HOMENAGENS PÓSTUMAS
A SÓCIOS
NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO
A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram
ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes e convidados;
A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos
em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem
nela contidos.
A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores
dos artigos publicados.
FINS DO IHGMC
Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e
a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do
município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como
o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico,
artístico e cultural.
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
APRESENTAÇÃO
Sempre muito gratificante fazer a apresentação de mais uma Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, realmente
muito! Com esta de número quatorze, estamos chegando
a 2.500 páginas de história da cidade e da região. São registros importantíssimos,
muitos dentro das exigências oficiais, a maioria para
leitura livre, descontraída, até mais estórias do que histórias. De uma
forma ou de outra, desempenhamos o principal papel do Instituto,
que é o de divulgação de nomes, de locais, acontecimentos, ideias,
mais do que tudo o luxo de fixar momentos que vão gerar memórias.
Em verdade, o valor do nosso trabalho só poderá ser realmente medido
pelos que vierem depois de nós.
É importante ressaltar que todo esforço de planejamento, de
arrecadação de textos, de organização gráfica, além do levantamento
de fundos para custeio, tudo é devido a dois companheiros fieis desde
a primeira hora: os doutores Dário Teixeira Cotrim e Itamaury Teles
de Oliveira. A eles, nestes oito anos de funcionamento do IHGMC,
o nosso justo agradecimento e toda a nossa consideração. E não é
só a tarefa intelectual, é muito mais, porque cada publicação envolveu
compromissos financeiros, com responsabilidade direta junto a
formatadores e editores, tudo assentado na credibilidade que sempre
tiveram.
Que todos os leitores – associados ou não do IHGMC – se beneficiem
do conteúdo desta Revista XIV, com toda certeza mais um
sucesso em nossas atribuições.
Wanderlino Arruda
Presidente
ACONTECENDO....
JANEIRO DE 2015 – EM PÉ: José Ferreira da Silva, Expedito Veloso Barbosa,
José Ponciano Neto, Juvenal Caldeira Durães, Manoel Messias Oliveira, Wanderlino
Arruda, Eustáquio Macedo, Mara Narciso, Lázaro Francisco Sena e Itamaury Teles.
SENTADOS: Dário Teixeira Cotrim, Edwirges Teixeira de Freitas, Palmyra Santos
Oliveira, Marilene Veloso Tófolo, Maria do Carmo Veloso Durães, Yvonne de Oliveira
Silveira e Regina Maria Barroca Peres.
MARÇO DE 2015 - Edwirges Teixeira de Freitas, Edvaldo de Aguiar Fróes, Sebastião
Abiceu, Maria Aparecida Costa, Mara Narciso, Evany de Brito Calábria, Juvenal
Caldeira Durães, Felicidade Patrocínio, Marilene Veloso Tófolo, Maria do Carmo Veloso
Durães, José Ponciano Neto, Dário Teixeira Cotrim, Itamaury Teles, Eustáquio Macedo,
Wanderlino Arruda, Viviane Marques Terence, Expedito Veloso Barbosa, José Ferreira
da Silva e Lázaro Francisco Sena.
REUNIÃO DE ABRIL – POSSE DE NOVOS SÓCIOS – ELOS CLUBE DE
MONTES CLAROS: Dário Teixeira Cotrim, Petrônio Braz, Evany de Brito Calábria,
Wanderlino Arruda, Itamaury Teles, Filomena Alencar Prates, Ana Valda Vasconcelos,
Norival..
REUNIÃO DE MAIO – Expedito Veloso, Dário Teixeira Cotrim, Marilene Veloso
Tófolo, Maria do Carmo Veloso Durães, Juvenal Caldeira Durães, Capitão Malveira,
Leonardo Campos, Mara Narciso, Eustáquio Macedo, Lázaro Sena, Manoel Messias,
Irany Teles, Sebastião Abiceu, José Ferreira, Itamaury Teles. SENTADOS: Regina Peres,
Wanderlino Arruda, Palmyra Santos, Ediwirges Teixeira de Freitas e Maria Luíza Silveita
Teles.
NOTICIANDO...
POSSE DE SEBASTIÃO ABICEU NO IHGMC
Sebastião Abiceu (com sua esposa Dóris Araújo) tomou posse na Cadeira nº 11 do
IHGMC que tem como patrono o jornalista Ary Oliveira.
POSSE DE EUTÁQUIO MACEDO NO IHGMC
Eustáquio Macedo (recebendo o diploma das mãos do deputado Antônio Soares Dias)
que tomou passe na Cadeira nº 70 do IHGMC que tem como patrono José Tomaz
Oliveira.
POSSE DE VIVIANE MARQUES TERENCE NO IHGMC
Dra. Viviane Marques Terence (aqui com o seu esposa ... ) que tomou posse na Cadeira
nº 45 no IHGMC, que tem como patrono o historiador Henrique de Oliva Brasil.
POSSE DE LEONARDO ÁLVARES DA SILVA CAMPOS NO IHGMC
Leonardo Álvares da Silva Campos assinando o termo de posse na Cadeira nº 97 do
IHGMC, que tem como patrono o historiador Urbino Vianna.
POSSE DE ANA VALDA XAVIER VASCONCELOS NO IHGMC
A professora Ana Valda Xavier Vasconcelos tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros, na Cadeira N. 14, que tem como patrono o saudoso Arthur Jardim
Gomes Castro.
POSSE DE ÂNGELA MARTINS FERREIRA NO IHGMC
A fotógrafa Ângela Martins Ferreira tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros, na Cadeira N. 52, que tem como patrono o saudoso João Chaves.
PALESTRA DO HISTORIADOR DÁRIO TIXEIRA COTRIM NA
UNIMONTES – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
Atendendo gentil convite da confreira Filomena Luciene Cordeiro Reis, o acadêmico Dr.
Dário Teixeira Cotrim ministrou palestra no I Encontro de História e Literatura, organizado
pela Unimontes – Universidade Estadual de Montes Claros, no dia 26 de março
de 2015. O tema abordado foi a história antiga da cidade, baseado no livro História
Primitiva de Montes Claros, de autoria do palestrante.
LIVRO: SONHOS DE MARIA - Maria Mendes Ferreira
Foi lançado no Elos Clube de Montes Claros, com o apoio cultural do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, o livro Sonhos de Maria, da escritora Maria Mendes Ferreira,
pela Academia Montes-clarense de Letras. O livro teve apresentação do acadêmico
Gy Reis Gomes Brito e do confrade Wanderlino Arruda.
LIVRO: CHICO PITOMBA & MANÉ JUCA - Dário Teixeira Cotrim
O escritor Dário Teixeira Cotrim proferiu palestra sobre as obras de Cândido Canela no
Elos Clube de Montes Claros, com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros. Na oportunidade ele lançou o livro Chico Pitomba e Mané Juca, uma dupla
caipira formada por Cândido Canela e Antônio Rodrigues.
LIVRO: O LADO DE DENTRO DAS COISAS – Karla Celene Campos
Aconteceu o lançamento do livro “Do Lado de Dentro das Coisas”, da confreira Karla
Celene Campos, no espaço cultural do Barzinho Catrumano, com o apoio do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros e das Academias Feminina de Letras e Montes-
clarense de Letras.
LIVRO: TONINHO RABELLO – Ivana Rebello & Jorge Silveira
Lançamento do livro Toninho Rebello aconteceu no Salão de Convenções do Parque de
Exposição João Alencar Athayde, no dia 25 de fevereiro deste ano. A sessão foi presidida
pela professora Yvonne de Oliveira Silveira, da Academia Montes-clarense de Letras e
do Dr. Wanderlino Arruda, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros.
LIVRO: MONTES CLAROS. ARTE, TRADIÇÃO E FÉ
A obra, produzida pela Prefeitura de Montes Claros através da Secretaria de Cultura,
reúne diversas fotos que destacam aspectos culturais e históricos da cidade norte-mineira.
Um dos objetivos principais é mostrar a diversidade cultural de Montes Claros, através
de registros históricos e fotografias de eventos oficiais da Prefeitura.
Antônio Augusto Pereira Moura
Cadeira N. 12
Patrono: Antônio Teixeira de Carvalho
TOPONÍMIA, O SIGNIFICADO
DAS RUAS DENTRO DA
HISTÓRIA DE MONTES CLAROS
Artigo extraído da dissertação de Mestrado de Luciana Canan
Percorrendo as vias da cidade, verifica-se que uma leitura peculiar,
repleta de códigos, categorias e interpretação do texto-cidade.
Elas permitem diferentes roteiros, alguns repletos de tradições
outros simplesmente físicos, mas em ambas situações, busca-se um
entendimento do fenômeno urbano contemporâneo (LEITE, 2005).
Pelo fato das pessoas perceberem a cidade enquanto se deslocam
pelos percursos, estes não apenas estruturam a sua experiência,
mas também estruturam os outros elementos da imagem da cidade.
Tais caminhos pelos quais o observador se move são considerados
como os principais elementos estruturadores da percepção ambiental.
Assim, verifica-se que alguns caminhos podem adquirir especial relevância
em função da concentração de um tipo especial de uso (ruas
intensamente comerciais), qualidades espaciais diferenciadas (muito
largas, muito estreitas), tratamento intenso de vegetação (árvores e jardins), continuidade visual, origem e destino bem claros, auxiliando
sua identidade e consequentemente contribuindo na formação da sua
imagem.
Dias (2000) observa que, muitas vezes, existe uma prática comum
de nomear as vias, a princípio um hábito inocente de vereadores,
mas em algumas situações uma preocupação para a perenização
da memória de personagens e fatos da história entrelaçados às experiências
locais.
A perpetuação da história oficial pode ser verificada
na denominação das vias públicas de todo o Brasil, mas as
cidades, onde o batismo efetivamente ocorre, costumam imprimir,
por conta de sua própria história, contornos específicos
a esse processo. Analisar a organização dos nomes de
ruas de uma cidade é aferir dimensões significativas de sua
relação com a história (DIAS, 2000, p.105).
O autor ainda argumenta que tal estratégia possui limitações,
uma vez que apesar de reconhecidas as homenagens, o critério de seleção
se altera com o passar do tempo, ocasionando a alteração dos nomes,
além é claro, de correrem o risco de perder seu significado e com
o tempo passarem a ser apenas uma placa na rua. Dessa forma, para
que “não se perca o sentido que moveu a nomeação, é imprescindível
o acompanhamento permanente de outros processos de informação
e educação, como o ensino de história e as festas cívicas” (PINSKY,
1988).
Outro aspecto importante, refere-se a forma com que a população
estabelece uma lógica própria e criativa para se referir a determinados
espaços, apropriando-se deles a despeito das exigências legais
necessárias para a autorização do poder público responsável por designar
um nome a uma via.
Situação similar à de várias cidades brasileiras, ocorre na cidade
de Montes Claros que através das homenagens aos principais homens
públicos conta importantes passagens de sua história.
Os relatos a seguir baseiam-se nos escritos de Hermes de Paula
(1979), orgulhoso montes-clarense, que nas horas vagas de sua intensa
vida profissional como médico, dedicou-se a seu livro “Montes
Claros, sua história, sua gente, seus costumes”, uma homenagem a
cidade que tanto fez em valorizar. Assim justifica-se neste momento
um contemplar específico, uma percepção individual da paisagem baseada
em imagens do passado.
A primeira casa a ser construída na Fazenda de Montes Claros
em 1768 pelo Alferes Lopes de Carvalho existiu na rua Dona Eva número
34, até entrar em ruínas na década de 1975 (Figura 01).
Figura 01 - Casa sede da Fazenda dos Montes Claros construída pelo Alferes José Lopes
de Carvalho. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros
Era uma construção simples, térrea, em pau a pique com sistema
construtivo de característica do período colonial. Apresentando
cobertura em duas águas, em telhas curvas com cachorros no beiral. A
fachada apresentava uma ordenação constante dos vãos (portas e janelas),
emoldurados em madeira e com duas folhas de abrir tipo calha.
Mais tarde, passou a ser habitada por Dona Eva Bárbara Teixeira de Carvalho, figura importante na cidade, de família antiga e tradicional,
foi a primeira mulher a trabalhar como professora primária em
Montes Claros, sempre incansável no estímulo do progresso da cidade.
Fundadora da “Banda Euterpe Montesclarense” que tocou pela
primeira vez no dia 7 de julho de 1857, quando a Vila das Formigas
foi elevada à condição de cidade de Montes Claros. A partir de então,
a banda sempre esteve presente em todos os acontecimentos sociais e
políticos mais importantes da cidade, até esquecida por muitos anos,
apenas em 2013, por meio da aquisição de novos instrumentos musicais
teve resgatada sua história pela iniciativa pública.
A rua Coronel Celestino, homenageia o comerciante bem sucedido
e político tolerante, que ocupou vários cargos como vereador, vice-presidente da Câmara e deputado estadual. Foi também professor,
promotor de justiça, inspetor de ensino e juiz de paz. Recentemente a
esta sofreu várias adequações passando a ser conhecida como “Corredor
Cultural Padre Dudu”, onde podem-se observar edificações consideradas
testemunho da história do desenvolvimento da cidade de
Montes Claros por apresentarem interesse arquitetônico relevante e
será detalhada em momento oportuno.
Por sua vez, o cônego Hermano José Ferreira, chamado de Padre
Dudu, assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e São
José em 1950. Conhecido por sua devoção no cumprimento do dever
sacerdotal, pregava aos paroquianos, os princípios fundamentais em
que se apoia a Igreja Católica e realizava trabalhos na Fundação do
Apostolado da Oração, da Pia União das Filhas de Maria, da Legião
de Maria, da Arquiconfraria das Mães Cristãs, grupos de oração, catequese
Infantil, entre outros, sempre defendendo e mantendo o Largo
da Matriz em boas condições de conservação.
Desde a construção da sede da Fazenda e, posteriormente, da
igreja, a cidade se desenvolveu entorno do Largo da Matriz, em duas
ruas paralelas situadas nos dois lados da praça, a Rua de baixo e a Rua
de cima. Atualmente denominada rua Justino Câmara, a antiga ruadireita ou a Rua de Cima, homenageia o agente executivo municipal e
deputado Justino de Andrade Câmara. Homem dinâmico na política,
apesar de não ser montes-clarense, sempre abraçou as boas causas da
terra como a construção da Santa Casa de Caridade. A via em toda
sua extensão ainda tem algumas edificações de valor histórico para
a cidade, apesar de serem construções muito simples compostas de
estrutura de madeira, vedações em adobe e cobertura em duas águas.
De portes diferentes, maiores ou menores, elas mantêm, em parte,
suas características originais, sendo implantadas sobre o alinhamento
da via pública. (Figuras 02 e 03).
Figuras 02 e 03 - Praça da Matriz, Dr. Chaves - sem referência data. Fonte: Arquivo
Secretaria da Cultura de Montes Claros
A rua Justino Câmara, junto com a rua Simeão Ribeiro formavam
a Rua do Comércio. Seu nome faz homenagem ao ilustre presidente
da Câmara em 1898, o Major Simeão Ribeiro dos Santos cujo
grande serviço prestado à comunidade durante sua administração
foi a construção do Mercado Municipal. Atualmente, a rua é de uso
exclusivo de pedestre, sendo conhecida por todos como o “Quarteirão
do Povo”. No local existe a presença de alguns equipamentos urbanos
como bancos e telefone público (Figura 04).
Como um limite aos passos apressados dos usuários sempre
atentos às vitrines da “Rua do Comércio”, a rua do Bate-Couro quebra
uma continuidade linear, obrigando o pedestre a uma mudança
de percurso. Atualmente, denominada rua Governador Valadares,
possuía este nome, pois ali ficavam diversas oficinas de selaria e de
chapéus de couro; chamou-se, posteriormente, Coração de Jesus até
passar a ter a denominação atual, em agradecimento a Benedito Valadares,
responsável pela canalização da água na cidade quando de seu
mandato como governador do estado.
Figura 04 - Rua Simeão Ribeiro, década de 40, vendo-se à direita o mirante da casa do
Coronel Maia. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros.
Mais à frente, encontra-se a praça Doutor Carlos Versiane homenagem
a Carlos José Versiane, médico dos pobres. Junto ao deputado
Justino Câmara foi um dos fundadores da Santa Casa de Caridade,
chefe do Partido Conservador de Montes Claros, tendo sido
vereador, presidente da Câmara Municipal e deputado provincial em
várias legislaturas. Exercia sua profissão pelo respeito ao próximo clinicando
quase sem receber honorários. Viveu e morreu pobre tendo
sido seu trabalho reconhecido pelo povo. A praça também era conhecida
como Largo da Caridade ou Largo do Mercado; desde que ali se
construiu o primeiro mercado da cidade (Figura 05).
Montes Claros foi, desde sua origem, considerada um excelente
ponto de venda e compra de mercadorias principalmente para os
tropeiros. Por tal motivo, a cidade abrigou a construção de vários
ranchos de tropa, fortalecendo a existência de um mercado. “Ao norte,
ergue-se a única igreja da vila, perto da qual se encontra excelente
mercado, bem coberto, para vendas de provisões vindas do interior”
(Dr. George Gardner apud PAULA, 1979, p95). Em 1878, surgiu
a ideia da construção de um mercado para suprir as necessidades da
cidade. Após algumas propostas e embates políticos, em 1896, alguns
comerciantes reuniram-se e ofereceram à Câmara um terreno e
uma verba para cobrir despesas de possíveis desapropriações. O então
presidente da Câmara, Dr. Honorato Alves, formou uma comissão
responsável que analisou a proposta, e apesar da forte oposição dos
comerciantes da “cidade baixa”, iniciou-se a construção do mercado
municipal. João Fróes, então ficou a cargo da construção projetada
pelo engenheiro Frederico Gambra. Contudo, ele achou conveniente
realizar algumas modificações no projeto edificando apenas parte do
prédio, retirando os alicerces de pedra previstos e utilizando em seu
lugar o travamento na base de aroeira. As alterações feitas pelo “engenheiro
prático” pouparam tempo e recursos; contudo, pouco tempo
após o término da construção, ouviu-se na cidade um ruído enorme e
logo após uma terrível movimentação: a cobertura do mercado havia
ido abaixo, para euforia dos comerciantes da “cidade baixa” e tamanha
tristeza “dos de cima”.
Figura 05 - Antiga praça Dr. Carlos Versiane, com seus postes ornamentais e jardins
parasienses - sem referência de data. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes
Claros.
A tragédia só não foi maior porque não houve vítimas. O Cel.
Antônio dos Anjos, sempre atuante em todos os empreendimentos
coletivos para o bem do município, liderou um grupo que tomou a
iniciativa de angariar fundos para uma nova construção. A primeira de
muitas foi a generosa doação de Cassimiro Mendonça com 200$000
(duzentos mil réis), cujo montante impressionou a todos. Assim em
2 de agosto de 1899, foi inaugurado o novo mercado, cuja construção
seguiu rigorosamente as orientações do engenheiro responsável
(Figura 06).
“O mercado mede 29 metros de frente por 32 de fundo;
de lado tem sete cômodos de venda, sendo que o salão
central, destinado em princípio apenas aos tropeiros e bruaqueiros,
mede 14 metros por 30. Hoje, este espaço ficou reduzido
a menos da metade, porque a administração, na ânsia
de melhorar as rendas, tem concedido licença para vários
quiosques e açougues, angustiando cada vez mais o espaço
destinado aos produtores e compradores... (1950) (PAULA,
1979, p97).
Figura 06 - Antigo Mercador Municipal - sem referência de data. Fonte: Arquivo Secretaria
da Cultura de Montes Claros.
Durantes muitos anos, este mercado foi um ponto de encontro
da cidade, referência incontestável da vida comercial e social não só
dos habitantes de Montes Claros, mas de todos os visitantes, habitantes
das cidades vizinhas. Entretanto, aquele mercado foi demolido na
primeira administração de Antônio Lafetá Rebelo (1966-1969), dando
lugar a dois outros. O mercado do centro localizado na rua Coronel
Joaquim Costa e o mercado do sul situado à rua Melo Viana. Após
a demolição, a área vazia foi transformada em uma grande área de
estacionamento e mais tarde foi construído o atual Shopping Popular.
“Aos sábados, tornou-se o hábito de todos, era o dia da
feira. Todos os moradores da nossa cidade antiga dirigiam-se ao Mercado para fazerem suas compras... Os bruaqueiros
com enorme variedade de mercadorias iam chegando, aos
poucos, desde a madrugada e enchendo o Mercado: farinha
de milho bem torradinha, queijos, requeijões, farinha de
mandioca do Morro Alto, beiju de goma tão clarinhos... As
mocinhas da roça que vinham vender suas verduras cultivadas
na beira dos regos (abóboras, quiabo, chuchu, maxixe,
tomatinhos para molho, salsa, cebolinha; tão verdinhas)
eram bem bonitinhas de vestido novo de chita, um “rouge”
muito vermelho, boquinha de coração, brincos e colares de
contas coloridas, mas quando riam mostravam sempre falhas
de dentes na frente. Era uma pena. De boca fechada até que
passavam. Mas mesmo assim com toda “jecura”, faziam conquistas,
com moços da cidade que lhes davam uma “colher
de chá”...No fundo do Mercado, do lado de fora ficavam os
animais e também as bruacas espalhadas pelo chão. E o dia
inteiro era aquele movimento no Mercado. Este espetáculo
durou anos. A cidade cresceu e aos poucos foi se modificando.
(GRAÇA, p 207, 2009).
Continuando a caminhada histórica, agora subindo a rua Doutor
Santos, homenagem ao Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, formado
em Farmácia e posteriormente em Medicina. Na infância era
chamado de Santo ou Santinho, apelido que se modificou para Santos,
como era conhecido. Homem culto e estudioso, celebrizou-se por
seus diagnósticos sempre precisos e rápidos e por sua atuação sempre
dinâmica vida política. Colaborou com a construção do Sanatório
Santa Teresinha (1932) e com a sede do Clube de Montes Claros
(1934), foi vereador por vários períodos e prefeito entre 1937-1942,
realizando importantes melhoramentos para a cidade, tornando-seídolo da população na época (Figura 07).
Figura 07 - Antiga rua Dr. Santos - sem referência de data. Fonte: Arquivo Montes
Claros.com
Chega-se à praça Coronel Ribeiro, o ponto de volta, reformada
em 2012, que recebeu este nome em homenagem ao Coronel Francisco
Ribeiro dos Santos importante industrial do final do século XIX,
que muito contribui para a instalação da luz elétrica na cidade de
Montes Claros em 1917.
Figura 08 - Antiga rua Camilo Prates esquina rua Padre Augusto - sem referência de
data. Fonte: Arquivo Montes Claros.com
Agora no caminho de volta, descendo pela rua Camilo Prates,
que fazia parte da cidade baixa. Também importante via de acesso,
tem o nome do influente político Camilo Filinto Prates, que deixou
a tradição de um trabalho voltado a nobres causas em busca do desenvolvimento
da cidade, deputado federal (1911-1930) pertencia ao
partido de baixo, sendo adversário ferrenho do Dr. Honorato Alves
(Figura 08).
O percurso segue em direção norte até cruzar novamente com
a rua Governador Valadares, seguindo novamente por ela até a rua
Doutor Veloso, local muito frequentado pela população com a presença
de várias lojas de vestuário e calçados.
A rua faz menção ao Doutor Mário Versiani Veloso, natural de
Montes Claros, após estudar Farmácia em Ouro Preto, voltou à cidade,
dedicando-se à política. Foi sócio-fundador do Sanatório Santa
Teresinha, colaborou em grande parte com a implantação do calçamento
na cidade e com a construção do Teatro Renascença (Cinema
Montes Claros), sendo reconhecido por seu espírito conciliador e pela
conduta serena.
Retorna-se ao Largo da Matriz, onde o percurso termina em
frente à Capela de Nossa Senhora da Conceição e São José construída
em 1769. Em 1832, esta edificação religiosa, se apresentava em estado
de ruína, sendo demolida em 1839 para dar lugar a atual Igreja de
Nossa Senhora da Conceição e São José. Construída um pouco maisà frente em relação à capela original, ao longo de todos esses anos, a
atual igreja passou por várias reformas, sendo hoje conhecida pelos
montes-clarenses como Igreja da Matriz (Figura 09). A primeira construção
foi assim descrita por Ausgust Saint-Hilaire.
“A igreja de Formigas, muito pequena para a atual
população da vila, é pouco ornada no interior, e tem três
lados rodeados externamente por uma galeria. No santuário
existem três altares, dois laterias e o do meio. As imagens dos
santos tem na cabeça uma auréola de prata que se coloca e retira à vontade. Essa auréola é um crescente munido de
raios retos e mássicos que produzem péssimo efeito. Formigas
não é, aliás, o único lugar em que esse gênero de ornato
está em uso; já o tinha observado em todas as outras igrejas
da província” (Ausgust Saint-Hilaire apud PAULA, 1979,
p13).
Figura 09 - Largo da Matriz, final do século XIX. Fonte: Arquivo montesclaros.com
No caminho percorrido e pelas observações feitas, reconhece-se
que a cidade tem diferentes formas de ser lida, ela se apresenta metaforicamente
como um texto, pronta para a leitura e interpretações. A
história se faz presente em suas entrelinhas, constituindo-se de uma
série de tempos superpostos aos quais se tentou aqui imprimir um
significado de uma decodificação que resgata um pouco da política e
das práticas sociais tão fortes na vida dos cidadãos de cada época. A
história dos grandes homens se vai, mas seus nomes permanecem na
história junto com as lembranças de seus grandes feitos.
Em meio a múltiplas interpretações, há um consenso
de que a paisagem cultural é fruto do agenciamento do
homem sobre seu espaço. No entanto, ela pode ser vista de diferentes maneiras. A paisagem pode ser lida como um documento
que expressa a relação do homem com o seu meio
natural, mostrando as transformações que ocorrem ao longo
do tempo. A paisagem pode ser lida como um testemunho
da história dos grupos humanos que ocuparam determinado
espaço. Pode ser lida, também, como um produto da sociedade
que a produziu ou ainda como a base material para
a produção de diferentes simbologias, consequencia de interação
entre a materialidade e as representações simbólicas
(RIBEIRO, 2007, p9).
REFERÊNCIAS
DIAS, Reginaldo Benedito. A História além das placas: os nomes
de ruas de Maringá (PR) e a memória Histórica. In: Hist. Ensino,
Londrina, v. 6, p. 103-120, out. 2000.
LEITE, Julieta. A cidade como escrita: O aporte da comunicação
na leitura do espaço urbano. Arquitextos, São Paulo, 06.067, Vitruvius,
dez. 2005.
PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros, sua história, sua
gente, seus costumes. Belo Horizonte: Minas Gráfica, 1979.
PINSKY, J. Nação e ensino de história no Brasil. In: PINSKY, J.
(Org) O ensino de história e a criação do fato. São Paulo: Contexto,
1988.
RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e patrimônio. Rio de
janeiro: IPHAN/COPEDOC, 2007.
Clarice Sarmento
Cadeira N. 31
Patrono: Dulce Sarmento
Dulce Sarmento
Éramos uma turma de “capetas dos infernos”. Não sei quem primeiro
utilizou o epíteto. Acho que uma de minhas tias que
morava conosco e sofria com as travessuras. Só sei que “pegou”.
Dona Sinhá, sogra de Mariafra Sarmento, que era nossa vizinha, “Vá”,
como era chamada pelos netos, também o utilizava ao nos expulsar
para “atentar” noutro lugar.
Na rua Melo Viana daqueles tempos éramos os moleques mais
travessos: eu, Geraldinho, Zé, Honor, Mineu e Rosalvinho (onde andará
o Rosalvinho?) Esses dois últimos eram mais expectadores coniventes
que atuantes. Rômulo era eventual: enturmava-se com os
primos quando de visita, pois morava distante. Nice e Honor brincavam
conosco mas contavam para nossas mães todos os malfeitos e
apanhavam de todos nós.
É neste cenário de minha infância que encontro sempre a presença
de Tia Dulce. Era assim chamada por todos por ser tia de Honor
e Mineu. Era nossa prima e minha madrinha.
A chegada do piano em nossa casa aconteceu em minha ausência.
Estava em Francisco Sá, numa apresentação do Corinho Santa
Terezinha dirigido por Padre Murta: cantávamos missas, ladainhas,
tudo em latim. Um chic só!
Foi um acontecimento! Parecia uma festa, a rua inteira veio
olhar!
Aí começou uma época diferente em nossa casa. Mamãe, festeira
como era, por qualquer motivo chamava Tia Dulce e a festa
acontecia em volta do piano. Suas mãozinhas pequenas e gordinhas
corriam todo o teclado e os sons maravilhosos enchiam a casa e a rua.
Suas bochechas rosadas ficavam mais viçosas pelo copinho de vinho
tinto, que deixava sobre o piano. Mas bebia pouco. Sua alegria era
natural, provavelmente resultante daquele viver cheio de música.
Às vezes trazia Edith, Silvia dos Anjos (que, para nós meninos,
cantava como um passarinho), Nivaldo, João Leopoldo, Ligia Braga,
entre outros, seus alunos de canto e companheiros de cantoria. Aí
tocava e cantavam de tudo: seresta música religiosa, popular, árias
de ópera. Música para ser ouvida, para ser cantada, dançada, música
estrangeira, brasileira, sambinhas e marchinhas popularescas.
Mas o melhor mesmo era quando tocava só para nós! Em volta
do piano, brigávamos pela ordem em que os pedidos deviam ser
atendidos. Eu, como tocava pouca coisa e só lendo partitura, ficava
encantada com a possibilidade de se tocar tudo. Imagine! Até a “Mula
preta”!
Pelos anos afora, acostumamo-nos com sua presença em todos
os acontecimentos de nossa casa, nossa família e nossa cidade.
Nas primeiras comunhões as crianças enfileiradas na praça da
matriz, em seus vestidos brancos compridos, cantavam sua composição:“Montes Claros, Montes Claros, entre hosanas de alegria, celebra
com brilho novo, a glória da Eucaristia....”
Nas noites arrepiadas de maio, seus dedos cheios de música,
solidários com as crianças, também coroavam Nossa Senhora. As ladainhas
cantadas em dias de novena, o coral nos casamentos e a
missa das nove na Matriz, só começavam após sua chegada.
Nas noites de Natal, a seu comando, as “trevas e sombras horrentes”
fugiam, a alegria se fazia, seu coro e os anjos cantavam para
Jesus nascer...
Era quem dava início ás sessões cívicas tocando os hinos oficiais
e outros de sua autoria. Em suas composições cantou os sertões e as
cidades, o sol e a lua, as flores e as crianças, a pátria, as noites e as
madrugadas.
Dava aulas de música na Escola Normal e no Colégio Imaculada.
Organizava corais, pequenas orquestras, dirigia peças teatrais.
Conhecida por todos, guardava seus nomes e assuntos dos adultos
e crianças, beliscando todas as bochechas a seu alcance. Como era
querida! Centenas de afilhados, brancos e pretos, ricos e pobres, anônimos
e importantes.
Quando ela se foi, encerrou-se uma época de saraus, de danças
ao som do piano, de igrejas com organista e coral permanentes, de
pianista a serviço da cidade. Sua remuneração era o reconhecimento,
admiração e amizade de todos.
Seu exemplo ficou para todos nós que recebemos a incumbência
de levar adiante o alicerce musical e artístico que ela aqui construiu.
Esperamos que, lá do alto, ela esteja nos aprovando.
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
O LIVRO DE HAROLDO LÍVIO
Este é um livro de crônicas, do nosso ilustre confrade Haroldo
Lívio de Oliveira, que contém matérias de jornal, de um período
entre os tempos dourados do jornalismo montes-clarense
até o final do milênio passado. São crônicas, com aspecto históricosocial,
todas ilustradas com as vinhetas do competente artista plástico,
Samuel de Souza Figueira e com desenho do imortal Konstantin
Christoff. O historiador Haroldo Lívio é membro da Academia Montes-clarense de Letras e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros. Não obstante o vasto conhecimento que
ele tem sobre a história de Montes Claros, na sua bibliografia consta
ainda os originais do livro “O Antigo Carnaval Pernambucano de
Montes Claros”. Ainda assim, ele teve duas participações em antologias,
sendo a primeira na “Antologia da obra Montes Claros – Sua
história, sua gente e seus costumes”, no ano de 1979, e, também, na“Antologia Literária de Brasília de Minas”, no ano de 1986. E, recentemente,
tem produzido textos para a Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de Montes Claros.
Há nas crônicas de Haroldo Lívio uma suave narrativa que tem
o poder de prender o leitor por horas seguidas. Pois, trata-se de leitura
de fácil compreensão, carregada de emoção e conhecimentos. Cada
palavra do seu texto traz consigo uma maneira peculiar de mostrar
fatos históricos com sabor das reminiscências. Pois, é de forma arguta
que o escritor sintetiza os fatos históricos, numa escrita atraente, bela
e rica de informações. Fala-nos ele de Zé Amaro, Mané Quatrocentos,
Zinho Bolão, Godofredo Guedes e ainda do Cine São Luiz, da
Boneca de Leonel, da Boate da Praça de Esportes e, também, sobre a
visita de Carlos Drummond de Andrade em Montes Claros. O jornalista
Oswaldo Antunes, na apresentação da obra, disse que “Haroldo
mostra em seu livro, às vezes com carinhosa ironia, outras com
lirismo e saudade, a parte mais amena do labor jornalístico: relata
casos, referencia pessoas e fatos históricos, como se lhe estivesse dando
fé-de-ofício”. Nota-se que o livro “Nelson Vianna: O Personagem”
foi reeditado pela Unimontes, com a parceria da Nestlé, durante as
comemorações do sesquicentenário da cidade de Montes Claros.
A velocidade com que as notícias circulam neste mundo globalizado
de hoje, faz-se necessário que outras obras de qualidade sejam
publicadas sem demora de tempo. Deve ser assim porque não se pode
negar a importância dos livros dos nossos escritores. Por outro lado,
entendemos que o os escritores Petrônio Braz, Wanderlino Arruda,
Itamaury Teles e o próprio Haroldo Lívio, sem olvidar os acadêmicos
da Unimontes, são os nomes mais importantes da história antiga e
moderna de Montes Claros e de toda a região.
Não se sabe o motivo que as escolas ainda não adotaram o livro
de Haroldo Lívio nas salas de aula. Os professores, certamente, teriam
uma grande oportunidade de conhecer, com mais profundezas,
as nossas origens e, também, redimensionar os fatos históricos de nossa
terra e analisar as conjunturas dos acontecimentos político-sociais
de um passado glorioso e agora tão presente em nossas vidas com
a restauração do imponente casarão Versiani-Maurício, pela Secreta ria Municipal de Cultura. Pois bem, a leitura de “Nelson Vianna: o
personagem”, de Haroldo Lívio, é o caminho seguro para o esclarecimento,
sem desconfiança, de um passado de lutas e de um presente
arraigado no desenvolvimento da administração pública municipal.
Portanto, bom proveito!
Capa do livro “Nelson Vianna - O Personagem” do escritor Haroldo Lívio.
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
O CONFRADE HAROLDO LÍVIO
Epitáfio para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”
(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, 1.)
Nada poderia ser mais triste que o primeiro dia do ano de
2015, pois a notícia da morte do companheiro Haroldo Lívio
de Oliveira era divulgada com pesar e tristeza nos meios
acadêmicos. Faleceu em casa, ao lado da família e dos amigos, quando
fechou os olhos em busca da eternidade, legando à posteridade um
nome sobre todos os pontos de vista digno, um exemplo verdadeiro
de honestidade, de saber, de cultura e de trabalho pelo bem comum.
Ele ocupava, com méritos, a Cadeira 26 da Academia Montes-clarense
de Letras, que tem como patrono o saudoso Polidoro Figueiredo e
fundador o eminente confrade, Dr. Arthur Jardim de Castro Gomes.
No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pode-se dizer
que foi a pessoa mais influente na sua criação, tendo em vista a sua decisiva
participação na escolha dos nomes para a composição patronal.
Haroldo Lívio tomou posse como sócio fundador do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros, na Cadeira 28, do ilustre
historiador Nelson Vianna. O saudoso historiador Hermes Augusto
de Paula registrou no seu livro “Montes Claros, sua história, sua
gente e seus costumes” que Haroldo Lívio cultivou “o gênero da crônica,
geralmente abordando fatos e personagens do cotidiano local. Seus
trabalhos têm sido publicados na imprensa local e em jornais de outras
localidades”. Foi funcionário do Banco do Brasil, mas preferiu assumir
o cargo de titular do Cartório de Registro de Imóveis, da cidade de
Porteirinha.
Não obstante ter ele escrito vários livros sobre a trajetória histórica
de Montes Claros, somente um desses livros foi publicado até
então. Trata-se da obra “Nelson Vianna: o personagem”, que teve
uma aceitação positiva do público leitor. Nota-se que há nas crônicas
de Haroldo Lívio uma suave narrativa, que tem o poder de prender o
leitor por muitas e muitas horas seguidas. Trata-se de leitura de fácil
compreensão, carregada de emoção e de conhecimentos. Cada palavra
do seu texto traz consigo uma maneira peculiar de mostrar fatos
históricos com o sabor das reminiscências. É de forma arguta que o
escritor sintetizava os fatos históricos, numa escrita atraente, bela e
rica de informações. Este homem deixa agora a história de Montes
Claros em estado de orfandade.
Haroldo Lívio era filho do escrivão José Luiz de Oliveira e de
dona Dalva V. de Oliveira, casado com Maria do Carmo Santos de
Oliveira, com quem teve três filhas: Fabíola, Clarissa e Luciana. Natural
de Contendas, atual cidade de Brasília de Minas, onde nasceu
no dia 21 de setembro de 1938. Hoje, primeiro de janeiro de 2015
ele falece, para tristeza de todos nós. Haroldo deixa o seu nome nos
meios literário de Montes Claros, pontificando como o maior conhecedor
de sua história e da história do norte de Minas. Por outro lado,
ele deixa, também, um nome que é exemplo de quanto valem a força
de vontade e o amor em preservar a história de sua terra e do seu povo.
Haroldo Lívio de Oliveira, um grande profissional da pena, nunca a
usou para outros fins senão aqueles que enobrecem os homens bons!
Délio Pinheiro Neto
Cadeira N. 50
Patrono: Jair Oliveira
A emancipação de
Serranópolis de Minas
Comecei minha carreira na comunicação na Independente FM
de Porteirinha. Foram dois anos de muito aprendizado. Eu
iniciei no final de 1993 e fiquei até 1995, e vivi muitas estórias
interessantes nesse período de descobertas. A mais importante
delas foi a que envolveu a emancipação de Serranópolis de Minas,
minha terra natal. Todo o processo de emancipação foi acompanhado
por mim. Do início do sonho até o desfecho do projeto, que pretendia
transformar o então distrito de Porteirinha numa cidade.
Fatos curiosos envolveram o processo de gestação da cidade. O
meu interesse, através desse texto, é prestar uma justa homenagem aos
homens e mulheres que lutaram para a realização desse sonho.
Muitas tentativas de emancipação aconteceram na história de
Serranópolis que, em outros tempos se chamava Jatobá. Sempre havia
empecilhos que adiavam o sonho do distrito de se emancipar. Quando
Porteirinha se tornou cidade, por exemplo, em 1938, Serranópolis
dispunha de um comércio quase tão movimentado quanto o de lá.
Os critérios utilizados na época valorizaram a estratégica localização
de Porteirinha, localizada na rota que leva à Espinosa, que havia sido
fundada 15 anos antes, já na fronteira com o Estado da Bahia. Depois,
em 1962, foi a vez de Riacho dos Machados ascender à condição
de cidade e, mais uma vez, Serranópolis ficou de lado. Mudavam-se os
critérios a cada nova lei de emancipação, e, por um motivo ou outro,
Serranópolis não lograva êxito em suas tentativas.
Em alguns casos, como na década de 1980, quando o prefeito
de Porteirinha era o falecido empresário Wilson Cunha, foram motivos
pessoais que inviabilizaram o projeto. Meu pai, o comerciante Almir
Alves Pinheiro, levou os papéis para o então prefeito, e este, ao ser
informado que Sandoval Coelho, seu rival político, estava envolvido
com o projeto, não quis apoiar o desmembramento, dizendo que não
se poderia “dar asas a uma cobra”, se referindo a Sandoval.
Sinto muito orgulho de ter participado do processo de emancipação
política de Serranópolis, porque pelo menos três gerações de
minha família alimentaram esse sonho. Meu pai, Almir Alves Pinheiro,
meu avô, Délio Pinheiro de Aguiar e também meu bisavô, Ananias
José Alves, que merecia por parte dos moradores de Serranópolis o
título de coronel, embora nem fosse militar. Todos nós tivemos, em
tempos diferentes, o mesmo objetivo, ver nossa querida Serranópolis
promovida à condição de cidade.
Depois de frustradas as tentativas anteriores, no ano de 1995
surgiu novamente a possibilidade da emancipação através de um projeto
federal. Uma das condições dessa vez, segundo a lei, é que o distrito
deveria possuir um número mínimo de três mil habitantes e ter,
pelo menos, quatrocentas moradias em sua parte urbana.
Os primeiros passos foram traçados pelas pessoas que abraçaram
o projeto da emancipação: Alvimar Cardoso, Sandoval Coelho,
Ramiro Ribeiro, Laury Moreira, Zezé Cordeiro, Eilson Cangussú,
Osmani Antunes, Aveni Ribeiro, além de meu pai, entre outros serranopolitanos.
Para começo de conversa era preciso contar as moradias. Eu
me ofereci para fazer este trabalho. Numa manhã ensolarada do ano
de 1995 eu e Adival Cordeiro, pusemo-nos a contar, uma por uma,
todas as casas de Serranópolis. Foram horas com a prancheta na mão.
Lembro-me de que muitos curiosos perguntavam o que estávamos
fazendo. Diante de nossa resposta, de que estávamos trabalhando
para emancipar Serranópolis, alguns riam. De certo imaginavam que
isso nunca daria certo. Outros, no entanto, demonstravam otimismo.
Quando eu e Adival computamos todas as casas, depois de contá-las
uma por uma, tivemos uma decepção, Havia 368 moradias.
Faltavam, portanto, trinta e duas para o número mínimo exigido
por lei. Este foi um balde de água fria na disposição de todos os
envolvidos. Outra vez um detalhe burocrático vinha azedar os planos
de uma comunidade inteira que sonhava com dias melhores. Mas o
que poderia ser um entrave, desta vez, serviu de estímulo para aqueles
que compunham a comissão informal da emancipação. A primeira
providência foi considerar as casas existentes em um raio de um quilômetro
como pertencentes à região metropolitana da futura cidade.
Existiam vinte casas nestas condições. Ainda assim ficava faltando
doze residências para atender a exigência legal.
Os membros da comissão resolveram construir as casas que faltavam.
Um grande mutirão foi feito e todos colaboraram no que foi
possível. Com dinheiro, com material de construção, com madeira
e com transporte para levar essas aquisições. Os donos dessas casas
seriam pessoas humildes da comunidade. Um grande esforço foi feito
porque era preciso obedecer aos prazos previstos pela legislação. Os
tijolos e telhas comprados pela comissão começaram a chegar e as
casas foram sendo erguidas.
A lista dos colaboradores foi extensa: Lia do cartório colaborou
com quinhentos tijolos, meu pai com outros mil, Odilon Antunes
com mil e quinhentos, Sandoval Coelho com cinco mil. Vários sacos
de cimento foram doados por Laury, Dãozão do Brutiá, Valdomiro Santos, Afrânio Pinheiro, Natalino, Zé Bagre, João Coragem, Zedey
Ribeiro, Anelito e outros. Alvimar Cardoso também doou cinco mil
telhas. Aveni colaborou com madeiras de sua fazenda. Já o empresário
Omir Antunes, falecido recentemente, doou ripas e esquadrias. O
pedreiro, e também pastor, Valcir, ofereceu seu trabalho para construir
as casas. Contribuições em espécie também foram doadas neste
processo que mobilizou toda a cidade. José Carlos Aguiar, Ananias
Pinheiro Alves, José Mendes de Aguiar foram alguns que desembolsaram
somas consideráveis para o mutirão.
Mas o que mais chamou a atenção dos organizadores do mutirão
foram as pequenas contribuições, na maioria das vezes de apenas
um real. Uma demonstração inequívoca de que a população de Serranópolis
estava, aos poucos, abraçando o projeto, movidos outra vez
pela esperança. Badé, Zé Vermelho, Barnabé, Joaquim Teixeira, João
Escurinho e outros tantos colaboraram, a seu modo, para o mutirão.
Alguns moradores não estavam entendendo aquela movimentação
e começaram a pedir material de construção também, mas não
por que precisassem de casas, mas sim para fazer muros, construir
banheiros. Nessas horas era preciso agir com diplomacia, explicar as
razões daquele esforço e que somente pessoas carentes seriam atendidas
com as casas. Cada vez mais a população se convencia de que era
possível realizar o sonho de tornar Serranópolis uma cidade. E a frente
de serviço foi crescendo, mas o dinheiro era curto.
A criatividade foi colocada em prática nessas horas. Um bom
exemplo foi o burro doado por Osmani Antunes, com o qual se decidiu
fazer um bingo para arrecadar fundos para a construção das casas.
Antes mesmo de marcada a data do sorteio, Edilson Villas Boas, então
vice prefeito de Porteirinha, comprou o burro da comissão e o doou
para se realizar um novo sorteio. Vale registrar que esse bingo, na
verdade, nunca aconteceu. Muitos eram os afazeres dos que estavam
envolvidos com o projeto que o bingo foi sendo adiado e adiado.
Ao cabo de algumas semanas as casas estavam erguidas, e Serranópolis,
que já dispunha do número mínimo de moradores, agora
também tinha as quatrocentas moradias exigidas pela lei. Tudo estava
caminhando muito bem.
Desta vez, ao contrário de outros anos, houve muito interesse
do então prefeito de Porteirinha, José Aparecido Martins, o Zé Bonitinho,
em colaborar com a emancipação. A prefeitura da antiga capital
mineira do algodão, inclusive, contribuiu com cinco mil tijolos e
vinte sacos de cimento para o mutirão.
Pelas exigências da lei era preciso fazer um mapa com a localização
das moradias. Esse trabalho coube a meu pai que, apesar de não
ser cartógrafo, fez um bom trabalho, elogiado, inclusive, por Zé Bonitinho.
O ex-prefeito disse, quando examinava os papéis, que nem iria
conferir o mapa, pois já que fora Almir que o fizera, com certeza estava
correto. E este foi um trabalho detalhista, pois além de desenhar
o mapa era preciso especificar os moradores de cada uma das casas.
Com todos os trâmites legais cumpridos foi marcado um plebiscito.
A população do distrito de Serranópolis seria ouvida. As opções
nessa eleição eram “sim” e “não”. A população iria decidir se queria
que o distrito se tornasse uma cidade ou se continuaria sendo um
distrito. No mesmo dia, outros dois distritos de Porteirinha também
realizariam o referendo público, Nova Porteirinha e Pai Pedro.
Quando a data estabelecida chegou o plebiscito mobilizou a população.
Um novo desafio aguardava os serranopolitanos que, naquela
manhã, nem desconfiavam do imenso esforço que os aguardavam. A
não obrigatoriedade do voto levou um número reduzido de eleitores à
votação. Sandoval Coelho, no dia do plebiscito, mandou abater uma
vaca e dois carneiros, e pessoas do distrito organizaram um desjejum
para os eleitores que, muitas vezes, saíam de localidades rurais distantes
de Serranópolis para atender ao chamado da cidadania.
Quando restavam duas horas para o fim da votação um fato
decisivo mudou a história. Meu pai, Almir Alves, que nesse momento lia os estatutos, observou um item que previa a validação do plebiscito
somente se cinquenta por cento mais um eleitores votassem. Ninguém
havia pensado nesta possibilidade. Isso era grave e meu pai deu
o alerta: se não houvesse o quorum, nada feito. Não houve tempo
para abatimentos desta vez.
Todos os envolvidos na emancipação se mobilizaram para buscar
eleitores onde quer que fosse. Vários carros partiram em todas as
direções do município em busca daqueles que não foram votar. Mesmo
em Serranópolis os esforços foram multiplicados nas duas horas
que restavam para o fim do plebiscito. Pessoas que se convalesciam
de enfermidades eram convidadas para se deslocarem até o local da
votação, o antigo mercado.
Pelos cálculos de meu pai eram necessárias pouco mais de cento
e vinte pessoas para se obter quorum. Em alguns casos era preciso
convencer as pessoas a se deslocarem de suas casas. “É pra Serranópolis
virar cidade, se não for, não vira”, diziam os homens, levando em
seguida para o mercado senhoras aposentadas, para as quais o voto
era facultativo.
Uma hora depois os carros começavam a chegar trazendo famílias
inteiras da zona rural e até mesmo de Porteirinha. Quando restava
menos de uma hora ainda eram necessários pelo menos setenta eleitores.
A essa altura a tensão estava fortíssima. Bastava alguém se lembrar
de uma família de alguma localidade que não havia aparecido para
votar, que Alvimar e os outros, mandavam uma caminhonete para
buscar. “Vá ligeiro”, gritavam. E os carros de novo iam buscar gente.
E mais pessoas chegavam para votar. Valmir Alves, Sídio, Ananias e
tantos outros, corriam atrás de pessoas que ainda não haviam votado.
Eu me lembro de estar tão ocupado nessa tarde, atrás das pessoas
para participar do sufrágio, que ainda não havia me dado conta,
que eu próprio, ainda não tinha votado. Eu corri ao local e cumpri
com minha obrigação. A esta altura ainda faltavam uns vinte eleitores
para votar.
A única pessoa, entre os que se dispuseram a ajudar desde o primeiro
minuto, que não se mobilizou nesse esforço final para se obter
o quorum, foi Aveni Ribeiro, que estava pedindo voto para a eleição
que, se tudo desse certo, aconteceria no próximo ano. “Eu vou ser
candidato na eleição e queria te pedir um votinho”, dizia Aveni, antes
mesmo de Serranópolis se tornar cidade.
Com a chegada dos carros finalmente o quorum foi conseguido.
Em seguida houve uma grande confraternização entre as pessoas
envolvidas no projeto. Agora era só esperar a confirmação que viria
no mesmo dia.
Até aquele momento eu não supunha que seria o porta-voz da
melhor notícia que o povo de Serranópolis poderia ouvir em sua história.
Logo após o término do plebiscito eu fui para Porteirinha, que
fica a cerca de vinte quilômetros de distância. Eu tinha a apresentação
de um programa naquela noite na Independente FM. Assim que
cheguei, o advogado Ailson Mendes Brito, o Doutor Binha, meu ex-patrão, ligou para a emissora, já com o resultado dos plebiscitos dos
três distritos. Doutor Binha disse: “Délio, avisa aí que só Serranópolis
virou cidade. Pai Pedro e Nova Porteirinha não conseguiram, essas
não tiveram quorum”.
Lembro que, antes de entrar no ar para dar essa notícia, eu
estava radiante de felicidade e, ao mesmo tempo orgulhosíssimo de
meu pai. Graças a sua curiosidade Serranópolis passara sem problemas
por esse plebiscito. Eu dei a notícia na rádio com toda a alegria
do mundo, parabenizando o povo de Serranópolis, que agora havia
se tornado legalmente uma cidade. Ao mesmo tempo eu estava consternado
pelos outros dois distritos que, por certo, também mereciam
a emancipação.
A razão de Serranópolis ter obtido êxito no plebiscito se deu
porque foi observada a necessidade do quorum, detalhe ignorado nos
outros dois distritos. Logo depois da notícia ter sido divulgada lembro-me que pessoas de Pai Pedro ligavam atônitas para a rádio: “mas
como é que é isso?”, perguntavam desesperadas. “Só Serranópolis
conseguiu?”.
O que aconteceu no resto daquela noite, em 1995, só é possível
supor através de um exercício de imaginação, mas o fato é que no
dia seguinte, pela manhã, os dois outros distritos haviam conseguido
aprovar suas emancipações, mesmo sem atingir o quorum necessário
previsto pela lei. A pessoa que poderia explicar o acontecido, Doutor
Binha, com quem eu tive a honra de conviver e que era advogado da
prefeitura de Porteirinha, foi assassinado na frente do Fórum de Porteirinha
no ano seguinte. O fato é que Pai Pedro e Nova Porteirinha
puderam fazer suas festas também.
Eu tenho uma teoria para o acontecido. Em minha opinião o
famoso “jeitinho brasileiro” pode, muito bem, ter sido o responsável
por esse feito. Serranópolis e Pai Pedro se equivaliam na época. Tinham
mais ou menos a mesma população e os mesmos indicadores
econômicos e sociais. Nova Porteirinha, no entanto, era o mais próspero
dos três distritos. Era mais rico e mais desenvolvido, pois parte
do projeto Gorutuba de irrigação fica em seu território e, portanto,
era dada como certa a sua emancipação.
Diante dessa informação é que o fato de Serranópolis ter conseguido
em detrimento, principalmente de Nova Porteirinha, é que
essa solução pode ter sido dada e os três distritos foram emancipados.
Ainda nessa linha de raciocínio é possível dizer que se não fosse pelo
esforço dos homens envolvidos com a emancipação de Serranópolis,
desde meu pai que deu conta que era necessário um número mínimo
de eleitores, até os aqueles que disponibilizaram seus carros e seus
esforços para buscar os eleitores, nenhum dos três distritos teria ascendidoà condição de cidade.
Os votos favoráveis a emancipação foram esmagadores no plebiscito.
Foram 1319 votos no “Sim” e apenas 98 no “Não”. No dia
primeiro de janeiro de 1996 Serranópolis tornou-se oficialmente cidade.
Serranópolis ganhava também um acréscimo em seu nome, passando
a se chamar Serranópolis de Minas. Essa medida foi adotada
para diferenciar o município de um outro em Goiás chamado apenas
de Serranópolis. Neste mesmo ano surgia também uma cidade homônima
no Paraná, que ficou sendo Serranópolis do Iguaçu.
E já naquele ano, Serranópolis de Minas elegia seu primeiro
prefeito, Aveni Ribeiro que, como boa raposa da política, já pedia
votos mesmo antes de nossa terra se tornar cidade. Quanto ao burro
que seria sorteado no bingo, ninguém soube de seu paradeiro após a
emancipação.
Vista parcial da cidade de Serranópolis de Minas/MG
Edvaldo de Aguiar Fróes
Cadeira N. 01
Patrono: Alpheu Gonçalves de Quadros
POSSE DO CONFRADE
EDVALDO DE AGUIAR FRÓES
NO IHGMC
Discurso pronunciado por Dário Teixeira Cotrim durante a posse do
neo-acadêmico Edvaldo de Aguiar Fróes no IHGMC, no dia 11 de
março de 2015.
Hoje o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
está recebendo uma das pessoas mais queridas da sociedade
montes-clarense. O confrade e amigo Edvaldo de Aguiar
Fróes, que ocupará com galhardia a cadeira de número 1 do Instituto
e que tem como Patrono o ilustre médico Dr. Alpheu Gonçalves de
Quadros.
O confrade, Edvaldo, que também é médico bem conceituado,
e agora merecidamente aposentado vem dedicando a arte das letras.
A sua primeira obra foi em parceria com a sua esposa, eles escreveram
o livro “Na Fazenda dos Meus Pais” e, depois, em carreira solo
ele escreveu o segundo livro “Um Estudante em BH nos Anos 60”.
Podemos dizer que a sua segunda obra trata-se de uma autobiografia,
uma autobiografia de uma época dourada na belíssima cidade de Belo
Horizonte quando você, Edvaldo, ainda era tão somente um dedicado
estudante de medicina.
O nosso novo Acadêmico Edvaldo é filho de José Rodrigues
Fróes (José Gorutuba) e de Dona Dionísia Aguiar Fróes. Nasceu na
vizinha cidade de Janaúba e hoje reside em Montes Claros, não obstante
dizer que é apaixonado pela cidade de Belo Horizonte. Casado
com Dona Maria Elaine Gonçalves Godinho Fróes com quem tem
quatro filhos.
Edvaldo e Elaine “são um casal unido e bem sucedido na vida,
que soube construir uma família que, sem falsa modéstia, é feliz e
harmoniosa” assim disse o seu filho André Gonçalves Godinho Fróes.
Também sobre o casal Edvaldo e Elaine disse o Dr. João Jaques Gonçalves
Godinho que “além de colegas, sempre fomos grandes amigos
e posteriormente cunhados. Casou-se Edvaldo com a minha irmã,
Maria Elaine, com quem teve quatro filhos, constituindo uma família
exemplar, sobre todos os aspectos, três médicos e um advogado. Todos
seguiram o seu exemplo e o exemplo de sua dedicada esposa: determinação,
seriedade, humildade e, sobretudo, ética e honestidade”.
Edvaldo, em cada momento de sua vida há o despertar das reminiscências
de um bom-rapaz. Assim viveu o confrade num momento
de várias transformações políticas com consequências desastrosas
para a sociedade da época. Nota-se que, meus caros confrades
e confreiras, era uma época explosiva, marcada por muitos e muitos
movimentos revolucionários e que pretendiam demolir a tradição da
arte pelo fim das utopias. Foi neste cenário que o jovem Edvaldo,
autor do livro “Um Estudante em BH nos Anos 60”, viveu dias de
aflição e de alegrias mútuas. Assim, a sua história foi montada em
forma de narrativa (prosa-poética), com as mais vivas lembranças de
um jovem interiorano que desejava descobrir os mistérios das cidades
grandes. Não obstante a convivência com os novos colegas. Era, pois,
a primeira vez que ele se achava distante da família e de suas queridas
cidades de Montes Claros e Janaúba.
Meu prezado amigo e colega de literatura e arte, neste dia de
hoje o nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros sente-se honrado e agradecido com a sua presença no quadro dos sócios
efetivos desta casa. Aqui, prezado confrade Edvaldo, você terá todas
as oportunidades de se manifestar um verdadeiro escritor, um historiador,
um pesquisador, pois é obrigação do IHGMC e de todos os
seus sócios, sempre que possível, orientar, informar e construir um
ambiente propício para que você possa desenvolver o seu trabalho de
pesquisa.
Prezado, Edvaldo, por tudo isso, nós desejamos manifestar, de
público, a nossa alegria, o nosso contentamento, a nossa felicidade de,
neste dia de júbilo, recebê-lo de braços abertos. Que seja bem-vindo
ao nosso meio de convivência!
Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
MARINA LORENZO FERNANDEZ SILVA
E A MÚSICA EM MONTES CLAROS
Não é uma biografia. Tão pouco ofereço dados curriculares de
sua vida. Ainda não.
Trata-se apenas da tentativa de expressar uma presença luminosa,
num espaço temporal da minha vida. Ela surgiu como um facho
de luz ali na rua Dr. Veloso, na década de sessenta. Era impossível
aproximar-se dela sem ser contaminado pela emoção maior, a emoção
da experiência do BELO. O BELO produzido pelo homem; a ARTE,
daquela arte que aos meus olhos e, ao meu sentir, é a maior expressão
da humanidade: A MÚSICA.
Eu, entre menina e moça, ganhei do meu pai, poeta e músico
nato, um acordeon que urgia ser tocado. Busquei aquele novo espaço
que já se denominara Conservatório de Música e foi lá que vi com
olhos de carne, uma fada real – aquela imagem deslumbrante formada
na minha imaginação de criança e que a idade da razão já desvanecia,
de uma mulher linda, que esvoaçava-se com os pés acima do chão e
que retinha todo o saber e mágicos poderes a favor do Bem e da Beleza. Lá estava ela a me receber e à toda Montes Claros, com um sorriso
cativante, que podia se traduzir numa promessa de felicidade.
Sob o fascínio daquela mistura perfeita de musa e fada, eu despertei
para o sentimento da BELEZA e desde então, passei a desejá-la
como meio de transcendência.
Ela é chamada pelo doce nome de MARINA LORENZO
FERNANDEZ SILVA – fundadora e, por décadas, diretora do Conservatório
de Música Lorenzo Fernandez (nome de seu pai, grande
músico erudito brasileiro). Lá, ela foi a primeira professora de piano.
Eu ficava em êxtase quando passava pela sua sala de aula e a
ouvia tocar ao piano, sonatas de Beethoven, de Franz Liszt, Chopin
ou dedilhando o Barroco de Bach, ensinando a técnica e o sentimento
perfeitos da grande música.
Viera do Rio de Janeiro e emprestara a nós seu enorme talento
e capacidade de trabalho incomuns. Foi, talvez, o maior presente
que a cidade de Montes Claros já recebeu em toda a sua história. Da
pequena casa em que a escola de música inicial se instalou, transferiu-se para uma bem maior, numa esquina da Avenida Afonso Pena
e, ampliando-se mais, de lá transferiu-se novamente para a Rua Dr.
Veloso, desta vez ocupando todo o grande prédio do antigo Clube
Montes Claros.
O ensino de música que inicialmente se restringia a poucos instrumentos
foi-se diversificando e logo a seguir já se podia organizar
uma orquestra sinfônica. A cidade agradeceu, fazendo presença no
número crescente de alunos de todas as classes sociais e condições econômicas:
criança, adulto, novo, velho, preto, branco, rico e pobre. O
Conservatório era, e ainda é de todos; espaço democrático, formador
e porque não dizer, salvador, já que sabemos que a arte nos salva de
toda a fraqueza e mediocridade.
Sob o trabalho insano e o olhar de musa inspiradora de D.
Marina, o Conservatório de Música de Montes Claros chegou a ser o maior em número de alunos da América Latina. Foi responsável pela
transformação da face cultural da cidade que se tornou, desde a década
de 80 do século XX, “a cidade da arte e da cultura”. De lá saíram,
prontos, grandes instrumentistas, cantores notáveis, verdadeiros virtuoses
da música. Concursos de piano foram vencidos em todo Brasil,
por alunos de D. Marina, em nome deste Conservatório. Seu carisma
e força trouxeram à cidade, ainda provinciana, nomes notáveis, nacionais
e internacionais, para audições, recitais, espetáculos, aulas e
cursos, um benefício incalculável. Guardo lembranças de momentos
marcantes na construção dessa musicalidade. Para ilustrar o dito apresento
um exemplo.
Ainda nos primórdios do Conservatório, D. Marina trouxera à
cidade um quarteto de cordas, música de Câmara de grande importância
no cenário nacional. A apresentação foi no antigo auditório do
Colégio Imaculada Conceição. Estava lotado e o quarteto começou a
execução suave e encadeada da música clássica, mas as pessoas conversavam,
percebia-se que a beleza do evento não alcançava a sensibilidade
do público. O quarteto tocava e os espectadores continuavam conversando.
Aos olhos e ouvidos esteticamente apurados, aquilo era um
insulto. Então nós vimos D. Marina, que a duras penas, conseguira
presentear Montes Claros com a presença daquele espetáculo ímpar,
levantar-se da cadeira e pedir aos músicos uma pausa. Com lágrimas
nos olhos, mas com firmeza, exigiu a atenção de todos para aquele
comportamento inadequado e muito emocionada, explicou o valor e
a beleza daquela execução. Mostrou, de forma didática que, diante da
arte, diante da grande música, é necessário uma atitude de respeito, de
atenção e silêncio, pois a verdadeira arte é o que” nos concede o poder
de elevar os olhos”. Eu, que a tudo assistia e cujo valor já compreendia,
tentei disfarçar a emoção, mas não consegui reter as lágrimas que
me saltavam dos olhos. Mais emocionada fiquei, quando um silêncio
total e definitivo se fez e aqueles sons clássicos dominaram a atmosfera,
plenos da mais genuína musicalidade. Ao final notei que todos se
retiraram engrandecidos.
Marina Lorenzo Fernandez Silva
E assim continuou a musa, a fada Marina Lorenzo Fernandez
Silva, enquanto esteve no meio de nós, a nos “desasnar” e humanizar,
até que o Rio de Janeiro a exigiu de volta para administrar o mais
importante conservatório de música do Brasil.
Eu sinto uma felicidade imensa por ter convivido, mesmo que
minimamente, em seu espaço de criação e produção, onde estudei um
pouco o acordeon, o piano e onde me formei no Curso Técnico de
Pedagogia Musical, partindo depois para as artes plásticas. Muito feliz
fiquei, quando nos festejos de comemoração dos cinquenta anos de
fundação do Conservatório Musical, fundado por ela em nossa cidade,
fui procurada para providenciar o seu busto em bronze, que hoje
a homenageia na entrada do prédio novo do Conservatório no Bairro
Jardim São Luiz.
Agradecer é pouco; no entanto nós, montes-clarenses, ficamos
tranquilos, porque ela sabe o quanto a amamos verdadeiramente. Ave
Marina!
Itamaury Teles
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates
AOS 76 ANOS, ENCANTA-SE O
IMORTAL BRASILMINENSE
A cultura norte-mineira perde uma das suas figuras de maior
destaque. Morreu na noite de ontem, em Montes Claros, aos
76 anos, o escritor, jornalista, historiador e oficial de registro
de imóveis Haroldo Lívio de Oliveira.
Seu corpo foi velado na Santa Casa e o enterro ocorreu na tarde
desta sexta, no Cemitério do Bonfim, com grande acompanhamento.
Em emocionado discurso, a presidente da Academia Montesclarense
de Letras, a centenária Yvonne de Oliveira Silveira, despediuse,
ainda no velório, do imortal Haroldo Lívio, que ocupava a cadeira
número 26 daquele sodalício, que tem como Patrono Polidoro Figueiredo.
À beira do túmulo, o também acadêmico Wanderlino Arruda,
bastante emocionado, saudou o pranteado escritor, lendo textos de
autoria de três jornalistas sobre sua vida e obra.
Dotado de memória prodigiosa, Haroldo Lívio sempre se destacou
nos meios culturais da região, escrevendo com regularidade para diversos órgãos da imprensa norte-mineira, inclusive para o Minas
Livre, onde era colunista colaborador, deste a fundação deste site
cultural e noticioso.
CURRICULUM DE HAROLDO LÍVIO
Nome completo: Haroldo Lívio de Oliveira
Filiação: José Luiz de Oliveira e Dalva V. de Oliveira
Data e local de nascimento: 21.09.1938, em Brasília de Minas
(MG)
Função: Oficial do Registro de Imóveis da Comarca de Porteirinha
(MG), desde 1976. Anteriormente, de 1958 a 1976, foi funcionário
do Banco do Brasil.
Grau de instrução: Bacharel em Direito pela Universidade Estadual
de Montes Claros, tendo colado grau em 1971.
Outras atividades: militante da imprensa de Montes Claros
desde 1956, tendo colaborado no O Jornal de Montes Claros , na
Revista Encontro e no Jornal de Notícias. Agraciado com diploma
de honra por ocasião do Centenário de fundação da imprensa local.
Obra publicada: “Nelson Vianna, o Personagem”, pela Editora
Cuatiara, de Belo Horizonte, em 1995. Obra inédita: “Chico Dominguinho
e outros montes-clarenses”.
Participações: membro efetivo da Academia Montes-clarense
de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, do
qual é cofundador. Agraciado com a medalha de ouro do Sesquicentenário
da Cidade de Montes Claros, em 2007.
Fonte: Site Minas Livre
José Ferreira da Silva
Cadeira N. 49
Patronese: Irmã Beata
CAPELANIA DA SANTA CASA
DE MONTES CLAROS
Com objetivo de oferecer um trabalho sólido e de qualidade
voltado para o atendimento fraterno, a Arquidiocese Metropolitana
de Montes Claros , através de seu representante
maior , o arcebispo Dom José Alberto Moura criou em parceria com
a Santa Casa de Misericórdia , representada pelo seu provedor senhor
Heli de Oliveira Penido , a Capelania Santa Casa , constituída de
voluntários e religiosos para prestar serviços de assistência espiritual ,
levando a palavra de Deus a todos que ali se encontram internados em
busca da recuperação física, psicológica e espiritual.
Para que esse projeto se tornasse realidade , aconteceu uma formação
e capacitação dos voluntários no período de 05/08 a 02/10
de 2014, com 48 horas, que receberam as seguintes orientações : a
enfermidade a luz da Fé; espiritualidade; o paciente, seus sentimentos
e necessidades; o visitador e o trabalho com os enfermos; os benefícios;
psicologia da saúde e o processo de cura; liturgia nos hospitais;
bioética católica; cuidando da família, etc. Todos os temas foram ministrados
por padres ,médicos e outros entendidos no assunto como:
Pe. Marco Antônio Simões, Pe. Sérgio Rocha, Pe. César Andrade, Pe.
João Batista Lopes, Pe. Jair Pereira da Silva; Pr. Reginaldo Cordeiro
de Lima; Cônego Oswaldo Gonçalves Vieira; Monsenhor Alencar, Pr.
Raimundo Donato, Pr. Adailton Oliveira Costa, Pr. Gilmar Soares
Martins, Pr. Adilson Ramos de Melo; Dr. Luiz Fernando Veloso; Dra.
Príscila Miranda, Dr. Euler Magalhães Athaide; Dr. Andre Luiz, a Sra.
Fátima Guedes, Sra. Carmen Lúcia Costa, Dom José Alberto Moura
e participação do diácono Geraldo Magela Martins.
O projeto coordenado por Dom José, Pe. Gilmar (mazinho) e
Carmen Lúcia.
O trabalho de visitação este a cargo das Irmãs Hélia Maria de
Oliveira, Rosa Andrade Xavier, Irmã Werlan e agentes de algumas
paróquias. Dentre estas paróquias, a Menino Jesus de Praga com o
apoio do pároco Pe. Pedro Leonides, os padres João Paulo Ponciano
de Farias e Pr. Jorge Paulo de Farias faz parte desse grande empreendimento
de fé e solidariedade cristã com a participação de 17 agentes,
sendo alguns na condição de ministros Extraordinários da Eucaristia.
TERMO DE JURAMENTO
“Juro, diante de Deus e da sociedade aqui reunida, que conduzirei
meus esforços como voluntário no projeto de Capelania da Santa
Casa de Montes Claros, em busca de favorecer a experiência de uma
fé amadurecida, própria de “cristãos adultos”, em conformidade esfera
da compreensão da fé quanto da vivência e cultivo da fé. Juro estabelecer,
a partir da identidade cristã/católica, um diálogo construtivo e
respeitoso com as diferentes manifestações culturais e religiosas que
o mundo contemporâneo comporta, especificamente no ambiente
Hospitalar, numa atitude de colaboração em iniciativas comuns humanizadoras,
a fim de promover a atuação social e o serviço a justiça,
cidadania e solidariedade, em projetos sociais sob a responsabilidade
da Capelania. Juro ainda, levar Jesus Cristo e seu projeto de vida plena,
a todos os nossos irmãos enfermos.”
José Ferreira da Silva
Agente da Capelania
José Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celestino Soares da Cruz
DONA ARINHA
E A FAZENDA QUEBRADAS
Saudades! Saudades! A Fazenda Quebradas nunca vai sair da
mente de muitos montes-clarenses. Dona Arinha e “seu” Pedro
Veloso, ambos, com aquela educação invejável sempre nos receberam
muito bem. Sr. Pedro fazendeiro bem-sucedido, um visionário,
com sua ousadia transformou a “Fazenda Quebradas” um modelo
para muitas outras do Brasil afora. No Norte de Minas foi a primeira
fazenda a ter um telefone. Tinha energia elétrica gerada por uma roda
d’água, e toda fazenda era iluminada. Foi destaque no Globo Rural,
por muitos anos face da criação de porcos impressionante. Na pocilga
embarcavam centenas de porcos todos os dias. Naquela fazenda tinha
escola para alfabetizar os vaqueiros, esposas e filhos – a professora
era a Noélia, prima da Dona Arinha.
A sede da Fazenda era imensa, construída há mais de um século
pelo pai de Dona Arinha. Vitrais, azulejos europeus, coisas lindas,
que não se fazem mais hoje em dia! Na sala, uma dedicatória que foi
deixada pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek de
Oliveira. Este, sempre que vinha a Montes Claros, visitava a fazenda.
Como o “seu” Pedro, o Presidente Juscelino também gostava de caçar.
Eram amigos. Em frente casa, um jardim com variadas espécies de
rosas e flores que Dona Arinha fazia questão cultivar e contemplar.
Outro “hobby”, ler os jornais numa cadeira na varanda da casa - local
de descanso e festa da família com os convidados.
No fundo da casa passava um canal de água que vinha do pé
da serra; água que tocava a imensa roda d’água do moinho, para contemplar
os peixinhos as crianças e namorados ficavam numa pinguela
de madeira .
Recordações : A ponte de pedra, o cruzeiro no alto da serra,
o cemitério, currais, bois, porcos, pássaros e a “mudinha” Bili, esta,
uma das zeladoras da casa de Dona Arinha. Até hoje sonho com o
movimento de pessoas naquele lugar. Todos os serviços de solda,
tornearia, trancas e dobradiças das cancelas, e manutenção engenho
eram feitos pelas mãos do meu pai Manoel e do meu avô “Seu Ponciano”
Tudo isso me traz muitas saudades.
Agora, tudo virou o Parque Estadual da Lapa Grande. Na esperança,
ainda infantil, em 2012 cheguei a ir em Ouro Preto com
uma comitiva do IEF com o objetivo de acertar a condução dos projetos
de restauração do casarão e das todas as unidades da Fazenda
Quebradas. Por vários momentos, citamos o nome de Dona Arinha,
pois, era a memória viva que iria orientar - por meio de fotos antigas e
testemunhos - os engenheiros e restauradores da Fundação de Arte de
Ouro Preto - FAOP . Mas... Até hoje nada foi feito e, a casa continua
um pardieiro.
Comentei acerca da restauração com meu colega de trabalho, o
Tininho Oliveira, que é sobrinho da Dona Arinha. Nisso ele me confidenciou
que a Dona Arinha estava louca para visitar as Quebradas,
o solicitei que a levasse depois da restauração, pois assim evitaríamos
que ela tivesse forte emoção, mas, Deus a levou no dia 16/09/2012
aos 95 anos.
Dona Arinha
A saudade é demais. Desde a estrada cavaleira que saía do Bairro
Melo, subia a Serra homônima e descia até a ponte de pedra,
ao chegar, saborear a rapadura e a cachaça que eram fabricadas nas
QUEBRADAS.
A cidade lamenta a perda dessa grande mulher. Tenho certeza
que os familiares da Dona Arinha e “Seu” Pedro Veloso; cito alguns
como: os netos Camilo , Zezito e Maria Luiza, outros as filhas Nair
e Lucy; a professora Noélia e os sobrinhos Tininho Oliveira e a
jornalista Cecília Oliveira permanecem com as saudades da fazenda
Quebradas.
Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França
VOZES E ACORDES
As meninas, assim conhecidas e chamadas nos seus relacionamentos
cotidianos, tiveram a iniciativa de inventar alguma
coisa para passar o tempo ocioso de suas aposentadorias.
Cada uma dava sua ideia, até que um dia, chegaram num denominador
comum: escolheram a música e iam ser cantoras. Lá se foram!
Matricularam no Conservatório Lorenzo Fernandez no ano de
2006 em canto lírico e passaram a estudar as confusas e complicadas
partituras das peças dos grandes musicistas do passado: Bach, Mozart,
Beethoven e outros gênios do mundo da música que tornaram
vocábulos comuns de seus vocabulários. E em 2011, Dilma Silveira
Mourão, Vilma Amorim Nery, Maria Lúcia Lacerda Araújo e Rosa
Terezinha Paixão Durães foram diplomadas como cantoras líricas, realizando
seus desejos depois de seis anos de lutas e dedicação.
Seus estudos não foram só para satisfazer suas vontades. Ainda
no decorrer dos anos de conservatório, elas tiveram a ideia de criar um
grupo de canto popular sem maiores pretensões. As apresentações vieram com sucesso e espontaneamente com o reforço de Suely Zenaide
Teixeira e Maria Paulino, esta por pouco tempo. O grupo começou a
se destacar dentro e fora do Conservatório, se apresentando em vários
lugares e esporadicamente. Às vezes, elas eram convidadas pelo Prof.
Mauro Xavier para cantar nos seus eventos. Mais tarde, o grupo foi
convidado pelo Prof. Wanderdaik Fernandes para gravar com ele o
CD “Eternas Canções”, firmando o grupo com o nome de “Vozes e
Acordes”.
Zenaide, Vilma, Dilma, Rosa e Lúcia.
Tempo depois, sentido o sucesso de primeiro CD, o grupo resolveu
gravar, com a colaboração do instrumentalista e cantor Loy
Damasceno, coordenação de Gera Costa e produção de Simon, o segundo
CD de “Boleros” que vem alcançando boa aceitação.
Tudo começou com um sonho para transformar numa realidade
depois de tantos anos de sacrifício e luta, tornando-se um grupo
inseparável e amigo.
Levada, talvez pela premonição, Dilma, em 2014, teve a ideia
de patrocinar a gravação do CD “Ternas Lembranças, pelo Grupo
pensando em valorizar os compositores e musicistas da nossa terra.
Agora, ela também faz parte das nossas “ternas lembranças”.
|
A verdadeira beleza está na
alma, expressa por palavras
sinceras e vozes enternecedoras. |
Agora, a saudosa
componente e amiga
eterna Dilma Mourão
deixou o grupo “Vozes e
Acordes” para cantar entre
os Querubins.
Assim é a vida,
cheia de surpresas, de alegrias
e de saudades. |
|
Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida
NA TRILHA DE BOTUMIRIM
Faz algum tempo que adquiri uma pequena propriedade rural
nas imediações da cidade de Botumirim e para lá me dirijo
constantemente, para usufruir as amenidades climáticas, tão raras
em nossa querida Montes Claros.
Botumirim é uma pequena cidade do Vale do Jequitinhonha,
com área territorial de 1.572 quilômetros quadrados e cerca de 7.000
habitantes em todo o município. Situa-se a 170 Km de Montes Claros,
sendo 90 Km pela BR-251, que passa por Francisco Sá, mais 30
Km pela MG-307, que vai a Grão Mogol e, finalmente, mais 50 Km
pela MG-655, exclusiva para aquela cidade. Vale ressaltar que o asfaltamento
das duas rodovias estaduais só aconteceu com o programa
Pró-Acesso do governo de Minas Gerais, iniciado pelo governador
Aécio Neves e concluído pelo governador Antônio Anastasia. Antes
disso, para ali chegar, era só poeira, algum cascalho, muitos buracos e,
não raro, atoleiros e pistas escorregadias nos períodos chuvosos.
Paisagem típica do município de Botumirim, a cerca de 5 (cinco) quilômetros da cidade,
vendo-se, ao fundo, a Cachoeira do Bananal (véu de noiva).
Na oportunidade desta abordagem sobre a estrada para Botumirim,
queremos registrar aqui o nosso protesto, não junto ao DNIT
e o DER, mas perante a população e os governantes, contra esses
dois órgãos públicos responsáveis pelas rodovias. Quanto à parte do
DNIT, é de lamentar-se o estado crítico em que se encontra o trecho
da BR-251, principalmente entre Montes Claros e o trevo inicial da
BR 122. Com a desculpa de que esse trecho carece de uma reforma
mais complexa, nada se faz para melhorar o que ainda existe, limitando-se a colocar placas de advertência sobre as irregularidades existentes
na pista, que podem causar acidentes. E não é por falta de reclamação,
pois até bloqueio do tráfego de veículos já ocorreu, em várias oportunidades,
por parte de usuários descontentes com a precariedade da
manutenção. E o que fez o DNIT? Mandou um observador desqualificado,
há cerca de dois anos atrás, o qual, na sua avaliação, perante
o público e a mídia, minimizou os problemas existentes, certamente
para agradar a sua chefia, no conforto de seus gabinetes. Seria muito bom que algum desses “chefes” percorresse o tal trecho, dirigindo veículo
de sua propriedade, prensado entre duas carretas com motoristas
estressados. Enquanto isso, a estrada continua piorando a cada dia
que passa. Quanto ao DER, é o mesmo órgão de sempre, que pode ser
definido numa única expressão: improdutivo e relapso. Em cada uma
das rodovias estaduais aqui mencionadas ficou um gargalo depois da
construção, com passagem para apenas um veículo de cada vez. Próximo
a Grão Mogol, é uma ponte estreita sobre um simples riacho, que
há quase dez anos espera por duplicação. Perto de Botumirim, sobre
outro córrego, até que a ponte é larga, mas teve uma pista interditada
desde que o asfaltamento foi concluído, há mais de três anos, sem que
fosse adotada qualquer providência para sanar a irregularidade. Mas
os dois órgãos se superam abraçados, na sinalização vertical indicativa
da cidade de Botumirim. Na localidade de Barrocão, até hoje existe
uma placa indicando a antiga estrada de terra como acesso àquela
cidade, a setenta e dois quilômetros de distância, sem esclarecer que
se trata de uma via secundária. No entroncamento para Grão Mogol,
cinco quilômetros à frente, embora seja o mesmo acesso para
Vista quase total da cidade de Botumirim, na encosta da “Serrinha”.
Botumirim, nenhuma referência se faz a essa última cidade. E, para
completar, quem vem do lado de Salinas, logo após aquele entroncamento
e, antes do Barrocão, vai encontrar uma placa indicando que
Botumirim está a noventa quilômetros, pela mesma estrada de terra
antiga. Será que não dá para trocar essas placas?! Já encontrei alguns
motoristas “de fora” perdidos na região, voltando daquela cidade sem
lá ter chegado. Haja ineficiência e irresponsabilidade!
Botumirim não é uma cidade antiga, como suas vizinhas Grão
Mogol e Itacambira. Até 31-12-1943, quando foi criado o Distrito,
ali existia apenas o povoado de Serrinha, no município de Grão Mogol,
que teve origem lá pela metade do século XVIII, com a formação
de um núcleo de garimpeiros de ouro e diamante apelidado inicialmente
de “Quatro Oitavas”, sabe-se lá por qual razão. Com o declínio
da mineração artesanal, como aconteceu em toda Minas Gerais
no século seguinte, principalmente pelo fim da escravidão negra no
Brasil, sua população voltou-se para a agricultura e a pecuária, como
atividades de sobrevivência, embora ainda circulem, até hoje, na fantasia
popular, informações de que algumas pessoas mais previdentes e“espertas” conservam suas minas trancadas a cadeado e só de tempos
em tempos, quando a necessidade aperta, lá comparecem para garimpar
o seu minério. Oficialmente, a mudança de nome teria ocorrido
em razão da pré-existência de outro distrito, em Minas Gerais, com a
mesma denominação de Serrinha, mas é preciso relembrar que àquelaépoca, sob o governo ditatorial de Getúlio Vargas, vivia-se um ufanismo
patriótico muito expressivo, em razão da 2ª Guerra Mundial, a
ponto de ser recomendada a mudança de denominações para topônimos
de origem tupi-guarani, genuinamente brasileiros, que tivessem
o mesmo significado da designação anterior. Foi assim que Beija-Flor,
minha terra natal na Bahia, virou Guanambi, e até o distrito onde
nasci, chamado Gentio, virou Ceraíma. E Serrinha se transformou
em Botumirim, mantendo-se o mesmo significado original.
O distrito de Botumirim teve vida curta, pois, pela lei estadual
de 30 de dezembro de 1962, sob o governo de Magalhães Pinto, foi criado o novo município, desmembrado do território de Grão Mogol
e instalado a 1º de março de 1963. Dentre as pessoas que trabalharam
pela emancipação política da localidade, destaque para os senhores
Manoel Francisco de Oliveira, Adão Colares, Antônio J. Oliveira,
Evaristo Santiago e, em especial, Francisco Nassau, que antes era vereador
representante do distrito e depois se tornou o primeiro prefeito
municipal eleito pela comunidade.
Praça central da cidade, com a Igreja de São Francisco de Assis e os
bancos de jardim à sua frente.
Botumirim, pela sua localização geográfica, não tem vocação de
cidade grande, e Deus queira que assim continue, para não perder o
seu “charme”. Com altitude variando entre 640 e 1.515 metros em
todo o município, a cidade está a cerca de 900 metros acima do nível
do mar, situada numa encosta de serra – a Serrinha – o que lhe proporciona
um clima temperado muito agradável e aconchegante. As
belezas naturais se apresentam em forma de serras, campinas floridas,
riachos de água cristalina, cachoeiras e até sítios arqueológicos. Na
cidade, ainda é possível sentar-se em bancos de jardim da sua praça
principal, conversar despreocupadamente, ou simplesmente deixarse
levar pelo enleio e ociosidade, sem ser incomodado pelo barulho
desenfreado do trânsito de veículos. Pena que o “toc-toc” das marchas dos cavalos já tenha sido substituído pelo crescente ronco de motocicletas
pilotadas por jovens deseducados.
É no campo, todavia, que Botumirim se supera, como na localidade
de Rio do Peixe, onde a natureza esculpiu raridades em seus
acidentes geográficos. Embora esteja a apenas 11 (onze) quilômetros
do centro da cidade, o acesso é dificultado pela precariedade da estrada
municipal que leva exclusivamente àquele ponto. Houvesse ali
energia elétrica, que está apenas a um quilômetro de distância; se fosse
instalada uma pequena rede de fornecimento de água potável, captada
em minas da própria região; se fosse construído um simples quiosque
no local, com instalações sanitárias e dependência para bar, lanchonete
ou restaurante; se a estrada de acesso fosse mantida em condições
razoáveis de tráfego; e se a prefeitura municipal, de repente, percebesse
que ela é competente para resolver tudo isso, poderia empregar
todos os meios destinados ao lazer da comunidade, para atender à
população botumirinense e visitantes. Os recursos locais, como clima
ameno, praia de areia branca, piscinas naturais e corredeiras próprias
para banho, além de uma ampla área de “camping”, são todos emoldurados
por interessantes formações calcárias recheadas por verdejante e florida vegetação. Poderia ser o ponto turístico que está faltando
na região.
Rio do Peixe, com destaque para a piscina natural e a praia ao lado.
Num dia desses em que visitei o “balneário”, mesmo sem
qualquer estrutura de apoio, lá encontrei três famílias de Montes Claros,
acampadas e felizes com a recepção acolhedora da natureza. Que
muitas outras famílias possam usufruir o mesmo acolhimento!
Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães
ECOS DO PASSADO
O ano de 2014 foi um ano especial, o ano do centenário natalício
da professora Yvonne de Oliveira Silveira. Ocorreram
sucessivas homenagens das mais diversas, desde os mais simples
seguimentos de sociedade mentes-clarense à Assembleia Legislativa
de Minas Gerais, culminando com antologias de escritos individuais
dos seus admiradores e amigos, confrades e confreiras, contendo
elogios desbragados à Deusa das Letras, cuidadosamente organizados
e editados pelo escritor e acadêmico, Dr. Dário Teixeira Coutrim.
No dia 30 de dezembro, data do seu aniversário, seus familiares
e amigos com os protestos de efusivos apreços, estavam todos felizes e
irmanados num só objetivo: abraçá-la carinhosamente e com ela concelebrar
o seu 100°. aniversário de nascimento. Ela na sua maneira de
gente simples, com a face orvalhada de lágrimas de tanta felicidade,
em nenhum momento se mostrava desanimada, sequer enfraquecida.
Cônscia de que o seu envelhecer era coisa natural e que não
havia uma maneira para assim não ser, recebia os cumprimentos sorrindo, pois as suas lágrimas eram de alegria, mesmo porque não podia
voltar à juventude. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na
existência. Podemos apenas ir para frente. Pensando assim, vencia as
barreiras do tempo, impedindo que fosse contagiada pelo vírus da
acomodação e da indiferença que se manifesta nessa fase da vida, a
fase preferida dos que jogam a toalha: “Deixa pra lá. A luta acabou”.
Mas ela não fugia da luta, nunca deixou de cumprir com seus propósitos
e seus compromissos.
Para ser vencedora custou-lhe muito. Foi preciso persistência,
muitas lutas diárias de encantos e desencantos. Plagiando Cora Coralina,
podemos dizer que ela foi uma mulher que fez a escalada da vida,
removendo pedras e plantando flores. Acreditamos que ela tenha realizado
seus projetos com resultados positivos amando cada vez mais
a todos, não somente os de seus convívios, mas também os que não
conheceu ou aqueles que, por alguma razão nunca teria oportunidade
de conhecer.
Com ela aprendemos que na vida não devemos desanimar,
mesmo sentindo ventos contrários. Não devemos perder o equilíbrio
diante dos obstáculos. Não devemos crer que nossos trabalhos sejam
improdutivos.
A professora Yvonne, uma mulher elegante, inteligente e cativante,
que estava contente com a velhice, queria mais tempo para ter
o gosto de viver sem limites sonhando e realizando os objetivos na
vida; caminhar para frente, tropeçando, mas erguendo-se para prosseguir,
sem esmorecer, sem parar, nem estacionar.
Para muitos, desistir dos projetos é mais fácil do que lutar por
eles. Renunciar, chorar, aceitar derrotas é mais simples porque não lhe
obriga a nada, mas para ela, não era assim. O impossível era apenas
algo que ainda não havia realizado. Aos cem anos, ocupando o seu
lugar no seio da sociedade continuava fazendo bem feito o seu papel.
O segredo para conseguir a felicidade consistia no empenho pessoal
em fazer tudo com prazer.
Sim, o prazer é coisa dos sentidos, diferentemente da alegria
que é coisa do coração, por isso estava alegre, convivendo com os mais
jovens; com aqueles que ficaram adultos há mais tempo, com aqueles
que se tornaram adultos há pouco tempo e com aqueles que tateavam
para virar gente grande, representando várias gerações. Aliás, nossas
tradições culturais já não se transmitem de uma geração a outra com
a mesma fluidez que no passado. Por tudo isso, se alegrava, e se alegrava
muito, porque nascera para acreditar que o seu patrimônio era
a felicidade e o melhor meio para multiplicar a felicidade era dividi-la
com os outros, porque a alegria só pode brotar de entre as pessoas que
se sentem iguais.
Felizes são as pessoas como a professora Ivonne, que impedindo
o contágio do vírus da acomodação, observa o passado para poder caminhar
no futuro. Para não ser contagiada pelo vírus da acomodação
ela continuava ensinando e difundindo frutuosamente conhecimentos.
Foi uma escritora que tinha sempre coisas importantes para nos
dizer. Todas as suas obras têm os seus próprios traços, o que provoca
uma identificação da fertilidade de inspiração ímpar, pelas características
que imprimiu em cada narrativa.
Via-se na homenageada a prova de que não existe um caminho
a seguir em direção à longevidade, aos cem anos conservava a cabeça
boa, com memória de adolescente. O que existe é o jeito de caminhar
e o nosso cérebro é o melhor recurso já criado para tudo. Nele ela
encontrou todos os segredos de caminhar. Não que tenha nascido
pronta para ser dotada de inteligência. Isso não. Para conquistar seu
espaço no mundo precisou ralar muito, com ética e honestidade, mesmo
passando, creio eu, por algumas frustrações.
Tem um ditado que diz que a gente colhe o que planta. Portanto,
na vida andando lado a lado, existem duas premissas básicas do
viver: a frustração e o esforço.
Com muito esforço no seu jornadear por esse mundo, nos ensinou
que ser feliz pressupõe viver em plenitude, com doações, cuidando de si e daqueles que amamos, uma vez que não se pode semear
de punhos fechados. Assim, fez com que a morte a esquecesse até 17
de abril de 2015. Data que começou uma nova vida, mergulhando na
misericórdia infinita do Pai.
Manoel Messias Oliveira e Yvonne de Oliveira Silveira
Yvonne de Oliveira Silveira foi uma mulher muito abençoada
na terra, neste planeta que fora azul aos olhos dos astronautas e que
hoje se encontra manchado de poluição, agora, está na glória eterna,
em comunhão com Deus que é a causa primária de todas as coisas, ab
initio ad eternum, do início ao infinito e trilha o caminho contínuo
da evolução rumo a verdadeira felicidade. Voltou para o Pai porque a
sua missão aqui chegara ao fim.
É natural que lembremos dos bons momentos que tivemos ao
seu lado. É natural que nos envolvamos na dor da saudade, mas não
nos entregamos à lamentações para que a revolta não se instale em
nossos corações. Sem revolta, pacientemente, amenizamos a nossa
saudade com o bálsamo de nossas orações.
O passado é uma grande cortina de vidro! Deus que nos deu
uma grande amiga, a chamou para morar no reino eterno, mas a memória
da Deusa das Letras, jamais se apagará das nossas lembranças,
pois as Academias de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros a conservarão “ad eternum” na imortalidade.
Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães
ADEUS, AMIGO!
Na véspera primaveril do ano de 1938, ou seja, em 21 de
setembro, veio ao mundo na cidade de Brasília de Minas
(MG), um menino saudável, progênito de José Luiz Oliveira
e Dalva V. Oliveira que, levado a pia batismal, recebeu o sacramento
da igreja católica com a graça de Haroldo. Começou ali uma caminhada
cristã de muitos sucessos e glórias na vida terrena de Haroldo
Lívio de Oliveira, até que em 2 de janeiro de 2015, em Montes Claros
(MG), o Criador e Senhor dos Mundos o arrebatou do nosso convívio
para ficar no Seu lado na morada eterna.
Um homem austero, de fino0 trato e reservado, de cujos feitos
e dotes morais são conhecidos de todos que com ele conviveu.
No passado foi um lutador. O mérito não estava numa só ação, mas
no hábito das boas ações que atingiram resultados em quantidade e
qualidade com vários indicadores: produtividade, humildade, honestidade,
tolerância e relacionamento interpessoal, para citar somente
alguns dos seus grandes valores que enfatizaram as condutas de promoção
a uma vida dinâmica.
Haroldo Lívio de Oliveira era Bacharel em Direito pela Universidade
Estadual de Montes Claros. Foi funcionário do Banco do
Brasil de 1958 a 1976. Exerceu por muitos anos com dedicação, competência
e lisura o honroso cargo de Oficial do Registro de Imóveis da
Comarca de Porteirinha (MG), ou seja, desde 1976 at´2015, quando
a morte veio interromper a sua magistral carreira. E, diga-se de passagem,
que sentia muito feliz e plenamente realizado nessa sua carreira
profissional.
Não é segredo para ninguém que ele fora na vida familiar e
social, de irrepreensível disciplina; moralmente honrado e respeitado,
com brilhante caminhada de vida. Um exemplo a ser seguido.
Faltaria porém, com os mais imperdoáveis dos deveres, se não
me prevalecesse da ocasião para declarar que, existe nas palavras que
dedico à sua memória é porque o fez por merecer.
Desnecessário, portanto, salientar todos os feitos desse homem,
com o qual, tive a honra de ombrear o fardo da sublime responsabilidade– em comunhão com os demais confrades e confreiras da Egrégia
Assembleia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros– na promoção de estudos e difusões de história, geografia e ciências
afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Mineira.
O confrade Haroldo Lívio de Oliveira – um grande intelectual – ocupou
no IHGMC, honradamente, a cadeira de N. 82, que tem como
patrono Nelson Viana. Seu entusiasmo e confiança nas letras ficaram
expressos em suas crônicas, artigos, poesias e romances deixados como
exemplo para a posteridade. Veículos de ideias, que permanecerão até
o infinito dos tempos, fundamentados na liberdade e na dignidade
da pessoa humana. Como eu, seus amigos lamentam a sua perda, não
obstante sabermos que também é certo que, por mais conhecimento
que venhamos a adquirir ao longo de nossas vidas, esses, representam
pouco mais que um grão de areia na imensidão que é todo o Universo.
Porém, sua memória permanecerá sempre viva entre nós. Os bons
exemplos e ensinamentos que nos proporcionou serão, sem dúvida, bem assimilados por seus familiares, por seus amigos e por todos que
o conheceram.
Em vida, o confrade Haroldo Lívio de Oliveira credenciou-se
um grande benfeitor, estudioso e colaborador da cultura regional, intensificou
os seus estudos e pesquisas sobre fatos de extraordinárias
relevâncias e divulgou o resultado de suas pesquisas sobre tudo que
todos deviam saber corretamente, com grande beneficio aos que desejavam
aumentar o cabedal do saber.
Para que fiquem registrados nos anais de nossa Instituição, chamo
a atenção sobre a necessidade de que o seu esforço deve ser considerado
como um serviço de valor que prestou ao IHGMC, com ardorosa
vontade e dedicação à causa. Que nada caia no esquecimento,
devendo, pelo contrário, ser-lhe dispensado toda nossa atenção.
Adeus amigo Haroldo Lívio de Oliveira. Passados aqueles momentos
do choque e das lágrimas com a inesperada notícia de sua
partida para o mundo espiritual, os seus amigos, como eu, chegaramà verdadeira razão que nos consola: saber que sua alma está em paz
e iluminada pela presença divina. Você levou uma grande fortuna,
aquela que foi verdadeiramente constituída pelo amor dos seus familiares
e pela consideração e apreço dos seus amigos durante a sua vida
no mundo terreno, pelos valores morais e éticos que nortearam a sua
existência.
Foi uma perda irreparável. Estamos sentindo muito a sua falta e
lembraremos sempre de você, que foi um expoente da literatura, que
com esmerado gosto pelos livros alimentou as atividades literárias e
a cultura emprestando o seu valor, como grande figura humana e de
inteligência impar.
Maria Aparecida Costa Cambui
Cadeira N. 07
Patrono: Antônio Gonçalves Figueira
A CAMINHADA DA VIDA
“O mistério do homem se ilumina quando percebe
que a marcha do seu destino vai na linha de perspectivas fraternas.”
Estamos em novembro de 2014 e num vislumbre, lembrei-me
de que hoje, 24, é aniversário de uma pessoa muito especial, o
professor, colega, amigo e confrade, Juvenal Caldeira Durães,
nascido em Montes Claros.
Pelos idos de 1965, tive o primeiro contato com o jovem professor,
sendo sua aluna no curso de aperfeiçoamento do CADES/MEC/
Geografia, aqui em Montes Claros, pois havia concluído o curso Normal.
Foi enriquecedor conhecê-lo, pois a nossa turma reconheceu
nele, já naquela época, um homem inteligente e cheio de sabedoria.
... E o tempo passou. Retorno ao contato com o Professor de
Matemática, Juvenal, na E. E. Professor Plínio Ribeiro de 1º e 2º
graus, em meados da década de 70, quando passei a lecionar Geografia,
naquele histórico educandário. O Professor Juvenal tinha como colega e amigo de magistério, o saudoso Professor Antônio Jorge que,
também era seu colega na R.F.F/SA, ambos Vice-diretores.
No seu livro “Experiências de uma vida” 2005, o Professor Juvenal
assim descreve a sua Rosa, com a qual ,em 27 de fevereiro de
1961,casou-se na catedral de Nossa Senhora Aparecida, em Montes
Claros. ”Quando a conheci, era menina simples graciosa e, sobretudo
dotada de qualidades para assumir a responsabilidade de boa esposa.
Além de ser uma beleza oriental ela era compreensiva e bondosa.”
Na época da Escola Normal, a sua bela família já estava
constituída pelos filhos Geraldo Wagner, Marco Antônio, Simone,
Fernando Cesar e Larissa. Aqui transcrevo alguns versos, onde Larissa
retrata seu pai com muito carinho e realidade.
POR TRÁS DA MÁSCARA
Por trás da máscara de homem sério e sagaz
Esconde-se a essência de um doce menino, um anjo de paz,
Cujas asas representam o abrigo mais seguro,
A fonte de bálsamo, com que curo
As minhas aspirações desfeitas e a minha ilusão fugaz.
Por trás da máscara de indiferença e sobriedade,
Há alguém cuja sensibilidade
É capaz de tocar a alma e comover o coração.
Em outro período, década de 80, quando a FAFIL/FUNM
funcionava no casarão da rua coronel Celestino, reencontro o Professor
Juvenal e Rosa como colegas de Magistério, naquela casa do saber.
Sérios, competentes e dedicados á as disciplinas Exatas. O Professor
era dotado de memória extraordinária e de grande cultura.
No início da década de 90, a FUNM é estadualizada e passa a se
chamar Unimontes, e do velho casarão, de gratas recordações e lutas, fomos para o prédio novo, hoje CCH, no campus universitário Professor
Darcy Ribeiro. Ali, o Professor Juvenal se candidata a Diretor
da FAFIL, sendo eleito e conduzido ao cargo por reconhecerem nele
um homem honesto, solidário e zeloso no interesse naqueles que dependiam
do seu serviço. Tornei-me Vice-Diretora, colaborei bastante
e passei a conhecê-lo melhor e a amizade floriu ainda mais.
Em 2006, o Professor Juvenal integrando um grupo de intelectuais,
dentre eles, Wanderlino Arruda e Dário Cotrim, se empenha e
juntos fundam o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros,
de importância relevante para registrar e perpetuar a história de Montes
Claros e região. Á convite do amigo Juvenal tornei-me membro
deste Instituto, do qual me orgulho e agradeço a honra.
Na formação acadêmica e profissional do Professor Juvenal,
destacamos a conclusão do curso Ginasial e também de Mecânica, em
Londrina, Paraná onde residia. De volta a Montes Claros fez o curso
Científico e diversos outros, entre eles, CAPES/MEC/BH em Matemática
e Geografia, Física (RJ), Matemática (FAFIL, FUNM), além
de estudos de Música, Filosofia, Inglês e Italiano.
Seus primeiros passos no Magistério se deram na E. E. Professor
Plínio Ribeiro, conhecida na época por Escola Normal, em 1958, a
convite do professor de Matemática Waldir Rameta, seu colega e amigo
conhecendo o seu talento e sucesso com os números.
Hoje, do alto de seus 87 anos, trabalhou no campo, foi seleiro,
fazendeiro, funcionário de ferrovias, mecânico, integrante da Banda
Euterpe, por 20 anos, como trambonista; Foi jogador de Futebol, mas
a profissão que o satisfez foi o Magistério.
O Professor Juvenal vem recebendo diversas homenagens como
Medalha de “Ordem do Mérito Educacional” (Belo Horizonte), destaque
universitário (Montes Claros), Prêmio Cultura (Montes Claros)
e é também, Cidadão Honorário de Francisco Sá, pelo empenho em
favor daquele município.
Palestra do Professor Juvenal Caldeira Durães no IHGMC,
sobre o patrono da cadeira número 81, Nathércio França.
No presente, no âmbito da intelectualidade, escreve memórias
de cidadãos contemporâneos, tendo vários textos publicados.
Enfim, caro amigo, o tempo passa rápido e com este simples
relato quis homenageá-lo pelo homem forte, correto, justo e sábio
que você é.
O Professor Juvenal como um ser único no universo, sonhou
e realizou muito, mas com os pés na terra e que as vezes repensou a
vida, recuando e avançando.
O autor da vida lhe dotou de inteligência, discernimento e força
para vencer as provas da vida, sendo humilde para viver e aprender
sempre.
Parabéns por sua vida!
Parabéns pelo seu aniversário!
Novembro/2014
Maria Luiza Silveira Teles
Cadeira N. 42
Patrono: Geraldo Tito Silveira
MAIS UMA DESPEDIDA
Mais uma despedida... Sabemos que nossa vida no planetaé provisória. Viemos aqui, provavelmente, para aprender.
Principalmente, aprender a amar. Acredito que o homem
tem duas asas: a asa do conhecimento e a asa do amor, que implica,
também, a ética. Entretanto, poucos de nós desenvolvem, com equilíbrio,
essas duas asas. Meu amigo, Haroldo Lívio, que partiu no primeiro
dia do novo ano, era um homem que soube desenvolver ambas.
Haroldo, meu companheiro de Academia e do Instituto Histórico,
era, talvez, um dos maiores intelectuais de nossos tempos, por
esses rincões.
E sua simplicidade, sua humildade, era do tamanho de sua
grandeza intelectual e moral.
Estar perto dele, usufruir de seu rico cabedal de conhecimentos
era sempre uma fonte de enriquecimento. Ah, meu amigo, como vou
sentir sua falta!...
Em qualquer acontecimento social ele estava sempre acompanhado
de sua bela esposa, Maria do Carmo, ou Duca para os íntimos.
Eram companheiros formidáveis, sempre cheios de alegria e bom-humor!
Era, também, como sei, um excelente pai de família. Portanto,
além de intelectual respeitado, um homem reto, de princípios morais
sólidos.
Deixa para a posteridade um rico acervo cultural e um exemplo
de integridade, honestidade, bondade, cavalheirismo.
Constatar o quanto era querido bastava ver quantos o cercavam
no Café Galo e, hoje, a multidão que lotou o seu velório e seu enterro.
A despedia foi para todos que o amavam um momento único de
grande emoção.
Foi-se o homem, fica a sua herança e as marcas profundas que
deixou na cidade de Montes Claros e, quiçá, em todo o norte de Minas.
Feliz da criatura, como ele, que pode apresentar-se, sem mácula,
diante do Pai-Criador.
Há muito, desde a morte de seu irmão, Fernando, que estava
prometendo a mim mesma visitá-lo. Mas, por uma série de motivos,
principalmente de saúde, fui adiando a visita. E eis que ele se vai sem
que eu pudesse, mais uma vez, dar-lhe um abraço e batermos aquele
papo tão gostoso. A morte não pode esperar. Ele estava de malas prontas
e mal sabia eu!... Perdão, meu amigo!
As cadeiras ocupadas por ele, em ambas as instituições citadas
acima, serão ocupadas por outros. Eu, porém, hesitaria muito antes de
fazê-lo, pois o peso de seu nome implica em grande responsabilidade.
Para mim, amigo, você foi único e, portanto, insubstituível.
Espero, de todos meu coração, podermos nos encontrar na eternidade,
assim como com tantos outros entes queridos!
Adeus, amigo! Obrigada por ter feito parte de minha vida! Você
pode ter a certeza de ter marcado profundamente a vida de muitos
com quem conviveu. Você foi um privilégio! E a lacuna que deixa é,
verdadeiramente, dolorosa.
Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez
Lapa Grande – Lapa Pintada
Sítios Arqueológicos
Introdução – O Município de Montes Claros está aproximadamente
a 438 km de Belo Horizonte e comporta inúmeras cavernas
com vários sítios arqueológicos catalogados.
São 164 sítios, tendo como principal o complexo arqueológico
da Lapa Grande, também a Lapa D´Àgua e Lapa da Nascente que
possuem em seus sedimentos restos de animais fósseis, ornamentações
de grande beleza, e formação de vulcão espeleotema de pouquíssima
ocorrência no Brasil.
Situação – A Lapa Grande está situada na Serra da Vieira, destacando
das demais cavernas do Município, devido a sua importância
regional. Considerada uma das maiores do Estado de Minas Gerais,
com área de 3 km, na cidade e Montes Claros/MG
Aspectos Físicos – Possui potencial espeleológico, paleontólogo
e paisagístico. A Lapa Grande junto com as Lapas Pintada, Lapa
D´Água e Lapa Pequena criam um complexo de grande interesse
científico.
A Lapa D´Água tem espeleotemas raros, como estalactites e estalagmites
cascatas e bolos de calcita, cortinas translúcidas, travertinas
(tipo de rocha calcária) de vários tamanhos e vulcões, sendo estes últimos
de rara ocorrência, em cavernas brasileiras. A Lapa Pintada é
um abrigo em forma de anfiteatro de mais de 40 km altura. Guarda
vestígios de fogueiras e ossos de animais mais de 7800 anos. Mas, a
principal descoberta foram as amostras da vegetação que remontam
1.200 anos são pelo menos mil pinturas rupestres de temática diversificada.
A maioria retrata animais, aves e mamíferos da tradição Planalto,
elementos geométricos que configuram a tradição São Francisco,
além de uma gravura em baixo relevo. Também foram encontrados
restos de animais, vegetais, ossos humanos e cerâmicas, detalha Aneliza
Miranda Melo, bióloga com doutorado em Biologia Vegetal e
gerente do Parque.
Para o pesquisador Lucas Bueno, o que torna essa região ainda
mais especial, é o fato de haver ótimas condições de preservação nos
abrigos, para conservação dos vestígios vegetais “difíceis de serem preservados
nos solos tropicais do Brasil, eles aparecem em abundância
nos abrigos do parque. São grãos e espigas de milho, sementes de
aboboras e pequi, vestígios de mandioca e feijão, além de inúmeras
outras sementes, cascas e frutas de vegetais comestíveis nativos de área
do cerrado.”
As pesquisas do Museu de Ciências Naturais estão sendo realizadas
desde 2006, data da criação do parque, e existem mais de 60
grutas e abrigos cadastrados, entre elas a Lapa Pintada, com ocorrência
de pinturas rupestres.
BREVE HISTÓRICO DA GRUTA
A pesquisa no Brasil anda a passos lentos, porque desde a fundação
da Faculdade de Filosofia do Norte de Minas – FAFIL, professores
e alunos levados pela Professora Isabel Rebello de Paula foram visitar a Lapa Grande e a Lapa Pintada com um grupo de estudantes
de Belo Horizonte e Montes Claros. Nós a visitamos por vários metros.
Atualmente com a regularização do Parque da Lapa Grande
ainda não foi aberta à visitação pública. Vários alunos que ali visitaram
não mais se encontram entre nós. É necessário que seja aberto à
visitação pública para estudo dos universitários locais e de fora, pois
será um grande atrativo de lazer e estudo para o Norte de Minas.
O secretário José Carlos Carvalho declarou que a unidade é de
grande importância estratégica para a região do Norte de Minas. O
parque deve ser aberto ao público permitindo que turistas e a população
local apreciem de perto esses tesouros esculpidos pelo tempo e
foram habitados pelos nossos ancestrais.
- Arqueologia – oito sítios, sendo o mais importante a Lapa
Pintada.
- Paleontologia – dois sítios com destaque para a Lapa da Ossada.
- Espeleológia – são 58 grutas cadastradas. A maior é a Lapa
Grande com 2,2 km. A lapa tem formações geológicas de importância
mundial, sendo citada em congressos nacionais e internacionais de
geologia e espeleologia.
- Geologia e geomorfologia – relevo carstico significativo com
grande número de sumidoros, grutas, maciços, arcos e cânions.
Em 1950 pesquisadores amadores encontraram ossadas humanas
e em 1970 os canadenses acharam vestígios de ocupação pré-histórica,
através de objetos de 8.500 anos. Eles não desistem e continuam
mapeando e buscando mais pegadas humanas, informa Lucas Bueno,
arqueólogo e professor do Museu de História Natural da UFMG.
Em nível nacional existem poucos locais que reúnam tantos
atrativos naturais como as cavernas e os sítios arqueológicos do Parque
Lapa Grande em Montes Claros/MG.
A pesquisa no Brasil não evolui por falta de interesse e recursos
financeiros não disponíveis. Todo investimento gasto com a compra
do Parque espera a finalização de obras para a visitação pública.
O parque está próximo à Fazenda Quebrados de Pedro e Aninha
Veloso, e o casarão está aguardando a reforma para a visitação
do público, porque está localizada no perímetro do mesmo e deverá
compor o complexo turístico, e ela serviu de ponto de apoio à tropeiros
e viajantes no ano de 1891. Os mantimentos chegavam para as
cidades próximas através da “estrada cavaleira” que até hoje existe. O
presidente Juscelino Kubitschek visitou a fazenda e tem a sua foto e
assinatura perto da lareira da mesma. É necessário um aspecto histórico
e científico para evitar que os primeiros anos da nossa formação
histórica se percam.
Fonte Secom
Mais notícias sobre Minas Gerais no Agência Minas.
http//www.youtube.com/Agencia.MG
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Cadeira N. 17
Patrono: Augusto de Saint Hilaire
LIRISMO FÚNEBRE
Ao reler a crônica “Lirismo Fúnebre” da obra “Nelson, o personagem”,
de Haroldo Lívio – Coleção Sesquicentenária – Unimontes
(2007, p. 49-52), me lembrei de que a última vez que
me encontrei com o autor foi justamente no Cemitério do Bonfim,
aqui em Montes Claros. Eu estava parada na quadra principal em
frente ao túmulo da Família Athayde, era um sábado, tarde ensolarada,
lá pelas 17 horas, quando me apareceu Haroldo Lívio, com um
vaso de flores vermelhas nas mãos. Surpreso com a minha presença
naquele local e naquele horário, foi logo me perguntando: “O que
você está fazendo aqui?” E eu: “Trabalhando!”. Ele: “Eu não sabia que
você trabalhava aqui.” Rimos muito e tratei de esclarecer: “Estou aqui
esperando uma orientanda do Curso de História, que está escrevendo
sua monografia sobre a arte tumular e sobre as diferenças sociais refletidas
também entre os mortos”, mas como até aquela hora ela não
havia aparecido, eu já estava desistindo. Perguntei então para quem
seria aquelas flores vermelhas e ele emocionado respondeu: “Hoje é
o aniversário da minha mãe, quis trazer esse presente. Ela gostava de flores.” Fiquei sensibilizada com a delicadeza do gesto e pensei: faz
mais de uma hora que estou aqui agoniada pela demora dessa aluna e
nem me lembrei que aqui também estão meus avós, meu pai e irmãos.
Nesse instante me apareceu a aluna com suas desculpas, me despedi
do meu amigo, que se disse surpreso com a dedicação dessa professora,
que não teria obrigação de acompanhar essa coleta de dados para
a pesquisa. Nos despedimos ali. Eu orientei uma apressada sessão de
fotos para não perder o resto da luz da tarde e ainda encontrei tempo
para uma oração pelos meus parentes, que como dizia Dr. João Vale
Maurício: “Cada dia mais amigos e parentes vão se mudando para lá”.
Hoje, tanto tempo depois desse encontro, senti vontade de falar
de Haroldo Lívio, o personagem, que conheci pessoalmente depois de
ler suas crônicas nos jornais e também o seu ótimo livro, da mesma
forma que conheci outra grande amiga, Ruth Tupinambá Graça, de
quem também me despedi meses atrás, primeiro me encantei pela
obra: “Montes Claros era assim...” e depois conheci sua doce autora
e nos tornamos grandes amigas, acredito que pelo amor a Montes
Claros, com Haroldo Lívio foi parecido.
Eu estava trabalhando na Secretaria de Cultura com a incumbência
de ajudar o Secretário João Rodrigues a pensar os festejos do
Sesquicentenário de Montes Claros, que aconteceria naquele ano de
2007. Haroldo também fazia parte da comissão. Conversando sobre
obras de autores locais que mereciam uma reedição, apresentei o projeto
de uma coleção, ele me ajudou muito a realizar esse meu sonho,
inclusive a conseguir os direitos autorais gratuitamente junto às famílias
dos autores.
Haroldo sempre passava pela minha sala que ficava no andar
superior do Casarão dos Mendes, ao lado do Centro Cultural. Numa
tarde ele me entregou um envelope com um exemplar do seu livro“Nelson, o personagem”, mas não pediu que eu o incluísse na coleção
que ia tomando forma. Eu então reli o livro e achei que suas crônicas
fechariam bem a sonhada coleção, já que vários dos autores homenageados apareciam como personagens do seu livro, sem falar que Nelson
Vianna, o seu personagem, participava com 3 obras: “Foiceiros e
Vaqueiros”, “Serrões Montesclarenses e Efemérides Montesclarenses.
Das nossas longas conversas sobre Montes Claros e sua gente,
ele me falou do meu bisavô João de Quincó e do meu tataravô Joaquim
Pereira de Vasconcelos, que foi avô dos meus avós, que eram
primos irmãos. Nossa! Eu que sempre vasculhei os arquivos familiares
em busca desses antepassados, fiquei encantada e agradecida por tanto
conhecimento e por tão boa memória. No seu livro ele cita um fato
ocorrido entre Nelson Vianna e meu bisavô, mas o melhor foi conhecer
através dele os livros de Nelson Vianna e encontrar meus parentes
por inteiro, na simplicidade, honradez e até ingenuidade, como são
os sertanejos de raiz.
Para finalizar essa pequena homenagem ao grande pesquisador
Haroldo Lívio de Oliveira, fica o pesar por constatar que escritores
como ele tenham publicado tão pouco. Perdemos muito com sua
morte.
Bibliografia: Coleção Sesquicentenária. Montes Claros: Unimontes, 2007.
Virgínia Abreu de Paula
Cadeira N. 99
Patrono: Waldemar Versiani dos Anjos
Ruth Tupinambá Graça
Grande memorialista. Brindou-nos com textos deliciosos contando,
com carinho e precisão, histórias de nossa cidade vividas
por ela. Prima carnal dos meus pais. Minha prima em
segundo grau, e por ser mais velha, tornou-se Tia Ruth. De olhos
fechados eu a vejo em sua casa na rua Dr. Veloso, em casa da Titia
Maria, aqui em casa, sem nunca afastar o sorriso dos lábios. Bonita
a tia Ruth. Quando mocinha foi considerada uma das mais belas da
cidade. Ganhou segundo lugar num concurso de beleza acontecido
num parque de diversões. O primeiro lugar foi para minha mãe. Elas
se pareciam! Casou-se com Armênio Graça, um marido incrivelmente
elegante e fino. Teve diversos filhos. Não sei bem a razão torneime
mais chegada aos meninos! Alberto Graça, o cineasta, e Armênio,
o musicista, entre outras coisas. Tia Ruth não apenas recordava seu
passado. Em suas crônicas era comum defender, e bem, as suas convicções.
E que delícia passear pela antiga Montes Claros através da
sua narrativa. Eu marcava trechos do seu livro “Montes Claros Era
Assim...” para comentar com minha mãe, sua leitora voraz. Passáva mos horas entretidas com aquelas memórias saborosas.
Minha mãe
sempre acrescentando detalhes lembrados por ela. Foi assim, graças a
Tia Ruth, que surgiu em mim a vontade de escrever sobre as memórias
da minha mãe no seu tempo de menina na Rua de Baixo. –“Ruth
era mais ligada a Aracy do que a mim, pela idade. Ela morou lá em
casa, sabia? Para estudar. Os pais estavam morando onde não havia
escola...” –“Espere aí, mamãe. Vou pegar caderno e caneta. Vamos
fazer um livro!” O livro tornou-se realidade graças ao primo Fabiano
de Paula que, sonhou comigo o mesmo sonho. Encontrou novos parceiros
e escritores... inclusive a tia Ruth. Foi na sua sala inglesa (aquele
recanto ficaria bem no condado de East Sussex ou Glouscestershire),
que estive com ela pela última vez, numa tarde de pesquisas para o livro.
Eu e Fabiano. Ela entusiasmada com o projeto, removendo nossas
dúvidas, acrescentando informações. -“Que memória prodigiosa”,
comenta Fabiano.” –“Fui criada com leite de cabra”, nos revela.
Serena nos deixou. Despediu-se dos filhos sem dramas, consciente
de estar indo para um bom lugar. Não duvido que, no novo
e belo mundo onde agora reside, escreva suas memórias desse plano
grosseiro em que vivemos. Minha gratidão à Tia Ruth pelo que fez
por nossa cultura e pelo muito que me ensinou.
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
HAROLDO LÍVIO
BARÃO DE GRÃO-MOGOL
A história é bem normal de tudo de conformidade com os cânones
do comércio de nossos dias, fruto dos princípios da oferta
e da procura. Negócio de toma-lá-e-dá-cá, envolvendo naturalmente
valores e moedas comuns de qualquer ato comercial. Só põe
romantismo numa operação dessas quem pode vê-la com olhos de poesia,
com traços românticos de filosofia literária. Em tudo, não resta
dúvida, mesmo nos atos de pura barganha e interesses outros, a gente
consegue dar um colorido de fantasia, bem própria dos que vivem do
trato das artes de das letras.
É que a verdade é bem interessante, amigos. Haroldo Lívio,
cidadão brasileiro, brasilminense de nascimento, montes-clarense de
coração, agora assina um atestado de amor à terra de Grão Mogol.
Assina e paga. Paga com toda a força que o dinheiro põe e dispõe no
mundo moderno, mesmo em se tratando de coisas antigas. Haroldo
Lívio – é bom dizer logo – acaba de efetuar uma transação comercial
de alto coturno na cidade de Grão Mogol. Comprou e pagou e tomou
posse, com registro em Cartório, mediante todas as cláusulas, inclusive
a de evicção.
Haroldo Lívio, ou melhor, Doutor Haroldo Lívio de Oliveira,
brasileiro, advogado, casado com a socióloga, D. Maria do Carmo, é
hoje senhor de um solar antigo e sensorial na cidade de Grão Mogol.
Senhor legítimo de uma antiga casa, grande e imponente, construída
possivelmente por mãos escravas, de paredes de pesadas pedras, escavadas
com o suor do século passado. Caso de amor à primeira vista,
Haroldo embeiçou-se pela nobre vivenda e sentiu-se imediatamente
na pele de um poderoso grão-proprietário, dono da segurança de uma
fortaleza ao mesmo tempo urbana e histórica. Viu e gostou. Gostou e
comprou. Comprou e pagou. Pagou por ser o incontestável possuidor
da possuída posse.
Haroldo Lívio e Maria do Carmo.
A casa de Haroldo, amigos, não é uma casa comum, que a escritura
diz construída de alvenaria, de simples e perecíveis tijolos. É obra
granítica, com paredes de meia braça, a sustentar janelas coloniais,
portas imensas, de duas bandas, com pesadíssimas traves e ferrolhos,
frutos, não só da segurança mineira como da senhorial competência de suados ferreiros de antanho. A casa de Haroldo, de telhado de
aroeira lavrada a golpes de enxó por mãos competentes, tem repetidas
ripas de jacarandá! As paredes das salas mais nobres são revestidas com
lambris e o piso é digno das passadas de um comandante-centurião.
Na frente, o arquitetônico ornato de uma resistente cimalha dá o toque
do poderio e da força de uma escolha consciente do construtor e
mestre-de-obras, orgulho da arte de cantaria.
O fundo do nobre solar, após generoso quintal de frutos opimos,
divisa com as mais cristalinas águas do rio de areias brancas, leito
de pedras polidas, barrancas atapetadas de grama verdinha e capim
gordura. Ao longe, mas não muito distante, o perfil elegante de centenárias árvores a formar moldura com o azul de ferrugem das serras
e a linha cinzenta-celeste do horizonte. Tudo uma graça, um encanto
para os olhos e um prazer para o coração...
Por tudo isso, pelo amor, pelo romantismo da decisão comercial,
pela poesia, pelo gosto, pela nobre humildade e pela humilde
nobreza de sã consciência, prevalecendo-me não sei de que autoridade,
não tenho dúvida de atribuir a Haroldo Lívio, culto e intelectual
senhor das Minas Gerais, o Título de Barão de Grão-Mogol.
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
YVONNE SILVEIRA
Não basta crer e saber, é necessário viver a nossa crença, isto é, fazer penetrar na
prática cotidiana da vida os princípios superiores que adotamos.
Léon Denis
Yvonne de Oliveira Silveira é de Montes Claros e veio ao mundo
em 30 de dezembro de 1914, numa casona de esquina das
Ruas Padre Augusto/Doutor Santos, onde agora reina o Banco
Itaú. Tempo bom de infância de Cândido Canela, Mário Veloso,
Waldir Bessone, Raul Peres, Ciro dos Anjos, Felicidade Tupinambá,
tempo de suas amigas Walkiria Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora
dos Anjos, Idoleta e Maria Maciel. Tempo de seu futuro namorado,
noivo e marido Olyntho Silveira. Tem duas origens interessantes: da
família Peres, de tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu
pai Antônio Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome
brasileiro, porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda,
José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios: Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia. Francisco
era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres, agora chegando
aos 104.
Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora perfeita
da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fereiros
e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Foi sempre
uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e
hortas de alface, brincadeiras de quintal e de rua, com estórias
dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados
na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol
e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical para
cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o número do
mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze lindas sonoridades.
O que não era poeira do chão, era boniteza colorida dos pequis, dos
cachos de banana, dos sacos de laranja, dos bacuparis e das pitangas,
das carnes penduradas e cheirosas pingando gordura. Tudo, tudo entre
a realidade e os sonhos.
Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo como
colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se transformar
em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho, cabelo arrumado,
perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama
mais do que tudo a existência. Em Yvonne Silveira, nada mais condizente
que as palavras de Emmanuel construídas no sonho e concretizadas
no amor: “Duas asas conduzirão o espírito humano à presença
de Deus: uma chama-se AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor,
que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina
e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de
suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do
conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso,
que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo -a
para o Alto”.
O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes
Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos
em 1967, para sermos professores universitários em nossa
própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação
na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em
Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de
prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo
Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil
iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino
de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar
futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade
de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes
que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a batalha política
e cultural em várias partes deste Brasil. Fico encantado quando um
aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por
recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas
palavras de incentivo à leitura e à escrita. Como a sua estreia no
magistério foi aos doze anos, ela teve no mínimo oitenta e oito de
oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja
prestação de serviços à cultura.
Disse muito bem Charles Chaplin que a vida é uma peça de teatro
que não permite ensaios. É preciso que a gente cante, ria, dance,
chore e viva intensamente cada momento, antes que a cortina se feche
e a peça termine sem aplausos. Acrescenta Fernando Pessoa que o valor
das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade
com que acontecem. E é por isso que existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Não seria exagero
dizer que os dois mestres – sem conhecer Yvonne Silveira - escreveram
isso tempos atrás baseados num modelo nela inspirado ou que
ela inspira. Neste momento em que escrevo, ela está comemorando
e ajudando a comemorar o Dia Internacional da Mulher, desfilando
nobremente num escaldante sol de Verão, por vontade própria e atendendo
a um convite do Rotary de Montes Claros-União. Estou quasecerto de que ela estará sendo fotografada e dando uma entrevista para
os repórteres da TV e apresentando ideias para a moçada dos jornais
e das rádios. Voz de moça de trinta anos, com toda uma lógica no
raciocínio e uma perfeita coerência de ideias. Numa rara queixa esta
semana, ela me disse, por telefone, que acha que está envelhecendo,
pois se vê distraída, sentindo umas tonteiras e tendo dificuldade para
subir escadas. Claro que velha seria a avó dela se ainda estivesse viva.
De publicação, Yvonne Silveira tem Montes Claros – Crônicas,“Cantar de Amigos - Poemas, História do Elos Clube de Montes
Claros, Montes Claros de Ontem e de Hoje, e Folclore para Crianças,
(em parceria com Zezé Colares) e Brejo das Almas – Contos e
Crônicas, livro dela e do marido Olyntho Silveira. Foram muitos e
muitos os prefácios para livros de amigos, muitas as análises literárias,
muitos poemas e crônicas, muitas as peças para apresentações de
teatro. Professora de tudo quanto é escola em Brejo das Almas e em
Montes Claros, nunca houve na sua vida um dia de desemprego, trajetória
do ensino primário até a eficiência universitária. O cargo talvez
mais elevado entre os muitos que tem exercido seja o de Diretora da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, nossa
querida Fafil. Isso sem falar que foi professora de História das Artes
no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, ao tempo
de D. Marina. Presidente da Academia Montesclarense de Letras
desde 1985, nunca teve vontade de deixar o cargo, nem vai deixá-lo,
dizendo-se sempre influenciada por Austregésilo de Athayde, da Academia
Brasileira de Letras, e por Vivaldi Moreira, da Academia Mineira,
que tiveram mandatos infinitos e existenciais. Só aos quase cem
anos, ela admitiu passar o cargo para “alguém mais novo/a”, acredito
uma grande conversa da boca para fora, porque de alma sempre nova,
ela sempre sentiu a perpetuidade do seu mandato. Iluminar, iluminar
tudo, iluminar todos, iluminar sempre, esse é o seu lema, essa a sua
trajetória, esse o seu dever, o que entende por sua missão.
Yvonne e Olyntho realizaram, lá pela meia idade, uma mais
do que querida adoção. Receberam, com muita alegria, Ireni, Ireni Mota Carlos, que lhes deu dois netos: Maria Luíza e Pedro Vinícius.
O nascimento de Maria Luíza Oliveira Silveira foi elegantemente comemorado
com um soneto de Olyntho, um dos mais bonitos que ele
escreveu. De Maria Luíza, curso superior de Enfermagem, casada com
Leandro Pimenta Peres, nasceu o bisneto Vinícius Silveira Peres, que
já anda como rapaz, dá recados e faz as honras da casa quando chega
uma visita. Moram todos numa linda mansão da Rua Basílio de Paula,
que liga a Vila Brasília ao Bairro Todos os Santos, desculpem-me a
falta de modéstia, uma área das mais nobres. Para a época de antanho
do casamento, em Brejo das Almas, Olyntho e Yvonne se uniram já
bem coroas (76 anos de vida em comum), ele com 23, ela com 18.
E só se casaram depois de quatro anos de namoro, porque Olyntho
não lhe dava sossego, passando dia e noite de bicicleta em frente à
casa de D. Cândida e Niquinho Oliveira, seu pai. Por falar em Niquinho,é bom dizer que ele, na verdade, tinha um nome de literato
e de orador e dois apelidos como farmacêutico, um no Brejo, outro
em Montes Claros: o normal era Niquinho Oliveira. O outro, que lhe
foi posto por Joaquim Sarmento, um dos seus melhores amigos, era
Niquinho Açúcar, só usado pelos mais íntimos. E por que Ninquinho
Açúcar? Havia, na Camilo Prates, da Padre Augusto até a Praça
Doutor Carlos, dois Niquinhos farmacêuticos: Niquinho Teixeira e
Niquinho Oliveira. O Oliveira, louro e brancão, como disse antes,
de olhos verdes; o Teixeira, um tanto quanto amorenado. Para distinguir
melhor, Joaquim Sarmento apelidou-os de Niquinho Açúcar
e Niquinho Rapadura, ficando assim bem mais clara a identificação.
Yvonne e eu somos da fundação do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros. Ela tem como patrono o pai farmacêutico Antônio
Ferreira Oliveira e eu, o farmacêutico Antônio Augusto Teixeira,
ambos fundadores do Rotary de Montes Claros em 1926, o terceiro
clube rotário do Brasil.
Quando não era ainda normais as viagens para outros países,
Dona Yvonne fez duas aventuras na Europa. A primeira em
1981, lembro-me muito tendo de memória os comentários do seu companheiro de turismo, Lazinho Pimenta. A segunda em
1991, com um turma de amigas, um mês inteiro percorrendo
Portugal, depois de participar como representante brasileira em
uma Convenção do Elos, no Faro, quando D. Fernanda Ramos
era presidente internacional. Sem dúvida, fizeram muito sucesso, bela
apresentação do elismo brasileiro, principalmente do nosso Elos Clube
de Montes Claros, que sempre esteve na vanguarda. Desejo lembrar
também aqui da admissão de Dona Yvonne na Academia Montesclarense
de Letras, juntamente com Simeão Ribeiro Pires, Olyntho
Silveira, Cândido Canela e Sílvia dos Anjos, primeira turma convocada
para se unir aos fundadores Alfredo Marques Vianna de Góes,
João Valle Maurício, Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Francisco
José Pereira, Orlando Ferreira Lima, Heloísa Neto de Castro, Antônio
Augusto Veloso, Maria Ribeiro Pires, Dulce Sarmento, José Raimundo
Neto, Hélio Oscar Valle Moreira, Avay Miranda e Geraldo
Avelar. A curiosidade é que os criadores da Academia não queriam
ter patronos, privilégio que ficaria para eles mesmos, quando morressem.
Foi Yvonne Silveira que os convenceu a adotar a prática normal.
Neste grandioso 2014, ano de seu centenário, estaremos em
constante festa, preparando e comemorando juntamente com ela todas
as glórias que Deus lhe permitiu. Ana Valda Vasconcelos, representando
o Elos Clube, Maristela Cardoso planejando pelos artistas,
e eu, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, estamos nos reunindo com muitas instituições para realizarmos
importantes reuniões festivas. Elos Clube, Academias de Letras,
Instituto Histórico e Geográfico, Rotary, Conservatório, Fundação
Marina, Ateliê Felicidade Patrocínio, Associação dos Artistas Plásticos,
Automóvel Clube, Câmara Municipal e Assembleia Legislativa.
As duas maiores manifestações deverão ser da Reitoria da Unimontes
e da Secretaria de Cultura. O Reitor João dos Reis Canela já está preparando
sua festa para o mês de maio.
Clássica e renascentista, sempre antenada a cada tempo, é Yvonne
Silveira conservadora ao máximo, alma de absoluta mineiridade.
Intelectual tanto dormindo como acordada, será sempre um dos símbolos
de Montes Claros e de Francisco Sá, seu saudoso Brejo. Ontem
como hoje teve e tem uma multidão de admiradores e de amigos. Deo
gratias!
Wanderlino Arruda e Yvonne de Oliveira Silveira
Daniel Antunes Júnior
Sócio Correspondente
Belo Horizonte - Minas Gerais
MONTES CLAROS,
CAPITAL DO NORTE DE MINAS
Quando há pouco tempo participei de uma reunião do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros, ora sob a
presidência do incansável Wanderlino Arruda, sendo ali tão
bem recebido pelos nobres integrantes de seu quadro social, depois
de saudado gentilmente pelo Dr. Dário Teixeira Cotrim, tive a oportunidade
de ressaltar o quanto é rico o patrimônio histórico dessa
acolhedora cidade, onde morei por alguns anos, e da qual guardo
gratas recordações.
Com efeito, Montes Claros, que se tornou cidade universitária
de grande expressão, se destaca, não apenas como pólo de desenvolvimento
regional, de comércio ativo, indústria promissora, e intensa
atividade política, mas também como centro cultural da maior
importância. Por isso mesmo, é considerada, a justo título, como
capital do Norte de Minas.
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente várias figuras de
destaque de Montes Claros, hoje desaparecidas, tais como Da. Tiburtina, Esteves Rodrigues, João Chaves, Cel. Lopinho, Cândido Canela,
Nelson Vianna, João Alencar Athayde, Mauricinho, Cel. Filomeno,
Plínio, Simeão e Mário Ribeiro, Deraldo Calixto, Dulce Sarmento,
João Paculdino, Mauro Moreira, Constantin Kristof e tantas outras,
alem do Capitão Eneas, que eu chamava de Visconde de Burarama.
O Darcy Ribeiro, só conheci de nome. E hoje desfruto da amizade
e consideração de várias pessoas que são referência dessa cidade altaneira,
destacando a figura do bom amigo Luiz de Paula Ferreira, que
continua firme nos arreios.
No meu tempo de gerente bancário, quando a economia local
girava em torno da pecuária, Montes Claros já era o mais importante
centro comercial do Note de Minas
Em nossos dias, quem transita pelo centro da cidade, vendo o
burburinho de gente apressada, de todos os matizes, que vai e vem,
como num formigueiro humano, tem a idéia de que ali está a versão
sertaneja da cosmopolita e estuante Hong Kong.
Mas desde tempos primevos, a cidade, hoje bafejada pelos ventos
do progresso, guarda, ainda, a reminiscência de suas tradições,
usos, costumes, tipos populares e suas crenças. Nos seus casarões de
muitas portas e janelas, inclusive o que sedia o nosso Instituto, respirase
numa atmosfera de austeridade senhorial, de grandeza e seriedade.
Mas o que me moveu a fazer este modesto comentário, foi o
conteúdo da Revista do Instituto, com artigos diversificados dos associados,
cada qual a seu modo. Já com o Volume XII, essa publicação
espelha a dedicação e o entusiasmo dos autores.
Detive-me no que escreveu o Juvenal Durães sobre Nathércio
França, porque lembro-me muito bem da figura amena daquele meu
saudoso amigo, genro de D. Tiburtina e concunhado do impetuoso
pecuarista João Batista Pedreira.
O meu primeiro terno de casemira, sob medida, (naquele tempo
não havia o tropical inglês), foi comprado da Renner, de Porto
Alegre, da qual o Nathércio era representante em Montes Claros. Foi ele quem me tirou as medidas e o terno ficou ótimo.
Tempos depois, quando eu já morava em Uberlândia, Nathércio,
que gostava da aviação, veio a ser o encarregado da Nacional
Linhas Aéreas em nossa Montes Claros, Foi então que me aconteceu
um caso interessante.
Vindo a essa cidade, trouxe comigo, como de hábito, um livro
para ler no avião, aproveitando o tempo, que me era escasso. Mas o
livro era uma droga e não passei da segunda página.
Dispus-me a rifá-lo na primeira oportunidade. Assim, ao fazer
o avião uma escala em Pirapora, achei que chegara a hora da desova
e desci com o livro A Miss Minas Gerais, que veio a bordo e era ali
esperada por uma luzida comissão, teve festiva recepção, com flores
e saudação de boas-vindas. Com aquela movimentação e a beleza da
moça, me distrai um pouco e acabei por disfarçar mal o “esquecimento”
do livro sobre o balcão, Ao sermos chamados para o reembarque,
eu já entrava no avião, e zeloso funcionário veio correndo trazendo-o
de volta...
Frustrado na primeira tentativa, antes de pousar em Montes
Claros coloquei o livro na bolsa que fica atrás da poltrona da frente e
desta vez senti-me aliviado, porque ninguém viu.
Entretanto, após o desembarque, o Nathércio, ao fazer uma
vistoria no interior avião, encontrou o maldito livro, e não sei como
descobriu que ele era meu, tendo o cuidado de mandar levá-lo a mim
no hotel...
Mas na volta à Capital, escalando em Diamantina, tive a coragem
de deixá-lo, num cesto de papel, à vista de todo mundo, e nunca
mais o lvi.
Hoje, não consigo lembrar o título do livro, mas jamais poderia
esquecer aquela gentileza do Nathércio...
André Koehne
Sócio Correspondente
Caetité - Bahia
UMA EPOPEIA SUBTERRÂNEA
A cidade baiana de Caetité possui uma forte ligação com Minas
Gerais. Além de ter sido, por séculos, ponto de partida de vários“retirantes” que buscavam no sul maiores oportunidades,
sua emancipação política em 1810 se deu graças ao estabelecimento,
ali, de várias famílias que fugiam às perseguições decorrentes da Inconfidência.
Muitas dessas famílias trouxeram, também, a experiência
mineradora que logo se fez útil na exploração das ametistas, descobertas
ainda no final do século XVIII, num distrito que passou a chamarse
Brejinho das Ametistas, ou na descoberta de diamantes na Chapada
Diamantina.
Ali, nas “grunas” abertas nos montes, garimpeiros passavam de
geração em geração os conhecimentos adquiridos de forma empírica,
seguindo nas rochas os veios promissores, com um senso de direção
quase inato.
Os “gruneiros” subsistem em Brejinho das Ametistas, terra natal
do cantor Waldick Soriano – cuja história familiar confunde-se
com a do próprio distrito.
Situada em pleno sertão, Caetité está sujeita às estiagens nordestinas.
A água, ali, sempre foi um bem precioso e motivou a localização
da sua sede, num vale cheio de riachos e nascentes que, mesmo
nos períodos mais secos, mantinham-se perenes. Uma situação que
o desmatamento e o crescimento urbano fez, no final do século XX,
alterar-se de forma radical – culminando com a falta d’água na grande
seca de 1974.
A sede, como boa parte do território do município, faz parte da
Bacia do Rio de Contas – uma bacia completamente “baiana”. Já o
distrito de Brejinho, contudo, compõe a Bacia do São Francisco, ali
nascendo o Carnaíba de Dentro que, junto ao Carnaíba de Fora (também
com nascente em Caetité), formam o Rio das Rãs, afluente do
São Francisco. Mesmo uma parte de Brejinho descamba para o Rio de
Contas, como é o caso do Rio da Faca que, nascendo ali, irá desaguar
no Rio do Antônio, um dos afluentes do Rio de Contas. Um divisor
de águas, de duas importantes bacias, onde a água em si torna-se cada
vez mais um elemento raro.
O relevo acidentado (Brejinho está ao fim da Serra do Espinhaço),
longos planaltos de campos gerais, ali um pequeno rio era perene
em tempos passados. Um rio “sem nome”, conhecido pelo trecho no
qual cruzava a estrada de terra que ligava a sede ao lugarejo: “Passagem
da Pedra”.
Do rio da Passagem da Pedra até a sede citadina são cerca de
doze quilômetros, e entre ambos uma elevação de vários metros que
tornava impossível trazer aquela água até lá. Um projeto que a engenharia
moderna facilmente venceria, a custos gigantescos que, àquelaépoca, não estavam disponíveis.
UM PROBLEMA FINANCEIRO
Durante o governo do médico Roberto Santos, pela Empresa
Baiana de Água e Saneamento (Embasa), foi realizado um estudo sobre
a viabilidade da transposição das águas da Passagem da Pedra até
Caetité. Da equipe então formada para isto fazia parte o geólogo João
Lessa que, assim, voltava à cidade onde passara a infância.
João Lessa nascera na cidade de Livramento de Nossa Senhora,
em 20 de abril de 1937, mas seus pais mudaram-se para Caetité
quando ainda tinha meros quarenta dias de vida, e aqui estudara as
primeiras letras até o ginasial. Aquele retorno era a primeira vez que
o fazia, a trabalho.
A Embasa tinha feito uma estação de tratamento de água no
lugar denominado “Brás”, às margens da BR 030, no meio de uma
imensa ladeira, antigamente denominada “Ladeira da Tabatinga”, saída
para a cidade de Guanambi, mais de duzentos metros acima do
centro de Caetité, na altitude, e a uns três quilômetros dele.
Lessa, diante do monte que se erguia a meio caminho entre o
rio e a estação, sugeriu que fosse aberto um túnel para se vencer o obstáculo,
já que não dispunham de meios para bombear o líquido para
o alto. A ideia foi considerada totalmente inviável – uma “loucura”
segundo alguns dos técnicos que o acompanhavam – mas não para o
geólogo, que conhecia as habilidades dos mineiros do distrito próximo.
Se não tinham recursos técnicos e financeiros para a empreitada,
esta poderia ser feita de outra forma.
Lessa havia, junto ao Superintendente de Obras da Embasa,
visitado o trabalho dos mineiros numa das “grunas” – buracos abertos
na terra – no garimpo da ametista. Ali, observara que os “gruneiros”
tinham uma capacidade de orientação única sob o solo, construindo
aberturas capazes de, com relativa segurança, mantê-los na atividade
extrativa por anos a fio.
Voltando ao distrito, perguntou aos moradores dentre os garimpeiros
qual o melhor gruneiro que havia, e todos lhe indicaram um senhor de nome Manoel. Apresentado ao mesmo, um homem
já maduro e com grande experiência, descreveu-lhe o desafio: levar aágua da Passagem da Pedra para Caetité.
Sorrindo, o velho garimpeiro declarou, apenas: “A gente só não
engruna na areia”.
Diante do olhar admirado e incrédulo dos técnicos da Embasa,
alguns poucos gruneiros de Brejinho das Ametistas deram início à
escavação, sob o comando de Seu Manoel. Fariam, com o custo quase
que somente da mão de obra, aquilo que custaria milhões à engenharia.
AS ESCAVAÇÕES
A cada 50 metros eram abertos poços verticais, no fundo dos
quais seria feito o túnel por onde passaria o encanamento da água da
Passagem da Pedra. Nestes poços desciam os gruneiros e o material
necessário, bem como era retirada a terra resultante da escavação e
por onde saíam.
Nada de cálculos meticulosos, ou mesmo os triângulos de Pitágoras:
toda a “tecnologia” era baseada apenas na experiência dos
gruneiros, e no conhecimento empírico de Seu Manoel.
Era o velho minerador quem guiava as seções a serem abertas,
para que viessem a se encontrar no subsolo: além dos próprios
instintos, guiavam-se pela propagação do som. Um método bastante
simples e que deu certo em todos os pontos – exceto num, justamente
o último: nele o som era desviado em razão do mergulho de uma
formação geológica de quartzito.
João Lessa, como os demais funcionários da Embasa que estiveram
no estudo inicial, morava na capital baiana, mas todas as semanas
vinha a Caetité, de avião, para acompanhar o andamento dos trabalhos
e vistoriar sua execução.
O trecho final teve que ser interrompido, com a chegada do
período chuvoso: João Lessa constatou que ali a formação do solo era
instável, e ordenou a imediata evacuação do túnel. O desabamento
efetivamente veio a ocorrer, o que fez aumentar o respeito por parte
dos gruneiros a este geólogo que lhes confiara um trabalho tão grandioso.
Com o desabamento, a boca do túnel foi então feita em “bermas”
(alargamento que se faz nos aterros assentados sobre terrenos
lodosos, para impedir o refluxo destes), ficando com o aspecto de
anfiteatro.
A INAUGURAÇÃO
Uma obra tão grandiosa foi um acontecimento merecedor de
toda a atenção política. Seu término coincidiu com o início do governo
de João Durval Carneiro. O ex-deputado caetiteense e liderança
estadual, Vilobaldo Freitas (irmão do membro da Academia Mineira
de Letras, Flávio Neves) e o próprio governador, vieram a Caetité para
a solene inauguração.
Uma missa celebrada pelo Monsenhor Osvaldo Pereira de Magalhães
sacramentava a realização, que proveria as necessidades deágua da cidade sertaneja. Nela o pároco, falecido em 2014 aos 98
anos, lembrou – em face de tantos que ali estavam para receber o crédito
pela obra, que o seu verdadeiro responsável não estava presente:
o “Joãozinho de Dona Alvina”, o Dr. João Lessa, que acreditara na
viabilidade de tão ousado projeto.
Uma obra que se fez não pelos meticulosos cálculos da engenharia,
ou pelos milhões das empreiteiras – e sim por heroicos e anônimos
gruneiros de Brejinho das Ametistas.
CONCLUSÃO
No ano de 2014 a barragem da Passagem da Pedra jaz abandonada.
Ao longo dos anos seu uso foi sendo preterido pela abertura de
poços artesianos que, com o crescimento exponencial da população
caetiteense, se mostraram insuficientes e forçaram a mesma Embasa
a, neste mesmo ano, inaugurar um aqueduto que levava do longínquo
rio São Francisco a água que, mesmo nele, é faltante. Obra de fôlego,
que guarda a promessa de “resolver” a falta do líquido...
A barragem da Passagem da Pedra ficou completamente assoreada,
e o desmatamento suicida que as margens do seu riacho sofreu
faz com que, mesmo em tempos chuvosos, pouca água exista.
A obra de sua transposição, e a aventura nela envolvida, foram
esquecidas e inúteis, num presente que não apenas se abandona o
passado, como parece querer destruí-lo, junto ao futuro que surge de
mais e mais dificuldades...
A irresponsabilidade, que começa no gesto ignorante do desmatamento
e culmina no descaso dos governos, torna-se mera lembrança
da história. Cujo registro, esperamos, sirva para mudar um tanto as
mentes e os homens...
Catedral de Nossa Senhora de Santana – Caetité / Bahia
Escola Normal de Caetité (Salão Nobre) Caetité - Bahia
Convidados
UM REGISTRO HISTÓRICO
Fonte: Maria das Dores Guimarães Gomes
Tobias Vechio - Dr. Marciano Mauricio e João Alves Mauricio
Versiani. Um pouco da história de cada um: Tobias Vecchio.
Nasceu em San Martino, na Província de Salerno, Itália, a 15
de janeiro de 1856, embarcando para o Brasil quando contava apenas
quinze anos de idade. Estabeleceu-se na cidade de Três Pontas, Minas,
casando-se em 1882 com dona Cândida Flora Vecchio. Residiu
por vários anos no Estado do Rio Grande do Sul, onde foi sócio de
diversas firmas. Transferindo-se para Montes Claros, foi fazendeiro
neste município e construiu o Palácio Episcopal desta Diocese. Dr.
Marciano Mauricio, galanteador e a diplomacia em pessoa, conhecedor
da matéria de Psicologia Infantil e Higiene Escolar. Unia o útil
ao agradável, era um tremendo “pé de valsa”, não perdia os bailes da
Caixa Escolar e dançava com todas as alunas. João Alves Maurício
Versiani, nasceu em Montes Claros, a 6 de janeiro de 1864, filho do
cel. João Alves Maurício e dona Firmina Versiani Maurício. Exerceu
vários mandatos de natureza política, tendo funcionado como Juiz
Seccional. Elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Montes Claros, por várias vêzes. Casou-se com dona Artimina Alves Maurício, a 4 de
outubro de 1884. Era fazendeiro no município de Montes Claros.
Alberto de Sena Batista
Grão Mogol Consternada
por Haroldo Lívio
Fonte: Jéferson Augusto de Figueiredo
Consternação. Como prefeito Municipal de Grão Mogol resumo
numa só palavra o que nós amigos grãomogolenses de
Haroldo Lívio de Oliveira sentimos com o seu passamento.
Esse sentimento pairou no ar da urbe, eternizada por ele numa expressão
simbolicamente cunhada em pedras: “Grão Mogol, Cidade
Presépio”.
Haroldo Lívio era Cidadão Honorário de Grão Mogol. Um
grande amigo apaixonado por esta cidade que desperta paixão principalmente
em quem enxerga a beleza por meio da alma. Aqueles
que são poetas/escritores, cronistas, historiadores de nascença como
Haroldo Lívio, um dos grandes divulgadores de Grão Mogol e de suas
belezas naturais.
De tão apaixonado ele ficou que, de fato e de direito se casou,
um dia, com Grão Mogol, quando comprou uma casa na Rua
Luís Gonçalves, 74, na sequência da Rua Cristiano Relo (Rua Direita,
nome antigo), no Centro Histórico em vias de tombamento pelo
IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de
Minas Gerais. Uma casa aconchegante.
Não é uma casa comum, porque cheia de histórias, a casa que
Haroldo Lívio comprou. “É obra granítica, com paredes de meia braça,
a sustentar janelas coloniais, portas imensas, de duas bandas, com
pesadíssimas traves e ferrolhos, frutos, não só da segurança mineira
como da senhorial competência de suados ferreiros de antanho”, descreve
o também poeta e escritor Wanderlino Arruda.
Havia sete meses que Haroldo Lívio não vinha a Grão Mogol,
apesar da casa montada e bem aparelhada que sempre emprestava aos
amigos de Montes Claros num gesto solidário, uma das muitas qualidades
do amigo que foi enriquecer com a sua intelectualidade e o bom
coração as hostes celestiais.
Somente agora, após a sua partida é que interpretamos o retorno
de Haroldo Lívio a Grão Mogol, há questão de um mês, como
uma maneira de inconscientemente se despedir da terra que ele amou,
assim como amou Brasília de Minas, onde nasceu; Porteirinha, onde
possuía cartório; e Montes Claros, onde viveu e se projetou como
intelectual.
A turma do Café Galo, de Montes Claros ficou empobrecida,
mas ao mesmo tempo se enriquecerá daqui por diante quando as pessoas
recontarem os muitos contos da privilegiada cabeça de Haroldo
Lívio.
Na ocasião em que retornou a esta terra abençoada, ele veio
passar alguns poucos dias a fim de se preparar para uma cirurgia na
bexiga. Bem sucedida. Mas amigos dele confidenciaram que Haroldo
sentira muito a morte do irmão, Fernando Lívio de Oliveira, há cerca
de dez meses. Os pretextos podem ser vários para justificar a partida
definitiva de alguém quando é chegada a hora.
Esse grande amigo, que tanto dignificou Grão Mogol esteve
na cidade por ocasião da inauguração do Presépio Natural Mãos de
Fabíola, Maria do Carmo e Haroldo Lívio
Deus, em dezembro de 2011, obra edificada pelo empresário Lúcio
Bemquerer. Antes ainda, Haroldo esteve no presépio em novembro,
no dia da chegada da escultura do Menino Jesus.
Na condição de prefeito municipal de Grão Mogol e em nome
dos grãomogolenses que conheceram e conviveram com Haroldo Lívio,
transmito à família enlutada, a viúva Maria do Carmo Santos
Oliveira e as filhas Fabíola Belkiss, Luciana e Clarissa Mônica Santos
de Oliveira os nossos mais sinceros sentimentos. O nome deste estimado
amigo será lembrado sempre por nós tendo por base nossa
gratidão.
Convidados
Morre Dom Geraldo
Majela de Castro
Fonte: Ana Maria Santos Veloso e Ana Paula Paixão
Faleceu hoje, (14/05), às 6h10, o Bispo Emérito de Montes Claros,
Dom Geraldo Majela de Castro, aos 84 anos, em decorrência
de complicações da ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica.
Dom Geraldo permaneceu internado como paciente morador na
Santa Casa de Montes Claros durante dois anos e oito meses.
Filho de Eunápio Raymundo de Castro e Ana Batista de Castro,
Dom Geraldo Majela de Castro nasceu em Montes Claros, em 24
de junho de 1930, sendo o primeiro de uma família de nove filhos.
Ainda na infância, foi manifestada a vocação para o sacerdócio, com
a missão de servir a Deus e aos irmãos.
Em 1942, aos 11 anos, ingressou no Seminário, em Pirapora do
Bom Jesus, São Paulo, onde permaneceu até o ano de 1947. No início
do ano seguinte ingressou no Noviciado da Ordem Premonstratense
para estudar filosofia e teologia. Em dezembro de 1953 foi nomeado
Padre em Montes Claros pelo Bispo Dom Luis Victor Sartori. Durante
17 anos trabalhou na Escola Apostólica São Norberto. Após esse tempo, foi pároco em Bocaiúva por 12 anos até ser ordenado Bispo
de Montes Claros em 8 de setembro de 1982.
Dom Geraldo Majela de Castro
No dia 29 de junho de 2001, Dom Geraldo Majela foi nomeado
pelo Papa João Paulo II primeiro Arcebispo Metropolitano
da Província Eclesiástica de Montes Claros, a 39ª do país, que elevou
a Diocese de Montes Claros à condição de Arquidiocese ou Sede
Metropolitana. Teve como antecessores Dom João Antônio Pimenta
(primeiro Bispo), Dom Aristides Porto, Dom Antônio Morais, Dom
Luiz Victor Sartori e Dom José Alves Trindade. Durante oito anos,
Dom Geraldo foi Arcebispo Emérito de Montes Claros.
DOM GERALDO E A SANTA CASA DE MONTES CLAROS
Em 1988, tornou-se responsável pela Irmandade Nossa Senhora
das Mercês, onde permaneceu até abril de 2007. Durante a atuação
à frente da Irmandade, Dom Geraldo nomeou capelães, apoiou
o trabalho das Irmãs para que a Santa Casa cumprisse a missão de
atender os mais carentes e para que o serviço continuasse cada vez
mais qualificado, com acolhimento humanizado aos pacientes, além
dos trabalhos de condução espiritual do maior hospital da região.
Devido a dificuldades econômicas vividas pelo país e, consequentemente,
pela instituição, Dom Geraldo nomeou nova Provedoria
e Superintendência, que trouxeram profissionalismo e experiênciaà gestão hospitalar, fazendo crescer e desenvolver ainda mais a Santa
Casa. Ele sempre atuou em defesa do hospital e da população regional,
com grande representatividade junto aos governos estadual e federal,
ao buscar recursos financeiros e apoio para a gestão, em relação
à qualificação e modernização.
De acordo com ele, todas essas ações sempre foram possíveis
devido ao apoio e trabalho incansável das Irmãs da Congregação do
Sagrado Coração de Maria, a exemplo de Irmã Beata, Irmã Malvina,
Irmã Taís, Irmã Irene, Irmã Veerle e Irmã Chantall, que sempre
lutaram em defesa dos pobres, cumprindo o verdadeiro sentido da
filantropia.
Ele manifestou toda a sua admiração e respeito pelo hospital, ao
declarar que “a Santa Casa significa uma grande instituição, criada na
Igreja pela Irmandade Nossa Senhora das Mercês, que se desenvolveu,
tomando grandes proporções, ao longo do tempo, com a ajuda de todos
os provedores e diretores que por ela passaram. Representa ainda
uma entidade de extrema confiança para o SUS, de grande valor para
a população de Montes Claros e região, sobretudo a mais carente, que
nela encontra o alento para os seus sofrimentos”, acrescenta.
A atuação de Dom Geraldo na Santa Casa sempre foi pautada
pelo profissionalismo, simplicidade, serenidade, pureza de coração e
ações pautadas pela sustentação e equilíbrio, sempre, com plena sabedoria,
trabalhando em prol do desenvolvimento da instituição e da
garantia da qualidade da assistência para os que mais precisam. Ele foi
homenageado pela instituição em diversos momentos: na inauguração
do Pavilhão Dom Geraldo Majela de Castro, em 21 de dezembro
de 1994, com o Troféu Irmã Beata, Comenda Amigos da Santa Casa,
Troféu Família Santa Casa, Torneio de Futebol Society Dom Geraldo
Majela de Castro e com foto oficial na Galeria de Bispos, localizada
na Sala da Provedoria.
Convidados
DOLOROSO ADEUS
A HAROLDO LÍVIO
Fonte: Raquel Mendonça
No coração, a dor profunda do adeus ao grande amigo, mais
que amigo, irmão, Haroldo Lívio. A sua tristíssima partida,
da qual só tive notícia através do artista plástico e amigo Hélio
Brantes, quase às 22h00 de sábado, dia 02 (estávamos ausentes da
cidade no dia 1°), e porque o contato telefônico nosso (entre eu e ele
ou eu e Maria do Carmo, Duca) mais frequente, era o da Secretaria
de Cultura, na sexta-feira fechada. Duca me disse hoje foram muitas
as tentativas infrutíferas de me falar. O que importa mesmo, no entanto,
lembrou, foi eu ter participado tanto do convívio familiar, não
somente aqui, mas também na bela casa da família em Grão Mogol,
junto a Ana Bárbara, que o admirava muito também e por quem tinha grande carinho. Ela se encontrou com ele recentemente, na entrada
da Secretaria de Cultura quando ele saia, depois de mais uma
preciosa visita ao nosso setor e, em meio a cumprimentos, conversa
gentil, cortês, afetuosa, ele falou alegremente, de forma bem humorada,
palavras que acabam inesquecíveis.
Liguei para Magnus Medeiros, amigo comum, no sábado, e
ele, que tanta força e apoio proporcionou à família antes e depois,
relatou-me os fatos. Disse-me optou por não me avisar, porque sabia
quanto ficaria abalada. E concluímos que Deus sabe o que faz, porque
não sei se suportaria - embora lamente muito não ter podido estar
lá o tempo todo - despedir-me dele pessoalmente, em sala da Santa
Casa, que em nada lembra o seu lar cheio de vida, verde, arte e beleza,
distribuídos por todos os cantos e recantos, de forma harmoniosa e
aprazível, por Duca. A bela casa no Todos os Santos sempre decorada,
em momentos especiais ainda mais, com o extremo bom gosto e habilidade
artística da amada esposa e mãe de três filhas de ouro, Clarissa
Mônica, Fabíola e Luciana, a mais nova e que vinha levando o pai ao
Cartório que mantém em Porteirinha, depois de algumas delicadas
intervenções cirúrgicas pelas quais ele passou. Falando em Haroldo
e Duca, foram quarenta e oito anos de uma união exemplar, cercada
pelas graças e bênçãos de Deus e pelo amor, desvelo, vigilância, cuidado
e carinho extremados de Maria do Carmo, que se esquecia, muitas
vezes, de si mesma, a partir das primeiras horas da manhã, para zelar
por tudo que a ele dizia respeito, desde os remédios às refeições, auxiliada
de perto pelas filhas, chegando a se levantar oito, dez vezes à noite,
para ver como ele estava, para resolver o que faltara; para pensar,
detalhar e programar o que fazer por ele e para ele no dia seguinte!...
No coração a dor, na mão, “Nelson Vianna, O Personagem”
(Matéria de Jornal) - Edições Cuatiara -, dedicado aos seus queridos
pais José Luiz e Dalva (in memoriam), exemplar que dele recebi em
18.06.1996: “Para a querida amiga Raquel, com o maior apreço e
admiração, oferece o autor”. O Prefácio de jornalista do valor de um Oswaldo Alves Antunes, de cujo O Jornal de Montes Claros saiu a
seleção de crônicas ali elaboradas e publicadas, lembra, o que também
fica claro nas palavras sempre especiais de Waldyr Senna Batista.
Oswaldo Antunes define: “Haroldo mostra em seu livro, às vezes com
carinhosa ironia, outras com lirismo e saudade, a parte mais amena
do labor jornalístico: relata casos, referencia pessoas e fatos históricos,
como se lhe estivesse dando fé-de-ofício. (...)”, livro que contou com
participação de Antologia da obra “Montes Claros - Sua história, sua
gente, seus costumes”, do também grande e saudoso historiador Hermes
Augusto de Paula (Minas Gráfica Editora - 2a. Edição - 1979).
Lá no alto Haroldo deve ter sido recebido, em seguida à bela,
sublime e festiva cerimônia de entrada organizada pela comitiva celestial,
cercada de seresteiros da terra a entoarem “Amo-te muito” e“O Bardo”, além de tantas outras belas (“As mais belas do mundo...”)
modinhas de João Chaves, por nomes como Dr. Veloso, Urbino de
Souza Vianna e Hermes de Paula, aos quais tocou a tarefa, segundo
Haroldo Lívio em seu livro, de cadastrar, minuciosamente, todos os
dados históricos registrados desde a fundação dos primeiros currais de
gado, que deram origem à cidade. Ao lado deles, a também grande
historiadora, recentemente falecida, aos 98 anos de idade, Ruth Tupinambá
Graça, a nossa muito amada, querida e admirada Rutinha,
que se foi logo após o grande “roqueiro de Moc”, poeta e compositor
Elthomar, e o genial, musical “Sapo na Muda” ou seu parente
apressado Peré. Sem contarem outros tantos amigos e familiares idos.
Claro, ao lado deles, o cronista, justa e merecidamente homenageado,
Nelson Washington Vianna, já a partir do comentário do autor: “...
dificilmente surgirá alguém que possa sobrelevá-lo em seus méritos de
estilista e observador arguto dos acontecimentos que fazem o cotidiano
da vida encantadora de uma cidade.”
Nada melhor, pois, para lembrar e homenagear o grande cronista
e extraordinário historiador que ora nos deixa, que transmutar
Nelson Vianna, o Personagem, nas palavras de abertura do importante livro, no próprio Haroldo Lívio de Oliveira: “Como sempre
acontece na vida real, um belo dia o autor deixa a pena e se muda em
personagem, como acaba de suceder com o imortal Haroldo Lívio.
Os sinos dobram finados anunciando o desaparecimento de uma das
pessoas mais admiradas (...), - conhecidas e reconhecidas - de Montes
Claros. Finou-se aos setenta e seis anos de idade, cercado do respeito
e do reconhecimento ao valor de sua - vida e obra -, o notável escritor
- e historiador - Haroldo Lívio de Oliveira, brasilminense de estirpe
fidalga que dedicou toda a força de seu amor e sua inteligência de escolà missão de garimpar o nosso passado./Montes Claros o pranteia
porque foi ele, sem nenhum favor, um dos autores mais lidos da literatura
montes-clarense, entre todos que mourejaram nas letras, aqui
residindo e recolhendo a história local da boca do próprio povo.”
Além disso, a Haroldo coube pesquisar a fundo a história da
cidade! E ninguém melhor do que ele havia para relatá-la, fato a fato,
data a data, personagem a personagem, de forma sempre fiel, precisa,
inteiramente pertinente e profundamente fundamentada em fatos
reais! Tanto que, volta e meia, junto a ele tirávamos dúvidas as mais
diversas, muitas vezes em atendimento a alunos de todas as séries e
escolas, até mestrandos, doutorandos, de Montes Claros ou não, interessados
em inúmeros nomes e acontecimentos que permearam a
rica e pacífica - vezes conturbada, via Rua de Baixo versus Rua de
Cima - história de Montes Claros, informando os seus telefones (fixo
e celular) e endereço eletrônico a meia cidade e meia, para dirimirem
dúvidas sobre os fatos históricos mais complexos, porque a ele “coube
o laborioso e paciente recenseamento - histórico e cultural - de nossa
Montes Claros de seu tempo (...) e (..) dos tempos de antanho”! Osvaldo
Antunes completa, magistralmente: “... e dizer que através da
janela desse Nelson Vianna, o Personagem, nós, retirantes do tempo,
contemplaremos paisagens humanas vivenciadas ou cuidadosamente
pesquisadas por Haroldo Lívio, - também memorialista de primeiraágua -, que se coloca entre seu personagem Nelson Vianna e seu quase
conterrâneo Niquinho Teixeira, de memórias análogas.”
Aqui deixou Haroldo, além de sua maravilhosa família, inconformados,
milhares de admiradores e amigos, entre os quais eu e
minha filha nos incluímos! Era um ser humano excepcional, querido
por todos que o conheciam, liam ou dele recebiam sempre as mais
corretas e completas informações históricas ou lições. A ele encaminhávamos
muitos e muitos, quando os questionamentos ultrapassavam
as fronteiras de nosso tempo e conhecimento.
Agora o que fazer, além de reverenciar para sempre o seu imenso
legado, o seu nome, trabalho e história honrados, inapagados?!
Quando alguma dúvida surgir ou faltar algum dado precioso para
compor mais de trezentos anos de história montesclarina, restar-nos-á
olhar para os céus e pedir a ele, piedosamente, lance as informações
em forma de gotas ou chuvas de sabedoria - que tinha de sobra!! - pelas
janelas a ele abertas do paraíso, e que se materializarão, como por
milagre, aqui na terra, em mentes e corações preparados para espiritualmente
recebê-las.
Obrigada por ter existido em nossas vidas (e trabalho) amigo
Haroldo! Não estava autorizado a nos deixar tão cedo - eu lhe cobrei
muitas vezes a mais longa “vida longa” ou longevidade do mundo! -,
mas Deus haverá de dar à sua família e amigos sinceros e verdadeiros
toda a força, fé, conforto e consolo necessários, para aprenderem a
viver sem a sua presença apenas física, porque, não há dúvida, você
continua mais vivo e mais amável do que nunca entre nós, eternamente
encantado e preparado para contar e recontar, todo o tempo,
histórias memoráveis, antológicas, inesquecíveis da cidade que teve a
honra de tê-lo como um de seus filhos mais ilustres, insignes, sérios,
corretos e éticos!...
Sei que se foi excepcionalmente bem composto, sob todos os
aspectos, trajado, arrumado, nos mínimos detalhes (o terço branco
da pureza entre as mãos...), para uma grande festa de gala e louvor
eternos nos céus, como poucos no mundo o são, mais um mérito da
esposa Duca, e sob o som de todos os cânticos, credos e orações (agrande cantora lírica Maristela Cardoso estava lá!), ao lado de nomes
como Dona Yvonne de Oliveira (Centenária) Silveira - Salve “Olintho
da Silveira Setentão”, uma de suas belas e brilhantes crônicas-, que
o homenageou em poéticas, harmoniosas, emocionadas palavras e ao
segurar, firmemente, alça do seu último berço; Maria Luiza Silveira
Telles, a nossa extraordinária escritora, país e mundo afora; o amigo
de longa data Paulo Narciso, que, soube, regou o tronco de uma árvore
com suas lágrimas de dor e adeus, e tanta gente mais, porque você
queria e teve prá lá de “um milhão de - fiéis e devotados - amigos!”
Adeus então, como em crônica falou ao seu pai super-herói,
o montes-clarense da atual Rua Gonçalves Figueira, parte do Centro
Histórico da cidade, José Luiz de Oliveira, Imperador do Divino
das Festas de Agosto de Montes Claros, sonho irrealizado de Darcy
Ribeiro! Adeus então, querido e sábio companheiro de trabalho de
cunho histórico, admirável e inesquecível Irmão-Amigo, a quem, não
por acaso, eu chamava “Mestre” e lhe beijava a mão na despedida,
após conversas próximas ou no Café Galo, bem como no setor de
Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros, por tudo que era
e reuniu sobre a verdadeira história da cidade, cujos filhos, legítimos
ou legitimamente adotivos ou afetivos, o aplaudem, longa e sonoramente
e, penhoradamente, agradecem-lhe toda a atenção, interesse e
ensinamentos, para sempre e alegremente em pé, embora chorando a
perda de um mestre e amigo insubstituível!...
É realmente incalculável a sua contribuição à cultura, história,
literatura e imprensa do município e região! Muito ainda haveria a
dizer ou destacar sobre você, mas só não podemos, neste momento,
deixar de dizer, alto e bom som:
Viva Haroldo! Viva!...
LIVROS PUBLICADOS
1º semestre de 2015
Crônicas Históricas de Montes Claros
Dário Teixeira Cotrim
A jornada literária de Dário é árdua, marcada pelo seu empenho
em “conhecer, valorizar e divulgar” fatos e personagens, proporcionando-lhe prazer (apelidado por ‘vaidade’) fazendo jus ao seu
garimpar as fontes, objetivando resgate histórico.
Zoraide Guerra David
Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@hotmail.com
Telefax: (38) 3221-6790