APRESENTAÇÃO
Mesmo com o isolamento imposto pelo corona-vírus, estamos
trabalhando, incansavelmente, para editar e publicar a
Revista do Instituto Histórico deste semestre. É preciso
manter a tradição das publicações do Informativo e da Revista, para
que o nosso Instituto Histórico tenha continuidade na preservação
de nossa memória. Estamos em tempos difíceis, é verdade, mas não
impossível para as realizações dos nossos projetos no sentido de
melhor atender os nossos confrades nos seus anseios em favor do
resgate histórico do nosso povo. Portanto, estamos entregando, com
muita alegria, a Revista volume 24, do primeiro semestre deste ano
para o deleite dos leitores.
Nesta oportunidade, queremos agradecer os participantes
deste volume, mesmo diante das dificuldades existentes, o carinho e o empenho na produção dos artigos elaborados exclusivamente para
a composição deste livro. Vejamos: Amelina Chaves, Dário Teixeira
Cotrim, Edvaldo de Aguiar Fróes, Eliane Maria Fernandes Ribeiro,
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira, Filomena Alencar Monteiro
Prates, Harlen Soares Veloso, Hermildo Rodrigues, Itamaury Teles de
Oliveira, José Ferreira da Silva, José Ponciano Neto, Lázaro Francisco
Sena, Leonardo Álvares da Silva Campos, Magda Ferreira de Souza,
Mara Yanmar Narciso da Cruz, Márcio Adriano Silva Morais, Maria
Clara Lage Vieira, Maria da Glória Caxito Mameluque, Maria de
Lurdes Chaves, Marilene Veloso Tófolo, Marilúcia Rodrigues Maia,
Wanderlino Arruda e Wesley Soares Caldeira que proporcionam aos
demais associados em conhecer um pouco mais a respeito da nossa
história. Da mesma forma, agradecer os membros do Conselho de
Documentação e Publicação que, em momento algum se esquivaram
dos esforços na coleta dos assuntos pertinentes a este trabalho.
O design da capa deste livro tem o objetivo de homenagear dois
ilustres montes-clarenses: o artista plástico Godofredo Guedes, com
uma belíssima ilustração da saudosa Igreja do Rosário, e o cronista
Haroldo Lívio de Oliveira com um texto sobre essa mesma Igreja,
publicado nas orelhas desta revista. O leitor ainda terá para leitura
matéria de Antônio Félix da Silva e, em seguida, outra do associado
emérito doutor Petrônio Braz. Portanto, eis aí mais uma Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Boa leitura!
Dário Teixeira Cotrim - Presidente
Amelina Fernandes Chaves
Cadeira N. 47
Patrono: Hermenegildo Chaves
UMA NOITE DE SOLIDÃO
Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector
Sem que a gente perceba a ficção dança na minha mente num
vai e vem sem trela. Personagens que podem parecer fictícios,
mas não são, pois elas existiram e/ou existem no presente ou em
lugares distantes da minha rica e movimentada infância. Eles foram
armazenados para logo mais explodir, enriquecendo e alimentando a
minha criatividade. Vem à tona, soltos e leves como a brisa de uma
manhã de primavera. Poucos acreditam que a escrita é uma busca no
fundo do tempo. Pois é.
A pessoa a quem me refiro com tanta propriedade é o meu
saudoso pai, o soldado Antônio Clementino, que teve uma influência
fantástica na minha gostosa infância. Era ele um homem belo, alegre e
contador de causos de jagunços e tantos outros, todos inventados por
ele para nos divertir. Nós, crianças da família simples encantávamos
com os seus exageros que eram de certa forma fascinante.
Hoje, na literatura, existem muitas Marias cantadas em prosas
e versos nas minhas paginas existiram na realidade e já se destacavam
umas das outras pela coragem de desafiar os preconceitos que pessoalmente
conheci. E já me incomodava. (estes que me fizeram fugir
de casa aos quinze anos) tento me libertar das minhas lembranças,
mas quando penso estar livre, escuto, vindo lá do fundo do tempo
uma vozinha me gritando: “-Ué, nem acredito, esqueceu de mim?”
Levo um susto. Lembro-me do seu belo rosto sempre sorrindo sinto
que me amava. Fico feliz! E vou abrindo de novo as comportas do
pensamento e as lembranças chegam desenfreadas e me tomam por
completo. Uma música divina enche o ambiente e a canção dolente
me conduz a um caudaloso rio de sonhos. De repente ouço uma gargalhada
escandalosa, ela chega de leve e me abraça com ternura. Seu
cheiro é doce como as flores do campo. Escrevo e choro para aliviar o
coração. Vejo as margens do rio, ele esta lá. O andarilho esta voltando
o com toda sua força, eu vou segurar sua mão e seguir em busca de
nova aventura. Sonhando encontrar um amor perfeito ou um grande
livro. E você leitor vai entender? NÃO!... Melhor assim.
O instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros vem desenvolvendo
um grande trabalho sobre a história de Montes Claros
e região. Entretanto muitos desses fatos reais caem na boca do povo
e tornam-se lenda. Há pessoas que viveram histórias tão fantásticas
que parecem ficção e por isso é comum dizer que essa história é uma
lenda.
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
A CAPELINHA DOS MORRINHOS
Sabemos perfeitamente que nos tempos passados, a nossa cidade
de Montes Claros de Formigas vivia mais para a Igreja do que
a Igreja para a cidade. O padre Murta de Almeida já dizia isso
em suas homilias na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São
José. Em razão disso foi construía aqui a majestosa Catedral de Nossa
Senhora Aparecida, uma obra valorosa para à época. O culto da religião
Católica Apostólica e Romana era quase uma doutrina obrigatória
nos lares e nas escolas do interior brasileiro. Além das igrejas, existiam
ainda as capelinhas por toda zona rural, e que hoje estão dentro daárea urbana em virtude do progresso constante de nossa aldeia.
Assim, sob os auspícios de dona Germana Maria de Olinda,
para cumprir uma promessa que fizera, mandou que se construísse
no alto dos Morrinhos a capela de Santa Cruz dos Morrinhos. Tudo
teve inicio no dia 24 de fevereiro de 1884. E dois anos depois a
capelinha já estava erguida para a felicidade dos moradores daquela
zona habitacional. A capela teve inauguração no dia 14 de setembro
de 1886, quando a população acompanhou a imagem do Senhor do Bonfim da Praça da Matriz até os Morrinhos. O padre Manoel da
Assunção Ribeiro era vigário da freguesia naquela oportunidade.
O batismo da capela teve o nome d Santa Cruz dos Morrinhos,
e não da imagem do Senhor do Bonfim introduzida no seu interior.
Não se sabe qual a intenção de dona Germana em denominá-la com
este nome, uma vez que o seu santo de devoção era São Geraldo. Por
isso mesmo, tempos depois foi colocada ali a milagrosa imagem de
São Geraldo, mas o templo passou a ser conhecido por Igrejinha dos
Morrinhos.
Ainda, admitindo o uso constante das crenças, era comum
enterrar as pessoas devotas, aquelas que mais significassem para a Igreja, no seu interior. Desse modo foi dona Germana Maria de
Olinda sepultada ao pé do altar desta capelinha. Aliás, muitas pessoas
eram enterradas no adro das igrejas, enquanto isso os cativos e criados
tinham seus cemitérios sempre nos fundos das igreja.
Recorrendo aos escritos do padre Murta de Almeida,
encontramos essa assertiva que ilustra muito bem esta nossa crônica.
Vejamos: “Outro dia eu resolvi subir a ladeira. Cheguei à frente da
inocente capelinha onde tantos anos atrás eu tinha feito os primeiros
ensaios do meu sacerdócio. Entrei uma vez que a porta estava aberta.
Foi um susto. Senti-me então sozinho, desamparado, desmotivado
e triste. Mas o que mais me machucou foi a quase convicção de que
aquelas quase ruínas não eram outra coisa senão as consequências do
desmoronamento da fé, do amor, e da cultura no coração dos homens,
no meu próprio coração...”.
Hoje, a capelinha dos Morrinhos está bem cuidada. Ela
representa o cartão postal da cidade de Montes Claros. Ainda bem!
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
A FAMÍLIA LANDULFO PRADO
Eis aqui um livro de alto nível literário. O autor Landulfo Santana
Prado faz uma análise de sua própria existência, colocandose
no meio universal da genealogia as suas aventuras, os seus
labores e a sua formação na história da bibliografia literária na construção
de um documentário sobre A Família Landulfo Prado, onde o
mesmo foi buscar o significado das palavras alguns milênios antes do
século XXI. É um trabalho de folego. Um trabalho diferente e gratificante
para a leitura, pois o leitor tem a oportunidade de aprender
a história genealógica e as expressões da língua portuguesa em seu
estado de criação. Aqui o criador da obra é a criatura dele mesmo,
sem pedantismo, sem ódio, sem o constrangimento de falar de si, nos
mínimos detalhes de sua escrita.
Nota-se que, no decorrer da leitura o leitor deve fazer paradas
para uma análise em múltiplas reflexões. Isso acontece porque a linguagem
exercida pelo autor exige que o leitor proceda com a rotineira
curiosidade na construção dos textos que são elaborados na forma filosófica
do classicismo perfeito. Em princípios, a gratidão aflora como
manifestação de agradecimentos, quando é realizada uma viagem no
tempo pretérito, com lembranças de nomes de pessoas e de lugares,
onde ele esteve no albor de sua infância e adolescência.
Sempre com a narrativa precisa e, principalmente na citação de
datas cronológicas, o autor vai alimentando a sua obra com figuras
simbólicas para atrair a atenção do leitor no que pretende escrever
sobre o seu passado, na conformidade do tempo e do espaço. Além da
cronologia natural dos fatos, o autor ainda explora o isocronismo na
medida exata de suas pesquisas. É importante dizer que se faça uma
leitura sem pressa, pois muito haveremos de aprender com o enriquecimento
das palavras e com a beleza dos textos, oportunidade impar
para todos nós. O livro A Família de Landulfo Prado de Landulfo Pradoé, por vezes, um amanhecer vibrante nos trilhos da vida. E, por vezes
outras, como as serpenteadas trilhas nostálgicas desta mesma vida.
Os gráficos, que não são muitos, mas o bastante para esclarecer
o distinto leitor a origem de tudo. Mesmo assim, as anotações no
rodapé da obra, em questão, existem para complementar as informações
necessárias. Ainda assim, com o objetivo de informar mais, o
autor incluiu um adendo de suma importância em forma de colofão
para que o leitor possa subtrair o melhor conhecimento das civilizações
europeias. A base étnica da raça humana – Vikings, Daneses e os
Mouros – complementado assim a sua pesquisa histórica. Do mesmo
modo ele procedeu com lisura o histórico da família Medrado, de
Mucugê, na Chapada Diamantina. São apontamentos que valorizam
e engrandecem a sua obra como um todo.
Para mim foi uma oportunidade impar a leitura deste influente
livro. Em vista disso quero cumprimentar o ilustre autor, Landulfo
Prado, pela sua energia e determinação ao escrever este importante
documentário sobre a genealogia da família Landulfo Prado. Parabéns
e sucesso!
Edvaldo de Aguiar Fróes
Cadeira N. 01
Patrono:
Alpheu Gonçalves de Quadros
UMA PROVA DE FOGO
NUMA ESTREIA
O fusquinha roncava com força ao penetrar na estrada poeirenta
e, na sua direção encontrava-se o jovem médico, Dr.
Jansen, com todas as suas bagagens de mudança depositadas
no banco traseiro, em direção ao norte do estado, cidade de Marianópolis,
onde iria trabalhar, doravante, num pequeno hospital recentemente
aparelhado sob sua orientação.
Começou, então, a recordar do longo preparo a que se submetera
para o pleno exercício de tão nobre profissão de médico. Com
efeito, durante o segundo ano do curso, estagiou no Banco de Sangue
da Santa Casa de Belo Horizonte, aprendendo a prática básica das
transfusões, certamente de grande utilidade futura.
No Pronto Socorro Estadual, fizera treinamentos intensivos nasáreas de Urgências Médicas, Traumatologia, Cirurgias de Urgência/
Emergências, Toxicologia, Neurologia e Atendimentos Pediátricos.
Os estágios no 6° ano do curso, nas quatro áreas básicas: Clínica
Médica, Cirurgia Geral, Pediatria e Obstetrícia, foram de grande
valia.
A residência em Cirurgia Geral completou o seu preparo para
iniciar o exercício profissional com mai confiança!
O instrumental e o material cirúrgico foram adquiridos pela
Prefeitura, sob sua orientação: bisturis, afastadores, válvulas, cautérios,
sondas, drenos tubulares e de Penrose, pinças diversas, porta
agulhas, agulhas de sutura, fios categutes, sertix, fios de algodão e de
seda, além de uma estufa para esterilização e uma incubadora para
recém- nascido.
Um técnico em RX já havia montado uma câmara escura para
revelação e fixação das radiografias, pois o Hospital já possuía um
aparelho de RX, inoperante há muito tempo.
Finalmente, chegou ao Hospital, sendo alegremente recebido
pela Enfermeira residente e suas duas auxiliares, alojando-se num
apartamento a ele destinado.
Logo após tomar um reforçado lanche e percorrer as instalações
hospitalares, o jovem médico dirigiu-se ao pequeno consultório, onde
começou o atendimento dos vários pacientes agendados.
De repente, a enfermeira bateu à porta do consultório, informando
que recebera um telefonema de urgência, comunicando que
ocorrera um grave acidente com um caminhão na descida da serra,
conduzindo oito trabalhadores rurais, todos feridos.
Todos foram deitados na rampa de acesso ao hospital e, com
uma maca, foram levados para dentro do hospital. Dr. Jansen passou
imediatamente a examiná-los.
Um deles apresentava ferimento profundo no couro cabeludo,
com profuso sangramento e fratura do crânio, com afundamento, e
agitação intensa, porém, consciente.
Após hemostasia, limpeza cuidadosa da ferida e descompressão
do fragmento ósseo com tentacânula, tudo com anestesia local com
xilocaína a 2%, enfaixamento da cabeça, soroterapia, Anatox tetânico e antibiótico, o paciente foi transferido para o Hospital Militar de
BH, para avaliação do Neurocirurgião, pois se tratava de um soldado
da PM.
Outro apresentava fratura fechada da fíbula da perna esquerda,
sem desvio, confirmada pelo RX, sendo imobilizada com gesso.
Outros apresentavam feridas diversas que foram devidamente
suturadas, após cuidados locais, antibióticos e prevenção antitetânica.
Finalmente, um paciente sofrera contusão abdominal, com dor
difusa e, após medicação sintomática, foi encaminhado para um centro
maior para observação e avaliação do Cirurgião Geral.
Foram muitas horas de intenso trabalho para Jansen e suas auxiliares,
com um resultado extraordinário, pois todos os casos foram
resolvidos ou devidamente encaminhados.
A notícia do acidente, naquela pequena cidade do interior,
sedenta de novidades, se espalhou rapidamente, como “rastilho de
pólvora” e as pessoas iam chegando em grande número querendo se
inteirar de tudo, observando, com grata surpresa, a atuação desembaraçada
e competente daquele jovem e estreante médico.
Sem dúvida alguma, aquele dia fora uma “estreia com uma verdadeira
prova de fogo”.
UM PARTO COMPLICADO COM SEQUELAS
A parturiente deu entrada no hospital com história de trabalho
de parto prolongado, há mais de 15 horas, proveniente da zona rural.
Tratava-se da segunda gestação, sendo a primeira com parto
normal. O exame obstétrico revelou sofrimento fetal, colo uterino
dilatado com 10 cm, apresentação cefálica de face e eliminação de
mecônio, confirmando aquele sofrimento.
A indicação de cesárea se impõe neste caso e foi tudo preparado
na sala cirúrgica. Jansen convidou o colega do SESP para auxiliá-lo,
fazendo ele mesmo a raquianestesia, devido à urgência do caso.
A eficiente enfermeira ficou no controle da parturiente: oxigenioterapia,
pressão arterial e infusão de soro glicofisiológico endovenoso.
Ao retirar o feto, constatou-se o seu óbito, apesar das manobras
para reanimação. Mas a intervenção transcorreu dentro do previsto.
Manteve-se sonda vesical de demora e o pós-operatório rotineiro,
com administração de estrógeno intramuscular para inibir a
lactação puerperal, além de apoio psicológico à parturiente.
Retirou-se a sonda vesical após 72 horas, mas outra complicação
surgiu: uma fístula vesico-vaginal, com eliminação de urina
pela vagina, obrigando o uso de novo cateterismo de demora (com
sonda de balão ou de Foley). A fístula não se fechou com o tratamento
conservador e, após um mês, Jansen encaminhou a paciente para
avaliação e tratamento cirúrgico por especialista num centro maior.
A cabeça fetal impactada, por tempo prolongado, pode levar à
isquemia (deficiência de circulação sanguínea) na vagina, reto e bexiga,
levando à temível fístula reto-vaginal ou vesico-vaginal.
UM IDOSO COM QUADRO DE PNEUMONIA
COMPLICADO COM ARRITMIA CARDÍACA E EDEMA
AGUDO DE PULMÃO
Um telefonema, à noite, da filha e do genro daquele senhor,
abastado fazendeiro da região, solicitando atendimento de urgência
ao mesmo na sua residência, relatando que ele fora encontrado caído
do seu cavalo, dormindo embriagado nas águas cristalinas do riacho a
caminho da sua fazenda.
Desde então, passou a apresentar febre alta e tosse, com chiado
no peito. O médico constatou, ao exame, que se tratava de um caso
grave de pneumonia, com bronco-espasmo e taquicardia em paciente
idoso.
Recomendou internamento imediato, dando início ao tratamento
com antibióticos de largo espectro parenteral, analgésico/ antitérmicos,
oxigênio por cateter nasal, broncodilatador venoso (aminofilina
diluída em soro glicosado 50%).
Os familiares, satisfeitos com a aparente melhora do paciente,
foram para casa, deixando-o aos cuidados do médico e da sua auxiliar
enfermeira.
Mas, em torno de uma hora da madrugada, Jansen notou que
o quadro se agravou, com dispneia intensa, cianose, taquicardia acentuada,
em torno de 160 bpm, roncos, sibilos e estertores crepitantes
bilaterais e confusão mental.
Diagnosticou, de imediato, edema agudo de pulmão, devido à
insuficiência cardáca esquerda, com arritmia (provavelmente a temível
fibrilação atrial aguda).
Injetou o cardiotônico denominado Cedilanide e Lasix (furosemida)
endovenoso, cabeceira elevado e garroteamento rotativo dos
três membros, comunicando imediatamente aos familiares que chegaram
ao hospital.
Repetiu a dose de Cedilanide e Lasix, mantendo oxigenioterapia,
havendo melhora do quadro de edema agudo, mas com persistência
da arritmia cardíaca.
Reuniu-se, então, com a filha e o genro do paciente, expondolhes
a gravidade da situação, relatando que aquele caso necessitava de
imediato de um ECG, para diagnóstico exato da arritmia cardíaca, recurso
não disponível no hospital e, ainda, da avaliação de um Cardiologista,
sendo impossível a sua remoção para um centro maior, pois
não se dispunha de ambulância com bala de oxigênio, acarrentando o
risco de morte durante a viagem de cerca de 50 km!
Ficou decidido que Jansen, através de um telefonema, chamaria
um conhecido colega Cardiologista da cidade vizinha, o que foi feito.
Assim, antes das seis da manhã, chegou o táxi com o competente
colega que, com a feitura do ECG, confirmou tratar-se de fibrilação
atrial aguda e edema agudo de pulmão, repetindo o diurético injetável
e o cardiotônico, permanecendo no hospital até a estabilização do
quadro.
Com todos satisfeitos, ficou combinado que o paciente iria até à
cidade vizinha após uma semana, para controle com o Cardiologista.
A revisão do paciente mostrou icterícia (conjuntiva ocular amarelada),
sendo realizados os exames para elucidação daquela complicação,
sendo aventada a hipótese de embolia pulmonar, que foi afastada.
Concluiu-se que a icterícia moderada fora devido ao uso de
rifocina injetável por via muscular (150mg de 12/12 horas), durante
08 dias.
UM CASO DE PNEUMONIA ATENDIDO NA ESTRADA
Estava o médico dirigindo o seu Fusca na estrada poeirenta,
num fim de semana de folga, quando parou para atender o sinal de alguém
que, aflitivamente, pediu para Jansen atender seu irmão doente,
numa choupana próxima.
Prontificou-se, imediatamente, a fazê-lo e, na anamnese, o paciente
queixava-se de febre alta com calafrios, tosse com hemoptoicos
(expectoração com sangue) e dor tipo pontada na face anterior do
hemitórax esquerdo que piorava com a inspiração.
Ao exame de tórax, constatou a presença de estertores crepitantes
na base, selando, assim, o diagnóstico de pneumonia.
Prescreveu penicilina (despacilina) intramuscular 400.000UI
de 12/12 horas, dipirona oral, repouso e controle na cidade após 05
dias (ou antes, se necessário) e continuou a sua viagem para merecido
descanso.
O paciente evoluiu bem, comparecendo ao hospital para controle
clínico e radiológico, continuando com o antibiótico durante
10 dias. O que surpreendeu Jansen foi o presente de agradecimento
daquele paciente: levou para o médico um frango caprichosamente
assado, acompanhado de uma deliciosa farofa! São as recompensas
simples que nos tocam o coração e a alma!
UM CASO DE ORQUIEPIDIDIMITE AGUDA NO IDOSO
O rico fazendeiro telefonou para o médico, solicitando o seu
atendimento, à noite, em sua casa na cidade.
Para lá se dirigiu, com sua maleta e seus instrumentos, sendo
recebido por sua esposa e conduzido ao quarto do casal, onde se encontrava
deitado e desanimado.
Relatou dor intensa na região escrotal direita, de aparecimento
súbito, com febre e inchação acentuada local (edema) e, ao exame,
hiperemia (vermelhidão) e sensibilidade intensa à palpação.
Não havia história de traumatismo e, ao toque retal, a próstata
estava aumentada de volume, com consistência macia.
O diagnóstico veio incontinente: orquiepididimite aguda, de
tratamento clínico (repouso absoluto, analgésico/ antitérmico, antiinflamatório
e antibiótico de largo espectro).
Após regressão do quadro, o paciente foi encaminhado para o
Urologista na cidade próxima.
UMA PERÍCIA NA ZONA RURAL PARA
CONSTATAÇÃO DE “CAUSA MORTIS”
Um conhecido fazendeiro da região, acompanhado de seu amigo
advogado, chegou ao hospital juntamente com o delegado municipal
e dois policiais do destacamento local, solicitando ao Dr. Jansen
para acompanhá-los numa perícia na zona rural.
Diga-se, de passagem, que a função de delegado, nomeado pelo
Prefeito, era, jocosamente apelidado de delegado “Calça Curta”, por
não ser Bacharel em Direito, mas exercia muito bem o seu papel.
Tratava-se da morte de um empregado da fazenda, encontrado
deitado no seu catre, distante da sede.
Chegando de carro na sede, os animais já estavam preparados
para o deslocamento até o singelo rancho de pau a pique, onde morava
o falecido.
O jovem médico observou, com atenção redobrada, o ambiente
onde se encontrava: casa de enchimento de barro, com numerosas
frestas, propícias para esconderijo dos famosos “barbeiros”, transmissores
da Doença de Chagas, muito comum na região.
O homem encontrava-se em decúbito dorsal, com a perna direita fletida no joelho, com o pé apoiado no colchão e a outra estendida
no catre, cor arroxeada e rigidez cadavérica, indicando que a morte
ocorrera há várias horas.
No pequeno fogão de lenha, encontrava-se um prato, com restos
do almoço: feijoada e arroz.
Não havia, no exame geral do cadáver, sinais de traumatismos,
afastando-se a causa de morte violenta.
O laudo pericial foi preenchido com a conclusão de morte natural,
devido à miocardiopatia chagásica.
COMPLICAÇÃO GRAVE DA ARTERIOSCLEROSE:
TROMBOSE ARTERIAL DE MEMBRO INFERIOR
Aquele paciente idoso que apresentara quadro de pneumonia
com arritmia cardíaca e edema agudo de pulmão cerca de dois anos
atrás, procurou novamente socorro médico. Desta feita, com queixa
de dor intensa de aparecimento súbito na perna esquerda.
Ao exame, constatou-se perna e pé esquerdos frios, cor ligeiramente
escura e ausência de pulso palpável da artéria poplítea e pediosa
(atrás do joelho e dorso do pé).
Paciente tabagista, portador de hipertensão arterial com cardiopatia,
bronquite crônica e idade próxima aos 80 anos.
Jansen aplicou medicação sintomática e diagnosticou trombose
arterial aguda, com isquemia do membro inferior esquerdo, caso muito
grave, iniciando heparina sódica intravenosa.
Explicou apara os familiares a gravidade do caso, inclusive com
risco de amputação do membro inferior esquerdo e sugeriu a transferência
imediata do paciente para BH, encaminhando-o para um seu
colega de turma, Cirurgião Cardiovascular da Santa Casa, o que foi
feito.
O colega tentou um tratamento conservador, mas o caso evolui
para gangrena da perna e do pé esquerdos, com amputação ao nível
da coxa.
Após a alta hospitalar, o paciente retornou com o relatório
completo do caso, com os curativos e a retirada dos pontos sob os
cuidados de Jansen.
Tudo corria normalmente, quando houve um novo chamado.
O paciente teve uma queimadura de segundo grau ao nível do coto da
coxa esquerda, provocada por toco de cigarro aceso, pois ele dormira
fumando!
Que vício terrível é o tabagismo!
Com os curativos e antibióticos, a ferida cicatrizou-se...
Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Cadeira N. 46
Patrono: Herbert de Souza
MARIA CLARA
Como lembrança, eu não vou me ater em datas e cronologias,
pois nem sempre retratam a pessoa com merecida precisão
ou corroboram a solidez histórica, religiosa ou intelectual da
homenageada. Muito menos, tenho a presunção de descrever acontecimentos
que outros julguem essenciais na vida de Maria Clara, porque
em sua trajetória há muitos outros fatos memoráveis. Falo aqui
de Maria Clara sob minha simples perspectiva. O texto, nem de longe
justifica e engrandece a vida da protagonista, que merece ser registrada
com biografia. Maria Clara, Clara de João, Clara ou simplesmente“Maria, é um dom”, como diz Milton Nascimento.
MARIA CLARA
Maria Clara... Clara criança. Estrela de luz nasce em Belo Horizonte
na década de 1940. Cidade com banda de música no coreto
da Praça da Liberdade. Direito ao “footing” e de famílias interioranas
que se mudaram para a capital. Sant’Ana dos Ferros. De lá, a origem familiar, como esclarece Clara. Maria Clara beleza, leveza, intelectualidade.
A leitura e a escrita já faziam parte do cotidiano da jovem e
assim, delineia-se o caminho de Clara rumou aos estudos das línguas.
Maria Clara... Clara adolescente e mulher. O sucesso leva-a às
letras neolatinas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Depois
de formada, deixa a terra amada e vem para Bocaiuva sertanear o
norte-mineiro, o vale do Jequitinhonha e o cerrado. Torna-se professora
competente na escola Gastão Valle e à luz do ensinar-aprender,
espalha conhecimentos, instrução e carinho. Leitura, escrita, síntese,
léxico e sintaxe. Anos de dedicação na Escola Estadual e no Seminário
Maior, em Montes Claros.
Maria Clara... Esposa e mãe. Aqui, encontra-se João. João de
Jesus Vieira. Maria & João. João & Maria À luz dos nomes, corações e
emoções resultam-se em namoro. O enamorar solidifica-se e se transforma
em amor. Sacramento: matrimônio. Consolidação de relações
com Maria Clara Lage Vieira. Nascem em berço afetivo as três lindas
Marias: Maria Inês, Cláudia Maria e Maria Letícia. Claudinha: encontro
com a luz do Senhor no Céu.
Maria Clara... Clara avó. A vida segue. Faz, refaz e luzes se espalham,
milagres, bênçãos: três netos e assim o amor se desdobra e multiplica-
se. Lucas e Maria Clara de Maria Letícia e Welligton Geraldo.
Francisco de Maria Inês e Eder Costa. Clara acompanha, ama Maria
Clara, Lucas e Francisco. Vive, revive, ensina, aprende, e recomeça.
Amor incondicional, porém, também, aprende o que é saudade.
Maria Clara... Clara escritora, artista. Imortaliza “Wan-Dick,
Pintor da Simpatia”, Eterniza o eterno prefeito e remonta à família,
política, conquistas. À tona o lugar. Jequitaí, Conceição do Barreiro
e Francisco Dumont. O livro retrata o homem simples, amado, que
foi prefeito por três vezes. Junto à pesquisa apurada, Clara é emoção e
discernimento, destaca o trabalho moral e espiritual de Wan-Dick e a
grande facilidade do homem bom em servir e perdoar.
O segundo livro, “Bocaiuva do Senhor do Bonfim” é um apanhado
das anotações manuscritas do segundo Livro do Tombo, como
afirma a homenageada. Salienta a contribuição do padre Maia e Geraldo
Majela. Do latim, Tombo significa registro de Coisas ou fatos
de uma região em determinada época. Imbuída em Deus, a escritora
convergiu o pensamento para o registro da profundeza histórica do
povoado do Bonfim, abrigado sob a luz da fé. Maria Clara é percepção,é encantamento e faz registros cronológicos impecáveis sobre a
história da igreja católica de Bocaiuva, visibilizando a partir do livro
do Tombo, até 2006, ano da publicação de sua obra.
Clara é fundadora, junto a outros autores, do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros onde publica na sua Revista,
textos incríveis sobre homens e as mulheres bocaiuvenses, de nascença
ou não. Conta a história de Geraldo Vieira, do seu trabalho e no seu
amor pela família, pai de quatorze filhos, marido amoroso – a imagem
de Abraão.
No Volume II da revista do IHGMC, Maria Clara fala de Bocaiuva,
cidade do coração e homenageia Senhor do Bonfim na sua
festa com romeiros e visitantes. Fala da evolução urbana da cidade,
saberes, sabores, gostos, cores e das tradições. Maria Clara fala da vovó
Letícia Câmara em outro volume da mesma Revista. Letícia pedagoga,
professora de Língua Francesa e matérias pedagógicas do Curso
de Magistério. Dedicação e simplicidade. Foi casada com saudoso
Romeu Barcelos Costa, benemérito e historiador da nossa comunidade.
Descreve sobre José Augusto Freire, Zé Tinozinho, pai da amiga
Rosarinha E mais seis irmãos. Lembrado pelo trabalho, lealdade e
justiça. Nomeado para suprir a falta do magistrado a Juiz de direito
do município.
Maria Clara recorda Geralda Drummond Menezes - dona Benzinha,
guerreira, caridosa, incentivadora do Asilo São Vicente de Paula
e construtora da memória da cidade. Casada com Dema, formavam
um casal exemplar. Descreve acerca de Otília Caldeira Brant - dona Nenzinha, mulher extraordinária, prendada. Casou-se com Gilberto
Caldeira Brant, seu Nem e tiveram onze filhos, criados com carinho,
energia e muito amor. Clara relembra dona Modesta, grande mulher,
trabalhadora, casada com Antônio Alves, pais de Luci e outros quatro
filhos. Deixou como legado a solidariedade e simpatia.
Maria Clara e João de Jesus Vieira
Maria Clara e netos
A menina Maria Clara
Maria das Dores Maia Caldeira – Maria Maia é lembrada pelo
esmero, religiosidade, fé e família abençoada. Entre dezesseis irmãos,
o muito querido padre Maia e Dirlene a primeira enfermeira na cidade
serviu a todos, imbuída do espírito de humildade, responsabilidade
e amor ao próximo. Maria Clara relembra Juraci Caldeira Brant
Alves. Professora de Educação Artística, católica, casada com Genes
Alves. Mãe de sete filhos mostrou-se sempre corajosa e dedicada à
família. Atuou em várias pastorais da igreja e ajudou, em especial, à
carcerária. Maria Clara... Clara amiga. Lê e reler os textos religiosos,
musicais, filosóficos, poéticos, paródicos para mestrandos, doutorandos,
alunos, professores, comunidade. Escreve partes de missas, novenas,
homenageia ao Senhor do Bonfim, São Francisco. Lê, interpreta,
resume e divulga: A partilha dos pães, A Arca de Noé, a vida de Santo
Agostinho e de muitos outros. Participa das pastorais da igreja, da
Casa da Amizade e conta e reconta os dízimos da igreja. Empresta e
doa livros.
Maria Clara... Clara coordenadora Fundou em 1998 o Grupo
de Oração Nossa Senhora da Amizade. Clara se compromete pela
assiduidade, pontualidade, evangelização. Faz em silêncio a chamada.
Inicia as orações às dezoito horas. Premia as companheiras assíduas,
cobra ausências, empresta, oferece de presentes livros, cartilhas, textos
e encíclicas. Canta e encanta aos finais das orações, com fé e perseverança,
com carinho e amor. Não mais em oito linhas, mas em apenas
três palavras: Obrigada e Feliz Aniversário!
Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
CELEBRANDO O DOM DA VIDA
70 ANOS DE ZELINHA
ZELINHA, assim é chamada carinhosamente, pelos irmãos,
pelo marido, por toda a família. Nascida em 10 de Agosto de
1949, é a sexta filha da numerosa prole de Dário Dias Silveira
e Edite Gonçalves Oliveira. Foi batizada com o nome Zélia em homenagemà freira que ajudara no parto do seu nascimento- a Irmã
Zélia do Hospital Santa Casa de Montes Claros, prima da parturiente
e verdadeira santa, seguidora dos passos de Irmã Beata. Não temos
dúvida de que Zélia herdou da sua homônima freira, sua qualidade
maior: a bondade.
Menina dócil e sossegada Zélia do Patrocínio Oliveira, com
cabelos claros, quase loura e a pele mais alva da família, na infância
dividia o seu tempo entre as obrigações do serviço de casa com as irmãs,
participava das brincadeiras da vizinhança e estudava, fazendo o
curso primário no Grupo Escolar Dom Aristides Porto onde sua mãe
era auxiliar-diretora. A seguir cursou o Ginásio e o Curso Magistério
no Colégio Oficial Professor Plínio Ribeiro, escola pública, mais
conhecida como Escola Normal. Destacando-se como aluna exemplar, sempre com boas notas e boa participação, formou-se no 2º grau
em 1967, quando começou a trabalhar como professora primária
na mesma escola onde iniciara seus estudos: o Grupo Escolar Dom
Aristides Porto.
Zélia do Patrocínio Oliveira
Em busca de mais saber, preparou-se para o vestibular e ingressou
no Curso de Pedagogia na antiga Fundação Universitária Norte
Mineira, (hoje Unimontes) tornando-se presidente do Centro de
Estudos Pedagógicos, órgão de classe que congregava estudantes de
Pedagogia da mesma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Na
mesma Faculdade veio a ser monitora da cadeira de Sociologia Educacional
do mesmo curso, Pedagogia. Prenunciava-se aí a grande profissional
que viria a ser. Concluindo sua primeira graduação em 1971,
com a inesperada morte do pai e a gradual mudança da família para
Brasília, onde outros irmãos já residiam para estudos, transferiu-se
para lá também, onde o futuro prometia, oferecendo-lhe oportunidade
de mais aprofundamento e diversificação nos estudos, assim como
possibilidades profissionais.
Chegando lá, paralelo aos seus estudos e trabalho, teve que se
tornar uma “mãezona” dos irmãos mais novos, orientando-os nos
acertos e desacertos da nova vida distante do habitat original, enquanto
sua mãe Ditinha se resolvia a imigrar também.
Para iniciar sua trajetória de estudiosa bem sucedida na Nova
Cap, fez o Curso de Especialização em Orientação Educacional na
Universidade Federal de Brasília (1972/73). Naquela época, início da
década de 70, através do INCRA (Instituto Nacional de Colonização
Agrária), o Brasil desenvolvia importante projeto de ocupação
e implantação de comunidades rurais produtivas no centro/oeste do
país, ainda muito desabitado, e Zélia ofereceu presença atuante em
muitos desses projetos. Foi Técnica em Educação no INCRA de dezembro/
1971 a dezembro/81, capacitando professores dos Projetos
Integrados de Colonização em âmbito nacional e organizando produtores
assentados em cooperativas para viabilizar a comercialização da produção agrícola (Brasília e Sergipe). Para se habilitar adequadamente,
fez cursos de Aperfeiçoamento específicos na área. Dentre vários,
escolho citar:
- Curso de Administração por Objetivos e Engenharia de Sistemas
(INCRA/ENCC/Brasília-1974);
- Curso Básico de Cooperativismo - INCRA/Brasília/1974;
-Curso para Desenvolvimento de Cooperativas Agrícolas /INCRA/
PARTNESS OF THE AMÈRICAS/Brasília/77;
-Treinamento em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo CIEE-
SP/Brasília/78;
- Curso de Administração de Projetos de Colonização - SUPLAN/
Fundação Getúlio Vargas/Brasília/78;
-Treinamento de Docentes e Técnicos em Desenvolvimento de Comunidades/
UNB;
- Aperfeiçoamento em Elaboração e Avaliação de Projetos para Empresas
Cooperativas, este realizado pelo INCRA na Universidade Federal
de Viçosa;
- Curso para Gerentes de Cooperativas pelo INCRA/CEAG de Sergipe,
em Aracaju/1981.
No meio de toda esta movimentação ainda acrescentou ao seu
extenso currículo mais uma graduação, desta vez em Economia, pela
Universidade do Distrito Federal, anos 78/79, completando o curso
nas Faculdades de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis
Tiradentes, na cidade de Aracaju/Sergipe em 79 e 80, para onde se
transferiu devido ao seu casamento com o sergipano Dr. Dalmo Brito
Seixas, pessoa da mais elevada qualidade, engenheiro agrônomo formado
pela Escola Agronômica da Universidade Federal da Bahia, por
muitos anos Diretor da CODEVASF (Companhia do Vale do São
Francisco)- 4ª Superintendência Regional.
Como Técnica em Educação do INCRA, foi largo o seu exercício
em Coordenadoria Regional de suas áreas, na coordenação de
Seminários, Encontros, Estágios e Intercâmbios. Para comprovar o
dito, cito alguns trabalhos realizados com a sua participação, através
deste órgão:
Levantamento de necessidade em áreas de atuação do INCRA
nos projetos de colonização Goiás/Mato Grosso/Rodônia/Acre para
implantação de programas de desenvolvimento rural/72/73.
Participação, Implantação e Dinamização da Rede Escolar do
Projeto Integrado de Colonização Iguatemi (Mato Grosso/73).
Trabalhou na Elaboração e Metodologia de Implantação e Desenvolvimento
dos Centros Cooperativos de Treinamento Agrícola
-CCTAs (Brasília/73).
Foi coordenadora e instrutora de Curso de Atualização Pedagógica
e Preparação de Mão de obra Rural e Técnica em educação - MA/
INCRA - Departamento de Desenvolvimento Rural (73/75).
Como economista, trabalhou na CODEVASF de dezembro/81
a junho/2008, na área de produção das áreas irrigadas do Baixo São
Francisco; na área de planejamento (acompanhamento, avaliação e
orçamento), foi Chefe do Grupo de Desenvolvimento Rural da 4 SR
(1995 a 1996).
Foi Chefe da Divisão de Produção da 4ª SR (1996 a 2002).
Também Chefe do Serviço de Projetos Especiais da 4 SR (2002
a 2003).
Foi Assistente do Superintendente da 4ª Superintendência Regional
e Chefe -Substituta de Gabinete da mesma (2003 a 2008).
Em 25/07/1985 foi cedida ao Governo do Estado de Sergipe
para prestar serviços na Secretaria de Estado da Agricultura, onde permaneceu
por quatro anos. Participou da implantação da Fundação de Assuntos Fundiários do Estado de Sergipe, onde exerceu o cargo de
Chefe da Assessoria de Planejamento, no período de 1987 a 1989.
Escreveu e publicou o: Manual do Rizipiscicultor - 1985 (CODEVASF).
Aposentou-se em 01 de julho de 2008, com 40 anos, sete meses
e cinco dias de trabalho, deixando um “rastro” de ética e luz por
onde exerceu seu labor.
A trajetória de vida e percurso profissional de Zelinha é mais
uma história de vida que enche de orgulho a família muito unida
de Dário e Ditinha, que dedicaram um zelo imenso na formação do
caráter de seus descendentes.
Ao se casar com o Dr. Dalmo Brito Seixas e mudar para Sergipe,
Zélia ofereceu tudo que sabia, a serviço daquele Estado. Ofereceuà nós irmãos mineiros de Montes Claros, as delicias da hospedagem a
beira-mar. Do grande amor do casal, Zélia e Dalmo nasceram 2 lindos
filhos, nossos amados sobrinhos Márcio, formado em Engenharia
Elétrica pela USP e Frederico, formado em Propaganda e Marketing
pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing/São Paulo).
Ambos hoje residentes em São Paulo capital. À eles se juntaram
os dois filhos do primeiro casamento de Dalmo, o Breno e a Kika
(Monique), também nossos sobrinhos amados, ambos formados em
Administração de Empresas em faculdades de Sergipe.
Pois bem, feita esta rápida apresentação de Zélia, apresso-me a
explicar a razão deste artigo, que é a narrativa da celebração dos seus
70 anos de vida no dia 10 de Agosto passado (10/08/2019). Uma
festa sem igual, verdadeira confraternização de toda a família, que se
deslocou de todas as regiões deste imenso Brasil, para estar em Aracaju,
reunida em louvor à vida desta tão amada pessoa. Já se tornou uma
tradição desta família montes-clarense, os irmãos Patrocínio Silveira,
a comemoração dos 70 anos de vida de cada um dos seus membros,
com uma grande festa de confraternização de toda a família. E, como sempre, também desta vez, vivemos momentos de amor e alegria incomparáveis.
A aniversariante apareceu com um vestido vermelho belíssimo,
digno de filme hollywoodiano, arrancando exclamações de admiração
dos presentes.
Na casa de festa, ricamente decorada com profusão de flores,
fora montado no centro do palco, um altar religioso onde foi oficiada
a missa em ação de graças pelo pároco da igreja católica, que Zélia
frequenta e da qual é coordenadora do dízimo e participante do coral
religioso. Presentes ao evento os participantes do coral que embelezaram
a liturgia com seu canto harmonioso. A seguir rolou farto o
vinho branco e tinto, o uísque, a cerveja, os refrigerantes; tudo da melhor
qualidade. Salgados finos e fartos foram servidos, um verdadeiro
banquete e a animação foi geral, todos os parentes vindos de lugares
distantes, alí se encontrando, se abraçando. Uma verdadeira manifestação
daquele amor fraternal tão bem plantado nos corações dos
filhos de Dário e Ditinha. Quando a animação já se encontrava em
completa ebulição, foi dado um sinal para o início das homenagensà aniversariante, as quais transcrevo abaixo e estas começaram pelas
falas dos filhos. Primeiro falou o primogênito Márcio Oliveira Seixas:
“Para mamãe,
A PUREZA
Que mulher forte, de princípios, de carinho e amor, e que sempre
a vida nos alegrou.
Gosto de dizer que Dona Zélia é um dos seres humanos mais
puros, únicos, que encontrei na vida. E tenho grande sorte deste encontro
ter sido como minha mãe.
Desconfio que nunca tenha existido maldade ou outros sentimentos
ruins em seu coração. Ele me diz o contrário, mas me faltam provas que confirmem isto. Só vejo luz, serenidade e afeto em tudo o
que faz.
Seus valores, seu carinho e sua dedicação nos moldaram na vida
e em nós deixa o seu legado. Mas não só em nós, e sim em todos que
têm a benção de ter compartilhado algum momento na vida: na família,
no trabalho, na igreja, nas amizades....
Hoje é um dia de festa muito especial: merecido. Dia de celebrar
seus 70 anos com a certeza de que até aqui foram bem vividos
e que vem muito mais pela frente. De maneira mais leve, menos responsável
e mais plena, no auge da sua sabedoria e serenidade.”
“As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”
Carlos Drummond de Andrade
Emocionada, Zelinha recebe abraços e beijos do filho.
Imediatamente se adianta o outro filho, o Frederico Oliveira
Seixas, que discorre de maneira muito apaixonada sobre as qualidades
da mãe e seu amor por ela. Todos ficaram comovidos.
“Para minha mainha.
AMOR
Existem diversas formas de expressar nosso amor. Às vezes a
melhor maneira é o silencio, mas em outras a gente sente uma necessidade
enorme de gritar para o mundo todo e mostrar o tamanho do
nosso amor. Hoje sinto essa necessidade! E vou fazer de uma forma
que eu acho que melhor mostra quem é a minha mãe. Através do
aprendizado que tive com ela!
Me perdoe toda família, mas vou direcionar meu olhar e minhas
palavras diretamente a ela, tá bom?
Com ela aprendi a andar, a falar, a me acalmar, a andar de bicicleta!!
Mesmo que andar de bicicleta não seja a especialidade dela (mas
você lembra mamãe daquele momento lá na fazenda de Tatau...).
Com ela aprendi matemática, História, Geografia, Ciências,
Português! Aliás neste último sempre demonstrou a importância de
sabermos nos expressar, comunicar de ser e nos fazer ser entendidos.
Com ela aprendi a ter perseverança. A não desistir diante qualquer
dificuldade, a se manter firme, confiante, mesmo quando você
parece incapaz de resolver.
Com ela aprendi a ter paciência. A respirar, pensar e não deixar
as emoções tomarem conta da razão. Mas que a emoção também faz
parte da construção da paciência e que temos que saber balancear os
sentimentos.
Com ela aprendi que as vezes, mais importante do que falaré ouvir. Absorver tudo aquilo que ouvimos e transformar isso junto
com nossas experiências no nosso ponto de vista.
Com ela aprendi a mediar. Diante dos conflitos, saber ouvir as
partes e trazer ambos para o ponto em comum. Quantas vezes ela não
fez isso no nosso dia a dia...
Com ela aprendi que a honestidade é um valor inegociável. E
deve ser mantido como base do nosso ser.
Com ela aprendi que na vida de um ser humano é importante
construir valores. Eles que vão definir quem você é e quem, os seus
serão.
Com ela aprendi o que é lealdade. Ser leal a sua família, ao próximo,
aos seus valores, a sua crença.
Com ela aprendi a ter juízo. Afinal, acho que ninguém mais
nessa vida ouviu tantas vezes a célebre frase: Juízo meu filho!! E até
hoje beirando os 40, onde quer que vá, ainda escuto: Juízo!! E eu ficava
irritado, brigava com ela, falava que ela não confiava...
Como fui ingênuo... Foi exatamente isso que me fez ter juízo...
Qualquer atitude ou qualquer ação, eu sempre pensava nela!!
Com ela aprendi a amar o próximo. Que somos todos iguais
e que nossa missão passa sim em cuidar uns aos outros. E não falo
somente de família. Mas de maneira geral! Como um verdadeiro conceito
de vida.
Com ela aprendi que uma das maiores demonstrações de amoré a renúncia. E como ela renuncia... Renunciou ao convívio de seus filhos para que eles pudessem seguir e construir suas próprias vidas.
Renuncia às infinitas vontades do Dr. Dalmo... Renuncia, renuncia,
renuncia...
Com ela aprendi o que é amor. Na sua mais pura essência... A
querer dar, sem pedir nada em troca. A se doar ao máximo, sem medir
esforços, só pela felicidade de amar.
Com ela aprendi que podemos ser seres humanos melhores. A
cada dia... Que existem pessoas puras, transparentes que transbordam
amor... Aliás, ela para mim é o maior exemplo disso...
Com ela aprendi que minha missão de pai vai muito além do
que apenas trazer para o mundo. Vai na construção do amor e dos
valores do 1º dia até todo sempre...
Com ela aprendi o que é ser mãe... E que exemplo de mãe...
Mainha, aprendi, aprendo e sempre vou aprender com você.
Amor em matéria, pessoa mais pura e doce que conheço. Amo cada
pedaço de você. E agradeço a Deus por ter me colocado no mundo
como seu filho!
Te amo!”
Ao terminar o seu discurso, Frederico se emocionou com o entusiasmo
dos aplausos. A seguir, eu, representando as irmãs, li o poema
brincalhão que tinha composto para a ocasião e que continha um
pouco da nossa história:
“PARA ZÉLIA, MINHA IRMÃ/AMIGA
FRAGMENTOS – Felicidade Patrocínio
Nos bons tempos de criança
Sempre juntas, lá estávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu.
A unir-nos; o Amor, o sangue, os segredos,
e a inocência das gargalhadas fáceis.
As brincadeiras de quintal,
As rodas cantadas nas portas de rua,
O sequestro dos doces bem guardados,
O exercício da tabuada.
Sempre juntas, lá estávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu.
Os casos de assombração,
Arrepiando a pele e fechando os olhos,
Criando medo de escuro e do desconhecido.
Roupa nova, vestidos de ver Deus,
Para as missas domingueiras.
A cruzada infantil e o Padre Dudu
O semanal catecismo da Matriz .
Aladas e brilhantes como anjos
Subíamos no altar de Deus
E lá todos os santos coroávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu
As viagens no trem do sertão,
Tarefas divididas em discussão,
Receber em hospedagem parentes e amigos.
O Grupo Escolar Francisco Sá.
Seu Dário chegando das viagens,
Com gostosuras no caminhão
E um coração de amor, saudade e afeto.
Animação e alegria, quem dá mais?
Nos leilões vicentinos de caridade
De olho nas prendas e bolos,
Zélia, Graça, Márcia e eu
Mês de junho: canjica, quentão
Chapéu na cabeça, vestido de chita,
Laços, babados rodando no espaço
Danças, quadrilhas, quintal ou salão,
Pipoca, estrelinhas, traques, foguetes,
Pulando fogueira, soltando balão.
Mais adiante na idade,
Flertando os amigos atrás dos irmãos
Lá estávamos nós,
Zélia, Graça, Márcia e eu.
Aos manos meninos, do mais velho ao menor,
Sete jovens saudáveis, bonitos e fortes
Eram poupados serviços domésticos
Tarefas essas, restritas à mulher
Herança ancestral e cultura de época,
Que tomamos a providência de modificar.
Protestos surgiram, no entanto sumiram
E eles passaram a ajudar.
É Verdade o que digo, podemos provar
Zélia, Graça, Márcia e eu.
Tuca do Cassimiro, Carlinhos do Ateneu
E nós torcedores sem arquibancadas,
Mudávamos de time, pra lá e pra cá
O que dependia do agrado distribuído.
Lô, trabalhando desde menino,
Mãos abertas para a mãe ajudar,
Zé, no quintal, celebrando missas,
Desbravando livros e idiomas,
Arrebatando em concursos de oratória.
E a seguir, Tião, com leveza
Foge do seminário : Paz e Amor, Bicho!
Doca e Beto muito unidos, raspas do tacho familiar,
Grudam na saia da mãe e como demoram a soltar...
Vendo e vivendo tudo isto, lá estávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu
Janelas e portas abertas,
Vizinhos, parentes ou não,
Todos entravam, muitos ficavam.
E o milagre dos peixes e pães
Era prática rotineira da mãe
Que em casa e na escola educava,
No coro da igreja cantava.
Nas vocações sacerdotais atuava
E ainda aos velhos do asilo assistia,
Trabalhando dia e noite, noite e dia
O vigor e a alegria, nunca perdeu,
Podemos isso provar,
Zélia, Graça, Márcia e eu.
Um dia veio um vento muito forte.
Varreu telhas, varreu chão...
Levou Seu Dário, levou Tuca
E espalhou a família multidão.
Era hora dos destinos, cada um buscar o seu,
Pois a vida é caminho que se faz no mundo e no tempo.
E todos se foram pelas estradas do Ser
Cada qual carregando em si, os outros,
No mais fundo do coração,
Pois, como disse o poeta:
“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.”
E, então, cada um tomou seu rumo.
Estradas se abriram em toda a direção
Crescei e multiplicai;- já dizia o bíblico refrão
Uns obedeceram, outros não.
Mesmo assim, aqueles onze, hoje são muitos.
Quando se juntam, é multidão.
E, mesmo afastados pela geografia,
Não nos perdemos de nós mesmos.
Se um diz: ai, ui... todos respondem e correspondem
Se é dor, choramos juntos,
se é alegria, nos alegramos.
Como na última perda, a partida do mano LÔ.
Verdade essa que podem confirmar
Carlinhos, Zé, Tião, Donério, Beto, Zélia, Graça, Márcia e eu.
Por isto querida Zélia,
Ser de bondade, ternura e altruísmo,
Célula vital e consistente
de tão robusta teia familiar...
Aqui viemos para celebrar seus 70 anos de vida,
Para abraçar, beijar e amar a você e à sua família
Nesta data querida.
A você, muitas felicidades e muitos anos de vida.
Após oferecer meu afeto através deste singelo poema, o nosso
irmão José do Patrocínio pediu a palavra, para , também saudar a
aniversariante.
“De Zezinho para Zelinha: 70
Perscrutando o meu baú de recordações (adoro papel), achei
um precioso bilhete. Aspas. “Maio/1967. Zezinho, você é mesmo
uma brasa, mora” ou melhor, um carvão incandescente, reside? Está
impecável, como tudo mais em sua vida. Bola branca. Zélia”.
Naquele então, estava com vinte e um anos. Zélia, com dezessete.
Interpretei o bilhete como uma declaração de que eu era bonito
e de que, como diria Roberto Carlos, nosso ídolo juvenil, mil garotas
poderiam estar de olho em mim.
Acontece que eu era inibido. Deixara o Seminário há pouco.
Tinha espinhas no rosto e sabia que não era tão bonito como meus
três irmãos mais velhos: Tuca, Carlinhos e Lourival. Mas Zelinha confiava
em mim e, como um cupido munido de flechas, me apresentava,
com orgulho, a suas amigas e colegas. Zelinha foi a principal
responsável pela minha iniciação amorosa e pela auto-confiança que
fui adquirindo.
Zelinha, se fosse enumerar, uma a uma, suas qualidades, teria
que despender todo o tempo desta festa, pois elas superam os seus
setenta anos de vida. Gostaria, contudo, de destacar uma qualidade
que, na sua pessoa, atinge um patamar insuperável: o ser cuidadosa,
o ser cuidadora, o cuidar, o cuidado com os outros. Graça me relembrou,
com assombro, o cuidado extremo que você, jovem professora,
dedicou ao menor Ariosto, surdo e mudo, transformando a vida daquele
menino.
A casa de Dona Ditinha e Seu Dário, em Montes Claros, tinha
gente pelo ladrão: doze filhos, avós, primos residentes, parentes e amigos
em hospedagem frequente. Era um entra e sai. Os homens eram
maioria, e dado o machismo da época, pouco ou nada contribuíam
para o intenso labor doméstico, embora contribuíssem muito para
aumentar o trabalho. Zélia segurava o rojão com a Dade, mas esta deixou
precocemente nosso lar ao se casar com o Carlos Leite. Graça era ainda muito nova, mas logo entrou na dança. Durante muitos anos,
Zelinha atuou como uma segunda mãe da nossa numerosa família, especialmente
quando mamãe ficou viúva e, mais tarde, teve um AVC.
Que o digam Tião, Graça Donério, Roberto e Márcia, irmãos mais
novos. Zelinha era toda ouvidos e olhos para eles. Como pedagoga,
desenvolveu uma técnica para apartar brigas de Donério e Roberto.
Toda essa azáfama não a impediu de trabalhar fora e, ao mesmo
tempo, fazer o curso noturno de Economia.
Essa qualidade de cuidadora cuidadosa se intensificou ao longo
dos anos. Quão felizes e privilegiados são o Dalmo, os filhos, os netos,
os enteados, as noras e o genro da Zelinha, em tê-la como esposa,
mãe, avó, madrasta e sogra.
Ergamos, pois, um brinde de gratidão à aniversariante Zelinha.
Viva a cuidadora cuidadosa de todos nós.”
Mais abraços e beijos entre os irmãos. E ainda foi feita a leitura
de uma linda poesia composta e enviada para a aniversariante, pelo
nosso irmão Roberto, o único que não pôde comparecer por motivo
de força maior:
“Para Zélia
ZELINHA CHEIA DE LUZ E GRAÇA
Por Roberto Patrocínio
Zelinha aniversariante cheia de luz e graça,
plena de glória, transbordante de felicidade,
quem lugar cativo no céu já tem garantido, só
faltando ser decidido de qual lado de Deus Pai;
Zelinha mais nova setentona, irmã terníssima,
quem em nossa casa, por um dom muito seu,
pacificava os espíritos e reinstaurava a razão,
pondo fim aos conflitos e às incompreensões;
Zelinha, que por um sem-número de motivos
morará sempre nos nossos gratificados e mui
gratos corações, no cantinho deles onde amor,
amor, amor, junto com carinho, é só o que há;
Zelinha, enfim, nesta data querida, em que seus
fãs apaixonados loucos estamos para abraçá-la
e adorá-la e cobri-la de beijos e afagos, permita
que por um instante sua lindeza ímpar eu cante.
Doce menina que ao nascer podia ter-se chamado
Benigna, pois, convicta da fé que Dário e Ditinha
nela tinham, obrou Nossa Senhora do Patrocínio
para que uma filha lhes nascesse benigníssima!
Outro seu nome, mana querida, conforme bem sei,
é Maestria! Eficácia e eficiência eram já marcas suas
quando você estreou como profissional: professora
particular de Carlos Ariosto, surdo-mudo osso duro.
Por falar em epítetos, acaso lá em Moccity você era
chamada ou me chamava por apelido carinhoso?
Pai me chamava de Berrrrtão, mãe, de Rob. Afinal,
foram eles ou o Lim quem apelidou-a de Zéulinha?
Zélia Patrocínio e, com efeito, Patrocinadora! Quem
com o paquera me levava a parquinhos e, nos meus
dezesseis, levou-me ao mar e me deixava rodar com
seu Fusca azul, o qual com gosto eu lavava e polia.
Educadora, cobrou-me até o último centavo, quando
um amigo a quem eu emprestara seu carro o bateu.
O amigo deu o cano, daí que meu salário de office-boy
era todo pra pagar o conserto, numa lição que aprendi.
Mas mais incrível e inesquecível foi essa mana fabulosa
também ter sido uma Mãe para mim, com seus talentos,
como argúcia, visão e firmeza, e com suas tecnologias,
como afeto, amor e compaixão, me salvando e erguendo!
Por essas e muitas outras, o que há já de estar óbvio não
custa mesmo assim dizer: Zelinha é benignidade em pessoa!
Seu nome é música pros meus ouvidos! E sua lembrança,
uma carícia no meu, eternamente, grato coração!
FELIZANIVERSÁRIO!!!!!”
Finalizando os discursos, Zélia apresentou palavras emocionadas
de agradecimento que transcrevo aqui para deleite do leitor:
“QUERIDOS FAMILIARES E AMIGOS,
Ao projetar o convite para este Encontro de 70 anos, nele me
expressei que “celebrar o dom da vida com as pessoas que amamos é
o melhor presente de aniversário”. E que presentão de Deus eu estou
recebendo com a presença de todos vocês que vieram até aqui - uns de
perto e outros beeem de longe, do sul e do norte, do leste, do oeste e
de todo o lugar do Brasil.
Vejo e sinto todos vocês como a minha grande família, porque
família não é só a de sangue e de relação genealógica, mas também
aquela que por extensão construímos no dia a dia, nas relações de vizinhança,
de estudo e de trabalho, nas relações das comunidades que partilhamos e na relação das pessoas que, por circunstâncias adversas,
se cruzam na nossa caminhada. Olho este público e vejo meus irmãos
Patrocínio tão queridos e entre eles os que pra mim já se fizeram de
pai, assim como, os que também adotei como filho tamanha as nossas
diferenças de idade e a necessidade de darmos uns aos outros mãos,
ombro e colo; vejo os agregados desta família de origem, nos quais
cunhados, sobrinhos e as novas gerações deles decorrentes, cuja fraternidade
se estende eternamente entre nós na relação de pertencer e do
bem-querer; vejo representantes da minha infância, juventude e dos
tempos de universidade, o que me faz retornar à minha querida Montes
Claros onde está a base da minha existência. Chego aos tempos
de Sergipe e vejo a Família Seixas, que mais que cunhados e amigos
também se fizeram meus irmãos, tamanha a acolhida que sempre me
deram, com muito carinho e consideração. Das famílias por extensão,
vejo os colegas-amigos de trabalho do INCRA e da CODEVASF, os
quais, em irmandade, convivemos grande parte de nossas vidas numa
relação de cumplicidade e de comprometimento pela causa pública.
Dos dias atuais, vejo a Família da Igreja, onde juntos, na inspiração da
espiritualidade, procuramos meios de servir a Deus e ao próximo. Porúltimo, na extensão do meu ser, está a Família que constitui: o meu
esposo e companheiro de quatro décadas, os filhos dele que também
adotei como sendo meus, os filhos que gerei, criei, eduquei e que me
são dádivas do céu, junto aos netos que, na virada da curva, nos fazem
revigorar na energia e na alegria.
Obrigado a todos por me prestigiarem e me propiciarem tamanha
alegria! Da sensação dos Setenta Anos, o que posso me expressar
a vocês? Me sinto leve, pois ainda não reflete nos meus ombros o peso
da terceira idade. Olho para trás com gratidão porque a vida foi generosa
para comigo: tive pais zelosos, honrados, guerreiros e o calor de
uma família sempre unida; tive oportunidades de estudo e de trabalho.
Cresci, caminhei com minhas próprias pernas, me afirmei e sempre
me senti estimada e reconhecida. Encontrei meu amor, constituí
família, tive filhos, plantei árvores e, se ainda não escrevi um livro, as
escritas que em alguns espaços já foram publicadas valem por ele...
E agora, o que esperar da nova década, consciente de que a
terceira idade vem para se estabelecer de fato? Certamente manter a
vontade de viver, alimentar a alma e me desprender mais. Gerar novas
emoções, porque a vida para ser plena tem que ser permanentemente
reinventada. Mas quero, acima de tudo, olhar pra frente com perseverança
e confiança, cultivar o espírito de menina que ainda sinto
em mim, usufruir mais das amizades que as passagens do tempo me
concederam, curtir com intensidade os meus amores e ter sempre a
presença de Deus na minha vida.
Gratidão a todos vocês que fizeram e fazem parte dos meus
setenta anos de vida.”
Após os discursos, foi cantado entusiasticamente o Parabéns
pra você, com vivas em torno de um belíssimo bolo confeitado cheio
de rosas. As máquinas fotográficas “pipocavam” em flashes diante
das poses para fotos históricas dos familiares reunidos. A partir daí o
salão superlotou, o conjunto musical reforçou o show, variando os estilos
musicais e agradando a todos, que “pegaram fogo” na coreografia
quando desembarcou nas músicas dos anos 60. Foi a apoteose; crianças,
velhos, jovens, tímidos ou não, caíram na dança até a madrugada.
E nós, os irmãos e irmãs Patrocínio, fomos nos despedindo e
pegando de volta a estrada, deixando nutridos os corações de Zélia
e sua família e levando no nosso, o Amor aquecido por mais um
encontro.
Filomena de Alencar M. Prates
Cadeira nº 74
Patrono: Luiz Milton Prates
ASSOMBRAÇÕES
Pelas estradas da vida encontramos altos e baixos, claros e escuros,
verdades e mentiras. Baseando-se em fatos falsos ou verdadeiros,
nos damos conta de que devemos narrar histórias muitas
vezes fantasiosas. Na nossa infância, encontramos pessoas que contam
histórias- e juram de pés juntos – como foram passadas nas fazendas
dos seus avós ou de outros antepassados, cujos nomes se perderam “na
rolança do tempo”.
Muitas vezes, as pessoas ficavam proseando no alpendre das casas
de fazendas contando histórias, tomando café com beiju, ou a
pinga, etc. Muitos desses causos eram sobre caçadas, pescarias e outras
vezes, as conversas passavam para o plano de assombração. Aí as coisas
mudam de figura; há sempre alguém contando um “causo” que jura
ser verdadeiro.
Havia no município de Aurora, Ceará, fazendas centenárias em
cujas casas quase sempre apareciam algumas assombrações. Na fazenda
Taveira, propriedade do meu avô materno, certa vez um funcionário
avisou ao meu avô que não iria morar naquela casa mais, pois lá
estava acontecendo coisa muito estranhas.
- Como Assim? – Perguntou meu avô.
-Na cozinha, jogam pedras nas pessoas, areia na comida, o gado
não tem sossego à noite no curral, fica berrando e correndo como se
houvesse alguém perseguindo. Um horror!
Meu avô mandou selar seu cavalo e seguiu para a fazenda chegando
lá à tardinha. À noite ouviu latidos e grunhidos de cães como
se alguém estivesse os ameaçando. Lá pelas nove horas da noite armou
uma rede para dormir, mas não conseguiu deitar-se, pois a rede caía
como se alguém estivesse sacudindo-a. Ele se ajoelhou, pegou seu rosário,
sacudiu várias vezes, rezando o Credo. Voltando à cidade, meu
avô foi à casa do vigário, nessa época, era o padre Vicente Bezerra (o
mesmo que fez o casamento dos meus pais), contou o acontecimento
e convidou o vigário para ir à fazenda Taveira.
O padre foi, mas logo na chegada, recebeu uma pedrada na
cabeça que partiu-lhe a orelha esquerda. Ele revidou jogando água
-benta e proferindo orações de exorcismo. A partir desse dia a fazenda
voltou à sua paz costumeira.
CASA MAL-ASSOMBRADA
Meu avô era um grande latifundiário nos municípios de Aurora,
Lavras da Mangabeira e adjacências. Sempre que surgiam retirantes
fugindo da seca, vovô procurava abriga-los em casas quase sempre
desocupadas.
Certa ocasião, um casal pediu abrigo e vovô providenciou alojamento
numa das casas antigas que pertenceu ao seu pai. Era um
casarão antigo na beira da estrada. O casal rinha um filho, rapaz de 22
anos, muito alto e magro; o pai falou a meu avô que o moço sofria de
uma doença chamada “Tisica” (tuberculose). Esse rapaz faleceu e os
pais mudaram para uma cidade da Paraíba. Meu avô mandou que a
casa desocupada permanecesse de portas abertas. Poucos dias depois,
as portas se fecharam como por encanto (vento). As pessoas que por
ali passavam, diziam ouvir gemidos que saiam da casa, que passou a
ser mal assombrada. Passados poucos dias, meu pai, sempre muito
corajoso, passando perto da casa, ouviu um gemido e resolveu entrar.
Já era quase anoitecer. Deu um empurrão na porta, que se abriu facilmente.
Riscou um fosforo, acendeu a vela e para seu espanto, viu uma
pobre vaca esquálida que ali entrara para matar a fome com algumas
palhas de milho, mas o vento fechou as portas e a pobre ficou presa.
Papai acabou com a assombração.
CAÇADA DE TATU
Meu pai, quando solteiro, gostava de fazer caçadas de tatu com
seus amigos, o que sempre acontecia somente à noite, após a saída
da lua. Esse acontecimento era uma verdadeira farra para a rapaziada
daquela época. Certa noite, papai se reuniu com alguns amigos e seus
irmãos Afonso, Celso e João. Saíram à noitinha acompanhados de sua
matilha de farejadores: Leão, Cabete e Coronel. Cães valentes e conhecedores
dos locais onde poderia haver tatus, pacas e até campeiros
(veados bastante conhecidos naquela região). A turma parou um pouco
para descansar e os cachorros se embrenharam na mata farejando.
Daí a pouco, os caçadores ouviram três assobios; os cachorros vieram
correndo e gruindo alto, como se estivesse, tomando uma grande
sova. Gemendo, deitam-se junto a seus donos e dali os cachorros só
saíram quando os rapazes voltaram para casa. Nessa noite, não se falou
mais em caçadas de tatu.
TIRADOR DE MEDO
Eu morei numa cidade, cujo prefeito tinha muito medo de fantasmas.
Certa noite, ele esteve lá em casa, como sempre fazia, e papai
começou a contar “causos” de fantasmas. Falou sobre os fantasmas
de Taveira, sobre o tesouro do Major José Vieira. Foi ficando tarde e
nada da visita ir embora. Morava numa mesma rua, distante apenas
de um quarteirão. Foi aí que meu pai se lembrou de que seu amigo
estava com medo de voltar sozinho pra casa. Num tom bem baixinho,
ele pediu que papai o levasse para casa, pois ele tinha muito medo de
andar sozinho à noite.
Acontece que nessa mesma cidade, apareceu um senhor que se
dizia “tirador de medo”, coisa de que nunca se ouviu falar naquele
lugar.
Um irmão do nosso amigo medroso procurou logo o visitante
para encomendar o trabalho. Consultou seu irmão e foram procurar
o mágico. Esse se prontificou em fazer a tarefa. Ficou combinado que
seria num dia de sexta-feira á meia noite no cemitério. Teria que ser
feito com a ajuda de mais duas pessoas. O irmão medroso, o medroso
e o tirador de medo. Levariam três velas bentas. A vítima teria que
ficar perto do último túmulo do cemitério e acender a vela; seu irmão
ficaria perto do cruzeiro, no meio do cemitério com a vela acesa; o
tirador de medo ficaria no portão com a vela apagada fazendo orações.
Lá pelas tantas, uma coruja bateu asas perto do medroso. Este
correu, pulou por cima do seu irmão, que, por sua vez, já corria em
desabalada carreira. Atravessaram um trecho sem iluminação até a
Praça da Matriz. Ali, puderam descobrir que, enquanto eles corriam,
havia uma pessoa na frente que corri mais apressada que eles. Era o“tirador de medo”.
José Ferreira da Silva
Cadeira N. 49
Patrono: Irmã Beata
ANTÔNIO FERNANDES GUIMARÃES
Antônio Fernandes (Toninho), nasceu em 1º de novembro de
1947, no município de Mato Verde- Minas Gerais, terceiro,
de uma prole de oito irmãos, sendo seus pais Olímpio Fernandes
Guimarães e Carmelita Ribeiro Guimarães, pessoas humildes
e simples por excelência, porém, honestas com muito rigor. Antônio
Fernandes de uma capacidade admirável, um intelectual nato, não
optou pela formação sistemática, mas por isto não perdeu o ímpeto
de escrever com naturalidade e afinada correção. Por questão de necessidade
abraçou com coragem o trabalho: Garçom no clube social,
em restaurantes e bares, também morou em outros municípios e trabalhou
em vários serviços. Em 1968, com muito entusiasmo, inscreveu-se para um concurso do banco do Nordeste para a função de
contínuo-servente, considerando a sua escolaridade, as chances eram
remotas, devido o grande número de concorrentes. Porém venceu as
suas expectativas e foi aprovado em 3º lugar. Infelizmente não chegou
a ocupar o cargo devido o número limitado de vagas para aquela função.
Antônio, homem corajoso e com expectativas não desanimou, aos 50 anos, prestou e foi aprovada no concurso junto a prefeitura de
Porteirinha, terra que o acolheu ainda criança. Ele exerceu o cargo de
Redator oficial de todas as correspondências da Prefeitura até o dia
06 de Abril de 2020, quando aconteceu a sua inesperada partida para
outra dimensão.
José Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celecino Soares da Cruz
MAIS UM VÍRUS QUE VEIO
PARA DESEQUILIBRAR OS
HEMISFÉRIOS DA TERRA
Ele surgiu simultaneamente na Europa e nos países da Ásia, mas
somente a China ousou divulgar e ganhar espaço midiático
naquela montagem do hospital de campanha em blocos prémoldados
em dez dias – porém, os blocos demoram “N” meses para
ficarem prontos.
O Carnaval importou o vírus através dos chineses e europeus
(foliões do mundo inteiro) que aqui estiveram para trazer a “Coroa
maligna” para os Reis da folia. Era muito dinheiro envolvido para
cancelar o maior evento da terra – naquele calendário o lado financeiro
era mais valioso que a infecção pelo Covid-19.
Hoje estamos assistindo o resultado da irresponsabilidade da
China e da Europa de não ter contido o vírus antes. O resultado de
não ter cancelado o carnaval antes da epidemia do Oriente atacar
o ocidente - virando uma pandemia quase (?) descontrolada. Alias!
Não é pandemia! É pandemônica (“uma mistura da bagunça com o
demônio”).
Estamos diante de divergências de opiniões / governamental /
social e de sentimento egocentrista.
Acontecem carreatas anti-isolamento e pró-isolamento. Um
lado defende a volta do comércio e prevendo colapso financeiro; do
outro aqueles que defendem o isolamento, visando se proteger. Mas,
uma coisa tem me chamado a atenção: todos preferem as carreatas,
pelo fato de terem a CONSCIÊNCIA da FORÇA do Coronavírus. A
CAMINHADA envolve aglomeração e a aproximação, procedimentos
que oferecem 90% de chance para o Covid-19 fazer a festa. - Neste
quesito, todos têm razão.
Durante as CARREATAS observamos coisas hilárias, além das
buzinações; motoristas e passageiros com camisas de Sindicatos e da
Congregação dos Legionários – em outras carreatas, todos com camisas
da Seleção canarinho e bandeirinhas do Brasil fixadas nas portas.
São manifestações semelhantes a um jogo de times do “futebol americano”:
“Finaceiro X Saúde”. - Ninguém nas arquibancadas, todos
assistindo em casa. - Ganha aquele que fizer um “Field goal” pela
opinião pública.
É indubitável que o baque será forte no comércio e no “poder
aquisitivo” dos grande/médio e pequeno empreendedor; mas, estes
empresários poderão ser beneficiados por meio de linhas de créditos à
serem aprovadas pelo governo.
Por outro lado, o “lockdown” de cada decreto que visa evitar
colonização epidêmica nos estados, fará que, a curva de contaminação
e dos óbitos seja minimizada. - A família é que decide! - Ficar em
casa, isolados das atividades ou isolados em hospitais, rezando para
continuar vivo!
A propósito: a vida só tem uma safra. – Viva e NÃO deixe
morrer!
Será inevitável evitar a “curva invertida” da recessão, será igual
a “curva epidêmica”, esta ultima se achatar - a primeira será menos
depressiva.
Por outro lado Coronavírus foi benéfico para alguns “fora da
lei”. A Justiça concedeu liberdade para ex Dep. Eduardo Cunha –
João de Deus (João de Abadiânia). Os Estados Unidos a justiça não
ficou para trás, mandou soltar o Sr. José Maria Marin (aquele que
fraudou a FIFA). Mas, isto, é coisa que alguns de nós não temos conhecimento
dos recursos jurídicos.
Para finalizar: Temos que cuidar da saúde até quanto DEUS
quiser.
Vamos tomar bastante água. A água evita que o nosso corpo
fique vulnerável as inflamações e infecções. > “Era a terra sem forma e
vazia; trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de deus, se movia
sobre a face das águas” (Gênesis 1:2).
Os raios do Sol exercem múltiplos efeitos sobre o corpo humano.
Eles ajudam combater bactérias e outros micro-organismos. A
ação antisséptica é produzida pelos raios ultravioleta. Ajudam a sintetizar
a vitamina “D” nas células. > “Disse Deus‘’: ‘Haja luz’, e houve
a luz(Gênesis 1:3)
- let`s celebrate... family... friends...and life!!!
___________________
(*)José Ponciano Neto: Articulista, cronista e escritor membro do Instituto Histórico e
geográfico de Montes Claros e Vice Presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte
de Minas.
Harlen Soares Veloso
Cadeira N. 26
Patrono: Cyro dos Anjos
100 ANOS DA CHEGADA DO
AUTOMÓVEL A MONTES CLAROS
A edição de 13 de novembro de 1920 do Jornal Gazeta do Norte
anunciou com notório entusiasmo: “Montes Claros progride!
Corre pelas ruas o primeiro auto”.
Tratava-se da chegada, ocorrida três dias antes, do primeiro veículo
motorizado que transitou na cidade. Era um “auto caminhão
trazido pelo operoso cidadão, Cap. José Augusto de Castro”, tido
como “um dos mais dedicados amigos de Montes Claros”. A vinda do“bicho que anda por si mesmo” foi saudada com “vivas e foguetes”.
A reportagem esclarece que a aquisição do veículo se deu pela
necessidade de transporte de materiais para a construção do prédio da
Cadeia e Fórum da cidade, edifício ainda existente no cruzamento das
Ruas Camilo Prates e Dom João Pimenta. Segundo o jornal, o Capitão
José Augusto de Castro “assoberbado, como contratante das obras
da Cadeia e Fórum, pela crise de transporte de material, pensou e
logo executou a vinda de um auto que lhe minorasse as dificuldades”.
“Pediu, obteve e, ele próprio foi buscar um Ford de 1 tonelada para o
serviço do transporte do material de que precisa”.
Ford TT, de 1917, possivelmente o mesmo modelo que circulou
pelas ruas de Montes Claros em 1920.
Prédio da antiga Cadeia Pública e Fórum
de Montes Claros, em cuja construção foi
empregado o primeiro veículo motorizado a
circular nas ruas da cidade.
MATÉRIA DE JORNAL
Embora a notícia não especifique, tudo indica que se tratava
de um caminhão Ford modelo TT. Os primeiros veículos de carga
da Ford norte-americana eram derivados do Ford Modelo T, denominados
TT, e foram produzidos a partir de 1917. Os Modelos TT
foram importados desde o início das operações da filial brasileira em
1919. A aquisição de uma unidade pelo Cap. Castro cerca de um ano
depois é sinal de sua operosidade e espírito de iniciativa, tanto que
era considerado um homem para quem “as dificuldades foram criadas
para serem removidas e, assim, nenhuma lhe entorpece a marcha de
seus empreendimentos”.
Nelson Vianna também mencionou, em suas Efemérides Montesclarenses,
a notícia daquele 10 de novembro de 1920: “Pela primeira
vez entra um veículo motorizado na cidade de Montes Claros: um
caminhão. É da marca Ford, tem capacidade para 1500 quilos” (...)“Provocou, na cidade, grande movimento de curiosidade e regozijo”.
O mesmo autor narrou que a construção do edifício da Cadeia e Fórum“foi arrematada pelo Cap. José Augusto de Castro, pela quantia
de 87:120$300”, mas “custou a importância de 93:826$400” quando
foi entregue, em 05/04/1923.
O Capitão Castro nasceu em Barbacena/MG, em 19/04/1874.
Iniciando a sua carreira no comércio do Rio de Janeiro, tornou-se
viajante comercial. Abandonando esta profissão, veio para Montes
Claros, onde se dedicou a construções civis, tendo também iniciado
a construção do Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Foi 1º vice-presidente
da ACI (Associação Comercial e Industrial) de Montes Claros,
em 1920. Faleceu em 07/09/1943.
Atualmente, segundo o IBGE, Montes Claros tem a 6ª maior
frota de Minas Gerais, com um total de 216.885 veículos (dados de
2018).
Hermildo Rodrigues
Cadeira N. 35
Patrono: Ezequiel Pereira
O “BICHO DA CARNEIRA”
DE PEDRA AZUL
Altiva aos pés de gigantescas pedras com destaque para a Pedra
da Conceição – assim chamada por aparentar um altar da Virgem
Maria – refulgindo a beleza única do nascer ou do por
do sol: eis Pedra Azul, a Princesa do Vale. Não é somente o berço dos
talentos Paulinho Pedra Azul, Saulo Laranjeiras, Murilo Antunes, Célia
Maria, do caricaturista Léo Almeida, ou da pedra de água-marinha “Dom Pedro”, considerada a maior do mundo, é também terra das
mais ricas tradições e cultura.
O visitante se encanta diante da beleza dos casarões da avenida
Coronel Joaquim Antunes e avenida Colatino Antunes. É de lá que
vem a história do “Bicho da Carneira”, que de tão formoso promoveu
festa na cidade, da qual pude compartilhar, com a presença do ex-prefeito
de Montes Claros, Dr. Mário Ribeiro e sua esposa Maria Jaci de
Oliveira Ribeiro, filha da cidade.
Pedra Azul é parte da minha vida. Nessa época era dividida
na política entre admiráveis famílias: Almeida, Mendes, Faria, Rua, Veloso e Moraes, gerações servindo a cidade com dignidade e competência.
Mesmo nos carnavais, os foliões se divertiam em clubes sociais
separados. Em janeiro de cada ano, sobrevivendo à hoje “A festa
do boi” animava a cidade. Nas festas juninas, a rua Timbiras , onde
residia, era enfeitada com figueiras e bandeirolas, com farto comes e
bebes. Estão lá ainda bem administrado a Escola Estadual, Coronel
Pacífico Faria, onde fiz o curso primário, cuja a diretora Lourdes Ruas
era um exemplo e a Escola Estadual Clemente Faria. E, também, desde
1945, o Ginásio de Pedra Azul, por décadas, abrigou o melhor
ensino da região, cujo dono era o ex-deputado João de Almeida, hoje
a Escola Estadual. O diretor Reinaldo Veloso, professores como Aldiva
de Morais, Terezinha Ione, Nilde, Dr. Henrique, Clementina, Dr.
João Babato, todos zelavam por este objetivo.
Embora particular, as portas eram abertas para as pessoas carentes
estudarem, tal generosidade de João de Almeida, entre os colegas
do ginásio, ainda residem na cidade: Alírio Pereira, Silvio Souza e
Maria José Figueiredo.
Até o inicio dos anos 50 a economia da cidade era vigorosa.
Realizou a primeira Exposição Agropecuária no “Vale”, dispondo do
Parque Getúlio Vargas. O capim colonião nativo da região, fortalecia
a pecuária, a sua maior riqueza, cujo os animais eram comercializados
para o Nordeste, e no inicio dos anos 60 também para o extinto
FRIGONORTE, em Montes Claros. O DER um dos primeiros do
interior de Minas, sob a chefia do engenheiro Aurélio de Almeida,
era atuante nas estradas da região. Havia duas linhas de ônibus que
eram os principais destinos daqueles que emigraram como eu. para
continuar os estudos. O Estádio Raul Ostiano, o único com arquibancada
coberta, destacava o futebol na região, a demanda por Jeep
levou a Willians Orveland a abrir concessionária na cidade. A Panair
do Brasil fazia um voo semanal para Belo Horizonte, vias Montes
Claros. O maior empório da região era o grande Bazar 36, vendia de
tudo: tecidos, sapatos, vidros, carros, peças e etc. e no seu interior,
a casa Bancário Almeida oferecia crédito concorrendo com o Banco
do Brasil e o Banco Mineira da Produção. Clemente Faria saiu de lá
em 1925 para criar em Belo Horizonte o Banco da Lavoura. O seu
filho Aloísio Faria, foi o maior benfeitor do Hospital Universitário
Clemente Faria, em Montes Claros.
Com tudo, a partir da metade dos anos 50, a cidade passou a
sofrer um processo de estagnação na sua economia. Os investimentos
estaduais e federais não chegavam. Embora encravada com alguns
vizinhos, como Almenara e Araçuaí e entre o rico Sul da Bahia e o
Norte de Minas, não figurava na área de atuação da SUDENE e nem
do Banco Nordeste do Brasil - BNB. Uma das explicações é que no
traço original houve falha de engenharia. Somente foi incluída em
1998, quando a SUDENE já não era a mesma: enfraquecida, extinta
em 2002 e reimplantada em 2007, sem os incentivos fiscais do Art.
34/18. Em anos recentes, a cidade vive safra de bons prefeitos. Está
incluída nos programas: Caminhos de Minas para afastamento até
Almenara e no PAC-2 do governo federal, do qual já recebeu parte de
um total de dez obras. Na monumental festa do centenário, em junho
de 2012, observei que o comércio cresce a cada ano; Empresa benéfica
no município, o minério grafite, de múltiplas utilizações.
Finalmente, voltemos ao bicho. É a lenda de um monstro que
aterrorizou as crianças do Vale do Jequitinhonha, na vizinha Bahia
e parte do Norte de Minas. Segundo a lenda, ele assume as diferentes
formas e a mais frequente é de um cachorro preto e grande, que
aparece nas noites avançadas ou de madrugada. Muitas vezes as mães
ameaçavam as criancinhas com as aparições do bicho para que elas
dormissem mais cedo. Havia várias versões para o surgimento dessa
mitologia popular. Uma delas disse que o cidadão Joaquim Antônio
de Oliveira, pasmem, vindo de Gorutuba, hoje Janaúba – MG, havia
sido enterrado em túmulo projetado por ele mesmo, em gavetas que
eram novidades na época no novo cemitério. Esta gaveta ou cerneira
rachou misteriosamente, aparecendo pelos de animais entre as fendas.
A sepultura foi reparada, mas as rachaduras reapareciam mais de uma
vez. E desde então se diz que o bicho sai do caixão nas noites sem lua,
para assustar pessoas e arrancar as cabeças de cachorros ruas a fora.
A cidade de Pedra Azul na década de 20.
Itamaury Teles de Oliveira
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates
PARABÉNS MÃE, AVÓ, BISAVÓ,
TRISAVÓ, CENTENÁRIA!
Hoje, dois de abril de 2020, uma pessoa muito especial, de
uma grande família, faz aniversário. A Dona Palmyra, que é
Santos, que é Oliveira, que é Gomes, que é Gonçalves, queé Pereira, que é Teles, que é a decana dos “Viriatos” montes-clarenses;
que é a Presidente de Honra do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros; que ocupa cadeira como escritora, na Academia
Feminina de Letras de Montes Claros; que foi professora de várias
gerações de porteirinhenses, que a adotaram como conterrânea, com
direito a título de cidadania concedido pela Câmara Municipal; que
comandou o grupo de Pastorinhas, por quase três décadas; que escreveu
dois livros depois dos 90 anos; que joga buraco até hoje - e
ganha -; que não perde oportunidade de viajar; que fraturou a perna
aos 90 anos, jogando vôlei; que dirigiu escola primária e escola técnica
de comércio; que lecionou português, religião, didática, OSPB
e outras disciplinas; que nunca parou de fazer palavras cruzadas e de
ler Seleções; que adora descobrir um parente e ir visitá-lo; que morre
de amores por Porteirinha e Montes Claros; que é mãe de dez filhos
- todos vivos e mais que sexagenários -, avó de 36 netos, bisavó de
33 bisnetos e trisavó de três trinetos. Essa mulher forte, viúva há 32
anos de Geraldo Teles, completa hoje 100 anos. Agradecemos muito a
Deus, pela sua existência com lucidez e saúde. E isso muito nos orgulha.
Só lamentamos não poder comemorar à altura esta importante e
significativa data, em função da pandemia do coronavírus. Quando o
tempo permitir, iremos fazer uma grande festa para ela. VIVA DONA
PALMYRA!
D. Palmyra é o nosso maior orgulho. Significa tudo e muito mais! É
projeto e modelo de gente que deu e dá certo. Ela é como dizia um antigo
deputado nosso:” Pode ter igual, mas melhor não tem.! Que Deus conserve.
Um grande e fraterno abraço, D. Palmyra. Também para todos os seus
filhos. Idosa menina! (Wandelino Arruda)
Dona Palmyra, a nossa Presidente de Honra do IHGMC, uma mulher
guerreira que superou todas as dificuldades de um tempo e que hoje vem
colhendo os melhores frutos em terra fértil. Lúcida, alegre, comunicativa e
amiga de todos, ela comemora agora o seu centenário. Neste seu dia, dona
Palmyra, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros se sente
orgulhoso e torce para que você tenha vida longa para fazer a história de
nossa terra acontecer muito mais interessante e muito mais bela. Parabéns!
(Dário Cotrim)
Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida
O PERIGO DAS BOMBAS
Não vou falar das bombas terroristas que, vez por outra, aqui,
ali e alhures, são detonadas covardemente sobre entidades e
pessoas de governos constituídos, por órgãos extremistas de“esquerda” ou de “direita”, sob alegados e jamais convincentes motivos
político-ideológicos. Também não quero escrever sobre bombas
de guerra, das mais rudimentares às mais sofisticadas e “inteligentes”,
capazes de identificar e acertar um alvo determinado, dentre inúmeros
outros que encontrem pelo caminho, no fatídico rastreamento de
objetivos e instalações militares. O que nos interessa mesmo são aquelas
que se acham ao alcance de todos nós, sob a designação genérica
de fogos de artifício, as bombas festivas de Santo Antônio, São Pedro
e São João.
O mês de junho – já é do folclore e da cultura – traz as maiores
alegrias para o sertão brasileiro, manifestadas de todas as formas possíveis:
queima de fogos, música, danças, fogueiras, comidas e bebidas,
enfim a verdadeira folia sertaneja, superando até mesmo o carnaval,
mais adaptado e afeito ao ambiente urbano do que no meio rural. É a cidade que se fantasia de sertão, procurando imitar-lhe a indumentária,
as artes, os usos e costumes, a culinária e a magia. É o sertão
que se engalana, em busca do colorido, dos prazeres e diversões que
somente a cidade pode oferecer. As notas negativas, todavia, começam
a surgir na antevéspera das festividades, com as explosões das
fabriquetas de bombas, quase todas localizadas em fundos de quintal
e desprovidas de qualquer dispositivo de segurança. Há poucos dias,
numa cidade bahiana, foi uma delas pelos ares, ceifando uma dezena
de vidas humanas e espalhando o terror em toda a população vizinha.
O pior é que isso não constituiu um fato inusitado e não se sabe onde
e quando haverá uma nova explosão, já que todas essas fábricas são
clandestinas e despossuídas de qualquer norma de controle.
Não sou contra a festa, as diversões, a alegria. Condenamos,
sim, os excessos e as imprudências, e alertamos sobretudo quanto às
negligências, quase sempre de consequências danosas para as pessoas
e para o meio-ambiente. Já se foi o tempo em que “soltar” foguete
era uma brincadeira divertida e inofensiva, pois as bombas subiam e
espocavam bem alto, fazendo vibrar mensagens de emoções para toda
a vizinhança. Hoje é uma aventura das mais perigosas, com as bombas
sendo arremessadas para baixo e para o lado, explodindo sobre
a cabeça dos circunstantes, quando já não explodem nas mãos dos
próprios “fogueteiros”. A ganância pelo lucro fácil vai tornando os artefatos
de pólvora cada vez mais inseguros, em razão da má qualidade
dos elementos utilizados em sua fabricação. As estatísticas pós-juninas
são ricas em pessoas mutiladas por bombas, principalmente os mais
jovens, vítimas imprudentes e preferenciais da irresponsabilidade dos
adultos. E os incêndios provocados pelos fogos de artifício e pelos
balões só não se tornam mais devastadores por causa da colaboração
da natureza, que mantém a temperatura baixa nesta época do ano.
Também não podemos desprezar as inúmeras pessoas feridas ou assassinadas
neste mês, quase sempre no meio rural, onde o excesso de
bebidas transtorna os cidadãos mais pacatos.
Talvez a minha proposta não coincida exatamente com o ponto
de vista do leitor, mas, pelo menos, estou apresentando uma sugestão:
que se mantenha a animação do forró e da quadrilha; que se acendam
as fogueiras, como mensageiras da paz e da alegria, com o seu morno
claro-escuro tão propício e acolhedor para os namoros que estão
começando; que se confraternizem nas rodadas de quentão, canjica
e amendoim; que sejam assadas as batatas, as mandiocas e as leitoas;
mas que se eliminem de vez os fogos de artifício dessa festa, especialmente
as bombas, para que não tenhamos de lamentar depois os
danos causados às pessoas e ao meio-ambiente, já tão castigados por
outros infortúnios inevitáveis.
Esta crônica foi publicada no antigo Jornal de Notícias do dia
15 de junho de 1991. São decorridos, portanto, vinte e nove anos, sem
que nada se alterasse, a não ser para piorar o caráter das festividades
juninas. Agora estamos experimentando um mal maior, a pandemia
do Covid-19, que vem ceifando milhares de vidas pelo mundo afora,
sem qualquer preconceito de cor, raça, credo ou condição econômica
e social. Já é voz comum que o mundo não será o mesmo, após a
sua passagem avassaladora. Talvez possamos desenvolver um antivírus
capaz de combater essa pandemia e, ao mesmo tempo, despertar um
espírito de fraternidade universal entre países e pessoas, com a constatação
escancarada da imensa fragilidade humana.
Aqui no Brasil, por conta desse corona-vírus, pelo menos foram
canceladas, este ano, as famosas festas juninas do Nordeste, em
especial as de Campina Grande-PB e Caruaru-PE. No “rastro” delas,
outras também serão canceladas, o que trará, com certeza, uma queda
bem acentuada na estatística de mortos e feridos por bombas e outros
artefatos pirotécnicos. As festas são lindas e atraentes, mas, no presente
caso, vale consolar com o ditado popular que estabelece: “Beleza
não põe a mesa”.
Leonardo Álvares da Silva Campos
Cadeira N. 97
Patrono: Urbino Viana
EM CORAÇÃO DE JESUS,
UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE
Somam-se hoje à nossa memória histórica as referências dos naturalistas
viajantes, que a partir do século XVI estiveram no Brasil,
atraídos pela exuberância de sua natureza e costumes da população,
embrenhando-se pelo seu hinterland coletando espécimes dos
três reinos da natureza para futuros estudos.
Segundo Edison Moreira, fundador da “Livraria Itatiaia”, na
orelha da edição de 1979 de “Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro
e Minas Gerais”, de Auguste de Saint-Hilaire, obra editada por
sua editora, “esses depoimentos são, sem dúvida, os mais legítimos
sobre a realidade brasileira de então e são válidos até hoje, na maioria
das vezes dados por homens de cultura e saber nada comuns, cuja honestidade
indiscutível só visava a verdade sobre tudo o que viam. Da
galeria desses verdadeiros abnegados, de ânimo forte, ressalta a figura
de Auguste de Saint-Hilaire, grande apaixonado do Brasil, cuja vasta
obra, vazada na clareza, elegância e sobriedade de espírito francês, é
um panegírico à nossa Terra e, particularmente, à Província das Minas
Gerais, que sobremaneira distingue entre todas as que, ladeando rios,
escalando montanhas e atravessando planícies, visitou.”
Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779-1853), sem sobra de dúvidas o mais destacado desses naturalistas, em
suas viagens de estudos e coleta entre 1817 e 1818, esteve em Coração
de Jesus, povoado que na ausência do vigário para os ofícios religiosos,
ficava com suas casas fechadas, exceto cerca de sete habitadas geralmente
por operários e prostitutas.
Registrou o botânico francês: “Coração de Jesus parece dever a
origem a um sentimento religioso. Os lavradores da redondeza, muito
afastados de lugares onde existem sacerdotes para poderem cumprir
seus deveres de cristãos, fundaram esse povoado. Tiveram a princípio
apenas uma igreja coberta de palha (sapé), mas, pouco a pouco,
alguns legados e esmolas dos fiéis permitiram levantar um templo
que melhor conviesse à dignidade do culto, e começou-se, em 1792,
aquele cujo interior se estava acabando em 1817. Quando não se encontra
na povoação sacerdote para celebrar a missa, quase todas as
casas ficam fechadas; não se contam mais de sete que são habitadas
durante toda a semana, e ocupam-nas operários e mulheres de má
vida. Disso resulta que Coração de Jesus não oferece absolutamente
o menor recurso, mesmo para as mais urgentes necessidades da vida.
Não se vê aí uma única casa de negócio; não se pode comprar arroz,
feijão, aguardente ou carne, e os operários vivem fazendo-se pagar
por em gêneros pelos lavradores, para os quais trabalham. Como não
havia no sertão marceneiros bastante peritos para fazer as guarnições
de madeira da igreja, fizeram-nos vir dos arredores de Vila do Fanado,
e fui testemunha das amargas queixas que dirigiam um a um dos
administradores da obra, porque não encontravam o que comprar, os
colonos dos arredores nada lhes enviavam, e estavam reduzidos a comer
milho simplesmente cozido na água. Queria-se, certamente, fazer
algo por eles, mas estava-se realmente desprovido de tudo, porque os
fazendeiros cultivam apenas para suas necessidades e de suas famílias.”
Apesar da pobreza que registrou no lugar, isto em 1817, o sábio
deparando-se com os trabalhos finais no interior da nova igreja, não conteve o seu entusiasmo com a magnitude artística que presenciou,
registrado em sua obra posterior:
“Esses marceneiros eram, no entanto, dignos de melhor sorte;
pois que seu trabalho merecia os maiores elogios. O madeiramento
da igreja, o altar e o tabernáculo não teriam sido mais bem lavrados
em uma cidade da França de dez a doze mil almas, o que confirma
o que já disse, por várias vezes, a respeito da habilidade dos artesãos
mineiros.”
Porém, o materialismo nefasto que sempre pairou, invencível,
nas sociedades capitalistas um dia chegou à cidade de Coração de
Jesus, fazendo com que a imponente igreja virasse pó, acabando com
seus símbolos reportando ao pretérito.
O poder econômico de banqueiros, já na segunda metade do
século XX, veio sobrepujar - pelo que se viu do resultado da negociata
criminosa - o então inexistente sentimento preservacionista de certos
membros da Igreja Católica. A alienação do terreno, do qual o templo
era acessório, foi o marco inicial a aviltar a memória histórica de toda
a humanidade.
A decretação do triste e irreversível fim da igreja que encantou
e acolheu a fé de tantas gerações, a respeito da qual Saint-Hilaire deu
ciência de sua existência ao mundo, começou quando o então responsável
pelos trabalhos religiosos em Coração de Jesus, Padre Gustavo
Ferreira de Souza (Monsenhor Gustavo, baseado em Montes Claros,
já falecido), acreditando que a torre estava prestes a cair, mandou removê-la, descaracterizando assim o templo.
Posteriormente, substituiu-o o Padre Colatino Sitário Mesquita
(falecido em 1979), que foi quem concretizou a venda do imóvel para
a então Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais, para construção
de sua agência local, isto em 1972, com a autorização da Diocese
de Montes Claros.
Naquele ano já estava em construção, do outro lado da praça,
um novo templo, o que talvez possa ter acobertado interesses prévios
na alienação do terreno da igreja, acabada por volta de 1817 e situada
do lado oposto da mesma praça central de Coração de Jesus, ao dito
estabelecimento bancário.
Indubitavelmente foi mesmo um ato de vandalismo, com insensibilidade
preservacionista dos agressores, aviltando a memória
histórica e cultural de todo um povo.
Curiosamente, por aquela época, o Padre Colatino criava em
veado no quintal de sua casa. Enquanto aquele patrimônio histórico
da humanidade era demolido, o cervídeo deu uma chifrada em seu
criador. O ferimento causado nunca sarou, levando o religioso a óbito
pouco tempo depois. A seu turno, a Caixa Econômica do Estado de
Minas Gerais (MinasCaixa) foi extinta, com o Estado sendo obrigado
a pagar a seu poupadores a diferença de correção relativa à inflação
aplicada a menor nas contas que tinham saldo em julho de 1987.
As poucas pessoas preservacionistas da cidade, lideradas pelo
naturalista José Alves de Macedo e contando mais com Samuel Barreto,
Antônio Augusto de Matos, Alberto Eduardo Araújo Barreto,
Arnaud Samuel Araújo Barreto e Herculino Lafetá Rabelo, conscientizadas
da importância de um patrimônio histórico que se perdia, ainda
esboçaram uma reação contra a demolição, mas de nada valeram
seus esforços. O muito que conseguiram foi recuperar, com grande
esforço, os restos mortais de Francisco Ferreira Leal (1734-1811), o
fundador do Arraial do Santíssimo Coração de Jesus, sepultado na
igreja que desaparecia, constando na ata, lavrada em 18 de novembro
de 1972, o pormenor:
“(...). Era costume na época a utilização das capelas e das igrejas
para cemitério cristão. Neles eram sepultadas as pessoas batizadas e
que tiveram vida ilibada, isto é 1832, quando, para criação de uma
paróquia era exigida a construção de cemitério e proibidas as inumações
nos templos religiosos.
“A escavação que estamos procedendo, de um metro de profundidade,
na área em pesquisa, tem quatro metros de extensão até alcançar
os cinco degraus da escada que dava acesso ao balcão do altar-mor.
Neste espaço já descoberto nenhum fragmento de osso humano ou de
urna funerária foi encontrado, ao contrário do verificado em todo o
terreno ocupado pela igreja, cujos esqueletos se contavam às centenas.
“O terreno em observação assim virgem de sepultamentos despertava
a credibilidade de ter sido reservado para inumação de uma figura
benemérita, quando morresse. Era usual naqueles tempos. Uma
forma antecipada de gratidão. Gente pura!... Acreditava na eternidade
física das suas casas de oração.
“Exatamente no ponto de saída da escada que dava ao altarmor,
na profundidade de um metro e dez centímetros, foram encontradas
peças de madeira de cedro, de que era construída a urna, nas
quais notava-se visivelmente o decalque secular de galões dourados,
já esverdeados pelo tempo. Em perfeito estado de conservação encontram-se retalhos do sudário de São Francisco, com suas bimbinelas
de seda e o tradicional cordão da piedosa liturgia da Congregação
Sanfranciscana.
“O registo de óbito de Francisco Ferreira Leal disse a verdade:
estava localizada a sepultura do maior dos beneméritos da cidade de
Coração de Jesus.”
A destruição desse bem material equivale a dano ao patrimônio
cultural de toda a humanidade, o que, hoje, é objeto, cada
vez mais, de recriminação internacional. Todos nós integramos uma
sociedade que produz cultura. E esta deve ser sempre preservada, a
qualquer custo, para o resgate da nossa própria identidade como seres
humanos.
Houve em Coração de Jesus, da parte dos que trabalham, pesquisam
e estudam, um pesar imensurável pela perda irreparável do
rico patrimônio histórico e cultural, não só do Brasil como também de toda a humanidade. Não se apaga o passado, que tem por função
precípua refletir a memória de uma época e a tonalidade de um tempo,
para que possamos refletir sobre o pretérito e decidir sobre o futuro.
Que fatos de tal ordem não mais se repitam, é o que esperamos.
Coração de Jesus - MG
_______________________
Nota: matéria reescrita em outubro de 2019, a partir da original, que publicamos no “Jornal do Norte”, de Montes Claros, edição de 19 e 20 de novembro de 1994, pág. 6,
sob o título “Um crime contra a arte e a beleza”.
Magda Ferreira de Souza
Cadeira N. 15
Patrono: Ataliba Machado
PALESTRA COM
WANDERLINO ARRUDA
A última reunião do IHCPOL deste ano não poderia ter ocorrido
de melhor maneira. O Dr. Wanderlino Arruda a todos
encantou com seu conhecimento, brilhantismo e simpatia ao
discorrer sobre a arte de escrever. Do alto dos seus 85 anos a sabedoria
com a qual conduz o discurso a todos seduz, enquanto cita regras
gramaticais e dicas para oradores.
Quem o ouve dizer que começou a escrever aos 13 anos, publicou
pela primeira vez aos 14 e foi para o jornalismo aos 17 pensa que
foi ontem. Com eloquência de um grande orador e grandiosidade de
um destile de escola de samba ele anuncia o estudo do dia. Enquanto
discorre e analisa o texto Irene, de Manuel Bandeira, os ouvintes se
deleitam com tão perspicazes intervenções e interpretações. Entre outras
pérolas com as quais aguça o pensamento dos participantes estas
entraram para o registro eterno: “Ler é enxergar e interpretar o que
está enxergando” e, “Leitura não é só de letras, é de situações.”
Se Irene era uma “preta boa” e São Pedro “bonachão”, há de se
ter um meio termo nisto para Wanderlino. Ele é bom, muito bom
no que faz. E não é bonzinho não. Aqui também não precisa pedir
licença, pois seu conhecimento e simpatia são o abre-alas que o apresentam.
Wanderlino é como água, voa alto e enxerga longe.
Wanderlino chega como quem não quer nada, puxa a cadeira
e assenta. Faz roda mas não enrola e faz o assunto girar. Ele discursa
como ninguém e conta ”causo” como só um bom contador de estória
o faz. Todos ficam absortos enquanto ele fala e ao fim, como se tivessem
participado de um mega show, todos pedem bis. Porque mais um
dos seus dons é envolver. Wanderlino é como Sherazade, seus contos
não têm fim e ao ouvi-lo sempre se espera pelo final, mas o que ele
deixa é uma vontade de ouvi-lo um pouco mais.
Mara Yanmar Narciso
Cadeira N. 98
Patrono: Virgílio Abreu de Paula
IDÍLIO DE PÓRCIA E LEOLINO
Depois de consultar 76 livros, o historiador e escritor Dário
Teixeira Cotrim, baiano de Guanambi e radicado em Montes
Claros desde 1968, escreveu “Idílio de Pórcia e Leolino”
em 2005. A história se passa em 1844 na região de Brumado, naépoca Bom Jesus dos Meiras, na Bahia. Trata-se do romance proibido
entre a bela menina Pórcia Carolina da Silva Castro, que tinha ficadoórfã recentemente e o também jovem, casado e violento Leolino
Pinheiro Canguçu. Segundo relatos da época, chega a raptar a moça,
após esta ser hóspede na fazenda do seu pai.
A versão dada por Dário Cotrim, que é parente distante da
protagonista, é um trabalho que reúne a paciência de uma freira carmelita,
porém com a curiosidade voraz que o consome. Juntou sobre
a mesa retalhos de várias fontes, analisou cada informação, contrapôs
as partes duvidosas com documentos, e também recorreu à memória
oral das famílias envolvidas. O romance dos dois agravou as familiares“contendas encarniçadas” dos Silva Castros e Mouras versus os Canguçus.
Vinganças antigas e novas são apresentadas lado a lado com a espetacular ação. O longo tempo transcorrido entre os fatos e a narrativa
obrigou esse estudo detalhado, em busca de verossimilhança.
A minúcia do trabalho desperta admiração e confiança do leitor, que
vai, pouco a pouco, acreditando na versão apresentada, que não se
pretende definitiva, mas que servirá de ponto de partida para outras
pesquisas e interpretações.
Para contar essa história foram citados e contestados inúmeras
vezes Jorge Amado e seu “ABC de Castro Alves” e Afrânio Peixoto e
sua “Sinhazinha”, contrapondo-se com documentos publicados nas
Revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e diversas outras
fontes.
Pórcia era tia do poeta Antônio Frederico Castro Alves, cujos
poemas foram salpicados em toda a obra “Idílio de Pórcia e Leolino”
de 182 páginas. Esse detalhe enriquece o livro e contextualiza os
acontecimentos no tempo e no espaço. As fazendas onde se passam os
fatos são bem mostradas geograficamente, até mesmo com desenhos
da época.
Em toda a obra o autor mostra erudição, usando palavras raras
e citações em Latim. Portanto arme-se com um dicionário. Outra
curiosidade é os nomes das pessoas, com sua genealogia e denominações
esdrúxulas. Além dos personagens principais, quem queira
escolher um nome diferente tem ali um verdadeiro arsenal de excentricidades:
Anfrísia, Licurgo, Altanásio, Arquimino, Bibiana, Prudênciana,
Exupério, Umbelina, Merênciana, Eufrásia, Teodora, Iria, Leodegário,
Eliziário, Belarmina... O Word sublinha de vermelho quase
todos eles. Será preciso reler o livro para colocá-los em seus merecidos
lugares.
O Major José Antônio da Silva Castro se casa com a viúva
Dona Joana de São João Castro, de amplas posses. De relacionamentos
anteriores o Major traz duas filhas legitimadas Pórcia Carolina da
Silva Castro e Clélia Brasília da Silva Castro. A bonita menina Pórcia