vinha até
a Santa Casa. Ir ao Melo de hoje era àquela época
uma façanha. Embrenhava-se por um corredor escuro e cheio
de mato, mais conhecido por beco do Melo. Muito recomendado por
meu avô, havia bêbados e outros malucos por ali, nenhum
perigo iminente, se comparado aos dias de hoje. Luz não havia.
Logo que se entrava no beco, vinha a travessia do rio Vieira que
está ai canalizado e não me deixa mentir. À
direita se encontrava o curtume com seu mau cheiro terrível
e seus habitantes habituais, os urubus. Seguia-se mais adiante e
já estávamos de passagem em frente à Casa da
Dona Joana Nunes sentada em seu alpendre a receber a deferência
merecida de quantos transitassem pelo corredor do Melo.
Logo depois havia o seminário Diocesano, onde muitos rapazes
iam estudar para ser padre. Coisa muito rara hoje em dia. Era lá
que assistíamos às missas de domingo, com Padre Joaquim,
hoje Tiãozinho e Padre Geraldo, hoje Bispo Diocesano. Porque
ir à missa aos domingos, especialmente entre os Vasconcelos,
era dever sagrado. Mais adiante era a Casa de Dona Augusta. Seu
marido, já falecido, era dono de uma serraria e sempre era
comum
atravessarmos ali sob o barulho ensurdecedor de suas serras. Mais
à frente havia a casa de Seu Nô. Ele tinha as charretes
mais bonitas do nosso tempo de criança. Daí à
beira do rio e travessia da ponte do Melo, era um pulo. A ponte
que muitas vezes Mãe
Lia pedia para não olharmos para as laterais, pois tinha
moleques tomando banho pelados, e sempre que eles viam a presença
feminina pulavam fora d’água num exibicionismo próprio
da rapaziada daquela idade. Logo à direita vinha a chácara
com frutos em profusão, especialmente, mangas. Sempre invadida
e sempre a preocupar o “Seu” Antonio de Nico em sua
difícil missão de proteger o patrimônio dos
ricos MARCONDES de Pindamonhangaba. Uma fazenda que a cada dia ele
via se aproximando da cidade ou vice versa. É que meu avô
cuidou por muitos anos da fazenda do Melo. Desde o tempo do Dr.
Santos, que inclusive já foi prefeito de Montes Claros. Reinine
Canela é testemunha, ou melhor, vítima do zelo com
que meu avô cuidava daqueles alqueires de terra. Ele era famoso
por expulsar os meninos em piqueniques e outros programas por aquela
redondeza. Reinine foi um deles. É que de vez em quando estes
pequeniques resultavam em fogo no pasto e era difícil debelá-lo.
O prejuízo era certo.
Quem
diria que o Melo já foi fazenda de grande criação
de gado! Os Marcondes investiam pesado nisto. Waldomiro e Nei eram
nomes que sempre ouvia na minha infância. A cada ano eles
vinham de São Paulo, cada homem bonito, claros e de sotaque
àquela época muito engraçado para todos nós.
Eles subiam nas porteiras e cercas dos currais e assistiam à
contagem do gado, que logo era embarcado para os frigoríficos
através da Central do Brasil. O dia da pesagem era dia de
muita movimentação na fazenda. Era dia dos vaqueiros
vestirem suas indumentárias e fazerem seus aboios inesquecíveis.
O alpendre da fazenda ficava cheinho deles. O almoço era
sempre servido de maneira farta e muito cedo, pois a lida deles
começava bem antes do sol sair e lá pelas nove horas
da manhã já era hora de pegar a “bóia”.
Estavam lá Seu Aurino, seu Antônio Baixinho, o mais
engraçado de todos, Zé Vermelho, que fazia jus ao
seu apelido. São os que me lembro mais. Depois do almoço,
entre um cigarrinho de palha e outro, eles contavam “causos”
a que ouvíamos com os
atentos ouvidos de criança. Daí minha admiração,
mais tarde, pelos livros de Guimarães Rosa , especialmente
Grandes Sertões Vereda, onde pude reencontrar toda esta gente
e matar a saudade destes tempos da minha infância. Meu avô
era um sujeito carrancudo, e se se baseasse apenas à primeira
vista, se perderia a oportunidade de conhecer uma pessoa doce, honesta
e pura de que já tive notícia. Sua dignidade sobrevive
ainda hoje na postura correta dos filhos que lhe sobreviveram: RAIMUNDA,
minha mãe, TEREZINHA, que pela sua dedicação
de tanto tempo ao cartório de primeiro ofício é
mais conhecida por Terezinha do Cartório, ZUCA que mora em
Belo Horizonte e JOÃO que a cada dia se parece mais com o
meu saudoso avô. Os outros filhos, Augusto, José, Luiz,
Lia, Tiana já não habitam mais este mundo. Foram se
juntar ao Seu Antônio de Nico e Dona Geny. Já ia me
esquecendo de dizer que conheci minha vó apenas através
das inúmeras lembranças que a minha mãe tem
dela. Ela morreu de forma silenciosa, como muitos morriam naquela
época. Muito cedo. Algum mal do coração, pressuponho.
Naquela época não havia os avanços que a Medicina
tem hoje. Entretanto, ai é que entra a figura de Mãe
Lia, a que me referi há pouco. A filha mais velha de Sr.
Antônio de Nico tomou conta de todos os irmãos permanecendo
solteira por longo tempo. Dado à responsabilidade e dedicação
com que serviu à sua família, todos os netos passaram
a chamá-la de Mãe Lia. Sua bondade, simpatia e postura
lhe valeram muitas amizades e ela ainda é lembrada até
hoje pelos que conheceram o Melo daquela época.
Mais
tarde, e já idosa, ela veio a se casar, realizando assim
o sonho, acho, de todas as mulheres de seu tempo. O casamento aconteceu
na igreja de São Norberto e foi preparado por algumas de
suas sobrinhas. Pouco tempo depois ela veio a falecer. Creio
que está em lugar muito especial no céu, onde os justos
descansam.
Além
dos filhos de seu casamento com Dona Geny, “Seu” ANTÔNIO
DE NICO teve outros filhos e nem por isto menos amados. Tio GERA,
filho de um dos seus melhores amigos, o compadre LUNINHA, e que
sobrevivera a um parto complicado de sua mãe Dona Sérgia;
LURDINHA que virou a madre de todos nós. Uma alma bonísima
e que sempre nos protegeu em nossa infância cheia de traquinagens
e perigos. Tinha o ROQUE que ajudava mais meu avô na lida
com o gado. Além do compadre Luninha, outro grande amigo
do meu avô e que ele estimava muito era Geraldo Alaor.
O MELO era antes de tudo a casa do nosso avô. E, como toda
a casa de avô, era sempre uma festa. Aos domingos os filhos
se reuniam lá. E assim “Seu” Antônio via
sua família ir crescendo. Adorava os netos. Sua escrivaninha
em seu quarto tinha uma gaveta que era assim o tesouro que sempre
perseguíamos. Era cheia de bala e outras guloseimas que ele
sempre nos presenteava depois do almoço.
“Seu” Antônio de Nico era metódico e sempre
fazia suas idas à cidade em seu cavalo branco, e sempre o
deixava amarrado na esquina da Av. Afonso Pena com Presidente Vargas,
bem perto da casa de dona XININHA sua irmã, outra pessoa
de quem guardamos lembranças muito agradáveis. A casa
de dona Xininha, na Afonso Pena, era o porto seguro dos que vinham
do Melo para a cidade e de muitos que vinham de Coração
de Jesus, que era a cidade natal dela, do meu avô e de muitos
dos seus filhos, inclusive minha mãe. “Seu” Antônio
fazia suas compras, guardava-as nos alforges e voltava para o Melo.
Durante um tempo, uma das minhas irmãs, a LÚCIA, morou
com meu avô e ele a levava para estudar no Grupo Francisco
Sá todos os dias. Ela já era crescidinha e tinha vergonha
dos colegas a verem chegar na garupa do cavalo do meu avô,
então ela pedia a ele para parar na esquina da Santa Casa
e de lá ela ia a pé, porque era pertinho. Ele era
capaz de fazer todos os nossos gostos.
O médico preferido do meu avô era o Dr. Maurício.
Cuidou muito bem do seu coração. Disciplinado como
sempre, ele passava água no vidro dos remédios para
tomá-los até o finalzinho. E, claro, fazia efeito.
Havia um movimento muito intenso no corredor do Melo. Ele era o
elo de ligação entre o Pequi e a cidade. Por lá
passavam os carregadores de leite todas as manhãs e era grande
o volume de leite tirado na fazenda e que atendia à cidade.
Havia os doidos que por lá trafegavam também. Lembro
bem de Belo Doido, que sobrevive até hoje. Naquela época
ele era a desculpa de minha mãe para que nós nos comportássemos
direito. Pelávamos de medo de Belo. Hoje ele frequenta minha
casa e as imediações onde moro e até trocamos
alguma prosa. Ele adora a música Nervos de Aço e sempre
que me encontra me pede para cantar e escrever a letra para ele.
Isto é, o dia que ele está legal. Outros dias passa
por mim e nem me reconhece. Outra figura que por
lá passava se dirigindo ao mercado central para vender bacuparí,
maracujá daqueles que se come de colher, era Formiguinha.
Ela descia muito bem comportada, mas quando retornava já
tinha experimentado mais do que devia de uma pinguinha e aí
era só ouvir o seu apelido e ela então debulhava altos
palavrões, ao que meu avô nos recriminava prontamente.
Mas parece que escutávamos só durante a pregação
do meu avô . Bastava o próximo final de semana, e ela
só passava aos sábados, para que a ladainha acontecesse
outra vez.
Aos domingos DONA GLÓRIA de seu GERMANO também passava
por lá acompanhada dos filhos.
Por
este corredor passava muita gente durante o dia, muitos tropeiros
pediam abrigo para suas tropas, enfim “Seu” Antônio
era um homem muito conhecido por aquelas bandas. Mas um passante
em especial tem sentido importante para minha história.
Meu pai e minha mãe foram na infância colegas de escola.
Estudavam num grupo que existe até hoje logo depois do viaduto
Emiliano Queiroz. Passado algum tempo, ele, em passagem pela porta
da casa do meu avô, reconheceu entre as moças na varanda
sua ex-colega e comentou com seu irmão, José, que
teria sido colega de uma daquelas moças na varanda, ao que
meu tio profetizou: Por que você não casa com ela?
E dia 31 de maio de 1954, na matriz de Nossa Senhora e São
José, onde minha mãe era irmã de Maria, sob
as bençãos de Deus e do Padre Dudu e sob a brilhante
voz de Nivaldo Maciel casaram-se HÉLIO LEAL TUPINAMBÁ
E RAIMUNDA VASCONCELOS TUPINAMBÁ.
O Melo era muito conhecido pelas festas juninas ali realizadas,
quando meus tios e tias ainda eram solteiros. Muita gente da cidade
ia para lá nas noites de Santo Antônio. As fogueiras
eram em homenagem ao meu vô que nascera num dia 13 de junho.
Tenho poucas lembranças das famosas quadrilhas ali realizadas,
mas lembro-me bem de uma senhorita lindíssima que tinha um
problema na perna , e acho que criança sempre presta muita
atenção em pequenos detalhes, ela ficou na minha lembrança.
Ela participava das quadrilhas e era das mais animadas, me parece
que o nome dela é Lia Figueiredo Andrade.
Das festas de junho lembro-me muito de um episódio acontecido
por conta da nossa traquinagem. Reunidos os netos em torno da fogueira,
que ficava num enorme terreiro à frente da casa principal,
onde hoje é o Colégio Padrão, estávamos
nós os netos, enquanto os adultos proseavam na sala de visitas
da casa. Tinha um menino de nome JOSÉ PEDRO, que meu pai
trouxe do Canto do Engenho para estudar aqui, e disse que sabia
fabricar bombas. GENY, minha irmã mais velha, sempre foi
muito independente e atirada. Ela então se prontificou logo
a arrumar-lhe o material necessário, já que sabia
que numa das gavetas do meu avô havia pólvora. Sorrateiramente
foi até lá e pegou o material. José Pedro mostrou
logo habilidade em enrolar a pólvora em papel e amarrar com
cordão e, logo, ela já tinha o formato das bombas
encontrada no mercado. Fizemos então um monte de brasa e
colocamos a bomba em cima e corremos todos, esperando o estrondoso
estouro. Nada. Voltamos temerosos várias vezes para verificar
o que estava acontecendo. Daí Geny e José Pedro tiveram
a feliz idéia de soprar para ajudar o fogo pegar. Eu sempre
medrosa, fiquei mais atrás. Sempre tive mais medo das coisas
do que minhas irmãs. Não deu outra: a pólvora
incendiou e queimou as pestanas e sombrancelhas de Geny, além
de chamuscar-lhe o cabelo.
José Pedro era a única presença masculina e
da nossa idade em casa. Somos quatro irmãs: Geny, Lúcia,
Socorro e eu. Numa ocasião, Geny passava férias no
Melo e colheu mangas diferentes e nos mandou através de José
Pedro. Dizia em seu bilhete infantil quantas mangas e de que qualidade
estavam indo para quem. Acontece que no meio do caminho José
Pedro tinha decidido provar das mangas e não sabia, porque
não sabia ler, que haveríamos de dar falta delas.
Quando ficou sabendo do acontecido, jurou em sua ignorância
nunca mais carregar bilhete, enquanto não soubesse lê-lo.
Ele ficou pouco conosco. Dia destes minha mãe me disse que
ele teria passado por Montes Claros e até teria nos procurado
para uma visita.
Chegamos a morar um tempo na casa do meu avô no Melo. É
que morávamos no Canto do Engenho, um distrito próximo
daqui, onde meu pai mexia com comércio e resolvemos vir para
Montes Claros, pois segundo meu pai já era hora de trazer
as filhas para estudar. Neste período experimentamos mais
de perto da hospitalidade do meu avô e de Mãe Lia.
Meu pai comprou uma loja onde vendia as famosas botinas de Uberaba.
A loja ficava na Rua Ruy Barbosa, 199.
Nesta mesma época estudei no Grupo Escolar Francisco Sá.
Minhas professoras eram Beatriz Veloso, Gerinha e Lígia Figuei
Geny
foi minha colega de sala desde esta época. Eu lucrei mais
que ela. Seus cadernos, desde pequena, eram mais bonitos do que
os meus. Bem desenhados e coloridos. Ela sempre teve habilidade
com seus lápis de cor. Uma vez ela foi obrigada por minha
mãe a desenhar uma bandeira nacional igual à dela
em meu caderno, já que, por não conseguir fazer uma
bandeira tão bonita ,comecei a chorar. Aliás, eu sempre
chorei muito. Aprendi a ser valente e enfrentar muitas dificuldades
mais tarde, mas não consegui eliminar as lágrimas.
Fomos morar depois na Vila Guilhermina, voltamos a morar no Melo,
depois moramos perto da Escola Normal, depois voltamos para a Vila,
depois para perto da Matriz e desde muito tempo estamos no Sagrada
Família. Mas o Melo sempre foi nosso programa de finais de
semana e de férias.
Durante o tempo de colegial na Escola Normal, juntávamos
as turmas e íamos ao Melo, Socorro Carvalho, Juarez Caribé,
Beatriz Biondi, Jessi, Antonina, Izaura, apenas para lembrar alguns
dos companheiros. Durante estas idas e vindas ensaiávamos
nossas primeiras tragadas em um cigarro e já falávamos
de muitas emoções que só a idade vai descortinando
para a gente.
O Melo sempre foi e será um lugar de muitas recordações.
Meu avô aposentou-se, mudou de lá e veio morar numa
casa que ele construiu num lote na Rua Irmã Beata, na parte
de cima. Ali ele morou até a sua morte, sempre digno e bondoso.
Já bem idoso ele assistia orgulhoso à chegada dos
bisnetos. Às vezes, quando percorro as ruas do Ibituruna,
Melo e Panorama acabo sempre encontrando com um marco que me conduz
à lembranças já tão distantes.
As mangueiras próximas ao colégio Padrão, ainda
sou capaz de escutar a nossa algazarra em folguedos inocentes em
volta delas. Sou capaz de reconhecer a mangueira onde as mangas
eram mais doces. Uma vez nossas brincadeiras lá deu um final
trágico. Uma das filhas de Seu Quelé do correio caiu
e quebrou os dois braços.
A jabuticabeira e o pé de genipapo ainda estão lá
desafiando o tempo e a nossa lembrança. Dalí à
horta era um pulo. A horta era mais ou menos onde fica a AMAMS hoje.
Meu avô sempre gostou de fartura. A comida era feita de tal
forma que quantos
chegassem, quantos eram bem-vindos. Mãe Lia era habilidosa
e seus pães de queijo com erva doce, e suas maçãzinhas
em nossos aniversários eram sua marca registrada.
Bem que duas ruas naquele bairro poderiam levar o nome de ANTÔNIO
(DE NICO) PEREIRA DE VASCONCELOS e de MARIA (LIA) PEREIRA DE VASCONCELOS.
Qualquer dia destes peço um vereador amigo para propor um
projeto destes. Será uma medida de justiça a dois
moradores ilustres daquele bairro e a condição de
eternizar estas lembranças que me são tão caras.
NO
COLO DA MÃE, A VIDA SE APRENDE!
Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa
Cadeira N. 34
Patrono: Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
I
Um
sorriso fácil derramando alegria contagiava a todos e o brilho
que reluzia nos seus olhos verdes iluminava nossa casa.
Do perfil que me vem à lembrança e que dela tento
traçar, emergem traços como coragem, simpatia, otimismo,
simplicidade, empatia, companheirismo. Destacam-se, não só
na nossa relação pessoal, mas em todo o seu jeito
especial de ser.
A vida não lhe foi fácil, apesar do sorriso e alegria
que mantinha. Mãe de cinco filhos, quatro homens e uma mulher,
criouos com pulso firme e terno. Por estar o meu pai constantemente
viajando, devido à natureza do seu trabalho como agrimensor
e que o mantinha ausente de casa por longos períodos, a ela
cabia dar andamento à formação e educação
dos filhos, dentro dos princípios e valores priorizados pelos
dois. Atenta, sabia alternar os momentos de exigências e rigor
com as levezas da alegria, da música e da poesia. Essas características
não permitiram que os grandes e graves momentos de dificuldades
e dor que também passamos pudessem descolorir nossos horizontes.
Ao
lado do meu pai se postou como uma figura forte, firme, destemida,
comunicativa, emoldurada por um lindo e permanente sorriso. Sofreu,
chorou, enfrentou e venceu dificuldades. O seu exemplo evoco sempre
que preciso iluminar os meus caminhos, quando se turvam diante de
mim. Sua maneira de ser e se conduzir é, para mim, um manual
de instrução nunca ultrapassado, apesar do tempo.
Trazendo-o carinhosamente guardado no coração, possibilita-me
grandes “mágicas” de mãe e mulher. Inclusive,
a de transformar saudades, tristezas, dificuldades e desânimos
em palavras, poesias, canções, sorrisos e esperança.
II
Cecília
Meireles, ao iniciar o seu poema Motivo, com a beleza e simplicidade
que lhe foram próprias, se define: “Canto porque o
instante existe e a minha vida está completa. Não
sou alegre, nem sou triste. Sou poeta.”
Já eu canto, porque ouvia minha mãe cantar. E me arremedo
poeta, porque com ela aprendi os primeiros poemas. Ainda muito pequena,
me lembro, ficávamos estendidas sobre sua cama, fundidas
nas dimensões da beleza e dos sentimentos. Ela declamava
para mim o Pássaro Cativo - de Olavo Bilac, uma lindíssima
história de um pássaro prisioneiro na gaiola, dos
seus anseios de liberdade e os apelos ao coração do
homem. E tantas outras mais.
Nossos saraus aconteciam ali, informalmente, no aconchego do “ninho”.
Ela declamava e eu percebia a minha mãe transformar-se: um
rubor de emoção, um brilho de estrelas nos olhos verdes,
ondas de arrepios enquanto repetia a história dos poetas
e transmitia lições de sensibilidade, emoção
e vida. Encantava-me sempre ouvi-la repetir o discurso que fez na
sua formatura de 4ª série e que foi escrito pelo Dr.
José Esteves Rodrigues. Contava, com feliz orgulho, que foi
muito aplaudida e elogiada. Momentos maravilhosos que, no meu coração,
abriram caminhos para a música e a poesia. Marcas de enlevo
e encantamento tatuando emoções e lembranças
inesquecíveis! Riquezas acumuladas na alma!
III
Ainda no colo, na pureza da alma em seus primeiros anos, defronte
ao oratório firmado no “terreno sagrado” que
ficava atrás da porta entreaberta do quarto de meus pais,
outras sementes foram plantadas: as da Fé, do Amor e Temor
a Deus. Semeadas e cultivadas por mãos predestinadas lançaram
raízes que se aprofundaram e se fortaleceram. Hoje, sustentam
os meus pés no chão, minha cabeça erguida com
dignidade, meus olhos firmados no alto e a consciência de
cidadã e filha muito amada de Deus. Foi assim, com as mãos
postas, no aconchego da minha mãe, repetindo cada palavra
sua, que aprendi minha primeira oração, e nunca mais
esqueci de rezar:
“
Anjo do Senhor, meu zeloso guardador
Se a ti me confiou a Piedade Divina
Sempre me rege, me guarda, me proteja,
Oriente e ilumina.
Amém”
Ali me foi apresentado o meu inseparável companheiro e anjo
de guarda. Um presente de Deus que as mães têm a graça
de poder abrir e mostrar aos seus filhos. Pelos anos à frente,
na simplicidade da vivência cristã dos meus pais, cuidada
e guiada pela fé e religiosidade da minha mãe, cresci.
Ainda hoje, na caminhada e busca incansável própria
do homem em direção à plenitude (corpo, mente,
espírito) em Deus, certamente, minha mãe é
presença espiritual constante que me acompanha com seu cuidado
e olhar atento.
IV
No colo da mãe, a vida se aprende. Não importa a idade,
o tempo - a mãe transcende tempo e espaços físicos.
É possível encontrá-la sempre que dela precisamos,
independentemente de estar ou não ainda entre nós.
E no seu colo continuar as lições de vida ou buscar
o beijo que cura quedas e arranhões.
Mistérios divinos envolvem a maternidade que nem à
própria mulher são revelados! Ela a exerce não
por mérito, mas como um dom. Por amor e cuidados, o Criador
enviou Seu filho através da mulher e da sua maternidade.
Por amor e cuidados, reafirmou a
maternidade como um bem à humanidade, quando o Seu filho
Jesus, como um precioso legado, proferiu as célebres palavras
dirigidas à Sua mãe: “Mulher, eis aí
teu filho.” e ao discípulo: “ Eis aí tua
Mãe” (Jo19,26-27)
V
Quando aprendi as primeiras poesias, eu ainda não ia à
Escola. Delas, me lembro de uma, que eu falava diante das rosas
que se abriam lindamente no nosso jardim, cultivadas por minha mãe.
Dizia assim:
“_
Bom dia,
linda roseira,
diz-me planta faceira
para que eu seja
como essa vermelha rosa
que ostentas,
que hei de fazer?
_ Ser boa, cara menina, e boa
crescer! “
Respondia-me
a rosa. E eu acreditava assim, pois muitas vezes me viam, pequenina,
sozinha no jardim conversando com as roseiras e suas maravilhosas
flores.
Nas primeiras séries da escola eu já sabia de cor,
e era presença certa nos auditórios, declamando, enlevada,
poesias como: Pássaro Cativo, Pátria, Fernão
Dias Pais Leme, de Olavo Bilac; Veludo, o Beijo do Papai (de autores
desconhecidos por mim), dentre tantas aprendidas sob a apreciação
dela e o seu olhar atento e orgulhoso.
Depois vieram inumeráveis versos que aprendi com outros.
Mas o jeito de sentir, só ela me ensinou naqueles saraus
em sua cama ou no aconchego do seu colo. Enquanto crescia pude,
também, espalhar versos pelos meus caminhos. Vivi tempos
em que se apreciava e era valorizada a poesia falada e, nas reuniões,
sempre havia espaço para serem declamadas. Todas as vezes
que eu o fazia e tornava presente a Cecília Meireles, Castro
Alves, Cassimiro de Abreu, Drumond, Olavo Bilac e tantos outros,
por
meio de suas poesias, certamente, também estava ali a minha
mãe, no aflorar da sensibilidade que me conduzia a interpretá-las
e a tocar o coração dos que ouviam.
E até hoje, nas orquídeas que com ela aprendi a amar
e cultivar, colho versos de amor da minha mãe nos lindíssimos,
coloridos e perfumados botões que desabrocham a seu tempo,
no meu jardim.
VI
Nos nossos saraus a poesia, a música, as histórias
entremeavam espaços.
Não me cansava de ouvi-la cantar a música do jangadeiro
cujos sons, na sua voz, até hoje me chegam perfeitos pelos
canais da saudade. “Era um lindo jangadeiro, de olhos
verdes da cor do
mar...”.
Era a história de um jangadeiro que saía pelo mar
a pescar. De olhos no horizonte, seu amor aguardava sua volta, por
mais que demorasse. Hoje, eu penso que aquela música lhe
falava dos sentimentos da espera e das saudades que ela experimentava
durante as viagens do meu pai.
Das histórias, havia uma preferida. Eu sempre pedia para
que ela fosse contada. Era a da madrasta que, durante a viagem do
marido, desentendeu-se com a enteada por causa de um figo e mandou
enterrá-la viva debaixo da figueira do quintal. Um dia, o
pai vendo o mato crescer ao redor da figueira, mandou seu empregado
limpar o local. Assim que começou a capinar o empregado ouviu
uma linda voz que dizia: (e minha mãe cantava) “-
Empregado do meu pai não me corte o meu cabelo, a
minha madrasta me enterrou pelo figo da figueira...”
E a história
prosseguia e terminava com o pai, feliz, desenterrando sua filha
e
expulsando a madrasta de casa.
VIII
E a dança? Esta seguia o ritmo da alegria e fazia parte do
meu dia-a-dia, sempre apoiada por ela. Em casa ou nos ensaios para
as festas do Grupo Escolar “Francisco Sá”, onde
eu estudava, ela orientava, observava o desenvolvimento e harmonia
dos passos e na máquina de costura confeccionava os figurinos
(tantas vezes feitos de papel crepom). Era fã entusiasmada
da primeira fila, quando podia ir assistir. Coisas de mãe
de todos os tempos!... Mais tarde, também eu pude repetir
esse papel.
Ao longo da minha infância, meninice e adolescência
mamãe esteve sempre presente: nas coxias, nas platéias,
nós camarins. Era quem passava os textos comigo, incansavelmente;
quem se responsabilizava pela confecção dos figurinos
até altas horas da noite, ou pela maquiagem para as cenas,
realizando aquelas mil e uma funções - que só
uma mãe consegue - e sempre com o mesmo amor e entusiasmo.
A alegria era a tônica que influenciava a todos, inclusive
às companheiras que comigo participavam das apresentações
de dança, de teatro, nos tempos de grupo escolar, e que se
estenderam pelos rituais das festas e bailes na juventude e mocidade.
Os ensaios , muitas vezes, eram realizados no quintal da nossa casa,
sob sua supervisão distanciada e discreta. Ao encontrar antigas
companheiras e amigas de infância e juventude e ao recordamos
aqueles bons momentos vividos juntas, a imagem de mamãe sempre
animada, amável, sorridente, é lembrada com saudade
por todas. Sua presença foi o apoio, o incentivo, a segurança
para eu ver a vida com olhos de otimismo, acreditando sempre que
seguir em frente é possível e preciso. E que a alegria,
a arte, a música, os amigos adornam e dão vigor ao
sentido da nossa vida.
Ela conseguia fazer isso com suavidade, conduzindo, falando, fazendo,
rindo, orientando. Insinuava-se discretamente, dava o tom e desaparecia
de cena. Sabia fazer sem muito se mostrar, mas deixava marcada sua
presença no sorriso aprovador bailando nos olhos.
Como gostaria de ter aprendido com ela o fazer assim! Seria um atributo
próprio das mulheres daquele tempo? Será que o perdemos
ao ganhar novos espaços? Minha mãe tinha também
seus dias de braveza. Ah... quando o brilho dos seus olhos mudava
de tom... o tempo fechava com certeza! Felizmente, as tempestades
não eram frequentes e passavam rápido. Logo o sol
brilhava de novo, fazendo-nos esquecer as repreensões que
nos direcionavam para caminhos corretos.
IX
Interessante perceber, ao evocar as lembranças da minha mãe,
que em todos os tempos as mães tiveram esse papel de base,
de substrato, de permeios, de rumos e prumos. E com discrição.
Poucas,
no espetáculo da vida, puderam ter posturas de prima dona.
Mesmo hoje, cabendo as proporções de cada tempo, as
mães continuam nos seus silenciosos trabalhos de coxias,
de retaguarda, construindo o mundo através dos homens e mulheres:
seus filhos, - estruturados na firmeza e afagos dos seus colos.
Mães, tão decantadas pelos seus feitos, mas quão
pouco reconhecidas e amparadas nas suas carências, lutas e
fragilidades para prosseguir realizando seu mister! Há que
não se deixar abater sobre as mulheres o medo, a insegurança,
o desânimo, o desespero e dificuldades tantas que, talvez,
mais nesses últimos tempos, lhes tem perseguido e anuviado
o dom e a força da maternidade! São desagregações,
distorções e desistências do seu papel os resultados
colhidos que, com preocupante frequência, temos visto estampados
nos noticiários.
Enquanto escrevo, me vêm à lembrança as palavras
do poeta que, como adivinhando, já alertava para esse cuidado
com as mães, pois, segundo ele: (...) enquanto uma mãe
cantar junto a um bercinho, haverá esperança para
o mundo!
As mães, no realizar da maternidade, semeiam, nos corações
dos filhos, a fé, esperanças, amor e aspirações
que, mais adiante, desabrochando como flores e frutos, possibilitam
aos homens a persistência e intrepidez para o construir e
enfeitar o
mundo. As lembranças da minha mãe, que hoje desvelo,
vem confirmar estes versos.
Minha mãe Ambrosina - AMBROSINA DE SENA ALMEIDA - na forma
e essência com que me plasmou, se faz presença viva
no cotidiano do meu ser e fazer e nas saudades da mãe e amiga
– doce como uma ambrósia.
RETRATOS
DE FAMÍLIA
Haroldo
Lívio
Cadeira N.82
Patrono: Nelson Viana
Desapareceram
os retratos de família das paredes das salas de visita, nas
casas das melhores famílias. Ainda alcancei os bons tempos
dos retratos dos ancestrais familiares comandando as tertúlias.
Os retratos ampliados de tamanho eram expostos na parede, com relevo,
ficando assim reverentemente homenageados pelos descendentes, que
tinham o capricho de guardar as fotografias de toda a parentela
que já partira para a eternidade, principalmente os tios,
avós, bisavós. Se a galeria não estivesse superpovoada,
os compadres, agregados e correligionários também
tinham chance.
Devidamente emoldurados, os retratos eram até motivo para
encompridar a conversa, enquanto a dona da casa preparava o tradicional
café “medroso”. Lado alto das paredes, de onde
contemplam nosso mundo vão e enganoso, os finados pareciam
estar acompanhando a prosa mansa dos mortais, geralmente seus filhos,
netos, bisnetos, tataranetos, e tinham o direito de saber de que
tratavam, no bate-papo, uma vez que os nomes dos retratados eram
inevitavelmente citados. Ouvindo o próprio nome, da boca
daqueles que tanto amou em vida, os homenageados apuravam
os ouvidos para se comprazerem com o elogio póstumo e as
manifestações de eterna saudade e gratidão
dos entes queridos, que mandaram celebrar missas em sufrágio
de suas almas e se habilitaram como herdeiros dos teres e haveres
que acumularam quando encarnados. Porque assim é a lei da
vida, meu irmão!
Isso de ter retratos de família entronizados na sala de visita
nunca foi privilégio das classes sociais mais abastadas.
Nas famílias de posses modestas também era corriqueiro
o costume cristão de venerar a memória dos familiares
que já haviam partido para o reino da glória. Atualmente,
no meio rural, ainda se encontram muitas ampliações
penduradas na parede, preservando a melhor maneira de lembrar quem
já finou-se, mantendo viva a impressão de sua imagem.
Recordo-me dos laboriosos representantes de estúdios fotográficos,
que viajavam pelas cidades, vilarejos e fazendas agenciando pedidos
de ampliações, que depois chegavam devidamente emolduradas.
Consta que ainda tem profissionais trabalhando no ramo.
Em minha casa paterna, havia um retrato oval de meu avô materno,
João Vicente Maria do Amor Divino, que, para minha visão
infantil, era um verdadeiro monumento. Houve, ainda, outros de meus
pais e meus irmãos mais velhos. Mais tarde, com o passar
do tempo, que tudo muda e esteriliza, eles acabaram substituídos
por outros ornamentos. Os novos tempos, devastadores, trouxeram
muitas novidades, entre elas a tal de decoração de
ambiente que determinou, drasticamente, o arquivamento dos retratos
de família, colocando em seu lugar pinturas, cortinas, peças
de artesanato, antiguidades, etc. Tenho certeza de que aconteceu
o mesmo nas casas dos leitores.
No entanto, os retratos de família são bens preciosos,
dignos de serem guardados e expostos como tesouros, pois até
gozam da proteção da lei. Nosso Código Civil,
que todos deviam ler, os coloca na lista dos bens considerados impenhoráveis.
Estão de parabéns as pessoas que não cederam
às pressões dos modismos e continuam com os quadros
na parede como se fossem oratórios, que realmente são
oratórios para veneração das almas.
A
CARTA
Haroldo
Lívio
Cadeira N.82
Patrono: Nelson Viana
Texto de Rosalva Souto Barbosa
“Quais os lugares mais caros
que lhe falam do passado?
- Neste velho Montes Claros
O recanto mais amado
Foi o largo da Matriz...”.
Das figuras que povoavam as lembranças de minha infância,
destaca-se e de Dr. Nelson Vianna.
Não que eu o conhecesse, pois nunca lhe ouvi a voz, mas lembro-me
muito do Dr Nelson, comprando jornais na Agência do Ducho,
batendo papo na farmácia de Mário Velloso.
Menina, brincando na praça da Matriz, presenciava todos os
dias o passeio vespertino de um casal que contornava a praça
de braços dados.
O homem, másculo, bonito até em sua pouca beleza,
pois tinha o nariz muito grande e vermelho, trajava-se muito bem,
quase sempre de branco e tinha um andar elegante.
Dava-me
a aparência de um gigante.
A mulher era, ao contrário, muita, arrumadinha e dava ares
de estar muito orgulhosa daquele passeio.Quando o sino repicava
anunciando o início da reza na Matriz, o par para lá
se dirigia e o cavalheiro deixava a dama à porta da igreja
e voltava para continuar sozinho o seu passeio interrompido.
Contornava a praça várias vezes e quando percebia
que havia terminado a função da Igreja, recolhia sua
companheira e os dois subiam então, ao mesmo passo, a Rua
Simeão Ribeiro.
Naquela época, achava que aquele homem era de ferro e sua
mulher era de louça.
Não sei bem o porque dessa analogia, mas acho que se relacionava
com estórias que ouvia então, a respeito daquele homem.
Segundo falava-se, era o homem muito caridoso contanto que ninguém
disso soubesse.
As meninas maiores contavam às menores:
- Ele é muito bruto, não gosta que lhe digam “Deus
lhe pague”.
- Será?
- É sim! Pois todos os dias ele deixava, sem que ninguém
visse,
uma quantia em dinheiro para uma pobre mulher, sua vizinha. Um dia,
a pobre resolveu descobrir quem era responsável por aquele
milagre que a permitia viver. Ficou esperando em vigília
para poder agradecer de viva voz à boa alma que lhe fazia
a caridade.
Mas, coitada... fez isto e nunca mais recebeu um tostão...
- !!!....
- Era um pasmo geral.
Estórias assim eram contadas entre crianças, quando
à tardinha, surgia na praça o par ferro-porcelana.
Passou-se o tempo, mudamos da praça e o casal também
se afastou
de Montes Claros.
Cresci, e comecei a me interessar por leituras que me levassem a
Montes Claros de antigamente.
O Sr. de Ferro foi responsável por muitas dessas minhas viagens
ao passado. E me transportava em carro tão lírico,
tão macio que sempre me perguntava como que u’a mão
de ferro podia escrever assim tão leve, tão sutil.
Apagou-se então aquela impressa que trazia da infância,
impressão não de maldade, mas de dureza e pude compreender
então o ar orgulhoso que a dama feita de louça ostentava
em seus passeios na praça.
Compreendi, porque passei a me orgulhar, como toda Montes Claros
se orgulha de ter um filho que se fez adotar pela força do
amor de dedicou à terra e à gente que nela vive.
“Nesta praça Dr. Chaves,
Os dias eram gentis,
As tardes eram suaves,
Corria a vida feliz...”.
Nelson Vianna – Serões Montesclarenses
SAUDOSOS
MONUMENTOS
Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França
Venho acompanhando o crescimento e o desenvolvimento de Montes Claros,
desde os primórdios da década de trinta. Nesse longo
e demorado trajeto, muitas coisas aconteceram e muitas mudanças
se verificaram, porém, detenho-me apenas nas lembranças
de algumas das velhas edificações que tiveram estreitas
ligações com minha infância e juventude, nos
costumes, na disciplina e no ensino primoroso do passado.
O velho Mercado Municipal, com sua beleza rara e arquitetura antiga,
servia de ponto de encontro dos produtores rurais e população
urbana, principalmente, aos sábados, para vendas e compras
de produtos regionais e diversos. Ali, acompanhei meu pai nas suas
tramitações comerciais e prestei àquela casa
de movimentados negócios alguns serviços na infância.
O prédio da Estação Ferroviária não
era tão imponente como o mercado, mas tinha seu estilo colonial
que ostentava e ornava a Praça Francisco Sá. Eu e
a meninada de meu tope estávamos
sempre presentes nas chegadas dos “trens baianos”, prontos
para pegarmos as malas dos passageiros cansados e conduzi-los às
pensões mais próximas, afim de ganhar uns “trocados”
para o ingresso nos cinemas “Montes Claros” e “São
Luís”, nos fins de semanas. Com esse trabalho e com
as caixas de engraxate, não perdíamos os tiroteios
e trocas de sopapos dos valentes cowboys nas tavernas do velho oeste
americano.
O Depósito da IL-9 (9ª. Inspetoria de Locomotivas/EFCB)
ainda resiste ao tempo, porém frio e deserto. Adverso à
sua época gloriosa com seu operariado trabalhando nas oficinas
para a manutenção das máquinas a vapor, que
as chamávamos carinhosamente de “Marias-fumaças”,
orgulho dos maquinistas vaidosos e entusiasmados como: Antônio
“barba-azul”, Zé “Pé-po-mato”,
Pedro “mentira”, Bibiano “gabarola”e outros,
que entravam na cidade com garbo, mantendo suas máquinas
reduzidas com uma mão no regulador e a outra no acionador
de apito para chamar a atenção dos transeuntes e os
vizinhos dos trilhos. Cada um queria esnobar mais do que o outro,
os quais traziam suas “vaporosas” limpas, lustrosas
e enfeitadas com ornamentos diversos. Quando em folgas de trabalho
ou férias, não afastavam das imediações
da IL-9, reunindo nos lugares de costume para se gabarem de suas
peripécias e aventuras com suas máquinas de uso exclusivo.
No interior do galpão, suas oficinas atendiam à manutenção
daquelas máquinas com a força de trabalho dos operários
capazes e especializados. Em 1955, ainda EFCB, eu fui admitido para
trabalhar ali como torneiro mecânico, onde me identifiquei,
plenamente, com a classe ferroviária, participando dos labores,
das atividades sociais, esportivas e festivas.
No Natal, além do congraçamento dos adultos, a meninada
ferroviária deleitava com os brinquedos presenteados pela
Direção Geral/RJ da Empresa. Nas vésperas do
“Dia 1º. de Maio”, o “Mestre Técnico”
Raimundo de Carvalho arregimentava os funcionários para uma
faxina geral no Galpão, colocando suas
vaporosas alinhadas e tudo na impecável ordem, para receber
as famílias ferroviárias, autoridades e o Senhor Bispo
Diocesano acompanhado de seminaristas e padres para a celebração
da esperada missa daquele dia marcante. Terminada a celebração,
alguém proferia palavras de agradecimento e, depois, passava
para o congraçamento entre amigos e famílias, com
muita fartura de coisas gostosas para o deleite da criançada
e, também, dos adultos.
Era uma época áurea, às vezes de pouco valor
para algumas pessoas, mas significativa, marcante e saudosa para
a comunidade ferroviária.
Aquela empresa tinha por finalidade o transporte de baixo custo,
o desenvolvimento e o progresso das regiões por onde passavam
seus trilhos, e ainda preocupava-se com a assistência social,
sobretudo. Mantinha o entrosamento sadio entre as famílias
e a segurança do trabalho. A subsistência dos funcionários
com empregos estáveis e com remunerações dignas,
supermercados privados, postos de saúde exclusivos, assistência
jurídica e outros benefícios garantiam a tranqüilidade
daquela saudosa comunidade.
Todavia, com a avidez de mudanças sucessivas, as “Mariasfumaças”
foram substituídas pelas máquinas a diesel. A EFCB
foi encampada pela RFFS/A, que foi, mais tarde, extinta por motivos
escusos. E aqueles tempos áureos das ferrovias tornaram-se
passados remotos e esquecidos por alguns de seus participantes que
ainda vivem por aí.
O prédio do Colégio Diocesano era modesto, porém
significativo para a cidade e para juventude. Era orientado pelos
grandes mestres da época, dos quais tive a honra de receber
seus ensinamentos. Ali, tudo girava em torno do conhecimento. Os
grandes e saudosos professores que por ali passaram deixaram suas
marcas nas mentes e nos corações de todos. Como tudo
passa!
Hoje,
no seu lugar, foi erigido um amplo e moderno supermercado, para
atender à nova população com diferentes objetivos.
Esses monumentos e outros de igual beleza e importância tiveram
a mesma sorte. Eles foram impiedosamente destruídos, para
ceder espaços às novas construções tipo
“caixão”, insensíveis e sem expressão,
para acompanhar a modernidade, esquecendo que há locais ociosos
e até mais apropriados para essas novas construções,
poupando as nossas relíquias.
O velho e soberbo casarão da rua Cel. Celestino, 75, onde,
nos seus tempos gloriosos, funcionou a famosa Escola Normal Oficial
e posteriormente, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras/FUNM
– FAFIL, escapou à destruição indiscriminada.
Atualmente, passa por uma reforma que promete manter suas origens
e estilo. Aquele prédio de tantas memórias para tantas
pessoas, transmite-me ligações remotas de sua história,
mesmo antes do meu nascimento. Ali, minha mãe na sua infância
fez os seus primeiros
estudos. E após longos anos, em 1958 ingressei no corpo docente
daquele seleto educandário, iniciando minhas atividades no
magistério de ensino público. Minha esposa, Rosa Terezinha,
também, militou ali, a princípio como aluna do curso
ginasial, depois, como aluna e minha colega no curso de Matemática
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras-FAFIL/FUNM.
Após o término daquele curso em 1971, fomos aproveitados,
no ano seguinte, como professores de Matemática, iniciando
a nossa carreira de nível superior. E, naquela caminhada,
cheguei a Chefe do Departamento de Matemática e a Vice-Diretor
da Instituição.
Ainda hoje, ao passar por aquelas imediações, paro
um pouco para lembrar com mais atenção, da efervescência
e labuta exercidas por funcionários solícitos, professores
compenetrados e alunos ansiosos por conhecimentos, além de
pais interessados no desempenho
de seus filhos. Ali, era ministrado um ensino primoroso e a Educação
era, sobretudo, a meta principal.
Agora, o majestoso casarão continua implantado no mesmo solo
firme do “Arraial das Formigas”, onde nasceu a “Princesa
do Norte”, porém inerte e mudo, esperando reformas
para servir, desta vez, de museu de objetos frios, quietos e silenciosos.
Quem diria!
Por aquele sobradão, passaram milhares de pessoas que ainda
têm suas recordações indeléveis de fatos
mais diversos que passaram por ali, todavia, tudo passa e nada se
repete, baseando no que dizia o grande filósofo grego Heráclito
(540-480 a, C) “Tudo está em movimento e nada dura
para sempre”. É uma verdade! “Tudo flui”,
não só as coisas, mas as instituições,
a moral e nós, também, mudamos. Mas, a saudade e as
lembranças permanecerão!
Antigo
Mercado Municipal de Montes Claros
COLÉGIO
TIRADENTES DA POLÍCIA MILITAR
Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida
Quem hoje passa pela Avenida dos Militares, nº 1991, ao lado
do 10º BPM, em Montes Claros, vai ali encontrar o Colégio
Tiradentes, unidade de ensino mantida pela Polícia Militar
de Minas Gerais nesta cidade, integrante de um complexo de mais
dezenove unidades, na Capital e em outras importantes cidades do
Interior do Estado. Tem como finalidade oferecer educação
escolar e formação moral, social e espiritual aos
policiais-militares e seus descendentes, podendo também acolher
outros alunos, conforme critérios específicos da Polícia
Militar, sua entidade mantenedora. Subordinase-se pedagogicamente
às normas emanadas da Secretaria de Estado da Educação
de Minas Gerais, através da Superintendência Regional
de Ensino. A Direção do Colégio é compartilhada
entre um Diretor Administrativo, cargo hoje ocupado pelo Ten-Cel
Milton
Rodrigues Abreu, e um Diretor Pedagógico, cargo ocupado pela
Profa. Elizabeth Cerqueira de Oliveira Lopes.
UM
POUCO DE HISTÓRIA
O Colégio Tiradentes da Polícia Militar foi criado
pela Lei Estadual nº 480, de 10 de novembro de 1949, com a
denominação de Ginásio Tiradentes, instalando-se
primeiramente em Belo Horizonte. Posteriormente, a partir de l964,
foram criados os Anexos do Colégio da Capital, nas principais
cidades do Interior onde havia sede de Batalhão da Polícia
Militar, tais como Juiz de Fora, Diamantina, Uberaba, Governador
Valadares, Lavras e Montes Claros, entre outras. Aqui, foi instalado
o Anexo VI, em 24 de janeiro de 1964, em solenidade pública
presidida pelo então Comandante do 10º BI, Ten-Cel Georgino
Jorge de Souza, com a participação do Ten-Cel Argentino
Madeira, criador e diretor do Colégio em Belo Horizonte.
A instalação aconteceu no prédio da rua Camilo
Prates, nº 348, centro de Montes Claros, construído
no início do século XX para abrigar o Fórum
da Justiça e a Cadeia Pública local, e que, nos últimos
anos, servira de Quartel do Comando do Batalhão. Dois fatos
marcaram de modo especial a solenidade: o primeiro, quando o Bispo
Diocesano, D. José Alves Trindade, serrou simbolicamente
uma das grades da antiga cadeia, para que ali brilhasse a luz de
uma escola; o segundo, quando o Dr. Francisco de Bórgia Vale,
Juiz de Direito da Comarca, em seu discurso solene, destacou a tese
de que “abrir escolas significa fechar cadeias”, muito
apropriada para aquele momento. A aula inaugural foi ministrada
pelo Ten-Cel Saul Alves Martins, em 10 de março de 1964,
no auditório do Colégio Imaculada Conceição,
com a presença dos alunos, dos professores designados, autoridades
do Município e integrantes do 10º Batalhão de
Infantaria. A partir de 11 de março de 1964, iniciaram-se
as atividades escolares, com 315 alunos matriculados na
primeira série ginasial, correspondente hoje à 6ª
série do ensino fundamental. É importante ressaltar
que o Comandante Geral da Polícia Militar, à época,
era o Cel José Geraldo de Oliveira, ex-Comandante do 10º
BI, e que o Governador do Estado era o Dr.
José de Magalhães Pinto, grande amigo e conhecedor
da Polícia Militar.
Prédio onde o Colégio Tiradentes se
instalou.
A
CONSTRUÇÃO DA SEDE PRÓPRIA
Embora muito bem localizado à época da instalação,
no centro comercial da cidade de Montes Claros, o prédio
apresentava inúmeras deficiências para o desenvolvimento
do ensino e da aprendizagem, entre outras: salas pequenas e inadequadas
para as atividades escolares; falta de áreas específicas
para circulação e recreação dos alunos;
inexistência de qualquer espaço para funcionamento
dos órgãos de apoio ao ensino; interferência
contínua de ruídos externos, pois ali é o cruzamento
de duas ruas
com trânsito intenso de veículos e de pessoas. Era,
pois, urgente que se construísse a sede própria para
o Colégio, de preferência junto ao Batalhão,
em cujas proximidades estavam localizadas as residências da
maioria dos policiais-militares. Mas, o que era necessário
para o Colégio talvez não fosse essencial ou prioritário
para a Polícia Militar, na visão dos governantes da
época, com incidência direta nas ações
dos comandantes responsáveis.
Quando
assumiu a Diretoria do Colégio, a partir de 26 de fevereiro
de 1966, o ainda Major José Coelho de Lima, então
Comandante do 10º Batalhão, desenvolveu os primeiros
contatos e providências junto ao escalão superior da
Polícia Militar, visando conseguir recursos para a construção
do prédio próprio. Não teve muito sucesso,
salvo apenas uma contribuição especial do Cel Manoel
Doro Pereira, natural de Januária-MG, que exercia o cargo
de Tesoureiro Geral da PM, em Belo Horizonte. Com esse recurso,
foi possível iniciar a construção, tão
somente. Em 1967, foi designado Vice-Diretor o 1º Ten Lázaro
Francisco Sena, que logo recebeu a incumbência de organizar
o sorteio de um automóvel, para o qual se conseguiu uma autorização
especial da Receita Federal, para angariar recursos não apenas
para a edificação do Colégio, mas também
para a construção da Praça de Esportes ao lado,
cujas instalações seriam complementares às
necessidades do ensino. O sorteio se fez pela Loteria Federal, mas
o número premiado não havia sido vendido, o que proporcionou
a realização de nova rifa, dessa vez com um feliz
ganhador de um “Fusca” 0 (zero) Km. É importante
afirmar que todos os integrantes do Batalhão colaboraram
com o sorteio, não só comprando, mas também
vendendo um número significativo de bilhetes, o que permitiu
continuar a obra do Colégio e iniciar a construção
da Praça de Esportes. Tudo corria bem até o final
do primeiro semestre de 1968, quando o Ten-Cel José Coelho
de Lima foi substituído no Comando do Batalhão, por
discordância do escalão superior sobre a sua forma
de comandar a Unidade, um indomável “tocador”
de obras, houvesse ou não recursos oficiais para isso disponíveis.
E o novo Comandante, Ten-Cel Cícero Magalhães, não
quis saber se a construção do Colégio se encontrava
com todo o escoramento da laje montado, ou se a fundação
para uma piscina olímpica – 50 x 25 metros - se achava
em fase final, com toda a ferragem adquirida: mandou paralisar as
obras e, aos poucos, foi direcionando o material existente para
outras finalidades, ou mesmo para construir uma praça de
esportes com instalações bastante acanhadas, diante
do projeto original. Quanto ao Ten Lázaro, foi submetido
a um período de readaptação aos costumes e
reenquadramento à disciplina militar, antes de assumir qualquer
função própria do posto que ocupava. Foi como
lhe disse o novo Comandante, em uma de suas preleções
orientadoras: “deram-lhe um par de botas muito folgadas e
você meteu os dois pés em apenas uma delas.”
Se para mais não serviu, esse período de reflexão
valeu para o Tenente fazer um compromisso consigo mesmo: ser, no
futuro, o Comandante do 10º Batalhão e, nessa condição,
construir o prédio próprio para o Colégio Tiradentes.
Durante o Comando do Ten-Cel José Soares Fraga, o já
Capitão Lázaro Francisco Sena foi designado Diretor
do Colégio, no período de 12-06-74 a 03-04-76. Nessa
época, foi elaborado um novo projeto de construção,
bem menos “ambicioso” do que o anterior, mas, mesmo
assim, não encontrou apoio oficial para sua realização.
Enquanto isso, apenas o alicerce da primeira construção
resistia à ação do tempo, dos vândalos
e do próprio Comando do Batalhão que, vez por outra,
mandava dali retirar algum material, para outras finalidades.
Em maio de 1988, o Ten-Cel Lázaro assumiu o tão esperado
Comando do 10º Batalhão. Seria agora ou nunca. Já
que não havia recursos oficiais para a construção,
decidiu-se pela colaboração voluntária dos
policiais-militares que assim o quisessem, pelo busca de ajuda junto
a empresas e pessoas amigas da Polícia Militar e, sobretudo,
pelas promoções beneficentes. Contamos com a colaboração
especial do Dr. Artur Pereira Barbosa, engenheiro civil e ex-aluno
do Colégio, que participou da elaboração do
projeto e assumiu a responsabilidade técnica da construção.
O então Deputado Estadual Milton Pereira da Cruz, também
ex-aluno do Tiradentes, foi quem possibilitou o reinício
da construção, a ela destinando parte de sua verba
de gabinete. A mão-de-obra, salvo uma minúscula participação
de pessoal da Prefeitura Municipal, foi de integrantes do 10º
BPM, sob a direção do Cap Walcyr Ferreira Costa. Para
não dizer que a Polícia Militar, de outra forma, não
participou, já na fase final da obra foi alocado algum recurso
oficial para conclusão, por iniciativa do Cel José
Alaim Lopes, Chefe do Estado Maior da Corporação.
Assim, foi possível inaugurar o novo prédio em 4 de
fevereiro de l991. Outros acréscimos e melhoramentos foram-se
fazendo, com destaque para a construção do confortável
auditório, um dos melhores, se não o melhor de Montes
Claros até o momento, sob a responsabilidade do Professor
Milton Lopes da Silva, durante a sua gestão, como Diretor,
no período de 16-10-92 a 01-02-01.
PLACA
DE INAUGURAÇÃO
Placa
de inauguração da sede própria.
Frente
da sede própria, com auditório à direita.
UM
POUCO DO PRESENTE
O Colégio Tiradentes de Montes Claros ocupa hoje uma área
construída de 2.l55 metros quadrados, sem contar o espaço
destinado à prática de atividades físicas,
todas elas desenvolvidas na Praça de Esportes do 10º
BPM. O prédio dispõe de 13 (treze) salas de aula tipo
padrão, com capacidade para 40 (quarenta) alunos cada uma
delas, 1 (um) laboratório de Biologia para 20 (vinte) alunos,
1 (uma) biblioteca, com capacidade para 40 (quarenta) alunos, 1
(uma) sala de vídeo para 70 (setenta) alunos, 1 (uma) sala
de computação para 20 (vinte) alunos e 1 (um) auditório,
com capacidade para 524 (quinhentas e vinte e quatro) pessoas assentadas,
além de salas específicas para Direção,
Supervisão, Orientação, Professores, Secretaria
e outras, de apoio administrativo e técnico.
O Colégio atende atualmente a 966 (novecentos e sessenta
e seis) alunos, da seguinte procedência:
-
dependentes de policiais-militares.........................681;
- dependentes de bombeiros-militares......................57;
- dependentes de servidores civis da PM..................59;
- dependentes de outros civis...................................169.
São oferecidas duas etapas da Educação Básica:
Ensino Fundamental, com duração de quatro anos, da
6ª à 9ª séries; Ensino Médio, com
duração de três anos. Os alunos acham-se assim
distribuídos:
- 6ª série, com 110 alunos em 3 turmas, todas à
tarde;
- 7ª série, com 138 alunos em 4 turmas, todas à
tarde;
- 8ª série, com 139 alunos em 4 turmas, todas à
tarde;
- 9ª série, com 144 alunos em 4 turmas, sendo 2 pela
manhã e 2 à tarde;
- 1º ano, com 159 alunos em 4 turmas, todas pela manhã;
- 2º ano, com 158 alunos em 4 turmas, todas pela manhã;
- 3º ano, com 118 alunos em 3 turmas, todas pela manhã.
Para atender a esse número de alunos, o Colégio conta
com o seguinte quadro de servidores:
- Diretor Administrativo.............................................
1;
- Diretor Pedagógico..................................................
1;
- Vice-Diretor.............................................................
1;
- Orientador...............................................................
2;
- Supervisor................................................................
2;
- Professor..................................................................
42;
- Secretário.................................................................
1;
- Assistente Administrativo.........................................
16;
- Auxiliar Administrativo.............................................
7;
- Auxiliar de Serviços Gerais......................................
11;
- Total........................................................................
84.
Se fizermos uma correlação entre o número de
alunos e o total de servidores, vamos encontrar um quociente de
11,50; se considerarmos apenas os professores, teremos uma parcela
de 23 alunos para cada um deles.
Alunos do Colégio, em momento de “Hora
Cívica”.
ALGUMA
CONCLUSÃO
Espera-se, neste final, que se faça um julgamento sobre o
desempenho do Colégio Tiradentes da Polícia Militar,
em Montes Claros. Para nós seria não apenas fácil,
mas, sobretudo, prazeroso. O problema é o risco de fazermos
um julgamento passional e afirmarmos, em bases empíricas,
que o Tiradentes é o melhor colégio de Montes Claros,
tem o mais competente e preparado quadro de professores, possui
as melhores instalações físicas da cidade,
e até afirmar que seus alunos são os mais bonitos
e inteligentes deste lugar. Não se preocupe o eventual leitor,
pois o julgamento será seu, com base nas notas do Exame Nacional
do Ensino Médio – ENEM, versão 2008, que a seguir
transcrevemos, citando apenas os 10 (dez) primeiros colocados, dentre
as várias escolas de Montes Claros que se submeteram às
respectivas provas:
1°
- Colégio Marista São José................................
64,67;
2º - Colégio Unimax.............................................
63,76;
3° - Colégio Prisma...............................................
63,26;
4º - Colégio Biotécnico.........................................
62,58;
5º - Colégio Imaculada Conceição........................
60,08;
6º - Colégio Impar.................................................
59,78;
7º - Colégio Tiradentes..........................................
56,24;
8º - Colégio Padrão...............................................
55,73;
9º - E. E. Professor Plínio Ribeiro...........................
51,48;
10º - E. E. Alcides Carvalho....................................
51,13.
A revista VEJA, em sua edição 2.111, de 6 de maio
de 2009, publicou uma notícia sobre o ENEM/2008, mostrando
que “a maioria das escolas brasileiras ainda não consegue
passar de ano”, apresentando, entre outros, os seguintes números:
- nota média de todas as escolas brasileiras............
49,4;
- média obtida pelas escolas públicas.....................
47,0;
- média obtida pelas escolas particulares................
60,3;
- percentual de escolas com nota abaixo de 50...... 65%.
Dos números acima, destacamos as seguintes situações:
- o Colégio Tiradentes, com nota 56,24, é o primeiro
colocado entre as escolas públicas de Montes Claros, superando
inclusive algumas escolas particulares tradicionais da cidade;
- a nota do Colégio Tiradentes supera em mais de 6 pontos
a média de 49,4 obtida entre todas as escolas brasileiras
e, em mais de 9 pontos, a média de 47,0 obtida entre apenas
as escolas públicas;
- com a nota 56,24, o Colégio Tiradentes fica muito bem colocado
entre os 35% de todas as escolas brasileiras que obtiveram nota
acima de 50 pontos.
O
SOL DAS CIGARRAS
Luiz de Paula Ferreira
Cadeira N. 19
Patrono: Caio Mário Lafetá
“No sertão onde nasci, canta o juriti, canta o
lenhador, as moças dançam a ciranda e cantam cantigas
de amor....”.
O sertão é muito bonito. Aqui a natureza não
agride o ambiente com mudanças bruscas. Cada nova estação
é anunciada com antecedência pelos muitos sinais da
natureza.
As chuvas ocorrem até março, com alguma normalidade,
embora escassas, como sabemos. Em abril poderá chover ou
não. A partir daí o calor vai diminuindo e um friozinho
começa a chegar, aos poucos, ao compasso dos dias.
Quando voltam as chuvas, o sertão inteiro põe-se em
festa. O campo reverdece, as águas cantam nos riachos, os
bichos do mato se movimentam espertos e alegres. E os pássaros
multiplicam-se e cantam em toda parte.
As chuvas, que trazem toda essa renovação, começam
a chegar no final de outubro ou início de novembro. Mas antes
disso, de agosto para setembro, a natureza dá o ar de sua
graça. Oferece um agrado ao sertão. É a chuva
de brotos. Não é ainda a estação chuvosa.
É uma amostra. Um afago dos céus.
A chuva de brotos dura pouco. Molha o chão e vai-se embora.
E uma cortina de bruma seca, própria do tempo, vai-se formando
e se antepondo ao sol, cujos raios se abrandam e levam a tudo que
alcançam - as serras, os montes, as matas, os vales, as
campinas, os centros urbanos - uma claridade doirada de leveza tal
só vista nessas gloriosas tardes estivais.
É o sol das cigarras.
As tardes, nessa ocasião, revestem-se de uma beleza tranquila
que nos descansa a alma. No ar, voam os pássaros, festejando
a vida. E as cigarras, rainhas sonoras da paisagem, cantam a sinfonia
do final do estio.
A cigarra
O
ASSISTENTE TÉCNICO
Luiz de Paula Ferreira
Cadeira N. 19
Patrono: Caio Mário Lafetá
Funcionário de órgão público, na cidade,
vinha recebendo ameaças por telefone. A autarquia, devidamente
avisada, resolveu enviar um segurança, para acompanhá-lo.
O segurança veio, credenciado como assessor técnico.
E assumiu discretamente suas funções. Mas seu visual,
em razão, talvez, do prolongado exercício da profissão,
não ajudava a manter a desejada discrição.
Era um cidadão de cor escura, muito alto e magro. Seu rosto
alongado e anguloso, era enigmático. Não refletia
emoções. Vestia-se sempre de preto. Terno, sapatos
e chapéu pretos. E óculos escuros.
Era a réplica do Jack Palance em seus primeiros filmes de
pistolagem. Nunca se vira um disfarce tão pouco convincente.
Ele fôra recomendado a esforçar-se para aparentar sua
condição de assistente técnico. E até
mesmo a se pronunciar, com a necessária cautela e parcimônia,
quando o assunto fosse de seu conhecimento.
Na primeira reunião a que compareceu, acompanhando o funcionário,
em entrevista à imprensa, falava-se da calamidade da seca.
Tratava-se de assunto que ele conhecia bem, pois era natural do
semi-árido nordestino.
Ao ocorrer pequena pausa, no diálogo que se estabelecera
entre os jornalistas e o funcionário, o cidadão entendeu
que o momento era propício para apresentar sua opinião
de técnico.
Ele fumava uns charutinhos pretos, daqueles fabricados em Arapiraca,
vendidos no cais do porto, em Recife.
Dando uma tragada maior no charutinho e retirando os óculos
escuros, para limpar com a ponta da gravata, disparou seu vozeirão
de apito de navio.
- É verdade. O mesmo acontece no Nordeste. É um fenômeno
do climatério...
VOVÓ
LETÍCIA
Maria Clara Lage Vieira
Cadeira N. 100
Patrono: Wan-Dyck Dumont
Natural
de Montes Claros, irmã de Lilian, a primeira
farmacêutica montes clarense, irmã de Alzira,
professora de canto e exímia pianista, irmã de
Maria e de Leônidas, jornalista, Letícia foi pedagoga,
tendo trabalhado
por muito tempo na fazenda-escola de Ibirité, com Helena
Antipoff, famosa pedagoga que se dedicava principalmente a
crianças que mereciam cuidados especiais. Letícia
lecionou, em
Bocaiúva, a língua francesa e as matérias pedagógicas
do curso
de Magistério.
Família
Câmara, família de gente culta, de pessoas dispostas
a dar o melhor de si para fazer crescer a comunidade em que
vivem. E o povo de Bocaiúva tinha tanta consideração
pela família,
que nomeou uma escola estadual local de Cristina Câmara, a
progenitora.
Fisicamente,
Letícia não era bonita: baixinha e gordinha,
mas ...diante de sua beleza interior, quem se importava com o
físico? O espírito é mais forte que a matéria.
E a grandeza do
coração de Letícia suplantava seu aspecto físico.
Ela encantou
sempre a todos que tiveram o privilégio de conhecê-la
e gozar do
seu convívio.
Certa
vez, ela nos contou que, quando era mocinha, olhando-
se no espelho, disse para si mesma:
- Eh!, Letícia, você tem que burilar seu espírito,
acumular e cultivar conhecimentos e bons sentimentos, enfim, conquistar
dotes morais, porque os seus dotes físicos não vão
ajudá-la muito no trato com as pessoas ou num relacionamento
com o sexo oposto! ...
Foi então que ela decidiu:iria estudar, dedicar-se bastante
para desenvolver grandes valores de alma e coração.
Na sua simplicidade, ela não percebera que essa riqueza,
ela já possuía no mais íntimo do seu ser.
Ela sempre foi uma jóia rara, cheia de amor para com as pessoas.
Casou-se com Romeu Barcelos Costa, carioca, descendente de portugueses,
detentor de uma cultura excepcional. Tinha formação
em contabilidade e uma enorme habilidade para arquitetura e desenho..
Quando solteiro, chegou a Bocaiúva por volta de 1924, acompanhando
a construção da estrada de ferro. Posteriormente,
continuando a estrada, foi para Montes Claros, onde conheceu Letícia.
Já casado, estabeleceu-se em Bocaiúva, mais tarde,
quando terminou a construção da estrada de ferro,
convidado para trabalhar na prefeitura, dada a sua vasta experiência.
Seu
gosto pela leitura lhe valeu uma bagagem cultural bastante satisfatória,
a ponto de ser procurado para ajudar em pesquisas estudantis e elucidar
quaisquer dúvidas, em diferentes áreas. Tinha uma
memória invejável.
Este foi o marido de Letícia. Tinha¨um “papo”
agradável e gostava de conversar com as moças. Sotaque
lusitano e linguagem erudita, elas gostavam de ouví-lo.
Letícia era toda amor e carinho para com ele.
Tinham pouco tempo de casados quando vieram morar em Bocaiúva.
Um dia, ele foi com o prefeito e seus assessores para executar um
trabalho social no interior do município. Deveria voltar
logo e Letícia ficou sozinha em casa, aguardando-o. Não
conhecia ninguém na cidade e a ansiedade tomou conta de todo
o seu ser, pois a demora do marido já a estava preocupando.
Acontece que, no povoado a que fora, fizeram uma festa para eles
e ele dançou a noite inteira. Não havia telefone ou
outra forma de comunicação rápida.
Um misto de medo e rancor se apossou do coração de
Letícia. Rezava para que ele chegasse logo, que nada mal
lhe acontecesse, mas, por outro lado,tinha uma mágoa profunda.
Ele sabia que ela estava sozinha e que iria ficar aflita. Pensou:
quando ele chegar, vou ficar brava. Ora, isto é coisa que
se faça? Se ele pensa que vai sair assim sempre e me deixar
sozinha, está muito enganado. Não vou permitir.
Passou a noite em claro, ensaiando as palavras que usaria para chamá-lo
à responsabilidade.
Romeu chegou às 6 horas da manhã... e a alegria por
sua chegada foi tão grande, que Letícia esqueceu toda
a sua raiva e agradeceu a Deus por ele ter chegado são e
salvo.
Letícia, sua mãe Cristina e sua irmã
Lilian.
Chegou
cansado , dizendo que não foi possível voltar antes,
que ele havia trabalhado a noite inteira.
Entretanto, ao olhar o terno dele, verificou que estava todo empoeirado,
exceto no ombro direito do paletó, onde as moças colocam
a mão, ao dançar. Era a única região
limpa, uma mão perfeita...
Leticia apenas meneou a cabeça.
Mulher extraordinária! Tinha uma sabedoria muito grande e
sabia a hora de conter seus impulsos.
Teve um único filho, o Toninho, que ela criou com muito mimo,
muito carinho e excesso de zelo.
As crianças da época tinham um prazer muito grande,
no tempo de Natal: estacionavam-se no murinho do sobrado para apreciar
os brinquedos que Toninho ganhara do Papai Noel. Vinham todos do
Rio de Janeiro e eram brinquedos que as crianças daqui nunca
tinham visto. Só o fato de vê-los era o sufuciente
para fazer a alegria da garotada.
Entretanto, o filho de Letícia, logo que se entendeu por
gente,
foi para o Rio. Lá estudou, lá se formou em Odontologia
e por
lá ficou. Nunca se casou e a vovó Letícia sempre
ansiosa para ter
um neto, que nunca veio.
Alguém vai perguntar:
- Então, por que vovó Letícia?
Ah! É que, como já foi dito, Letícia tinha
um coração maior que o mundo e, então, ela
adotou três netas.
As nossas crianças, três meninas, tinham a avó
paterna, muito querida. Mas não tinham a avó materna.
A irmã de Romeu, Romeu Barcelos Costa e Letícia,
em outubro de 1924.
Não
tinham, não? Pois ganharam.
Letícia ensinou-lhes a chamá-la de vovó Letícia.
E as crianças a tinham como avó, realmente.
O sobrado ficava no caminho da volta da escolinha. E ela sabia o
horário em que as meninas passavam. Todos os dia, ela ficava
à porta esperando. Era uma felicidade quando elas a viam
e gritavam:
- Ei, vovó Letícia!
Seus olhos brilhavam de alegria pura.
Noite fria de maio. As nossas meninas se vestiram de anjinhos para
coroar a Mamãe do Céu. Uma multidão enchia
o recindo da Matriz do Senhor do Bonfim.
Letícia chegou lá cansada, afobada. A distância
era grande e ela fora a pé. E não andava depressa
por causa de um joanete que lhe causava dores. Mas, ela foi.
Vendo
a igreja cheia, foi pedindo licença, tentando chegar bem
na frente e explicando para todos:
- São minhas netas. A outra avó já está
lá na frente. Elas precisam me ver também.
Grande e saudosa vovó Letícia,você é
do tipo de pessoas imortais, raríssimas. A sua ternura povoou
a infância de nossas crianças e ficou guardada no mais
profundo de nossos corações. Você foi uma pessoa
imprescindível em Bocaiúva - figura que jamais será
esquecida pelas pessoas que a conheceram. Acreditamos que hoje,
com paciência e carinho, você está ensinando
os anjos do Céu a falar o francês que você tanto
gostava de ensinar.
BON TRAVAIL, GRAND-MÈRE!
ARQUITETURA
SÃO FRANCISCANA
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Cadeira N. 17
Patrono: Auguste de Saint-Hilare
Texto
de Marta Verônica Vasconcelos Leite e Roberto Mendes Ramos
Pereira
INTRODUÇÃO
O presente estudo constitui-se como um esforço de análise
do patrimônio arquitetônico da cidade de São
Francisco, situada na região norte do Estado de Minas Gerais.
Objetiva-se apresentar descrição das características
originais de construções e lugares públicos,
bem como fazer um levantamento das condições atuais
de conservação e das iniciativas voltadas à
conservação deste patrimônio.
Às margens do rio do qual herdou seu nome e de onde provém
sua sustentação, a cidade de São Francisco
foi fundada em 1877, por uma lei provincial. Antes da atual denominação,
foi conhecida como Pedras de Cima, Pedras dos Angicos e posteriormente
como São José das Pedras dos Angicos, nome originado
após a criação da paróquia da qual São
José era o padroeiro (Braz, 1977).
Localiza-se a 568 quilômetros da capital de Minas, Belo Horizonte.
Em 2004, a população do município foi estimada
em 54.282 habitantes e a sua extensão, 8.141 quilômetros
quadrados, coloca-o como quarto maior município do Estado
em área3.
São Francisco, assim como qualquer outra cidade, tem uma
história. Traz em si marcas do passado que foram, ao longo
do tempo, sendo moldadas às necessidades e interesses do
seu povo em cada período histórico.
Entretanto, há que se destacar que, carente de investigações
que atestem o valor de sua cultura material e imaterial, qualquer
coletividade encontra-se vulnerável às armadilhas
da ignorância e da ganância desmedidas, que muitas vezes
destroem tesouros em nome de um “progresso” que chega
para poucos e prejudica a maioria.
Nesse sentido, justifica-se o empenho desta pesquisa em documentar
a riqueza histórica e cultural das edificações
antigas de uma cidade do porte de São Francisco. Se é
preciso conhecer para preservar, espera-se poder contribuir para
que estudiosos e a própria população local
conscientizem-se do potencial presente em suas ruas, fachadas, construções
e praças, aprendendo assim a valorizar o que é seu,
a dar-lhe a atenção e o cuidado devidos e, quiçá,
a investir para transformar-lo em atrativo para o desenvolvimento
turístico, cultural e econômico.
Para concretizar tais objetivos, realizaram-se análises da
arquitetura das principais edificações do centro histórico
da cidade, atentando para seus contornos originais e estado atual
de conservação, bem como buscou-se reconstruir a sua
trajetória ao longo das gerações através
de fontes orais. A estas, somou-se levantamento das propostas e
ações, tanto privadas quanto públicas, de preservação
do patrimônio material da cidade.
___________________________
1 Mestra em Ciência da Educação
(ISPEJV – Havana). Especialista em História
da Arte (Unimontes).
2 Mestrando em História (UFU/MG).
3 Informações retiradas dos sites: Descubra Minas
(<www.descubraminas.
com.br>) e Wikipédia (<http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Francisco_(
Minas_Gerais)>).
Antes,
porém, de apresentar os resultados alcançados, serão
explicitados os principais marcos teóricos que fundamentam
a investigação e as análises aqui empreendidas.
CIDADE:
BERÇO DA EXPRESSÃO CULTURAL OU VITRINE DO PROGRESSO?
Segundo Ramoenda, apud Fenelón (2000), a cidade é
uma construção dos homens e, portanto, nunca pode
ser apenas estritamente racional. Ela é memória organizada
e construção convencional, natureza e cultura, público
e privado, passado e futuro. A mudança é característica
das cidades, mas estas mudanças
têm história.
Neste sentido, Mumford (1961) ressalta que na história a
cidade se mostra como ponto máximo em concentração
do vigor e da cultura de uma comunidade. É neste pressuposto
que percebemos a arquitetura como expressão cultural e resultado
de um modo de vida de uma população, num tempo e num
lugar determinado.
Partindo da idéia de cidade como representação
ou conjunto de representações, Roncayolo apud Pesavento
(1995), identifica que há um sistema de idéias, mais
ou menos coerente, daqueles que “fazem a cidade”, a
projetam, discutem e executam. Os
portadores de tais idéias seriam identificados, segundo a
autora, no interior das classes dominantes ou das elites dirigentes,
com destaque especial para o que se chamaria os “profissionais
da cidade”: arquitetos, urbanistas, engenheiros, médicos
sanitaristas e os demais técnico-burocratas encarregados
de implementar os equipamentos necessários à intervenção
urbana. A denominação de Roncayolo tem uma datação
precisa do século XIX, no qual emerge a grande cidade, que
coloca para os governos a necessidade de intervir no espaço,
ordenando a vida, normatizando a sociedade. A “questão
urbana” aparece assim como um problema posto, derivado das
transformações econômico-sociais da época,
e que tem na cidade o seu locus privilegiado de realização.
Sem dúvida, estes “produtores do espaço”
concebem uma maneira de construir ou transformar a cidade, através
de práticas definidas, mas também constroem uma maneira
de pensá-la, vivê-la ou sonhá-la. Há
a projeção de uma “cidade que se quer”,
imaginada e desejada, sobre a cidade que se tem, plano que pode
vir a realizar-se ou não.
Para
Fenelón (2000), o importante aqui é valorizar a memória,
que não está apenas nas lembranças das pessoas,
mas também no resultado e nas marcas que a história
deixou ao longo do tempo em seus monumentos, ruas e avenidas, nos
seus espaços de convivência ou no que resta de planos
e políticas oficiais sempre justificadas como o necessário
caminho do progresso e da modernidade.
Também para Mumford (1961), é na cidade que o tempo
se torna mais visível. Em suas palavras “edifícios,
monumentos, vias públicas, mais claramente que o testemunho
escrito, mais sujeitos ao olhar de muitos homens do que os artefatos
dispersos no campo, deixam uma impressão nas mentes até
mesmo dos ignorantes ou dos indiferentes.” (p.14).
Neste sentido, a arquitetura das cidades compõe, de um modo
geral, um conjunto de dados que permitem uma aproximação
real do presente com o passado. É com o resultado do esforço
feito pelas permanências e transformações que
as sociedades constroem, ao longo do tempo, a sua imagem. O desafio
do pesquisador é descobrir na arquitetura das cidades as
mil contribuições e os disfarces que o impedem de
interpretá-la por sua natureza (Magaldi, 2000).
Entretanto, segundo Mumford (1961), à medida que aumentou
o ritmo da urbanização dos meios urbanos, ampliou-se
o círculo de devastação sobre a própria
cultura e, correlativamente, sobre o patrimônio.
De
fato, o que se vê hoje é a negação da
história e da memória em favor de um suposto progresso,
o que tem condenado irremediavelmente as malhas urbanas tradicionais,
as construções históricas oficiais, os marcos
e as referências das cidades, os conjuntos singelos de casario
colonial, a arquitetura vernacular e a arquitetura modernista, os
bairros e as sedes rurais, as capelas, os chafarizes, os sítios
arqueológicos, as paisagens, as estações de
estrada de ferro, os cinemas, as praças. Somando-se a isto
o crescimento dos meios de comunicação de massa, chega-se
também ao desmantelamento das tradições, das
festas, enfim, da alma das
comunidades, num total desrespeito ao patrimônio histórico
coletivo.
Ausente da maioria das políticas públicas de planejamento
físico-territorial e dos planos de gestão municipal,
o patrimônio foi sendo tratado como questão de responsabilidade
do Estado ou da União, divorciado do planejamento das cidades,
visto apenas sob o enfoque do desenvolvimento econômico ou
simplesmente ignorado. Agravam este processo a descontinuidade administrativa
dos municípios, a inexistência de políticas
culturais locais, a falta de investimento na formação
de técnicos na área, a suscetibilidade às pressões
de grupos da comunidade, o forte jogo de interesses imobiliários,
a aceitação generalizada de uma noção
de desenvolvimento associada à verticalização
e a instauração de processos de renovação
contínua das cidades sobre elas mesmas. Isso faz as cidades
copiarem outras mais estruturadas e tidas como modelos.
Segundo Argan, apud Santos (2001), existe a predominância
de uma concepção de planejamento urbano que raciocina
essencialmente em termos da economicidade dos espaços, priorizando
fluxos de tráfego, adensamento de tecidos, aproveitamento
racional da infra-estrutura urbana, e que renega a um plano secundário
os componentes históricos e estéticos do urbanismo
ou mesmo nega sua inclusão entre os valores urbanos a serem
considerados. Esses dois fatores concorrentes foram suficientes
para que as
cidades deixassem de ser vistas como uma questão cultural
e passassem a ser parte de um fenômeno que, apesar de não
ser só brasileiro, aqui conheceu sérias dimensões,
sendo definido como a “rejeição da história
pelo pragmatismo”.
Nesse
contexto, as obras de arte, em especial as arquitetônicas,
oferecem o maior conjunto de documentos de algum modo preservados
e ainda não investigados sobre a vida passada e atual das
sociedades (Magaldi, 2000).
Também Bosi (2004) afirma a relevância da preservação
do patrimônio material ao demonstrar como as lembranças
se apóiam nas pedras da cidade e como, não por outra
razão, os homens, ao longo dos séculos, têm-lhes
atribuído valor e trabalhado para que permaneçam (ou
desapareçam) enquanto expressões da memória
coletiva, de uma identidade compartilhada.
Assim,chega-se à necessidade de uma educação
patrimonial efetiva da população das cidades. Horta
(1999) define essa educação como um processo permanente
e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio
Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento
individual e coletivo. Isto significa tomar os objetos e expressões
do Patrimônio Cultural como ponto de partida para a atividade
pedagógica, observandoos, questionando-os e explorando todos
os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos.
Só após esta exploração direta dos fenômenos
culturais, tomados como “pistas” ou “indícios”
para a investigação, se recorrerá então
às chamadas “fontes secundárias”, isto
é, os livros e textos que poderão ampliar esse conhecimento
e os dados observados e investigados diretamente.
O conhecimento crítico e a apropriação consciente
por parte das comunidades e indivíduos do seu patrimônio
são fatores indispensáveis no processo de preservação
sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos
sentimentos de identidade
e cidadania. O patrimônio, como o nome diz, é algo
herdado de nossos pais e antepassados. Essa herança só
passa a ser nossa, para ser usufruída, se nos apropriarmos
dela, se a conhecermos e reconhecermos como algo que nos foi legado,
e que deveremos deixar como herança para nossos filhos, para
as gerações que nos sucederão no tempo e na
história. Uma herança que constitui a nossa riqueza
cultural, individual e coletiva, a nossa memória, o nosso
sentido de identidade, aquilo que nos distingue de outros povos
e culturas, que é a nossa “marca” inconfundível,
de pertencermos a uma cultura própria, e que nos aproxima
de nossos irmãos e irmãs, herdeiros dessa múltipla
e rica cultura brasileira.
A educação patrimonial pode ser assim um instrumento
de “alfabetização cultural” que possibilita
ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o
à compreensão do universo sociocultural e da trajetória
histórico-temporal em que está inserido. Este processo
leva ao desenvolvimento da auto-estima dos indivíduos e comunidades
e à valorização de sua cultura.
SÃO FRANCISCO: MEMÓRIA E ARTE (DES)ENRAIZADAS
NAS CONSTRUÇÕES
Na análise da arquitetura das edificações do
centro histórico de São Francisco, percebe-se que
o estilo mais antigo aí presente é o colonial brasileiro.
Suas características podem ser distinguidas tanto nas sedes
de velhas fazendas quanto em algumas poucas casas de vaqueiros ou
pescadores que resistiram à ação do tempo.
Na “casa grande” tradicional, é notória
a presença de fachada com seis a oito janelas, uma porta
principal ao lado de duas ou mais casas de apoio. Seu telhado é
de duas águas e a pintura, em branco com portas e janelas
azuis ou sangue de boi. Encontramse ainda amplos salões de
pés-direitos altos e janelões clareadores, as alcovas
espremidas sem banheiro, as varandas refrescadas pelo vento.
Já
as casas térreas eram construídas coladas umas nas
outras, com um sólido conjunto de paredes externas, construídas
com taipa e uma mistura de barro, sangue de animais e capim e, com
uma largura média de setenta centímetros. As paredes
internas, por outro lado, eram erguidas pelo método de pau-a-pique,
armações de bambu barreadas bem mais finas. O telhado
nesses exemplares é formado de telha de bica, contrapondo
nos beirais, uma proteção às paredes de taipa
contra erosão provocada pela água da chuva.
Não obstante seja o mais antigo, o estilo colonial brasileiro
não predomina no conjunto arquitetônico da cidade de
São Francisco. A primazia encontra-se com o estilo Neoclássico,
tendência artística que surgiu em contraposição
às idéias do Barroco e do Rococó.
Situando-a, pode-se dizer que a arquitetura neoclássica trouxe
à tona, em fins do século XVIII, um retorno às
formas clássicas. Suas principais características
são: presença dos arcos romanos, guarda-corpo em balaustrada,
colunata coríntia, platibanda e frontão encimando
a fachada. Há a predominância de tons pastéis
valorizados por detalhes em branco ou vice-versa. A perfeição
da forma era o ideal estético. Neste estilo arquitetônico,
as superfícies são lisas e decoradas. Os pórticos
enormes derivam dos templos gregos e o formalismo é refinado
e enfatiza os frontões
como as principais guarnições nos edifícios.
São usados, geralmente, materiais nobres como o mármore,
esquemas ortogonais, formas simétricas, murais lisos, volumes
encorpados, pórticos colunados, frontões triangulares.
Também predominam os volumes geométricos regulares,
solenes e pouco ornamentados.
O estilo neoclássico chegou ao Brasil através da missão
artística francesa que veio ao Rio de Janeiro a pedido da
Corte Portuguesa para dar condições à cidade
de ser sede do governo português. No norte de Minas, o estilo
neoclássico chegou pelo rio São Francisco, trazido
por mestres nordestinos, sendo comum a denominação
neoclássico ribeirinho ou sanfranciscano, já que podem
ser encontradas as mesmas características das cidades de
Juazeiro na Bahia a Pirapora em Minas Gerais, as quais delimitam
o trecho navegável do rio.
Na cidade de São Francisco, situada entre esses extremos,
afloram inúmeros exemplos do neoclássico ribeirinho:
são diversas casas construídas no limite do terreno,
com fachadas trabalhadas em lambrequins, colunas que seguem principalmente
a ordem dórica, janelas e portas em arco e frisos com decoração
floral. Além destes detalhes distintivos, são comuns
também nas fachadas das casas do centro histórico
medalhões com a data da construção ou as iniciais
do proprietário.
Situada no centro histórico, a capela São Félix,
com seu traçado original parcialmente preservado e altar
com preciosas pinturas em afrescos, é uma relíquia
do estilo, a qual sofre as ameaças do tempo e da falta de
conservação.
Não obstante, a edificação que melhor representaria
o Neoclassicismo em São Francisco é a Praça
Centenário. Segundo os relatos colhidos, nas primeiras décadas
do século XX, um prefeito da cidade viajou para a França
e, encantado com as construções de Paris, encomendou
um projeto nelas inspirado para a praça central e também
para sua residência, instalada em frente à mesma. Contam
os moradores que até mesmo as mudas das plantas para o paisagismo
foram trazidas da Europa pelo prefeito. Em fotos da época
de sua construção, realmente chama a atenção
sua beleza clássica.
Com o passar do tempo e com a desinformação dos governantes
posteriores, o coreto neoclássico ali presente foi retirado
e reformas sucessivas, sem o devido cuidado técnico, transformaram
a Praça Centenário em um lugar comum, sem atrativos
ou valor artístico. Restam apenas alguns dos belos casarões
que, acompanhando a iniciativa do prefeito, rodearam a praça,
dando à cidade de São Francisco identidade e encanto
dentre eles, salienta-se
um com liras representadas no alto da fachada, indicando que ali
possivelmente morava uma professora de música. Em casa próxima,
encontra-se um pequeno jardim francês e uma belíssima
varanda com baldaquins em forma de gregas, afrescos nas paredes
e frisos em forma de parreiras com belos cachos de uvas invocando
fartura e fertilidade para seus proprietários. Outra residência
destaca-se por um ornamento em forma de ânfora no centro da
fachada ladeada por papiros. E, ainda, cabe registrar fachadas com
pequenas esculturas que lembram a tradição romana
de invocar seus deuses protetores, guardiões dos lares.
Atualmente, pode-se dizer que a Praça Centenário inscrevese
no estilo eclético, o terceiro com maior predominância
nas construções em estudo.
O ecletismo foi um estilo arquitetônico predominante do início
do século XX. Após a crise dos neos (neoclássico,
neogótico, etc.), que dominou a arquitetura do século
XIX, o debate sobre qual o estilo histórico mais importante
tornou-se infrutífero. Da constatação de que
a aplicação dos novos materiais não estava
subordinada a um estilo específico, algumas academias (tanto
européias quanto americanas) passaram a propor um modelo
de arquitetura historicista, resultado da mistura de estilos diversos.
Nessa esteira, os temas alegóricos e exóticos são
usados à exaustão. Empregam-se diversos materiais
sem função alguma, a policromia e a acumulação
de ornamentos.
Juntamente com a Praça Centenário, a construção
de maior destaque dentre as analisadas é a Igreja dedicada
a São José, a qual se encontra voltada para o rio
São Francisco, primeira estrada e foco de todas as atenções
nos primórdios do vilarejo, veio por onde circulavam pessoas,
mercadorias e idéias.
Ao contrário do que se vê na praça, o templo
é um belo exemplar de arquitetura eclética, contando
com apenas uma nave, ao mesmo tempo em que apresenta três
torres encimadas com
cúpulas
que lembram a arquitetura mourística. Na porta principal,
destaca-se um tímpano com floral delicado, em substituição
às famosas cenas do juízo final comuns nas catedrais
góticas do período medieval. As janelas seguem estilo
ogival, mas sem os vitrais coloridos.
Adentrando a igreja, a grande e decepcionante surpresa é
o vazio criado pela retirada do suntuoso altar original, restando
em seu lugar apenas a mesa de celebração e o sacrário.
Justamente este sacrário e algumas outras peças sacras
são testemunhas do
enorme prejuízo causado pela retirada do altar. Quanto às
imagens, existem somente três barrocas, sendo as demais cópias
em gesso de pouco valor artístico.
Nas décadas de sessenta e setenta do século passado,
chega à cidade o estilo modernista, influência das
construções da nova capital do país, Brasília.
Vários prédios públicos, como por exemplo a
“Escola Bom Menino”, têm sua fachada inspirada
no modernismo de Niemayer. Também segue esse estilo o prédio
onde funcionava o cinema, espaço amplo e rico em possibilidades
que, sem razões justificáveis, permanece fechado e
sem vida.
Atualmente, a edificação de agências bancárias
e redes de lojas segue avançando sobre o que restou do belo
conjunto arquitetônico da cidade.
No que concerne às condições gerais de conservação
do patrimônio ainda existente, pode-se afirmar que, se por
um lado alguns moradores ou mesmo os governos ao longo do tempo
foram e são responsáveis pela falta de manutenção
das cores originais de alguns imóveis ou do próprio
formato original das fachadas e área interior (através
da criação de novos cômodos), por outro, há
aqueles que cuidaram e cuidam da conservação das construções.
Mas essa é uma parcela muito pequena.
Quanto
às iniciativas de preservação do patrimônio
arquitetônico em estudo, o levantamento realizado atesta que
há em São Francisco uma política pública
municipal de conservação, a qual materializa-se nas
Leis 2.032/2002 (que estabelece as normas de proteção
do patrimônio cultural do Município de São Francisco
e seu respectivo procedimento) e 2.233/2005 (que reestrutura o Conselho
Municipal do Patrimônio Cultural do Município de São
Francisco como o órgão de assessoramento ao Prefeito
no que diz respeito à preservação dos bens
de valor cultural).
Não obstante a existência do referido respaldo legal,
em vinte de maio de 2005 foi assinado o Termo de Ajustamento de
Conduta (Procedimento Administrativo n.º 19/2003), onde o Município
de São Francisco reconhece a inexistência de uma política
municipal efetiva de defesa do patrimônio cultural, ainda
que existam bens em sua sede e distritos de reconhecido valor histórico-cultural.
Buscando superar este quadro pouco animador, a ONG Preservar, ao
longo dos anos vem fazendo um trabalho de conscientização
da população local, ao mesmo tempo em que reúne
um acervo de peças usadas em antigos ofícios, na esperança
da criação de um museu capaz de contar às futuras
gerações a história da cidade de São
Francisco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da pesquisa realizada, pode-se constatar a riqueza cultural
e artística da arquitetura de São Francisco, bem como
documentar a sua flagrante deteriorização. Com base
nos dados levantados, especialmente no que tange ao estado atual
de conservação dos imóveis e à aplicação
da política municipal de preservação patrimonial,
percebe-se que muito há por ser feito para que a população
e os governos se conscientizem da grandiosidade do tesouro que têm
nas mãos, antes que o mesmo escorra por entre seus dedos.
E,
como a investigação científica não se
restringe à mera observação da realidade, mas
configura-se como instrumento de intervenção nesta,
conclui-se o presente estudo com a sugestão de possíveis
ações no sentido de recuperar o que ainda resta da
beleza do patrimônio arquitetônico da cidade de São
Francisco.
Em primeiro lugar, destaca-se que a educação patrimonial
mostra-se como fator essencial para a preservação
da riqueza do acervo analisado. Sem que crianças e adultos
saofranciscanos engajem-se em um processo ativo de conhecimento,
apropriação e valorização de sua herança
cultural, será impossível a manutenção
do que lhes foi deixado por seus antepassados.
Outra possibilidade que se apresenta é a de urgente restauração
da Praça Centenário e do casario em seu entorno, local
que poderia transformar-se em verdadeiro centro de turismo histórico,
caso os referidos imóveis e outros, como o prédio
do antigo cinema, fossem utilizados como espaços culturais.
Por fim, em face da carência de estudos sobre a arquitetura
de São Francisco e, em regra, de todas as cidades do norte
de Minas, espera-se que esta pesquisa possa abrir caminhos para
novos projetos e ações que transformem em realidade
a valorização e preservação do acervo
arquitetônico desta região. Essa postura talvez seja
um dos nossos maiores compromissos para com as gerações
passadas, presente e futuras, mas principalmente, para o avanço
da História enquanto ciência.
__________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças
de Velhos.
12 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
BRAZ, Brasiliano. São Francisco nos caminhos da História.
Belo Horizonte: Editora Lemi S.A., 1977.
COSTA,
Lygia Martins. De museologia, arte e política do
patrimônio. Rio de Janeiro: Ed. Do patrimônio, 2002.
FENELON, Déa Ribeiro (org.) Cidades. São Paulo: PUC/SP,
2000, p. 5-13.
FREITAS, Marcel de Almeida. Estilos artísticos arquitetônicos
pós-gregos e romanos: Estilo Neoclássico. Disponível
em
<http://www.pitoresco.com.br/arquitetura/ neoclassico.htm >;
acesso em 20 de junho de 2006.
____________ Estilos artísticos arquitetônicos pós-gregos
e romanos:
Estilo Neoclássico: Estilo Eclético. Disponível
em <http://
www.pitoresco.com.br/arquitetura/ ecletismo.htm>; acesso em
20 de junho de 2006.
FUNARI, Pedro Paulo. Turismo e patrimônio cultural. São
Paulo: Contexto, 2002.
HORTA, Maria de Lourdes P. Educação Patrimonial. Disponível
em <http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2003/ep/
tetxt1.htm>; acesso em 29 de junho de 2006.
MAGALDI, Cássia R. C. de . Entre o pensar e o fazer arquitetura
em Salvador na virada dos séculos XVIII e XIX. In: FENELON,
Déa Ribeiro (org.) Cidades. São Paulo: PUC/SP, 2000,
p.15-32.
MUMFORD, Lewis. A cultura das cidades. Belo Horizonte:
Editora Itatiaia, 1961.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito além do espaço: por
uma história cultural do urbano. Estudos Históricos,
Rio de Janeiro,
vol.8, n.16, p. 279-290, 1995.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do
Rio de Janeiro e Minas Gerais; tradução de Vivaldi
Moreira. Belo
Horizonte: Itatiaia, 2000.
___________ Viagem às nascentes do Rio São Francisco;
tradução
de Regina Regis Junqueira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.
SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Novas fronteiras e novos
pactos para Patrimônio Cultural. São Paulo em perspectiva,
vol.15, n.2, p.43-48, 2001.
SIMÃO, Maria Cristina Rocha. Preservação do
patrimônio
cultural em cidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
ANEXOS
_____________________________________________
Detalhe das torres da Igreja de São José
Capela de São Félix
Detalhe de fachada com ânfora e papiros
PETRÓLEO
EM MONTES CLAROS
Maria das Mercês Paixão Guedes
Cadeira N. 73
Patrono: Lilia Câmara
Texto
de Antálcidas Drumond
Aí
em Montes Claros, em um dia útil dos idos de 1953/1954, as
aulas matinais do Colégio Diocesano transcorriam sem nenhuma
perturbação. Os alunos vestidos com uniformes que
eram cópia quase fiel das fardas dos Soldados de Policia,
que era a denominação dos atuais Políciais
Militares, comportavam-se dentro dos padrões da civilidade.
De repente, na minha sala, entrou um funcionário da secretaria
do colégio, que falou com o Professor poucas dúzias
de palavras em um tom que não dava pra nós sabermos
de que se tratava. Mas o professor, que arrisco dizer era Pedro
Santana, falou em voz alta e meio boquiaberta, mais ou menos as
seguintes palavras: “Há notícias de que foi
descoberto petróleo no local onde está sendo construído
o novo Seminário Diocesano, em uma rua nova, lá por
trás do Colégio Imaculada Conceição”.
Formou-se na sala tamanho alarido, que as aulas tiveram que ser
suspensas e do mesmo jeito em todo o Colégio. Saímos
um bando de alunos misturados com professores e funcionários
da secretaria. Da frente do Colégio, viramos a direita para
o rumo do Colégio Imaculada Conceição. Logo
dobramos novamente ádireita
e em seguida a esquerda, já andando em uma trilha de mato
raso, paralela a Avenida Coronel Prates, onde hoje acredito haja
uma rua toda pavimentada. No caminho fomos encontrando outras poucas
pessoas andando também depressa, todos curiosos em constatar
a grande novidade.
No local da obra havia poucos operários. Mas simultaneamente
e por outro caminho, talvez passando por dentro do Colégio
Imaculada, chegou também o Bispo Diocesano. Portando vistosa
batina, preto escarlate, assumiu logo a liderança das ações,
e postou-se na cabeça da vala onde foi apontado que teriam
aparecido os vestígios de petróleo. Nós da
platéia nos distribuímos nas bordas do restante da
vala. Todos de olhos arregalados para os lados do bispo.
Dirigindo-se ao cavador, que havia dado o alarme do petróleo,
o clérigo perguntou o que teria acontecido. O pedreiro então
narrou: eu estava cavando aqui, dei uma paradinha e acendi um cigarro.
Aí eu joguei o pau de fósforo dentro da vala, aqui
neste lugar, e apontou uma diminuta concavidade, certamente feita
pelo bico de um enxadão. A chama da cabeça do fósforo
aumentou e ainda ficou aceso por muito tempo. Neste momento e na
minha cabeça, surgiu a primeira decepção. O
que eu sabia até então é que petróleo
era um óleo de cor escura, e o local estava mais para o amarelado
da cor de “toá” que era uma pedra mole com a
qual escrevíamos nas paredes das casas.
Também foi aí que um gaiato que estava mais próximo
de mim que do bispo murmurou para que o bispo não ouvisse:
“Agora eles vão organizar a Petrobispo”. Naturalmente
em alusão à Petrobrás. Ou que já estava
nos noticiários da época, ou quem sabe já tinha
sido fundada em 03/10/1953.
O Bispo então acomodou a batina para dentro das canelas,
pulou para dentro da vala e pediu para que o pedreiro repetisse
in loco e ao vivo a experiência narrada. Acendeu o fósforo,
jogou na pequena cavidade e a chama apagou. Outro fósforo,
mais outro, já no ritmo das pombas de Raimundo Correa e,
todos negaram fogo quando tocavam a terra.
Daí pra frente, a chama que alimentava a nossa imaginação
também foi se apagando.
Aos poucos os curiosos foram indo embora, e o bispo também.
No fundo todos nós torcíamos para, quem sabe, o petróleo
da Petrobispo fosse diferente. Seria claro e apenas não queria
se exibir para aquela platéia. Um de batina, muitos de uniforme
escolar e outros de roupa comum.
Dois ou três dias depois se divulgou, de boca em boca, que
o gás metano que era resultante da decomposição
de matéria orgânica ali enterrada, tinha sido o combustível
que alimentou a chama do fósforo e as ilusões petrolíferas
do pedreiro e de todos nós.
Da minha parte foi uma decepção, pois cheguei a imaginar
que, chegando ao alto da escada dos fundos do Colégio Diocesano,
olhando para a esquerda eu veria mais adiante as inúmeras
torres para extração de petróleo, igualzinho
àquelas que eu tinha visto em um filme das matinês
do Cine Coronel Ribeiro.
Aquele abraço para todos vocês dos Paixão/Guedes...
_________________________
O nome da pessoa que escreveu o artigo é: ANTÁLCIDAS
DRUMOND
PEQUENO
HISTÓRICO DA SERESTA EM MONTES CLAROS
Maria de Lourdes Chaves
Cadeira N. 65
Patrono: José Gonçalves Ulhôa
Dando um mergulho no cerne da existência da seresta em Montes
Claros, reportamo-nos ao início do século XX.
Lá, encontraremos a seresta cultivada pelos jovens cantores
e instrumentistas numa época em que a diversão dos
rapazes se resumia em fazer serenatas para as donzelas quando já
dormiam em seus travesseiros de flores.
O jurista, poeta, compositor e instrumentista João Chaves,
serestava com seus amigos José Maria, compositor, natural
de Januária. Dele, disse João Chaves; “Vem à
minha mente, com freqüência a imagem quase negra do mulato
januarense, José Maria Fernandes, que residiu aqui por muitos
anos. Enxergo-o no meu momento, vibrando com proficiência
as cordas do meu violão, cantando esta canção:
Tu és como a rosa gentil purpurina...”
Antônio Cardoso Faria (Tonico Faria), natural de Montes Claros,
foi um dos maiores seresteiros da cidade e dos rapazes mais elegantes
do seu tempo.
Antônio Xavier de Mendonça (Mendoncinha), natural de
Montes Claros.
Pedro Mendonça, irmão de Antônio, montes clarense.
Totônio Américo – natural de São Francisco
– MG.
Virgolino Narciso Soares, solteirão, natural de Montes Claros.
Américo França, cantor que juntamente com João
Chaves fundou o jornal semanal “O Sol”.
Leônidas de Andrade Câmara, montesclarense. Foi escrivão
do Cartório do Crime em Montes Claros, nos anos de 1880.
Era poeta e autor da letra do hino do Ginásio Municipal.
Gentil Sarmento, era viajante comercial. José Augusto Prates,
apelidado de José de Sá Deca, natural de Montes Claros,
foi funcionário dos Correios e Telégrafos.
Augustinho Guimarães, músico exímio e dono
de uma bela voz e compositor, era pai de Telé, cantor do
Grupo de Serestas “João Chaves”. Donato Quintino,
natural de Montes Claros. Luiz Gregório Júnior, professor.
Elpídio José Cezar, natural de São Romão-
MG. Cantor e compositor.
Manoel da Silva Reis - Silva Reis, no dizer de João Chaves,
de voz doce, límpida, sonora e suave. Diamantinense, violonista
e cantor. Faleceu em Montes Claros, com apenas 44 anos de idade.
Foi para ele que João Chaves dedicou a letra e música
da modinha “Adeus” consagrada pelo povo com o título
de “Bardo”. Saltando no tempo, do início do século
XX para o ano de 1967, vemos Dr. Hermes Augusto de Paula, médico
sanitarista e historiador, convidando cantores e instrumentistas
para organizar
o primeiro grupo de serestas em Montes Claros, que recebeu o nome
de Grupo de Seresta “João Chaves”. No início
do grupo, eram seus integrantes: Sinval Froes, violão. Sebastião
Mendes - Seu Ducho, bandolim. Cantores - Nivaldo
Maciel, João Leopoldo Alves França, “Telé”
– Celestino Soares da Cruz, Tereza Maria, Josefina Abreu de
Paula, Clarice Maciel, “Lola”- Maria de Lourdes Chaves,
Selma Abreu.
Com o passar do tempo, uns saíram outros entraram. Raymundo
Chaves, Luis Procópio, Adélia Miranda, Gilberto Câmara,
Toledo, Luizinho, Virgílio de Paula, Beto Viriato, Terezinha
Jardim, Clarice Sarmento, Adelcio Saraiva, Alaíde Neves.
Foram gravados oito “LPs”. O Grupo, na sua primeira
formação, apresentou-se no programa de Flávio
Cavalcante em Ouro Preto-MG, tirando o 1º lugar, entre outras
cidades no Concurso de Modinhas. A peça de confronto foi
Amo-te Muito, de João Chaves.
A formação atual do grupo é a seguinte: Presidente
– Josefina Abreu de Paula, Presidente administrativa –
Terezinha Jardim. Diretor de Comunicação – Adelcio
Saraiva. Diretora Musical – Maristela Cardoso. Diretora financeira
e secretária – Marta Marcondes.
Instrumentos: Violão – Luis Porfírio –
Milton Barbosa – Adelcio Saraiva. Bandolim – Marlene
Cunha e Mafalda Mafra. Percussão – Rogério Botelho.
Cantores – Adelcio Saraiva, Rogério Botelho, Ademar
Toledo, Hélio Saraiva, Terezinha Jardim, Maristela Cardoso,
Walderez de Paula, Josefina Abreu de Paula, Marlene Pereira, Carmina
Gonçalves, Marta Marcondes.
O primeiro grupo gravou um disco com três músicas.
Nivaldo Maciel cantou “Acorda minha beleza”, Telé
“Amo-te Muito”e João Leopoldo, “Camélia”.
O Grupo de Serestas “João Chaves”, de Montes
Claros, sempre se apresentou com grande sucesso por várias
cidades de diversos estados brasileiros. Embora todas as apresentações
tenham sido importantes, vale aqui ressaltar algumas que se destacaram
devido à excelente repercussão.
No Palácio da Alvorada em Brasília, especialmente
para o presidente Costa e Silva.
No cemitério do Bom Fim em Montes Claros, por ocasião
do sétimo dia de falecimento do patrono João Chaves.
Novamente, no mesmo cemitério, especialmente para o programa
Fantástico da Rede Globo de TV.
Em Araxá, quando cantaram para uma comitiva de Moscou, na
a presença do Embaixador da Rússia.
No Golden Room do Copacabana Palace no Rio de Janeiro, juntamente
com nomes expressivos da música brasileira, como Nara Leão,
Paulinho e Maurício Tapajós, Paulo Tapajós,
cantoras do Quarteto em Si e Maria Lúcia Godoy. O Motivo
foi o lançamento de um álbum especial sobre modinhas,
com participação do presidente JK. O Grupo de Serestas
foi o único grupo do gênero convidado para esse importante
evento. Na Vargem Grande de Montes Claros, para o presidente JK.
Em Ouro Preto, nas comemorações do dia de Tiradentes
de 1969, ao lado da cantora Maysa e de Flávio Cavalcante.
No Palácio das Artes de Belo Horizonte, apresentados pelo
Maestro Isac Karabtchevsky. Ao término, o maestro, fascinado
pelo que ouviu, “contratou” o grupo para cantar “O
Bardo” no sétimo dia de seu falecimento, junto a seu
túmulo.
Em Buenos Aires, Argentina, com onze shows de sucesso no Teatro
Coliseu e no Hotel Sheraton, durante o festival internacional da
cozinha.
Nos programas do renomado apresentador de TV Rolando Boldrin, tanto
na Globo quanto na Bandeirante. “
Em
seguida, foi criado o Grupo de Serestas João Vale Maurício,
médico cardiologista e escritor. Sua criação
foi ideia de Ada Camisasca, então diretora do “SESC”
de Montes Claros.
Direção: Geni Rosa.
Violão: Geni Rosa e Geronildes Oliva.
Cantores: Flávia Rabelo, Beatriz Helena Azevedo, Celeste
Silva e Gomes, Nilza Lopes, Ana Maria Santos, Valdir Alves, Ademar
Toledo, Cassimiro Mendes. Este foi o grupo original.
2º
GRUPO
Carlos Pereira, Solange, Valdir, Sissi, Iracema, Nô, Amélia,
Toledo, Tio Tonico, Carmen, Pedro Lúcio, Beatriz, Trui, Geraldo
Paulista, Cláudia. Gravaram o disco “Lágrimas
ao luar”.
Grupo de Serestas Luiz de Paula, empresário e escritor. Integrantes
do Grupo: Osvaldo Euzébio, voz e violão, Urze de Almeida,
bandolim. Cantores: Ana Maria, Celeste, Edinilson Cordeiro, Wanda
Cardoso e João Carneiro.
Em 1977, foi criado o Grupo de Serestas “Minas Gerais”
dirigido por Dr. Francisco Alencar Carneiro, advogado, contabilista
e instrumentista.
Grupo Original
Instrumentos:
Dr. Francisco Alencar Carneiro – Bandolin.
Violão: Edgar Muniz
Adair Gomes
Jesuino Ramos.
Cantores:
Adair Gomes
Felisberto Veloso
João Pereira
Jacy Saraiva
José Neto
Maurício Marcos
Pedro Lúcio
Carmen Lemos
Maria Salomé
Maria de Lourdes Chaves “Lola”
Olga Santos
Terezinha Fróes
Este grupo gravou o disco “Relíquias da Seresta Brasileira”.
Ele se apresentou para magistrados, Polícia Militar e em
vários casamentos da sociedade montes clarense, em missas
solenes e coroações. Seu fundador Dr. Francisco Alencar
Carneiro, faleceu aos 4 de fevereiro de 2002.
Em abril de 2002, o Grupo passou a ser dirigido pela autora deste
artigo. Foram gravados dois “CDs” – “Pérolas
de Saudades” e “Céu de Montes Claros”.
Está em andamento, a gravação de um “DVD”.
Grupo de Serestas “Lola Chaves”
Formação
do atual grupo:
Relações públicas: Amelina Chaves, Orlinda
Andrade.
Instrumentos: Violão – Jesuíno Ramos
Deolindo Freitas
Pedro Rodrigues
Cavaquinho: Manoel Soares
Pandeiro: Maria Paulino
Contra baixo: Batuta
Triângulo: Lourdes
Cantores: Deolindo, Maria, Carmen Lemos, José Fernandes (Zezé),
Zenaide Teixeira, Lourdes França, Carlos Costa, Jacy Saraiva,
Maria Lúcia Lacerda, Vitor Luis Dias. Olga Santos, Maria
de Lourdes Chaves (Lola), Maria Terezinha Rodrigues Correia.
Este grupo já se apresentou para o Colegiado de Diretores
dos Tribunais de Justiça do Brasil, reunidos no Buffet Catharina
em Belo Horizonte, no Fórum Gonçalves Chaves, no Shopping
Montes Claros, em vários estabelecimentos de ensino, em comemorações
de aniversários, bodas de prata, na Câmara de Vereadores
desta cidade, em Corinto, Lontra, sempre fazendo sucesso. Hoje o
Grupo denomina-se Grupo de Serestas “Lola Chaves”.
Grupo de Serestas “Lola Chaves”
Grupo de Serestas “Lola Chaves” (Foto
Half)
Outros grupos atuam em Montes Claros, enriquecendo cada vez mais
o celeiro de seresteiros.
Grupo Marucas Avelar, Grupo Manoel Meira, Grupo Vozes de Prata,
Grupo Idade do Ouro e Grupo Namorados da Lua.
Grupo Namorados da Lua
*
“O Grupo Namorados da Lua, criado em 22 de Maio de 1988 pelo
casal Josecé e Leonora, com o objetivo de resgatar a música
regional seresteira do sertão norte mineiro. O povo Montes
clarense é por excelência amante eterno das músicas
cantadas ao som de um violão, bandolim sob a claridade vaidosa
da lua cativante que teimosamente ilumina os trovadores do norte
das Gerais. O Namorados da Lua chegou fugindo do estilo tradicional,
inovando e dando uma roupagem moderna, valorizando inclusive os
compositores da terra de Figueira... Chegou ainda com o objetivo
de arrancar nossa gente da frente dos computadores e televisões
que nos fazem esquecer os velhos bate-papos, de curtir e ouvir a
natureza, de sentir o calor humano e tantas outras coisas belas
massacradas pela evolução dos nossos tempos. Já
diz o velho ditado: “Quem canta seus males espanta”.
E é isto que propõe neste seu primeiro trabalho o
grupo de seresta Namorados da Lua: retirar do fundo do baú
toda beleza que em tempos não muito remotos era a paixão
de nossa gente sertaneja... assim sendo, vai a nossa proposta de
mudar um pouco o sentido da vida e do nosso dia a dia ... Cantar,
cantar e cantar, e quem sabe, nossas dores, lamentos, desilusões
poderão ser amenizadas, confortadas e até mesmo recheadas
de força para continuarmos nossa caminhada tão difícil,
tão conflitante, porém compensadora e bela...
E na luta constante de preservar suas raízes, valorizar nossa
arte e nossa gente, o Grupo Namorados da Lua gravou seu primeiro
CD com letras próprias e de autores conhecidos nacionalmente.
Ao longo desses anos o Namorados da Lua tem participado ativamente
de vários eventos culturais tais como: Projeto Seresta Itinerante
(SESC – Sec. De Cultura e Associação dos Artistas
do Norte de Minas), Apresentações em Clubes locais,
escolas, universidade, festas municipais, festas religiosas, etc.
Componentes:
Josecé Santos (Coordenador) voz e violão – Celso
Barbosa (Pandeiro) – Eduardo Pinheiro (Sanfona 120 baixos),
Márcio Levi (Sax) – Santos Cardoso (Violão)
– Luizinho do (Bandolim) – José Mota (Acordeom
120 baixos) – Cleusa de Fátima (voz) – Nurilo
Humberto (voz) – André José (violão)
– Violeta e Edna (voz).
GRUPO
DE SERESTAS CORDAS VOCAIS
* “Coordenador: José Lopes Godinho.
O Grupo de Serestas Cordas Vocais, foi fundado em Agosto de 2004
pelo Professor de violão do Conservatório Estadual
de Música Lorenzo Fernandez, José Lopes Godinho, e
se apresentou oficialmente pela primeira vez para a sociedade montes
clarense e demais apreciadores do gênero no dia 24/09/2004,
num evento intitulado: Uma Noite de Seresta, o qual foi promovido
pelo Centro Avançado das Faculdades Pitágoras, na
Praça Coronel Ribeiro, Montes Claros.
Desde a sua fundação o grupo tem tido uma preocupação
constante com o social e para tanto, tem se apresentado inúmeras
vezes em escolas, creches, asilos e até em outras cidades
do norte de Minas, sempre levando um repertório composto
de canções
da MPB, canções clássicas da seresta mineira
e brasileira e também músicas do nosso cancioneiro
folclórico e regional.
O grupo é formado principalmente por alunos e funcionários
do Conservatório, no entanto, também aceita a participação
de pessoas da comunidade. Outra característica da Seresta
Cordas Vocais é sempre apresentar canções inéditas,
compostas por membros do próprio grupo. A formação
atual é a seguinte:
Carlos Magno Tolentino
Geraldo Jobert Nascimento
Haroldo Jorge de Jesus
Heline Lisboa Fonseca
José
Valdir Silva
Leila Claret Medeiros Rego
Mafalda Mafra Madureira
Maria Audelina Dias Lima
Maria Clara M. L. Godinho
Maria das Graças
Maria de Fátima Ribeiro
Maria de Jesus Coimbra
Maria de Lourdes
Maria Luisa Brandão
Nilson Araújo Silva
Romildo Duarte Januário
Tarcísio Iran Rego
Rosana Damasceno
*José Lopes Godinho – Informante.
É da lavra do coordenador José Lopes Godinho a letra
e música “Diva Seresteira”.
DIVA SERESTEIRA
Zé Godinho
(com carinho a Lola Chaves)
No sertão de Montes Claros
Vive a Diva Seresteira
É uma dama preciosa
De alma tão guerreira!
Sob o lustro de seu manto
Guarda um rico tesouro, em poemas encantados
Que se transformam no mais puro ouro.
Guardiã do segredo eternal
Lola é fruto do amor e da canção
Musa, elixir atemporal
Minério, flor e coração.
No sertão de Montes Claros
Já nasceu fazendo festa
Pois é a filha da seresta
E dos impulsos da paixão
Nas andanças desta vida
Leva em punho uma bandeira
Que tanto dá orgulho
À cultura norte mineira
GRUPO “MANOEL MEIRA” - SESC DE MONTES CLAROS
O Coral “Rosa Mística” hoje Grupo “Manoel
Meira” surgiu em 1993, formado por um grupo de amigos (as)
que se reuniam na Unidade de Serviços de Montes Claros, onde
praticavam diversas atividades recreativas.
O Coral “Rosa Mística” tinha o Sr. Manoel Meira
e a Senhora Stela Borém Guimarães como responsáveis
pela direção musical. A responsabilidade geral ficava
a cargo de Alayde Neves de Oliveira.
As apresentações aconteciam em diversos lugares: igrejas
(missas, casamentos, bodas) e comemorações em geral.
Depois de algum tempo, o Coral “Rosa Mística”
sofreu alterações com a substituição
de alguns integrantes, hoje com 25 artístas.
A presença do Sr Manoel Meira marcou de tal forma a sua passagem
pelo Coral Rosa Mística, que mesmo não estando mais
entre nós, não poderíamos deixar este grupo
só nas lembranças dos que o conheceram. Alguns componentes
permaneceram e criaram o Grupo “Manoel Meira” numa tentativa
de homenagear este grande homem, amante da excelência musical.
Após a partida do Sr. Manoel Meira, a professora Lucinha
Macedo esteve na direção musical do Coral Rosa Mística
até o ano de 2007.
O
Grupo “Manoel Meira” é formado por membros do
Grupo da III Idade do SESC de Montes Claros e esteve sob a coordenação
do maestro e professor Antônio Normando Freire da Silva durante
o ano de 2008.
Este grupo não se prende somente às músicas
de seresta. Em seu repertório destacam-se músicas
natalinas, música do cancioneiro popular, etc.
A diretora do SESC, Ruth Proença Mendes Almeida, já
esteve na liderança dos trabalhos com o Coral Manoel Meira
que atualmente está sob a responsabilidade da funcionária
Elizabeth Fernandes Flávio Tolentino.
____________________
* Informações
fornecidas por Ruth Proença Mendes Almeida, Diretora do
SESC de Montes Claros. SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
– ARMG
Meus agradecimentos à minha sobrinha Maria de Fátima
Chaves de Oliveira
e Almeida pela digitação desta pesquisa.
O
MÉDICO E POETA DAS CORES
Maria Luiza Silveira Teles
Cadeira N. 42
Patrono: Geraldo Tito da Silveira
“A beleza existe em tudo, mas somente os artistas e poetas
sabem encontrá-la.”
Charles Chaplin
A História coletiva se faz com a história de vida
de cada ser humano que, de certa forma, deixa suas marcas no mundo.
E é resgatando a trajetória dessas pessoas que aprendemos
com elas a valorizar as realizações e a trabalhar
com amor pela comunidade. Ao mesmo tempo em que estamos fazendo
um trabalho para não deixar cair no esquecimento a obra de
tais criaturas, estamos aprendendo com suas vidas e seus exemplos,
exemplos estes que ficarão para sempre como preciosa herança
para as gerações vindouras.
Como diz o escritor e professor dr. Miguel Araújo, “nas
ensinanças sorvidas entre as curvaturas das travessias que
enredam a trajetória humana tenho aprendido uma máxima
primorosa: viver é perigar. Perigar traduz a aventura cotidiana.”
E essa aventura cotidiana de alguns transforma a sociedade e promove
a sua evolução, mesmo correndo os riscos naturais
na vida de quem sonha. E alguns sabem como engrandecer a vida, abrindo-nos
horizontes de beleza.
Aqui
quero falar um pouco sobre um montes-clarense ilustre que sonhou
grande, deixando marcas profundas no seu caminhar
pelas “curvaturas das travessias” na sua ação
profissional e artística: Dr. Aderbal Bento de Andrade, médico,
pintor, poeta e cidadão de primeira grandeza.
BIOGRAFIA
Aderbal Bento de Andrade nasceu em Montes Claros, em três
de julho de 1933, filho de Geralda Araújo Andrade e José
Bento Andrade, conhecido comerciante na cidade. Teve cinco irmãos,
todos ativos em seus ramos de atividade e mui queridos em nossa
comunidade.
Ao terminar seus estudos secundários em sua terra natal,
no antigo Colégio Diocesano, dirigiu-se para a cidade do
Rio de Janeiro, onde estudou Medicina na Faculdade Federal de Medicina
do Estado do Rio de Janeiro. Ao final de seu curso e residência,
retornou para Montes Claros, onde montou seu consultório
na esquina da rua Dom Pedro II com Camilo Prates.
Lá, porém, deixara a mulher de seus sonhos, com quem
veio a se casar, pouco depois: Nancy França de Andrade, com
quem teve três filhos: Flávio Geraldo França
de Andrade, músico e radialista, Sônia Verônica
França Andrade, hoje fisioterapeuta respiratória da
UTI do Hospital Dílson Godinho e do Hospital Haroldo Tourinho
e Vânia Maria dos Santos, fonoaudióloga, residente
no Rio de Janeiro. Deixou três netos: Luiza França
de Andrade Pereira e Felipe França de Andrade Pereira, filhos
de Sônia, e Matheus Domingos dos Santos Fernandes, filho de
Vânia
Sua esposa veio enriquecer a cidade de Montes Claros não
somente com seu trabalho na área social, mas como mulher
extraordinária que muito tem contribuído para o desenvolvimento
de nossa terra. Sua generosidade, simplicidade, educação
primorosa
e elegância de caráter logo conquistaram toda a sociedade
local, formando uma legião de amigos. Foi companheira preciosa
na jornada de seu esposo em todas as áreas, assim como no
Rotary.
Aderbal não se contentou em exercer a clínica em seu
consultório. Montes Claros tinha necessidade de uma clínica
de pronto atendimento e ele arregaçou as mangas e, acompanhado
de sua esposa, foi bater na porta de vários colegas para
que, juntos, pudessem concretizar esse sonho. Recebeu muitos “nãos”,
mas não desistiu. Acreditaram em seu sonho e entraram com
ele na empreitada Dr. Dílson Godinho, Dr. Clóvis Guimarães,
Dr. Jason Teixeira, Dr. Gilberto Veloso dos Anjos, Dr. Luiz Quintino,
Dr. Alfredo Barreto e Dr. Ildeu Macedo. Assim, em 13 de junho de
1964, nasceu a Prontoclínica São Lucas, numa velha
casa da rua Dr. Santos, esquina com Dom Pedro II. Com o decorrer
do tempo e a luta de seus fundadores, a modesta clínica transformou-se
no grande Hospital São Lucas, que tanto tem servido a toda
a população do norte de Minas. Hoje, tornou-se uma
Fundação: Hospital Dílson Godinho, nome de
um de seus companheiros da primeira hora.
Aderbal, com a arte no sangue, dedicou-se, também, às
artes plásticas e à literatura. Com seu jeito simples,
manso, mas de uma enorme fortaleza moral, progrediu rapidamente
em todas essas áreas. Entretanto, com certa timidez e um
agudo senso crítico, embora premiado em vários concursos
literários, guardou os seus escritos e somente se expôs
publicamente como artista plástico.
Para grande tristeza de toda a cidade, Aderbal veio a falecer, precocemente,
em dezessete de setembro de 2004, às vésperas da primavera,
deixando em todos nós uma imorredoura saudade, mas inscrevendo
seu nome nos anais de nossa História.
O
ARTISTA PLÁSTICO
Aderbal dedicou-se, brilhantemente, ao abstracionismo e à
arte naïf. Como disse muito bem a sua colega Déia Dias,
“ele procurava comunicar em sua obra não o nosso cotidiano
contundente, mas a misteriosa essência da saudade, das fantasias
liberadas,
da harmonia de voltar às nossas raízes.”
Suas
pinturas eram uma explosão de cores e uma busca constante
da história de sua terra e dos confins de seu inconsciente
e do inconsciente coletivo. Sua pintura encanta e emociona não
apenas pelo lado cromático, mas pelo poder de despertar em
nós abismos de nosso universo interior. Ele mesmo dizia;
“A pintura é a alegria do ser”. E sua alegria
de viver, embora discreta, aliada ao seu lado de filósofo
e poeta, transparecia em sua arte.
Ao se dedicar ao abstracionismo, já numa fase mais madura,
Aderbal sentia-se, como confessou, a viajar, fantasticamente, por
mundos insondáveis e imponderáveis. Ele afirmou em
uma entrevista dada ao Jornal de Notícias, em dois de dezembro
de 1999, que todos nós somos pintores em potencial, só
que não sabemos. Mas, com sua dedicação e aprimoramento
da técnica, em diversos vernissages por capitais do país
e em vários eventos e amostras em Montes Claros, ele nos
deixou a lição que não basta
inspiração, mas que é preciso muita transpiração
para alcançar o patamar a que ele chegou.
Vejamos o que diz o crítico Leonardo Oliva, a respeito da
arte de Aderbal: “Surpreenda-se, deleite-se, divirta-se, é
uma sugestão. É maravilhoso ver o que se tem por traz
das formas e expressões deste artista mineiro”.
Biola, artista plástico, afirmava que na pintura de Aderbal
“os catopês, o candomblé, as procissões
retornam de uma forma abrangente e nas telas surge um novo colorido,
impregnado de fulgor e atrativo pictórico.”
E falando da pessoa do pintor, ele continua: “Pude sentir
seu caráter de pessoa, calmo e magnânimo.” Acreditava
que “sua arte era confeccionada no casulo da ingenuidade,
na suavidade das cores, no mistério das lendas. (...) Naïf,
o passo seguinte hiper pré-elaborado de contornos, imbuído
de questionamentos e singelezas, onde novamente as lendas, os mistérios,
as visões místicas repovoam repletas de cores e movimentos.
(...)
Aderbal caminha, com seu jeito calmo e silencioso, atento, transpondo
em seguida para uma linguagem branda, de penumbra e traços
ora conectados, ora desconectados, onde a luz difusa difunde o espectador
a orientar-se a uma reflexão estática. E ele se posiciona
medindo, pesando, galgando o equilíbrio, orientandose ao
Blum!!!
Amarelos vibrantes, vermelhos incandescentes, azuis de propileno,
azuis de metileno, magenta, lilases, verdes, ocres, marrons, brancos,
pretos, etc. Por fim, Aderbal Andrade nos brinda com estilo esta
explosão de cores embebida de formas, implícito na
mensagem e no momento. Transcendência, luzes, vitalidade abrangente,
onde as cores conspiram, misturando a noite com o dia. Sóis,
planetas, “Big-Bens”, galáxias, vulcões
e um ser contido, abstraído imaginando com a existência,
nas telas, Aderbal Andrade (o artista).”
Gostaria de acrescentar o comentário de mais um artista plástico,
João Rodrigues: “A chave para a compreensão
da pintura de Aderbal Andrade se encontra no vigor com que a matéria
na superfície de suas telas se dispõe sempre em um
caminho duplo e instigante; dois universos paralelos e estanques
num percurso único e admiravelmente bem construído.
Com isto, todas as possibilidades construtivas e visuais de sua
memória primitiva e ingênua se apresentam numa abordagem
claramente contemporânea em que a fragmentação
simbólica do traço e do conteúdo resulta sempre
num exercício de harmonia e rara beleza.”
Aí vai uma pequena amostra de seu talento:
Os
marujos em seu imaginário
Personagens resgatadas do seu inconsciente.
A capelinha e a marujada
O
POETA
Sensível como era, amante da vida, em eterna reflexão,
Aderbal não poderia deixar de ser poeta. No entanto, embora
tenha sido premiado em vários concursos literários,
ele apenas publicava alguns de seus poemas, ocasionalmente, no jornalzinho
do São Lucas. Foi assim que encontrei sua poesia e, apesar
de conhecê-lo bem, surpreendi-me com mais essa sua faceta
tão cheia de beleza.
Sente-se nela a angústia do ser em busca de si mesmo e de
respostas para os eternos questionamentos do ser humano.
Percebe-se
na poesia de Aderbal que viver para ele é a póiesis
como a aventura criante e inventiva, matizada pelos tons do poético,
por sua vivacidade comovente e com seu elã alumbrante que
faz desbordar o anímico. Fazer poesia para ele era viver
uma aventura poética inspirada na verve de sua sensibilidade
e espirituosidade.
Vejamos um poema seu premiado com o primeiro lugar em um concurso
promovido pela Academia Montesclarense de Letras:
PRECISO
Preciso enfrentar dentro de mim
Um homem que me odeia
Preciso me achar dentro das trevas da incerteza
Preciso trazer de dentro da escuridão a
Certeza que renego pela fantasia do meu ser.
Preciso clarear a consciência,
Clareando o inconsciente universal
Preciso impedir que um covarde
Venha jazer no meu túmulo.
Preciso me queimar,
Morrer... purificar ...renascer
Preciso encontrar dentro de mim
Um homem que me ame.
Ao ler a poesia de Aderbal,não
consigo deixar de lembrarme do que diz o poeta baiano e professor,
Dr. Miguel Araújo, já citado por mim anteriormente:
“Existir (ex-sistere) se traduz em dis-por-se, em lançar-se
para fora, no e para o mundo. Precipitarse no abismo do indeterminado,
do inacabado, e tornar-se, no ritmo e nas aberturas das contingências,
autor e tecelão do próprio destino. Existir é
se inserir nos confins transversais da porosidade do mundo, tocando
em frente os projetos que animam os destinos, nossos co-destinos;
os destinos da humanidade. Destinos marcados por desatinos e por
tinos tortos e incertos nos quais urdimos a saga aberta do existir.
Existir é in-sistir, é correr o risco de experimentar
a aventura da liberdade que espanta e desafia as seguranças
das coisas ordenadamente estabelecidas que aprisionam e encavernam”.
Não foi isso exatamente o que fez nosso médico –
artista? Ele lançou-se no “abismo do indeterminado,
do inacabado” e teceu o seu destino, mudando assim o destino
de toda uma comunidade. Ele não temeu correr riscos, jogar-se,
insistir e construir a sua liberdade em ânsia de voo na poesia
e na pintura.
Vejamos outro poema seu em que se percebe, claramente, a angústia
que o devorava por dentro, o desejo de projetar-se na arte e o sentir
com o outro:
Veja esse lugar
Olhe direito
Tem marcas de quem sempre esperou
Olhe o chão
Veja papéis amassados, tocos de cigarros
Poeira do desencanto
Mas não verás
Lágrimas derramadas
Pelo desespero das frustrações
Fragmentos de sentimentos
Pela espera do que não veio
Olhe de novo
Vais sentir a espera da espera
Da amada que não chegou
As fantasias das esperanças
Cria ilusões na espera
Sem saber o que esperar da pessoa que se espera
Por isso espero.
Em
versos brancos, Aderbal projeta o seu mundo interior, como nas telas.
Os seus sonhos, as suas realizações, as frustrações,
as abstrações, o mergulho no Eterno. Ele poetiza,
profetiza, sinaliza.
Não deixou de falar da mulher amada, como todos os poetas.
Aquela com quem escolheu caminhar todas as trilhas da jornada no
planeta. Aí vai o seu sussurro de amor para Nancy:
Não tenho
Meu coração
É todo seu
Não posso viver
Sem o calor e beijos seus
Sou como o jardim que murcha
Com a falta de beijo e calor solar
Meu mais doce desejo
É seu
Pois brota do amor
Que tenho no coração
E o que já não é meu
Onde quer que esteja
Sinto-me perto de você
Do seu radiante olhar
Que me faz sonhar
Ter ansiosos desejos
De repetir sempre
E mais uma vez
Indefinidamente
Te amo...
O poeta escutava, com certeza, os sopros do vento que assanham nossos
sonhos e que movem a imaginação, instalando o fluxo
da criação; que movimentam a liberdade do viver na
audácia de uma ação renovadora e vivificante.
Aderbal vivia em “gravidez” permanente de desejos que
nutriam e inspiravam nele o advento da utopia, de novos modos de
ser e de estar-sendo-nomundo-com-os-outros, na tessitura do Amor,
da Beleza e do Bem da rede planetária.
O MÉDICO
Aderbal foi médico à moda antiga, médico de
família, de ir à casa do paciente e atender a todas
as dores. Quando aqui chegou, a carência de médicos
o obrigou a trabalhar em todas as especialidades, embora seu campo
fosse a Ginecologia, Obstetrícia e Cirurgia.
Atendia a qualquer um que apresentasse quaisquer sintomas. Tinha
um tino abençoado para diagnosticar e salvar vidas e jamais
queria saber se o paciente tinha dinheiro ou não. Andava
por grande parte do interior do norte de Minas e atendia, inclusive,
em fazendas.
Além do grande mérito de ter participado da fundação
da Prontoclínica São Lucas, reativou o Hospital São
Vicente de Paulo, em Brasília de Minas e o Hospital do mesmo
nome, em Coração de Jesus.
Uma coisa que pouca gente sabe, pois ele ajudava sem lembrar a quem,
no silêncio tão próprio dele, é que Aderbal
passou a vida estendendo a mão a muitas e muitas pessoas.
Um dia fui consultar com a Dra. Mary Gonçalves Lafetá
Rabelo e ela me confessou que tinha uma enorme dívida de
gratidão para com Aderbal e que sonhava em ver publicadas
as poesias e crônicas que ele deixou guardadas. Não
quis ser indiscreta a ponto de perguntar o que era esse favor impagável,
mas ela me disse, categoricamente: “Se não fosse ele,
eu teria desistido de tudo”. Fiquei impressionada com a emoção
dela ao falar do colega.
Dr. Aderbal Bento de Andrade em vernissage no Centro
Cultural
Hermes de Paula, tendo ao fundo um quadro seu.
Finalizando, podemos afirmar que Aderbal Bento de Andrade foi grande
em tudo que realizou. Esposo e pai exemplar, amigo de todos, excelente
rotariano, sem dúvida alguma, seu nome ficará inscrito
na memória de Montes Claros, como alguém que honrou
e engrandeceu sua terra, enchendo de orgulho todos os seus parentes
e amigos.
Dizia Charles Chaplin, com grande sabedoria, que o homem não
morre quando deixa de viver, mas somente quando deixa de amar. E
a vida de Aderbal foi um exercício de Amor. Por isso, ele
será eterno.
FONTES
DE PESQUISA
- Arquivos organizados por sua esposa
- Jornal de Notícias, números diversos.
Literatura/Leitura,
Leitor/Escritor
Míriam Carvalho
Cadeira N. 88
Patrono: Plínio Ribeiro dos Santos
Um livro, ao ser procurado pelo leitor, traz, a princípio,
o desejo imediato de ser lido. Provavelmente, tal desejo foi induzido
por algo que envolve os sentidos, as paixões, os impulsos
e um enlevo que precisa ser estimulante. Certamente, haverá
alguma coisa útil, merecedora de um olhar atencioso, não
desses de beira de estrada, sem nexo, e sem compromisso, embalados
pelo engano da distração. Um leitor, amante da literatura,
capta melhor o sentido poético de um livro se o seu olhar
for mais atento, e se perceber as evidências legíveis,
presentes na terra, no mar, na natureza, na matéria bruta,
nos seres vivos e inanimados, nos gestos e na forma de estabelecer
contato com o outro. Até nos fragmentos de nossa existência,
aqueles que nada contam ou explicam, tudo é motivo de especulação
para quem lê e para quem escreve. Neste sentido, a literatura
pode até demonstrar o seu jeito inédito de conceber
o mundo, se o escritor, ao expor a sua obra, estabelecer com o leitor
um grau de cumplicidade, uma leitura intimista de dupla face: a
do escritor e a do leitor. Atrás dos olhos do escritor, abre-se
o olhar do leitor para deglutir o mundo da palavra e incluir-se
no semblante de quem a criou. Neste tipo de leitura, é possível
guardar o desejo do outro.
Ora, uma escrita comum recolhe-se para reabastecer a sua produção
naqueles fatos que traduzem a exata medida do valor contido nas
coisas: o bem e o mal, o útil e o inútil, o belo e
o feio, o simples e o complexo, o eterno e o fugaz, sempre numa
escolha sem fim, como aquele poema Ou Isto Ou Aquilo, de Cecília
Meireles, conforme versos abaixo:
‘’ Ou guardo o dinheiro e não compro doce, ou
compro o doce e gasto o dinheiro.”
Na
verdade, a escolha da leitura passa pela experiência de cada
olhar, uma vez que cada pessoa possui uma visão especial
de perceber o mundo, de observar e de sentir a vida, segundo o seu
temperamento, sua formação e sua cultura.
Monteiro Lobato, o grande escritor paulista, autor de vários
livros, a maioria deles dedicados ao público infanto-juvenil,
adorava os livros de seu avô materno, o Visconde de Tremembé.
Ele lia tudo e, quando criança, seus brinquedos eram toscos,
feitos de sabugos de milho, chuchu, mamão verde, limão
e até pedras. Quando escreveu o livro “A Chave do Tamanho”,
ele já sabia que a palavra escrita era muito mais poderosa
do que a simples comunicação do dia-a-dia. Para ele,
a literatura é capaz de traduzir com mais intensidade verdades
comuns e incomuns, sentimentos, fatos e sensações,
mistérios e aventuras, dramas, emoções, numa
consciência estética inigualável. Vejamos como
Monteiro Lobato exemplifica essa estética: ao falar da chuva,
em seu livro, A Chave do Tamanho, ele soube unir duas coisas diferentes,
a primeira, um fenômeno da natureza, a chuva; a segunda, uma
aranha caranguejeira. Eis a passagem abaixo:
“ A chuva vinha vindo. O verde do morro lá adiante
embaçou-se como os vidros da janela que Pedrinho bafejava
paradepois
escrever com o dedo. Vinha chuva de verdade! Emília subiu,
agarrando-se no que pôde. O buraco-de- raiz tinha quatro vezes
a sua altura. Entrou. Altura. Entrou. Que azar! Era um buraco ocupado
por alguém: uma enormíssima e peludíssima aranha
caranguejeira! Mais adiante, ela pensa: “entre a aranha e
a chuva, antes a aranha. Chuva é mil vezes pior, porque chuva
não tem remédio e com aranha muita coisa pode acontecer.
Ela pode não desconfiar do meu algodão. Pode estar
dormindo, pode até ter dó de mim. As aranhas são
enganáveis - mas quem engana chuva?” (p 63).
Se no dia-a-dia é preciso saber escolher com critério,
imaginem no mundo da arte, sobretudo se for a arte da palavra; esta
escolha requer cuidados especiais. Em Arte, segundo o poeta Fernando
Pessoa, tudo é lícito, desde que seja superior. Vimos
em Monteiro Lobato que a aranha torna-se inofensiva, quando comparada
com a chuva, em determinada situação. Com uma genialidade
fantástica, ele criou, de um fato corriqueiro, uma página
literária. A aranha e a chuva, coisas simples, foram motivo
de reflexão para a personagem Emília e para nós.
Valores são contrapostos entre seres pertencentes a reinos
diferentes a fim de mudar as funções das coisas, que
normalmente ocupam posições habituais. Monteiro Lobato
inverte o trivial com o gosto de dizer uma existência verbal
descoberta na fenda do imaginário. Compreender o mundo desta
forma não é cômodo porque desestabiliza a ordem
instituída das coisas. No imaginário, há um
olhar de escolha e de escuta rastejado por pensamentos idos e vividos.
Descobre-se aí um mundo que se abre, guardando, em si mesmo,
futuros e passados de parte alguma, pois são capítulos
da vida, preenchendo um livro inteiro. Ora, um olhar de escuta e
escolha é fruto da solidão da leitura. “Pois
a solidão é o lugar onde não há nenhum
outro olhar, a não ser o nosso. Ali, contamos com os nossos
próprios olhos”, segundo Rubens Alves. Vale a pena
lembrar que nos contos de Guimarães Rosa, o espreitar os
Gerais, sob o olhar de solidão, revelou mais ainda um sertão
pleno de vida. No conto Conversa de Bois, há um diálogo
que põe essa existência verbal num plano inesperado.
Assim se desenvolve a seguinte passagem:
- “ Um homem não é mais forte do que um
boi...E nem todos os bois obedecem sempre ao homem...Eu já
vi um boi grande pegar um homem, uma vez...O homem tinha um pau-comprido,
e não correu...Mas ficou amassado no chão, todo chifrado
e pisado... Eu vi! Foi um boi-grande-que-berra-feio-e-carrega uma
cabaça
na cacunda.”
Neste trecho, a leitura nos dá a exata medida de uma luta
desigual entre o boi e o homem. Normalmente, é o homem que
domina o animal, mas, neste exemplo, o homem é dominado de
uma forma ostensiva. Percebe-se ainda que o boi não era um
qualquer, pois pela descrição possuía características
especiais.
É possível admitir que escrever é criar o novo,
interessar-se pelo improvável, é burlar situações
comuns à busca de situações incostumeiras.
Acrescente-se a isso a essência de cada palavra que se abre
ao leitor e ao escritor, passo a passo, movendo-se ora com furor,
ora com lentidão, segundo a atitude estética circunstancial
de cada um.Tudo está em gostar da palavra escolhida e saber
levá-la ao leitor. Há sempre interesse pelo improvável
nessa escolha, uma inclinação à ambigüidade,
uma verdade singular que se justifica pelo exercício de uma
tendência ao inusitado.O leitor aceita ou não a verdade
contida no livro, e com ela mantém uma relação
de proximidade e empatia.Tudo isso ocorre porque ambos – leitor
e escritor – encontraram naquele ponto imaginário o
prazer de ler e sentir o texto artístico.
Não está fora de cogitação trazer à
lembrança o que o poeta Carlos Drummond de Andrade pensa
sobre a forma de ver as coisas:
“Escritor:
não somente certa maneira especial de ver as coisas, senão
também impossibilidade de vê-las de qualquer outra
maneira.”
Vê-las com a arte da imaginação, com o intuito
de olhar para elas e entender bem o que se tem visto porque, a certa
altura, tudo parece imperfeito sem uma transparência lúcida
do entendimento retrospectivo. Nesta hora, há uma certa vontade
de deixar o leitor completar a coisa quase invisível que
ficou sem dizer... Pois,
muitas vezes a escrita berra feio como um boi-grande à moda
de quem fica amassado no chão à espera do entendimento
de tudo, até que o leitor chegue inconvertível de
ver e ouvir tanto!
Finalizo esta reflexão com os versos do poeta Fernando Pessoa:
Lenda do sonho que vivo,
Perdida por a salvar...
Mas quem me arrancou o livro
Que eu quis ter sem acabar?
Maria
da Cruz
Petrônio Braz
Cadeira N. 18
Patrono: Brasiliano Braz
Maria da Cruz Portocarreiro ou Maria da Cruz Torre Prado de Almeida
Oliveira Matias Toledo Cardoso, descendente dos Ávilas da
Casa da Torre, educada em colégio de freiras em Salvador-BA,
presente na conjuração do São Francisco, viúva
de Salvador Cardoso de Oliveira, está a exigir um estudo
aprofundado de sua vida e de sua ação colonizadora.
A poesia de José Gonçalves de Souza marca sua vida;
Augusta Figueiredo, em “Maria da Cruz e o Velho Chico”,
fixa passagem de sua profícua existência, mas pouco,
muito pouco, sobre ela se escreveu até agora. Diogo de Vasconcelos,
em sua “Historia Média de Minas Gerais”, é
quem melhor informa sobre sua vida esclarecendo que “em seus
domínios ela possuía teares de algodão, curtumes
e oficinas de couros, tenda de ferreiros e carapinas, escolas de
leitura e de música, além de armazéns de fazenda”.
A
ela dedicou Antônio Emílio Pereira pouco mais de uma
página em seu livro “Memorial Januária –
Terra, Rios e Gente”.
Afirmou
Alexandre Herculano que o “mister de recordar o passado é
uma espécie de magistratura moral, é uma espécie
de sacerdócio. Exercitem-no os que podem e sabem, porque
não o fazer é um crime”.
Dediquei-me, por um longo período de mais de vinte anos,
a pesquisar sobre a vida de Antônio Dó. Não
tenho mais idade, nem me sobra tempo para investigar sobre a vida
e a obra de Maria da Cruz, extraordinária mulher que dominou,
durante muito tempo, toda a região do Alto Médio São
Francisco, em Minas Gerais, numa época em que os homens tinham
o domínio das decisões.
Não poucas mulheres se destacaram no contexto histórico
universal, no campo das artes, das ciências e até mesmo
das guerras. Infelizmente, a televisão nos mostrou Xica (Chica)
da Silva, uma prostituta qualificada, como classificada no mesmo
sentido
foi Cleópatra, que é destacada como personagem de
primeira grandeza no Museu do Sexo de Amsterdã, na Holanda.
A história destaca, entre tantas outras mulheres extraordinárias,
Joaquina de Pompéu, Emilia Snethlage, desbravadora da floresta
amazônica, nos primórdios do Século XX, Josephina
Álvares de Azevedo, defensora do voto feminino, mas não
se lembrou, ainda, de colocar no pedestal que merece a pioneira
Maria da Cruz. A sua fazenda, nas margens do rio São Francisco,
transformou-se em povoado e o povoado em cidade que lembra o seu
nome, apenas isto. Nem mesmo o povo de Pedras de Maria da Cruz sabe
dizer de sua história.
Morei alguns anos em João Pinheiro, todavia, muitos ali residentes
não sabiam, nem sabem quem foi João Pinheiro, a pessoa
que deu nome à cidade. Quando se fala hoje em Governador
Valadares todos se lembram da cidade, mas ninguém, ou quase
ninguém, sabe que o nome da cidade é uma homenagem
ao governador Benedito Valadares. Pedras de Maria da Cruz não
foge a essa realidade. Para muitos é apenas um nome, como
tantos outros, mas um nome que imortaliza a extraordinária
precursora, que, me servindo das palavras de Euclides da Cunha,
“suportou as agruras daquele rincão”.
Os positivistas, como lembra Vanessa M. Brasília, ilustre
professora do Departamento de História da Universidade de
Brasília, subestimam o rio São Francisco declarando
ser ele um rio sem história, porque não tem documentos
que a comprovem.
Até quando?
O
MESTRE DA POLÍTICA MINEIRA
Roberto Carlos Morais Santiago
Cadeira N. 44
Patrono: Heloísa Veloso Anjos Sarmento
O
salinense Geraldo Paulino Santanna foi um dos mais expoentes políticos
da história de Minas Gerais
Durante mais de meio século o político salinense Geraldo
Paulino Santanna estemunhou os bastidores da política de
Salinas e Minas Gerais. Foi vereador, prefeito, deputado estadual
e secretário de estado. Serviu vários governadores
de Minas Gerais, muitos deles adversários entre si. Cumpriu
missões sigilosas, fez arranjos e alianças políticas.
Foi um autêntico político de bastidor e teve participação
em importantes momentos da política mineira.
Filho de Olyntho Prediliano Santanna e Dinorah Paulino Santana,
Geraldo Paulino Santanna nasceu no município nortemineiro
de Salinas, aos 28 de novembro de 1925. Nasceu numa época
em que o Brasil e Minas Gerais respiravam a República Velha.
O governador de Minas Gerais era Fernando de Melo Viana (1924-26).
No interior de Minas se praticava a velha política coronelista.
Em Salinas e região o chefe político era o Coronel
Idalino Ribeiro.
Ainda jovem, Geraldo Santanna cursou o primário em Salinas,
na Escola Estadual “Dr. João Porfírio”,
entre 1934-37. Estudou o ginásio no “Dom Silvério”,
em Sete Lagoas, entre 1938-42. O científico foi concluído
no tradicional “Afonso Arinos”, em Belo Horizonte, nos
anos de 1943-44.
Retornou para Salinas como contínuo e funcionário
do Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Logo foi transferido
para Curvelo, onde deixou o emprego e retornou à terra natal.
Novamente em Salinas, com a ajuda do avô Basílio Ferreira
Paulino, passou a exercer atividade rural no ramo de compra de animais
na região para revender em Itabuna, Bahia. O avô Basílio
foi importante na sua vida, uma vez que foi co-responsável
pela sua criação, educação, trabalho
e lhe deu suporte em suas ações. Era fazendeiro e
militar. Em 1911 foi agraciado com o título de Capitão
Cirurgião da Guarda Nacional, concedido pelo presidente da
República, Hermes da Fonseca.
Em 1946, aos 21 anos, casou-se com Maria de Oliveira Santanna com
quem teve seis filhos. Após o nascimento do primeiro filho,
Geraldo Paulino Santanna Filho, o avô Basílio resolveu
passar para o neto a fazenda Bela Vista, distante seis quilômetros
de Salinas, que fazia divisa, pelo rio Salinas, com a fazenda Barreiro,
de propriedade do deputado Chaves Ribeiro, filho do Coronel Idalino
Ribeiro, chefe político de Salinas e região.
Certo dia, com a intenção de ir até a sede
da fazenda Barreiro, deparou-se com a porteira da fazenda destruída
e havia ali uma cerca de arame farpado impedindo passagem de transeuntes.
Entendeu que o acesso àquela fazenda estava fechado.
Naquele período, todos viviam em torno do conceito de orientação
do Coronel Idalino Ribeiro, cuja palavra era derradeira para todos.
O jovem Geraldo Santanna dirigiu-se ao coronel e relatou o fato
da porteira quebrada na entrada da fazenda do filho Chaves Ribeiro
o que impedia o trânsito de pessoas pela estrada velha. O
coronel prometeu resolver o problema.
Entretanto,
o jovem Geraldo Santanna ficou desconfiado e achou que a interdição
da estrada por meio do bloqueio da porteira da fazenda Barreiro
tinha sido obra do próprio coronel. Não satisfeito
e desconfiado, pouco tempo depois resolveu vender a fazenda Bela
Vista ao primo Moacir Ribeiro, também sobrinho do coronel
Idalino Ribeiro.
O episódio da porteira da fazenda Barreiro foi determinante
na vida do jovem Geraldo Santanna. Passou a observar os bastidores
da política local e os seus principais atores como Coronel
Bernardino Costa, Coronel Procópio Cardoso, Coronel Moisés
Ladeia e o próprio Coronel Idalino Ribeiro. Certa vez foi
chamado pelo Coronel para uma repreensão, pois este ficara
sabendo de sua simpatia pela atividade política do Coronel
Procópio Cardoso. Não obstante as ameaças e
a proximidade do pleito eleitoral, resolveu se candidatar a vereador
pela oposição.
Eleito vereador e empossado (1951-55), iniciou atividade parlamentar
fazendo forte oposição à política situacionista,
chefiada pelo Coronel Idalino Ribeiro, cujo prefeito de Salinas
era Miguel de Almeida (1951-55). O seu primeiro grande ato político
foi o pedido de transcrição, nos anais da Câmara
Municipal de Salinas, de carta do Coronel Idalino Ribeiro ao governador
Benedito Valadares, pedindo para não consentir a emancipação
do distrito de Taiobeiras. Eis o teor da carta:
“Sr. Governador,
Saúde,
Regressando ao norte até 22 corrente, peço ao prezado
amigo, não consentir que o distrito de Taiobeiras, sem renda,
sem gente, sem território bom, e sem nenhum melhoramento,
seja elevado a município. Principalmente, querendo tomar
a melhor faixa de terreno que existe no município de nossa
Salinas, a melhor que temos.
Abraços agradecimento do velho amigo admirador, Idalino
Capital, 16/11/1943.”
(Fonte: SANTANNA, Geraldo Paulino. O Caminho de Volta – A
Travessia do Deserto. Belo Horizonte: 2004, página 69).
A emancipação de Taiobeiras ocorreu em 1953, com a
instalação do município no ano seguinte e teve
o apoio da Câmara Municipal de Salinas e da liderança
do jovem vereador Geraldo Santanna. O episódio demonstrou
novo contorno na política coronelista de Salinas, que teria
muitos desdobramentos a partir de então.
Alguns anos depois, foi eleito prefeito de Salinas (1959-63), sucedendo
o prefeito Cândido José da Costa (1955-59). Surgia
no município nova liderança política que resultou
na decadência política do então todo poderoso
político local, o temido Coronel
Idalino Ribeiro, que até então reinava absoluto com
mãos de ferro, na política de Salinas e região
por mais de quarenta anos, a partir de 1918 até meados da
década de 1950. O jovem político Geraldo Santanna
encerrava o ciclo dos políticos coronéis.
A sua trajetória política foi intensa. Em Salinas
foi vereador (1951-55) e prefeito por duas vezes (1959-63 e 2000-03).
No plano estadual foi deputado por três vezes (1967-71, 1991-95
e 1995-99), chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Viação
e Obras Públicas (1956); diretor-superintendente da Cemig
(1964); assessor do governador pela Secretaria de Estado de Assuntos
Municipais (1963-64 e 1983-85), secretário de estado da Secretaria
Extraordinária de Estado para Assuntos Políticos (1986-87),
secretário de estado da Secretaria de Estado de Minas e Energia
(1987), presidente da Cemig (1987-88), secretário de estado
da Secretaria de Estado de Assuntos Municipais (1989-90).
Teve
participação no alto escalão dos governos de
Bias Fortes (1956-60), Magalhães Pinto (1961-66), Israel
Pinheiro (1966-71), Rondon Pacheco (1971-75), Aureliano Chaves (1975-78),
Francelino Pereira (1979-83), Tancredo Neves (1983-84), Hélio
Garcia (1984-87), Newton Cardoso (1987-91), Hélio Garcia
(1992-96), Eduardo Azeredo (1996-99) e Itamar Franco (1999-00).
Como homem público foi condecorado com a Ordem do Mérito
Legislativo, Medalha Santos Dumont, Medalha da Inconfidência,
Medalha de Mérito da Defesa Civil de Minas Gerais, Medalha
Alferes Tiradentes e Diploma de Colaborador Emérito do Exército
nacional.
O seu último ato político foi ser prefeito de Salinas
pela segunda vez (2000-05) em coligação política
nunca admitida em Salinas, com o rival Péricles Ferreira
dos Anjos. Não completou o mandato. Renunciou ao cargo no
dia 13 de janeiro de 2003 e passa o cargo ao vice-prefeito Péricles
Ferreira dos Anjos. Encerra-se ciclo político de um dos homens
mais influentes de Minas Gerais da segunda metade do século
XX. O último ato político foi mensagem ao presidente
da Câmara Municipal de Salinas:
“Salinas, 13 de janeiro de 2003.
Excelentíssimo senhor vereador presidente da Câmara
Municipal de Salinas,
1. Da Renúncia
Venho renunciar, como de fato renunciado tenho ao mandato de prefeito
municipal de Salinas, cujo término seria em janeiro de
2005.
1.1 Ato unilateral, resultante de vontade própria, independe
de apreciação desta E. Casa, cujo término
seria em janeiro de 2005.
2. Da declaração de Bens – Acompanha a presente
Declaração de Bens, na forma do que escreve a lei.
Permito-me ressaltar que, se comparada à afeita por ocasião
de minha posse, há de se concluir que, embora em pequena
escala, meu patrimônio decresceu.
3. Das grandes obras – Ao assumir em fevereiro de 1959 a
prefeitura de Salinas, o fiz com a missão, reiteradamente
reclamada por Bernardino Costa, de lutar pela implantação
e consolidação da “liberdade” em nossa
região, a que logramos ter relativo êxito ao final
daquele nosso mandato. A aquisição agora do Edifício
Cel. Idalino Ribeiro para sede da prefeitura, a par de seu grande
valor material, foi inspirada sobretudo no seu valor histórico,
pois dali emanava o poder absoluto e incontestável de uma
época.
3.1 Ao assumir em 2000 a candidatura a prefeito de Salinas, o
fiz para atender ao clamor da população, bem interpretado
na convocação do ilustre deputado Péricles
Ferreira dos Anjos, juntos, estabelecer um “basta”
ao vendaval de corrupção que abateu a moral e a
ética na sucessão de responsáveis pela administração
municipal, cujos desvios de conduta e de conceitos se transformaram
repentinamente numa ‘cultura’. Não descuramos
da difícil tarefa e a própria sociedade, na sua
grande maioria, já dá sinais de que nos entendeu
e aplaude seus primeiros resultados. Por isso
e também por ser titular da iniciativa o deputado Péricles
Ferreira, todos confiamos em que, certamente, ele completará
a missão de restabelecer a moralidade e o respeito à
coisa pública em nossa região (...).
3.2 No campo das realizações materiais, ao longo
desses anos que se passaram, a par das obras de esgoto sanitário
que só agora se desencadeiam na cidade, dotamos nossa terra
de água doce e energia elétrica em abundância,
de comunicação telefônica e rodoviária
com o País, e, com a
construção das primeiras passarelas sobre o rio
Salinas, e o projeto de avenidas sanitárias ao longo de
nossos rios; e, sem descuidarmos da recuperação
e preservação de nossos mananciais, e com a perspectiva
de construção de grande e moderno mercado na Praça
‘São Miguel’, do bairro São Geraldo,
completamos a ‘sinalizar’ da direção
para a qual a cidade deva também se desenvolver, não
estando fora de propósito, com isso, a inserção
da área que contorna a grande barragem sobre o rio Salinas,
no seu contexto.
4 . Afinal, aos Senhores vereadores que entenderam e colaboraram
aos que também não o fizeram por terem pleitos pessoais
por nós contrariados, às novas lideranças
e à sociedade em geral, nossa esperança é
a de que como parte de um pensamento novo, ou melhor, ‘contemporâneo
do futuro’, caminharão na busca do Poder, sem que
dele pretendam se servir, mas para servir ao bem comum, e assim,
inibindo, pela ação rejuvenescida e corajosa, aos
que dele só pretendem gozar e usufruir.
Atenciosamente,
GERALDO PAULINO SANTANNA”
Encerrado
o ciclo político, escreveu livro de memórias sobre
a sua vida e os bastidores da política. O livro é
um raro documentário sobre a intimidade do poder político
em Salinas e Minas Gerais em suas várias facetas.
Geraldo Paulino Santanna foi um político de raras habilidades.
O seu livro revela a intensidade e magnitude de sua vida pública
em detalhes e sem falso pudor. Foi um dos mais emblemáticos
personagens da política contemporânea mineira dos
últimos tempos. José Monteiro de Castro, por quem
Geraldo Paulino Santana tinha especial apreço, sintetiza
o político salinense ao fazer o seguinte comentário:
“Acompanho a vida pública e particular, o comportamento
e o trabalho do Santanna há muitos anos; senão
o melhor, está entre os mais completos auxiliares que
um Governador de Minas já conheceu; posso testemunhar
que ele não se permite intimidades com nenhum governante
a que serve, por mais tentado que seja; soube tratá-los,
a cada um deles, de forma quase institucional, com extrema lealdade,
respeito, dedicação e competência, com independência
equilibrada, o que lhe permite ser sempre franco, mesmo quando
precisa advertir o governante sobre as conseqüências
desfavoráveis de algum ato; por tudo isso é ouvido
com atenção e igual respeito. O comportamento
de Santanna como auxiliar de governadores diversos, até
opositores entre si, é a comprovação do
que enfatizou a Rainha Vitória (Inglaterra), quando encerrou
suas homenagens ao falecido Disraeli: ‘Les róis
aiment celui qui parle juste’ (Os reis amam aqueles que
lhes dizem a verdade na hora justa, na hora certa)”.
O livro de memórias “O Caminho de Volta – A
Travessia do Deserto” (Belo Horizonte: 2005, 444 páginas,
2ª edição), de autoria de Geraldo Paulino Santanna,
é um raro e interessantíssimo documentário
para quem deseja entender os bastidores da política do
município de Salinas e Minas Gerais, a partir da década
de 1950. Eis alguns depoimentos do livro:
“Geraldo Santanna é uma singular figura de cidadão
e homem público. Tem dado a Minas Gerais, com dedicação,
sobriedade, coragem, correção e argúcia,
nos postos mais distintos, contribuição inestimável,
que não se resume à sua Salinas inolvidável,
mas alcança todo o Estado” (OSCAR DIAS CORRÊA,
Ministro aposentado do STF, professor de Economia Política
pela UFMG e UFRJ, membro da Academia Brasileira de Letras).
“Foi
na vida pública que conheci Geraldo Santanna, tenaz combatente
que prestou eficientes serviços ao governo do saudoso companheiro
José de Magalhães Pinto. Nesta fase pude testemunhar
a sua capacidade de aglutinação política,
com inteligente e arguta coordenação para conciliar
tendências partidárias concorrentes, tendo em vista
o objetivo maior de conquistar espaço, consolidar apoios
e prestigiar Minas Gerais” (RONDON PACHECO, Governador de
Minas Gerais, 1971-1975).
“Li, de uma só sentada, o livro ‘O Caminho
de Volta’. Conheço poucas obras que relatam com tão
ricos detalhes a história política de Minas Gerais
(...). Poucos políticos vivos podem relatar com riqueza
de detalhes (...) a história dos últimos 50 anos
do nosso Estado” (LUIZ TADEU LEITE, Prefeito de Montes Claros).
“Momentos decisivos da história do Brasil foram protagonizados
por homens que, a partir de Minas, e com peculiar competência,
fizeram inicialmente a política de âmbito municipal.
É no município que está guardado o interesse
fundamental das pessoas a quem um governo deve servir; a partir
daí, aprende-se lidar com os problemas sociais na órbita
estadual e federal. Os bons políticos levam, para os cargos
públicos, conhecimento do que deve ser feito na busca do
progresso, mas também sentimentos e aspirações,
às vezes dolorosas, do povo. Sua atitude na vida pública
não busca interesse pessoal, repleta que deve estar desse
patriotismo que somente as lembranças da terra da infância
sabem construir. Geraldo Paulino Santanna fez esse caminho para
a vida pública. Saindo de Salinas para o centro do poder
no Estado, manteve a obrigação de comportar-se como
sertanejo autêntico, de trato ladino e bem humorado”
(OSWALDO ANTUNES, Jornalista).
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
SANTANNA, Geraldo Paulino. O Caminho de Volta - A Travessia
do Deserto. Belo Horizonte: 2004, 2ª. Edição,
444 páginas.
OS
VAPORES DO SÃO FRANCISCO
Roberto Pinto da Fonseca
Cadeira N. 92
Patrono: Sebastião Tupinambá
“...Lá vai
o gaiola,
transportando na bagagem
esperança e nostalgia,
sai de Pirapora, seu destino é Juazeiro da Bahia.
Sai do porto devagar,
para a saudade aumentar ..”
Josecé Santos
(O Gaiola)
Corria
o ano de 1862. Às vésperas
da Guerra do
Paraguai, o governo de D.Pedro II nomeou uma
comissão para estudar as possíveis vias navegáveis
do Rio São Francisco e suas conexões com o sistema
ferroviário
existente. A comissão determinou que a melhor opção
seria a
navegação a partir do Rio das Velhas, pela facilidade
de conexão
da cidade de Sabará com a estrada de ferro oriunda do
Rio de
Janeiro. Outro fator significativo era que o Rio das Velhas,
grande
afluente do Rio São Francisco, passava próximo
a duas importantes cidades mineiras: Diamantina e Curvelo. Naquela época,
o
pequeno distrito de São Gonçalo de Pirapora pertencia
a Curvelo
e somente em 1912 conseguiria a sua emancipação.
Em
1867, Joaquim Saldanha Marinho, então presidente da província
de Minas Gerais, solicita, ao engenheiro Henrique Dumont,
pai de Santos Dumont, que providencie a montagem do
primeiro vapor a explorar as águas do Rio das Velhas.
Essa primeira
embarcação de rodas laterais, montada nos Estados
Unidos,
navegou pelo Rio Mississipi e pelo Amazonas , sendo posteriormente
desmontado e transportado até a cidade de Sabará.
Em 09 de janeiro de 1871 foi batizado de “Saldanha Marinho” e
lançado no Rio das Velhas pelo imperador Pedro II, chegando
na
Barra do Guaicuí a 3 de fevereiro.
Em
1877 passou a navegar exclusivamente para a Cia. Cedro e Cachoeira,
transportando tecidos dos portos de Barra do
Paraúna e Gameleira, no rio das Velhas, concluindo o percurso
pelo São Francisco até a cidade de Juazeiro, na
Bahia. Quando retornava
trazia, além de passageiros, produtos regionais, sobretudo
algodão. Em períodos de cheias, alcançava
a cidade de Santa
Luzia e até mesmo Sabará. Sua capacidade era de
6 toneladas e
transportava até 12 passageiros.
O
Saldanha Marinho foi o primeiro vapor a navegar no Rio São
Francisco
Em
1866, a província da Bahia inicia também
os primeiros
passos para a navegação comercial a vapor do Rio
São Francisco.
Em 1871 foi montado em Juazeiro o vapor “Presidente Dantas”,
nome dado em homenagem ao presidente da província Manoel
Pinto de Souza Dantas, pioneiro da navegação baiana.
Adquirido no
Rio de Janeiro, da Cia. Ponta de Areia, foi desmontado e transportado
de navio até Salvador, de trem até Alagoinhas e
de carro
de boi até Juazeiro. Em 1879 chega pela primeira vez a
Pirapora.
Sua capacidade de carga era de 20 toneladas e possuía
30 metros
de comprimento.
Ainda
no ano de 1871, foi fundado o Banco Viação
do Brasil,
posteriormente Empresa Viação do Brasil. Essa medida,
envolvendo
o governo imperial e as províncias de Minas e Bahia,
visava a desenvolver e explorar a navegação pelo
São Francisco.
O início do empreendimento foi difícil, com sérias
dificuldades
financeiras, até que em 1893 passou a ser administrada
pelo diamantinense
João da Mata Machado Júnior. Com sede em Juazeiro,
a empresa reestruturou a navegação, construindo
novas embarcações,
entre elas o vapor Mata Machado, o mais sofisticado
da época. Com sua falência em 1905 e passando para
o controle
do governo da Bahia, se transforma na Empresa Viação
do São
Francisco.
No
início dos anos 30 passa a denominar-se Viação
Baiana
do São Francisco, chegando a possuir até 11 embarcações
de
grande porte a navegar pelo rio.
A
cidade de Pirapora foi, a partir de 1902, incluída regularmente
na rota de navegação, com a construção
do depósito da
Companhia Cedro e Cachoeira de Curvelo. Os tecidos eram
armazenados
no depósito da fábrica em Pirapora e dali embarcados
nos vapores que atendiam a toda a região do São
Francisco.
O terceiro vapor a navegar pelo São Francisco foi a lancha
Cezário, que fazia o percurso entre as cidades de Juazeiro
e Bom
Jesus da Lapa. Atendia ao comércio regional e foi iniciativa
dos
irmãos Cezário, comerciantes em Juazeiro.
O
quarto coube ao gaiola São Paulo, feito construir por
iniciativa de Francisco Bispo e Pedro Pereira Pinto. Seu
períodode
navegação foi curto e desapareceu
misteriosamente do porto
de Januária, após desavenças entre os sócios.
O
vapor Antônio do Nascimento foi o quinto a fazer a rota
de navegação entre Pirapora e Bom Jesus da Lapa,
de propriedade
de Nascimento e Irmãos, comerciantes de Pirapora.
O
Mata Machado atracou pela primeira vez em Pirapora
em 1906. Foi o sexto a navegar no Velho Chico e o segundo
a
chegar à cidade, lá encontrando o Saldanha Marinho
já ancorado
no porto. Pertencia à Viação Baiana, era
o mais veloz da época,
com capacidade para 75 toneladas.
O
Alfredo Viana, construído em 1937 na
cidade de Juazeiro (BA)
O
vapor/gaiola São Francisco, construído
em 1913 nos Estados
Unidos, iniciou suas atividades navegando pelo rio Mississipi.
Chegou a Pirapora em 1930, com capacidade de 80 toneladas,
60 cavalos de potência e 38,8 metros de comprimento.
O “São Francisco” começou a navegar
em 1930.
Tendo
sido demasiadamente danificado pelo fogo no porto de Pirapora
- as causas do incêndio até hoje permanecem
desconhecidas–
foi reformado nos estaleiros da FRANAVE, em Juazeiro.
Em 1983 realizou sua última viagem entre Juazeiro e Pirapora.
Junto ao Benjamin Guimarães, foi uma das lendas do rio.
O
gaiola Alfredo Viana, impulsionado através de hélices,
navegou
inicialmente entre as cidades de Juazeiro e Santa Maria da
Vitória,
na Bahia. Passou a chamar-se São Salvador após
sua aquisição
pela Cia. Indústria e Viação de Pirapora.
Possuía capacidade para
40 toneladas.
O
gaiola Barão de Cotegipe foi também
uma das glórias
da navegação. Construído nos Estados Unidos
em 1913, acabou
seus dias abandonado num banco de areia do porto de Pirapora
nos anos 80.
O Barão
de Cotegipe, fabricado nos EUA em 1913.
O
Wenceslau Braz encerrou suas atividades nos anos 80 transportando
carvão
vegetal.
O
Wenceslau Braz foi desativado em 1975 e, em 1981, foi
utilizado para o transporte de carvão. Chegou a Pirapora
em data
ignorada, vindo do Rio Sapucaí e transportado para o Rio
das Velhas. Considerado um dos melhores gaiolas para o transporte
de turismo.
Um dos maiores vapores, o Juracy Magalhães terminou seus
dias de glória na
cidade de Juazeiro em 1963, abandonado às margens do Velho
Chico.
Devido ao seu grande tamanho, o vapor Juracy Magalhães
passava longos períodos sem poder navegar devido aos períodos
de seca que comprometiam a navegação. Considerado
o de
maior capacidade da Cia. de Navegação Baiana, acabou
como
quase todos os outros vapores: em 1963 foi desativado e largado
nas areias do porto de Juazeiro.
O Juarez Távora, construído em
1969.
O
Juarez Távora foi concebido exclusivamente
para o transporte
de passageiros. Com instalações luxuosas, dotadas
de 1ª.
e 2ª. classes, 35 metros e capacidade para 131 passageiros,
foi
construído no estaleiro da FRANAVE em Juazeiro. Devido às
suas características técnicas, com possantes motores
a diesel, não
navegava normalmente pelo rio, pois facilmente encalhava nos
bancos de areia. Foi utilizado para o transporte de turistas
na barragem
de Sobradinho. Uma outra embarcação similar a essa
foi o
Costa e Silva.
O
Benjamin Guimarães é o único
que ainda navega transportando turistas.
Construído também nos Estados Unidos, o Benjamin
Guimarãesé
ainda a única lenda viva a singrar as águas do
São Francisco,
transportando turistas em percursos curtos a partir do porto
de Pirapora. Navegou inicialmente no Amazonas e é o único
vapor
em operação a utilizar lenha. Sua capacidade é de
90 toneladas.
Outros
vapores/gaiolas fizeram histórias e deixaram suas
marcas nas populações ribeirinhas, cuja vida diária
era regulada
pelos seus apitos.
Neste
cenário de embarcações,
temos ainda os Engenheiro
Halfed e o Melo Viana, construídos em 1927 em Hamburgo,
Alemanha. E seguem outros nomes lendários como: Fernão
Dias,
o Antônio Olinto, Cordeiro de Miranda, Santa Clara, Francisco
Bispo, Sertanejo, o Paracatuzinho, Coronel Ramos, Afonso Arinos,
Costa Pereira e outros que, como os anteriormente citados,
tiveram sua época áurea e hoje permanecem na memória.
O fim de uma era: os “gaiolas” e “vapores” transformados
em sucatas.
A
SSVP EM MONTES CLAROS E NA REGIÃO
(*) Avay Miranda
Sócio Correspondente
Brasília - DF
Existe
um movimento em Montes Claros e no Norte de Minas que vem prestando
muitos serviços às
comunidades carentes que, por justiça, deve ser
registrado na história da cidade.
Trata-se
da Sociedade de São Vicente de Paulo, mais conhecida
pela sigla SSVP. Aliás, este movimento não é privilégio
de
Montes Claros, ele é de caráter mundial e o Brasil,
como um país
cristão, que adota a caridade como princípio, tornou-se
como
uma terra fértil para o seu crescimento e desenvolvimento.
A
primeira Conferência foi fundada pelo universitário
francês,
Antônio Frederico Ozanan, juntamente com mais cinco
companheiros, em 8 de setembro de 1833, em Paris, na França.
O movimento se expandiu por várias partes do mundo e chegou
ao Brasil. Ele é composto pelas Conferências de
São Vicente de
Paulo, os Asilos, Creches, Hospitais, Conselhos Particulares,
Conselhos
Centrais, Conselhos Metropolitanos. Em cada país existe
o Conselho Nacional e, finalmente, o Conselho Geral, com
sede
em Paris, onde foi fundado o movimento.
Em
Montes Claros, segundo o saudoso Historiador Hermes
de Paula, no seu livro “Montes Claros, sua História,
sua Gente e
seus Costumes”, a primeira Conferência de São
Vicente de Paulo
foi fundada em 15 de maio de 1904, por Dom Joaquim Silvério
de Souza, Bispo de Bagé, que visitava a cidade. O primeiro
Presidente
daquela Conferência foi Eliseu Cândido Rodrigues
Vale,
nomeando, como vice-Presidente, Olegário Silveira; Secretário,
Norberto Monção; e Tesoureiro, Antonio Narciso
Soares. Faziam
parte ainda da primeira conferência: José Cândido
Pereira Salgado,
Manoel José Veloso e Álvaro José Lima, sendo
o presidente
de honra o Padre José Carolino de Menezes.
Esta
Conferência ainda existe. Em maio de 2004 comemorou
o seu primeiro centenário de fundação e
funciona onde era o
antigo Asilo São Vicente de Paulo, na Rua Dr. Veloso,
no centro
de Montes Claros.
A
segunda conferência vicentina de Montes Claros, foi a
Cristo Rei, que teve, como seu primeiro Presidente, Augusto
Getúlio
Vieira. A terceira conferência foi a Santo Inácio
de Loyola,
tendo como primeiro presidente, José Lucas Machado. A
quarta
foi a São Luiz Gonzaga, tendo como presidente José Maria
Pimenta.
A quinta foi a Senhor Bom Jesus da Lapa, tendo como
presidente Norival Vieira e a sexta foi a Nossa Senhora da
Conceição,
tendo como primeiro presidente, Afonso Dias de Avelar.
Havia
em Montes Claros um Conselho Particular que dava
orientação às Conferências de Montes
Claros, Janaúba, Jaiba, Bocaiúva
e outras cidades da região. Em 1971, fui eleito presidente
do Conselho Particular de Montes Claros, tendo entrado
em contato
com o Conselho Superior do Brasil, no Rio de Janeiro e
aí se estabeleceu uma correspondência profícua e, graças
ao apoio
do Conselho Central de Curvelo, no dia 10.12.1972 foi criado
o
Conselho Regional de Montes Claros, com a seguinte diretoria:
Presidente, Avay Miranda; vice-Presidente, José da Conceição
Santos; Secretários, Wilson de Freitas Pereira e Francisco
Silva
Foto do 5º Curso de Formação
Vicentina, realizada em Montes Claros nos
dias 23 a 25 de setembro de 1977.
Foto dos participantes do Retiro Espiritual de Vicentinos, realizado
pelo Conselho
Metropolitano de Diamantina, em 14 a 17 de julho de 1978, naquela
cidade, com participação de vicentinos do Norte
de Minas.
Foto dos participantes do 7º Curso de Formação
Vicentina, promovido pelo
Conselho Central de Montes Claros, em Salinas, nos dias 08 a
10 de setembro
de 1978.
Foto dos participantes do 12º Curso de Formação
Vicentina, promovido
pelo Conselho Central de Montes Claros, em Taiobeiras, nos dias
25 a 27 de
janeiro de 1980
Neto;
e Tesoureiros, Joaquim Mendes Neto e José Francisco
de
Assis Franco.
Já na Assembléia Geral realizada no dia 22.07.1973,
o Conselho
Regional foi transformado em Conselho Central de Montes
Claros. Eu continuei na Presidência até 1977. Em
1977 foi eleito
Presidente do Conselho Central Wilson Moreira Reis, que ficou
até 1982. Em 1982, foi eleito Presidente, Oliveiro Barbosa,
com
mandato até 1987. Em 1987, foi a vez de José Francisco
de Assis
Franco ser eleito Presidente, ficando até 1992. Em 1992
foi eleito
Presidente José Soares da Silva, que ficou até 1997.
Vindo em
seguida Delmar Ferreira Matos, que ocupou o cargo de 1997 a
1998. José Luiz Lopes, foi Presidente de 1998 a 1999.
A seguir,
Valdir Ferreira do Rosário ocupou o cargo de 1999 a 2000.
Depois,
dirigiram o referido Conselho, os presidentes Isabel Dantas
e Leidimar Alves Barbosa. Desde junho de 2006 ocupa a Presidência
do Conselho Central de Montes Claros, Dionízio Gil de
Souza.
Ao
contrário do que muita gente pensa, a SSVP não
está subordinada à hierarquia da Igreja Católica. O
movimento é composto
de leigos e tem a sua própria hierarquia, que na base
estão
as Conferências. Um grupo de Conferências fica subordinado
a
um Conselho Particular. Um grupo de Conselhos Particulares
fica
subordinado a um Conselho Central. Numa região maior,
onde
existirem vários conselhos centrais, cria-se um Conselho
Metropolitano.
No país, existe o Conselho Nacional e o órgão
mundialé o Conselho Geral.
Inicialmente,
o Conselho Central de Montes Claros abrangia
41 municípios. Depois foi desmembrado o Conselho Central
de Januária, com 5 municípios. Posteriormente,
foram criados os
Conselhos Centrais de Janaúba e de Salinas.
Ao longo de quase 40 anos, a SSVP tem crescido num ritmo
demasiadamente rápido no Norte de Minas, graças
ao dinamismo dos
presidentes que passaram pelos Conselhos Centrais de Montes
Claros, Januária, Janaúba e Salinas. Um fato decisivo
no crescimento
da SSVP no Norte de Minas foi a introdução do Curso
de
Formação Vicentina no Conselho Central de Montes
Claros, que
tinha a finalidade de dar formação teórica
e prática aos vicentinos
do Norte de Minas, que são os componentes das Conferências.
Atualmente
estão subordinados ao Conselho Central de
Montes Claros os seguintes Conselhos Particulares:
Conselho
Particular São Sebastião - Montes Claros
Conselho Particular São Norberto - Montes Claros
Conselho Particular Nossa Senhora Aparecida - Montes
Claros
Conselho Particular São Judas Tadeu - Montes Claros
Conselho Particular Nossa Senhora e São José -
Montes
Claros
O
Movimento cresceu tanto, que foi necessário desmembrar
o Conselho Central de Montes Claros, criando-se o Conselho
Central São Vicente de Paulo, em 12.08.90. O primeiro
presidente
nomeado por um ano foi Joaquim Cândido da Silva e o
primeiro presidente eleito foi Idelino Alves Barbosa.
O
Conselho Central São Vicente de Paulo ficou com alguns
Conselhos Particulares e Conferências do Conselho Central
de
Montes Claros, uma vez que resultou de um desmembramento.
Assim,
este Conselho Central já teve os seguintes Presidentes:
1º Presidente – Joaquim Cândido da Silva
2º Presidente – Idelino Alves Barbosa
3º Presidente – José Martins de Freitas
4º Presidente – João Rufino de Oliveira
5º Presidente – José Martins de Freitas
6º Presidente – Magna Mercês Durães Cruz
e
7º Presidente – Anísia Maria Rodrigues Santos
O
Conselho Central São Vicente de Paulo
já teve como
seus subordinados 10 Conselhos Particulares, que eram os seguintes,
com suas respectivas Conferências:
Conselho
Particular Nossa Senhora Aparecida, fundado em
10 de dezembro de 1972, com as conferências: Santo Agostinho,
São Francisco de Assis das Chagas do Canidé, São
Francisco Xavier,
São Geraldo e São Luiz em Montes Claros.
Conselho
Particular Nossa Senhora da Consolação,
fundado
em 09.01.83, com as seguintes Conferências: Nossa Senhora
de
Lourdes, Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças,
Maria
de Nazaré, Nossa Senhora da Consolação,
estas em Montes Claros
e Nossa Senhora da Guia e São Geraldo Magela de Capitão
Enéas.
Conselho
Particular Senhor do Bomfim de Bocaiúva, fundado
em 28.04.87, com as seguintes Conferências: Senhor do
Bomfim, São Vicente de Paulo, São Geraldo e Cristo
Redentor em
Bocaiúva, Nossa Senhora Aparecida em Dolabela e Santos
Reis
em Engenheiro Navarro.
Conselho
Particular Nossa Senhora do Carmo de Buenópolis,
fundado em 29.11.87, com as seguintes Conferências:
Santa Bárbara, em Santa Bárbara, São Judas
Tadeu em Augusto
de Lima, Nossa Senhora da Conceição, São
Francisco de
Assis e Santa Luzia, em Buenópolis.
Conselho
Particular Santo Antônio de Montes Claros, fundado
em 01.03.1988, com as seguintes Conferências:
Nossa Senhora Aparecida de Glaucilândia, Nossa Senhora
de Fátima, Santa Luzia, Santo Antonio, São José Carpinteiro,
em
Montes Claros e São Vicente de Paulo em Juramento.
Conselho
Particular Sagrado Coração
de Jesus de Bocaiúva,
fundado em 07.09.1988, com as seguintes Conferências: São
Vicente
de Paulo de Guaraciama, São Judas Tadeu, Santo Antonio
e
São Francisco de Assis em Bocaiúva e Nossa Senhora
Aparecida
em Rio das Pedras e Santa Rita de Cássia em Bocaiúva.
Conselho
Particular Laura do Carmo Vicunha, em Montes
Claros, fundado em 10.03.91, com as seguintes Conferências:
Santa Luiza de Marilac, São Cristóvão, São
José Operário, São
Luiz Gonzaga, São Mateus, São Sebastião,
Santo Antonio, São
Marcos em Montes Claros e Santo Antonio em Grão Mogol.
Conselho
Particular São Paulo, fundado em 17.01.92, com
as seguintes Conferências: Nossa Senhora do Carmo, Santa
Luzia
e São Pedro, em Montes Claros.
Conselho
Particular Antônio Frederico Ozanan de Francisco
Sá, fundado em 18.04.1986, com as seguintes Conferências:
São Gonçalo, São Vicente de Paulo, Nossa
Senhora Aparecida
em Cana Brava, Nossa Senhora de Fátima, Divino Espírito
Santo
e São Geraldo, todas no Município de Francisco
Sá.
Conselho
Particular São Gonçalo de Francisco Sá,
fundado
em 20.12.1992, com as seguintes Conferências: São
João Batista,
São Sebastião, São Paulo, Santo Antonio
e Santa Maria, em Francisco
Sá.
Devido à criação
do Conselho Central Nossa Senhora de
Montes Claros, atualmente pertencem ao Conselho Central
São
Vicente de Paulo os seguintes Conselhos Particulares:
Conselho
Particular Senhor do Bomfim - Bocaiúva
Conselho Particular Sagrado Coração de Jesus -
Bocaiúva
Conselho Particular Santo Antônio - Montes Claros
Conselho Particular Nossa Senhora de Fátima -
Montes
Claros e
Conselho Particular Nossa Senhora da Consolação
- Montes
Claros
Em
11 de setembro de 1994 foi fundado o Conselho Central
Nossa Senhora de Montes Claros, que teve os seguintes
Presidentes:
1º Presidente
- Afonso Geraldino Nobre de setembro de
1994 a outubro de 1995;
2º Presidente - Edmirson Lopes Lima, de outubro de
1995 a outubro de 1999;
3° Presidente - Delvito Alves Felício, de outubro
de 1999
a outubro de 2003;
4º Presidente - Valdivino Alves de Oliveira, a partir de
outubro de 2003.
Atualmente
estão subordinados a este Conselho Central,
onze Conselhos Particulares, a saber:
Conselho
Particular Maria de Nazaré - Montes Claros
Conselho Particular Laura do Carmo Vicunã - Montes
Claros
Conselho Particular Antônio Frederico Ozana - Catuni
Conselho Particular São Gonçalo - Francisco Sá
Conselho Particular Bom Jesus - Montes Claros
Conselho Particular São José - São Francisco
Conselho Particular Senhora Santana - Brasília de Minas
Conselho Particular São João Batista - Montes Claros
Conselho Particular Santo Agostinho - Montes
Claros
Conselho Particular São Pedro - Ibiracatu e
Conselho Particular Santo Antônio - São Francisco.
Considero
que a SSVP atingiu o seu ponto culminante no
Norte de Minas, com a criação do Conselho Metropolitano
de
Montes Claros na Plenária Nacional do então
Conselho Superior
do Brasil, realizada de 31 de outubro a
2 de novembro de 1991, em
Brasília. Registro um fato curioso.
Em outubro de 1987 eu representei
a SSVP de Brasília na reunião dos Conselhos Metropolitanos
e Centrais de Minas Gerais, realizada em Montes Claros,
quando foi decidida a criação do Conselho Metropolitano
de Brasília.
Em outubro/novembro de 1991 estava eu participando da
Plenária de Brasília, quando articulei-me com o
vicentino Francisco
Salvador da Silva, então Presidente do Conselho Metropolitano
de Diamantina para a criação do Conselho Metropolitano
de Montes Claros.
O
Conselho Metropolitano de Montes Claros foi instalado
pelo Presidente do Conselho Superior do Brasil, Leocádio
Sa¬bino, em Assembléia Geral realizada no dia 29.03.92,
tendo
como primeiro Presidente nomeado, Joaquim Mendes Neto, que
ficou no cargo de março de 1992 a março 1993. Em
1993 foi
eleito Presidente o Joaquim Cândido da Silva, que tomou
posse
no dia 21.03.93, também com a presença do Presidente
do Conselho
Superior do Brasil, ocupando o cargo de março de 1993
a
março 1997. O terceiro Presidente foi Idelino Alves Barbosa,
que
ficou no cargo de março de 1997 a março 2001. Vem
em seguida
o quarto Presidente, Valdir Ferreira Rosa, que administrou
o Conselho Metropolitano de março de 2001 a março
2005. O
quinto Presidente foi Cloves Alberto Mendes, que ficou no cargo
de março a Dezembro 2005, vindo em seguida Idelino Alves
Barbosa,
novamente, como o sexto Presidente, que está exercendo
o cargo.
O
Conselho Metropolitano de Montes Claros está instalado
na Rua Olegário Silveira, 150, no centro de Montes Claros,
onde
funcionava o antigo Asilo São Vicente de Paulo.
O Conselho Central de Montes Claros era subordinado ao
Conselho Metropolitano de Diamantina. Depois da criação
do
Conselho Metropolitano de Montes Claros, passado algum tempo,
o Conselho Metropolitano de Diamantina entrou em crise e
teve suas atividades interrompidas, tendo o Conselho Metropolitano
de Montes Claros assumido a responsabilidade de administrar
a SSVP em todo o Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha,
a
partir de 2003. Assim, a Área de abrangência do
Conselho Metropolitano
de Montes Claros até Dezembro 2007 pegava onze
Conselhos Centrais:
Contendo
64 Conselhos Particulares
407 Conferências
• Conselho Central de Montes Claros - Montes Claros
•
Conselho Central São Vicente de Paulo - Montes Claros
• Conselho Central Nossa Senhora de Montes Claros -
Montes Claros
•
Conselho Central de Januária - Januária
•
Conselho Central de Janaúba - Janaúba
• Conselho Central de Pirapora - Pirapora
• Conselho Central de Salinas - Salinas
• Conselho Central de Curvelo - Curvelo
• Conselho Central de Corinto - Corinto
• Conselho Central de Diamantina - Diamantina e
•
Conselho Central de Couto Magalhães - Couto Magalhães
A
partir de Janeiro de 2008 a Área de abrangência
do
Conselho Metropolitano de Montes Claros após a reativação
do
Conselho Metropolitano de Diamantina, ficou com 07
Conselhos
Centrais:
• Conselho
Central de Montes Claros - Montes Claros
• Conselho Central Nossa Senhora de Montes Claros -
Montes Claros
•
Conselho Central São Vicente de Paulo - Montes Claros
•
Conselho Central de Januária - Januária
• Conselho Central de Janaúba -
Janaúba
• Conselho Central de Pirapora - Pirapora e
• Conselho Central de Salinas - Salinas, com 42 Conselhos
Particulares e 253 Conferências.
O que é mais notável na SSVP em Montes Claros e
no Norte
de Minas, é a sua organização, obedecendo
a uma hierarquia,
como foi demonstrado acima e a obra mais visível é o
Asilo São
Vicente de Paulo, que funciona numa área de terra rural,
situada
no Bairro Mangues, atualmente tendo uma rua na frente do
terreno
com o nome de Otávio Silveira, além de diversas
cidades da
região, também possuírem um Asilo São
Vicente de Paulo.
Diante de tudo isto, pode-se concluir que a primeira Conferência
foi fundada por 6 jovens. Assim, a participação
dos jovensé
muito importante na SSVP, não só para trazer as
novas idéias e
o entusiasmo, próprios da juventude, como a sua participaçãoé uma preparação para a continuidade da SSVP, já que
os jovens
serão os substitutos dos adultos na direção
e no comando das
Unidades Vicentinas. A preparação do Vicentino
deve começar
na adolescência.
Assim,
no dia 23 de abril próximo, completarão
176 anos
da fundação da primeira conferência por
Antonio Frederico Ozanan
e seus companheiros, em Paris. Existem quase dois milhões
de pessoas que estão pelo mundo afora seguindo os passos
de
Ozanan. Não se vê muitas notícias dos feitos
das Conferências
na imprensa, quer a falada ou a escrita. O Vicentino
não
faz para
aparecer. Aparece para fazer, socorrendo o necessitado,
quer pessoalmente,
com visitas no domicílio dos socorridos ou por intermédio
dos Asilos, Creches e Hospitais.
Um
fato marcante na história da SSVP no Brasil. De uns
anos para cá, temos visto aí muitas organizações
filantrópicas envolvidas
com o desvio de recursos púbicos. Foram entidades organizadas
para praticar a corrupção. Porém, felizmente,
não se vê as Unidades Vicentinas envolvidas nestas corrupções.
É
verdade que os problemas da pobreza não estão sendo
resolvidos pelos Vicentinos. Pobre, sempre tereis, disse o
próprio
Cristo, no Evangelho. O Vicentino é um elo de ligação.
Procura
receber de quem tem para dar a quem não tem. O que o
Vicentino
recebe, ele vai dando ao pobre com amor, carinho
e dedicação.
Peço
desculpas ao leitor, porque o texto ficou cansativo, com a
citação dos nomes dos diversos conselhos,
mas, como se
trata de um fato histórico, era necessário o
seu registro.
*Avay
Miranda é taiobeirense, Juiz aposentado e
sócio correspondente do IHGMC
A ORIGEM DO HOMEM
Wellington Caldeira Gomes
Sócio Correspondente
Belo Horizonte - MG
A África possuía, há 3 milhões de
anos, uma população
de hominídeos, os Australopithecus, cujos
cérebros eram pouco maiores do que os dos antropoides.
Esses seres, provavelmente, usavam os artefatos que
foram encontrados com eles. Os Australopithecus evoluíram
muito rapidamente. No início, eram pequenos e, em quinhentos
mil anos de evolução, tornaram-se maiores e com
características
mais humanas. Só os seres que tiveram maior capacidade
de se
defender durante a luta pela vida conseguiram sobreviver. Nesse
caso, os Australopithecus, que viveram com maior capacidade de
raciocínio, isto é, que tiveram maior grau de inteligência,
conseguiram
um melhor modo de viver. Um fato curioso é que todos
os seres evoluíram e evoluem, mas, no caso do homem, isso
se
processou de maneira surpreendente: a velocidade do processo
evolutivo foi e parece que está sendo muito rápida.
Durante
muito tempo, houve um “Homem de Pequim”,
um“
Homem de Java” e um “Homem de Heidelberg”,
cada um com
um nome científico próprio. Os fragmentos fósseis
desses homens
primitivos eram muito incompletos, e as técnicas de avaliar
idades estavam ainda no início. Acredita-se que essas
três espécies
citadas pertençam a uma única espécie já muito
estudada:
Homo erectus. Entretanto, era evidente que o Homo erectus se
havia espalhado pelo mundo, sobrevivido por muitos anos e em
diversos lugares.
Os
humanos nem sempre foram seres cosmopolitas. Durante
a maior parte dos primeiros milhões de anos de sua evolução,
os
hominídeos permaneceram vivendo em sua terra natal, a África.
Muito tempo depois é que nossos ancestrais começaram
a deixar
a mãe África para iniciar sua marcha por outros
continentes.
Homens de Neanderthal saem para a caçada e levam consigo
todos os seus
bens: armas, peles e um pedaço de pau para se protegerem
dos animais ferozes.
Eram rústicos. Vagavam pela Europa e Oriente Médio
entre 75.000 e
40.000 anos atrás. Foram substituídos pelos homens
do Cro-Magnon, com os
quais provavelmente teriam realizado cruzamentos.
As
populações
de homens de Neanderthal viveram na Europa
há cerca de 75.000 anos. Entretanto, foi verificado
um desaparecimento
brusco desses seres, sendo substituídos rapidamente
por homens semelhantes a nós. Acredita-se que, nos dias
de caça
difícil, comiam carne humana. A antropofagia foi suspeitada,
devido
ao fato de se encontrarem ossos humanos quebrados e triturados
ao lado dos fósseis de tais seres.
O
cérebro do homem de Neanderthal ( 1.500 cm3 ) era
maior do que o do homem moderno. Acredita-se que é devido
ao fato de esse homem primitivo ter uma massa corporal maior.
O cérebro do homem atual é maior do que o da mulher,
mas nem
por isso ele é mais inteligente do que ela. Ele tem maior
massa
corporal do que ela.
Um
cientista chamado Rensch, após uma série de
experimentos,
concluiu que a retenção da memória é mais
ou menos
proporcional ao tamanho do cérebro. Entretanto, a capacidade
mental não é determinada apenas pelo tamanho do
cérebro. O
cérebro de elefante, por exemplo, tem um volume de 5.000
a
6.000 cm3. Tem, aproximadamente, quatro vezes o tamanho do
cérebro humano. Os animais de corpos grandes, assim como
o
elefante, necessitam de um volumoso cérebro para manter
suas
funções vegetativas. Dentro desse raciocínio,
o homem é o animal
que tem maior cérebro, em relação ao tamanho
de seu organismo.
O
homem de Neanderthal pode ter usado o gene da fala. O material
genético se disseminou por entre os humanos antes
de
as linhagens de Neanderthal e humana moderna (Cro-Magnon)
se separassem. Os homens modernos possuíam um gene crucial
sabidamente vinculado à fala, revelaram evidências
de DNA recuperadas
de dois indivíduos desenterrados da caverna de El Sidron,
no norte da Espanha. As novas evidências foram obtidas
a
partir da análise de um gene chamado FOXP2, que é associadoà linguagem. Sabe-se que a versão
humana do gene difere em dois
pontos críticos da versão que possuem os chimpanzés,
sugerindo
que essas duas modificações encontram-se relacionadas
com o
fato de os humanos serem capazes de falar, e os chimpanzés,
não.
O
homem de Neanderthal foi substituído, na Europa, pelo
homem de Cro-Magnon (Homo sapiens sapiens), no fim do Pleistoceno
(de: 2.500.000 a 11.000 anos) . O homem de Cro-Magnon
viveu nas regiões européias da França à República
Tcheca.
Possuía crânio longo e alto, face moderna, queixo
bem desenvolvido,
capacidade craniana de 1590 cm3 e tinha cerca de 1,77
m
de estatura.
O
homem de Cro-Magnon desenvolveu uma cultura invejável,
muito superior à desenvolvida pelos homens de Neanderthal.
Na França, há mais de 70 cavernas onde ele deixou
vestígios
de sua arte. Nessas cavernas há pinturas e gravuras que
relatam
diversos aspectos da vida daqueles nossos ancestrais.
Foram seres
místicos, acreditavam em poderes sobrenaturais, talvez
pelo fato
de não entenderem certos fenômenos naturais. Mas,
apesar disso,
revelaram-se magníficos artistas: foram pintores e escultores.
Eles
se preocuparam em demasia com os mortos, cavavam sepulturas
e enterravam os cadáveres de seus semelhantes com cinzas
e pedras;
tinham por costume passar ocre vermelho nos mortos
para
lhes tirar a palidez, tornando-os, assim, semelhantes às
pessoas
vivas.
Dá-se o nome de hominização
ao processo segundo o qual
o homem foi evoluindo, física e intelectualmente, desde
sua origem
primata até ao estágio de desenvolvimento atual.
Os
seres humanos atuais se diferenciam dos antropoides,
principalmente, pelo tamanho de seu encéfalo e mandíbula,
por
seu bipedismo e por sua capacidade em constituir
relações
sociais
complexas.
Em
seu formidável livro Infinitas Formas
de Grande Beleza,
o professor e biólogo Sean B. Carroll afirma sobre o assunto
em
foco:
A
causa essencial das alterações evolutivas no
desenvolvimento
e na morfologia dos seres humanos é a genética.
Em
algum lugar de nosso DNA residem as diferenças entre nós,
os
grandes primatas e os primeiros hominídeos.
(...)
A boa notícia é que já conhecemos
a sequência completa
dos genomas de um humano, um chimpanzé e um camundongo.
A má notícia envolve um pouco de aritmética.
A sequência
do DNA humano é composta por três bilhões
de pares de bases.
A do chimpanzé é cerca de 98,8% igual à nossa. É uma
diferença
total de apenas 1,2%, a menor entre qualquer outro animal
do
planeta. Contudo, essa porcentagem se traduz em 36 milhões
de pares de base diferentes. Como os humanos e os chimpanzés
divergiram a partir de um ancestral comum há cerca de
seis milhões
de anos, podemos considerar que a metade dessas diferençasé
específica dos chimpanzés (só ocorrem em
sua linhagem) e
a outra metade, dos humanos (só ocorrem na nossa).
Não resta dúvida de que encontramos fósseis
de plantas e
animais – com exceção do homem – com
relativa facilidade. E
os fósseis humanos? Os seres humanos anteriores aos de
Neanderthal
só foram encontrados em poucos lugares da Terra. Como
explicar esse fato? Há muitas respostas. Primeiramente,
temos de
levar em consideração que a grande quantidade de
fósseis marinhos,
por exemplo, deve-se ao fato de sua grande abundância nos
lugares em que viviam, bem como a larga faixa de tempo
durante
o qual sobreviveram naquele ambiente, tão propício à fossilização.
Os homens nunca foram tão numerosos como muitos seres
de vida marinha. Eram mais inteligentes e não se deixavam
atolar
em pântanos ou em areias movediças, como os outros
animais.
Não viviam nos charcos e, sim, em terra firme; eram caçadores.
Viviam e morriam em locais onde seus ossos podiam ser apanhados
pelos predadores ou corroídos pelas formigas.
Apesar
de tudo isso, a Paleontologia e as ciências afins
já revelaram que, entre 4 e 3 milhões de anos, apareceram
os préhomens:
os Australopithecus, e, depois deles, apareceu entre
1,6
milhões e 250 mil anos o Homo erectus, o primeiro homem
propriamente
dito. A seguir, apareceram os homens de Neanderthal
que foram grandes caçadores e artistas. E, finalmente,
o homem
de Cro-Magnon, que viveu imediatamente antes do homem
atual.
Tudo isso se encontra bem documentado e correlacionado,
de
maneira insofismável.
Os
fósseis humanos tornaram-se abundantes somente quando
o sepultamento dos mortos tornou-se uma prática constante.
Escavações em habitações pré-históricas,
efetuadas em cavernas
da Europa, Oriente Médio, Índia e China, revelaram
muito
a respeito de antigos seres que então as habitavam. Tudo
o que
a Ciência sabe a respeito da evolução do
homem é derivado,
principalmente, dos estudos dos fósseis e objetos achados
em tais
escavações.
OS
PRIMEIROS HABITANTES DO BRASIL
A
reconstituição da cabeça a partir de um
crânio fossilizado
de uma mulher de 11.500 anos revoluciona a teoria
sobre a ocupação
do Brasil e da América. O crânio de Luzia foi encontrado
próximo ao Aeroporto Internacional de Confins, a cerca
de 50km
de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, Brasil.
O
resultado da reconstituição apresentou uma mulher
com
traços negroides, nariz achatado, olhos arredondados e
queixo
proeminente. Quando ela morreu, possuía cerca de 20 anos
de
idade. O fóssil de Luzia foi encontrado em 1975, e hoje
se encontra
no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no
Rio de
Janeiro.
O
fóssil foi estudado pelo arqueólogo Walter Neves,
da
Universidade de São Paulo. Esse pesquisador descobriu
que os traços
anatômicos dessa antiga
habitante do Brasil não eram nada
parecidos com os de nenhum habitante conhecido da América.
Estudos realizados com o fóssil, na Universidade de Manchester,
na Inglaterra, confirmaram as observações de Neves.
As características
de Luzia fazem-na muito mais parecida com as populações
nativas da África e da Austrália, do que com os índios
que
habitam o Continente Americano.
A fotografia nos mostra o crânio e a reconstituição
de Luzia, mulher que viveu
próximo ao município de Belo Horizonte há 11.500
anos.
O
grupo populacional ao qual Luzia pertencia é conhecido
como Homens de Lagoa Santa. Foram pessoas que viveram na região
onde se localiza esse município, próximo a Belo
Horizonte.
Seus primeiros ossos fossilizados foram encontrados pelo naturalista
dinarmaquês Peter Wilhelm Lund, no século passado.
Hoje
eles se encontram no museu da Universidade de Copenhague.
Declara o arqueólogo Walter Neves: “Quando fizemos
os primeiros
estudos com os crânios, ainda nos anos oitenta, ficamos
boquiabertos com as comparações. Era inconcebível
que tivéssemos
crânios antigos de negroides. O esperado era encontrarmos
populações mongoloides, que são as características
dos ancestrais
dos nossos índios.”
Até pouco tempo era ensinado que, antes de Cristóvão
Colombo e Pedro Álvares Cabral, a América havido
sido ocupada
uma única vez, pelos antepassados dos índios atuais.
Eles
teriam saído da região onde hoje é a
Sibéria, uma região
da Rússia, há cerca de 12 mil anos. Teriam atravessado
o Estreito
de Bering, por meio de uma ponte de gelo formada durante
a última
era glacial. Esses imigrantes espalharam-se pelo Continente
Americano, até chegarem à Patagônia, no sul
da Argentina, após
terem passado pelo Brasil. A descoberta de Luzia derruba
essa
hipótese. O fóssil de Lagoa Santa comprova que
antes dessa emigração
empreendida há 12 mil anos, uma outra, bem mais antiga,
chegou à América. Luzia seria descendente desse
grupo. Esses
primeiros colonizadores teriam saído do sul da China e
se dirigidoà
América há cerca de 15 mil anos; 3 mil anos antes
da segunda
leva migratória. Os descendentes da primeira leva migratória
viveram na América milhares de anos, isolados do resto
do mundo,
até desaparecerem completamente, devido, provavelmente,
a
disputas por caça e território com a leva migratória
seguinte, que
ocuparam seu lugar e tornaram-se ancestrais dos índios
de hoje.
Os
antepassados de Luzia fizeram uma grande marcha para
chegar à América, há cerca de 15 mil anos.
Eles teriam cruzado, de
barco, o extremo norte do Oceano Pacífico, navegando
sempre
próximo à costa.
Os parentes de Luzia, o crânio
humano mais antigo das Américas, não para de crescer. Antropólogos
brasileiros sugerem
agora que esses grupos ocuparam um território muito maior
do
que se supunha.
Em um estudo publicado na edição
de junho de 2007 no
periódico “American Journal of Physical Anthropology”,
os paleontólogos
liderados por Walter Neves, da Universidade de São
Paulo, afirmaram que os chamados paleoíndios sobreviveram
na
Colômbia, perto de Bogotá, durante cerca de 8 mil
anos. Tal fato
reforça a tese de que, quando os antepassados dos índios
atuais
vieram da Ásia para as Américas, eles não
encontraram um continente
despovoado; a Terra era habitada, mas a população
acabou
por se extinguir por razões ainda desconhecidas.
ESTUDO
DE COMPORTAMENTO
Um
dos mais interessantes temas abordados pela ciênciaé
o estudo do surgimento da inteligência humana. Esse acontecimento
se processou paulatinamente ao longo do tempo e foi
dirigido pela seleção natural. Só os mais
aptos (mais inteligentes)
sobrevivem e têm maior probabilidade de se reproduzirem
e perpetuarem seus genes em seus descendentes. Assim,
surgiu
a inteligência humana ao longo da evolução,
desde os primatas
primitivos aos hominídeos, e destes ao ser humano.
A
inteligência foi a maior conquista do homem. É ela
que
permite, ao homem, criar tudo aquilo que ele já criou
e irá criar
(ou destruir ?). Além disso, é ela que permite
ao ser humano pensar
sobre sua própria existência.
O
estudo das diversas fases do desenvolvimento da inteligência
humana encontra uma dificuldade que não permite um estudo
direto do processo. Isso, porque ela não pode ser observada
diretamente no registro fóssil. Assim, todo estudo da
evolução da
inteligência humana é feito indiretamente a partir
da observação
do aumento da capacidade da caixa craniana dos fósseis
já encontrados,
e de tudo aquilo produzido pela inteligência humana
como utensílios de trabalho, uso do fogo para cocção
de alimentos,
objetos de arte e pinturas, caça em grupos e sepultamento
dos mortos.
A
inteligência não é uma conquista apenas
do homem. Elaé
também observada em outros primatas, sob forma de reconhecimento
e o uso de símbolos complexos, coisas abstratas que
representam outras, memória de longa duração,
capacidade de
construir instrumentos de trabalho e de resolver
problemas simples
para captura de alimentos.
Atualmente,
os cientistas chegaram à conclusão
de que
existem vários graus de complexidade de inteligência
nos mamíferos,
tais como golfinhos, elefantes e, principalmente,
entre os
primatas. Verificou-se que os seres humanos compartilham
com
eles muitas características, que antes se pensava serem
exclusivas
do homem. A linguagem simbólica, por exemplo, também
ocorre
entre primatas, como nos chimpanzés.
Outro
exemplo de inteligência é a da caça
cooperativa. Elaé
observada nos homens pré-históricos e até mesmo,
nos dias
atuais, entre vários mamíferos.
Mas
o progresso maior do homem deveu-se, principalmente,
ao aparecimento da linguagem. É através dela que
o ser humano
transmite o que pensa para seu semelhante. É desse modo
e
também pela escrita que a experiência dos mais velhos
passa para
os mais jovens, através das gerações; e
a humanidade progride
muito mais em relação aos outros animais.
Segundo
um interessante artigo publicado na Folha de São
Paulo de 21 de setembro de 2002, Steven
Pinker, um canadense de
48 anos, psicólogo da linguagem do
Instituto de Tecnologia
de Massachusetts, autor dos famosos livros: “Como a Mente
Funciona” e “O Instituto da Linguagem”, acaba de lançar
outro livro –
“A Tábula Rasa: A Negação Moderna
da Natureza Humana”.
Nele o autor retoma o tema da natureza versus cultura.
O
autor ataca os pensadores para os quais a mente humanaé
inteiramente moldada pela cultura, e que afirmam não existirem
capacidades inatas e diferenciadas entre as pessoas. E defende
a
tese de que os genes exercem grande influência no comportamento
humano, ideia defendida anteriormente pelo biólogo Edward
Osborne Wilson, da Universidade de Harvard, com a criação
da
sociobiologia.
Para
Pinker, “a crença comum é que a mente
seja só isso,
uma tábula rasa – as pessoas não nascem com
talentos ou temperamentos,
e a mente toda é produto de cultura e socialização
(...).
Há o temor de que, se você reconhecer que as pessoas
nascem
com alguma coisa, isso implique que algumas pessoas têm
mais
do que outras e, portanto, se abra a porta para a desigualdade
política e opressão.
Eu
não acho que qualquer um que tenha mais de um filho
acredite que crianças são pedaços de massinha
esperando para
serem modelados. Há um conjunto de trabalhos sobre educação
de filhos que olha para a correlação entre o que
os pais fazem
e como isso se reflete nas crianças: pais que conversam
com as
crianças têm filhos com habilidades avançadas
de linguagem;
pais que espancam as crianças têm filhos que se
tornam mais
violentos; e assim por diante.
(...)
O fato é que pais dão aos filhos não
só o ambiente, mas
também genes. Os mesmos genes que fazem dos pais pessoas
falantes podem tornar filhos mais hábeis em linguagem.
Os estudos
originais raramente são feitos com crianças adotadas”.
Mas a
cultura exerce também grande influência no comportamento
humano.
A mente humana é moldada pela interação
do eu natural
(genoma) com o eu social (socialização).
Wellington
Caldeira Gomes*
*Biólogo pela UFMG; Especialista em Educação
e Educação Ambiental;
Ex-professor da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais;
Ex-professor
da Faculdade de Educação da UFMG; Membro da Sociedade
Brasileira para
o Progresso da Ciência e do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros;
Autor de diversas obras didáticas de Biologia, de Ciências
Físicas e Biológicas
e de Programas de Saúde.
ANTROPÓLOGO
E HUMANISTA
Franz Boas (1858-1942)
(*)
Zanoni Eustáquio Roque
Neves
Sócio Correspondente
Belo Horizonte - MG
Comemorou-se
em 2008 o sesquicentenário
de
nascimento do antropólogo Franz Uri Boas. Nascido
em 1858 na cidade de Minden (Vestfália),
Franz Boas pertenceu a uma família judaica. Antes de despertar
para os estudos antropológicos, formou-se em Física,
dedicandose
posteriormente à Geografia.
A
partir da expedição aos esquimós em 1883-1884,
Boas
converte-se à Antropologia, valorizando, em seu trabalho,
a pesquisa
de campo e a etnografia. Em sua formação, não
se pode perder
de vista também as fontes históricas, sobretudo,
os relatos de
viajantes e cronistas como Heródoto, César, Tácito,
Marco Pólo,
Ibn Batuta, Cook, etc. que descreveram padrões culturais
vigentes
em períodos históricos passados e em sociedades
diferentes das
ocidentais.
_______________________
*
Mestre em Antropologia Social pela UNICAMP, membro efetivo
da ABA– Associação Brasileira
de Antropologia e membro correspondente do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros.
Ao
conhecer Adolf Bastian (1826-1905) com quem trabalhou no Museum
für Völkerkunde, de Berlim, o jovem Boas
assumiu
um contato mais profundo com a Antropologia. Vale lembrar
que Bastian formulou a tese da unidade psíquica da humanidade
e do paralelismo cultural.
A
formação de Franz Boas na área de ciências
exatas explica
o rigor introduzido nos estudos antropológicos. Assim,
por
seu intermédio, a Antropologia assimilou algumas características
da pesquisa científica predominantes na física
e na geografia: o
interesse pela observação empírica, pelo
trabalho de campo, a
produção do conhecimento sistemático e objetivo,
etc. Mas não
se pode perder de vista as origens de Boas, determinantes
em sua
formação intelectual: judeu vivendo na Alemanha,
foi vítima de
preconceito anti-semita. Experimentou, portanto, a condição
de
etnia minoritária submetida à discriminação
racial. Essa experiência
contribuiu para sua formação intelectual como antropólogo,
na medida em que lhe possibilitou o estranhamento de
ideologias
discriminatórias, favorecendo-lhe a interpretação
da realidade
sociocultural vivenciada por outras minorias como os
negros eí ndios americanos, submetidos ao preconceito racial.
A
CIÊNCIA E O EXERCÍCIO DA CRÍTICA
É
importante contextualizar a época em que viveu Franz
Boas, sobretudo, mencionar o estágio de desenvolvimento
da
ciência antropológica, na qual – vale lembrar
- predominava o
evolucionismo cultural: segundo esta orientação
teórica, as sociedades
humanas passariam pelos estágios de selvageria e barbárie
até alcançar a civilização. Em 1896,
Boas escreveu o artigo “As
Limitações do Método Comparativo da Antropologia” em
que desenvolve
uma crítica ao evolucionismo unilinear, argumentando
em favor de estudos histórico-culturais específicos
para cada sociedade,
cujo “processo de desenvolvimento” deveria ser investigado:
“
Não se pode dizer que a ocorrência do mesmo fenômeno
sempre se deve às mesmas causas, nem que ela prove que
a men
humana
obedece às mesmas leis em todos
os lugares. Temos
que exigir que as causas a partir das quais o fenômeno
se desenvolveu
sejam investigadas, e que as comparações se restrinjamà
queles fenômenos que se provem ser efeitos das mesmas causas.
Devemos insistir para que essa investigação seja
preliminar a todos
os estudos comparativos mais amplos.” (1)
Vejamos um trecho do artigo “Os
objetivos da Pesquisa Antropológica” (1932) em que Boas lança
um forte argumento
contra os exageros do difusionismo, uma das orientações
teóricas
predominantes em sua época:
“
Não é um método seguro supor que todos os
fenômenos
culturais análogos precisem estar historicamente relacionados.
Em cada caso é necessário exigir prova de relação
histórica, que
deve ser tanto mais rígida quanto menos evidência
houver de um
contato real, seja ele recente ou antigo.“(2)
A “prova” nada mais é do
que o material da pesquisa de
campo e de relatos históricos consistentes.
Os
determinismos biológico, econômico e geográfico
foram
por ele refutados. Neste particular, vejamos um exemplo
que
pode ser encontrado no artigo acima mencionado:
“Os
geógrafos tentam derivar todas as formas da cultura
humana
do ambiente geográfico no qual o homem vive. Por mais
importante que possa ser esse aspecto, não temos evidência
de
uma força criativa do ambiente. Tudo o que sabemos é que
qualquer
cultura é fortemente influenciada por seu meio ambiente,
e
que alguns elementos de cultura não podem se desenvolver
num
cenário geográfico desfavorável, assim como
outros podem ser
por ele favorecidos. Basta observar as diferenças fundamentais
de
cultura que se desenvolvem, uma após a outra, no mesmo
ambiente,
para nos fazer compreender as limitações das influências
ambientais.”(3)
Posteriormente,
alguns autores aprofundaram o conhecimento
da relação entre natureza e cultura. Vale lembrar,
por
exemplo, Marshall Sahlins, para quem “a cultura age seletivamente” (...) sobre o meio ambiente, “explorando
determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para
o qual as forças
decisivas estão na própria cultura e na história
da cultura.” (4)
No texto “Alguns Problemas de Metodologia nas Ciências
Sociais”, de 1930, Franz Boas já abordava a questão
racial:
“
Certas linhas de investigação se desenvolveram
com a finalidade
de explicar como as complexidades da vida cultural
dependem
de um único conjunto de condições. Exatamente
agora
vem-se atribuindo grande ênfase à raça como
um determinante
da cultura.”(5)
E,
em seguida, questiona: “Não acredito que se tenha
dado
até hoje qualquer prova convincente de uma relação
direta entre
raça e cultura.” (6)
Frente às ideologias racistas predominantes em sua época,
Franz Boas ponderou que o preconceito racial
deveria ser explicado
por fatores culturais e não por fatores biológicos.
Vejamos
a seguir uma citação do artigo “Raça
e Progresso”, de 1931, no
qual sua crítica torna-se mais incisiva:
“ Acredito
que o estado atual de nosso conhecimento nos autoriza a dizer
que, embora os indivíduos difiram, as
diferenças
biológicas entre as raças são pequenas.
Não há razão para
acreditar que uma raça seja naturalmente
mais inteligente, dotada de
grande força de vontade, ou emocionalmente mais estável
do que
outra, e que essa diferença iria influenciar significativamente
sua
cultura.” (7)
As
ideologias racistas preconizavam a superioridade das populações
caucasóides e a inferioridade de outras, como as negróides,
por exemplo, conforme terminologia amplamente utilizada
naquele período histórico.
O
preconceito racial advém de uma visão autocentrada
na
cultura do grupo que discrimina: indivíduos de uma raça
ou de
uma etnia colocam-se numa posição hierárquica
frente a outros
povos, dizendo-se superiores. Assim, justificou-se, por exemplo,
a escravidão, o colonialismo e, até mesmo, o genocídio
de incontáveis
grupos nativos na África e nas Américas.
Autor
do livro Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas,
o Conde de Gobineau e seus discípulos, que – vale
enfatizar
- alimentaram a ideologia nazista, tiveram suas teses criticadas
por Franz Boas no artigo “Raça e Progresso” (1931):
“
A questão essencial a ser respondida é se temos
qualquer
evidência que indique que os acasalamentos entre indivíduos
de
descendência e tipos diferentes resultariam numa prole
menos vigorosa
do que a de seus ancestrais. Não tivemos nenhuma oportunidade
para observar qualquer degeneração no homem que
se
deva claramente a essa causa.” (8)
Gobineau
argumentava que a mestiçagem enfraquecia as
raças, prevendo que os brasileiros, predominantemente
miscigenados,
estariam condenados ao desaparecimento. (9)
No
artigo acima mencionado, Boas questiona outras manifestações
das ideologias racistas, por exemplo, as tentativas de
relacionar
tipos de personalidade às raças: “É muito
mais difícil obter
resultados convincentes em relação às reações
emocionais nas
diferentes raças.” (10) Mais adiante, esclarece: “Não
há dúvida de
que indivíduos diferem a esse respeito graças à sua
constituição
biológica. Mas é muito questionável se o
mesmo pode ser dito
das raças, pois em todas elas encontramos uma ampla variedade
de diferentes tipos de personalidade.” (11) E, em seguida,
arremata:“
A variedade de respostas de grupos da mesma raça, porém
culturalmente diferentes, é tão grande, que provavelmente
qualquer
diferença biológica existente tem importância
menor.” (12)
No
artigo “Os Objetivos da Pesquisa Antropológica”,
de
1932, o referido autor argumenta com base em dados
de pesquisa:“
Podemos dizer com segurança que os resultados do extenso
material reunido durante os últimos cinqüenta anos
não justifica
a suposição de qualquer relação estreita
entre tipos biológicos e
forma cultural.” (13)
Enfim,
Boas rejeitou a visão superficial, reducionista,
que
caracterizava o pensamento pseudocientífico estribado
no senso
comum e no preconceito racial. Ademais, seus textos
tornaramse
matrizes para a reflexão de diversos alunos e estudiosos
que
escreveram teses e livros de Antropologia.
Os
enfoques autocentrados na cultura do pesquisador, a
hierarquização de culturas são questionados
na perspectiva relativizadora
de Franz Boas. Vale citar sua reflexão sobre as chamadas “
culturas primitivas”:
“ Antes
de calificar de primitiva a la cultura de un pueblo en el sentido
de pobreza de realizaciones culturales, es
preciso
responder a tres preguntas: primero, como se manifiesta la
pobreza
en diversos aspectos de la cultura; segundo, si el pueblo
en masa puede ser considerado como una unidad respecto a
sus
posesiones culturales; tercero, qual es la relación de
los diversos
aspectos de la cultura, si obligatoriamente
su desarollo debe ser
deficiente en todos por igual, o pueden ser
algunos avanzados y
otros no.” (14)
O
pesquisador deve despojar-se dos valores de sua cultura
para observar outras culturas. Abordagens
desta natureza estimuladas
pelo pensamento de Boas permitiram aos antropólogos
questionar incontáveis preconceitos enraizados no senso
comum
e em estudos pretensamente eruditos.
A
ideologia de que determinados povos estariam irremediavelmente
fadados ao “atraso” foi questionado pelas ciências
sociais. Associando a noção de raça ao nível
de desenvolvimento
tecnológico, o colonialismo justificava a dominação
sobre povos
considerados culturalmente inferiores. Os textos de Boas e de
outros autores contribuíram para desvelar a inconsistência
desse
tipo de argumento.
Muitos
alunos orientados por Franz Boas como Melville
Herskovitz desenvolveram novos conceitos para a Antropologia
Cultural. Vejamos apenas um exemplo:
“
Os aspectos da experiência da aprendizagem que distinguem
o homem das outras criaturas, e através dos quais, na
infância
e posteriormente, ele se familiariza com sua cultura, podem
ser chamados de enculturação. Trata-se, em essência,
de um processo
de condicionamento consciente ou inconsciente, exercido
dentro dos limites sancionados por um determinado complexo
de
costumes.” (15)
As
novas teorias aprofundaram o conhecimento descortinado
por Franz Boas sobre a relevância da cultura na vida dos
seres humanos. Mas é importante citarmos outros antropólogos
de renome que foram alunos de Boas: Alfred Kroeber, Edward
Sapir, Robert Lowie, Ruth Benedict, Margareth Mead, Gilberto
Freire etc. Certamente, esses grandes expoentes da Antropologia
realizaram-se profissionalmente graças à sua competência,
mas
devem também sua formação ao rigor que o
grande mestre devotavaà
ciência. Vejamos, a seguir, as observações
de Abram
Kardiner e Edward Preble:
“
A sua atitude (de Boas) em relação ao trabalho
deles (dos
alunos) era sempre de crítica, e o fato de ter habitualmente
razão
em seu julgamento não diminuía o constrangimento
que experimentavam
alguns dentre eles. O seu maior talento residia na análise
da teoria e do método e nenhum trabalho lhe fugia à paciente
e meticulosa dissecção.” (16)
A
visão das inter-relações entre fenômenos
culturais é uma
das características do método de Franz Boas. Nos
estudos cultural-
antropológicos, dever-se-ia captar a totalidade e as relações
entre as “partes”. No texto “Os objetivos da
Pesquisa Antropológica”,
de 1932, ele ensinava: “A interdependência dos fenômenos
culturais deve ser um dos temas da pesquisa antropológica,
cujo material pode ser obtido por meio do estudo das
sociedades
existentes.” (17) Na introdução do livro
Padrões de Cultura, de
Ruth Benedict, Franz Boas observou: “O ocuparmo-nos de
culturas
vivas criou um mais forte interesse pela totalidade
de cada
cultura. Sente-se cada vez mais que quase nenhuma feição
culturalé
compreensível quando separada do conjunto de que faz
parte.” (18)
Debruçando-se sobre “culturas vivas”,
a pesquisa de campo
revelou a importância da totalidade para os estudos antropológicos
contrapondo-se às investigações dos “antropólogos
de gabinete”.
Juntamente com Malinowski, Boas introduziu uma verdadeira
revolução no pensamento antropológico.
A PRÁTICA
Nos
momentos cruciais da história da humanidade, Franz
Boas posicionou-se claramente contra os regimes totalitários.
Vejamos,
a seguir, um texto de Kardiner e Preble sobre
sua oposição
ao Nazismo:
“
Com o advento do racismo sob o domínio dos nazistas, antes
da Segunda Guerra Mundial, foi um dos primeiros a assumir
vigorosa posição pública contra Hitler.
Já, então, em idade avançada,
combateu a Alemanha de Hitler com todas as
forças do seu
grande saber, da sua reputação e da sua personalidade.” (19)
Seu
pensamento incomodava os detentores do poder discricionário.É
importante citar Celso Castro na apresentação do
livro Antropologia Cultural, de Franz Boas: “Quando, em
1938, a Universidade de Heidelberg foi invadida
pelas SS nazistas, seus
livros estavam entre os que foram queimados.” (20) Ainda
segundo
o mesmo autor, “(Boas) foi um dos fundadores, em 1939,
do
American Committee for Democracy and Intellectual Freedom,
criado em uma época de intensa ‘caça às
bruxas’ dos dois lados
do Atlântico.” (21) Vale mencionar o macarthismo,
de triste memória.
Mas à opressão se contrapôs a liberdade intelectual.
É
lícito pensar que as idéias de Boas, assimiladas
por um
grande número de antropólogos (que se tornaram
eminentes professores)
e no meio estudantil dos EUA, contribuíram de alguma
forma para fomentar a luta pelos direitos civis nos anos 1960.
Ao
longo de algumas décadas, reproduzindo-se na sociedade
americana,
auxiliaram na formação de um ideário crítico
sobre a discriminação
racial naquele país.
NOTAS
E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. e trad. Celso
Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, Coleção
Antropologia
Social, pp. 31-32.
2.
Ibidem, p. 102;
3.
Ibidem, pp. 104-105;
4.
SAHLINS, Marshall. “A cultura e o meio ambiente: o
estudo da ecologia cultural”, in: TAX, Sol (Org.).
Panorama da Antropologia.
Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, s./d.,
pp. 100-
101;
5.
BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. e trad. Celso
Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004,
Coleção
Antropologia
Social, p. 59;
6.
Ibidem, p. 60;
7.
Ibidem, p. 82;
8.
Ibidem, p. 72;
9.
RAEDERS, Georges. O Conde de Gobineau no Brasil.
Trad. Rosa Freire d’Aguiar. Rio de Janeiro: Ed. Paz e
Terra, 1997,
Coleção Leitura, p. 8;
10.
BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. e trad. Celso
Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2004, Coleção
Antropologia
Social, p. 80;
11.
Ibidem, p. 81;
12.
Ibidem, idem;
13.
Ibidem, p. 97;
14.
BOAS, Franz. Cuestiones fundamentales de Antropologia
Cultural. Buenos Aires: Solar-Hachette,
1988, p. 203;
15.
HERSKOVITZ, Melville. Man and his Works. New York:
Knopf, 1948, p. 39;
16.
KARDINER, Abram; PREBLE, Edward. Eles estudaram
o
Homem. São Paulo: Cultrix, 1964, p. 140;
17.
BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. e trad.
Celso
Castro. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2004,
Coleção
Antropologia
Social, p. 103;
18. _______. “Introdução”. In: BENEDICT,
Ruth. Padrões
de cultura. Trad.
Alberto
Candeias. Lisboa:
Edição “Livros
do Brasil”,
s./d., Coleção Vida e Cultura, p. 8;
19.
KARDINER, Abram; PREBLE, Edward. Eles
estudaram
o
Homem. São Paulo: Cultrix, 1964, p. 138;
20.
CASTRO, Celso. “Apresentação”.
In: BOAS, Franz. Antropologia
cultural. Org. e trad.
Celso Castro. Rio de
Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2004, Coleção Antropologia Social,
p. 14;
21.
_______. “Apresentação”. Ibidem,
idem.
ANTROPÓLOGO
E HUMANISTA
Franz Boas (1858-1942)
ÍNDICE
Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros - 3
Lista de Sócios efetivos do IHGMC - 5
Homenagens - 8
Apresentação - 9
Antônio Augusto Pereira Moura
Montes Claros, sua história, sua gente... Dr. Hermes de
Paula - 13
Dário Teixeira Cotrim
A medicina dos médicos e a outra - 19
Wagner Gomes
Hermes de Paula: sua gente, para minha gente - 22
Wanderlino Arruda
Hermes de Paula - 26
Antônio Augusto Pereira Moura
Nonô e Minininha - para sempre - 37
Dário Teixeira Cotrim
A morte de um titã - 44
Eliane Maria Fernades Ribeiro
Herbert José de Souza - 49
Felicidade Patrocínio
Montes Claros no cenário das artes plásticas brasileiras
- 58
Felicidade Vasconcelos Tupinambá
Melo - 73
Geralda Magela de Sena Almeida e Souza
No colo da mãe, a vida se aprende! - 82
Haroldo Lívio
Retratos de família - 91
Haroldo Lívio
A carta - 93
Juvenal
caldeira Durães
Saudosos momentos - 97
Lázaro Francisco Sena
Colégio Tiradentes da Polícia Militar - 102
Luíz de Paula Ferreira
O sol das cigarras - 112
Luíz de Paula Ferreira
O assistente técnico - 114
Maria Clara Lage Vieira
Vovó Letícia - 116
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Arquitetura São Franciscana - 123
Maria das Mercês Paixão Guedes
Petróleo em Montes Claros - 139
Maria de Lourdes Chaves
Pequeno histórico da Seresta em Montes Claros - 142
Maria Luíza Silveira Teles
O médico e o poeta das cores - 155
Miriam Carvalho
Literatura/leitura, leitor/escritor - 168
Petrônio Bráz
Maria da Cruz - 173
Roberto Carlos Morais Santiago
O mestre na política mineira - 176
Roberto Pinto da Fonseca
Os vapores do São Francisco - 186
Avay Miranda
A SSPV em Montes Claros e na região - 195
Wellington Caldeira Gomes
A origem do homem - 208
Zanoni Eustáquio Roque Neves
Antropólogo e humanista Franz Boas (1858-1942) - 220
|