NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO

A ordem de publicação dos trabalhos dos associados efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos associados correspondentes e convidados;

A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental do município de Montes Claros e região Norte de Minas.


Volume XXIV
1º Semestre 2020

Montes Claros - Minas Gerais - Brasil
2020


 

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Sobrado de Dulce Sarmento
Rua Cel. Celestino, 140 - Centro - 39400-014 - Montes Claros/MG
(Corredor Cultural Padre Dudu)

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Sobrado de Dulce Sarmento
Rua Cel. Celestino, 140 - Centro - 39400-014 - Montes Claros/MG
(Corredor Cultural Padre Dudu)

REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Publicação Semestral

Diretor e Editor
Dário Teixeira Cotrim

Conselho Editorial
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Hermildo Rodrigues
Mara Yanmar Naciso Cruz

Editoração, Diagramação e Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.

Fotografias
Arquivo de Dário Teixeira Cotrim, Eliane Maria Fernandes Ribeiro, Felicidade Patrocínio,
José Ferreira da Silva, Harlen Soares Veloso, Hermildo Rodrigues, Leonardo
Álvares da Silva Campos, Maria Clara Lage Vieira, Marilene Veloso Tófolo,
Internet.

Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-65-86024-08-1


Capa: Tela do artista plástico Godofredo Guedes


SUMÁRIO

Diretoria 2020-2021– 07
Associados Efetivos – 10
Associados Eméritos – 12
Associados Honorários – 12
Associados Correspondentes – 13
Homenagem a Associados Falecidos – 15

APRESENTAÇÃO – 17
Amelina Chaves
Noite de solidão - 21
Dário Teixeira Cotrim
A Capelinha dos Morrinhos - 23
Dário Teixeira Cotrim
A Família Landulfo Prado - 26
Edvaldo de Aguiar Fróes
Uma prova de fogo numa estreia - 29
Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Maria Clara - 40
Felicidade Patrocínio
Celebrando o dom da vida: 70 anos de Zelinha - 46
Filomena Alencar Monteiro Prates
Assombrações - 67
José Ferreira da Silva
Antônio Fernandes Guimarães - 72
José Ponciano Neto
Mais um vírus que veio para desequilibrar os hemisférios da terra - 74
Harlen Soares Veloso
100 anos da chegada do automóvel a Montes Claros - 77
Hermildo Rodrigues
O bicho da carneira de Pedra Azul - 81
Itamaury Telles
Parabéns, mãe, avó, bisavó e trisavó, centenária - 85
Lázaro Francisco Sena
O perigo das bombas - 88
Leonardo Álvares da Silva Campos
Em Coração de Jesus, um crime contra a humanidade - 91
Magda Ferreira de Souza
Palestra com Wanderlino Arruda - 97
Mara Yanmar Narciso
Idílio de Pórcia e Leolino - 99
Mara Yanmar Narciso
Elogio à Eponina Pimenta de Carvalho - 103
Márcio Adriano Silva Moraes
O sobrado - 110
Maria Clara Lage Vieira
Professora Nair - 113
Maria da Glória Caxito Mameluque
Crônica sem nexo em um dia de quarentena - 119
Maria de Lourdes Chaves
Dr. Antônio Gonçalves Chaves - 122
Marilene Veloso Tófolo
Sebastião Souto Veloso - 124
Marilúcia Rodrigues Maia
Um pouco da história da igreja antiga de Juramento - 129
Wanderlino Arruda
Hotel São José - 134
Wesley Soares Caldeira
50 anos da “Casa Espírita Alan Kardec” em Taiobeiras - 137
Antônio Félix da Silva
Fragmentos - 143
Petrônio Braz
Relembrando a história - 146


DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS


Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Jornalista Luís Ribeiro dos Santos
Dr. Wanderlino Arruda


DIRETORIA 2020-2021


PRESIDENTE DE HONRA Palmyra Santos Oliveira
PRESIDENTE Dário Teixeira Cotrim
1º VICE - PRESIDENTE José Ferreira da Silva
2º VICE - PRESIDENTE Sebastião Abiceu dos Santos Soares
1º DIRETOR-SECRETÁRIO Mara Yanmar Narciso Cruz
2º DIRETOR-SECRETÁRIO Hermildo Rodrigues
1º DIRETOR DE FINANÇAS Lázaro Francisco Sena
2º DIRETOR DE FINANÇAS José Francisco Lima Ornelas
DIRETORA DE PROTOCOLO Wanderlino Arruda
Diretor de Comunicação Social Silvana Mameluque Mota
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu Manoel Freitas Reis

CONSELHO CONSULTIVO

Membros Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Teófilo Azevedo Filho
Virgínia Abreu de Paula
Membros Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo

CONSELHO FISCAL

Membros Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Alceu Augusto de Medeiros
Membros Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Rita de Cássia Oliveira Bichara
José Ponciano Neto
Maria Regina Barroca Peres
Vânia Rosália Veloso Assis Dias
Hermildo Rodrigues

COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Denilson Meireles Barbosa
Leonardo Álvares da Silva Campos
Manoel Freitas Reis
César Henrique Queiroz Porto
Paulo Hermano Soares Ribeiro

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA,
ETNOGRAFIA E SOCIOLOGIA

Maria Ângela Figueiredo Braga
Hélio Antônio Maia
Jânio Marques Dias
Frederico Assis Martins
Eliane Maria Fernandes Ribeiro

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS

Amelina Chaves
Marilene Veloso Tófolo
Juvenal Caldeira Durães
Zoraide Guerra David
Maria Lúcia Becattini Miranda

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÃO

Marilúcia Rodrigues Maia
Yury Vieira Tupinambá de Léllis Mendes
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Daniel Tupinambá Lélis
Maria Clara Vieira Lage

COMISSÃO DE VISITA E APOIO

João de Jesus Malveira - Coordenador
Edvaldo Aguiar Fróes
José Ferreira da Silva
Manoel Fernandes
Harlen Soares Veloso

COMISSÃO DE PROMOÇÕES E EVENTOS

Ana Valda Xavier Vasconcelos
Josecé Alves dos Santos
Teófilo de Azevedo Filho (Téo Azevedo)
Maria de Lourdes Chaves (Lola Chaves)
Augusta Clarice Guimarães Teixeira (Clarice Sarmento)
Mara Yanmar Narciso da Cruz


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC


CD
Sócios
Patronos
01
Edvaldo de Aguiar Fróes Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Milene A. Coutinho Maurício Alfredo de Souza Coutinho
03
Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Maria do Carmo Veloso Durães Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Dorislene Alves Araújo Antônio Ferreira de Oliveira
06
Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Jânio Marques Dias Antônio Jorge
09
Narcíso Gonçalves Dias Antônio Lafetá Rebelo
10
Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Sebastião Abiceu dos Santos Soares Ary Oliveira
12
Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Ana Valda Xavier Vasconcelos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Magda Ferreira de Souza Ataliba Machado
16

Gilsa Florisbela Alcântara

Athos Braga
17
Samuel Andrade Lopes Auguste de Saint Hillaire
18
Frederico Assis Martins Brasiliano Braz
19
Paulo Hermano Soares Ribeiro Caio Mário Lafetá
20
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira Camilo Prates
21
Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Silvana Mameluque Mota Carlos Gomes da Mota
23

Landulfo Santana Prado Neto

Carlos José Versiani
24
José Ponciano Neto Celestino Soares da Cruz
25

Pedro Borges Pimenta Júnior

Corbiniano R Aquino
26
Harlen Soares Veloso Cyro dos Anjos
27
Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Hélio Antônio Maia Darcy Ribeiro
29

Carlúcio Pereira dos Santos

Demóstenes Rockert
30
Maria Lúcia Becattini Miranda Dona Tirbutina
31
Augusta Clarice Guimarães Teixeira Dulce Sarmento
32
Everaldo Ramos de Oliveira Edgar Martins Pereira
33
Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35

Hermildo Rodrigues

Ezequiel Pereira
36
Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Evaldo Gener de Fátima Francisco Barbosa Cursino
38
Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
José dos Santos Neto Gentil Gonzaga
40
Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Kelly Cristine Nery Rocha Gomes Geraldo Tito da Silveira
43
José do Carmo Felício Godofredo Guedes
44
Roberto Carlos M. Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Gustavo Mameluque Henrique Oliva Brasil
46
Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Amelina Fernandes Chaves Hermenegildo Chaves
48
Virgínia Abreu de Paula Hermes Augusto de Paula
49
José Ferreira da Silva Irmã Beata
50
Vaga Jair Oliveira
51
Vaga João Alencar Athayde
52
Maria de Lourdes Chaves João Chaves
53
Vânia Rosália Veloso Assis Dias João Batista de Paula
54
Cláudio Ribeiro Prates João José Alves
55
Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
Marilúcia Rodrigues Maia João Novaes Avelins
58
Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Márcio Adriano Silva Moraes João Vale Maurício
60
Manoel Messias Oliveira Jorge Tadeu Guimarães
61
Ildeu Soares Caldeira Jr. José Alves de Macedo
62
José Jarbas Oliveira Silva José Esteves Rodrigues
63
Carlos Renier Azevedo José Gomes Machado
64
Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Laurindo Mekie Pereira José Gonçalves de Ulhôa
66
Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Denilson Meireles José Monteiro Fonseca
68
Benjamim Ribeiro Sobrinho José Nunes Mourão
69
Rita de Cássia Oliveira Bichara José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
José Roberval Pereira José Tomaz Oliveira
71
Manoel Pereira Fernandes Neto Júlio César de Melo Franco
72
Júnia Veloso Rebello Lazinho Pimenta
73
Terezinha de Souza Campos Neves
Lilia Câmara
74
Filomena Alencar Monteiro Prates Luiz Milton Prates
75
Alceu Augusto de Medeiros Manoel Ambrósio
76
Manoel Freitas Reis Manoel Esteves
77
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Antônio Pereira Santana Mauro de Araújo Moreira
80
Isau Rodrigues Oliveira Miguel Braga
81
Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Josecé Alves dos Santos Nelson Viana
83
Daniel Oliva Tupinambá de Lélis Newton Caetano d’Angelis
84
Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
André Luís Lopes Oliveira Armênio Veloso
86
Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Elzita Ladeia Teixeira Pedro Martins de Sant’Anna
88
João de Jesus Malveira Plínio Ribeiro dos Santos
89
José Francisco Lima Ornelas Robson Costa
90
Teófilo Azevedo Filho (Téo) Romeu Barcelos Costa
91
Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Renat Nureyev Mendes Tupinambá Sebastião Tupinambá
93
Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Gessileia Soares Cangussu Teófilo Ribeiro Filho
95
Marilene Veloso Tófolo Terezinha Vasquez
96
Yure Vieira Tupinambá de Lelis Mendes Tobias Leal Tupinambá
97
Leonardo Alvares da Silva Campos Urbino Vianna
98
Mara Yanmar Narciso Virgilio Abreu de Paula
99
João Nunes Figueiredo Waldemar Versiani dos Anjos
100
Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

ASSOCIADOS EMÉRITOS

Antônio Ferreira Cabral
Edwirges Teixeira de Freitas
Expedito Veloso Barbosa
Luiz Pires Filho
Maria das Dores AntunesCâmara
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Irany Telles de Oliveira Antunes
Girleno Alencar Soares
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Luís Ribeiro dos Santos
Mardete Dias Silveira
Newton Carlos do Amaral Figueiredo
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça

Sócios Correspondentes

Adilson Cézar - Sorocaba - SP
Alan José Alcântara Figueiredo - Macaúbas - BA
André Kohene - Caetité - BA
Antônio Félix da Silva - Florianópolis - SC
Avay Miranda - Brasília - DF
Carlos Lindemberg Spínola Castro - Belo Horizonte - MG
Cândida Correia Cõrtes - Carvalho Luz - MG
Célia do Nascimento Coutinho - Belo Horizonte - MG
Daniel Antunes Júnior - Espinosa - MG
Dêniston Fernandes Diamantino - Januária - MG
Eustáquio Wagner Guimarães Gomes - Belo Horizonte - MG
Felicíssimo Tiago dos Santos - Rio Pardo de Minas - MG
Fernando Antônio Xavier Brandão - Belo Horizonte - MG
Flávio Henrique Ferreira Pinto - Belo Horizonte - MG
Honorato Ribeiro dos Santos - Carinhanha - BA
Jeremias Macário - Vitória da Conquista - BA
João Martins - Guanambi - BA
Jorge Ponciano Ribeiro - Brasília - DF
José Walter Pires - Brumado - BA
Liacélia Pires Leal - Feira de Santana - BA
Manoel Hygino dos Santos - Belo Horizonte - MG
Maria do Carmo de Oliveira - Porteirinha - MG
Moisés Vieira Neto - Várzea da Palma - MG
Neide Almeida da Cruz - Feira de Santana - BA
Paulo Roberto de Souza Lima - São João Del Rei - MG
Pedro Oliveira - Várzea da Palma - MG
Reynaldo Veloso Souto - Belo Horizonte - MG
Terezinha Teixeira Santos - Guanambi - BA
Wellington Caldeira Gomes - Belo Horizonte - MG
Zanoni Eustáquio Roque Neves - Belo Horizonte - MG
Zélia Patrocínio Oliveira Seixas - Aracajú - SE
Zilda de Souza Brandão (Bim) - Belo Horizonte - MG




 



Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

APRESENTAÇÃO

Mesmo com o isolamento imposto pelo corona-vírus, estamos trabalhando, incansavelmente, para editar e publicar a Revista do Instituto Histórico deste semestre. É preciso manter a tradição das publicações do Informativo e da Revista, para que o nosso Instituto Histórico tenha continuidade na preservação de nossa memória. Estamos em tempos difíceis, é verdade, mas não impossível para as realizações dos nossos projetos no sentido de melhor atender os nossos confrades nos seus anseios em favor do resgate histórico do nosso povo. Portanto, estamos entregando, com muita alegria, a Revista volume 24, do primeiro semestre deste ano para o deleite dos leitores.

Nesta oportunidade, queremos agradecer os participantes deste volume, mesmo diante das dificuldades existentes, o carinho e o empenho na produção dos artigos elaborados exclusivamente para a composição deste livro. Vejamos: Amelina Chaves, Dário Teixeira Cotrim, Edvaldo de Aguiar Fróes, Eliane Maria Fernandes Ribeiro, Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira, Filomena Alencar Monteiro Prates, Harlen Soares Veloso, Hermildo Rodrigues, Itamaury Teles de Oliveira, José Ferreira da Silva, José Ponciano Neto, Lázaro Francisco Sena, Leonardo Álvares da Silva Campos, Magda Ferreira de Souza, Mara Yanmar Narciso da Cruz, Márcio Adriano Silva Morais, Maria Clara Lage Vieira, Maria da Glória Caxito Mameluque, Maria de Lurdes Chaves, Marilene Veloso Tófolo, Marilúcia Rodrigues Maia, Wanderlino Arruda e Wesley Soares Caldeira que proporcionam aos demais associados em conhecer um pouco mais a respeito da nossa história. Da mesma forma, agradecer os membros do Conselho de Documentação e Publicação que, em momento algum se esquivaram dos esforços na coleta dos assuntos pertinentes a este trabalho.

O design da capa deste livro tem o objetivo de homenagear dois ilustres montes-clarenses: o artista plástico Godofredo Guedes, com uma belíssima ilustração da saudosa Igreja do Rosário, e o cronista Haroldo Lívio de Oliveira com um texto sobre essa mesma Igreja, publicado nas orelhas desta revista. O leitor ainda terá para leitura matéria de Antônio Félix da Silva e, em seguida, outra do associado emérito doutor Petrônio Braz. Portanto, eis aí mais uma Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Boa leitura!

Dário Teixeira Cotrim - Presidente




Amelina Fernandes Chaves
Cadeira N. 47
Patrono: Hermenegildo Chaves

UMA NOITE DE SOLIDÃO

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Clarice Lispector

Sem que a gente perceba a ficção dança na minha mente num vai e vem sem trela. Personagens que podem parecer fictícios, mas não são, pois elas existiram e/ou existem no presente ou em lugares distantes da minha rica e movimentada infância. Eles foram armazenados para logo mais explodir, enriquecendo e alimentando a minha criatividade. Vem à tona, soltos e leves como a brisa de uma manhã de primavera. Poucos acreditam que a escrita é uma busca no fundo do tempo. Pois é.

A pessoa a quem me refiro com tanta propriedade é o meu saudoso pai, o soldado Antônio Clementino, que teve uma influência fantástica na minha gostosa infância. Era ele um homem belo, alegre e contador de causos de jagunços e tantos outros, todos inventados por ele para nos divertir. Nós, crianças da família simples encantávamos com os seus exageros que eram de certa forma fascinante.

Hoje, na literatura, existem muitas Marias cantadas em prosas e versos nas minhas paginas existiram na realidade e já se destacavam umas das outras pela coragem de desafiar os preconceitos que pessoalmente conheci. E já me incomodava. (estes que me fizeram fugir de casa aos quinze anos) tento me libertar das minhas lembranças, mas quando penso estar livre, escuto, vindo lá do fundo do tempo uma vozinha me gritando: “-Ué, nem acredito, esqueceu de mim?” Levo um susto. Lembro-me do seu belo rosto sempre sorrindo sinto que me amava. Fico feliz! E vou abrindo de novo as comportas do pensamento e as lembranças chegam desenfreadas e me tomam por completo. Uma música divina enche o ambiente e a canção dolente me conduz a um caudaloso rio de sonhos. De repente ouço uma gargalhada escandalosa, ela chega de leve e me abraça com ternura. Seu cheiro é doce como as flores do campo. Escrevo e choro para aliviar o coração. Vejo as margens do rio, ele esta lá. O andarilho esta voltando o com toda sua força, eu vou segurar sua mão e seguir em busca de nova aventura. Sonhando encontrar um amor perfeito ou um grande livro. E você leitor vai entender? NÃO!... Melhor assim.

O instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros vem desenvolvendo um grande trabalho sobre a história de Montes Claros e região. Entretanto muitos desses fatos reais caem na boca do povo e tornam-se lenda. Há pessoas que viveram histórias tão fantásticas que parecem ficção e por isso é comum dizer que essa história é uma lenda.



Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

A CAPELINHA DOS MORRINHOS

Sabemos perfeitamente que nos tempos passados, a nossa cidade de Montes Claros de Formigas vivia mais para a Igreja do que a Igreja para a cidade. O padre Murta de Almeida já dizia isso em suas homilias na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José. Em razão disso foi construía aqui a majestosa Catedral de Nossa Senhora Aparecida, uma obra valorosa para à época. O culto da religião Católica Apostólica e Romana era quase uma doutrina obrigatória nos lares e nas escolas do interior brasileiro. Além das igrejas, existiam ainda as capelinhas por toda zona rural, e que hoje estão dentro daárea urbana em virtude do progresso constante de nossa aldeia.

Assim, sob os auspícios de dona Germana Maria de Olinda, para cumprir uma promessa que fizera, mandou que se construísse no alto dos Morrinhos a capela de Santa Cruz dos Morrinhos. Tudo teve inicio no dia 24 de fevereiro de 1884. E dois anos depois a capelinha já estava erguida para a felicidade dos moradores daquela zona habitacional. A capela teve inauguração no dia 14 de setembro de 1886, quando a população acompanhou a imagem do Senhor do Bonfim da Praça da Matriz até os Morrinhos. O padre Manoel da Assunção Ribeiro era vigário da freguesia naquela oportunidade.

O batismo da capela teve o nome d Santa Cruz dos Morrinhos, e não da imagem do Senhor do Bonfim introduzida no seu interior. Não se sabe qual a intenção de dona Germana em denominá-la com este nome, uma vez que o seu santo de devoção era São Geraldo. Por isso mesmo, tempos depois foi colocada ali a milagrosa imagem de São Geraldo, mas o templo passou a ser conhecido por Igrejinha dos Morrinhos.

Ainda, admitindo o uso constante das crenças, era comum enterrar as pessoas devotas, aquelas que mais significassem para a Igreja, no seu interior. Desse modo foi dona Germana Maria de Olinda sepultada ao pé do altar desta capelinha. Aliás, muitas pessoas eram enterradas no adro das igrejas, enquanto isso os cativos e criados tinham seus cemitérios sempre nos fundos das igreja.

Recorrendo aos escritos do padre Murta de Almeida, encontramos essa assertiva que ilustra muito bem esta nossa crônica. Vejamos: “Outro dia eu resolvi subir a ladeira. Cheguei à frente da inocente capelinha onde tantos anos atrás eu tinha feito os primeiros ensaios do meu sacerdócio. Entrei uma vez que a porta estava aberta. Foi um susto. Senti-me então sozinho, desamparado, desmotivado e triste. Mas o que mais me machucou foi a quase convicção de que aquelas quase ruínas não eram outra coisa senão as consequências do desmoronamento da fé, do amor, e da cultura no coração dos homens, no meu próprio coração...”.

Hoje, a capelinha dos Morrinhos está bem cuidada. Ela representa o cartão postal da cidade de Montes Claros. Ainda bem!



Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

A FAMÍLIA LANDULFO PRADO

Eis aqui um livro de alto nível literário. O autor Landulfo Santana Prado faz uma análise de sua própria existência, colocandose no meio universal da genealogia as suas aventuras, os seus labores e a sua formação na história da bibliografia literária na construção de um documentário sobre A Família Landulfo Prado, onde o mesmo foi buscar o significado das palavras alguns milênios antes do século XXI. É um trabalho de folego. Um trabalho diferente e gratificante para a leitura, pois o leitor tem a oportunidade de aprender a história genealógica e as expressões da língua portuguesa em seu estado de criação. Aqui o criador da obra é a criatura dele mesmo, sem pedantismo, sem ódio, sem o constrangimento de falar de si, nos mínimos detalhes de sua escrita.

Nota-se que, no decorrer da leitura o leitor deve fazer paradas para uma análise em múltiplas reflexões. Isso acontece porque a linguagem exercida pelo autor exige que o leitor proceda com a rotineira curiosidade na construção dos textos que são elaborados na forma filosófica do classicismo perfeito. Em princípios, a gratidão aflora como

manifestação de agradecimentos, quando é realizada uma viagem no tempo pretérito, com lembranças de nomes de pessoas e de lugares, onde ele esteve no albor de sua infância e adolescência.

Sempre com a narrativa precisa e, principalmente na citação de datas cronológicas, o autor vai alimentando a sua obra com figuras simbólicas para atrair a atenção do leitor no que pretende escrever sobre o seu passado, na conformidade do tempo e do espaço. Além da cronologia natural dos fatos, o autor ainda explora o isocronismo na medida exata de suas pesquisas. É importante dizer que se faça uma leitura sem pressa, pois muito haveremos de aprender com o enriquecimento das palavras e com a beleza dos textos, oportunidade impar para todos nós. O livro A Família de Landulfo Prado de Landulfo Pradoé, por vezes, um amanhecer vibrante nos trilhos da vida. E, por vezes outras, como as serpenteadas trilhas nostálgicas desta mesma vida.

Os gráficos, que não são muitos, mas o bastante para esclarecer o distinto leitor a origem de tudo. Mesmo assim, as anotações no rodapé da obra, em questão, existem para complementar as informações necessárias. Ainda assim, com o objetivo de informar mais, o autor incluiu um adendo de suma importância em forma de colofão para que o leitor possa subtrair o melhor conhecimento das civilizações europeias. A base étnica da raça humana – Vikings, Daneses e os Mouros – complementado assim a sua pesquisa histórica. Do mesmo modo ele procedeu com lisura o histórico da família Medrado, de Mucugê, na Chapada Diamantina. São apontamentos que valorizam e engrandecem a sua obra como um todo.

Para mim foi uma oportunidade impar a leitura deste influente livro. Em vista disso quero cumprimentar o ilustre autor, Landulfo Prado, pela sua energia e determinação ao escrever este importante documentário sobre a genealogia da família Landulfo Prado. Parabéns e sucesso!



Edvaldo de Aguiar Fróes
Cadeira N. 01
Patrono:
Alpheu Gonçalves de Quadros

UMA PROVA DE FOGO
NUMA ESTREIA

O fusquinha roncava com força ao penetrar na estrada poeirenta e, na sua direção encontrava-se o jovem médico, Dr. Jansen, com todas as suas bagagens de mudança depositadas no banco traseiro, em direção ao norte do estado, cidade de Marianópolis, onde iria trabalhar, doravante, num pequeno hospital recentemente aparelhado sob sua orientação.

Começou, então, a recordar do longo preparo a que se submetera para o pleno exercício de tão nobre profissão de médico. Com efeito, durante o segundo ano do curso, estagiou no Banco de Sangue da Santa Casa de Belo Horizonte, aprendendo a prática básica das transfusões, certamente de grande utilidade futura.

No Pronto Socorro Estadual, fizera treinamentos intensivos nasáreas de Urgências Médicas, Traumatologia, Cirurgias de Urgência/ Emergências, Toxicologia, Neurologia e Atendimentos Pediátricos.

Os estágios no 6° ano do curso, nas quatro áreas básicas: Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria e Obstetrícia, foram de grande valia.

A residência em Cirurgia Geral completou o seu preparo para iniciar o exercício profissional com mai confiança!

O instrumental e o material cirúrgico foram adquiridos pela Prefeitura, sob sua orientação: bisturis, afastadores, válvulas, cautérios, sondas, drenos tubulares e de Penrose, pinças diversas, porta agulhas, agulhas de sutura, fios categutes, sertix, fios de algodão e de seda, além de uma estufa para esterilização e uma incubadora para recém- nascido.

Um técnico em RX já havia montado uma câmara escura para revelação e fixação das radiografias, pois o Hospital já possuía um aparelho de RX, inoperante há muito tempo.

Finalmente, chegou ao Hospital, sendo alegremente recebido pela Enfermeira residente e suas duas auxiliares, alojando-se num apartamento a ele destinado.

Logo após tomar um reforçado lanche e percorrer as instalações hospitalares, o jovem médico dirigiu-se ao pequeno consultório, onde começou o atendimento dos vários pacientes agendados.

De repente, a enfermeira bateu à porta do consultório, informando que recebera um telefonema de urgência, comunicando que ocorrera um grave acidente com um caminhão na descida da serra, conduzindo oito trabalhadores rurais, todos feridos.

Todos foram deitados na rampa de acesso ao hospital e, com uma maca, foram levados para dentro do hospital. Dr. Jansen passou imediatamente a examiná-los.

Um deles apresentava ferimento profundo no couro cabeludo, com profuso sangramento e fratura do crânio, com afundamento, e agitação intensa, porém, consciente.

Após hemostasia, limpeza cuidadosa da ferida e descompressão do fragmento ósseo com tentacânula, tudo com anestesia local com xilocaína a 2%, enfaixamento da cabeça, soroterapia, Anatox tetânico e antibiótico, o paciente foi transferido para o Hospital Militar de BH, para avaliação do Neurocirurgião, pois se tratava de um soldado da PM.

Outro apresentava fratura fechada da fíbula da perna esquerda, sem desvio, confirmada pelo RX, sendo imobilizada com gesso.

Outros apresentavam feridas diversas que foram devidamente suturadas, após cuidados locais, antibióticos e prevenção antitetânica.

Finalmente, um paciente sofrera contusão abdominal, com dor difusa e, após medicação sintomática, foi encaminhado para um centro maior para observação e avaliação do Cirurgião Geral.

Foram muitas horas de intenso trabalho para Jansen e suas auxiliares, com um resultado extraordinário, pois todos os casos foram resolvidos ou devidamente encaminhados.

A notícia do acidente, naquela pequena cidade do interior, sedenta de novidades, se espalhou rapidamente, como “rastilho de pólvora” e as pessoas iam chegando em grande número querendo se inteirar de tudo, observando, com grata surpresa, a atuação desembaraçada e competente daquele jovem e estreante médico.

Sem dúvida alguma, aquele dia fora uma “estreia com uma verdadeira prova de fogo”.

UM PARTO COMPLICADO COM SEQUELAS

A parturiente deu entrada no hospital com história de trabalho
de parto prolongado, há mais de 15 horas, proveniente da zona rural.
Tratava-se da segunda gestação, sendo a primeira com parto
normal. O exame obstétrico revelou sofrimento fetal, colo uterino
dilatado com 10 cm, apresentação cefálica de face e eliminação de
mecônio, confirmando aquele sofrimento.

A indicação de cesárea se impõe neste caso e foi tudo preparado na sala cirúrgica. Jansen convidou o colega do SESP para auxiliá-lo, fazendo ele mesmo a raquianestesia, devido à urgência do caso.

A eficiente enfermeira ficou no controle da parturiente: oxigenioterapia, pressão arterial e infusão de soro glicofisiológico endovenoso. Ao retirar o feto, constatou-se o seu óbito, apesar das manobras para reanimação. Mas a intervenção transcorreu dentro do previsto.

Manteve-se sonda vesical de demora e o pós-operatório rotineiro, com administração de estrógeno intramuscular para inibir a lactação puerperal, além de apoio psicológico à parturiente.

Retirou-se a sonda vesical após 72 horas, mas outra complicação surgiu: uma fístula vesico-vaginal, com eliminação de urina pela vagina, obrigando o uso de novo cateterismo de demora (com sonda de balão ou de Foley). A fístula não se fechou com o tratamento conservador e, após um mês, Jansen encaminhou a paciente para avaliação e tratamento cirúrgico por especialista num centro maior.

A cabeça fetal impactada, por tempo prolongado, pode levar à isquemia (deficiência de circulação sanguínea) na vagina, reto e bexiga, levando à temível fístula reto-vaginal ou vesico-vaginal.

UM IDOSO COM QUADRO DE PNEUMONIA
COMPLICADO COM ARRITMIA CARDÍACA E EDEMA
AGUDO DE PULMÃO

Um telefonema, à noite, da filha e do genro daquele senhor, abastado fazendeiro da região, solicitando atendimento de urgência ao mesmo na sua residência, relatando que ele fora encontrado caído do seu cavalo, dormindo embriagado nas águas cristalinas do riacho a caminho da sua fazenda.

Desde então, passou a apresentar febre alta e tosse, com chiado no peito. O médico constatou, ao exame, que se tratava de um caso grave de pneumonia, com bronco-espasmo e taquicardia em paciente idoso.

Recomendou internamento imediato, dando início ao tratamento com antibióticos de largo espectro parenteral, analgésico/ antitérmicos, oxigênio por cateter nasal, broncodilatador venoso (aminofilina diluída em soro glicosado 50%).

Os familiares, satisfeitos com a aparente melhora do paciente, foram para casa, deixando-o aos cuidados do médico e da sua auxiliar enfermeira.

Mas, em torno de uma hora da madrugada, Jansen notou que o quadro se agravou, com dispneia intensa, cianose, taquicardia acentuada, em torno de 160 bpm, roncos, sibilos e estertores crepitantes bilaterais e confusão mental.

Diagnosticou, de imediato, edema agudo de pulmão, devido à insuficiência cardáca esquerda, com arritmia (provavelmente a temível fibrilação atrial aguda).

Injetou o cardiotônico denominado Cedilanide e Lasix (furosemida) endovenoso, cabeceira elevado e garroteamento rotativo dos três membros, comunicando imediatamente aos familiares que chegaram ao hospital.

Repetiu a dose de Cedilanide e Lasix, mantendo oxigenioterapia, havendo melhora do quadro de edema agudo, mas com persistência da arritmia cardíaca.

Reuniu-se, então, com a filha e o genro do paciente, expondolhes a gravidade da situação, relatando que aquele caso necessitava de imediato de um ECG, para diagnóstico exato da arritmia cardíaca, recurso não disponível no hospital e, ainda, da avaliação de um Cardiologista, sendo impossível a sua remoção para um centro maior, pois não se dispunha de ambulância com bala de oxigênio, acarrentando o risco de morte durante a viagem de cerca de 50 km!

Ficou decidido que Jansen, através de um telefonema, chamaria um conhecido colega Cardiologista da cidade vizinha, o que foi feito.

Assim, antes das seis da manhã, chegou o táxi com o competente colega que, com a feitura do ECG, confirmou tratar-se de fibrilação atrial aguda e edema agudo de pulmão, repetindo o diurético injetável e o cardiotônico, permanecendo no hospital até a estabilização do quadro.

Com todos satisfeitos, ficou combinado que o paciente iria até à cidade vizinha após uma semana, para controle com o Cardiologista.

A revisão do paciente mostrou icterícia (conjuntiva ocular amarelada), sendo realizados os exames para elucidação daquela complicação, sendo aventada a hipótese de embolia pulmonar, que foi afastada.

Concluiu-se que a icterícia moderada fora devido ao uso de rifocina injetável por via muscular (150mg de 12/12 horas), durante 08 dias.

UM CASO DE PNEUMONIA ATENDIDO NA ESTRADA

Estava o médico dirigindo o seu Fusca na estrada poeirenta, num fim de semana de folga, quando parou para atender o sinal de alguém que, aflitivamente, pediu para Jansen atender seu irmão doente, numa choupana próxima.

Prontificou-se, imediatamente, a fazê-lo e, na anamnese, o paciente queixava-se de febre alta com calafrios, tosse com hemoptoicos (expectoração com sangue) e dor tipo pontada na face anterior do hemitórax esquerdo que piorava com a inspiração.

Ao exame de tórax, constatou a presença de estertores crepitantes na base, selando, assim, o diagnóstico de pneumonia.

Prescreveu penicilina (despacilina) intramuscular 400.000UI de 12/12 horas, dipirona oral, repouso e controle na cidade após 05 dias (ou antes, se necessário) e continuou a sua viagem para merecido descanso.

O paciente evoluiu bem, comparecendo ao hospital para controle clínico e radiológico, continuando com o antibiótico durante 10 dias. O que surpreendeu Jansen foi o presente de agradecimento daquele paciente: levou para o médico um frango caprichosamente assado, acompanhado de uma deliciosa farofa! São as recompensas simples que nos tocam o coração e a alma!

UM CASO DE ORQUIEPIDIDIMITE AGUDA NO IDOSO

O rico fazendeiro telefonou para o médico, solicitando o seu atendimento, à noite, em sua casa na cidade.

Para lá se dirigiu, com sua maleta e seus instrumentos, sendo recebido por sua esposa e conduzido ao quarto do casal, onde se encontrava deitado e desanimado.

Relatou dor intensa na região escrotal direita, de aparecimento súbito, com febre e inchação acentuada local (edema) e, ao exame, hiperemia (vermelhidão) e sensibilidade intensa à palpação.

Não havia história de traumatismo e, ao toque retal, a próstata estava aumentada de volume, com consistência macia.

O diagnóstico veio incontinente: orquiepididimite aguda, de tratamento clínico (repouso absoluto, analgésico/ antitérmico, antiinflamatório e antibiótico de largo espectro).

Após regressão do quadro, o paciente foi encaminhado para o Urologista na cidade próxima.

UMA PERÍCIA NA ZONA RURAL PARA
CONSTATAÇÃO DE “CAUSA MORTIS”

Um conhecido fazendeiro da região, acompanhado de seu amigo advogado, chegou ao hospital juntamente com o delegado municipal e dois policiais do destacamento local, solicitando ao Dr. Jansen para acompanhá-los numa perícia na zona rural.

Diga-se, de passagem, que a função de delegado, nomeado pelo Prefeito, era, jocosamente apelidado de delegado “Calça Curta”, por não ser Bacharel em Direito, mas exercia muito bem o seu papel.

Tratava-se da morte de um empregado da fazenda, encontrado deitado no seu catre, distante da sede.

Chegando de carro na sede, os animais já estavam preparados para o deslocamento até o singelo rancho de pau a pique, onde morava o falecido.

O jovem médico observou, com atenção redobrada, o ambiente onde se encontrava: casa de enchimento de barro, com numerosas frestas, propícias para esconderijo dos famosos “barbeiros”, transmissores da Doença de Chagas, muito comum na região.

O homem encontrava-se em decúbito dorsal, com a perna direita fletida no joelho, com o pé apoiado no colchão e a outra estendida no catre, cor arroxeada e rigidez cadavérica, indicando que a morte ocorrera há várias horas.

No pequeno fogão de lenha, encontrava-se um prato, com restos do almoço: feijoada e arroz.

Não havia, no exame geral do cadáver, sinais de traumatismos, afastando-se a causa de morte violenta.

O laudo pericial foi preenchido com a conclusão de morte natural, devido à miocardiopatia chagásica.

COMPLICAÇÃO GRAVE DA ARTERIOSCLEROSE:
TROMBOSE ARTERIAL DE MEMBRO INFERIOR


Aquele paciente idoso que apresentara quadro de pneumonia
com arritmia cardíaca e edema agudo de pulmão cerca de dois anos

atrás, procurou novamente socorro médico. Desta feita, com queixa
de dor intensa de aparecimento súbito na perna esquerda.

Ao exame, constatou-se perna e pé esquerdos frios, cor ligeiramente escura e ausência de pulso palpável da artéria poplítea e pediosa (atrás do joelho e dorso do pé).

Paciente tabagista, portador de hipertensão arterial com cardiopatia, bronquite crônica e idade próxima aos 80 anos.

Jansen aplicou medicação sintomática e diagnosticou trombose arterial aguda, com isquemia do membro inferior esquerdo, caso muito grave, iniciando heparina sódica intravenosa.

Explicou apara os familiares a gravidade do caso, inclusive com risco de amputação do membro inferior esquerdo e sugeriu a transferência imediata do paciente para BH, encaminhando-o para um seu colega de turma, Cirurgião Cardiovascular da Santa Casa, o que foi feito.

O colega tentou um tratamento conservador, mas o caso evolui para gangrena da perna e do pé esquerdos, com amputação ao nível da coxa.

Após a alta hospitalar, o paciente retornou com o relatório completo do caso, com os curativos e a retirada dos pontos sob os cuidados de Jansen.

Tudo corria normalmente, quando houve um novo chamado. O paciente teve uma queimadura de segundo grau ao nível do coto da coxa esquerda, provocada por toco de cigarro aceso, pois ele dormira fumando!

Que vício terrível é o tabagismo!

Com os curativos e antibióticos, a ferida cicatrizou-se...



Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Cadeira N. 46
Patrono: Herbert de Souza

MARIA CLARA

Como lembrança, eu não vou me ater em datas e cronologias, pois nem sempre retratam a pessoa com merecida precisão ou corroboram a solidez histórica, religiosa ou intelectual da homenageada. Muito menos, tenho a presunção de descrever acontecimentos que outros julguem essenciais na vida de Maria Clara, porque em sua trajetória há muitos outros fatos memoráveis. Falo aqui de Maria Clara sob minha simples perspectiva. O texto, nem de longe justifica e engrandece a vida da protagonista, que merece ser registrada com biografia. Maria Clara, Clara de João, Clara ou simplesmente“Maria, é um dom”, como diz Milton Nascimento.

MARIA CLARA

Maria Clara... Clara criança. Estrela de luz nasce em Belo Horizonte na década de 1940. Cidade com banda de música no coreto da Praça da Liberdade. Direito ao “footing” e de famílias interioranas que se mudaram para a capital. Sant’Ana dos Ferros. De lá, a origem familiar, como esclarece Clara. Maria Clara beleza, leveza, intelectualidade. A leitura e a escrita já faziam parte do cotidiano da jovem e assim, delineia-se o caminho de Clara rumou aos estudos das línguas.

Maria Clara... Clara adolescente e mulher. O sucesso leva-a às letras neolatinas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Depois de formada, deixa a terra amada e vem para Bocaiuva sertanear o norte-mineiro, o vale do Jequitinhonha e o cerrado. Torna-se professora competente na escola Gastão Valle e à luz do ensinar-aprender, espalha conhecimentos, instrução e carinho. Leitura, escrita, síntese, léxico e sintaxe. Anos de dedicação na Escola Estadual e no Seminário Maior, em Montes Claros.

Maria Clara... Esposa e mãe. Aqui, encontra-se João. João de Jesus Vieira. Maria & João. João & Maria À luz dos nomes, corações e emoções resultam-se em namoro. O enamorar solidifica-se e se transforma em amor. Sacramento: matrimônio. Consolidação de relações com Maria Clara Lage Vieira. Nascem em berço afetivo as três lindas Marias: Maria Inês, Cláudia Maria e Maria Letícia. Claudinha: encontro com a luz do Senhor no Céu.

Maria Clara... Clara avó. A vida segue. Faz, refaz e luzes se espalham, milagres, bênçãos: três netos e assim o amor se desdobra e multiplica- se. Lucas e Maria Clara de Maria Letícia e Welligton Geraldo. Francisco de Maria Inês e Eder Costa. Clara acompanha, ama Maria Clara, Lucas e Francisco. Vive, revive, ensina, aprende, e recomeça. Amor incondicional, porém, também, aprende o que é saudade.

Maria Clara... Clara escritora, artista. Imortaliza “Wan-Dick, Pintor da Simpatia”, Eterniza o eterno prefeito e remonta à família, política, conquistas. À tona o lugar. Jequitaí, Conceição do Barreiro e Francisco Dumont. O livro retrata o homem simples, amado, que foi prefeito por três vezes. Junto à pesquisa apurada, Clara é emoção e discernimento, destaca o trabalho moral e espiritual de Wan-Dick e a grande facilidade do homem bom em servir e perdoar.

O segundo livro, “Bocaiuva do Senhor do Bonfim” é um apanhado das anotações manuscritas do segundo Livro do Tombo, como afirma a homenageada. Salienta a contribuição do padre Maia e Geraldo Majela. Do latim, Tombo significa registro de Coisas ou fatos de uma região em determinada época. Imbuída em Deus, a escritora convergiu o pensamento para o registro da profundeza histórica do povoado do Bonfim, abrigado sob a luz da fé. Maria Clara é percepção,é encantamento e faz registros cronológicos impecáveis sobre a história da igreja católica de Bocaiuva, visibilizando a partir do livro do Tombo, até 2006, ano da publicação de sua obra.

Clara é fundadora, junto a outros autores, do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros onde publica na sua Revista, textos incríveis sobre homens e as mulheres bocaiuvenses, de nascença ou não. Conta a história de Geraldo Vieira, do seu trabalho e no seu amor pela família, pai de quatorze filhos, marido amoroso – a imagem de Abraão.

No Volume II da revista do IHGMC, Maria Clara fala de Bocaiuva, cidade do coração e homenageia Senhor do Bonfim na sua festa com romeiros e visitantes. Fala da evolução urbana da cidade, saberes, sabores, gostos, cores e das tradições. Maria Clara fala da vovó Letícia Câmara em outro volume da mesma Revista. Letícia pedagoga, professora de Língua Francesa e matérias pedagógicas do Curso de Magistério. Dedicação e simplicidade. Foi casada com saudoso Romeu Barcelos Costa, benemérito e historiador da nossa comunidade. Descreve sobre José Augusto Freire, Zé Tinozinho, pai da amiga Rosarinha E mais seis irmãos. Lembrado pelo trabalho, lealdade e justiça. Nomeado para suprir a falta do magistrado a Juiz de direito do município.

Maria Clara recorda Geralda Drummond Menezes - dona Benzinha, guerreira, caridosa, incentivadora do Asilo São Vicente de Paula e construtora da memória da cidade. Casada com Dema, formavam um casal exemplar. Descreve acerca de Otília Caldeira Brant - dona Nenzinha, mulher extraordinária, prendada. Casou-se com Gilberto Caldeira Brant, seu Nem e tiveram onze filhos, criados com carinho, energia e muito amor. Clara relembra dona Modesta, grande mulher, trabalhadora, casada com Antônio Alves, pais de Luci e outros quatro filhos. Deixou como legado a solidariedade e simpatia.


Maria Clara e João de Jesus Vieira


Maria Clara e netos


A menina Maria Clara

Maria das Dores Maia Caldeira – Maria Maia é lembrada pelo esmero, religiosidade, fé e família abençoada. Entre dezesseis irmãos, o muito querido padre Maia e Dirlene a primeira enfermeira na cidade serviu a todos, imbuída do espírito de humildade, responsabilidade e amor ao próximo. Maria Clara relembra Juraci Caldeira Brant Alves. Professora de Educação Artística, católica, casada com Genes Alves. Mãe de sete filhos mostrou-se sempre corajosa e dedicada à família. Atuou em várias pastorais da igreja e ajudou, em especial, à carcerária. Maria Clara... Clara amiga. Lê e reler os textos religiosos, musicais, filosóficos, poéticos, paródicos para mestrandos, doutorandos, alunos, professores, comunidade. Escreve partes de missas, novenas, homenageia ao Senhor do Bonfim, São Francisco. Lê, interpreta, resume e divulga: A partilha dos pães, A Arca de Noé, a vida de Santo Agostinho e de muitos outros. Participa das pastorais da igreja, da Casa da Amizade e conta e reconta os dízimos da igreja. Empresta e doa livros.

Maria Clara... Clara coordenadora Fundou em 1998 o Grupo de Oração Nossa Senhora da Amizade. Clara se compromete pela assiduidade, pontualidade, evangelização. Faz em silêncio a chamada. Inicia as orações às dezoito horas. Premia as companheiras assíduas, cobra ausências, empresta, oferece de presentes livros, cartilhas, textos e encíclicas. Canta e encanta aos finais das orações, com fé e perseverança, com carinho e amor. Não mais em oito linhas, mas em apenas três palavras: Obrigada e Feliz Aniversário!



Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates

CELEBRANDO O DOM DA VIDA
70 ANOS DE ZELINHA

ZELINHA, assim é chamada carinhosamente, pelos irmãos, pelo marido, por toda a família. Nascida em 10 de Agosto de 1949, é a sexta filha da numerosa prole de Dário Dias Silveira e Edite Gonçalves Oliveira. Foi batizada com o nome Zélia em homenagemà freira que ajudara no parto do seu nascimento- a Irmã Zélia do Hospital Santa Casa de Montes Claros, prima da parturiente e verdadeira santa, seguidora dos passos de Irmã Beata. Não temos dúvida de que Zélia herdou da sua homônima freira, sua qualidade maior: a bondade.

Menina dócil e sossegada Zélia do Patrocínio Oliveira, com cabelos claros, quase loura e a pele mais alva da família, na infância dividia o seu tempo entre as obrigações do serviço de casa com as irmãs, participava das brincadeiras da vizinhança e estudava, fazendo o curso primário no Grupo Escolar Dom Aristides Porto onde sua mãe era auxiliar-diretora. A seguir cursou o Ginásio e o Curso Magistério no Colégio Oficial Professor Plínio Ribeiro, escola pública, mais conhecida como Escola Normal. Destacando-se como aluna exemplar, sempre com boas notas e boa participação, formou-se no 2º grau em 1967, quando começou a trabalhar como professora primária na mesma escola onde iniciara seus estudos: o Grupo Escolar Dom Aristides Porto.


Zélia do Patrocínio Oliveira

Em busca de mais saber, preparou-se para o vestibular e ingressou no Curso de Pedagogia na antiga Fundação Universitária Norte Mineira, (hoje Unimontes) tornando-se presidente do Centro de Estudos Pedagógicos, órgão de classe que congregava estudantes de Pedagogia da mesma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Na mesma Faculdade veio a ser monitora da cadeira de Sociologia Educacional do mesmo curso, Pedagogia. Prenunciava-se aí a grande profissional que viria a ser. Concluindo sua primeira graduação em 1971, com a inesperada morte do pai e a gradual mudança da família para Brasília, onde outros irmãos já residiam para estudos, transferiu-se para lá também, onde o futuro prometia, oferecendo-lhe oportunidade de mais aprofundamento e diversificação nos estudos, assim como possibilidades profissionais.

Chegando lá, paralelo aos seus estudos e trabalho, teve que se tornar uma “mãezona” dos irmãos mais novos, orientando-os nos acertos e desacertos da nova vida distante do habitat original, enquanto sua mãe Ditinha se resolvia a imigrar também.

Para iniciar sua trajetória de estudiosa bem sucedida na Nova Cap, fez o Curso de Especialização em Orientação Educacional na Universidade Federal de Brasília (1972/73). Naquela época, início da década de 70, através do INCRA (Instituto Nacional de Colonização Agrária), o Brasil desenvolvia importante projeto de ocupação e implantação de comunidades rurais produtivas no centro/oeste do país, ainda muito desabitado, e Zélia ofereceu presença atuante em muitos desses projetos. Foi Técnica em Educação no INCRA de dezembro/ 1971 a dezembro/81, capacitando professores dos Projetos Integrados de Colonização em âmbito nacional e organizando produtores assentados em cooperativas para viabilizar a comercialização da produção agrícola (Brasília e Sergipe). Para se habilitar adequadamente, fez cursos de Aperfeiçoamento específicos na área. Dentre vários, escolho citar:

- Curso de Administração por Objetivos e Engenharia de Sistemas (INCRA/ENCC/Brasília-1974);

- Curso Básico de Cooperativismo - INCRA/Brasília/1974;

-Curso para Desenvolvimento de Cooperativas Agrícolas /INCRA/ PARTNESS OF THE AMÈRICAS/Brasília/77;

-Treinamento em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo CIEE-
SP/Brasília/78;

- Curso de Administração de Projetos de Colonização - SUPLAN/ Fundação Getúlio Vargas/Brasília/78;

-Treinamento de Docentes e Técnicos em Desenvolvimento de Comunidades/ UNB;

- Aperfeiçoamento em Elaboração e Avaliação de Projetos para Empresas Cooperativas, este realizado pelo INCRA na Universidade Federal de Viçosa;

- Curso para Gerentes de Cooperativas pelo INCRA/CEAG de Sergipe, em Aracaju/1981.

No meio de toda esta movimentação ainda acrescentou ao seu extenso currículo mais uma graduação, desta vez em Economia, pela Universidade do Distrito Federal, anos 78/79, completando o curso nas Faculdades de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis Tiradentes, na cidade de Aracaju/Sergipe em 79 e 80, para onde se transferiu devido ao seu casamento com o sergipano Dr. Dalmo Brito Seixas, pessoa da mais elevada qualidade, engenheiro agrônomo formado
pela Escola Agronômica da Universidade Federal da Bahia, por muitos anos Diretor da CODEVASF (Companhia do Vale do São Francisco)- 4ª Superintendência Regional.

Como Técnica em Educação do INCRA, foi largo o seu exercício em Coordenadoria Regional de suas áreas, na coordenação de Seminários, Encontros, Estágios e Intercâmbios. Para comprovar o dito, cito alguns trabalhos realizados com a sua participação, através deste órgão:

Levantamento de necessidade em áreas de atuação do INCRA nos projetos de colonização Goiás/Mato Grosso/Rodônia/Acre para implantação de programas de desenvolvimento rural/72/73.

Participação, Implantação e Dinamização da Rede Escolar do Projeto Integrado de Colonização Iguatemi (Mato Grosso/73).

Trabalhou na Elaboração e Metodologia de Implantação e Desenvolvimento dos Centros Cooperativos de Treinamento Agrícola -CCTAs (Brasília/73).

Foi coordenadora e instrutora de Curso de Atualização Pedagógica e Preparação de Mão de obra Rural e Técnica em educação - MA/ INCRA - Departamento de Desenvolvimento Rural (73/75).

Como economista, trabalhou na CODEVASF de dezembro/81 a junho/2008, na área de produção das áreas irrigadas do Baixo São Francisco; na área de planejamento (acompanhamento, avaliação e orçamento), foi Chefe do Grupo de Desenvolvimento Rural da 4 SR (1995 a 1996).

Foi Chefe da Divisão de Produção da 4ª SR (1996 a 2002).

Também Chefe do Serviço de Projetos Especiais da 4 SR (2002 a 2003).

Foi Assistente do Superintendente da 4ª Superintendência Regional e Chefe -Substituta de Gabinete da mesma (2003 a 2008).

Em 25/07/1985 foi cedida ao Governo do Estado de Sergipe para prestar serviços na Secretaria de Estado da Agricultura, onde permaneceu por quatro anos. Participou da implantação da Fundação de Assuntos Fundiários do Estado de Sergipe, onde exerceu o cargo de Chefe da Assessoria de Planejamento, no período de 1987 a 1989.

Escreveu e publicou o: Manual do Rizipiscicultor - 1985 (CODEVASF).

Aposentou-se em 01 de julho de 2008, com 40 anos, sete meses e cinco dias de trabalho, deixando um “rastro” de ética e luz por onde exerceu seu labor.

A trajetória de vida e percurso profissional de Zelinha é mais uma história de vida que enche de orgulho a família muito unida de Dário e Ditinha, que dedicaram um zelo imenso na formação do caráter de seus descendentes.

Ao se casar com o Dr. Dalmo Brito Seixas e mudar para Sergipe, Zélia ofereceu tudo que sabia, a serviço daquele Estado. Ofereceuà nós irmãos mineiros de Montes Claros, as delicias da hospedagem a beira-mar. Do grande amor do casal, Zélia e Dalmo nasceram 2 lindos filhos, nossos amados sobrinhos Márcio, formado em Engenharia Elétrica pela USP e Frederico, formado em Propaganda e Marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing/São Paulo). Ambos hoje residentes em São Paulo capital. À eles se juntaram os dois filhos do primeiro casamento de Dalmo, o Breno e a Kika (Monique), também nossos sobrinhos amados, ambos formados em Administração de Empresas em faculdades de Sergipe.

Pois bem, feita esta rápida apresentação de Zélia, apresso-me a explicar a razão deste artigo, que é a narrativa da celebração dos seus 70 anos de vida no dia 10 de Agosto passado (10/08/2019). Uma festa sem igual, verdadeira confraternização de toda a família, que se deslocou de todas as regiões deste imenso Brasil, para estar em Aracaju, reunida em louvor à vida desta tão amada pessoa. Já se tornou uma tradição desta família montes-clarense, os irmãos Patrocínio Silveira, a comemoração dos 70 anos de vida de cada um dos seus membros, com uma grande festa de confraternização de toda a família. E, como sempre, também desta vez, vivemos momentos de amor e alegria incomparáveis.

A aniversariante apareceu com um vestido vermelho belíssimo, digno de filme hollywoodiano, arrancando exclamações de admiração dos presentes.

Na casa de festa, ricamente decorada com profusão de flores, fora montado no centro do palco, um altar religioso onde foi oficiada a missa em ação de graças pelo pároco da igreja católica, que Zélia frequenta e da qual é coordenadora do dízimo e participante do coral religioso. Presentes ao evento os participantes do coral que embelezaram a liturgia com seu canto harmonioso. A seguir rolou farto o vinho branco e tinto, o uísque, a cerveja, os refrigerantes; tudo da melhor qualidade. Salgados finos e fartos foram servidos, um verdadeiro banquete e a animação foi geral, todos os parentes vindos de lugares distantes, alí se encontrando, se abraçando. Uma verdadeira manifestação daquele amor fraternal tão bem plantado nos corações dos filhos de Dário e Ditinha. Quando a animação já se encontrava em completa ebulição, foi dado um sinal para o início das homenagensà aniversariante, as quais transcrevo abaixo e estas começaram pelas falas dos filhos. Primeiro falou o primogênito Márcio Oliveira Seixas:

“Para mamãe,

A PUREZA

Que mulher forte, de princípios, de carinho e amor, e que sempre a vida nos alegrou.

Gosto de dizer que Dona Zélia é um dos seres humanos mais puros, únicos, que encontrei na vida. E tenho grande sorte deste encontro ter sido como minha mãe.

Desconfio que nunca tenha existido maldade ou outros sentimentos ruins em seu coração. Ele me diz o contrário, mas me faltam provas que confirmem isto. Só vejo luz, serenidade e afeto em tudo o que faz.

Seus valores, seu carinho e sua dedicação nos moldaram na vida e em nós deixa o seu legado. Mas não só em nós, e sim em todos que têm a benção de ter compartilhado algum momento na vida: na família, no trabalho, na igreja, nas amizades....

Hoje é um dia de festa muito especial: merecido. Dia de celebrar seus 70 anos com a certeza de que até aqui foram bem vividos e que vem muito mais pela frente. De maneira mais leve, menos responsável e mais plena, no auge da sua sabedoria e serenidade.”

“As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”
Carlos Drummond de Andrade

Emocionada, Zelinha recebe abraços e beijos do filho.

Imediatamente se adianta o outro filho, o Frederico Oliveira Seixas, que discorre de maneira muito apaixonada sobre as qualidades da mãe e seu amor por ela. Todos ficaram comovidos.

“Para minha mainha.

AMOR

Existem diversas formas de expressar nosso amor. Às vezes a melhor maneira é o silencio, mas em outras a gente sente uma necessidade enorme de gritar para o mundo todo e mostrar o tamanho do nosso amor. Hoje sinto essa necessidade! E vou fazer de uma forma que eu acho que melhor mostra quem é a minha mãe. Através do aprendizado que tive com ela!

Me perdoe toda família, mas vou direcionar meu olhar e minhas palavras diretamente a ela, tá bom?

Com ela aprendi a andar, a falar, a me acalmar, a andar de bicicleta!! Mesmo que andar de bicicleta não seja a especialidade dela (mas você lembra mamãe daquele momento lá na fazenda de Tatau...).

Com ela aprendi matemática, História, Geografia, Ciências, Português! Aliás neste último sempre demonstrou a importância de sabermos nos expressar, comunicar de ser e nos fazer ser entendidos.

Com ela aprendi a ter perseverança. A não desistir diante qualquer dificuldade, a se manter firme, confiante, mesmo quando você parece incapaz de resolver.

Com ela aprendi a ter paciência. A respirar, pensar e não deixar as emoções tomarem conta da razão. Mas que a emoção também faz parte da construção da paciência e que temos que saber balancear os sentimentos.

Com ela aprendi que as vezes, mais importante do que falaré ouvir. Absorver tudo aquilo que ouvimos e transformar isso junto com nossas experiências no nosso ponto de vista.

Com ela aprendi a mediar. Diante dos conflitos, saber ouvir as partes e trazer ambos para o ponto em comum. Quantas vezes ela não fez isso no nosso dia a dia...

Com ela aprendi que a honestidade é um valor inegociável. E
deve ser mantido como base do nosso ser.

Com ela aprendi que na vida de um ser humano é importante
construir valores. Eles que vão definir quem você é e quem, os seus serão.

Com ela aprendi o que é lealdade. Ser leal a sua família, ao próximo, aos seus valores, a sua crença.

Com ela aprendi a ter juízo. Afinal, acho que ninguém mais nessa vida ouviu tantas vezes a célebre frase: Juízo meu filho!! E até hoje beirando os 40, onde quer que vá, ainda escuto: Juízo!! E eu ficava irritado, brigava com ela, falava que ela não confiava...

Como fui ingênuo... Foi exatamente isso que me fez ter juízo... Qualquer atitude ou qualquer ação, eu sempre pensava nela!!

Com ela aprendi a amar o próximo. Que somos todos iguais e que nossa missão passa sim em cuidar uns aos outros. E não falo somente de família. Mas de maneira geral! Como um verdadeiro conceito de vida.

Com ela aprendi que uma das maiores demonstrações de amoré a renúncia. E como ela renuncia... Renunciou ao convívio de seus filhos para que eles pudessem seguir e construir suas próprias vidas. Renuncia às infinitas vontades do Dr. Dalmo... Renuncia, renuncia, renuncia...

Com ela aprendi o que é amor. Na sua mais pura essência... A querer dar, sem pedir nada em troca. A se doar ao máximo, sem medir esforços, só pela felicidade de amar.


Com ela aprendi que podemos ser seres humanos melhores. A cada dia... Que existem pessoas puras, transparentes que transbordam amor... Aliás, ela para mim é o maior exemplo disso...

Com ela aprendi que minha missão de pai vai muito além do que apenas trazer para o mundo. Vai na construção do amor e dos valores do 1º dia até todo sempre...

Com ela aprendi o que é ser mãe... E que exemplo de mãe...

Mainha, aprendi, aprendo e sempre vou aprender com você. Amor em matéria, pessoa mais pura e doce que conheço. Amo cada pedaço de você. E agradeço a Deus por ter me colocado no mundo como seu filho!

Te amo!”

Ao terminar o seu discurso, Frederico se emocionou com o entusiasmo dos aplausos. A seguir, eu, representando as irmãs, li o poema brincalhão que tinha composto para a ocasião e que continha um pouco da nossa história:

“PARA ZÉLIA, MINHA IRMÃ/AMIGA
FRAGMENTOS – Felicidade Patrocínio
Nos bons tempos de criança
Sempre juntas, lá estávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu.
A unir-nos; o Amor, o sangue, os segredos,
e a inocência das gargalhadas fáceis.
As brincadeiras de quintal,
As rodas cantadas nas portas de rua,
O sequestro dos doces bem guardados,
O exercício da tabuada.
Sempre juntas, lá estávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu.

Os casos de assombração,
Arrepiando a pele e fechando os olhos,
Criando medo de escuro e do desconhecido.
Roupa nova, vestidos de ver Deus,
Para as missas domingueiras.
A cruzada infantil e o Padre Dudu
O semanal catecismo da Matriz .
Aladas e brilhantes como anjos
Subíamos no altar de Deus
E lá todos os santos coroávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu

As viagens no trem do sertão,
Tarefas divididas em discussão,
Receber em hospedagem parentes e amigos.
O Grupo Escolar Francisco Sá.
Seu Dário chegando das viagens,
Com gostosuras no caminhão
E um coração de amor, saudade e afeto.
Animação e alegria, quem dá mais?
Nos leilões vicentinos de caridade
De olho nas prendas e bolos,
Zélia, Graça, Márcia e eu

Mês de junho: canjica, quentão
Chapéu na cabeça, vestido de chita,
Laços, babados rodando no espaço
Danças, quadrilhas, quintal ou salão,
Pipoca, estrelinhas, traques, foguetes,
Pulando fogueira, soltando balão.
Mais adiante na idade,
Flertando os amigos atrás dos irmãos
Lá estávamos nós,
Zélia, Graça, Márcia e eu.

Aos manos meninos, do mais velho ao menor,
Sete jovens saudáveis, bonitos e fortes
Eram poupados serviços domésticos
Tarefas essas, restritas à mulher
Herança ancestral e cultura de época,
Que tomamos a providência de modificar.
Protestos surgiram, no entanto sumiram
E eles passaram a ajudar.
É Verdade o que digo, podemos provar
Zélia, Graça, Márcia e eu.

Tuca do Cassimiro, Carlinhos do Ateneu
E nós torcedores sem arquibancadas,
Mudávamos de time, pra lá e pra cá
O que dependia do agrado distribuído.
Lô, trabalhando desde menino,
Mãos abertas para a mãe ajudar,
Zé, no quintal, celebrando missas,
Desbravando livros e idiomas,
Arrebatando em concursos de oratória.
E a seguir, Tião, com leveza
Foge do seminário : Paz e Amor, Bicho!

Doca e Beto muito unidos, raspas do tacho familiar,
Grudam na saia da mãe e como demoram a soltar...
Vendo e vivendo tudo isto, lá estávamos,
Zélia, Graça, Márcia e eu

Janelas e portas abertas,
Vizinhos, parentes ou não,
Todos entravam, muitos ficavam.
E o milagre dos peixes e pães
Era prática rotineira da mãe
Que em casa e na escola educava,
No coro da igreja cantava.
Nas vocações sacerdotais atuava
E ainda aos velhos do asilo assistia,
Trabalhando dia e noite, noite e dia
O vigor e a alegria, nunca perdeu,
Podemos isso provar,
Zélia, Graça, Márcia e eu.

Um dia veio um vento muito forte.
Varreu telhas, varreu chão...
Levou Seu Dário, levou Tuca
E espalhou a família multidão.
Era hora dos destinos, cada um buscar o seu,
Pois a vida é caminho que se faz no mundo e no tempo.
E todos se foram pelas estradas do Ser
Cada qual carregando em si, os outros,
No mais fundo do coração,
Pois, como disse o poeta:

“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.”

E, então, cada um tomou seu rumo.
Estradas se abriram em toda a direção
Crescei e multiplicai;- já dizia o bíblico refrão
Uns obedeceram, outros não.
Mesmo assim, aqueles onze, hoje são muitos.
Quando se juntam, é multidão.

E, mesmo afastados pela geografia,
Não nos perdemos de nós mesmos.
Se um diz: ai, ui... todos respondem e correspondem
Se é dor, choramos juntos,
se é alegria, nos alegramos.
Como na última perda, a partida do mano LÔ.
Verdade essa que podem confirmar
Carlinhos, Zé, Tião, Donério, Beto, Zélia, Graça, Márcia e eu.

Por isto querida Zélia,
Ser de bondade, ternura e altruísmo,
Célula vital e consistente
de tão robusta teia familiar...
Aqui viemos para celebrar seus 70 anos de vida,
Para abraçar, beijar e amar a você e à sua família
Nesta data querida.
A você, muitas felicidades e muitos anos de vida.

Após oferecer meu afeto através deste singelo poema, o nosso irmão José do Patrocínio pediu a palavra, para , também saudar a aniversariante.

“De Zezinho para Zelinha: 70

Perscrutando o meu baú de recordações (adoro papel), achei um precioso bilhete. Aspas. “Maio/1967. Zezinho, você é mesmo uma brasa, mora” ou melhor, um carvão incandescente, reside? Está impecável, como tudo mais em sua vida. Bola branca. Zélia”.

Naquele então, estava com vinte e um anos. Zélia, com dezessete. Interpretei o bilhete como uma declaração de que eu era bonito e de que, como diria Roberto Carlos, nosso ídolo juvenil, mil garotas poderiam estar de olho em mim.

Acontece que eu era inibido. Deixara o Seminário há pouco. Tinha espinhas no rosto e sabia que não era tão bonito como meus três irmãos mais velhos: Tuca, Carlinhos e Lourival. Mas Zelinha confiava em mim e, como um cupido munido de flechas, me apresentava, com orgulho, a suas amigas e colegas. Zelinha foi a principal responsável pela minha iniciação amorosa e pela auto-confiança que fui adquirindo.

Zelinha, se fosse enumerar, uma a uma, suas qualidades, teria que despender todo o tempo desta festa, pois elas superam os seus setenta anos de vida. Gostaria, contudo, de destacar uma qualidade que, na sua pessoa, atinge um patamar insuperável: o ser cuidadosa, o ser cuidadora, o cuidar, o cuidado com os outros. Graça me relembrou, com assombro, o cuidado extremo que você, jovem professora, dedicou ao menor Ariosto, surdo e mudo, transformando a vida daquele menino.

A casa de Dona Ditinha e Seu Dário, em Montes Claros, tinha gente pelo ladrão: doze filhos, avós, primos residentes, parentes e amigos em hospedagem frequente. Era um entra e sai. Os homens eram maioria, e dado o machismo da época, pouco ou nada contribuíam para o intenso labor doméstico, embora contribuíssem muito para aumentar o trabalho. Zélia segurava o rojão com a Dade, mas esta deixou precocemente nosso lar ao se casar com o Carlos Leite. Graça era ainda muito nova, mas logo entrou na dança. Durante muitos anos, Zelinha atuou como uma segunda mãe da nossa numerosa família, especialmente quando mamãe ficou viúva e, mais tarde, teve um AVC. Que o digam Tião, Graça Donério, Roberto e Márcia, irmãos mais novos. Zelinha era toda ouvidos e olhos para eles. Como pedagoga, desenvolveu uma técnica para apartar brigas de Donério e Roberto.

Toda essa azáfama não a impediu de trabalhar fora e, ao mesmo tempo, fazer o curso noturno de Economia.

Essa qualidade de cuidadora cuidadosa se intensificou ao longo dos anos. Quão felizes e privilegiados são o Dalmo, os filhos, os netos, os enteados, as noras e o genro da Zelinha, em tê-la como esposa, mãe, avó, madrasta e sogra.

Ergamos, pois, um brinde de gratidão à aniversariante Zelinha. Viva a cuidadora cuidadosa de todos nós.”

Mais abraços e beijos entre os irmãos. E ainda foi feita a leitura de uma linda poesia composta e enviada para a aniversariante, pelo nosso irmão Roberto, o único que não pôde comparecer por motivo de força maior:

“Para Zélia
ZELINHA CHEIA DE LUZ E GRAÇA
Por Roberto Patrocínio

Zelinha aniversariante cheia de luz e graça,
plena de glória, transbordante de felicidade,
quem lugar cativo no céu já tem garantido, só
faltando ser decidido de qual lado de Deus Pai;

Zelinha mais nova setentona, irmã terníssima,
quem em nossa casa, por um dom muito seu,
pacificava os espíritos e reinstaurava a razão,
pondo fim aos conflitos e às incompreensões;

Zelinha, que por um sem-número de motivos
morará sempre nos nossos gratificados e mui
gratos corações, no cantinho deles onde amor,
amor, amor, junto com carinho, é só o que há;

Zelinha, enfim, nesta data querida, em que seus
fãs apaixonados loucos estamos para abraçá-la
e adorá-la e cobri-la de beijos e afagos, permita
que por um instante sua lindeza ímpar eu cante.

Doce menina que ao nascer podia ter-se chamado
Benigna, pois, convicta da fé que Dário e Ditinha
nela tinham, obrou Nossa Senhora do Patrocínio
para que uma filha lhes nascesse benigníssima!

Outro seu nome, mana querida, conforme bem sei,
é Maestria! Eficácia e eficiência eram já marcas suas
quando você estreou como profissional: professora
particular de Carlos Ariosto, surdo-mudo osso duro.

Por falar em epítetos, acaso lá em Moccity você era
chamada ou me chamava por apelido carinhoso?
Pai me chamava de Berrrrtão, mãe, de Rob. Afinal,
foram eles ou o Lim quem apelidou-a de Zéulinha?

Zélia Patrocínio e, com efeito, Patrocinadora! Quem
com o paquera me levava a parquinhos e, nos meus
dezesseis, levou-me ao mar e me deixava rodar com
seu Fusca azul, o qual com gosto eu lavava e polia.

Educadora, cobrou-me até o último centavo, quando
um amigo a quem eu emprestara seu carro o bateu.
O amigo deu o cano, daí que meu salário de office-boy
era todo pra pagar o conserto, numa lição que aprendi.

Mas mais incrível e inesquecível foi essa mana fabulosa
também ter sido uma Mãe para mim, com seus talentos,
como argúcia, visão e firmeza, e com suas tecnologias,
como afeto, amor e compaixão, me salvando e erguendo!

Por essas e muitas outras, o que há já de estar óbvio não
custa mesmo assim dizer: Zelinha é benignidade em pessoa!
Seu nome é música pros meus ouvidos! E sua lembrança,
uma carícia no meu, eternamente, grato coração!

FELIZANIVERSÁRIO!!!!!”

Finalizando os discursos, Zélia apresentou palavras emocionadas de agradecimento que transcrevo aqui para deleite do leitor:

“QUERIDOS FAMILIARES E AMIGOS,

Ao projetar o convite para este Encontro de 70 anos, nele me expressei que “celebrar o dom da vida com as pessoas que amamos é o melhor presente de aniversário”. E que presentão de Deus eu estou recebendo com a presença de todos vocês que vieram até aqui - uns de perto e outros beeem de longe, do sul e do norte, do leste, do oeste e de todo o lugar do Brasil.

Vejo e sinto todos vocês como a minha grande família, porque família não é só a de sangue e de relação genealógica, mas também aquela que por extensão construímos no dia a dia, nas relações de vizinhança, de estudo e de trabalho, nas relações das comunidades que partilhamos e na relação das pessoas que, por circunstâncias adversas, se cruzam na nossa caminhada. Olho este público e vejo meus irmãos Patrocínio tão queridos e entre eles os que pra mim já se fizeram de pai, assim como, os que também adotei como filho tamanha as nossas diferenças de idade e a necessidade de darmos uns aos outros mãos, ombro e colo; vejo os agregados desta família de origem, nos quais cunhados, sobrinhos e as novas gerações deles decorrentes, cuja fraternidade se estende eternamente entre nós na relação de pertencer e do bem-querer; vejo representantes da minha infância, juventude e dos tempos de universidade, o que me faz retornar à minha querida Montes Claros onde está a base da minha existência. Chego aos tempos de Sergipe e vejo a Família Seixas, que mais que cunhados e amigos também se fizeram meus irmãos, tamanha a acolhida que sempre me deram, com muito carinho e consideração. Das famílias por extensão, vejo os colegas-amigos de trabalho do INCRA e da CODEVASF, os quais, em irmandade, convivemos grande parte de nossas vidas numa relação de cumplicidade e de comprometimento pela causa pública. Dos dias atuais, vejo a Família da Igreja, onde juntos, na inspiração da espiritualidade, procuramos meios de servir a Deus e ao próximo. Porúltimo, na extensão do meu ser, está a Família que constitui: o meu esposo e companheiro de quatro décadas, os filhos dele que também adotei como sendo meus, os filhos que gerei, criei, eduquei e que me são dádivas do céu, junto aos netos que, na virada da curva, nos fazem revigorar na energia e na alegria.

Obrigado a todos por me prestigiarem e me propiciarem tamanha alegria! Da sensação dos Setenta Anos, o que posso me expressar a vocês? Me sinto leve, pois ainda não reflete nos meus ombros o peso da terceira idade. Olho para trás com gratidão porque a vida foi generosa para comigo: tive pais zelosos, honrados, guerreiros e o calor de uma família sempre unida; tive oportunidades de estudo e de trabalho. Cresci, caminhei com minhas próprias pernas, me afirmei e sempre me senti estimada e reconhecida. Encontrei meu amor, constituí família, tive filhos, plantei árvores e, se ainda não escrevi um livro, as escritas que em alguns espaços já foram publicadas valem por ele...

E agora, o que esperar da nova década, consciente de que a terceira idade vem para se estabelecer de fato? Certamente manter a vontade de viver, alimentar a alma e me desprender mais. Gerar novas emoções, porque a vida para ser plena tem que ser permanentemente reinventada. Mas quero, acima de tudo, olhar pra frente com perseverança e confiança, cultivar o espírito de menina que ainda sinto em mim, usufruir mais das amizades que as passagens do tempo me concederam, curtir com intensidade os meus amores e ter sempre a presença de Deus na minha vida.

Gratidão a todos vocês que fizeram e fazem parte dos meus setenta anos de vida.”


Após os discursos, foi cantado entusiasticamente o Parabéns pra você, com vivas em torno de um belíssimo bolo confeitado cheio de rosas. As máquinas fotográficas “pipocavam” em flashes diante das poses para fotos históricas dos familiares reunidos. A partir daí o salão superlotou, o conjunto musical reforçou o show, variando os estilos musicais e agradando a todos, que “pegaram fogo” na coreografia quando desembarcou nas músicas dos anos 60. Foi a apoteose; crianças, velhos, jovens, tímidos ou não, caíram na dança até a madrugada.

E nós, os irmãos e irmãs Patrocínio, fomos nos despedindo e pegando de volta a estrada, deixando nutridos os corações de Zélia e sua família e levando no nosso, o Amor aquecido por mais um encontro.



Filomena de Alencar M. Prates
Cadeira nº 74
Patrono: Luiz Milton Prates

ASSOMBRAÇÕES

Pelas estradas da vida encontramos altos e baixos, claros e escuros,
verdades e mentiras. Baseando-se em fatos falsos ou verdadeiros,
nos damos conta de que devemos narrar histórias muitas
vezes fantasiosas. Na nossa infância, encontramos pessoas que contam
histórias- e juram de pés juntos – como foram passadas nas fazendas
dos seus avós ou de outros antepassados, cujos nomes se perderam “na
rolança do tempo”.

Muitas vezes, as pessoas ficavam proseando no alpendre das casas de fazendas contando histórias, tomando café com beiju, ou a pinga, etc. Muitos desses causos eram sobre caçadas, pescarias e outras vezes, as conversas passavam para o plano de assombração. Aí as coisas mudam de figura; há sempre alguém contando um “causo” que jura ser verdadeiro.

Havia no município de Aurora, Ceará, fazendas centenárias em cujas casas quase sempre apareciam algumas assombrações. Na fazenda Taveira, propriedade do meu avô materno, certa vez um funcionário avisou ao meu avô que não iria morar naquela casa mais, pois lá estava acontecendo coisa muito estranhas.

- Como Assim? – Perguntou meu avô.

-Na cozinha, jogam pedras nas pessoas, areia na comida, o gado não tem sossego à noite no curral, fica berrando e correndo como se houvesse alguém perseguindo. Um horror!

Meu avô mandou selar seu cavalo e seguiu para a fazenda chegando lá à tardinha. À noite ouviu latidos e grunhidos de cães como se alguém estivesse os ameaçando. Lá pelas nove horas da noite armou uma rede para dormir, mas não conseguiu deitar-se, pois a rede caía como se alguém estivesse sacudindo-a. Ele se ajoelhou, pegou seu rosário, sacudiu várias vezes, rezando o Credo. Voltando à cidade, meu avô foi à casa do vigário, nessa época, era o padre Vicente Bezerra (o mesmo que fez o casamento dos meus pais), contou o acontecimento e convidou o vigário para ir à fazenda Taveira.

O padre foi, mas logo na chegada, recebeu uma pedrada na cabeça que partiu-lhe a orelha esquerda. Ele revidou jogando água -benta e proferindo orações de exorcismo. A partir desse dia a fazenda voltou à sua paz costumeira.

CASA MAL-ASSOMBRADA

Meu avô era um grande latifundiário nos municípios de Aurora, Lavras da Mangabeira e adjacências. Sempre que surgiam retirantes fugindo da seca, vovô procurava abriga-los em casas quase sempre desocupadas.

Certa ocasião, um casal pediu abrigo e vovô providenciou alojamento numa das casas antigas que pertenceu ao seu pai. Era um casarão antigo na beira da estrada. O casal rinha um filho, rapaz de 22 anos, muito alto e magro; o pai falou a meu avô que o moço sofria de uma doença chamada “Tisica” (tuberculose). Esse rapaz faleceu e os pais mudaram para uma cidade da Paraíba. Meu avô mandou que a casa desocupada permanecesse de portas abertas. Poucos dias depois, as portas se fecharam como por encanto (vento). As pessoas que por ali passavam, diziam ouvir gemidos que saiam da casa, que passou a ser mal assombrada. Passados poucos dias, meu pai, sempre muito corajoso, passando perto da casa, ouviu um gemido e resolveu entrar. Já era quase anoitecer. Deu um empurrão na porta, que se abriu facilmente. Riscou um fosforo, acendeu a vela e para seu espanto, viu uma pobre vaca esquálida que ali entrara para matar a fome com algumas palhas de milho, mas o vento fechou as portas e a pobre ficou presa. Papai acabou com a assombração.

CAÇADA DE TATU

Meu pai, quando solteiro, gostava de fazer caçadas de tatu com seus amigos, o que sempre acontecia somente à noite, após a saída da lua. Esse acontecimento era uma verdadeira farra para a rapaziada daquela época. Certa noite, papai se reuniu com alguns amigos e seus irmãos Afonso, Celso e João. Saíram à noitinha acompanhados de sua matilha de farejadores: Leão, Cabete e Coronel. Cães valentes e conhecedores dos locais onde poderia haver tatus, pacas e até campeiros (veados bastante conhecidos naquela região). A turma parou um pouco para descansar e os cachorros se embrenharam na mata farejando. Daí a pouco, os caçadores ouviram três assobios; os cachorros vieram correndo e gruindo alto, como se estivesse, tomando uma grande sova. Gemendo, deitam-se junto a seus donos e dali os cachorros só saíram quando os rapazes voltaram para casa. Nessa noite, não se falou mais em caçadas de tatu.

TIRADOR DE MEDO

Eu morei numa cidade, cujo prefeito tinha muito medo de fantasmas.
Certa noite, ele esteve lá em casa, como sempre fazia, e papai começou a contar “causos” de fantasmas. Falou sobre os fantasmas de Taveira, sobre o tesouro do Major José Vieira. Foi ficando tarde e nada da visita ir embora. Morava numa mesma rua, distante apenas de um quarteirão. Foi aí que meu pai se lembrou de que seu amigo estava com medo de voltar sozinho pra casa. Num tom bem baixinho, ele pediu que papai o levasse para casa, pois ele tinha muito medo de andar sozinho à noite.

Acontece que nessa mesma cidade, apareceu um senhor que se dizia “tirador de medo”, coisa de que nunca se ouviu falar naquele lugar.

Um irmão do nosso amigo medroso procurou logo o visitante para encomendar o trabalho. Consultou seu irmão e foram procurar o mágico. Esse se prontificou em fazer a tarefa. Ficou combinado que seria num dia de sexta-feira á meia noite no cemitério. Teria que ser feito com a ajuda de mais duas pessoas. O irmão medroso, o medroso e o tirador de medo. Levariam três velas bentas. A vítima teria que ficar perto do último túmulo do cemitério e acender a vela; seu irmão ficaria perto do cruzeiro, no meio do cemitério com a vela acesa; o tirador de medo ficaria no portão com a vela apagada fazendo orações. Lá pelas tantas, uma coruja bateu asas perto do medroso. Este correu, pulou por cima do seu irmão, que, por sua vez, já corria em desabalada carreira. Atravessaram um trecho sem iluminação até a Praça da Matriz. Ali, puderam descobrir que, enquanto eles corriam, havia uma pessoa na frente que corri mais apressada que eles. Era o“tirador de medo”.



José Ferreira da Silva
Cadeira N. 49
Patrono: Irmã Beata

ANTÔNIO FERNANDES GUIMARÃES

Antônio Fernandes (Toninho), nasceu em 1º de novembro de 1947, no município de Mato Verde- Minas Gerais, terceiro, de uma prole de oito irmãos, sendo seus pais Olímpio Fernandes Guimarães e Carmelita Ribeiro Guimarães, pessoas humildes e simples por excelência, porém, honestas com muito rigor. Antônio Fernandes de uma capacidade admirável, um intelectual nato, não optou pela formação sistemática, mas por isto não perdeu o ímpeto de escrever com naturalidade e afinada correção. Por questão de necessidade abraçou com coragem o trabalho: Garçom no clube social, em restaurantes e bares, também morou em outros municípios e trabalhou em vários serviços. Em 1968, com muito entusiasmo, inscreveu-se para um concurso do banco do Nordeste para a função de contínuo-servente, considerando a sua escolaridade, as chances eram remotas, devido o grande número de concorrentes. Porém venceu as suas expectativas e foi aprovado em 3º lugar. Infelizmente não chegou a ocupar o cargo devido o número limitado de vagas para aquela função.

Antônio, homem corajoso e com expectativas não desanimou, aos 50 anos, prestou e foi aprovada no concurso junto a prefeitura de
Porteirinha, terra que o acolheu ainda criança. Ele exerceu o cargo de
Redator oficial de todas as correspondências da Prefeitura até o dia
06 de Abril de 2020, quando aconteceu a sua inesperada partida para
outra dimensão.



José Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celecino Soares da Cruz

MAIS UM VÍRUS QUE VEIO
PARA DESEQUILIBRAR OS
HEMISFÉRIOS DA TERRA

Ele surgiu simultaneamente na Europa e nos países da Ásia, mas somente a China ousou divulgar e ganhar espaço midiático naquela montagem do hospital de campanha em blocos prémoldados em dez dias – porém, os blocos demoram “N” meses para ficarem prontos.

O Carnaval importou o vírus através dos chineses e europeus (foliões do mundo inteiro) que aqui estiveram para trazer a “Coroa maligna” para os Reis da folia. Era muito dinheiro envolvido para cancelar o maior evento da terra – naquele calendário o lado financeiro era mais valioso que a infecção pelo Covid-19.

Hoje estamos assistindo o resultado da irresponsabilidade da China e da Europa de não ter contido o vírus antes. O resultado de não ter cancelado o carnaval antes da epidemia do Oriente atacar o ocidente - virando uma pandemia quase (?) descontrolada. Alias! Não é pandemia! É pandemônica (“uma mistura da bagunça com o demônio”).

Estamos diante de divergências de opiniões / governamental / social e de sentimento egocentrista.

Acontecem carreatas anti-isolamento e pró-isolamento. Um lado defende a volta do comércio e prevendo colapso financeiro; do outro aqueles que defendem o isolamento, visando se proteger. Mas, uma coisa tem me chamado a atenção: todos preferem as carreatas, pelo fato de terem a CONSCIÊNCIA da FORÇA do Coronavírus. A CAMINHADA envolve aglomeração e a aproximação, procedimentos que oferecem 90% de chance para o Covid-19 fazer a festa. - Neste quesito, todos têm razão.

Durante as CARREATAS observamos coisas hilárias, além das buzinações; motoristas e passageiros com camisas de Sindicatos e da Congregação dos Legionários – em outras carreatas, todos com camisas da Seleção canarinho e bandeirinhas do Brasil fixadas nas portas. São manifestações semelhantes a um jogo de times do “futebol americano”: “Finaceiro X Saúde”. - Ninguém nas arquibancadas, todos assistindo em casa. - Ganha aquele que fizer um “Field goal” pela opinião pública.

É indubitável que o baque será forte no comércio e no “poder aquisitivo” dos grande/médio e pequeno empreendedor; mas, estes empresários poderão ser beneficiados por meio de linhas de créditos à serem aprovadas pelo governo.

Por outro lado, o “lockdown” de cada decreto que visa evitar colonização epidêmica nos estados, fará que, a curva de contaminação e dos óbitos seja minimizada. - A família é que decide! - Ficar em casa, isolados das atividades ou isolados em hospitais, rezando para continuar vivo!

A propósito: a vida só tem uma safra. – Viva e NÃO deixe morrer!

Será inevitável evitar a “curva invertida” da recessão, será igual a “curva epidêmica”, esta ultima se achatar - a primeira será menos depressiva.

Por outro lado Coronavírus foi benéfico para alguns “fora da lei”. A Justiça concedeu liberdade para ex Dep. Eduardo Cunha – João de Deus (João de Abadiânia). Os Estados Unidos a justiça não ficou para trás, mandou soltar o Sr. José Maria Marin (aquele que fraudou a FIFA). Mas, isto, é coisa que alguns de nós não temos conhecimento dos recursos jurídicos.

Para finalizar: Temos que cuidar da saúde até quanto DEUS quiser.

Vamos tomar bastante água. A água evita que o nosso corpo fique vulnerável as inflamações e infecções. > “Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de deus, se movia sobre a face das águas” (Gênesis 1:2).

Os raios do Sol exercem múltiplos efeitos sobre o corpo humano. Eles ajudam combater bactérias e outros micro-organismos. A ação antisséptica é produzida pelos raios ultravioleta. Ajudam a sintetizar a vitamina “D” nas células. > “Disse Deus‘’: ‘Haja luz’, e houve a luz(Gênesis 1:3)

- let`s celebrate... family... friends...and life!!!

___________________
(*)José Ponciano Neto: Articulista, cronista e escritor membro do Instituto Histórico e geográfico de Montes Claros e Vice Presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas.



Harlen Soares Veloso
Cadeira N. 26
Patrono: Cyro dos Anjos

100 ANOS DA CHEGADA DO
AUTOMÓVEL A MONTES CLAROS

A edição de 13 de novembro de 1920 do Jornal Gazeta do Norte anunciou com notório entusiasmo: “Montes Claros progride! Corre pelas ruas o primeiro auto”.

Tratava-se da chegada, ocorrida três dias antes, do primeiro veículo motorizado que transitou na cidade. Era um “auto caminhão trazido pelo operoso cidadão, Cap. José Augusto de Castro”, tido como “um dos mais dedicados amigos de Montes Claros”. A vinda do“bicho que anda por si mesmo” foi saudada com “vivas e foguetes”.

A reportagem esclarece que a aquisição do veículo se deu pela necessidade de transporte de materiais para a construção do prédio da Cadeia e Fórum da cidade, edifício ainda existente no cruzamento das Ruas Camilo Prates e Dom João Pimenta. Segundo o jornal, o Capitão José Augusto de Castro “assoberbado, como contratante das obras da Cadeia e Fórum, pela crise de transporte de material, pensou e logo executou a vinda de um auto que lhe minorasse as dificuldades”. “Pediu, obteve e, ele próprio foi buscar um Ford de 1 tonelada para o serviço do transporte do material de que precisa”.


Ford TT, de 1917, possivelmente o mesmo modelo que circulou
pelas ruas de Montes Claros em 1920.


Prédio da antiga Cadeia Pública e Fórum
de Montes Claros, em cuja construção foi
empregado o primeiro veículo motorizado a
circular nas ruas da cidade.

MATÉRIA DE JORNAL

Embora a notícia não especifique, tudo indica que se tratava de um caminhão Ford modelo TT. Os primeiros veículos de carga da Ford norte-americana eram derivados do Ford Modelo T, denominados TT, e foram produzidos a partir de 1917. Os Modelos TT foram importados desde o início das operações da filial brasileira em 1919. A aquisição de uma unidade pelo Cap. Castro cerca de um ano depois é sinal de sua operosidade e espírito de iniciativa, tanto que era considerado um homem para quem “as dificuldades foram criadas para serem removidas e, assim, nenhuma lhe entorpece a marcha de seus empreendimentos”.

Nelson Vianna também mencionou, em suas Efemérides Montesclarenses,
a notícia daquele 10 de novembro de 1920: “Pela primeira vez entra um veículo motorizado na cidade de Montes Claros: um caminhão. É da marca Ford, tem capacidade para 1500 quilos” (...)“Provocou, na cidade, grande movimento de curiosidade e regozijo”. O mesmo autor narrou que a construção do edifício da Cadeia e Fórum“foi arrematada pelo Cap. José Augusto de Castro, pela quantia de 87:120$300”, mas “custou a importância de 93:826$400” quando foi entregue, em 05/04/1923.

O Capitão Castro nasceu em Barbacena/MG, em 19/04/1874. Iniciando a sua carreira no comércio do Rio de Janeiro, tornou-se viajante comercial. Abandonando esta profissão, veio para Montes Claros, onde se dedicou a construções civis, tendo também iniciado a construção do Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Foi 1º vice-presidente da ACI (Associação Comercial e Industrial) de Montes Claros, em 1920. Faleceu em 07/09/1943.

Atualmente, segundo o IBGE, Montes Claros tem a 6ª maior frota de Minas Gerais, com um total de 216.885 veículos (dados de 2018).



Hermildo Rodrigues
Cadeira N. 35
Patrono: Ezequiel Pereira

O “BICHO DA CARNEIRA”
DE PEDRA AZUL

Altiva aos pés de gigantescas pedras com destaque para a Pedra da Conceição – assim chamada por aparentar um altar da Virgem Maria – refulgindo a beleza única do nascer ou do por do sol: eis Pedra Azul, a Princesa do Vale. Não é somente o berço dos talentos Paulinho Pedra Azul, Saulo Laranjeiras, Murilo Antunes, Célia Maria, do caricaturista Léo Almeida, ou da pedra de água-marinha “Dom Pedro”, considerada a maior do mundo, é também terra das mais ricas tradições e cultura.

O visitante se encanta diante da beleza dos casarões da avenida Coronel Joaquim Antunes e avenida Colatino Antunes. É de lá que vem a história do “Bicho da Carneira”, que de tão formoso promoveu festa na cidade, da qual pude compartilhar, com a presença do ex-prefeito de Montes Claros, Dr. Mário Ribeiro e sua esposa Maria Jaci de Oliveira Ribeiro, filha da cidade.

Pedra Azul é parte da minha vida. Nessa época era dividida na política entre admiráveis famílias: Almeida, Mendes, Faria, Rua, Veloso e Moraes, gerações servindo a cidade com dignidade e competência. Mesmo nos carnavais, os foliões se divertiam em clubes sociais separados. Em janeiro de cada ano, sobrevivendo à hoje “A festa do boi” animava a cidade. Nas festas juninas, a rua Timbiras , onde residia, era enfeitada com figueiras e bandeirolas, com farto comes e bebes. Estão lá ainda bem administrado a Escola Estadual, Coronel Pacífico Faria, onde fiz o curso primário, cuja a diretora Lourdes Ruas era um exemplo e a Escola Estadual Clemente Faria. E, também, desde 1945, o Ginásio de Pedra Azul, por décadas, abrigou o melhor ensino da região, cujo dono era o ex-deputado João de Almeida, hoje a Escola Estadual. O diretor Reinaldo Veloso, professores como Aldiva de Morais, Terezinha Ione, Nilde, Dr. Henrique, Clementina, Dr. João Babato, todos zelavam por este objetivo.

Embora particular, as portas eram abertas para as pessoas carentes estudarem, tal generosidade de João de Almeida, entre os colegas do ginásio, ainda residem na cidade: Alírio Pereira, Silvio Souza e Maria José Figueiredo.

Até o inicio dos anos 50 a economia da cidade era vigorosa. Realizou a primeira Exposição Agropecuária no “Vale”, dispondo do Parque Getúlio Vargas. O capim colonião nativo da região, fortalecia a pecuária, a sua maior riqueza, cujo os animais eram comercializados para o Nordeste, e no inicio dos anos 60 também para o extinto FRIGONORTE, em Montes Claros. O DER um dos primeiros do interior de Minas, sob a chefia do engenheiro Aurélio de Almeida, era atuante nas estradas da região. Havia duas linhas de ônibus que eram os principais destinos daqueles que emigraram como eu. para continuar os estudos. O Estádio Raul Ostiano, o único com arquibancada coberta, destacava o futebol na região, a demanda por Jeep levou a Willians Orveland a abrir concessionária na cidade. A Panair do Brasil fazia um voo semanal para Belo Horizonte, vias Montes Claros. O maior empório da região era o grande Bazar 36, vendia de tudo: tecidos, sapatos, vidros, carros, peças e etc. e no seu interior,
a casa Bancário Almeida oferecia crédito concorrendo com o Banco do Brasil e o Banco Mineira da Produção. Clemente Faria saiu de lá em 1925 para criar em Belo Horizonte o Banco da Lavoura. O seu filho Aloísio Faria, foi o maior benfeitor do Hospital Universitário Clemente Faria, em Montes Claros.

Com tudo, a partir da metade dos anos 50, a cidade passou a sofrer um processo de estagnação na sua economia. Os investimentos estaduais e federais não chegavam. Embora encravada com alguns vizinhos, como Almenara e Araçuaí e entre o rico Sul da Bahia e o Norte de Minas, não figurava na área de atuação da SUDENE e nem do Banco Nordeste do Brasil - BNB. Uma das explicações é que no traço original houve falha de engenharia. Somente foi incluída em 1998, quando a SUDENE já não era a mesma: enfraquecida, extinta em 2002 e reimplantada em 2007, sem os incentivos fiscais do Art. 34/18. Em anos recentes, a cidade vive safra de bons prefeitos. Está incluída nos programas: Caminhos de Minas para afastamento até Almenara e no PAC-2 do governo federal, do qual já recebeu parte de um total de dez obras. Na monumental festa do centenário, em junho de 2012, observei que o comércio cresce a cada ano; Empresa benéfica no município, o minério grafite, de múltiplas utilizações.

Finalmente, voltemos ao bicho. É a lenda de um monstro que aterrorizou as crianças do Vale do Jequitinhonha, na vizinha Bahia e parte do Norte de Minas. Segundo a lenda, ele assume as diferentes formas e a mais frequente é de um cachorro preto e grande, que aparece nas noites avançadas ou de madrugada. Muitas vezes as mães ameaçavam as criancinhas com as aparições do bicho para que elas dormissem mais cedo. Havia várias versões para o surgimento dessa mitologia popular. Uma delas disse que o cidadão Joaquim Antônio de Oliveira, pasmem, vindo de Gorutuba, hoje Janaúba – MG, havia sido enterrado em túmulo projetado por ele mesmo, em gavetas que eram novidades na época no novo cemitério. Esta gaveta ou cerneira rachou misteriosamente, aparecendo pelos de animais entre as fendas. A sepultura foi reparada, mas as rachaduras reapareciam mais de uma vez. E desde então se diz que o bicho sai do caixão nas noites sem lua, para assustar pessoas e arrancar as cabeças de cachorros ruas a fora.


A cidade de Pedra Azul na década de 20.



Itamaury Teles de Oliveira
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates

PARABÉNS MÃE, AVÓ, BISAVÓ,
TRISAVÓ, CENTENÁRIA!

Hoje, dois de abril de 2020, uma pessoa muito especial, de uma grande família, faz aniversário. A Dona Palmyra, que é Santos, que é Oliveira, que é Gomes, que é Gonçalves, queé Pereira, que é Teles, que é a decana dos “Viriatos” montes-clarenses; que é a Presidente de Honra do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros; que ocupa cadeira como escritora, na Academia Feminina de Letras de Montes Claros; que foi professora de várias gerações de porteirinhenses, que a adotaram como conterrânea, com direito a título de cidadania concedido pela Câmara Municipal; que comandou o grupo de Pastorinhas, por quase três décadas; que escreveu dois livros depois dos 90 anos; que joga buraco até hoje - e ganha -; que não perde oportunidade de viajar; que fraturou a perna aos 90 anos, jogando vôlei; que dirigiu escola primária e escola técnica de comércio; que lecionou português, religião, didática, OSPB e outras disciplinas; que nunca parou de fazer palavras cruzadas e de ler Seleções; que adora descobrir um parente e ir visitá-lo; que morre
de amores por Porteirinha e Montes Claros; que é mãe de dez filhos

- todos vivos e mais que sexagenários -, avó de 36 netos, bisavó de 33 bisnetos e trisavó de três trinetos. Essa mulher forte, viúva há 32 anos de Geraldo Teles, completa hoje 100 anos. Agradecemos muito a Deus, pela sua existência com lucidez e saúde. E isso muito nos orgulha. Só lamentamos não poder comemorar à altura esta importante e significativa data, em função da pandemia do coronavírus. Quando o tempo permitir, iremos fazer uma grande festa para ela. VIVA DONA PALMYRA!

D. Palmyra é o nosso maior orgulho. Significa tudo e muito mais! É projeto e modelo de gente que deu e dá certo. Ela é como dizia um antigo deputado nosso:” Pode ter igual, mas melhor não tem.! Que Deus conserve. Um grande e fraterno abraço, D. Palmyra. Também para todos os seus filhos. Idosa menina! (Wandelino Arruda)

Dona Palmyra, a nossa Presidente de Honra do IHGMC, uma mulher guerreira que superou todas as dificuldades de um tempo e que hoje vem
colhendo os melhores frutos em terra fértil. Lúcida, alegre, comunicativa e amiga de todos, ela comemora agora o seu centenário. Neste seu dia, dona Palmyra, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros se sente orgulhoso e torce para que você tenha vida longa para fazer a história de nossa terra acontecer muito mais interessante e muito mais bela. Parabéns!

(Dário Cotrim)



Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida

O PERIGO DAS BOMBAS

Não vou falar das bombas terroristas que, vez por outra, aqui, ali e alhures, são detonadas covardemente sobre entidades e pessoas de governos constituídos, por órgãos extremistas de“esquerda” ou de “direita”, sob alegados e jamais convincentes motivos político-ideológicos. Também não quero escrever sobre bombas de guerra, das mais rudimentares às mais sofisticadas e “inteligentes”, capazes de identificar e acertar um alvo determinado, dentre inúmeros outros que encontrem pelo caminho, no fatídico rastreamento de objetivos e instalações militares. O que nos interessa mesmo são aquelas que se acham ao alcance de todos nós, sob a designação genérica de fogos de artifício, as bombas festivas de Santo Antônio, São Pedro e São João.

O mês de junho – já é do folclore e da cultura – traz as maiores alegrias para o sertão brasileiro, manifestadas de todas as formas possíveis: queima de fogos, música, danças, fogueiras, comidas e bebidas, enfim a verdadeira folia sertaneja, superando até mesmo o carnaval, mais adaptado e afeito ao ambiente urbano do que no meio rural. É a cidade que se fantasia de sertão, procurando imitar-lhe a indumentária, as artes, os usos e costumes, a culinária e a magia. É o sertão que se engalana, em busca do colorido, dos prazeres e diversões que somente a cidade pode oferecer. As notas negativas, todavia, começam a surgir na antevéspera das festividades, com as explosões das fabriquetas de bombas, quase todas localizadas em fundos de quintal e desprovidas de qualquer dispositivo de segurança. Há poucos dias, numa cidade bahiana, foi uma delas pelos ares, ceifando uma dezena de vidas humanas e espalhando o terror em toda a população vizinha. O pior é que isso não constituiu um fato inusitado e não se sabe onde e quando haverá uma nova explosão, já que todas essas fábricas são clandestinas e despossuídas de qualquer norma de controle.

Não sou contra a festa, as diversões, a alegria. Condenamos, sim, os excessos e as imprudências, e alertamos sobretudo quanto às negligências, quase sempre de consequências danosas para as pessoas e para o meio-ambiente. Já se foi o tempo em que “soltar” foguete era uma brincadeira divertida e inofensiva, pois as bombas subiam e espocavam bem alto, fazendo vibrar mensagens de emoções para toda a vizinhança. Hoje é uma aventura das mais perigosas, com as bombas sendo arremessadas para baixo e para o lado, explodindo sobre a cabeça dos circunstantes, quando já não explodem nas mãos dos próprios “fogueteiros”. A ganância pelo lucro fácil vai tornando os artefatos de pólvora cada vez mais inseguros, em razão da má qualidade dos elementos utilizados em sua fabricação. As estatísticas pós-juninas são ricas em pessoas mutiladas por bombas, principalmente os mais jovens, vítimas imprudentes e preferenciais da irresponsabilidade dos adultos. E os incêndios provocados pelos fogos de artifício e pelos balões só não se tornam mais devastadores por causa da colaboração da natureza, que mantém a temperatura baixa nesta época do ano. Também não podemos desprezar as inúmeras pessoas feridas ou assassinadas neste mês, quase sempre no meio rural, onde o excesso de bebidas transtorna os cidadãos mais pacatos.

Talvez a minha proposta não coincida exatamente com o ponto de vista do leitor, mas, pelo menos, estou apresentando uma sugestão: que se mantenha a animação do forró e da quadrilha; que se acendam as fogueiras, como mensageiras da paz e da alegria, com o seu morno claro-escuro tão propício e acolhedor para os namoros que estão começando; que se confraternizem nas rodadas de quentão, canjica e amendoim; que sejam assadas as batatas, as mandiocas e as leitoas; mas que se eliminem de vez os fogos de artifício dessa festa, especialmente as bombas, para que não tenhamos de lamentar depois os
danos causados às pessoas e ao meio-ambiente, já tão castigados por outros infortúnios inevitáveis.

Esta crônica foi publicada no antigo Jornal de Notícias do dia 15 de junho de 1991. São decorridos, portanto, vinte e nove anos, sem que nada se alterasse, a não ser para piorar o caráter das festividades juninas. Agora estamos experimentando um mal maior, a pandemia do Covid-19, que vem ceifando milhares de vidas pelo mundo afora, sem qualquer preconceito de cor, raça, credo ou condição econômica e social. Já é voz comum que o mundo não será o mesmo, após a sua passagem avassaladora. Talvez possamos desenvolver um antivírus capaz de combater essa pandemia e, ao mesmo tempo, despertar um espírito de fraternidade universal entre países e pessoas, com a constatação escancarada da imensa fragilidade humana.

Aqui no Brasil, por conta desse corona-vírus, pelo menos foram canceladas, este ano, as famosas festas juninas do Nordeste, em especial as de Campina Grande-PB e Caruaru-PE. No “rastro” delas, outras também serão canceladas, o que trará, com certeza, uma queda bem acentuada na estatística de mortos e feridos por bombas e outros artefatos pirotécnicos. As festas são lindas e atraentes, mas, no presente caso, vale consolar com o ditado popular que estabelece: “Beleza não põe a mesa”.



Leonardo Álvares da Silva Campos
Cadeira N. 97
Patrono: Urbino Viana

EM CORAÇÃO DE JESUS,
UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE

Somam-se hoje à nossa memória histórica as referências dos naturalistas viajantes, que a partir do século XVI estiveram no Brasil, atraídos pela exuberância de sua natureza e costumes da população, embrenhando-se pelo seu hinterland coletando espécimes dos três reinos da natureza para futuros estudos.

Segundo Edison Moreira, fundador da “Livraria Itatiaia”, na orelha da edição de 1979 de “Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais”, de Auguste de Saint-Hilaire, obra editada por sua editora, “esses depoimentos são, sem dúvida, os mais legítimos sobre a realidade brasileira de então e são válidos até hoje, na maioria das vezes dados por homens de cultura e saber nada comuns, cuja honestidade indiscutível só visava a verdade sobre tudo o que viam. Da galeria desses verdadeiros abnegados, de ânimo forte, ressalta a figura de Auguste de Saint-Hilaire, grande apaixonado do Brasil, cuja vasta obra, vazada na clareza, elegância e sobriedade de espírito francês, é um panegírico à nossa Terra e, particularmente, à Província das Minas Gerais, que sobremaneira distingue entre todas as que, ladeando rios, escalando montanhas e atravessando planícies, visitou.”

Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779-1853), sem sobra de dúvidas o mais destacado desses naturalistas, em suas viagens de estudos e coleta entre 1817 e 1818, esteve em Coração de Jesus, povoado que na ausência do vigário para os ofícios religiosos, ficava com suas casas fechadas, exceto cerca de sete habitadas geralmente por operários e prostitutas.


Registrou o botânico francês: “Coração de Jesus parece dever a origem a um sentimento religioso. Os lavradores da redondeza, muito afastados de lugares onde existem sacerdotes para poderem cumprir seus deveres de cristãos, fundaram esse povoado. Tiveram a princípio apenas uma igreja coberta de palha (sapé), mas, pouco a pouco, alguns legados e esmolas dos fiéis permitiram levantar um templo que melhor conviesse à dignidade do culto, e começou-se, em 1792, aquele cujo interior se estava acabando em 1817. Quando não se encontra na povoação sacerdote para celebrar a missa, quase todas as casas ficam fechadas; não se contam mais de sete que são habitadas durante toda a semana, e ocupam-nas operários e mulheres de má vida. Disso resulta que Coração de Jesus não oferece absolutamente o menor recurso, mesmo para as mais urgentes necessidades da vida. Não se vê aí uma única casa de negócio; não se pode comprar arroz, feijão, aguardente ou carne, e os operários vivem fazendo-se pagar por em gêneros pelos lavradores, para os quais trabalham. Como não havia no sertão marceneiros bastante peritos para fazer as guarnições de madeira da igreja, fizeram-nos vir dos arredores de Vila do Fanado, e fui testemunha das amargas queixas que dirigiam um a um dos administradores da obra, porque não encontravam o que comprar, os colonos dos arredores nada lhes enviavam, e estavam reduzidos a comer milho simplesmente cozido na água. Queria-se, certamente, fazer algo por eles, mas estava-se realmente desprovido de tudo, porque os fazendeiros cultivam apenas para suas necessidades e de suas famílias.”

Apesar da pobreza que registrou no lugar, isto em 1817, o sábio deparando-se com os trabalhos finais no interior da nova igreja, não conteve o seu entusiasmo com a magnitude artística que presenciou, registrado em sua obra posterior:

“Esses marceneiros eram, no entanto, dignos de melhor sorte; pois que seu trabalho merecia os maiores elogios. O madeiramento da igreja, o altar e o tabernáculo não teriam sido mais bem lavrados em uma cidade da França de dez a doze mil almas, o que confirma o que já disse, por várias vezes, a respeito da habilidade dos artesãos mineiros.”

Porém, o materialismo nefasto que sempre pairou, invencível, nas sociedades capitalistas um dia chegou à cidade de Coração de Jesus, fazendo com que a imponente igreja virasse pó, acabando com seus símbolos reportando ao pretérito.

O poder econômico de banqueiros, já na segunda metade do século XX, veio sobrepujar - pelo que se viu do resultado da negociata criminosa - o então inexistente sentimento preservacionista de certos membros da Igreja Católica. A alienação do terreno, do qual o templo era acessório, foi o marco inicial a aviltar a memória histórica de toda a humanidade.

A decretação do triste e irreversível fim da igreja que encantou e acolheu a fé de tantas gerações, a respeito da qual Saint-Hilaire deu ciência de sua existência ao mundo, começou quando o então responsável pelos trabalhos religiosos em Coração de Jesus, Padre Gustavo Ferreira de Souza (Monsenhor Gustavo, baseado em Montes Claros, já falecido), acreditando que a torre estava prestes a cair, mandou removê-la, descaracterizando assim o templo.

Posteriormente, substituiu-o o Padre Colatino Sitário Mesquita (falecido em 1979), que foi quem concretizou a venda do imóvel para a então Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais, para construção de sua agência local, isto em 1972, com a autorização da Diocese de Montes Claros.

Naquele ano já estava em construção, do outro lado da praça, um novo templo, o que talvez possa ter acobertado interesses prévios na alienação do terreno da igreja, acabada por volta de 1817 e situada do lado oposto da mesma praça central de Coração de Jesus, ao dito estabelecimento bancário.

Indubitavelmente foi mesmo um ato de vandalismo, com insensibilidade preservacionista dos agressores, aviltando a memória histórica e cultural de todo um povo.

Curiosamente, por aquela época, o Padre Colatino criava em veado no quintal de sua casa. Enquanto aquele patrimônio histórico da humanidade era demolido, o cervídeo deu uma chifrada em seu criador. O ferimento causado nunca sarou, levando o religioso a óbito pouco tempo depois. A seu turno, a Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais (MinasCaixa) foi extinta, com o Estado sendo obrigado a pagar a seu poupadores a diferença de correção relativa à inflação aplicada a menor nas contas que tinham saldo em julho de 1987.

As poucas pessoas preservacionistas da cidade, lideradas pelo naturalista José Alves de Macedo e contando mais com Samuel Barreto, Antônio Augusto de Matos, Alberto Eduardo Araújo Barreto, Arnaud Samuel Araújo Barreto e Herculino Lafetá Rabelo, conscientizadas da importância de um patrimônio histórico que se perdia, ainda esboçaram uma reação contra a demolição, mas de nada valeram seus esforços. O muito que conseguiram foi recuperar, com grande esforço, os restos mortais de Francisco Ferreira Leal (1734-1811), o fundador do Arraial do Santíssimo Coração de Jesus, sepultado na igreja que desaparecia, constando na ata, lavrada em 18 de novembro de 1972, o pormenor:

“(...). Era costume na época a utilização das capelas e das igrejas para cemitério cristão. Neles eram sepultadas as pessoas batizadas e que tiveram vida ilibada, isto é 1832, quando, para criação de uma paróquia era exigida a construção de cemitério e proibidas as inumações nos templos religiosos.

“A escavação que estamos procedendo, de um metro de profundidade, na área em pesquisa, tem quatro metros de extensão até alcançar os cinco degraus da escada que dava acesso ao balcão do altar-mor. Neste espaço já descoberto nenhum fragmento de osso humano ou de urna funerária foi encontrado, ao contrário do verificado em todo o terreno ocupado pela igreja, cujos esqueletos se contavam às centenas.

“O terreno em observação assim virgem de sepultamentos despertava a credibilidade de ter sido reservado para inumação de uma figura benemérita, quando morresse. Era usual naqueles tempos. Uma forma antecipada de gratidão. Gente pura!... Acreditava na eternidade física das suas casas de oração.

“Exatamente no ponto de saída da escada que dava ao altarmor, na profundidade de um metro e dez centímetros, foram encontradas peças de madeira de cedro, de que era construída a urna, nas quais notava-se visivelmente o decalque secular de galões dourados, já esverdeados pelo tempo. Em perfeito estado de conservação encontram-se retalhos do sudário de São Francisco, com suas bimbinelas de seda e o tradicional cordão da piedosa liturgia da Congregação Sanfranciscana.

“O registo de óbito de Francisco Ferreira Leal disse a verdade: estava localizada a sepultura do maior dos beneméritos da cidade de Coração de Jesus.”

A destruição desse bem material equivale a dano ao patrimônio cultural de toda a humanidade, o que, hoje, é objeto, cada vez mais, de recriminação internacional. Todos nós integramos uma sociedade que produz cultura. E esta deve ser sempre preservada, a qualquer custo, para o resgate da nossa própria identidade como seres humanos.

Houve em Coração de Jesus, da parte dos que trabalham, pesquisam e estudam, um pesar imensurável pela perda irreparável do rico patrimônio histórico e cultural, não só do Brasil como também de toda a humanidade. Não se apaga o passado, que tem por função precípua refletir a memória de uma época e a tonalidade de um tempo, para que possamos refletir sobre o pretérito e decidir sobre o futuro. Que fatos de tal ordem não mais se repitam, é o que esperamos.


Coração de Jesus - MG

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Nota: matéria reescrita em outubro de 2019, a partir da original, que publicamos no “Jornal do Norte”, de Montes Claros, edição de 19 e 20 de novembro de 1994, pág. 6, sob o título “Um crime contra a arte e a beleza”.



Magda Ferreira de Souza
Cadeira N. 15
Patrono: Ataliba Machado

PALESTRA COM
WANDERLINO ARRUDA

A última reunião do IHCPOL deste ano não poderia ter ocorrido de melhor maneira. O Dr. Wanderlino Arruda a todos encantou com seu conhecimento, brilhantismo e simpatia ao discorrer sobre a arte de escrever. Do alto dos seus 85 anos a sabedoria com a qual conduz o discurso a todos seduz, enquanto cita regras gramaticais e dicas para oradores.

Quem o ouve dizer que começou a escrever aos 13 anos, publicou pela primeira vez aos 14 e foi para o jornalismo aos 17 pensa que foi ontem. Com eloquência de um grande orador e grandiosidade de um destile de escola de samba ele anuncia o estudo do dia. Enquanto discorre e analisa o texto Irene, de Manuel Bandeira, os ouvintes se deleitam com tão perspicazes intervenções e interpretações. Entre outras pérolas com as quais aguça o pensamento dos participantes estas entraram para o registro eterno: “Ler é enxergar e interpretar o que está enxergando” e, “Leitura não é só de letras, é de situações.”

Se Irene era uma “preta boa” e São Pedro “bonachão”, há de se ter um meio termo nisto para Wanderlino. Ele é bom, muito bom no que faz. E não é bonzinho não. Aqui também não precisa pedir licença, pois seu conhecimento e simpatia são o abre-alas que o apresentam. Wanderlino é como água, voa alto e enxerga longe.

Wanderlino chega como quem não quer nada, puxa a cadeira e assenta. Faz roda mas não enrola e faz o assunto girar. Ele discursa como ninguém e conta ”causo” como só um bom contador de estória o faz. Todos ficam absortos enquanto ele fala e ao fim, como se tivessem participado de um mega show, todos pedem bis. Porque mais um dos seus dons é envolver. Wanderlino é como Sherazade, seus contos não têm fim e ao ouvi-lo sempre se espera pelo final, mas o que ele deixa é uma vontade de ouvi-lo um pouco mais.



Mara Yanmar Narciso
Cadeira N. 98
Patrono: Virgílio Abreu de Paula

IDÍLIO DE PÓRCIA E LEOLINO

Depois de consultar 76 livros, o historiador e escritor Dário Teixeira Cotrim, baiano de Guanambi e radicado em Montes Claros desde 1968, escreveu “Idílio de Pórcia e Leolino” em 2005. A história se passa em 1844 na região de Brumado, naépoca Bom Jesus dos Meiras, na Bahia. Trata-se do romance proibido entre a bela menina Pórcia Carolina da Silva Castro, que tinha ficadoórfã recentemente e o também jovem, casado e violento Leolino Pinheiro Canguçu. Segundo relatos da época, chega a raptar a moça, após esta ser hóspede na fazenda do seu pai.

A versão dada por Dário Cotrim, que é parente distante da protagonista, é um trabalho que reúne a paciência de uma freira carmelita, porém com a curiosidade voraz que o consome. Juntou sobre a mesa retalhos de várias fontes, analisou cada informação, contrapôs as partes duvidosas com documentos, e também recorreu à memória oral das famílias envolvidas. O romance dos dois agravou as familiares“contendas encarniçadas” dos Silva Castros e Mouras versus os Canguçus. Vinganças antigas e novas são apresentadas lado a lado com a espetacular ação. O longo tempo transcorrido entre os fatos e a narrativa obrigou esse estudo detalhado, em busca de verossimilhança. A minúcia do trabalho desperta admiração e confiança do leitor, que vai, pouco a pouco, acreditando na versão apresentada, que não se pretende definitiva, mas que servirá de ponto de partida para outras pesquisas e interpretações.

Para contar essa história foram citados e contestados inúmeras vezes Jorge Amado e seu “ABC de Castro Alves” e Afrânio Peixoto e sua “Sinhazinha”, contrapondo-se com documentos publicados nas Revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e diversas outras fontes.

Pórcia era tia do poeta Antônio Frederico Castro Alves, cujos poemas foram salpicados em toda a obra “Idílio de Pórcia e Leolino” de 182 páginas. Esse detalhe enriquece o livro e contextualiza os acontecimentos no tempo e no espaço. As fazendas onde se passam os fatos são bem mostradas geograficamente, até mesmo com desenhos da época.

Em toda a obra o autor mostra erudição, usando palavras raras e citações em Latim. Portanto arme-se com um dicionário. Outra curiosidade é os nomes das pessoas, com sua genealogia e denominações esdrúxulas. Além dos personagens principais, quem queira
escolher um nome diferente tem ali um verdadeiro arsenal de excentricidades: Anfrísia, Licurgo, Altanásio, Arquimino, Bibiana, Prudênciana, Exupério, Umbelina, Merênciana, Eufrásia, Teodora, Iria, Leodegário, Eliziário, Belarmina... O Word sublinha de vermelho quase todos eles. Será preciso reler o livro para colocá-los em seus merecidos
lugares.

O Major José Antônio da Silva Castro se casa com a viúva Dona Joana de São João Castro, de amplas posses. De relacionamentos anteriores o Major traz duas filhas legitimadas Pórcia Carolina da Silva Castro e Clélia Brasília da Silva Castro. A bonita menina Pórcia


Castro Alves

Exupério Canguçu
Umbelina Meira Canguçu
Auta Roda Meira de
Moura e Albuquerque

chamava a atenção de todos, mas isso não explica tudo. Já havia as disputas e vinganças familiares entre os citados sobrenomes. O grande mistério é se Pórcia ficou na fazenda onde estava hospedada e conheceu Leolino, ou se seguiu viagem com as irmãs sob o comando do seu tio João Evangelista dos Santos e se no caminho teria sido raptada por Leolino Canguçu.

“Aconteceu no Sobrado do Brejo e durou apenas três semanas o romance entre eles, que teve as suas consequências por quase cinco anos, de lutas renhidas e bárbaros assassinatos”. Era um tempo em que a integridade de uma moça donzela era paga com a vida. “A honra era sagrada, e nada podia macular a alma das pessoas, principalmente das meninas-moças virginais”. Do ponto de vista ficcional, passou de boca em boca e foi escrito que Pórcia teve um filho que lhe foi arrancado, esquartejado e dado aos cães para destruir o fruto da desonra. Na verdade, segundo Dário Teixeira Cotrim, o filho nunca existiu.

A pesquisa histórica e trabalho literário se completam, são agradáveis, têm grande valor, além de serem atraentes, pois amor e vingança permanecem temas universais.

1º de janeiro de 2019



Mara Yanmar Narciso
Cadeira N. 98
Patrono: Virgílio Abreu de Paula

ELOGIO À
EPONINA PIMENTA DE CARVALHO

Ocupo a cadeira número dez da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, cuja patrona é a professora Eponina Pimenta de Carvalho.

Filha do médico Hermelino Pires de Carvalho e de Dona Theodolina Pimenta, que era irmã de Dom João Antônio Pimenta, primeiro bispo de Montes Claros, Eponina nasceu em Capelinha da Graça, pertencente à Diamantina em sete de julho de 1895. Tinha dois irmãos, José Pimenta de Carvalho, dentista, profissão exercida em Ouro Preto e João Antônio Pimenta de Carvalho, engenheiro civil formado em Itajubá. Theodolina, conhecida como Nazinha perdeu o marido, quando ele tinha 35 anos e, por sugestão do seu irmão, Dom João Antônio Pimenta mudou-se com a família para Montes Claros. Passou a tomar conta do Palácio do Bispo, que era uma espécie de hospedaria. Criou os três filhos, praticamente dentro desse Palácio.

Eponina, aos 18 anos, após se formar normalista em Diamantina, no Colégio Nossa Senhora das Dores em 11 de dezembro de 1913, foi nomeada por Delfim Moreira da Costa Ribeiro, Secretário do Interior do Estado de Minas Gerais, professora de Matemática no Grupo Escolar Gonçalves Chaves, lugar onde lecionou por muitos anos, chegando a Diretora. Não se casou. Seu irmão João Antônio casou-se com Judith Couy Pimenta de Carvalho e com ela teve doze filhos. Certa ocasião, já com quatro filhos, o casal precisou viajar para Capelinha, e, devido à dificuldade da viagem em lombo de burro, optou por deixar o filho mais novo, Félix Alexandre, nascido há poucos meses, com a Tia Eponina. Após um ano, a família retorna, porém, Eponina manifesta o desejo de continuar com o sobrinho, a mãe hesita, mas o menino já era considerado filho pela tia. Conta Félix: “Dom João Antônio Pimenta, tio do meu pai, intercedeu dizendo à Mãe Judith: ‘Eponina não tem filho. Você tem mais três. Deixa o menino com ela’. Mãe Judith deixou. Nisso, Mãe Eponina me pegou enrolado num pano, e me levou” – fala Félix, chorando forte, com o rosto vermelho, tremendo todo o corpo. Não dá para ter certeza se a emoção é pelo fato de a Tia (Mãe Eponina) tê-lo tomado ou pela Mãe Judith tê-lo dado, ou ambos os lados daquele doloroso momento.

Eponina exercia a profissão de professora de Matemática com seriedade e sabedoria. Era competente e sensata, com temperamento severo e exigente, mas, ainda que rígida, sabia ser carinhosa na hora certa e proporcionou uma educação primorosa a Félix. Desde cedo seu filho frequentou estúdios de fotografias, sempre muito bem vestido e bem cuidado, a ponto de colecionar alguns álbuns de retratos. Com alunos e com o filho fazia cumprir o rigor das normas, mas era justa, e ainda que corrigisse com castigo, não batia. Félix chegou a ser aluno da sua mãe, e uma vez, cometeu um erro e foi castigado. Encontrou uma prova de Matemática com as respostas e as passou aos colegas, inclusive ao futuro médico Elton Rocha Lessa. Eponina prometeu e deu zero a ele. Implacável, quando necessário, também o colocava contra a parede ou numa cadeira ou não o deixava ir ao matiné no antigo Cine Montes Claros.

Eponina nunca namorou, mas pode ter tido uma paixão oculta. Não se falava o nome daquele amor. Um acontecimento assim talvez a tenha feito escrever um romance com o pseudônimo de Jerusa Moroni,“Amar e Sofrer”, um manuscrito em letras miúdas e redondas, numa cópia sem erros, o qual chegou às mãos do Bispo Dom Hélder Câmara, em Recife.

Alta, pele morena clara, cabelos finos e curtos repartidos ao meio, e numa fase, presos em coque, não adoecia, tinha voz firme de timbre forte e se trajava à maneira antiga, até mesmo para a época, usando saia comprida e blusa de mangas compridas, geralmente na cor preta e sapatos fechados. Morou no palácio do bispo Dom João Antônio Pimenta com o filho, que viu da fresta da porta um ato de exorcismo feito pelo tio-avô. Talvez Eponina quisesse que Félix visse o fato.

A professora morava na Praça Portugal, número 28 e zelava pela Igreja do Rosário que ficava em frente a sua residência. Sua casa, que lhe foi passada pelo bispado, estava no nome do filho com usufruto dela. A moradia era simples, de assoalho e móveis antigos, de madeira candeio, que estão na família há 150 anos. Tinha onze cômodos e quatro quartos. Eponina usava um dos quartos com a mãe, e os outros ela alugava para moças de fora, que vinham estudar em Montes Claros no Colégio Imaculada Conceição. O sobrinho Geraldo Pimenta também morava na casa dela. Para melhorar sua renda recebia hóspedes, tais como Dona Dinorá e Vicente Pimenta, aparentados dela.

Havia uma cristaleira que ela gostava muito e um velho relógio, além de muitas imagens de santos pela casa, com destaque para uma Nossa Senhora Imaculada Conceição dentro de um oratório que ficava no quarto dela, com uma vela acesa permanente. As peças sacras, que eram obras de arte, pertenciam ao Bispo e ao Palácio Episcopal. Félix guarda uma Bíblia que pertenceu à Mãe Eponina, além de vários terços e um rosário, com o qual ela rezava.

Às vezes a professora viajava à Belo Horizonte para visitar amigas, assim como as recebia para um chá, em sua casa. Eram pessoas próximas e confidentes como Dona Tiburtina, Dona Marieta e Dona Inhá Pimenta, que vinham tomar licor de pequi com biscoitos, encontros dos quais sua mãe Dona Nazinha também participava. Recebia as visitas de Padre Marcos e depois de Padre Dudu, que foram párocos da Igreja do Rosário, e apareciam após a missa para um café. Também a visitavam Dr. João Vale Maurício e José Maria Pimenta.

Apreciava a música clássica e Chopin, sabia Francês e tocava bem o piano. Cantava hinos de louvor a Nossa Senhora. O rádio era para ouvir o noticiário e música erudita. Praticamente, só cantava na igreja, e participava de festas religiosas para trabalhar, assim como frequentava
procissões, barraquinhas e novenas. Catequizava crianças no Bairro Santos Reis, o qual frequentava todos os domingos, levando o filho Félix à igreja construída por Pedro Mendonça. Também ia à casa de Padre Dudu e fez parte das “Mães de Maria”.

Proporcionou ao filho conforto e todas as possibilidades de crescimento intelectual. Entre doze para treze anos Félix foi estudar como interno no Colégio Salesiano Dom Bosco, em Cachoeiro do Campo, perto de Ouro Preto. Foi em 1943, e morou lá durante quatro anos, período correspondente ao antigo Ginásio. Só vinha a Montes Claros nas férias, devido à dificuldade em viajar naquele tempo. Na primeira viagem, Eponina o levou de trem, deixando-o na casa de uma amiga, Florinda. Voltou chorando, mas manteve a palavra. Não devia ser colégio caro, pois sua mãe era professora do Estado, e ganhava pouco mas se esmerava para dar o máximo a Félix.

Não era muito voltada às artes culinárias, ainda que fizesse manteiga muito bem e suas compotas doces fossem muito elogiadas. Sempre teve boa empregada que a auxiliava nos cuidados com o filho, quando estava lecionando. Ainda cuidava de uma grande horta nos fundos do quintal.

Depois do Colégio Salesiano Dom Bosco, Eponina continuou a mostrar cuidados extremos na educação de Félix, que foi fazer o científico e morar em Belo Horizonte no Colégio Santo Agostinho. Depois se mudou para Viçosa, indo estudar Agronomia, pelo fato de gostar da Matemática e para ajudar o pai João Antônio na fazenda. Com mais 34 pessoas, em 1955, formou-se agrônomo.

Eponina cuidou da mãe dela como enfermeira, durante muitos anos, pois Dona Nazinha ficou inválida. Deitada, não falava e se expressava apenas com o olhar e sorrisos. Nesses cuidados contava com a ajuda do sobrinho, Geraldo Pimenta.

Félix era namorador e Eponina não tolerava namorada alguma, mas gostou da moça escolhida por ele para se casar, Elvira Auxiliadora Castro de Carvalho, conhecida como Dorinha, com a qual teve seis filhos: Maria Lúcia Pimenta Alves, Fabíola Pimenta de Carvalho, Maria de Lourdes Pimenta Guimarães, Félix Alexandre Pimenta de Carvalho Júnior (falecido em acidente de carro), Jacqueline Pimenta de Carvalho e Eduardo Pimenta de Carvalho, os quais lhes deram 16 netos e estes, até agora, oito bisnetos.

Moralista, excessivamente austera e inflexível, Eponina morava com o filho, e não aceitava os namoros das netas na varanda, e, quando contrariada, bradava com a bengala.

Seu ex-aluno e correspondente, o advogado Mário Genival Tourinho se recorda: “Eu a chamava de Mestra Eponina, nossa professora de Matemática no Ginásio, num respeito impressionante. Era uma mulher de estatura alta para a época, corpulenta, na casa dos 50, 55 anos, quando eu a conheci. Tinha pele e olhos claros. Vestia-se de forma discreta, saia comprida, mangas e gola alta. Era uma grande professora, muito competente e respeitada, e que se dava melhor com os rapazes do que com as moças, com as quais era mais severa. Considerava que eles eram mais disciplinados do que elas. Fui seu aluno no Ginásio Municipal, (depois Colégio Diocesano), a partir de 1949, do 2º ao 4º ano, quando fui colega de Milena Narciso e de Maria de Lourdes Lopes. Era bastante rigorosa, e não permitia murmúrios ou cochichos. Chegava a dar com a régua nos braços das moças. Apenas ela escrevia no quadro. Todos copiavam calados, e depois das explicações, era dado o dever de casa. Ela corrigia e comentava os melhores trabalhos, geralmente dos rapazes. Em sua homenagem criei o Espaço Cultural Eponina Pimenta, que funcionava numa sala do IPSEMG, na Avenida Cula Mangabeira, em Montes Claros, no qual tinha uma fotografia dela. Não sei se ainda permanece lá. Após me formar, escrevia para ela, ficando amigo e correspondente. Costumava me consultar a respeito das suas dúvidas na área do Direito. Fazia petições em favor dela. Guardei por alguns anos as respostas dessas cartas antigas, mas não as tenho mais. Afora as cartas, nunca vi coisas escritas pela Mestra Eponina”.

Diz Félix: “Tive uma educação esmerada, bem diferenciada para a época, graças à Mãe Eponina, que era enérgica, e sei que tudo aquilo foi para o meu bem. Devo a ela ter aprendido a valorizar e a me dedicar inteiramente à família.”

Eponina Pimenta faleceu aos 83 anos em 18 de abril de 1978, há quarenta anos, portanto, após uma segunda fratura no fêmur e de ter ficado acamada durante dez anos. Na primeira queda e fratura, um menino se esbarrou nela na rua, fazendo-a cair. Tinha 73 anos e foi operada em Belo Horizonte no Hospital Sara Kubitscheck. Voltou de táxi aéreo e ficou andando de bengala. Posteriormente caiu dentro do quarto e se entregou. Não quis ser operada novamente. Durante sua longa enfermidade, ficava quieta na cama, e quase não falava. Na casa do filho, preferiu ficar no quarto de empregada, com banheiro, na companhia de Maria, empregada da família, que atuou como enfermeira e a assistiu até o fim. Com o tempo, por estar acamada, acabou apresentando escaras. Recebia visitas frequentes do médico Dr. Francisco Almir Pires, um amigo que cuidava dela. Ainda que bastante constrangido, o filho Félix cumpriu o seu pedido de ser enterrada no caixão mais barato da funerária. Seu epitáfio foi escolhido tempos antes e diz assim: “Pai, em vossas mãos, entrego meu espírito”.


“Passado! Folhas mortas tombadas no chão, calendário velho marcando datas tristes; ruínas de um poema dolorido, violinos derramando arpejos na vastidão do luar...” (Eponina Pimenta)


Eponina Pimenta de Carvalho

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Biografia baseada nos relatos e memórias de Félix Alexandre Pimenta de Carvalho, Fabíola Pimenta de Carvalho, Angelina Veloso e Mário Genival Tourinho, tomados em 2015.



Márcio Adriano Silva Moraes
Cadeira N. 59
Patrono: João Valle Maurício

O SOBRADO

Esquina de praça. Do outro lado a Igreja Matriz. Coreto árvores bancos chafariz. Rota do caminho centro para quem passa. De hora em hora o sino toca. Não aquele badalo de outrora.

Sonoro bronze. Timbre agudo de uma gravação metálica de agora. Lâmina que assassina a tradição. Seu som é ouvido pelos que por ali se encontram. Mas somente as construções o escutam. Como aquele Sobrado da esquina da Praça da Matriz. A morada divina testemunha de seu nascimento.

Em seu interior ninguém mais se habita. Fora abrigo de gerações. De um nome família notável da cidade. Um Sobrado que deixou suas sobras no tempo. No peito passado de saudade. Pois o tempo mata. A memória tem idade. E a lembrança como grão se cata. Mas o casarão sobrevive. Ainda assim sobrevive. Sua edificação sólida resiste. Até quando não se sabe. Quisera se eternizasse no porvir.

E ali permanece majestoso em sua realeza histórica. Mas a cida vir ao chão mais uma raridade. Como muitas que viraram lembrança. Monumentos tombados ao chão. Matando uma esperança. De que o tombamento fosse assinado por sóbria mão. Se finado for lágrimas de uma história chorarão.

E a modernidade da engenharia ali edificará um grande prédio. Ou como comum se tornou deixar o vazio. Limpar o terreno para estacionar motores e tédio.

Os herdeiros não herdaram o seu legado. E uma placa anuncia sua venda. As mãos que ali deitarem o capital de seu valor possuirão uma lenda. Saberão disso? Uma arquitetura neocolonial do início da fundação da cidade. De cores várias foi pintado. E seu aspecto envelhecido se foi para os jovens. Somente na memória dos mais velhos seu antigo tom está gravado. Agora se apresenta em tom de rosa.

Há muito tempo deixou o seu cheiro de Canela. Seu respiro é um mofo. Mas não um mofo bolor de fungos. Seu mofo é humano que o deixou esquecido. Nunca mais abertas suas janelas. Nunca mais abertas suas portas velhas. Nunca mais pisado seu assoalho. Nunca mais subidas suas escadas. Nunca mais ouvido da madeira o estalo. Nunca mais assistidas suas fachadas. O Sobrado está sobrando.

E assim espera apenas. Como um ser cujas forças não lhe vêm. A decisão não é sua. Permanecer ou esvair não lhe cabe decidir. Por enquanto ainda ali se encena. Como uma maquete de um filme que se projeta na mente de poucos. Daqueles que ao passar por ele o observam. Ali apenas ali. Com uma placa de vende-se. E mais uma vez o
medo futuro. De umas mãos que lhe derem o seu valor não souberem o seu valor. E o medo de o Sobrado lhe restarem sequer sobrados.



Maria Clara Lage Vieira
Cadeira N. 100
Patrono: Wan-dick Dumont

PROFESSORA NAIR

“A vós os louros da vitória,
Num canto eterno e varonil,
Vós que teceis da pátria a glória,
Formando heróis para o Brasil!”

Este trecho é o estribilho de uma canção que, na infância, aprendemos
para homenagear as professoras.

Ah! As professoras, tão pouco valorizadas em nosso país e, apesar disto, tão dedicadas a sua tarefa! Elas dão a sua energia e o seu coração pelo sucesso de seus alunos! Com o perdão do lugar comum, não resisto ao impulso de indagar: Quem se realizou na vida sem ter recebido orientação e carinho de uma professora?

Entretanto, o reconhecimento é pequeno. Fica apenas uma tênue lembrança, como no desabafo do compositor, quando canta:“Que saudades da professorinha que me ensinou o bê-á-bá”.

Nair Caldeira Alkmin nasceu em Bocaiuva aos dezessete de novembro do amo de 1915 e faleceu, também em Bocaiuva, aos 83 anos, portanto, em 1998.

Filha de José Caldeira Neto e Eloina Argentina Alkmin Caldeira, foi a única filha entre três irmãos. Sendo a primogênita, desde cedo, assumiu sua missão de ajudar os pais na manutenção do lar.

Eram seus irmãos:

Bento Alkmin Caldeira

José Terezino Caldeira e

Paulo Caldeira Alkmin.

Teve uma infância muito simples, mas muito alegre. Brincava mas também trabalhava, auxiliando os pais nos afazeres e na solução de problemas domésticos.

Na adolescência, aprendeu a tecer croché e tricô e bordava ponto de cruz. Seus trabalhos eram tão bem feitos que as encomendas lhe proporcionaram a alegria de pode ajudar no sustento da casa.

Como toda jovem, tinha muitos projetos e sonhos, arrebatamentos, alegrias, decepções também. Deixou um diário em que abre seu coração, registrando seus sentimentos, suas preferências, seus anseios; às vezes um acontecimento que a deixou feliz... numa linguagem poética, delicada e simples, deixando um possível e indiscreto leitor extasiado com a sua sensibilidade, seu gosto pela vida, seu espírito generoso.

Iniciou seus estudos no Grupo Escolar Coronel Fulgêncio, que hoje se chama Escola Estadual Genesco Augusto Caldeira Brant.

Aluna dedicada, continuou seu aprendizado no Colégio Imaculada Conceição de Maria, em Montes Claros, cuja vaga foi conseguida, com muito empenho, pelo Padre Chico, que era pároco de Bocaiuva na época e sabia do seu interesse e da sua vontade de se formar como professora.

Foi muito sacrificado seu estudo em Montes Claros porque a ida para lá só era viável por trem-de-ferro, o único transporte de que se podia dispor e era moroso e cansativo.

Mas a sua energia era grande, o que lhe valeu concluir, no Colégio Imaculada, o antigo curso ginasial e posteriormente, o Curso Normal. Estudou em regime de internato, dada a dificuldade de se locomover com frequência para Bocaiuva.

Completado o Curso Normal, Nair volta para sua terra, cheia de sonhos de ser professora. Lecionou na mesma escola em que havia iniciado seus estudos. Seus alunos guardavam boas lembranças dela, a querida professora do Quarto Ano.

Além da escola,

Não se casou porque acreditava que a responsabilidade ela se dispunha a transmitir seus dotes em trabalhos manuais, com disponibilidade e paciência, a quem quisesse aprender.

Aposentou-se no ano de 1960.

Sempre foi muito religiosa e procurava ajudar nos trabalhos de Igreja, nos serviços internos e, com muita ênfase, no catecismo para crianças, preparando-as para a Primeira Eucaristia e para a Crisma.

A aposentadoria lhe deu mais tempo disponível e ela, então, se dedicou aos bordados, trabalhos de croché e tricô, o que lhe foi uma boa fonte de renda, pois não faltavam encomendas. As pessoas comentavam que ela executava seus trabalhos não só com arte, capricho e habilidade, mas também com muito carinho. Tinha “mãos de fada”, conforme diziam.

Como a cidade não lhe oferecia grandes opções de divertimento, gostava de visitar as amigas nos fins de semana. Conversavam, trocavam ideias e novidades.


Dona Nair no jardim que cultivava

Amava suas plantas e cuidava delas com conhecimento e amor. O quintal era enorme e ela o mantinha sempre limpinho.

Gostava de cozinhar e fazia as compras de víveres para uma boa alimentação, no mercado municipal que, de início, era no centro da cidade e, depois se transferiu para o local onde é até hoje.

Não se casou porque acreditava que a responsabilidade que tinha na casa de seus pais não lhe permitia pensar em casamento.

No tempo em que viveu, a escassez de padre e o serviço pastoral, que abrangia uma região muito extensa, não propiciavam a celebração da missa todos os dias, mas quarta-feira era dia de missa e Nair não perdia.

E foi justamente numa quarta-feira, quando ela se preparava para ir à missa, que se sentiu mal e veio a falecer.

Foi muito boa filha, cuidou dos pais até eles falecerem, cuidou dos irmãos, enquanto menores e era gentil e atenciosa no trato com as pessoas, fossem elas ricas ou pobres simples ou sofisticadas.

Thomas Merton, na sua autobiografia, intitulada “A Montanha dos Sete Patamares”, refletindo sobre um casal que povoou a sua infância e que deixou marcas profundas em sua vida e em seu caráter, escreve sobre eles: “Eram santos pela maneira mais efetiva e acentuada: santificava-os a maneira completamente sobrenatural com que levavam uma vida rotineira, assim santificados na obscuridade, nas tarefas comuns, nos pendores usuais, na rotina doméstica, como se recebessem e se aproveitassem de uma graça sobrenatural e interior, emanada do alto para suas vidas em comum, para a união de suas almas, com a profunda fé e a imensa caridade” (Thomas Merton, A Montanha dos Sete Patamares, 5ª. Edição, página 77).

Quando penso em Nair, com a qual convivi muito pouco, mas que posso dizer que conheci através dos relatos de pessoas de idades diversas, assim, quando penso nela, vem na minha mente as palavras do monge e sinto que posso dizer o mesmo dela.

O valor das criaturas de Deus está nos gestos sublimes, humildes, sem alarde, na simplicidade da vida de cada dia, na palavra serena e boa, no apoio às pessoas, no sorriso, no semblante sempre alegre, no modo de ser de Nair, figura imprescindível na história de Bocaiuva.


Maria da Glória C. Mameluque
Cadeira N. 40
Patrono: Georgino Jorge de Souza

CRÔNICA SEM NEXO
EM UM DIA DE QUARENTENA

Levanto, e ao abrir os olhos faço o sinal da cruz, que minha mãe me ensinou: “pelo sinal da santa cruz, livre-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos...” e completo: livre-nos dessa pandemia também, Senhor, para que possamos voltar à nossa vida normal.

Tenho que fazer o café e vou à cozinha. Depois é a hora da atividade física, sim, porque não podemos nos esquecer também do corpo. Será que já engordei? “Mens sana in corpore sano” diria meu querido esposo, estudioso do latim. Como fico muito tempo sentada no computador, pode ser.

Notícias e vídeos alarmantes estou deletando sem ver: uma horaé a política, a outra é o coronavírus: tudo a mesma praga que tira o nosso sossego. Mas não podemos nos deprimir. Muitas são notícias falsas e não devemos ir acreditando em tudo que chega pelas redes sociais. Vamos confiar em Deus, que tudo resolve. “E tudo passa, tudo passará... e nada fica, nada ficará...” era o Altemar Dutra cantando ou era o Nelson Ned? Temos que confiar em Deus.

O teclado estava desprezado há mais de 3 anos, pois faltava tempo, mas agora, “quem canta, seus males espanta”. E lá vou eu recordar as músicas do passado: “A deusa da minha rua...” preferida da minha mãe, quando juntas ficávamos atrás da janela da minha casa ouvindo as serenatas. Quanta poesia nessa música, coisa que as mais modernas não têm: só falam em “dor de cotovelo”, em traição e outras coisas. E até mesmo palavrões, nada de poesia. “Na rua uma poça d´água, espelho da minha mágoa, transporta o céu para o chão...” Pensem bem: como o céu pode ser refletido no chão através de uma poça d´água? Só mesmo um poeta apaixonado. E o final: “Ela é tão rica, e eu tão pobre, eu sou plebeu, ela é nobre, não vale a pena sonhar...”

E os rapazes, de violão em punho, com lanternas para lerem as músicas, pois que não tinha iluminação, embora fosse noite de luar. Depois cantavam a minha: “Eu sonhei que tu estavas tão linda...”

Hora de ir preparar o almoço e aproveito para fazer pão de queijo e pãezinhos, que há muito tempo não fazia. Não tinha tempo. Tenho ainda que cuidar da casa e fazer minhas tarefas a que me propus no início da quarentena. Mas o tempo não está sobrando. Até fiz uma lista e vou checando a cada dia. Não é a lista do Montenegro:“Fiz uma lista de grandes amigos...” É uma lista de tarefas mesmo. O curso virtual está congelado. Tenho que verificar a cada instante as mensagens e chamadas do celular, para ficar por dentro das notícias da família e dos amigos, porque as notícias alarmantes, eu deleto sem ver. Nas poucas horas vagas e até chegar a hora de ir para a cama, vejo filmes que não sejam de terror nem de guerras ou violência. Vi um muito bom: “O milagre da cela 7” e recomendo.

Mas não me esqueço também dos momentos de oração, como o Terço da misericórdia todos os dias, pedindo a Deus que “Tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro...”

Tive que cancelar várias viagens, inclusive a do meu aniversário, quando iríamos à Diamantina para a vesperata, a família toda reunida. Que pena! Adiei também a viagem à Grécia, um sonho antigo, passando pela Itália, esse ano impossível, e outras viagenzinhas por aqui mesmo, que já estavam agendadas.

Aprendi numa pós-graduação que existe uma árvore dos medos: há o “medinho” (medo de barata, por exemplo); o “medo” propriamente dito (medo de assalto, do escuro, etc.) e o “medão”, um medo bem grande. Creio que agora nessa quarentena estamos tendo o“medão”, que é o medo da doença e da morte. Mas lembro bem que a Bíblia nos conta que quando os discípulos de Jesus estavam num barco e sobreveio uma tempestade, eles tiveram um grande medo, de se afogar e de morrer. Mas Jesus estava no barco e acalmou a tempestade. Creio firmemente que Ele agora irá também acalmar essa tempestade que estamos vivendo. É preciso ter fé.

Li um texto do Rubem Alves que diz que otimismo é diferente de esperança. Segundo ele, otimismo é a gente acreditar que há primavera aqui dentro enquanto há primavera lá fora. Mas esperança é acreditar que mesmo estando nublado lá fora, há primavera em nossos corações. É ainda ele quem diz:

“Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.”

Se tenho fé, tenho esperança. E é por isto que já estou fazendo planos para o pós-quarentena. Porque acredito no amor de Deus; porque acredito que tudo vai passar; porque acredito que Jesus está no nosso barco e brevemente estaremos todos juntos novamente, nos reunindo e nos abraçando.



Maria de Lourdes Chaves
Cadeira N. 52
Patrono: João Chaves

DR. ANTÔNIO GONÇALVES CHAVES

O Montes-clarense de maior importância na história é pouco conhecido em sua cidade e seu único retrato foi retirado do fórum local, porque o juiz da época o confundiu com um“seresteiro qualquer”. E o fórum tinha, e tem, o seu nome – Antônio Gonçalves Chaves. O jurista Antônio Gonçalves Chaves é o nome da principal praça da cidade e da principal escola primaria, além do fórum, mas pouquíssimas ainda sabem que este filho do Cônego Chaves foi governador de Minas e Santa Catarina, principal autor do Direito de Família do Código Civil de Clóvis Bevilacua, em vigor até pouco tempo, a quem Ruy Barbosa se dirigia com o tratamento de “meu mestre”. Gonçalves Chaves nasceu em Montes Claros em 16 de setembro de 1840, estudou em Diamantina e formou-se pelas Arcadas, em São Paulo, foi colega do futuro presidente da República, Campos Salles. Depois de juiz, ainda no Império, assumiu a presidência da Província de Santa Catarina e depois a de Minas Gerais, em Março de 1883.

Na qualidade de sobrinha neta do personagem acima, esclareço: conforme livro “Montes Claros, sua historia – sua gente e seus costumes” de Hermes de Paula, página 10 – Gonçalves Chaves foi presidente da Câmara Federal, Senador Federal e Estadual e diretor da Faculdade de Diretor de MG. Foi seu 1° Direito e Mestre de Direito.



Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez

SEBASTIÃO SOUTO VELOSO

“Ele foi como árvore plantada junto às águas, tudo o que fez prosperou”. Filho de Ramiro Soares Velloso e de Sebastiana da Silva Souto, casou-se com Júlia Veloso de Aquino. O casal trabalhador, teve comércio em Mirabela, Santa Rosa de Lima e Capitão Enéas. Em 1940, adquiriram a primeira fazenda no município de Montes Claros, e posteriormente em Francisco Sá, onde se dedicaram a pecuária.

Ale de ajudar a fundação da Escola Municipal Barão de Gorutuba em barreiras, a estrada que liga Montes Claros ao referido povoado foi aberta por Sebastião que também auxiliou na construção de pontes e igrejas em benefício daquela cidade.

Um dos primeiros cooperados da Coopagro, Sebastião Souto Velloso participava de todas as reuniões da cooperativa e inclusive das campanhas eleitorais, com entusiasmo e compromisso.

Sebastião teve cinco filhas: Marlene Veloso, Madeleine Veloso Ribeiro, Marilene Veloso Tófolo, Marilda Velos e Margareth Veloso Rebelo que são também cooperadas e fornecedoras de leite da Coopagro.

Como pai dedicado esforçou para educar suas filhas e criá-las para serem independentes e trabalhadoras. Para os netos foi exemplo de dignidade e trabalho. A filosofia de vida de Sebastião era: “ O rumo certo é para a frente, para o progresso pessoal e social”. O seu lema era servir o próximo.

Certo Pé de Sapucaia

Muitas pessoas não conheceram esta arvore porque ela não é muito comum aqui no Norte de Minas. Ela é bastante alta, tronco forte, floresce na primavera e o que chama a atenção é a sua semente parecida com um coco aberto e se cair na cabeça de alguém, deve fazer
um grande estrago.

Mas o que me chama a atenção, nesta árvore, não é a sua beleza, imponência, a sua idade deve ter mais de 150 anos, pois junto dela já passaram várias gerações da família Souto, e a sua história.

Esta sapucaia, a que me refiro, fica no bairro Todos os Santos, atrás do campo Cassimiro de Abreu, mais precisamente onde era a casa de Francisco Souto, hoje falecido, que veio de Diamantina para Montes Claros e aqui viveu por vários anos.

Junto com a vida da Sapucaia, estão relacionadas alguns fatos referentes a essa família, pois o meu amor por essa árvore começa quando soube que um descendente do bisavô, Chico Souto não deixou derrubá-la a época que o asfalto, chegou a esta rua de poeira eé por isso que ela invade-o e está um pouco, torta, mas permanece inalterada.


Vejo a árvore, a casa ao lado onde morou meu bisavô, avô do meu pai. Tião Souto, e era apesar de modificada guarda em suas paredes todas as lembranças de várias vidas.


Sebastião Souto Veloso

Não morei nesta casa, mas retenho na memória alguns fatos contados, por meu pai, grande admirador de Chico Souto, que era seu avô materno.

Vejo seu retrato, homem alto, magro, elegante, bem vestido, junto à esposa e aos filhos. É um retrato na parede, mas ele permanece vivo na minha memória, pelos fatos a mim contados.

Era um homem sério, trabalhador que não gostava de indolência, mesmo tendo posses, ficava sentado em sua cadeira, cortando palhas de milho para fazer cigarros, as vendia e com este dinheiro chegou a construir uma casa modesta, é claro.

Falo isso para honrar o seu caráter, hombridade, e amor ao trabalho. Poderia falar sobre o seu exemplo, rigidez com os filhos, mas que me levou a escrever foi o pé de Sapucaia.

Árvore altaneira, comparo-a ao jatobá africano que vive milênios e é uma árvore sagrada, daquela cultura, contudo para mim a Sapucaia representa a história de uma família porque debaixo dela, florida, seca, velha, murcha, guarda em suas folhas, caules e flores, estas lembranças de uma família que veio de Diamantina, plantada no sertão montes-clarense e segue o seu destino de várias gerações que aí está ou já se foram.

Não é melancolia é saudade, pois ela não envelhece, como todos nós, mas em todas as estações ela acompanha o ritmo – inverno, verão, outono e primavera em meu coração, pois o natal está chegando.

O meu sonho é plantar um pé de sapucaia na fazenda e vou fazê-lo, pois ela é um símbolo da família Souto, já que começou a vida nosso antepassados.

FRAGMENTOS DE VIDA

No Brasil, as notícias sobre a política local corriam de norte a sul. Era a ditadura militar que determinava as ordens e os rumos da história. Nesse ambiente instável de mortes e prisões, surgia o amor de Bertha e Durval, ambos, exilados políticos, por discordarem do regime político.

Bertha estava na prisão quando recebeu a notícia de que um jovem exilado político chegara, recentemente, e estudava em uma cela ao lado. A comunicação atravessava por meio de alguns cochichos e trocas de palavras ouvidas dos guardas.

A prisioneira política era bonita, alta, more na e de idéias de esquerda, e a morte rondava por todos os lados, como um filme de terror. O silêncio imperava e o medo também.

Durval havia sido preso por espalhar idéias e panfletos contrários ao regime vigente. Era o momento crucial da ditadura.

Foi neste ambiente, em troca de guarda, que eles se conheceram, e as idéias e o amor surgiram de repente. Suborno, troca de olhares, paixão, correspondência, fugas, todas as armas foram usadas neste amor clandestino. Não sei dos detalhes desta paixão, dos dias, silenciosos, dos anos, dos encontros, da troca de guarda, da vigilância, só imagino a efervescência deste amor.

Tudo foi feito no silêncio da noite, no suborno, na troca de cartas entre Bertha e Durval, e o ponto alto desse romance se deu entre uma troca de guardas, entre os presos políticos. As idéias fervilham entre eles. As notícias de morte chegavam de todos os lados e o silêncio era a maior arma do terror em que o país estava mergulhado. Tudo e todos eram controlados pelo poder.

Como uma flor ressurgindo das cinzas, o amor entre os apaixonados deu frutos e Bertha ficou grávida na prisão, um contraste para o seu amor livre.

Os meses passaram, as noites eram frias, mas a certeza do amor entre eles aquecia-os na prisão, e as cartas apaixonadas poderiam ser tema de um livro e dar a verdadeira dimensão do terror que passaram.

Com a gravidez de Bertha, em estudo avançado, a separação foi inevitável, e ela foi transferida para outro local.

Sem notícias, em outra cidade, deu a luz uma menina que foi fruto dessa paixão.

Os amantes foram separados, e as cartas apaixonadas, as barreiras, políticas, as celas frias, as notícias de revolta colocaram Bertha e Durval longe um do outro. O amor entre eles, mesmo que breve, ultrapassou todos os limites impostos pelo homem, mas a criança nascida deste amor, tenta resgatar a sua história, longe dos muros da prisão, como um hino aos pais, que lutaram e sofreram em nome do amor.



Marilúcia Rodrigues Maia
Cadeira N. 57
Patrono: João Novaes Avelin

UM POUCO DA HISTÓRIA DA
IGREJA ANTIGA DE JURAMENTO

A Igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição construída possivelmente quando Juramento – MG já era povoado e desmembrado do território Brejo das Almas (município de Francisco Sá) passando a ser distrito de Montes Claros pela lei de 30 de março de 1911. Comentam que a igreja estaria em funcionamento a partir de 1927 e que há relatos desde 1929.

Na história oral registra a participação efetiva dos fazendeiros para fortalecer o trabalho em obra e manter as despesas da Igreja antes denominada de Senhor Bom Jesus e Nossa Senhora da Conceição vinculada a Montes Claros - MG. O município de Juramento foi emancipado em 12 de dezembro de 1953 e a igreja continuou sendo assistida por Padres da Catedral. Em 1966 foi criada a Paróquia Nossa Senhora da Consolação de Montes Claros bairro Cintra, logo transferida para esta paróquia. Diante algumas anotações sobre a igrejinha, tão conhecida assim, de forma carinhosa, é oportuno destacar que se encontra neste município a zeladora e secretaria (mais antiga da igreja) à Senhora Rosalva Veloso Prates Maia (90 anos), a qual atuou


Igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição

de 1950 a 1960 aproximadamente. Explica Dona Rosalva que houve uma reforma da igreja em 1932 dando ênfase a troca do telhado, pois as telhas eram de coxa, ou seja, de barro ou argila moldado na perna do homem, conforme a experiência do trabalho escravo. Com o passar do tempo, as telhas não se uniam mais, estavam irregulares. Diante informações das telhas de Sete Lagoas – MG, às famílias juramentenses e fazendeiros negociaram a quantidade necessária e as mesmas foram levadas até a cidade de Curvelo-MG no trem de ferro cargueiro. De Juramento saíram seis carros de boi em busca das telhas (modelo francês), 02 do Sr. Sebastião Veloso Prates (seu pai); 02 do Sr. Joaquim Santana Veloso Prates (seu tio); os outros dois carros, ela não recorda o proprietário. Levaram dias para que estes carros vindos de Curvelo chegassem a Juramento, uma vez que nem estradas regulares existiam. Muitas dificuldades enfrentaram, mas na caminhada de fé e devoção, com muita animação e contentamento, coragem e determinação foi realizada toda reforma e o telhado ficou seguro. Aos nossos antepassados a gratidão e rogos a Deus para a plenitude eterna.

Os meios de transportes eram o cavalo para montaria, carro de boi, e o trem de ferro que passava no distrito de Glaucilândia para passageiros. Então, disse a Dª. Rosalva que em época de festas religiosas, os fazendeiros usavam estes transportes e vinham com suas famílias para Juramento; deixavam as fazendas e aqui permaneciam até o final da programação. Além das novenas e celebrações em latim pelos padres de Montes Claros havia todas as noites o grito dos leilões (prendas valiosas) pelo animado Sr. Thiago Quirino. Um fazendeiro era responsável para cada noite, além do fazendeiro festeiro que cobria toda a festa. O importante é que todos colaboravam. As famílias da região e comerciantes locais somavam esforços. No mês de maio– Festa da Nª Senhora da Conceição, no mês de agosto a festa do Sr. Bom Jesus padroeiro do lugar. Lembrou ainda a Dª. Rosalva que acontecia no mês de janeiro a Festa de São Sebastião, mas em outra pequenina igreja denominada de São Vicente onde a fazendeira D. Julia Alves Mesquita fazia a conservação da mesma. Esta igreja foidemolida em torno de 1965 e no local foi construída a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus no centro da cidade.

Acontecimentos diversos marcaram o século XIX, comenta Dona Rosalva que muitos padres e bispos passaram por Juramento e celebravam na sede e em lugares da região cavalgando até as localidades. Segue dizendo sobre os dois irmãos Pe. Lucas e Pe. Marcos, sendo o primeiro muito alegre, brincalhão e animador. O qual junto a professora Maria Conceição Moraes Souto (1ª diretora da Escola Estadual Francisco Sá) compôs o hino à Juramento. Já o Segundo Padre era bem reservado. Tais citações recordam também alguns moradores antigos, os quais ressaltam também o padre de batina branca que sempre estava presente em Juramento, Dom Geraldo Magela de Castro (onde tem familiares). E o Monsenhor Gustavo Ferreira de Souza, o padre de batina preta, um dos assistentes entre 1960 a 1974, incentivou a criação do apostolado de oração sob a coordenação de Dona Rosalva, grupo bem frequentado por moradores da região, das crianças aos idosos. As celebrações com o padre era uma vez por mês, às vezes, o espaço de tempo era maior. Depois foi criado o culto dominical com dirigentes leigos. A reza do terço era comum uma vez por semana sob a luz de vela e lampião; de vez em quando com luz elétrica originada de uma cachoeira do Rio Brejinho, das 19h às 22h. Sob o especial trabalho do Sr. João da Luz (funcionário da prefeitura local). Na fala popular há recordações profundas, saudosas da bela missão ocorrida por volta de 1965 com padres Redentoristas do Brasil, vindos de outros lugares. Registros confirmam muitos sacramentos realizados na igrejinha, casamentos, batizados, 1ª Eucaristia e Crisma. Sendo que a catequese acontecia na escola pelos professores.

Hás muitas lembranças amáveis dos Juramentenses sobre A Igreja Nª Senhora da Conceição, a qual passou por grandes mudanças com a permanência do 1º pároco em Juramento, hoje, Monsenhor Pe. José Osanan de Almeida Maia, que após concluir seus estudos em Roma, e ordenado, retornou a sua terra natal. Havia missas todos os dias. Com muita dedicação e zelo, organizou as comunidades de base em todo município antes Juramento e Glaucilândia (Distrito). A Igreja estava pequena para a população e já havia o alicerce da nova igreja. Então, Pe. Osanan mobilizou os munícipes, projetou e construiu a igreja. Logo, o templo foi abençoado e passou a funcionar após Juramento ser elevado à categoria de paróquia em 19 de dezembro de 1980, por Dom José Alves Trindade; Bispo que presenteou Juramento empossando o 1° pároco residente. A nova igreja ficou denominada de Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus e a igreja antiga de N. Sr.ª Imaculada Conceição.

As portas da igreja antiga estavam sempre abertas para as reuniões comunitárias. Com o passar do tempo diante as ruínas foi necessário fechar a igreja; depois reformada, passando por algumas transformações. Após, continuaram as reuniões da associação local, coroações a N. Senhora, Legião de Maria e outras. Até houve festejos a Imaculada Conceição pelos grupos da 3ª Idade e Legionários.

Atualmente, esta igreja passa por uma reforma bem projetada pelo Pe. Gledson Eduardo Miranda de Assis, iniciada em 2018 com empenho, carinho e apoio dos juramentenses. Considerando a memória cultural do povo, a restauração significa reconhecimento de valores profundos ao bem patrimonial do lugar e da Arquidiocese de Montes Claros – MG.

Juramento, 25 de abril de 2020.

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Nota importante: A S.ra Rosalva Veloso Prates Maia – Mulher guerreira e exemplar, agradecemos por preservar na memória valores grandiosos para o arquivo histórico de Juramento - MG



Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

HOTEL SÃO JOSÉ

Há cerca de dois anos, venho percorrendo, aos poucos, a rua Doutor Santos, a pedido do colega Elton Jackson e em obediência a um esquema tempo/espaço traçado desde a primeira crônica so¬bre o assunto. O meu objetivo é chegar à Rua Bocaiúva e, aí, em atendimento a um sonho de minha amiga Nailê, fiel cobradora de minhas lembranças de vizinho, falar de quando ela era criança, quase menina-moça, dos tempos de nascimento cio João Wlader e do José Danilo. Passo a passo, saí do Hotel São Luiz, de D. Naza¬reth Sobreira e do Bar de Adail Sarmento, no início da rua, e, hoje, chego ao Hotel São José, de D. Laura e, depois, de D. Emília e do inesquecível Juca de Chichico e do eterno gerente Geraldo. São lembranças agradáveis, grandemente gratificantes de um jovem que alcançava a idade adulta, já hóspede em hotel, com uma indi-vidualidade e uma privacidade nunca antes imaginadas como mo¬rador de pensões.

No Hotel São José, cuja placa dizia o maior e o melhor, ser hóspede já era um grande privilégio, marcava, quer queira quer não, um status de matar de inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles que viviam desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez, um quarto só meu, com pia e guarda-roupa, inicialmente, no térreo, do lado de dentro do pátio, na ala da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro andar, quase de frente para os dois mais importantes endereços: os apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor do DNOCS, de quem não me lembro mais o nome. Foi uma melhoria de situação social que quase não tinha limites, quando comprei, duas calças de tropical, uma meia dúzia de camisas, novas meias e... realização de velho sonho, um rádio de segunda mão, rabo¬ quente, que tocava músicas e dava notícias todas as manhãs.

O Hotel São José era um mundo à parte, bom, alegre, impor¬tante, chique, principalmente depois que “seu” Juca assumiu a di¬reção e realizou uma grande reforma. A saudade marcada com a ausência de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília e a descontraída presença dos filhos, principalmente de uma menina que era a mais bonita da rua Doutor Santos, a Mercesinha, já quase em início de namoro com o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro, Bernadete, todos eram também bastante simpáticos com os hospedes. A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo¬-se a melhor roupa de cada participante do banquete diário, uma etiqueta fiscalizada de perto pelos garçons, principalmente pelo Fernando, que, até hoje, trabalha na profissão.

Poucos foram os estudantes que conseguiram a permanência no quadro de hóspedes. Um a um ia saindo, pedindo ou recebendo as contas, depois de uma brincadeira mais forte, ou do não respeito à posição da gente importante e seria como era o sisudo e culto fazendeiro Ademar Leal, o milionário Manoel Rocha, a mais graduada figura do Exército na região, o sargento Moura, o advogado José Carlos Antunes, que falava inglês corretamente, Lagoeiro, músico-chefe da regional da Rádio Sociedade, o diretor do IBGE, e o próprio dono, seu Juca, o único montes-clarense, na época, a ter feito uma viagem internacional de muitos meses pela Terra Santa e pelo Mundo Antigo. Pode ser exagero de minha parte, mas, para nós, lá era o centro da cidade e da cultura.

Bons tempos aqueles, justamente quando iniciava atividades, já com os pés no chão, o nosso O JORNAL DE MONTES CLAROS, não sei bem certo, parece já com a direção do Oswaldo Antunes, pois o ano em que estamos é o de 1955, quando recebi das mãos do Waldyr Senna a presidência do Diretório dos Estudantes e quando foi eleita a nossa rainha mais bonita de todos os tempos, nenhuma outra igualada em nobrezas nem antes nem depois: Cibele Veloso Milo!



Wesley Soares Caldeira
Cadeira N. 91
Patrono: Sebastião S. Carvalho

50 ANOS DA
“CASA ESPÍRITA ALLAN KARDEC”
EM TAIOBEIRAS

Até 1970, o movimento espírita em Taiobeiras manteve caráter familiar, em torno de João Rêgo, de quem fizemos um esboço biográfico no volume XIX desta Revista, referente ao segundo semestre de 2017.

Uma fase de expansão se deu a partir de 1970. Em 9 de fevereiro daquele ano, surge o “Centro Espírita Fé, Amor e Caridade”, numa reunião ocorrida na residência do comerciante Olympio Ribeiro, situada na Avenida da Liberdade, nº 50.

A ata de fundação foi assinada por Antonyno de Almeida, Dea das Graças Almeida, Gilberto Almeida, Hylsa Mendes Miranda Americano, Iolanda Ribeiro Colares, Ione Lucas da Cruz, João Rêgo, Nelmy Rêgo e Olympio Ribeiro. Estavam presentes, também, Andercy Rêgo e Eusa Rêgo Freire, Olímpia Rêgo e Wanderlino Arruda; todos mencionados na ata.

O documento já continha o primeiro estatuto. O centro espírita se dedicaria a “estudar, difundir e praticar a doutrina Espírita-Cristã, com base na codificação do mestre francês Allan Kardec”.

Sem demora, ali mesmo, o grupo se pôs ao trabalho.

A arquiteta Eusa Rêgo Freire, filha de Maciel Rêgo, apresentou o desenho projetivo da futura sede, que seria construída no centro da cidade, no belo terreno de nº 121 da rua Oswaldo Argolo, doado por João Rêgo.

Foi aberto um “Livro de Ouro” para a arrecadação de fundos, e a campanha se desenvolveu rápido, principalmente em razão da atuação de Hylsa Mendes Miranda Americano e Gilberto Almeida, filho de Antonyno de Almeida.

As atividades espíritas se realizaram na casa de João Rêgo até a inauguração da sede.

Em 5 de janeiro de 1971, a sociedade espírita estava devidamente formalizada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, em Belo Horizonte.

A desencarnação de João Rêgo, em maio de 1982, levou a casa espírita de Taiobeiras a uma nova etapa de amadurecimento.

Gilberto Almeida passou a dirigir as atividades doutrinárias e mediúnicas, ao lado de Anderson e Nelmy Rêgo.

Merece especial destaque Nelmy Rêgo, cuja natural liderança e formação doutrinária segura manteve a casa espírita em alinhamento com as propostas espíritas. Ela também ofereceu valiosa assistência à Casa Espírita André Luiz, no tempo de sua fundação na vizinha cidade de Salinas, por Marlene Costa.

Por volta de 1987, Nelmy precisou se afastar das tarefas espíritas para tratar da saúde. Findava o seu período terrestre: ela desencarnou em 1993.

É o tempo em que a professora Rose-May Miranda Ferreira vai se notabilizar à frente das atividades do Centro Espírita Fé, Amor e Caridade. Ela continuou o aperfeiçoamento dos trabalhos, em especial o de evangelização infantil, e instituiu as palestras públicas e os cursos doutrinários semanais.

Nelmy e Rose-May dedicaram intensos cuidados aos estudos doutrinários, aos passes, aos cursos orientadores de gestantes carentes
e à promoção social, à biblioteca e ao atendimento fraterno, às reuniões
mediúnicas e à estruturação da primeira videoteca de palestras espíritas do Norte de Minas, através de fitas VHS.

O Centro Espírita Fé, Amor e Caridade recebeu reforma estatutária em 1997, quando sua assembleia geral alterou sua denominação para “Casa Espírita Allan Kardec”, sem modificar seus princípios de fidelidade doutrinária estabelecidos na fundação.

Novas administrações ampliaram gradativamente as atividades. A sede original foi reformada, ganhando sensíveis melhoramentos no espaço e na estética. Campanhas de alto valor humanitário e doutrinário se consolidaram.

A sopa fraterna passa a ser distribuída de segunda à sexta, reforçando a alimentação de famílias de baixíssima renda.

Tem início o “Evangelho no Lar” nos bairros, semanalmente, entre os espíritas de cada bairro, que se reúnem na casa de um deles para preces, leituras de esclarecimento e conforto espiritual e o estudo de um dos livros da coleção André Luiz.

A distribuição gratuita de livros espíritas atinge cifras cada vez mais expressivas. Entre 2012 e o início de 2014, foram doados à população taiobeirense mais de 700 exemplares de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Se a primeira fase do movimento espírita de Taiobeiras se desenvolveu com os pioneiros da família Rêgo, durante 30 anos, a se gunda fase teve curso nos 20 anos seguintes à fundação de seu centro espírita, a atual “Casa Espírita Allan Kardec”.

O terceiro período se iniciou após a desencarnação de Nelmy Rêgo, em 1993, e a mudança de domicílio de Rose-May Miranda para Belo Horizonte, em torno de 1995, assim obrigada por sérios problemas de saúde. A fase de progresso vem se alongando por esses primeiros anos do milênio, caracterizado por singular expansão da divulgação da Doutrina Espírita, com destaque para a contribuição de Rafael Ângelo de Miranda.

O centro espírita é bastante frequentado e respeitado na cidade, e conta com dezenas de trabalhadores efetivos, que atuam nos seus diversos setores.

Em fevereiro de 2020, a Casa Espírita Allan Kardec completou seus primeiros cinquenta anos de existência, espalhando fé racional e consolo espiritual, exemplificando a inabalável convicção espírita na obrigação moral do homem de trabalhar para promover o bem-estar da Humanidade, materializada no lema maior: fora da caridade não há salvação.


Antônio Félix da Silva
Associado Correspondente
Florianópolis - SC

FRAGMENTOS

BRASILIDADE (SETEMBRO DE 1992)

Ela tem mais de quarenta anos de idade, porém ainda conserva a jovialidade de uma adolescente. Ela é branca e tem os cabelos ruivos, quase avermelhados. Apesar de não ser feia, ela nunca se casou. Ela se explica:

- Pra que casar? Sou independente e não preciso de ninguém pra tomar conta de mim.

Ela vive da renda da venda de cocadas que ela mesma faz e entrega aos meninos de rua para vender. Ela dita as regras aos meninos:

- De cada dez cocadas que você vender, uma é sua. Não quero roubo nem desculpas. Sejam espertos, pois quem falhar comigo, entrego direto para o Juizado.

Ninguém falha com ela. Quem consegue vender bem, ganha bom dinheiro por dia.

Ela também recebe o aluguel de um barracão quem tem no quintal de sua casa. É uma herança do pai.

Ela aponta para uma menina que está ao seu lado e esclarece:

- Você está vendo esta menina aqui do meu lado? Ela tem sete anos de idade e se chama Jéssica. A mãe dela trancava-a em casa à noite e saia para dançar. Tomei-a para mim. Hoje é a minha filha.
Não é bonita?

A menina morena de cabelos compridos e olhos graúdos apenas sorri. - Por que a senhora pegou essa criança para criar? - Por que é minha a responsabilidade de diminuir o sofrimento das pessoas. Já que o governo não faz isso, eu faço a minha parte. Dou um lar para ela, a alimento, dou roupas e muito amor. Ela já está estudando.

A Semana da Pátria é a melhor época da vida dessa senhora. No dia sete de setembro ela se veste de verde, amarelo, azul e branco e vai para a avenida comemorar a data, saudando todo o mundo, aplaudindo o desfile de Sete de Setembro.

Ela faz questão de subir no palanque com a Jéssica, junto com as autoridades para melhor aplaudir os participantes do desfile e o aniversário do Brasil.

Seus cabelos, os colares, os brincos, tudo está no mais completo estilo verde, amarelo, azul e branco. No desfile de Sete de Setembro de 1992 em Montes Claros, ela ganhou de um admirador uma sombrinha nas cores, verde e amarelo. Quando lhe pergunto se ela tem medo do futuro, me responde com segurança: - Não! Deus é Pai e o Pai não abandona suas criaturas e nem o Brasil.

Assim é o modo de viver de Emília, a brasileira que mora em Montes Claros. Ela é feliz e ajuda muitas pessoas a ser feliz também.

UM CANTO DE DOR NO CERRADO (1988)

A Primavera chegou em Montes Claros e eu nem percebi. Ameacei arrancar os meus cabelos, bater forte com os pés na terra seca protestando e até dizer algumas pragas conhecidas. Eu reagi a tempo e descobri. Afinal eu não tenho tanta culpa assim.

A Primavera quando chega ilumina a terra com flores e perfume. Os campos ficam floridos e os pássaros gorjeiam alegremente por entre as flores homenageando a vida. Os animais procriam e até as tesourinhas, pássaros de outras plagas, que migram para o cerrado nessa época, voam alegres perseguindo os urubus que voam perto de seus ninhos.

Neste ano de 1988, não aconteceu nada disso. Não vejo as flores porque as árvores foram transformadas em carvão. Pobres carvoeiros de todas as idades que se definham com as árvores que queimam.

Pobre daqueles que se enriquecem queimando árvores e aniquilando homens, que para sobreviver se submetem a esse tipo de serviço, causando um mal irreversível à natureza.

Os campos estão mortos. A terra nua apela aos céus num grito mudo de dor e de desalento. Não vejo os pássaros, nem as borboletas, nem as abelhas, nem sinto o perfume das flores para anunciar a chegada da Primavera.


Petrônio Braz
Associado Emérito

RELEMBRANDO A HISTÓRIA

A tomada do Poder pelos Militares, no Brasil Moderno, começou em 1954 e foi concluída em 1964. A chamada Revolução de 1964 nasceu, efetivamente, dez anos antes. Teve sua formulação no fatídico dia 24 de agosto de 1954 e início de sua gestação nos dias 10 e 11 de novembro de 1955.

No dia 24 de agosto de 1954, com o suicídio de Getúlio Vargas, o vice-presidente Café Filho assumiu a presidência da República. Cumpre ser lembrado que Getúlio Vargas, em 1950, havia vencido, com expres¬siva maioria de votos, o candidato da UDN, brigadeiro Eduardo Gomes.

Oportuno se torna lembrar que Café Filho, embora tivesse sido eleito vice-presidente nas eleições de 1950 e tomado posse juntamente com Getúlio Vargas, esse eleito presidente, não contava com o apoio do PSD e do PTB, nem tão pouco gozava de simpatias juntoà Igreja Católica.

Por indicação do marechal Juarez Távora, Café Filho nomeou o general Henrique Teixeira Lott como Ministro da Guerra.

A campanha eleitoral de 1955 já estava deflagrada com Juscelino Kubitschek como candidato da coligação PSD-PTB e o marechal Juarez Távora como candidato da UDN à presidência da República.

Juscelino venceu as eleições, mas a UDN não se conformava com o resultado das urnas. Antes da posse de JK, que estava sendo contestada pela UDN, no enterro do general Canrobert Pereira da Costa, no dia 31 de outubro de 1955, o coronel Jurandir de Bizarria Mamede leu um provocante discurso, na presença do Ministro da Guerra, no qual declarou de forma ostensiva que “os decaídos de 1954 não voltariam ao poder”.

A crise estava instalada.

O general Lott exigiu do presidente Café Filho a punição do coronel Mamede. O presidente, por seu lado, recebia da UDN pressão para dar um golpe militar. Esse, entretanto, acovardado, preferiu declarar-se doente e licenciou-se.

Assumiu a presidência da República o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz que, embora pertencesse ao PSD de Minas Gerais, não tinha sido simpático à candidatura de Juscelino e, como lembra Paulo Affonso Martins de Oliveira, aliado aos líderes da UDN, “aceitava a ideia de um regime de exceção para o Brasil”.

O líder da Maioria na Câmara dos Deputados, José Maria Alkmim, fez inflamado discurso para lembrar ao presidente empossado a necessidade da manutenção da ordem democrática.

Tempos dramáticos que vivi como prefeito municipal de minha terra, São Francisco, eleito pela coligação PSD-PTB, um ano antes.

Carlos Luz, no dia 10 de novembro daquele mesmo ano de 1955, demitiu o general Lott do Ministério da Guerra e nomeou, em sua substituição, o general Fiúza de Castro, por indicação da UDN.

A Marinha e a Aeronáutica apoiaram o golpe planejado pelo grupo militar ligado à UDN. Era a implantação do regime de exceção, de natureza militar.

Na madrugada do dia 11 de novembro, o general Odílio Dennys aliou-se ao general Lott. O Exército invadiu as ruas e as tropas ocuparam pontos estratégicos do Rio de Janeiro, então capital da República, e de outras cidades. Os Ministérios da Aeronáutica e da Marinha foram cercados. O contragolpe comandado pelos generais Lott e Dennys permitiram a posse de Juscelino Kubitschek na presidência da República. O Exército manteve a Democracia.

O inconformismo da UDN persistiu durante os dez anos que se seguiram. Finalmente, o regime de exceção para o Brasil veio com a Revolução de 1964.


A força – O leão representa o poder em virtude de possuir a força física ou moral; de ter influência nas atitudes e valimento nas ações praticadas. Por essa razão o IHGMC adotou como símbolo de sua força o majestoso rei das selvas: o leão.

A fé – A fé em Nossa Senhora da Conceição e São José. Como se sabe, José Lopes de Carvalho era devoto dos pais de Jesus Cristo e na conclusão do seu pequeno templo religioso, em 1769, ele homenageou o exemplar casal como sendo os padroeiros da capelinha. Hoje, os pais de Jesus Cristo são representados no brasão da cidade de Montes Claros por duas flores de lis.

A sabedoria – A história de Montes Claros nos ensina que o morro Dois Irmãos forma a letra “M”, de dois montes que são claros. A sabedoria do povo, através do tempo, tradicionalmente nos explica dessa forma, não obstante sabermos que a origem do nome Montes Claros se deve a Antônio Gonçalves Figueira (1707), que era neto de portugueses, e para homenagear a batalha vitoriosa dos Montes Claros, quando Portugal se libertou definitivamente da Espanha, ele adotou este nome para a sua fazenda de criar gado.


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