.

Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros

Fundado em 27 de Dezembro de 2006

VOLUME XIV

1º Semestre de 2015

MONTES CLAROS - MINAS GERAIS – BRASIL
2015


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Centro Cultural Hermes de Paula
Praça Dr. Chaves, 32 - Centro
CEP.: 39.400-005 - Montes Claros - MG
Site: www.ihgmc.art.br


REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Publicação Semestral
Diretor e Editor
Dário Teixeira Cotrim
Conselho Editorial
Dário Teixeira Cotrim
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Wanderlino Arruda
Luiz Ribeiro dos Santos
Editoração e Diagramação
Dário Teixeira Cotrim
José Rodrigues F. Júnior
Fotografias
Facebook de Maria das Dores Guimarães Gomes
Silvana Mameluque
José Pociano Neto
Wanderlino Arruda
Itamaury Teles
Dário Teixeira Cotrim
Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-85-67049-33-5


CAPA: Fotografias antigas de Montes Claros.


ÍNDICE

Diretoria 2014-2015 – 7
Lista de Sócios Efetivos do IHGMC – 9
Sócios Correspondentes – 11
Homenagens Póstumas a Sócios – 13
Nota dos Coordenadores – 14
Fins do IHGMC -14
Apresentação – Wanderlino Arruda – 15


Flagrantes das Reuniões do IHGMC

ACONTECENDO... - 19
NOTICIANDO... - 21


ARTIGOS DIVERSOS DOS SÓCIOS DO IHGMC

Antônio Augusto Pereira Moura
Toponímica, o significado das ruas dentro da história de
Montes Claros – 29
Clarice Sarmento
Dulce Sarmento – 43
Dário Teixeira Cotrim
O livro de Haroldo Lívio – 47
O confrade Haroldo Lívio – 50
Délio Pinheiro Neto
A emancipação de Serranópolis de Minas – 52
Edvaldo de Aguiar Fróes
Posse do confrade Edvaldo de Aguiar Fróes no IHGMC – 61
Felicidade Patrocínio
Marina Lorenzo Fernandez Silva e a música em Montes Claros – 64
Itamaury Teles
Aos 76 anos, encanta-se o imortal brasilminense – 68
José Ferreira da Silva
Capelania da Santa da Santa Casa de Montes Claros - 70
José Ponciano Neto
Dona Arinha e a Fazenda Quebradas – 73
Juvenal Caldeira Durães
Vozes e acordes – 76
Lázaro Francisco Sena
Na Trilha de Botumirim – 79
Manoel Messias Oliveira
Ecos do passado – 86
Adeus, Amigo! – 90
Maria Aparecida Costa Cambui
A caminhada da vida – 93
Maria Luiza Silveira Teles
Mais uma despedida – 97
Marilene Veloso Tófolo
Lapa Grande – Lapa Pintada: Sítios arqueológicos – 99
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Lirismo fúnebre – 105
Virgínia Abreu de Paula
Ruth Tupinambá Graça – 108
Wanderlino Arruda
Haroldo Lívio: Barão de Grão Mogol – 110
Yvonne Silveira – 113

ARTIGOS DIVERSOS DOS SÓCIOS CORRESPONDENTES

Daniel Antunes Júnior
Montes Claros, capital do Norte de Minas – 123
André Koehne
Uma epopeia subterrânea – 126
ARTIGOS DIVERSOS DOS CONVIDADOS DO IHGMC
Maria das Dores Guimarães Gomes (in memoriam)
Um registro histórico – 135
Alberto de Sena Batista (Texto de Jeferson Augusto de Figueiredo)
Grão Mogol consternada por Haroldo Lívio – 137
Ana Maria Santos Veloso e Ana Paula Paixão
Morre Dom Geraldo Majela de Castro – 140
Raquel Mendonça
Doloroso Adeus a Haroldo Lívio - 144
LIVROS PUBLICADOS – 151

DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS


Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Jornalista Luis Ribeiro
Dr. Wanderlino Arruda


DIRETORIA 2014- 2015


PRESIDENTE DE HONRA Dr. Luiz de Paula Ferreira
PRESIDENTE Dr. Wanderlino Arruda
1º VICE - PRESIDENTE Dr. Itamaury Teles Oliveira
2º VICE - PRESIDENTE Dr. Dário Teixeira Cotrim
DIRETOR EXECUTIVO Dr. Petrônio Braz
DIRETOR-SECRETÁRIO Profª Maria do Carmo Veloso Durães
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO Dr. Manoel Messias Oliveira
DIRETOR DE FINANÇAS Coronel Lázaro Francisco Sena
DIRETOR DE FINANÇAS ADJUNTO Prof. José Ferreira da Silva
DIRETORA DE PROTOCOLO Dr. Luiz Giovane Santa Rosa
DIRETORA CULTURAL Dra. Mara Yanmar Narciso
DIRETORA DE BIBLIOTECA Profª Filomena Luciene Cordeiro
DIRETORA DE MUSEU Profª Felicidade Patrocínio
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS Dr. José Ponciano Neto
DIRETORIA DE JORNALISMO Jornalista Felipe A. Guimarães Gabrich
DIRETORA DE CURSOS Profª Ivana Ferrante Rebelo e Almeida

CONSELHO CONSULTIVO

Prof. José Geraldo de Freitas Drumond
Prof. Juvenal Caldeira Durães
Drª. Edwirges Teixeira de Freitas

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Prof. José Geraldo de Freitas Drumond
Prof. Juvenal Caldeira Durães
Drª. Edwirges Teixeira de Freitas

COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Profª Marta Verônica Vasconcelos Leite
Prof. César Henrique de Queiroz Porto
Profª Felicidade Patrocínio
Prof. Arnaldo Bezerra

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA

Prof. Denilson Rodrigues
Dr. Fabiano Lopes de Paula
Profª Maria de Lourdes Chaves
Historiadora Marilene Veloso Tófolo

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIO
S

Profª Geralda Magela de Sena e Souza
Profª Maria Ângela Figueiredo Braga
Profª Maria da Glória Caxito Mameluque
Profª Maria Inês Silveira Carlos

COMISSÃO DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Wanderlino Arruda
Prof. José Ferreira da Silva
Jornalista Luiz Ribeiro dos Santos
Profª Marta Verônica Vasconcelos Leite

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO DE LIVROS

Dr. Itamaury Teles Oliveira
Dr. Wanderlino Arruda
Profª Zoraide Guerra David
Ecologista José Ponciano Neto


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Dr. Edvaldo de Aguiar Fróes Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Escritora Milene A. Coutinho Maurício Alfredo de Souza Coutinho
03
Padre Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Maria do Carmo Veloso Durães Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
VAGA Antônio Ferreira de Oliveira
06
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Professora Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Professora Anete Marilia Pereira Antônio Jorge
09
Professora Isabel Rebelo de Paula Antônio Lafetá Rebelo
10
Professora Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Professor Sebastião Abiceu Ary Oliveira
12
Dr Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Dr Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Profª. Ana Valda Xavier Vasconcelos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Jornalista Magnus Denner Medeiros Ataliba Machado
16
Dr Waldir de Senna Batista Athos Braga
17
Profa. Marta Verônica Vasconcelos Leite Auguste de Saint Hillaire
18
Dr Petrônio Braz Brasiliano Braz
19
Dr Luiz de Paula Ferreira Caio Mário Lafetá
20
Professora Felicidade Patrocínio Camilo Prates
21
Profa.Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Dr. Luiz Giovani Santa Rosa Carlos Gomes da Mota
23
Historiador Hélio de Morais Carlos José Versiani
24
José Ponciano Neto Celestino Soares da Cruz
25
VAGA Corbiniano R Aquino
26
Profa. Maria Rejane Rodrigues Ruas Colares Cyro dos Anjos
27
Professora Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Jornalista Jerusia Xavier Arruda Darcy Ribeiro
29
Professora Filomena Luciene Cordeiro Demóstenes Rockert
30
Escritora Maria Lúcia Becattini Miranda Dona Tirbutina
31
Professora Clarice Sarmento Dulce Sarmento
32
VAGA Edgar Martins Pereira
33
Dr Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Profa. Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35
Dr. Antônio Ferreira Cabral Ezequiel Pereira
36
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Dra. Jussara Veloso Ferreira Antunes Francisco Barbosa Cursino
38
Professora Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
Professor Ivo das Chagas Gentil Gonzaga
40
Drª Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Dr Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Professora Maria Luiza Silveira Teles Geraldo Tito da Silveira
43
Professor Benedito de Paula Said Godofredo Guedes
44
Economista Roberto Carlos M. Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Drª. Viviane Marques Henrique Oliva Brasil
46
Professora Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
VAGA Hermenegildo Chaves
48
Profa. Maria das Dores Antunes Câmara Hermes Augusto de Paula
49
Prof. José Ferreira da Silva Irmã Beata
50
Jornalista Délio Pinheiro Neto Jair Oliveira
51
VAGA João Alencar Athayde
52
Fotógrafa Ângela Martins Ferreira João Chaves
53
VAGA João Batista de Paula
54
VAGA João José Alves
55
Cel. Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Dra. Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
VAGA João Novaes Avelins
58
Profa. Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Jornalista Luiz Ribeiro dos Santos João Vale Maurício
60
Dr. Manoel Messias Oliveira Jorge Tadeu Guimarães
61
Jornalista Girleno Alencar Soares José Alves de Macedo
62
Profº José Geraldo de Freitas Drumond José Esteves Rodrigues
63
VAGA José Gomes Machado
64
Professora Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Dra. Maria de Lourdes Chaves José Gonçalves de Ulhôa
66
Arqueólogo Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Prof. Denilson Meireles José Monteiro Fonseca
68
Professora Rejane Meireles Amaral José Nunes Mourão
69
Dr. Aderbal Esteves José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
Vaga José Tomaz Oliveira
71
Dra. Edwirges Teixeira de Freitas Júlio César de Melo Franco
72
Jornalista Theodomiro Paulino Correa Lazinho Pimenta
73
Dra. Maria das Mercês Paixão Guedes Lilia Câmara
74
Professor Laurindo Mekie Pereira Luiz Milton Prates
75
Vaga Manoel Ambrósio
76
Vaga Manoel Esteves
77
Profª Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Jornalista Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Professora Maria José Colares Moreira Mauro de Araújo Moreira
80
Vaga Miguel Braga
81
Prof. Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Vaga Nelson Viana
83
Vaga Newton Caetano d’Angelis
84
Dr Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
Historiador Expedito Veloso Barbosa Armênio Veloso
86
Professora Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Profº Arnaldo Bezerra Pedro Martins de Sant’Anna
88
VAGA Plínio Ribeiro dos Santos
89
Jornalista Felipe Gabrich Robson Costa
90
Folclorista Teófilo Azevedo Filho (Téo) Romeu Barcelos Costa
91
Dr Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Professor Roberto Pinto Fonseca Sebastião Tupinambá
93
Dr Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Dr Luiz Pires Filho Teófilo Ribeiro Filho
95
Profa. Marilene Veloso Tófolo Terezinha Vasquez
96
Vaga Tobias Leal Tupinambá
97
Prof. Leonardo Alvares da Silva Campos Urbino Vianna
98
Dra. Mara Yanmar Narciso Virgilio Abreu de Paula
99
Profa. Virgínia Abreu de Paula Waldemar Versiani dos Anjos
100
Professora Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

Sócios Correspondentes

Jornalista Adriano Souto Belo Horizonte - MG

Prof. Alan José Alcântara Figueiredo

Macaúbas - BA

Jornalista Alberto Sena Batista

Grão Mogol - MG

Dr. André Kohene

Caetité - BA

Prof. Regente Armênio Graça Filho

Rio de Janeiro - RJ

Dr. Ático Vilas-Boas da Mota

Macaúbas - BA

Dr. Avay Miranda

Brasília - DF

Jornalista Carlos Lindemberg Spínola Castro

Belo Horizonte - MG

Escritora Carmem Netto Victória

Belo Horizonte - MG

Jornalista Cláudia Correia Costa Carvalho

Luz - MG

Jornalista Cintia Bernes

Belo Horizonte - MG

Historiadora Célia do Nascimento Coutinho

Belo Horizonte - MG

Historiador Daniel Antunes Júnior

Espinosa - MG

Historiador Dario Cardoso Vale

Belo Horizonte - MG

Dr. Dêniston Fernandes Diamantino

Januária - MG

Historiador Domingos Diniz

Pirapora - MG

Dr. Enock Sacramento

São Paulo - SP

Dr. Eustáquio Wagner Guimarães Gomes

Belo Horizonte - MG
Dr. Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte - MG

Escritor Flávio Henrique Ferreira Pinto

Belo Horizonte - MG

Jornalista Genoveva Ruisdias

Belo Horizonte - MG
Jornalista Geraldo Henriques (Riky Terezi) New York – USA

Prof. Herbert Sardinha Pinto

Belo Horizonte - MG

Dr. Hermano Baggio

Pirapora - MG

Jornalista Jeremias Macário

Vitória da Conquista - BA

Dr. João Carlos Sobreira de Carvalho

Belo Horizonte - MG

Jornalista João Martins

Guanambi - BA

Dr. Jorge Lasmar

Belo Horizonte - MG

Dr. José Carlos Vale de Lima

Belo Horizonte - MG

Dr. José Francisco Lima Ornelas

Belo Horizonte - MG

Prof. José Eustáquio Machado Coelho

Belo Horizonte - MG

Prof. Dr. Jorge Ponciano Ribeiro

Brasília - DF

Dr. José Henrique Brandão

Bocaiuva - MG
Dr. José Walter Pires Brumado - BA

Dr. Manoel Hygino dos Santos

Belo Horizonte - MG

Profa. Dra. Maria da Consolação M. F.

Cowen London - England

Drª. Maria Estela Kubitschek Lopes

Rio de Janeiro - RJ

Profa. Maria Isabel M. Sobreira

Belo Horizonte - MG

Prof. Moisés Vieira Neto

Várzea da Palma - MG

Jornalista Paulo César Oliveira

Belo Horizonte - MG

Dr. Paulo Costa Rio

Pardo de Minas - MG

Historiador Pedro Oliveira

Várzea da Palma - MG
Profa. Regina Almeida Belo Horizonte - MG

Escritor Reynaldo Veloso Souto

Belo Horizonte - MG

Profa. Terezinha Teixeira Santos

Guanambi - BA

Prof. Wellington Caldeira Gomes

Belo Horizonte - MG

Historiador Zanoni Eustáquio Roque Neves

Belo Horizonte - MG
Historiadora Zilda de Souza Brandão (Bim) Belo Horizonte - MG

HOMENAGENS PÓSTUMAS
A SÓCIOS


NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO

A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes e convidados;

A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos.

A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.



Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

APRESENTAÇÃO

Sempre muito gratificante fazer a apresentação de mais uma Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, realmente muito! Com esta de número quatorze, estamos chegando a 2.500 páginas de história da cidade e da região. São registros importantíssimos, muitos dentro das exigências oficiais, a maioria para leitura livre, descontraída, até mais estórias do que histórias. De uma forma ou de outra, desempenhamos o principal papel do Instituto, que é o de divulgação de nomes, de locais, acontecimentos, ideias, mais do que tudo o luxo de fixar momentos que vão gerar memórias. Em verdade, o valor do nosso trabalho só poderá ser realmente medido pelos que vierem depois de nós.

É importante ressaltar que todo esforço de planejamento, de arrecadação de textos, de organização gráfica, além do levantamento de fundos para custeio, tudo é devido a dois companheiros fieis desde a primeira hora: os doutores Dário Teixeira Cotrim e Itamaury Teles de Oliveira. A eles, nestes oito anos de funcionamento do IHGMC, o nosso justo agradecimento e toda a nossa consideração. E não é só a tarefa intelectual, é muito mais, porque cada publicação envolveu compromissos financeiros, com responsabilidade direta junto a formatadores e editores, tudo assentado na credibilidade que sempre tiveram.

Que todos os leitores – associados ou não do IHGMC – se beneficiem do conteúdo desta Revista XIV, com toda certeza mais um sucesso em nossas atribuições.

Wanderlino Arruda
Presidente


ACONTECENDO....

JANEIRO DE 2015 – EM PÉ: José Ferreira da Silva, Expedito Veloso Barbosa, José Ponciano Neto, Juvenal Caldeira Durães, Manoel Messias Oliveira, Wanderlino Arruda, Eustáquio Macedo, Mara Narciso, Lázaro Francisco Sena e Itamaury Teles. SENTADOS: Dário Teixeira Cotrim, Edwirges Teixeira de Freitas, Palmyra Santos Oliveira, Marilene Veloso Tófolo, Maria do Carmo Veloso Durães, Yvonne de Oliveira Silveira e Regina Maria Barroca Peres.


MARÇO DE 2015 - Edwirges Teixeira de Freitas, Edvaldo de Aguiar Fróes, Sebastião Abiceu, Maria Aparecida Costa, Mara Narciso, Evany de Brito Calábria, Juvenal Caldeira Durães, Felicidade Patrocínio, Marilene Veloso Tófolo, Maria do Carmo Veloso Durães, José Ponciano Neto, Dário Teixeira Cotrim, Itamaury Teles, Eustáquio Macedo, Wanderlino Arruda, Viviane Marques Terence, Expedito Veloso Barbosa, José Ferreira da Silva e Lázaro Francisco Sena.


REUNIÃO DE ABRIL – POSSE DE NOVOS SÓCIOS – ELOS CLUBE DE MONTES CLAROS: Dário Teixeira Cotrim, Petrônio Braz, Evany de Brito Calábria, Wanderlino Arruda, Itamaury Teles, Filomena Alencar Prates, Ana Valda Vasconcelos, Norival..


REUNIÃO DE MAIO – Expedito Veloso, Dário Teixeira Cotrim, Marilene Veloso
Tófolo, Maria do Carmo Veloso Durães, Juvenal Caldeira Durães, Capitão Malveira, Leonardo Campos, Mara Narciso, Eustáquio Macedo, Lázaro Sena, Manoel Messias, Irany Teles, Sebastião Abiceu, José Ferreira, Itamaury Teles. SENTADOS: Regina Peres, Wanderlino Arruda, Palmyra Santos, Ediwirges Teixeira de Freitas e Maria Luíza Silveita Teles.


NOTICIANDO...

POSSE DE SEBASTIÃO ABICEU NO IHGMC

Sebastião Abiceu (com sua esposa Dóris Araújo) tomou posse na Cadeira nº 11 do IHGMC que tem como patrono o jornalista Ary Oliveira.


POSSE DE EUTÁQUIO MACEDO NO IHGMC


Eustáquio Macedo (recebendo o diploma das mãos do deputado Antônio Soares Dias) que tomou passe na Cadeira nº 70 do IHGMC que tem como patrono José Tomaz Oliveira.


POSSE DE VIVIANE MARQUES TERENCE NO IHGMC


Dra. Viviane Marques Terence (aqui com o seu esposa ... ) que tomou posse na Cadeira nº 45 no IHGMC, que tem como patrono o historiador Henrique de Oliva Brasil.


POSSE DE LEONARDO ÁLVARES DA SILVA CAMPOS NO IHGMC

Leonardo Álvares da Silva Campos assinando o termo de posse na Cadeira nº 97 do IHGMC, que tem como patrono o historiador Urbino Vianna.


 

POSSE DE ANA VALDA XAVIER VASCONCELOS NO IHGMC

A professora Ana Valda Xavier Vasconcelos tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, na Cadeira N. 14, que tem como patrono o saudoso Arthur Jardim Gomes Castro.


POSSE DE ÂNGELA MARTINS FERREIRA NO IHGMC


A fotógrafa Ângela Martins Ferreira tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, na Cadeira N. 52, que tem como patrono o saudoso João Chaves.


PALESTRA DO HISTORIADOR DÁRIO TIXEIRA COTRIM NA
UNIMONTES – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

Atendendo gentil convite da confreira Filomena Luciene Cordeiro Reis, o acadêmico Dr. Dário Teixeira Cotrim ministrou palestra no I Encontro de História e Literatura, organizado pela Unimontes – Universidade Estadual de Montes Claros, no dia 26 de março de 2015. O tema abordado foi a história antiga da cidade, baseado no livro História Primitiva de Montes Claros, de autoria do palestrante.


LIVRO: SONHOS DE MARIA - Maria Mendes Ferreira

Foi lançado no Elos Clube de Montes Claros, com o apoio cultural do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, o livro Sonhos de Maria, da escritora Maria Mendes Ferreira, pela Academia Montes-clarense de Letras. O livro teve apresentação do acadêmico Gy Reis Gomes Brito e do confrade Wanderlino Arruda.


LIVRO: CHICO PITOMBA & MANÉ JUCA - Dário Teixeira Cotrim

O escritor Dário Teixeira Cotrim proferiu palestra sobre as obras de Cândido Canela no Elos Clube de Montes Claros, com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Na oportunidade ele lançou o livro Chico Pitomba e Mané Juca, uma dupla caipira formada por Cândido Canela e Antônio Rodrigues.


LIVRO: O LADO DE DENTRO DAS COISAS – Karla Celene Campos

Aconteceu o lançamento do livro “Do Lado de Dentro das Coisas”, da confreira Karla Celene Campos, no espaço cultural do Barzinho Catrumano, com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e das Academias Feminina de Letras e Montes- clarense de Letras.


LIVRO: TONINHO RABELLO – Ivana Rebello & Jorge Silveira

Lançamento do livro Toninho Rebello aconteceu no Salão de Convenções do Parque de Exposição João Alencar Athayde, no dia 25 de fevereiro deste ano. A sessão foi presidida pela professora Yvonne de Oliveira Silveira, da Academia Montes-clarense de Letras e do Dr. Wanderlino Arruda, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.


LIVRO: MONTES CLAROS. ARTE, TRADIÇÃO E FÉ

A obra, produzida pela Prefeitura de Montes Claros através da Secretaria de Cultura, reúne diversas fotos que destacam aspectos culturais e históricos da cidade norte-mineira. Um dos objetivos principais é mostrar a diversidade cultural de Montes Claros, através de registros históricos e fotografias de eventos oficiais da Prefeitura.




Antônio Augusto Pereira Moura
Cadeira N. 12
Patrono: Antônio Teixeira de Carvalho

 

TOPONÍMIA, O SIGNIFICADO DAS RUAS DENTRO DA HISTÓRIA DE MONTES CLAROS

Artigo extraído da dissertação de Mestrado de Luciana Canan

Percorrendo as vias da cidade, verifica-se que uma leitura peculiar, repleta de códigos, categorias e interpretação do texto-cidade. Elas permitem diferentes roteiros, alguns repletos de tradições outros simplesmente físicos, mas em ambas situações, busca-se um entendimento do fenômeno urbano contemporâneo (LEITE, 2005).

Pelo fato das pessoas perceberem a cidade enquanto se deslocam pelos percursos, estes não apenas estruturam a sua experiência, mas também estruturam os outros elementos da imagem da cidade. Tais caminhos pelos quais o observador se move são considerados como os principais elementos estruturadores da percepção ambiental. Assim, verifica-se que alguns caminhos podem adquirir especial relevância em função da concentração de um tipo especial de uso (ruas intensamente comerciais), qualidades espaciais diferenciadas (muito largas, muito estreitas), tratamento intenso de vegetação (árvores e jardins), continuidade visual, origem e destino bem claros, auxiliando sua identidade e consequentemente contribuindo na formação da sua imagem.

Dias (2000) observa que, muitas vezes, existe uma prática comum de nomear as vias, a princípio um hábito inocente de vereadores, mas em algumas situações uma preocupação para a perenização da memória de personagens e fatos da história entrelaçados às experiências locais.

A perpetuação da história oficial pode ser verificada na denominação das vias públicas de todo o Brasil, mas as cidades, onde o batismo efetivamente ocorre, costumam imprimir, por conta de sua própria história, contornos específicos a esse processo. Analisar a organização dos nomes de ruas de uma cidade é aferir dimensões significativas de sua relação com a história (DIAS, 2000, p.105).

O autor ainda argumenta que tal estratégia possui limitações, uma vez que apesar de reconhecidas as homenagens, o critério de seleção se altera com o passar do tempo, ocasionando a alteração dos nomes, além é claro, de correrem o risco de perder seu significado e com o tempo passarem a ser apenas uma placa na rua. Dessa forma, para que “não se perca o sentido que moveu a nomeação, é imprescindível o acompanhamento permanente de outros processos de informação e educação, como o ensino de história e as festas cívicas” (PINSKY, 1988).

Outro aspecto importante, refere-se a forma com que a população estabelece uma lógica própria e criativa para se referir a determinados espaços, apropriando-se deles a despeito das exigências legais necessárias para a autorização do poder público responsável por designar um nome a uma via.

Situação similar à de várias cidades brasileiras, ocorre na cidade de Montes Claros que através das homenagens aos principais homens públicos conta importantes passagens de sua história.

Os relatos a seguir baseiam-se nos escritos de Hermes de Paula (1979), orgulhoso montes-clarense, que nas horas vagas de sua intensa vida profissional como médico, dedicou-se a seu livro “Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes”, uma homenagem a cidade que tanto fez em valorizar. Assim justifica-se neste momento um contemplar específico, uma percepção individual da paisagem baseada em imagens do passado.

A primeira casa a ser construída na Fazenda de Montes Claros em 1768 pelo Alferes Lopes de Carvalho existiu na rua Dona Eva número 34, até entrar em ruínas na década de 1975 (Figura 01).


Figura 01 - Casa sede da Fazenda dos Montes Claros construída pelo Alferes José Lopes de Carvalho. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros

Era uma construção simples, térrea, em pau a pique com sistema construtivo de característica do período colonial. Apresentando cobertura em duas águas, em telhas curvas com cachorros no beiral. A fachada apresentava uma ordenação constante dos vãos (portas e janelas), emoldurados em madeira e com duas folhas de abrir tipo calha. Mais tarde, passou a ser habitada por Dona Eva Bárbara Teixeira de Carvalho, figura importante na cidade, de família antiga e tradicional, foi a primeira mulher a trabalhar como professora primária em Montes Claros, sempre incansável no estímulo do progresso da cidade. Fundadora da “Banda Euterpe Montesclarense” que tocou pela primeira vez no dia 7 de julho de 1857, quando a Vila das Formigas foi elevada à condição de cidade de Montes Claros. A partir de então, a banda sempre esteve presente em todos os acontecimentos sociais e políticos mais importantes da cidade, até esquecida por muitos anos, apenas em 2013, por meio da aquisição de novos instrumentos musicais teve resgatada sua história pela iniciativa pública.

A rua Coronel Celestino, homenageia o comerciante bem sucedido e político tolerante, que ocupou vários cargos como vereador, vice-presidente da Câmara e deputado estadual. Foi também professor, promotor de justiça, inspetor de ensino e juiz de paz. Recentemente a esta sofreu várias adequações passando a ser conhecida como “Corredor Cultural Padre Dudu”, onde podem-se observar edificações consideradas testemunho da história do desenvolvimento da cidade de Montes Claros por apresentarem interesse arquitetônico relevante e será detalhada em momento oportuno.

Por sua vez, o cônego Hermano José Ferreira, chamado de Padre Dudu, assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e São José em 1950. Conhecido por sua devoção no cumprimento do dever sacerdotal, pregava aos paroquianos, os princípios fundamentais em que se apoia a Igreja Católica e realizava trabalhos na Fundação do Apostolado da Oração, da Pia União das Filhas de Maria, da Legião de Maria, da Arquiconfraria das Mães Cristãs, grupos de oração, catequese Infantil, entre outros, sempre defendendo e mantendo o Largo da Matriz em boas condições de conservação.

Desde a construção da sede da Fazenda e, posteriormente, da igreja, a cidade se desenvolveu entorno do Largo da Matriz, em duas ruas paralelas situadas nos dois lados da praça, a Rua de baixo e a Rua de cima. Atualmente denominada rua Justino Câmara, a antiga ruadireita ou a Rua de Cima, homenageia o agente executivo municipal e deputado Justino de Andrade Câmara. Homem dinâmico na política, apesar de não ser montes-clarense, sempre abraçou as boas causas da terra como a construção da Santa Casa de Caridade. A via em toda sua extensão ainda tem algumas edificações de valor histórico para a cidade, apesar de serem construções muito simples compostas de estrutura de madeira, vedações em adobe e cobertura em duas águas. De portes diferentes, maiores ou menores, elas mantêm, em parte, suas características originais, sendo implantadas sobre o alinhamento da via pública. (Figuras 02 e 03).


Figuras 02 e 03 - Praça da Matriz, Dr. Chaves - sem referência data. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros

A rua Justino Câmara, junto com a rua Simeão Ribeiro formavam a Rua do Comércio. Seu nome faz homenagem ao ilustre presidente da Câmara em 1898, o Major Simeão Ribeiro dos Santos cujo grande serviço prestado à comunidade durante sua administração foi a construção do Mercado Municipal. Atualmente, a rua é de uso exclusivo de pedestre, sendo conhecida por todos como o “Quarteirão do Povo”. No local existe a presença de alguns equipamentos urbanos como bancos e telefone público (Figura 04).

Como um limite aos passos apressados dos usuários sempre atentos às vitrines da “Rua do Comércio”, a rua do Bate-Couro quebra uma continuidade linear, obrigando o pedestre a uma mudança de percurso. Atualmente, denominada rua Governador Valadares, possuía este nome, pois ali ficavam diversas oficinas de selaria e de chapéus de couro; chamou-se, posteriormente, Coração de Jesus até passar a ter a denominação atual, em agradecimento a Benedito Valadares, responsável pela canalização da água na cidade quando de seu mandato como governador do estado.


Figura 04 - Rua Simeão Ribeiro, década de 40, vendo-se à direita o mirante da casa do Coronel Maia. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros.

Mais à frente, encontra-se a praça Doutor Carlos Versiane homenagem a Carlos José Versiane, médico dos pobres. Junto ao deputado Justino Câmara foi um dos fundadores da Santa Casa de Caridade, chefe do Partido Conservador de Montes Claros, tendo sido vereador, presidente da Câmara Municipal e deputado provincial em várias legislaturas. Exercia sua profissão pelo respeito ao próximo clinicando quase sem receber honorários. Viveu e morreu pobre tendo sido seu trabalho reconhecido pelo povo. A praça também era conhecida como Largo da Caridade ou Largo do Mercado; desde que ali se construiu o primeiro mercado da cidade (Figura 05).

Montes Claros foi, desde sua origem, considerada um excelente ponto de venda e compra de mercadorias principalmente para os tropeiros. Por tal motivo, a cidade abrigou a construção de vários ranchos de tropa, fortalecendo a existência de um mercado. “Ao norte, ergue-se a única igreja da vila, perto da qual se encontra excelente mercado, bem coberto, para vendas de provisões vindas do interior” (Dr. George Gardner apud PAULA, 1979, p95). Em 1878, surgiu a ideia da construção de um mercado para suprir as necessidades da cidade. Após algumas propostas e embates políticos, em 1896, alguns comerciantes reuniram-se e ofereceram à Câmara um terreno e
uma verba para cobrir despesas de possíveis desapropriações. O então presidente da Câmara, Dr. Honorato Alves, formou uma comissão responsável que analisou a proposta, e apesar da forte oposição dos comerciantes da “cidade baixa”, iniciou-se a construção do mercado municipal. João Fróes, então ficou a cargo da construção projetada pelo engenheiro Frederico Gambra. Contudo, ele achou conveniente realizar algumas modificações no projeto edificando apenas parte do prédio, retirando os alicerces de pedra previstos e utilizando em seu lugar o travamento na base de aroeira. As alterações feitas pelo “engenheiro prático” pouparam tempo e recursos; contudo, pouco tempo após o término da construção, ouviu-se na cidade um ruído enorme e logo após uma terrível movimentação: a cobertura do mercado havia ido abaixo, para euforia dos comerciantes da “cidade baixa” e tamanha tristeza “dos de cima”.


Figura 05 - Antiga praça Dr. Carlos Versiane, com seus postes ornamentais e jardins parasienses - sem referência de data. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros.

A tragédia só não foi maior porque não houve vítimas. O Cel. Antônio dos Anjos, sempre atuante em todos os empreendimentos coletivos para o bem do município, liderou um grupo que tomou a iniciativa de angariar fundos para uma nova construção. A primeira de muitas foi a generosa doação de Cassimiro Mendonça com 200$000 (duzentos mil réis), cujo montante impressionou a todos. Assim em 2 de agosto de 1899, foi inaugurado o novo mercado, cuja construção seguiu rigorosamente as orientações do engenheiro responsável (Figura 06).

“O mercado mede 29 metros de frente por 32 de fundo; de lado tem sete cômodos de venda, sendo que o salão central, destinado em princípio apenas aos tropeiros e bruaqueiros, mede 14 metros por 30. Hoje, este espaço ficou reduzido a menos da metade, porque a administração, na ânsia de melhorar as rendas, tem concedido licença para vários quiosques e açougues, angustiando cada vez mais o espaço destinado aos produtores e compradores... (1950) (PAULA, 1979, p97).


Figura 06 - Antigo Mercador Municipal - sem referência de data. Fonte: Arquivo Secretaria da Cultura de Montes Claros.

Durantes muitos anos, este mercado foi um ponto de encontro da cidade, referência incontestável da vida comercial e social não só dos habitantes de Montes Claros, mas de todos os visitantes, habitantes das cidades vizinhas. Entretanto, aquele mercado foi demolido na primeira administração de Antônio Lafetá Rebelo (1966-1969), dando lugar a dois outros. O mercado do centro localizado na rua Coronel Joaquim Costa e o mercado do sul situado à rua Melo Viana. Após a demolição, a área vazia foi transformada em uma grande área de estacionamento e mais tarde foi construído o atual Shopping Popular.

“Aos sábados, tornou-se o hábito de todos, era o dia da feira. Todos os moradores da nossa cidade antiga dirigiam-se ao Mercado para fazerem suas compras... Os bruaqueiros com enorme variedade de mercadorias iam chegando, aos poucos, desde a madrugada e enchendo o Mercado: farinha de milho bem torradinha, queijos, requeijões, farinha de mandioca do Morro Alto, beiju de goma tão clarinhos... As mocinhas da roça que vinham vender suas verduras cultivadas na beira dos regos (abóboras, quiabo, chuchu, maxixe, tomatinhos para molho, salsa, cebolinha; tão verdinhas) eram bem bonitinhas de vestido novo de chita, um “rouge” muito vermelho, boquinha de coração, brincos e colares de contas coloridas, mas quando riam mostravam sempre falhas de dentes na frente. Era uma pena. De boca fechada até que passavam. Mas mesmo assim com toda “jecura”, faziam conquistas, com moços da cidade que lhes davam uma “colher de chá”...No fundo do Mercado, do lado de fora ficavam os animais e também as bruacas espalhadas pelo chão. E o dia inteiro era aquele movimento no Mercado. Este espetáculo durou anos. A cidade cresceu e aos poucos foi se modificando. (GRAÇA, p 207, 2009).

Continuando a caminhada histórica, agora subindo a rua Doutor Santos, homenagem ao Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, formado em Farmácia e posteriormente em Medicina. Na infância era chamado de Santo ou Santinho, apelido que se modificou para Santos, como era conhecido. Homem culto e estudioso, celebrizou-se por seus diagnósticos sempre precisos e rápidos e por sua atuação sempre dinâmica vida política. Colaborou com a construção do Sanatório Santa Teresinha (1932) e com a sede do Clube de Montes Claros (1934), foi vereador por vários períodos e prefeito entre 1937-1942, realizando importantes melhoramentos para a cidade, tornando-seídolo da população na época (Figura 07).


Figura 07 - Antiga rua Dr. Santos - sem referência de data. Fonte: Arquivo Montes Claros.com

Chega-se à praça Coronel Ribeiro, o ponto de volta, reformada em 2012, que recebeu este nome em homenagem ao Coronel Francisco Ribeiro dos Santos importante industrial do final do século XIX, que muito contribui para a instalação da luz elétrica na cidade de Montes Claros em 1917.


Figura 08 - Antiga rua Camilo Prates esquina rua Padre Augusto - sem referência de data. Fonte: Arquivo Montes Claros.com

Agora no caminho de volta, descendo pela rua Camilo Prates, que fazia parte da cidade baixa. Também importante via de acesso, tem o nome do influente político Camilo Filinto Prates, que deixou a tradição de um trabalho voltado a nobres causas em busca do desenvolvimento da cidade, deputado federal (1911-1930) pertencia ao partido de baixo, sendo adversário ferrenho do Dr. Honorato Alves (Figura 08).

O percurso segue em direção norte até cruzar novamente com a rua Governador Valadares, seguindo novamente por ela até a rua Doutor Veloso, local muito frequentado pela população com a presença de várias lojas de vestuário e calçados.

A rua faz menção ao Doutor Mário Versiani Veloso, natural de Montes Claros, após estudar Farmácia em Ouro Preto, voltou à cidade, dedicando-se à política. Foi sócio-fundador do Sanatório Santa Teresinha, colaborou em grande parte com a implantação do calçamento na cidade e com a construção do Teatro Renascença (Cinema Montes Claros), sendo reconhecido por seu espírito conciliador e pela conduta serena.

Retorna-se ao Largo da Matriz, onde o percurso termina em frente à Capela de Nossa Senhora da Conceição e São José construída em 1769. Em 1832, esta edificação religiosa, se apresentava em estado de ruína, sendo demolida em 1839 para dar lugar a atual Igreja de Nossa Senhora da Conceição e São José. Construída um pouco maisà frente em relação à capela original, ao longo de todos esses anos, a atual igreja passou por várias reformas, sendo hoje conhecida pelos montes-clarenses como Igreja da Matriz (Figura 09). A primeira construção foi assim descrita por Ausgust Saint-Hilaire.


“A igreja de Formigas, muito pequena para a atual população da vila, é pouco ornada no interior, e tem três lados rodeados externamente por uma galeria. No santuário existem três altares, dois laterias e o do meio. As imagens dos santos tem na cabeça uma auréola de prata que se coloca e retira à vontade. Essa auréola é um crescente munido de raios retos e mássicos que produzem péssimo efeito. Formigas não é, aliás, o único lugar em que esse gênero de ornato está em uso; já o tinha observado em todas as outras igrejas da província” (Ausgust Saint-Hilaire apud PAULA, 1979, p13).


Figura 09 - Largo da Matriz, final do século XIX. Fonte: Arquivo montesclaros.com

No caminho percorrido e pelas observações feitas, reconhece-se que a cidade tem diferentes formas de ser lida, ela se apresenta metaforicamente como um texto, pronta para a leitura e interpretações. A história se faz presente em suas entrelinhas, constituindo-se de uma série de tempos superpostos aos quais se tentou aqui imprimir um significado de uma decodificação que resgata um pouco da política e das práticas sociais tão fortes na vida dos cidadãos de cada época. A história dos grandes homens se vai, mas seus nomes permanecem na história junto com as lembranças de seus grandes feitos.


Em meio a múltiplas interpretações, há um consenso de que a paisagem cultural é fruto do agenciamento do homem sobre seu espaço. No entanto, ela pode ser vista de diferentes maneiras. A paisagem pode ser lida como um documento que expressa a relação do homem com o seu meio natural, mostrando as transformações que ocorrem ao longo do tempo. A paisagem pode ser lida como um testemunho da história dos grupos humanos que ocuparam determinado espaço. Pode ser lida, também, como um produto da sociedade que a produziu ou ainda como a base material para a produção de diferentes simbologias, consequencia de interação entre a materialidade e as representações simbólicas
(RIBEIRO, 2007, p9).

 

REFERÊNCIAS

DIAS, Reginaldo Benedito. A História além das placas: os nomes de ruas de Maringá (PR) e a memória Histórica. In: Hist. Ensino, Londrina, v. 6, p. 103-120, out. 2000.

LEITE, Julieta. A cidade como escrita: O aporte da comunicação na leitura do espaço urbano. Arquitextos, São Paulo, 06.067, Vitruvius, dez. 2005.

PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes. Belo Horizonte: Minas Gráfica, 1979.

PINSKY, J. Nação e ensino de história no Brasil. In: PINSKY, J. (Org) O ensino de história e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 1988.

RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e patrimônio. Rio de janeiro: IPHAN/COPEDOC, 2007.




Clarice Sarmento
Cadeira N. 31
Patrono: Dulce Sarmento

Dulce Sarmento

Éramos uma turma de “capetas dos infernos”. Não sei quem primeiro utilizou o epíteto. Acho que uma de minhas tias que morava conosco e sofria com as travessuras. Só sei que “pegou”. Dona Sinhá, sogra de Mariafra Sarmento, que era nossa vizinha, “Vá”, como era chamada pelos netos, também o utilizava ao nos expulsar para “atentar” noutro lugar.

Na rua Melo Viana daqueles tempos éramos os moleques mais travessos: eu, Geraldinho, Zé, Honor, Mineu e Rosalvinho (onde andará o Rosalvinho?) Esses dois últimos eram mais expectadores coniventes que atuantes. Rômulo era eventual: enturmava-se com os primos quando de visita, pois morava distante. Nice e Honor brincavam conosco mas contavam para nossas mães todos os malfeitos e apanhavam de todos nós.

É neste cenário de minha infância que encontro sempre a presença de Tia Dulce. Era assim chamada por todos por ser tia de Honor e Mineu. Era nossa prima e minha madrinha.

A chegada do piano em nossa casa aconteceu em minha ausência. Estava em Francisco Sá, numa apresentação do Corinho Santa Terezinha dirigido por Padre Murta: cantávamos missas, ladainhas, tudo em latim. Um chic só!

Foi um acontecimento! Parecia uma festa, a rua inteira veio olhar!

Aí começou uma época diferente em nossa casa. Mamãe, festeira como era, por qualquer motivo chamava Tia Dulce e a festa acontecia em volta do piano. Suas mãozinhas pequenas e gordinhas corriam todo o teclado e os sons maravilhosos enchiam a casa e a rua. Suas bochechas rosadas ficavam mais viçosas pelo copinho de vinho tinto, que deixava sobre o piano. Mas bebia pouco. Sua alegria era natural, provavelmente resultante daquele viver cheio de música.

Às vezes trazia Edith, Silvia dos Anjos (que, para nós meninos, cantava como um passarinho), Nivaldo, João Leopoldo, Ligia Braga, entre outros, seus alunos de canto e companheiros de cantoria. Aí tocava e cantavam de tudo: seresta música religiosa, popular, árias de ópera. Música para ser ouvida, para ser cantada, dançada, música estrangeira, brasileira, sambinhas e marchinhas popularescas.

Mas o melhor mesmo era quando tocava só para nós! Em volta do piano, brigávamos pela ordem em que os pedidos deviam ser atendidos. Eu, como tocava pouca coisa e só lendo partitura, ficava encantada com a possibilidade de se tocar tudo. Imagine! Até a “Mula preta”!

Pelos anos afora, acostumamo-nos com sua presença em todos os acontecimentos de nossa casa, nossa família e nossa cidade.

Nas primeiras comunhões as crianças enfileiradas na praça da matriz, em seus vestidos brancos compridos, cantavam sua composição:“Montes Claros, Montes Claros, entre hosanas de alegria, celebra com brilho novo, a glória da Eucaristia....”

 

Nas noites arrepiadas de maio, seus dedos cheios de música, solidários com as crianças, também coroavam Nossa Senhora. As ladainhas cantadas em dias de novena, o coral nos casamentos e a missa das nove na Matriz, só começavam após sua chegada.

Nas noites de Natal, a seu comando, as “trevas e sombras horrentes” fugiam, a alegria se fazia, seu coro e os anjos cantavam para Jesus nascer...

Era quem dava início ás sessões cívicas tocando os hinos oficiais e outros de sua autoria. Em suas composições cantou os sertões e as cidades, o sol e a lua, as flores e as crianças, a pátria, as noites e as madrugadas.

Dava aulas de música na Escola Normal e no Colégio Imaculada. Organizava corais, pequenas orquestras, dirigia peças teatrais. Conhecida por todos, guardava seus nomes e assuntos dos adultos e crianças, beliscando todas as bochechas a seu alcance. Como era querida! Centenas de afilhados, brancos e pretos, ricos e pobres, anônimos e importantes.

Quando ela se foi, encerrou-se uma época de saraus, de danças ao som do piano, de igrejas com organista e coral permanentes, de pianista a serviço da cidade. Sua remuneração era o reconhecimento, admiração e amizade de todos.

Seu exemplo ficou para todos nós que recebemos a incumbência de levar adiante o alicerce musical e artístico que ela aqui construiu. Esperamos que, lá do alto, ela esteja nos aprovando.



Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

O LIVRO DE HAROLDO LÍVIO

Este é um livro de crônicas, do nosso ilustre confrade Haroldo Lívio de Oliveira, que contém matérias de jornal, de um período entre os tempos dourados do jornalismo montes-clarense até o final do milênio passado. São crônicas, com aspecto históricosocial, todas ilustradas com as vinhetas do competente artista plástico, Samuel de Souza Figueira e com desenho do imortal Konstantin Christoff. O historiador Haroldo Lívio é membro da Academia Montes-clarense de Letras e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Não obstante o vasto conhecimento que ele tem sobre a história de Montes Claros, na sua bibliografia consta ainda os originais do livro “O Antigo Carnaval Pernambucano de Montes Claros”. Ainda assim, ele teve duas participações em antologias, sendo a primeira na “Antologia da obra Montes Claros – Sua história, sua gente e seus costumes”, no ano de 1979, e, também, na“Antologia Literária de Brasília de Minas”, no ano de 1986. E, recentemente, tem produzido textos para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

Há nas crônicas de Haroldo Lívio uma suave narrativa que tem o poder de prender o leitor por horas seguidas. Pois, trata-se de leitura de fácil compreensão, carregada de emoção e conhecimentos. Cada palavra do seu texto traz consigo uma maneira peculiar de mostrar fatos históricos com sabor das reminiscências. Pois, é de forma arguta que o escritor sintetiza os fatos históricos, numa escrita atraente, bela e rica de informações. Fala-nos ele de Zé Amaro, Mané Quatrocentos, Zinho Bolão, Godofredo Guedes e ainda do Cine São Luiz, da Boneca de Leonel, da Boate da Praça de Esportes e, também, sobre a visita de Carlos Drummond de Andrade em Montes Claros. O jornalista Oswaldo Antunes, na apresentação da obra, disse que “Haroldo mostra em seu livro, às vezes com carinhosa ironia, outras com lirismo e saudade, a parte mais amena do labor jornalístico: relata casos, referencia pessoas e fatos históricos, como se lhe estivesse dando fé-de-ofício”. Nota-se que o livro “Nelson Vianna: O Personagem” foi reeditado pela Unimontes, com a parceria da Nestlé, durante as comemorações do sesquicentenário da cidade de Montes Claros.

A velocidade com que as notícias circulam neste mundo globalizado de hoje, faz-se necessário que outras obras de qualidade sejam publicadas sem demora de tempo. Deve ser assim porque não se pode negar a importância dos livros dos nossos escritores. Por outro lado, entendemos que o os escritores Petrônio Braz, Wanderlino Arruda, Itamaury Teles e o próprio Haroldo Lívio, sem olvidar os acadêmicos da Unimontes, são os nomes mais importantes da história antiga e moderna de Montes Claros e de toda a região.

Não se sabe o motivo que as escolas ainda não adotaram o livro de Haroldo Lívio nas salas de aula. Os professores, certamente, teriam uma grande oportunidade de conhecer, com mais profundezas, as nossas origens e, também, redimensionar os fatos históricos de nossa terra e analisar as conjunturas dos acontecimentos político-sociais de um passado glorioso e agora tão presente em nossas vidas com a restauração do imponente casarão Versiani-Maurício, pela Secreta ria Municipal de Cultura. Pois bem, a leitura de “Nelson Vianna: o personagem”, de Haroldo Lívio, é o caminho seguro para o esclarecimento, sem desconfiança, de um passado de lutas e de um presente arraigado no desenvolvimento da administração pública municipal.
Portanto, bom proveito!


Capa do livro “Nelson Vianna - O Personagem” do escritor Haroldo Lívio.




Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

O CONFRADE HAROLDO LÍVIO

Epitáfio para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”
(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, 1.)


Nada poderia ser mais triste que o primeiro dia do ano de 2015, pois a notícia da morte do companheiro Haroldo Lívio de Oliveira era divulgada com pesar e tristeza nos meios acadêmicos. Faleceu em casa, ao lado da família e dos amigos, quando fechou os olhos em busca da eternidade, legando à posteridade um nome sobre todos os pontos de vista digno, um exemplo verdadeiro de honestidade, de saber, de cultura e de trabalho pelo bem comum. Ele ocupava, com méritos, a Cadeira 26 da Academia Montes-clarense de Letras, que tem como patrono o saudoso Polidoro Figueiredo e fundador o eminente confrade, Dr. Arthur Jardim de Castro Gomes. No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pode-se dizer que foi a pessoa mais influente na sua criação, tendo em vista a sua decisiva participação na escolha dos nomes para a composição patronal.

Haroldo Lívio tomou posse como sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, na Cadeira 28, do ilustre historiador Nelson Vianna. O saudoso historiador Hermes Augusto de Paula registrou no seu livro “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes” que Haroldo Lívio cultivou “o gênero da crônica, geralmente abordando fatos e personagens do cotidiano local. Seus trabalhos têm sido publicados na imprensa local e em jornais de outras localidades”. Foi funcionário do Banco do Brasil, mas preferiu assumir o cargo de titular do Cartório de Registro de Imóveis, da cidade de Porteirinha.

Não obstante ter ele escrito vários livros sobre a trajetória histórica de Montes Claros, somente um desses livros foi publicado até então. Trata-se da obra “Nelson Vianna: o personagem”, que teve uma aceitação positiva do público leitor. Nota-se que há nas crônicas de Haroldo Lívio uma suave narrativa, que tem o poder de prender o leitor por muitas e muitas horas seguidas. Trata-se de leitura de fácil compreensão, carregada de emoção e de conhecimentos. Cada palavra do seu texto traz consigo uma maneira peculiar de mostrar fatos históricos com o sabor das reminiscências. É de forma arguta que o escritor sintetizava os fatos históricos, numa escrita atraente, bela e rica de informações. Este homem deixa agora a história de Montes Claros em estado de orfandade.

Haroldo Lívio era filho do escrivão José Luiz de Oliveira e de dona Dalva V. de Oliveira, casado com Maria do Carmo Santos de Oliveira, com quem teve três filhas: Fabíola, Clarissa e Luciana. Natural de Contendas, atual cidade de Brasília de Minas, onde nasceu no dia 21 de setembro de 1938. Hoje, primeiro de janeiro de 2015 ele falece, para tristeza de todos nós. Haroldo deixa o seu nome nos meios literário de Montes Claros, pontificando como o maior conhecedor de sua história e da história do norte de Minas. Por outro lado, ele deixa, também, um nome que é exemplo de quanto valem a força de vontade e o amor em preservar a história de sua terra e do seu povo. Haroldo Lívio de Oliveira, um grande profissional da pena, nunca a usou para outros fins senão aqueles que enobrecem os homens bons!




Délio Pinheiro Neto
Cadeira N. 50
Patrono: Jair Oliveira

A emancipação de Serranópolis de Minas

Comecei minha carreira na comunicação na Independente FM de Porteirinha. Foram dois anos de muito aprendizado. Eu iniciei no final de 1993 e fiquei até 1995, e vivi muitas estórias interessantes nesse período de descobertas. A mais importante delas foi a que envolveu a emancipação de Serranópolis de Minas, minha terra natal. Todo o processo de emancipação foi acompanhado por mim. Do início do sonho até o desfecho do projeto, que pretendia transformar o então distrito de Porteirinha numa cidade.

Fatos curiosos envolveram o processo de gestação da cidade. O meu interesse, através desse texto, é prestar uma justa homenagem aos homens e mulheres que lutaram para a realização desse sonho.

Muitas tentativas de emancipação aconteceram na história de Serranópolis que, em outros tempos se chamava Jatobá. Sempre havia empecilhos que adiavam o sonho do distrito de se emancipar. Quando Porteirinha se tornou cidade, por exemplo, em 1938, Serranópolis dispunha de um comércio quase tão movimentado quanto o de lá.

Os critérios utilizados na época valorizaram a estratégica localização de Porteirinha, localizada na rota que leva à Espinosa, que havia sido fundada 15 anos antes, já na fronteira com o Estado da Bahia. Depois, em 1962, foi a vez de Riacho dos Machados ascender à condição de cidade e, mais uma vez, Serranópolis ficou de lado. Mudavam-se os critérios a cada nova lei de emancipação, e, por um motivo ou outro, Serranópolis não lograva êxito em suas tentativas.

Em alguns casos, como na década de 1980, quando o prefeito de Porteirinha era o falecido empresário Wilson Cunha, foram motivos pessoais que inviabilizaram o projeto. Meu pai, o comerciante Almir Alves Pinheiro, levou os papéis para o então prefeito, e este, ao ser informado que Sandoval Coelho, seu rival político, estava envolvido com o projeto, não quis apoiar o desmembramento, dizendo que não se poderia “dar asas a uma cobra”, se referindo a Sandoval.

Sinto muito orgulho de ter participado do processo de emancipação política de Serranópolis, porque pelo menos três gerações de minha família alimentaram esse sonho. Meu pai, Almir Alves Pinheiro, meu avô, Délio Pinheiro de Aguiar e também meu bisavô, Ananias José Alves, que merecia por parte dos moradores de Serranópolis o título de coronel, embora nem fosse militar. Todos nós tivemos, em tempos diferentes, o mesmo objetivo, ver nossa querida Serranópolis promovida à condição de cidade.

Depois de frustradas as tentativas anteriores, no ano de 1995 surgiu novamente a possibilidade da emancipação através de um projeto federal. Uma das condições dessa vez, segundo a lei, é que o distrito deveria possuir um número mínimo de três mil habitantes e ter, pelo menos, quatrocentas moradias em sua parte urbana.

Os primeiros passos foram traçados pelas pessoas que abraçaram o projeto da emancipação: Alvimar Cardoso, Sandoval Coelho, Ramiro Ribeiro, Laury Moreira, Zezé Cordeiro, Eilson Cangussú, Osmani Antunes, Aveni Ribeiro, além de meu pai, entre outros serranopolitanos.

Para começo de conversa era preciso contar as moradias. Eu me ofereci para fazer este trabalho. Numa manhã ensolarada do ano de 1995 eu e Adival Cordeiro, pusemo-nos a contar, uma por uma, todas as casas de Serranópolis. Foram horas com a prancheta na mão. Lembro-me de que muitos curiosos perguntavam o que estávamos fazendo. Diante de nossa resposta, de que estávamos trabalhando para emancipar Serranópolis, alguns riam. De certo imaginavam que isso nunca daria certo. Outros, no entanto, demonstravam otimismo. Quando eu e Adival computamos todas as casas, depois de contá-las uma por uma, tivemos uma decepção, Havia 368 moradias.

Faltavam, portanto, trinta e duas para o número mínimo exigido por lei. Este foi um balde de água fria na disposição de todos os envolvidos. Outra vez um detalhe burocrático vinha azedar os planos de uma comunidade inteira que sonhava com dias melhores. Mas o que poderia ser um entrave, desta vez, serviu de estímulo para aqueles que compunham a comissão informal da emancipação. A primeira providência foi considerar as casas existentes em um raio de um quilômetro como pertencentes à região metropolitana da futura cidade. Existiam vinte casas nestas condições. Ainda assim ficava faltando doze residências para atender a exigência legal.

Os membros da comissão resolveram construir as casas que faltavam. Um grande mutirão foi feito e todos colaboraram no que foi possível. Com dinheiro, com material de construção, com madeira e com transporte para levar essas aquisições. Os donos dessas casas seriam pessoas humildes da comunidade. Um grande esforço foi feito porque era preciso obedecer aos prazos previstos pela legislação. Os tijolos e telhas comprados pela comissão começaram a chegar e as casas foram sendo erguidas.

A lista dos colaboradores foi extensa: Lia do cartório colaborou com quinhentos tijolos, meu pai com outros mil, Odilon Antunes com mil e quinhentos, Sandoval Coelho com cinco mil. Vários sacos de cimento foram doados por Laury, Dãozão do Brutiá, Valdomiro Santos, Afrânio Pinheiro, Natalino, Zé Bagre, João Coragem, Zedey Ribeiro, Anelito e outros. Alvimar Cardoso também doou cinco mil telhas. Aveni colaborou com madeiras de sua fazenda. Já o empresário Omir Antunes, falecido recentemente, doou ripas e esquadrias. O pedreiro, e também pastor, Valcir, ofereceu seu trabalho para construir as casas. Contribuições em espécie também foram doadas neste processo que mobilizou toda a cidade. José Carlos Aguiar, Ananias Pinheiro Alves, José Mendes de Aguiar foram alguns que desembolsaram somas consideráveis para o mutirão.

Mas o que mais chamou a atenção dos organizadores do mutirão foram as pequenas contribuições, na maioria das vezes de apenas um real. Uma demonstração inequívoca de que a população de Serranópolis estava, aos poucos, abraçando o projeto, movidos outra vez pela esperança. Badé, Zé Vermelho, Barnabé, Joaquim Teixeira, João Escurinho e outros tantos colaboraram, a seu modo, para o mutirão.

Alguns moradores não estavam entendendo aquela movimentação e começaram a pedir material de construção também, mas não por que precisassem de casas, mas sim para fazer muros, construir banheiros. Nessas horas era preciso agir com diplomacia, explicar as razões daquele esforço e que somente pessoas carentes seriam atendidas com as casas. Cada vez mais a população se convencia de que era possível realizar o sonho de tornar Serranópolis uma cidade. E a frente de serviço foi crescendo, mas o dinheiro era curto.

A criatividade foi colocada em prática nessas horas. Um bom exemplo foi o burro doado por Osmani Antunes, com o qual se decidiu fazer um bingo para arrecadar fundos para a construção das casas. Antes mesmo de marcada a data do sorteio, Edilson Villas Boas, então vice prefeito de Porteirinha, comprou o burro da comissão e o doou para se realizar um novo sorteio. Vale registrar que esse bingo, na verdade, nunca aconteceu. Muitos eram os afazeres dos que estavam envolvidos com o projeto que o bingo foi sendo adiado e adiado.

Ao cabo de algumas semanas as casas estavam erguidas, e Serranópolis, que já dispunha do número mínimo de moradores, agora também tinha as quatrocentas moradias exigidas pela lei. Tudo estava caminhando muito bem.

Desta vez, ao contrário de outros anos, houve muito interesse do então prefeito de Porteirinha, José Aparecido Martins, o Zé Bonitinho, em colaborar com a emancipação. A prefeitura da antiga capital mineira do algodão, inclusive, contribuiu com cinco mil tijolos e vinte sacos de cimento para o mutirão.

Pelas exigências da lei era preciso fazer um mapa com a localização das moradias. Esse trabalho coube a meu pai que, apesar de não ser cartógrafo, fez um bom trabalho, elogiado, inclusive, por Zé Bonitinho. O ex-prefeito disse, quando examinava os papéis, que nem iria conferir o mapa, pois já que fora Almir que o fizera, com certeza estava correto. E este foi um trabalho detalhista, pois além de desenhar o mapa era preciso especificar os moradores de cada uma das casas.

Com todos os trâmites legais cumpridos foi marcado um plebiscito. A população do distrito de Serranópolis seria ouvida. As opções nessa eleição eram “sim” e “não”. A população iria decidir se queria que o distrito se tornasse uma cidade ou se continuaria sendo um distrito. No mesmo dia, outros dois distritos de Porteirinha também realizariam o referendo público, Nova Porteirinha e Pai Pedro.

Quando a data estabelecida chegou o plebiscito mobilizou a população. Um novo desafio aguardava os serranopolitanos que, naquela manhã, nem desconfiavam do imenso esforço que os aguardavam. A não obrigatoriedade do voto levou um número reduzido de eleitores à votação. Sandoval Coelho, no dia do plebiscito, mandou abater uma vaca e dois carneiros, e pessoas do distrito organizaram um desjejum para os eleitores que, muitas vezes, saíam de localidades rurais distantes de Serranópolis para atender ao chamado da cidadania.

Quando restavam duas horas para o fim da votação um fato decisivo mudou a história. Meu pai, Almir Alves, que nesse momento lia os estatutos, observou um item que previa a validação do plebiscito somente se cinquenta por cento mais um eleitores votassem. Ninguém havia pensado nesta possibilidade. Isso era grave e meu pai deu o alerta: se não houvesse o quorum, nada feito. Não houve tempo para abatimentos desta vez.

Todos os envolvidos na emancipação se mobilizaram para buscar eleitores onde quer que fosse. Vários carros partiram em todas as direções do município em busca daqueles que não foram votar. Mesmo em Serranópolis os esforços foram multiplicados nas duas horas que restavam para o fim do plebiscito. Pessoas que se convalesciam de enfermidades eram convidadas para se deslocarem até o local da votação, o antigo mercado.

Pelos cálculos de meu pai eram necessárias pouco mais de cento e vinte pessoas para se obter quorum. Em alguns casos era preciso convencer as pessoas a se deslocarem de suas casas. “É pra Serranópolis virar cidade, se não for, não vira”, diziam os homens, levando em seguida para o mercado senhoras aposentadas, para as quais o voto era facultativo.

Uma hora depois os carros começavam a chegar trazendo famílias inteiras da zona rural e até mesmo de Porteirinha. Quando restava menos de uma hora ainda eram necessários pelo menos setenta eleitores. A essa altura a tensão estava fortíssima. Bastava alguém se lembrar de uma família de alguma localidade que não havia aparecido para votar, que Alvimar e os outros, mandavam uma caminhonete para buscar. “Vá ligeiro”, gritavam. E os carros de novo iam buscar gente. E mais pessoas chegavam para votar. Valmir Alves, Sídio, Ananias e tantos outros, corriam atrás de pessoas que ainda não haviam votado.

Eu me lembro de estar tão ocupado nessa tarde, atrás das pessoas para participar do sufrágio, que ainda não havia me dado conta, que eu próprio, ainda não tinha votado. Eu corri ao local e cumpri com minha obrigação. A esta altura ainda faltavam uns vinte eleitores para votar.

A única pessoa, entre os que se dispuseram a ajudar desde o primeiro minuto, que não se mobilizou nesse esforço final para se obter o quorum, foi Aveni Ribeiro, que estava pedindo voto para a eleição que, se tudo desse certo, aconteceria no próximo ano. “Eu vou ser candidato na eleição e queria te pedir um votinho”, dizia Aveni, antes mesmo de Serranópolis se tornar cidade.

Com a chegada dos carros finalmente o quorum foi conseguido. Em seguida houve uma grande confraternização entre as pessoas envolvidas no projeto. Agora era só esperar a confirmação que viria no mesmo dia.

Até aquele momento eu não supunha que seria o porta-voz da melhor notícia que o povo de Serranópolis poderia ouvir em sua história. Logo após o término do plebiscito eu fui para Porteirinha, que fica a cerca de vinte quilômetros de distância. Eu tinha a apresentação de um programa naquela noite na Independente FM. Assim que cheguei, o advogado Ailson Mendes Brito, o Doutor Binha, meu ex-patrão, ligou para a emissora, já com o resultado dos plebiscitos dos três distritos. Doutor Binha disse: “Délio, avisa aí que só Serranópolis virou cidade. Pai Pedro e Nova Porteirinha não conseguiram, essas não tiveram quorum”.

Lembro que, antes de entrar no ar para dar essa notícia, eu estava radiante de felicidade e, ao mesmo tempo orgulhosíssimo de meu pai. Graças a sua curiosidade Serranópolis passara sem problemas por esse plebiscito. Eu dei a notícia na rádio com toda a alegria do mundo, parabenizando o povo de Serranópolis, que agora havia se tornado legalmente uma cidade. Ao mesmo tempo eu estava consternado pelos outros dois distritos que, por certo, também mereciam a emancipação.

A razão de Serranópolis ter obtido êxito no plebiscito se deu porque foi observada a necessidade do quorum, detalhe ignorado nos outros dois distritos. Logo depois da notícia ter sido divulgada lembro-me que pessoas de Pai Pedro ligavam atônitas para a rádio: “mas como é que é isso?”, perguntavam desesperadas. “Só Serranópolis conseguiu?”.

O que aconteceu no resto daquela noite, em 1995, só é possível supor através de um exercício de imaginação, mas o fato é que no dia seguinte, pela manhã, os dois outros distritos haviam conseguido aprovar suas emancipações, mesmo sem atingir o quorum necessário previsto pela lei. A pessoa que poderia explicar o acontecido, Doutor Binha, com quem eu tive a honra de conviver e que era advogado da prefeitura de Porteirinha, foi assassinado na frente do Fórum de Porteirinha no ano seguinte. O fato é que Pai Pedro e Nova Porteirinha puderam fazer suas festas também.

Eu tenho uma teoria para o acontecido. Em minha opinião o famoso “jeitinho brasileiro” pode, muito bem, ter sido o responsável por esse feito. Serranópolis e Pai Pedro se equivaliam na época. Tinham mais ou menos a mesma população e os mesmos indicadores econômicos e sociais. Nova Porteirinha, no entanto, era o mais próspero dos três distritos. Era mais rico e mais desenvolvido, pois parte do projeto Gorutuba de irrigação fica em seu território e, portanto, era dada como certa a sua emancipação.

Diante dessa informação é que o fato de Serranópolis ter conseguido em detrimento, principalmente de Nova Porteirinha, é que essa solução pode ter sido dada e os três distritos foram emancipados. Ainda nessa linha de raciocínio é possível dizer que se não fosse pelo esforço dos homens envolvidos com a emancipação de Serranópolis, desde meu pai que deu conta que era necessário um número mínimo de eleitores, até os aqueles que disponibilizaram seus carros e seus esforços para buscar os eleitores, nenhum dos três distritos teria ascendidoà condição de cidade.

Os votos favoráveis a emancipação foram esmagadores no plebiscito. Foram 1319 votos no “Sim” e apenas 98 no “Não”. No dia

primeiro de janeiro de 1996 Serranópolis tornou-se oficialmente cidade. Serranópolis ganhava também um acréscimo em seu nome, passando a se chamar Serranópolis de Minas. Essa medida foi adotada para diferenciar o município de um outro em Goiás chamado apenas de Serranópolis. Neste mesmo ano surgia também uma cidade homônima no Paraná, que ficou sendo Serranópolis do Iguaçu.

E já naquele ano, Serranópolis de Minas elegia seu primeiro prefeito, Aveni Ribeiro que, como boa raposa da política, já pedia votos mesmo antes de nossa terra se tornar cidade. Quanto ao burro que seria sorteado no bingo, ninguém soube de seu paradeiro após a emancipação.


Vista parcial da cidade de Serranópolis de Minas/MG




Edvaldo de Aguiar Fróes
Cadeira N. 01
Patrono: Alpheu Gonçalves de Quadros

POSSE DO CONFRADE
EDVALDO DE AGUIAR FRÓES
NO IHGMC

Discurso pronunciado por Dário Teixeira Cotrim durante a posse do neo-acadêmico Edvaldo de Aguiar Fróes no IHGMC, no dia 11 de março de 2015.

Hoje o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros está recebendo uma das pessoas mais queridas da sociedade montes-clarense. O confrade e amigo Edvaldo de Aguiar Fróes, que ocupará com galhardia a cadeira de número 1 do Instituto e que tem como Patrono o ilustre médico Dr. Alpheu Gonçalves de Quadros.

O confrade, Edvaldo, que também é médico bem conceituado, e agora merecidamente aposentado vem dedicando a arte das letras. A sua primeira obra foi em parceria com a sua esposa, eles escreveram o livro “Na Fazenda dos Meus Pais” e, depois, em carreira solo ele escreveu o segundo livro “Um Estudante em BH nos Anos 60”. Podemos dizer que a sua segunda obra trata-se de uma autobiografia, uma autobiografia de uma época dourada na belíssima cidade de Belo

Horizonte quando você, Edvaldo, ainda era tão somente um dedicado
estudante de medicina.

O nosso novo Acadêmico Edvaldo é filho de José Rodrigues Fróes (José Gorutuba) e de Dona Dionísia Aguiar Fróes. Nasceu na vizinha cidade de Janaúba e hoje reside em Montes Claros, não obstante dizer que é apaixonado pela cidade de Belo Horizonte. Casado com Dona Maria Elaine Gonçalves Godinho Fróes com quem tem quatro filhos.

Edvaldo e Elaine “são um casal unido e bem sucedido na vida, que soube construir uma família que, sem falsa modéstia, é feliz e harmoniosa” assim disse o seu filho André Gonçalves Godinho Fróes. Também sobre o casal Edvaldo e Elaine disse o Dr. João Jaques Gonçalves Godinho que “além de colegas, sempre fomos grandes amigos e posteriormente cunhados. Casou-se Edvaldo com a minha irmã, Maria Elaine, com quem teve quatro filhos, constituindo uma família exemplar, sobre todos os aspectos, três médicos e um advogado. Todos seguiram o seu exemplo e o exemplo de sua dedicada esposa: determinação, seriedade, humildade e, sobretudo, ética e honestidade”.

Edvaldo, em cada momento de sua vida há o despertar das reminiscências de um bom-rapaz. Assim viveu o confrade num momento de várias transformações políticas com consequências desastrosas para a sociedade da época. Nota-se que, meus caros confrades e confreiras, era uma época explosiva, marcada por muitos e muitos movimentos revolucionários e que pretendiam demolir a tradição da arte pelo fim das utopias. Foi neste cenário que o jovem Edvaldo, autor do livro “Um Estudante em BH nos Anos 60”, viveu dias de aflição e de alegrias mútuas. Assim, a sua história foi montada em forma de narrativa (prosa-poética), com as mais vivas lembranças de um jovem interiorano que desejava descobrir os mistérios das cidades grandes. Não obstante a convivência com os novos colegas. Era, pois, a primeira vez que ele se achava distante da família e de suas queridas cidades de Montes Claros e Janaúba.

Meu prezado amigo e colega de literatura e arte, neste dia de hoje o nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros sente-se honrado e agradecido com a sua presença no quadro dos sócios efetivos desta casa. Aqui, prezado confrade Edvaldo, você terá todas as oportunidades de se manifestar um verdadeiro escritor, um historiador, um pesquisador, pois é obrigação do IHGMC e de todos os seus sócios, sempre que possível, orientar, informar e construir um ambiente propício para que você possa desenvolver o seu trabalho de pesquisa.

Prezado, Edvaldo, por tudo isso, nós desejamos manifestar, de público, a nossa alegria, o nosso contentamento, a nossa felicidade de, neste dia de júbilo, recebê-lo de braços abertos. Que seja bem-vindo ao nosso meio de convivência!



Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates

MARINA LORENZO FERNANDEZ SILVA
E A MÚSICA EM MONTES CLAROS

Não é uma biografia. Tão pouco ofereço dados curriculares de sua vida. Ainda não.

Trata-se apenas da tentativa de expressar uma presença luminosa, num espaço temporal da minha vida. Ela surgiu como um facho de luz ali na rua Dr. Veloso, na década de sessenta. Era impossível aproximar-se dela sem ser contaminado pela emoção maior, a emoção da experiência do BELO. O BELO produzido pelo homem; a ARTE, daquela arte que aos meus olhos e, ao meu sentir, é a maior expressão da humanidade: A MÚSICA.

Eu, entre menina e moça, ganhei do meu pai, poeta e músico nato, um acordeon que urgia ser tocado. Busquei aquele novo espaço que já se denominara Conservatório de Música e foi lá que vi com olhos de carne, uma fada real – aquela imagem deslumbrante formada na minha imaginação de criança e que a idade da razão já desvanecia, de uma mulher linda, que esvoaçava-se com os pés acima do chão e que retinha todo o saber e mágicos poderes a favor do Bem e da Beleza. Lá estava ela a me receber e à toda Montes Claros, com um sorriso cativante, que podia se traduzir numa promessa de felicidade. Sob o fascínio daquela mistura perfeita de musa e fada, eu despertei para o sentimento da BELEZA e desde então, passei a desejá-la como meio de transcendência.

Ela é chamada pelo doce nome de MARINA LORENZO FERNANDEZ SILVA – fundadora e, por décadas, diretora do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez (nome de seu pai, grande músico erudito brasileiro). Lá, ela foi a primeira professora de piano.

Eu ficava em êxtase quando passava pela sua sala de aula e a ouvia tocar ao piano, sonatas de Beethoven, de Franz Liszt, Chopin ou dedilhando o Barroco de Bach, ensinando a técnica e o sentimento perfeitos da grande música.

Viera do Rio de Janeiro e emprestara a nós seu enorme talento e capacidade de trabalho incomuns. Foi, talvez, o maior presente que a cidade de Montes Claros já recebeu em toda a sua história. Da pequena casa em que a escola de música inicial se instalou, transferiu-se para uma bem maior, numa esquina da Avenida Afonso Pena e, ampliando-se mais, de lá transferiu-se novamente para a Rua Dr. Veloso, desta vez ocupando todo o grande prédio do antigo Clube Montes Claros.

O ensino de música que inicialmente se restringia a poucos instrumentos foi-se diversificando e logo a seguir já se podia organizar uma orquestra sinfônica. A cidade agradeceu, fazendo presença no número crescente de alunos de todas as classes sociais e condições econômicas: criança, adulto, novo, velho, preto, branco, rico e pobre. O Conservatório era, e ainda é de todos; espaço democrático, formador e porque não dizer, salvador, já que sabemos que a arte nos salva de toda a fraqueza e mediocridade.

Sob o trabalho insano e o olhar de musa inspiradora de D. Marina, o Conservatório de Música de Montes Claros chegou a ser o maior em número de alunos da América Latina. Foi responsável pela transformação da face cultural da cidade que se tornou, desde a década de 80 do século XX, “a cidade da arte e da cultura”. De lá saíram, prontos, grandes instrumentistas, cantores notáveis, verdadeiros virtuoses da música. Concursos de piano foram vencidos em todo Brasil, por alunos de D. Marina, em nome deste Conservatório. Seu carisma e força trouxeram à cidade, ainda provinciana, nomes notáveis, nacionais e internacionais, para audições, recitais, espetáculos, aulas e cursos, um benefício incalculável. Guardo lembranças de momentos marcantes na construção dessa musicalidade. Para ilustrar o dito apresento um exemplo.

Ainda nos primórdios do Conservatório, D. Marina trouxera à cidade um quarteto de cordas, música de Câmara de grande importância no cenário nacional. A apresentação foi no antigo auditório do Colégio Imaculada Conceição. Estava lotado e o quarteto começou a execução suave e encadeada da música clássica, mas as pessoas conversavam, percebia-se que a beleza do evento não alcançava a sensibilidade do público. O quarteto tocava e os espectadores continuavam conversando. Aos olhos e ouvidos esteticamente apurados, aquilo era um insulto. Então nós vimos D. Marina, que a duras penas, conseguira presentear Montes Claros com a presença daquele espetáculo ímpar, levantar-se da cadeira e pedir aos músicos uma pausa. Com lágrimas nos olhos, mas com firmeza, exigiu a atenção de todos para aquele comportamento inadequado e muito emocionada, explicou o valor e a beleza daquela execução. Mostrou, de forma didática que, diante da arte, diante da grande música, é necessário uma atitude de respeito, de atenção e silêncio, pois a verdadeira arte é o que” nos concede o poder de elevar os olhos”. Eu, que a tudo assistia e cujo valor já compreendia, tentei disfarçar a emoção, mas não consegui reter as lágrimas que me saltavam dos olhos. Mais emocionada fiquei, quando um silêncio total e definitivo se fez e aqueles sons clássicos dominaram a atmosfera, plenos da mais genuína musicalidade. Ao final notei que todos se retiraram engrandecidos.


Marina Lorenzo Fernandez Silva

E assim continuou a musa, a fada Marina Lorenzo Fernandez Silva, enquanto esteve no meio de nós, a nos “desasnar” e humanizar, até que o Rio de Janeiro a exigiu de volta para administrar o mais importante conservatório de música do Brasil.

Eu sinto uma felicidade imensa por ter convivido, mesmo que minimamente, em seu espaço de criação e produção, onde estudei um pouco o acordeon, o piano e onde me formei no Curso Técnico de Pedagogia Musical, partindo depois para as artes plásticas. Muito feliz fiquei, quando nos festejos de comemoração dos cinquenta anos de fundação do Conservatório Musical, fundado por ela em nossa cidade, fui procurada para providenciar o seu busto em bronze, que hoje a homenageia na entrada do prédio novo do Conservatório no Bairro Jardim São Luiz.

Agradecer é pouco; no entanto nós, montes-clarenses, ficamos tranquilos, porque ela sabe o quanto a amamos verdadeiramente. Ave Marina!



Itamaury Teles
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates

AOS 76 ANOS, ENCANTA-SE O
IMORTAL BRASILMINENSE

A cultura norte-mineira perde uma das suas figuras de maior destaque. Morreu na noite de ontem, em Montes Claros, aos 76 anos, o escritor, jornalista, historiador e oficial de registro de imóveis Haroldo Lívio de Oliveira.

Seu corpo foi velado na Santa Casa e o enterro ocorreu na tarde desta sexta, no Cemitério do Bonfim, com grande acompanhamento.

Em emocionado discurso, a presidente da Academia Montesclarense de Letras, a centenária Yvonne de Oliveira Silveira, despediuse, ainda no velório, do imortal Haroldo Lívio, que ocupava a cadeira número 26 daquele sodalício, que tem como Patrono Polidoro Figueiredo.

À beira do túmulo, o também acadêmico Wanderlino Arruda, bastante emocionado, saudou o pranteado escritor, lendo textos de autoria de três jornalistas sobre sua vida e obra.

Dotado de memória prodigiosa, Haroldo Lívio sempre se destacou nos meios culturais da região, escrevendo com regularidade para diversos órgãos da imprensa norte-mineira, inclusive para o Minas Livre, onde era colunista colaborador, deste a fundação deste site cultural e noticioso.

 

CURRICULUM DE HAROLDO LÍVIO

Nome completo: Haroldo Lívio de Oliveira

Filiação: José Luiz de Oliveira e Dalva V. de Oliveira

Data e local de nascimento: 21.09.1938, em Brasília de Minas (MG)

Função: Oficial do Registro de Imóveis da Comarca de Porteirinha (MG), desde 1976. Anteriormente, de 1958 a 1976, foi funcionário do Banco do Brasil.

Grau de instrução: Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Montes Claros, tendo colado grau em 1971.

Outras atividades: militante da imprensa de Montes Claros desde 1956, tendo colaborado no O Jornal de Montes Claros , na Revista Encontro e no Jornal de Notícias. Agraciado com diploma de honra por ocasião do Centenário de fundação da imprensa local.

Obra publicada: “Nelson Vianna, o Personagem”, pela Editora Cuatiara, de Belo Horizonte, em 1995. Obra inédita: “Chico Dominguinho e outros montes-clarenses”.

Participações: membro efetivo da Academia Montes-clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, do qual é cofundador. Agraciado com a medalha de ouro do Sesquicentenário da Cidade de Montes Claros, em 2007.

Fonte: Site Minas Livre



José Ferreira da Silva
Cadeira N. 49
Patronese: Irmã Beata

CAPELANIA DA SANTA CASA DE MONTES CLAROS

Com objetivo de oferecer um trabalho sólido e de qualidade voltado para o atendimento fraterno, a Arquidiocese Metropolitana de Montes Claros , através de seu representante maior , o arcebispo Dom José Alberto Moura criou em parceria com a Santa Casa de Misericórdia , representada pelo seu provedor senhor Heli de Oliveira Penido , a Capelania Santa Casa , constituída de voluntários e religiosos para prestar serviços de assistência espiritual , levando a palavra de Deus a todos que ali se encontram internados em busca da recuperação física, psicológica e espiritual.

Para que esse projeto se tornasse realidade , aconteceu uma formação e capacitação dos voluntários no período de 05/08 a 02/10 de 2014, com 48 horas, que receberam as seguintes orientações : a enfermidade a luz da Fé; espiritualidade; o paciente, seus sentimentos e necessidades; o visitador e o trabalho com os enfermos; os benefícios; psicologia da saúde e o processo de cura; liturgia nos hospitais; bioética católica; cuidando da família, etc. Todos os temas foram ministrados por padres ,médicos e outros entendidos no assunto como:

Pe. Marco Antônio Simões, Pe. Sérgio Rocha, Pe. César Andrade, Pe. João Batista Lopes, Pe. Jair Pereira da Silva; Pr. Reginaldo Cordeiro de Lima; Cônego Oswaldo Gonçalves Vieira; Monsenhor Alencar, Pr. Raimundo Donato, Pr. Adailton Oliveira Costa, Pr. Gilmar Soares Martins, Pr. Adilson Ramos de Melo; Dr. Luiz Fernando Veloso; Dra. Príscila Miranda, Dr. Euler Magalhães Athaide; Dr. Andre Luiz, a Sra. Fátima Guedes, Sra. Carmen Lúcia Costa, Dom José Alberto Moura e participação do diácono Geraldo Magela Martins.

O projeto coordenado por Dom José, Pe. Gilmar (mazinho) e Carmen Lúcia.

O trabalho de visitação este a cargo das Irmãs Hélia Maria de Oliveira, Rosa Andrade Xavier, Irmã Werlan e agentes de algumas paróquias. Dentre estas paróquias, a Menino Jesus de Praga com o apoio do pároco Pe. Pedro Leonides, os padres João Paulo Ponciano de Farias e Pr. Jorge Paulo de Farias faz parte desse grande empreendimento de fé e solidariedade cristã com a participação de 17 agentes, sendo alguns na condição de ministros Extraordinários da Eucaristia.

 

TERMO DE JURAMENTO

“Juro, diante de Deus e da sociedade aqui reunida, que conduzirei meus esforços como voluntário no projeto de Capelania da Santa Casa de Montes Claros, em busca de favorecer a experiência de uma fé amadurecida, própria de “cristãos adultos”, em conformidade esfera da compreensão da fé quanto da vivência e cultivo da fé. Juro estabelecer, a partir da identidade cristã/católica, um diálogo construtivo e respeitoso com as diferentes manifestações culturais e religiosas que o mundo contemporâneo comporta, especificamente no ambiente Hospitalar, numa atitude de colaboração em iniciativas comuns humanizadoras, a fim de promover a atuação social e o serviço a justiça, cidadania e solidariedade, em projetos sociais sob a responsabilidade da Capelania. Juro ainda, levar Jesus Cristo e seu projeto de vida plena, a todos os nossos irmãos enfermos.”

José Ferreira da Silva
Agente da Capelania



José Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celestino Soares da Cruz


DONA ARINHA E A FAZENDA QUEBRADAS

Saudades! Saudades! A Fazenda Quebradas nunca vai sair da mente de muitos montes-clarenses. Dona Arinha e “seu” Pedro Veloso, ambos, com aquela educação invejável sempre nos receberam muito bem. Sr. Pedro fazendeiro bem-sucedido, um visionário, com sua ousadia transformou a “Fazenda Quebradas” um modelo para muitas outras do Brasil afora. No Norte de Minas foi a primeira fazenda a ter um telefone. Tinha energia elétrica gerada por uma roda d’água, e toda fazenda era iluminada. Foi destaque no Globo Rural, por muitos anos face da criação de porcos impressionante. Na pocilga embarcavam centenas de porcos todos os dias. Naquela fazenda tinha escola para alfabetizar os vaqueiros, esposas e filhos – a professora era a Noélia, prima da Dona Arinha.

A sede da Fazenda era imensa, construída há mais de um século pelo pai de Dona Arinha. Vitrais, azulejos europeus, coisas lindas, que não se fazem mais hoje em dia! Na sala, uma dedicatória que foi deixada pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira. Este, sempre que vinha a Montes Claros, visitava a fazenda.

Como o “seu” Pedro, o Presidente Juscelino também gostava de caçar. Eram amigos. Em frente casa, um jardim com variadas espécies de rosas e flores que Dona Arinha fazia questão cultivar e contemplar. Outro “hobby”, ler os jornais numa cadeira na varanda da casa - local de descanso e festa da família com os convidados.

No fundo da casa passava um canal de água que vinha do pé da serra; água que tocava a imensa roda d’água do moinho, para contemplar os peixinhos as crianças e namorados ficavam numa pinguela de madeira .

Recordações : A ponte de pedra, o cruzeiro no alto da serra, o cemitério, currais, bois, porcos, pássaros e a “mudinha” Bili, esta, uma das zeladoras da casa de Dona Arinha. Até hoje sonho com o movimento de pessoas naquele lugar. Todos os serviços de solda, tornearia, trancas e dobradiças das cancelas, e manutenção engenho eram feitos pelas mãos do meu pai Manoel e do meu avô “Seu Ponciano” Tudo isso me traz muitas saudades.

Agora, tudo virou o Parque Estadual da Lapa Grande. Na esperança, ainda infantil, em 2012 cheguei a ir em Ouro Preto com uma comitiva do IEF com o objetivo de acertar a condução dos projetos de restauração do casarão e das todas as unidades da Fazenda Quebradas. Por vários momentos, citamos o nome de Dona Arinha, pois, era a memória viva que iria orientar - por meio de fotos antigas e testemunhos - os engenheiros e restauradores da Fundação de Arte de Ouro Preto - FAOP . Mas... Até hoje nada foi feito e, a casa continua um pardieiro.

Comentei acerca da restauração com meu colega de trabalho, o Tininho Oliveira, que é sobrinho da Dona Arinha. Nisso ele me confidenciou que a Dona Arinha estava louca para visitar as Quebradas, o solicitei que a levasse depois da restauração, pois assim evitaríamos que ela tivesse forte emoção, mas, Deus a levou no dia 16/09/2012 aos 95 anos.


Dona Arinha

A saudade é demais. Desde a estrada cavaleira que saía do Bairro Melo, subia a Serra homônima e descia até a ponte de pedra, ao chegar, saborear a rapadura e a cachaça que eram fabricadas nas QUEBRADAS.

A cidade lamenta a perda dessa grande mulher. Tenho certeza que os familiares da Dona Arinha e “Seu” Pedro Veloso; cito alguns como: os netos Camilo , Zezito e Maria Luiza, outros as filhas Nair e Lucy; a professora Noélia e os sobrinhos Tininho Oliveira e a jornalista Cecília Oliveira permanecem com as saudades da fazenda Quebradas.



Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França

VOZES E ACORDES

As meninas, assim conhecidas e chamadas nos seus relacionamentos cotidianos, tiveram a iniciativa de inventar alguma coisa para passar o tempo ocioso de suas aposentadorias.

Cada uma dava sua ideia, até que um dia, chegaram num denominador comum: escolheram a música e iam ser cantoras. Lá se foram! Matricularam no Conservatório Lorenzo Fernandez no ano de 2006 em canto lírico e passaram a estudar as confusas e complicadas partituras das peças dos grandes musicistas do passado: Bach, Mozart, Beethoven e outros gênios do mundo da música que tornaram vocábulos comuns de seus vocabulários. E em 2011, Dilma Silveira Mourão, Vilma Amorim Nery, Maria Lúcia Lacerda Araújo e Rosa Terezinha Paixão Durães foram diplomadas como cantoras líricas, realizando seus desejos depois de seis anos de lutas e dedicação.

Seus estudos não foram só para satisfazer suas vontades. Ainda no decorrer dos anos de conservatório, elas tiveram a ideia de criar um grupo de canto popular sem maiores pretensões. As apresentações vieram com sucesso e espontaneamente com o reforço de Suely Zenaide Teixeira e Maria Paulino, esta por pouco tempo. O grupo começou a se destacar dentro e fora do Conservatório, se apresentando em vários lugares e esporadicamente. Às vezes, elas eram convidadas pelo Prof. Mauro Xavier para cantar nos seus eventos. Mais tarde, o grupo foi convidado pelo Prof. Wanderdaik Fernandes para gravar com ele o CD “Eternas Canções”, firmando o grupo com o nome de “Vozes e Acordes”.


Zenaide, Vilma, Dilma, Rosa e Lúcia.

Tempo depois, sentido o sucesso de primeiro CD, o grupo resolveu gravar, com a colaboração do instrumentalista e cantor Loy Damasceno, coordenação de Gera Costa e produção de Simon, o segundo CD de “Boleros” que vem alcançando boa aceitação.

Tudo começou com um sonho para transformar numa realidade depois de tantos anos de sacrifício e luta, tornando-se um grupo inseparável e amigo.

Levada, talvez pela premonição, Dilma, em 2014, teve a ideia de patrocinar a gravação do CD “Ternas Lembranças, pelo Grupo pensando em valorizar os compositores e musicistas da nossa terra. Agora, ela também faz parte das nossas “ternas lembranças”.

A verdadeira beleza está na
alma, expressa por palavras
sinceras e vozes enternecedoras.
Agora, a saudosa componente e amiga eterna Dilma Mourão deixou o grupo “Vozes e Acordes” para cantar entre os Querubins.
Assim é a vida, cheia de surpresas, de alegrias e de saudades.


Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida

NA TRILHA DE BOTUMIRIM

Faz algum tempo que adquiri uma pequena propriedade rural nas imediações da cidade de Botumirim e para lá me dirijo constantemente, para usufruir as amenidades climáticas, tão raras em nossa querida Montes Claros.

Botumirim é uma pequena cidade do Vale do Jequitinhonha, com área territorial de 1.572 quilômetros quadrados e cerca de 7.000 habitantes em todo o município. Situa-se a 170 Km de Montes Claros, sendo 90 Km pela BR-251, que passa por Francisco Sá, mais 30 Km pela MG-307, que vai a Grão Mogol e, finalmente, mais 50 Km pela MG-655, exclusiva para aquela cidade. Vale ressaltar que o asfaltamento das duas rodovias estaduais só aconteceu com o programa Pró-Acesso do governo de Minas Gerais, iniciado pelo governador Aécio Neves e concluído pelo governador Antônio Anastasia. Antes disso, para ali chegar, era só poeira, algum cascalho, muitos buracos e, não raro, atoleiros e pistas escorregadias nos períodos chuvosos.


Paisagem típica do município de Botumirim, a cerca de 5 (cinco) quilômetros da cidade, vendo-se, ao fundo, a Cachoeira do Bananal (véu de noiva).

Na oportunidade desta abordagem sobre a estrada para Botumirim, queremos registrar aqui o nosso protesto, não junto ao DNIT e o DER, mas perante a população e os governantes, contra esses dois órgãos públicos responsáveis pelas rodovias. Quanto à parte do DNIT, é de lamentar-se o estado crítico em que se encontra o trecho da BR-251, principalmente entre Montes Claros e o trevo inicial da BR 122. Com a desculpa de que esse trecho carece de uma reforma mais complexa, nada se faz para melhorar o que ainda existe, limitando-se a colocar placas de advertência sobre as irregularidades existentes na pista, que podem causar acidentes. E não é por falta de reclamação, pois até bloqueio do tráfego de veículos já ocorreu, em várias oportunidades, por parte de usuários descontentes com a precariedade da manutenção. E o que fez o DNIT? Mandou um observador desqualificado, há cerca de dois anos atrás, o qual, na sua avaliação, perante o público e a mídia, minimizou os problemas existentes, certamente para agradar a sua chefia, no conforto de seus gabinetes. Seria muito bom que algum desses “chefes” percorresse o tal trecho, dirigindo veículo de sua propriedade, prensado entre duas carretas com motoristas estressados. Enquanto isso, a estrada continua piorando a cada dia que passa. Quanto ao DER, é o mesmo órgão de sempre, que pode ser definido numa única expressão: improdutivo e relapso. Em cada uma das rodovias estaduais aqui mencionadas ficou um gargalo depois da construção, com passagem para apenas um veículo de cada vez. Próximo a Grão Mogol, é uma ponte estreita sobre um simples riacho, que há quase dez anos espera por duplicação. Perto de Botumirim, sobre outro córrego, até que a ponte é larga, mas teve uma pista interditada
desde que o asfaltamento foi concluído, há mais de três anos, sem que fosse adotada qualquer providência para sanar a irregularidade. Mas os dois órgãos se superam abraçados, na sinalização vertical indicativa da cidade de Botumirim. Na localidade de Barrocão, até hoje existe uma placa indicando a antiga estrada de terra como acesso àquela cidade, a setenta e dois quilômetros de distância, sem esclarecer que se trata de uma via secundária. No entroncamento para Grão Mogol, cinco quilômetros à frente, embora seja o mesmo acesso para


Vista quase total da cidade de Botumirim, na encosta da “Serrinha”.

Botumirim, nenhuma referência se faz a essa última cidade. E, para completar, quem vem do lado de Salinas, logo após aquele entroncamento e, antes do Barrocão, vai encontrar uma placa indicando que Botumirim está a noventa quilômetros, pela mesma estrada de terra antiga. Será que não dá para trocar essas placas?! Já encontrei alguns motoristas “de fora” perdidos na região, voltando daquela cidade sem lá ter chegado. Haja ineficiência e irresponsabilidade!

Botumirim não é uma cidade antiga, como suas vizinhas Grão Mogol e Itacambira. Até 31-12-1943, quando foi criado o Distrito, ali existia apenas o povoado de Serrinha, no município de Grão Mogol, que teve origem lá pela metade do século XVIII, com a formação de um núcleo de garimpeiros de ouro e diamante apelidado inicialmente de “Quatro Oitavas”, sabe-se lá por qual razão. Com o declínio da mineração artesanal, como aconteceu em toda Minas Gerais no século seguinte, principalmente pelo fim da escravidão negra no Brasil, sua população voltou-se para a agricultura e a pecuária, como atividades de sobrevivência, embora ainda circulem, até hoje, na fantasia popular, informações de que algumas pessoas mais previdentes e“espertas” conservam suas minas trancadas a cadeado e só de tempos em tempos, quando a necessidade aperta, lá comparecem para garimpar o seu minério. Oficialmente, a mudança de nome teria ocorrido em razão da pré-existência de outro distrito, em Minas Gerais, com a mesma denominação de Serrinha, mas é preciso relembrar que àquelaépoca, sob o governo ditatorial de Getúlio Vargas, vivia-se um ufanismo patriótico muito expressivo, em razão da 2ª Guerra Mundial, a ponto de ser recomendada a mudança de denominações para topônimos de origem tupi-guarani, genuinamente brasileiros, que tivessem o mesmo significado da designação anterior. Foi assim que Beija-Flor, minha terra natal na Bahia, virou Guanambi, e até o distrito onde nasci, chamado Gentio, virou Ceraíma. E Serrinha se transformou em Botumirim, mantendo-se o mesmo significado original.

O distrito de Botumirim teve vida curta, pois, pela lei estadual de 30 de dezembro de 1962, sob o governo de Magalhães Pinto, foi criado o novo município, desmembrado do território de Grão Mogol e instalado a 1º de março de 1963. Dentre as pessoas que trabalharam pela emancipação política da localidade, destaque para os senhores Manoel Francisco de Oliveira, Adão Colares, Antônio J. Oliveira, Evaristo Santiago e, em especial, Francisco Nassau, que antes era vereador representante do distrito e depois se tornou o primeiro prefeito municipal eleito pela comunidade.

Praça central da cidade, com a Igreja de São Francisco de Assis e os
bancos de jardim à sua frente.

Botumirim, pela sua localização geográfica, não tem vocação de cidade grande, e Deus queira que assim continue, para não perder o seu “charme”. Com altitude variando entre 640 e 1.515 metros em todo o município, a cidade está a cerca de 900 metros acima do nível do mar, situada numa encosta de serra – a Serrinha – o que lhe proporciona um clima temperado muito agradável e aconchegante. As belezas naturais se apresentam em forma de serras, campinas floridas, riachos de água cristalina, cachoeiras e até sítios arqueológicos. Na cidade, ainda é possível sentar-se em bancos de jardim da sua praça principal, conversar despreocupadamente, ou simplesmente deixarse levar pelo enleio e ociosidade, sem ser incomodado pelo barulho desenfreado do trânsito de veículos. Pena que o “toc-toc” das marchas dos cavalos já tenha sido substituído pelo crescente ronco de motocicletas pilotadas por jovens deseducados.

É no campo, todavia, que Botumirim se supera, como na localidade de Rio do Peixe, onde a natureza esculpiu raridades em seus acidentes geográficos. Embora esteja a apenas 11 (onze) quilômetros do centro da cidade, o acesso é dificultado pela precariedade da estrada municipal que leva exclusivamente àquele ponto. Houvesse ali energia elétrica, que está apenas a um quilômetro de distância; se fosse instalada uma pequena rede de fornecimento de água potável, captada em minas da própria região; se fosse construído um simples quiosque no local, com instalações sanitárias e dependência para bar, lanchonete ou restaurante; se a estrada de acesso fosse mantida em condições razoáveis de tráfego; e se a prefeitura municipal, de repente, percebesse que ela é competente para resolver tudo isso, poderia empregar
todos os meios destinados ao lazer da comunidade, para atender à população botumirinense e visitantes. Os recursos locais, como clima ameno, praia de areia branca, piscinas naturais e corredeiras próprias para banho, além de uma ampla área de “camping”, são todos emoldurados por interessantes formações calcárias recheadas por verdejante e florida vegetação. Poderia ser o ponto turístico que está faltando na região.


Rio do Peixe, com destaque para a piscina natural e a praia ao lado.

Num dia desses em que visitei o “balneário”, mesmo sem qualquer estrutura de apoio, lá encontrei três famílias de Montes Claros, acampadas e felizes com a recepção acolhedora da natureza. Que muitas outras famílias possam usufruir o mesmo acolhimento!



Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães

ECOS DO PASSADO

O ano de 2014 foi um ano especial, o ano do centenário natalício da professora Yvonne de Oliveira Silveira. Ocorreram sucessivas homenagens das mais diversas, desde os mais simples seguimentos de sociedade mentes-clarense à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, culminando com antologias de escritos individuais dos seus admiradores e amigos, confrades e confreiras, contendo elogios desbragados à Deusa das Letras, cuidadosamente organizados e editados pelo escritor e acadêmico, Dr. Dário Teixeira Coutrim.

No dia 30 de dezembro, data do seu aniversário, seus familiares e amigos com os protestos de efusivos apreços, estavam todos felizes e irmanados num só objetivo: abraçá-la carinhosamente e com ela concelebrar o seu 100°. aniversário de nascimento. Ela na sua maneira de gente simples, com a face orvalhada de lágrimas de tanta felicidade, em nenhum momento se mostrava desanimada, sequer enfraquecida.

Cônscia de que o seu envelhecer era coisa natural e que não havia uma maneira para assim não ser, recebia os cumprimentos sorrindo, pois as suas lágrimas eram de alegria, mesmo porque não podia voltar à juventude. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Podemos apenas ir para frente. Pensando assim, vencia as barreiras do tempo, impedindo que fosse contagiada pelo vírus da acomodação e da indiferença que se manifesta nessa fase da vida, a fase preferida dos que jogam a toalha: “Deixa pra lá. A luta acabou”. Mas ela não fugia da luta, nunca deixou de cumprir com seus propósitos e seus compromissos.

Para ser vencedora custou-lhe muito. Foi preciso persistência, muitas lutas diárias de encantos e desencantos. Plagiando Cora Coralina, podemos dizer que ela foi uma mulher que fez a escalada da vida, removendo pedras e plantando flores. Acreditamos que ela tenha realizado seus projetos com resultados positivos amando cada vez mais a todos, não somente os de seus convívios, mas também os que não conheceu ou aqueles que, por alguma razão nunca teria oportunidade de conhecer.

Com ela aprendemos que na vida não devemos desanimar, mesmo sentindo ventos contrários. Não devemos perder o equilíbrio diante dos obstáculos. Não devemos crer que nossos trabalhos sejam improdutivos.

A professora Yvonne, uma mulher elegante, inteligente e cativante, que estava contente com a velhice, queria mais tempo para ter o gosto de viver sem limites sonhando e realizando os objetivos na vida; caminhar para frente, tropeçando, mas erguendo-se para prosseguir, sem esmorecer, sem parar, nem estacionar.

Para muitos, desistir dos projetos é mais fácil do que lutar por eles. Renunciar, chorar, aceitar derrotas é mais simples porque não lhe obriga a nada, mas para ela, não era assim. O impossível era apenas algo que ainda não havia realizado. Aos cem anos, ocupando o seu lugar no seio da sociedade continuava fazendo bem feito o seu papel. O segredo para conseguir a felicidade consistia no empenho pessoal em fazer tudo com prazer.

Sim, o prazer é coisa dos sentidos, diferentemente da alegria que é coisa do coração, por isso estava alegre, convivendo com os mais jovens; com aqueles que ficaram adultos há mais tempo, com aqueles que se tornaram adultos há pouco tempo e com aqueles que tateavam para virar gente grande, representando várias gerações. Aliás, nossas tradições culturais já não se transmitem de uma geração a outra com a mesma fluidez que no passado. Por tudo isso, se alegrava, e se alegrava muito, porque nascera para acreditar que o seu patrimônio era a felicidade e o melhor meio para multiplicar a felicidade era dividi-la com os outros, porque a alegria só pode brotar de entre as pessoas que se sentem iguais.

Felizes são as pessoas como a professora Ivonne, que impedindo o contágio do vírus da acomodação, observa o passado para poder caminhar no futuro. Para não ser contagiada pelo vírus da acomodação ela continuava ensinando e difundindo frutuosamente conhecimentos. Foi uma escritora que tinha sempre coisas importantes para nos dizer. Todas as suas obras têm os seus próprios traços, o que provoca uma identificação da fertilidade de inspiração ímpar, pelas características que imprimiu em cada narrativa.

Via-se na homenageada a prova de que não existe um caminho a seguir em direção à longevidade, aos cem anos conservava a cabeça boa, com memória de adolescente. O que existe é o jeito de caminhar e o nosso cérebro é o melhor recurso já criado para tudo. Nele ela encontrou todos os segredos de caminhar. Não que tenha nascido pronta para ser dotada de inteligência. Isso não. Para conquistar seu espaço no mundo precisou ralar muito, com ética e honestidade, mesmo passando, creio eu, por algumas frustrações.

Tem um ditado que diz que a gente colhe o que planta. Portanto, na vida andando lado a lado, existem duas premissas básicas do viver: a frustração e o esforço.

Com muito esforço no seu jornadear por esse mundo, nos ensinou que ser feliz pressupõe viver em plenitude, com doações, cuidando de si e daqueles que amamos, uma vez que não se pode semear de punhos fechados. Assim, fez com que a morte a esquecesse até 17 de abril de 2015. Data que começou uma nova vida, mergulhando na misericórdia infinita do Pai.


Manoel Messias Oliveira e Yvonne de Oliveira Silveira

Yvonne de Oliveira Silveira foi uma mulher muito abençoada na terra, neste planeta que fora azul aos olhos dos astronautas e que hoje se encontra manchado de poluição, agora, está na glória eterna, em comunhão com Deus que é a causa primária de todas as coisas, ab initio ad eternum, do início ao infinito e trilha o caminho contínuo da evolução rumo a verdadeira felicidade. Voltou para o Pai porque a sua missão aqui chegara ao fim.

É natural que lembremos dos bons momentos que tivemos ao seu lado. É natural que nos envolvamos na dor da saudade, mas não nos entregamos à lamentações para que a revolta não se instale em nossos corações. Sem revolta, pacientemente, amenizamos a nossa saudade com o bálsamo de nossas orações.

O passado é uma grande cortina de vidro! Deus que nos deu uma grande amiga, a chamou para morar no reino eterno, mas a memória da Deusa das Letras, jamais se apagará das nossas lembranças, pois as Academias de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros a conservarão “ad eternum” na imortalidade.




Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães

ADEUS, AMIGO!

Na véspera primaveril do ano de 1938, ou seja, em 21 de setembro, veio ao mundo na cidade de Brasília de Minas (MG), um menino saudável, progênito de José Luiz Oliveira e Dalva V. Oliveira que, levado a pia batismal, recebeu o sacramento da igreja católica com a graça de Haroldo. Começou ali uma caminhada cristã de muitos sucessos e glórias na vida terrena de Haroldo Lívio de Oliveira, até que em 2 de janeiro de 2015, em Montes Claros (MG), o Criador e Senhor dos Mundos o arrebatou do nosso convívio para ficar no Seu lado na morada eterna.

Um homem austero, de fino0 trato e reservado, de cujos feitos e dotes morais são conhecidos de todos que com ele conviveu. No passado foi um lutador. O mérito não estava numa só ação, mas no hábito das boas ações que atingiram resultados em quantidade e qualidade com vários indicadores: produtividade, humildade, honestidade, tolerância e relacionamento interpessoal, para citar somente alguns dos seus grandes valores que enfatizaram as condutas de promoção a uma vida dinâmica.

Haroldo Lívio de Oliveira era Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Montes Claros. Foi funcionário do Banco do Brasil de 1958 a 1976. Exerceu por muitos anos com dedicação, competência e lisura o honroso cargo de Oficial do Registro de Imóveis da Comarca de Porteirinha (MG), ou seja, desde 1976 at´2015, quando a morte veio interromper a sua magistral carreira. E, diga-se de passagem, que sentia muito feliz e plenamente realizado nessa sua carreira profissional.

Não é segredo para ninguém que ele fora na vida familiar e social, de irrepreensível disciplina; moralmente honrado e respeitado, com brilhante caminhada de vida. Um exemplo a ser seguido.

Faltaria porém, com os mais imperdoáveis dos deveres, se não me prevalecesse da ocasião para declarar que, existe nas palavras que dedico à sua memória é porque o fez por merecer.

Desnecessário, portanto, salientar todos os feitos desse homem, com o qual, tive a honra de ombrear o fardo da sublime responsabilidade– em comunhão com os demais confrades e confreiras da Egrégia Assembleia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros– na promoção de estudos e difusões de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Mineira. O confrade Haroldo Lívio de Oliveira – um grande intelectual – ocupou no IHGMC, honradamente, a cadeira de N. 82, que tem como patrono Nelson Viana. Seu entusiasmo e confiança nas letras ficaram expressos em suas crônicas, artigos, poesias e romances deixados como exemplo para a posteridade. Veículos de ideias, que permanecerão até o infinito dos tempos, fundamentados na liberdade e na dignidade da pessoa humana. Como eu, seus amigos lamentam a sua perda, não obstante sabermos que também é certo que, por mais conhecimento que venhamos a adquirir ao longo de nossas vidas, esses, representam pouco mais que um grão de areia na imensidão que é todo o Universo. Porém, sua memória permanecerá sempre viva entre nós. Os bons exemplos e ensinamentos que nos proporcionou serão, sem dúvida, bem assimilados por seus familiares, por seus amigos e por todos que o conheceram.

Em vida, o confrade Haroldo Lívio de Oliveira credenciou-se um grande benfeitor, estudioso e colaborador da cultura regional, intensificou os seus estudos e pesquisas sobre fatos de extraordinárias relevâncias e divulgou o resultado de suas pesquisas sobre tudo que todos deviam saber corretamente, com grande beneficio aos que desejavam aumentar o cabedal do saber.

Para que fiquem registrados nos anais de nossa Instituição, chamo a atenção sobre a necessidade de que o seu esforço deve ser considerado como um serviço de valor que prestou ao IHGMC, com ardorosa vontade e dedicação à causa. Que nada caia no esquecimento, devendo, pelo contrário, ser-lhe dispensado toda nossa atenção.

Adeus amigo Haroldo Lívio de Oliveira. Passados aqueles momentos do choque e das lágrimas com a inesperada notícia de sua partida para o mundo espiritual, os seus amigos, como eu, chegaramà verdadeira razão que nos consola: saber que sua alma está em paz e iluminada pela presença divina. Você levou uma grande fortuna, aquela que foi verdadeiramente constituída pelo amor dos seus familiares e pela consideração e apreço dos seus amigos durante a sua vida no mundo terreno, pelos valores morais e éticos que nortearam a sua existência.

Foi uma perda irreparável. Estamos sentindo muito a sua falta e lembraremos sempre de você, que foi um expoente da literatura, que com esmerado gosto pelos livros alimentou as atividades literárias e a cultura emprestando o seu valor, como grande figura humana e de inteligência impar.




Maria Aparecida Costa Cambui
Cadeira N. 07
Patrono: Antônio Gonçalves Figueira

A CAMINHADA DA VIDA

“O mistério do homem se ilumina quando percebe que a marcha do seu destino vai na linha de perspectivas fraternas.”

 

Estamos em novembro de 2014 e num vislumbre, lembrei-me de que hoje, 24, é aniversário de uma pessoa muito especial, o professor, colega, amigo e confrade, Juvenal Caldeira Durães, nascido em Montes Claros.

Pelos idos de 1965, tive o primeiro contato com o jovem professor, sendo sua aluna no curso de aperfeiçoamento do CADES/MEC/ Geografia, aqui em Montes Claros, pois havia concluído o curso Normal. Foi enriquecedor conhecê-lo, pois a nossa turma reconheceu nele, já naquela época, um homem inteligente e cheio de sabedoria.

... E o tempo passou. Retorno ao contato com o Professor de Matemática, Juvenal, na E. E. Professor Plínio Ribeiro de 1º e 2º graus, em meados da década de 70, quando passei a lecionar Geografia, naquele histórico educandário. O Professor Juvenal tinha como colega e amigo de magistério, o saudoso Professor Antônio Jorge que, também era seu colega na R.F.F/SA, ambos Vice-diretores.

No seu livro “Experiências de uma vida” 2005, o Professor Juvenal assim descreve a sua Rosa, com a qual ,em 27 de fevereiro de 1961,casou-se na catedral de Nossa Senhora Aparecida, em Montes Claros. ”Quando a conheci, era menina simples graciosa e, sobretudo dotada de qualidades para assumir a responsabilidade de boa esposa. Além de ser uma beleza oriental ela era compreensiva e bondosa.”

Na época da Escola Normal, a sua bela família já estava constituída pelos filhos Geraldo Wagner, Marco Antônio, Simone, Fernando Cesar e Larissa. Aqui transcrevo alguns versos, onde Larissa retrata seu pai com muito carinho e realidade.

 

POR TRÁS DA MÁSCARA

Por trás da máscara de homem sério e sagaz
Esconde-se a essência de um doce menino, um anjo de paz,
Cujas asas representam o abrigo mais seguro,
A fonte de bálsamo, com que curo
As minhas aspirações desfeitas e a minha ilusão fugaz.

Por trás da máscara de indiferença e sobriedade,
Há alguém cuja sensibilidade
É capaz de tocar a alma e comover o coração.


Em outro período, década de 80, quando a FAFIL/FUNM funcionava no casarão da rua coronel Celestino, reencontro o Professor Juvenal e Rosa como colegas de Magistério, naquela casa do saber. Sérios, competentes e dedicados á as disciplinas Exatas. O Professor era dotado de memória extraordinária e de grande cultura.

No início da década de 90, a FUNM é estadualizada e passa a se chamar Unimontes, e do velho casarão, de gratas recordações e lutas, fomos para o prédio novo, hoje CCH, no campus universitário Professor Darcy Ribeiro. Ali, o Professor Juvenal se candidata a Diretor da FAFIL, sendo eleito e conduzido ao cargo por reconhecerem nele um homem honesto, solidário e zeloso no interesse naqueles que dependiam do seu serviço. Tornei-me Vice-Diretora, colaborei bastante e passei a conhecê-lo melhor e a amizade floriu ainda mais.

Em 2006, o Professor Juvenal integrando um grupo de intelectuais, dentre eles, Wanderlino Arruda e Dário Cotrim, se empenha e juntos fundam o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, de importância relevante para registrar e perpetuar a história de Montes Claros e região. Á convite do amigo Juvenal tornei-me membro deste Instituto, do qual me orgulho e agradeço a honra.

Na formação acadêmica e profissional do Professor Juvenal, destacamos a conclusão do curso Ginasial e também de Mecânica, em Londrina, Paraná onde residia. De volta a Montes Claros fez o curso Científico e diversos outros, entre eles, CAPES/MEC/BH em Matemática e Geografia, Física (RJ), Matemática (FAFIL, FUNM), além de estudos de Música, Filosofia, Inglês e Italiano.

Seus primeiros passos no Magistério se deram na E. E. Professor Plínio Ribeiro, conhecida na época por Escola Normal, em 1958, a convite do professor de Matemática Waldir Rameta, seu colega e amigo conhecendo o seu talento e sucesso com os números.

Hoje, do alto de seus 87 anos, trabalhou no campo, foi seleiro, fazendeiro, funcionário de ferrovias, mecânico, integrante da Banda Euterpe, por 20 anos, como trambonista; Foi jogador de Futebol, mas a profissão que o satisfez foi o Magistério.

O Professor Juvenal vem recebendo diversas homenagens como Medalha de “Ordem do Mérito Educacional” (Belo Horizonte), destaque universitário (Montes Claros), Prêmio Cultura (Montes Claros) e é também, Cidadão Honorário de Francisco Sá, pelo empenho em favor daquele município.


Palestra do Professor Juvenal Caldeira Durães no IHGMC,
sobre o patrono da cadeira número 81, Nathércio França.

No presente, no âmbito da intelectualidade, escreve memórias de cidadãos contemporâneos, tendo vários textos publicados.

Enfim, caro amigo, o tempo passa rápido e com este simples relato quis homenageá-lo pelo homem forte, correto, justo e sábio que você é.

O Professor Juvenal como um ser único no universo, sonhou e realizou muito, mas com os pés na terra e que as vezes repensou a vida, recuando e avançando.

O autor da vida lhe dotou de inteligência, discernimento e força para vencer as provas da vida, sendo humilde para viver e aprender sempre.

Parabéns por sua vida!

Parabéns pelo seu aniversário!

Novembro/2014



Maria Luiza Silveira Teles
Cadeira N. 42
Patrono: Geraldo Tito Silveira

MAIS UMA DESPEDIDA

Mais uma despedida... Sabemos que nossa vida no planetaé provisória. Viemos aqui, provavelmente, para aprender. Principalmente, aprender a amar. Acredito que o homem tem duas asas: a asa do conhecimento e a asa do amor, que implica, também, a ética. Entretanto, poucos de nós desenvolvem, com equilíbrio, essas duas asas. Meu amigo, Haroldo Lívio, que partiu no primeiro dia do novo ano, era um homem que soube desenvolver ambas.

Haroldo, meu companheiro de Academia e do Instituto Histórico, era, talvez, um dos maiores intelectuais de nossos tempos, por esses rincões.

E sua simplicidade, sua humildade, era do tamanho de sua grandeza intelectual e moral.

Estar perto dele, usufruir de seu rico cabedal de conhecimentos era sempre uma fonte de enriquecimento. Ah, meu amigo, como vou sentir sua falta!...

Em qualquer acontecimento social ele estava sempre acompanhado de sua bela esposa, Maria do Carmo, ou Duca para os íntimos.

Eram companheiros formidáveis, sempre cheios de alegria e bom-humor! Era, também, como sei, um excelente pai de família. Portanto, além de intelectual respeitado, um homem reto, de princípios morais sólidos.

Deixa para a posteridade um rico acervo cultural e um exemplo de integridade, honestidade, bondade, cavalheirismo.

Constatar o quanto era querido bastava ver quantos o cercavam no Café Galo e, hoje, a multidão que lotou o seu velório e seu enterro. A despedia foi para todos que o amavam um momento único de grande emoção.

Foi-se o homem, fica a sua herança e as marcas profundas que deixou na cidade de Montes Claros e, quiçá, em todo o norte de Minas. Feliz da criatura, como ele, que pode apresentar-se, sem mácula, diante do Pai-Criador.

Há muito, desde a morte de seu irmão, Fernando, que estava prometendo a mim mesma visitá-lo. Mas, por uma série de motivos, principalmente de saúde, fui adiando a visita. E eis que ele se vai sem que eu pudesse, mais uma vez, dar-lhe um abraço e batermos aquele papo tão gostoso. A morte não pode esperar. Ele estava de malas prontas e mal sabia eu!... Perdão, meu amigo!

As cadeiras ocupadas por ele, em ambas as instituições citadas acima, serão ocupadas por outros. Eu, porém, hesitaria muito antes de fazê-lo, pois o peso de seu nome implica em grande responsabilidade.

Para mim, amigo, você foi único e, portanto, insubstituível.

Espero, de todos meu coração, podermos nos encontrar na eternidade, assim como com tantos outros entes queridos!

Adeus, amigo! Obrigada por ter feito parte de minha vida! Você pode ter a certeza de ter marcado profundamente a vida de muitos com quem conviveu. Você foi um privilégio! E a lacuna que deixa é, verdadeiramente, dolorosa.



Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez

Lapa Grande – Lapa Pintada
Sítios Arqueológicos

Introdução – O Município de Montes Claros está aproximadamente a 438 km de Belo Horizonte e comporta inúmeras cavernas com vários sítios arqueológicos catalogados.

São 164 sítios, tendo como principal o complexo arqueológico da Lapa Grande, também a Lapa D´Àgua e Lapa da Nascente que possuem em seus sedimentos restos de animais fósseis, ornamentações de grande beleza, e formação de vulcão espeleotema de pouquíssima ocorrência no Brasil.

Situação – A Lapa Grande está situada na Serra da Vieira, destacando das demais cavernas do Município, devido a sua importância regional. Considerada uma das maiores do Estado de Minas Gerais, com área de 3 km, na cidade e Montes Claros/MG


Aspectos Físicos – Possui potencial espeleológico, paleontólogo e paisagístico. A Lapa Grande junto com as Lapas Pintada, Lapa D´Água e Lapa Pequena criam um complexo de grande interesse científico.

A Lapa D´Água tem espeleotemas raros, como estalactites e estalagmites cascatas e bolos de calcita, cortinas translúcidas, travertinas (tipo de rocha calcária) de vários tamanhos e vulcões, sendo estes últimos de rara ocorrência, em cavernas brasileiras. A Lapa Pintada é um abrigo em forma de anfiteatro de mais de 40 km altura. Guarda vestígios de fogueiras e ossos de animais mais de 7800 anos. Mas, a principal descoberta foram as amostras da vegetação que remontam 1.200 anos são pelo menos mil pinturas rupestres de temática diversificada. A maioria retrata animais, aves e mamíferos da tradição Planalto, elementos geométricos que configuram a tradição São Francisco, além de uma gravura em baixo relevo. Também foram encontrados
restos de animais, vegetais, ossos humanos e cerâmicas, detalha Aneliza Miranda Melo, bióloga com doutorado em Biologia Vegetal e gerente do Parque.

Para o pesquisador Lucas Bueno, o que torna essa região ainda mais especial, é o fato de haver ótimas condições de preservação nos abrigos, para conservação dos vestígios vegetais “difíceis de serem preservados nos solos tropicais do Brasil, eles aparecem em abundância nos abrigos do parque. São grãos e espigas de milho, sementes de aboboras e pequi, vestígios de mandioca e feijão, além de inúmeras outras sementes, cascas e frutas de vegetais comestíveis nativos de área do cerrado.”

As pesquisas do Museu de Ciências Naturais estão sendo realizadas desde 2006, data da criação do parque, e existem mais de 60 grutas e abrigos cadastrados, entre elas a Lapa Pintada, com ocorrência de pinturas rupestres.

 

BREVE HISTÓRICO DA GRUTA


A pesquisa no Brasil anda a passos lentos, porque desde a fundação da Faculdade de Filosofia do Norte de Minas – FAFIL, professores e alunos levados pela Professora Isabel Rebello de Paula foram visitar a Lapa Grande e a Lapa Pintada com um grupo de estudantes
de Belo Horizonte e Montes Claros. Nós a visitamos por vários metros.

Atualmente com a regularização do Parque da Lapa Grande ainda não foi aberta à visitação pública. Vários alunos que ali visitaram não mais se encontram entre nós. É necessário que seja aberto à visitação pública para estudo dos universitários locais e de fora, pois será um grande atrativo de lazer e estudo para o Norte de Minas.

O secretário José Carlos Carvalho declarou que a unidade é de grande importância estratégica para a região do Norte de Minas. O parque deve ser aberto ao público permitindo que turistas e a população local apreciem de perto esses tesouros esculpidos pelo tempo e foram habitados pelos nossos ancestrais.

- Arqueologia – oito sítios, sendo o mais importante a Lapa Pintada.

- Paleontologia – dois sítios com destaque para a Lapa da Ossada.

- Espeleológia – são 58 grutas cadastradas. A maior é a Lapa Grande com 2,2 km. A lapa tem formações geológicas de importância mundial, sendo citada em congressos nacionais e internacionais de geologia e espeleologia.

- Geologia e geomorfologia – relevo carstico significativo com grande número de sumidoros, grutas, maciços, arcos e cânions. Em 1950 pesquisadores amadores encontraram ossadas humanas e em 1970 os canadenses acharam vestígios de ocupação pré-histórica, através de objetos de 8.500 anos. Eles não desistem e continuam mapeando e buscando mais pegadas humanas, informa Lucas Bueno, arqueólogo e professor do Museu de História Natural da UFMG.

Em nível nacional existem poucos locais que reúnam tantos atrativos naturais como as cavernas e os sítios arqueológicos do Parque Lapa Grande em Montes Claros/MG.


A pesquisa no Brasil não evolui por falta de interesse e recursos financeiros não disponíveis. Todo investimento gasto com a compra do Parque espera a finalização de obras para a visitação pública.

O parque está próximo à Fazenda Quebrados de Pedro e Aninha Veloso, e o casarão está aguardando a reforma para a visitação do público, porque está localizada no perímetro do mesmo e deverá compor o complexo turístico, e ela serviu de ponto de apoio à tropeiros e viajantes no ano de 1891. Os mantimentos chegavam para as cidades próximas através da “estrada cavaleira” que até hoje existe. O presidente Juscelino Kubitschek visitou a fazenda e tem a sua foto e assinatura perto da lareira da mesma. É necessário um aspecto histórico e científico para evitar que os primeiros anos da nossa formação histórica se percam.

Fonte Secom
Mais notícias sobre Minas Gerais no Agência Minas.
http//www.youtube.com/Agencia.MG



Marta Verônica Vasconcelos Leite
Cadeira N. 17
Patrono: Augusto de Saint Hilaire

LIRISMO FÚNEBRE

Ao reler a crônica “Lirismo Fúnebre” da obra “Nelson, o personagem”, de Haroldo Lívio – Coleção Sesquicentenária – Unimontes (2007, p. 49-52), me lembrei de que a última vez que me encontrei com o autor foi justamente no Cemitério do Bonfim, aqui em Montes Claros. Eu estava parada na quadra principal em frente ao túmulo da Família Athayde, era um sábado, tarde ensolarada, lá pelas 17 horas, quando me apareceu Haroldo Lívio, com um vaso de flores vermelhas nas mãos. Surpreso com a minha presença naquele local e naquele horário, foi logo me perguntando: “O que você está fazendo aqui?” E eu: “Trabalhando!”. Ele: “Eu não sabia que você trabalhava aqui.” Rimos muito e tratei de esclarecer: “Estou aqui esperando uma orientanda do Curso de História, que está escrevendo sua monografia sobre a arte tumular e sobre as diferenças sociais refletidas também entre os mortos”, mas como até aquela hora ela não havia aparecido, eu já estava desistindo. Perguntei então para quem seria aquelas flores vermelhas e ele emocionado respondeu: “Hoje é o aniversário da minha mãe, quis trazer esse presente. Ela gostava de flores.” Fiquei sensibilizada com a delicadeza do gesto e pensei: faz mais de uma hora que estou aqui agoniada pela demora dessa aluna e nem me lembrei que aqui também estão meus avós, meu pai e irmãos. Nesse instante me apareceu a aluna com suas desculpas, me despedi do meu amigo, que se disse surpreso com a dedicação dessa professora, que não teria obrigação de acompanhar essa coleta de dados para a pesquisa. Nos despedimos ali. Eu orientei uma apressada sessão de fotos para não perder o resto da luz da tarde e ainda encontrei tempo para uma oração pelos meus parentes, que como dizia Dr. João Vale Maurício: “Cada dia mais amigos e parentes vão se mudando para lá”.

Hoje, tanto tempo depois desse encontro, senti vontade de falar de Haroldo Lívio, o personagem, que conheci pessoalmente depois de ler suas crônicas nos jornais e também o seu ótimo livro, da mesma forma que conheci outra grande amiga, Ruth Tupinambá Graça, de quem também me despedi meses atrás, primeiro me encantei pela obra: “Montes Claros era assim...” e depois conheci sua doce autora e nos tornamos grandes amigas, acredito que pelo amor a Montes Claros, com Haroldo Lívio foi parecido.

Eu estava trabalhando na Secretaria de Cultura com a incumbência de ajudar o Secretário João Rodrigues a pensar os festejos do Sesquicentenário de Montes Claros, que aconteceria naquele ano de 2007. Haroldo também fazia parte da comissão. Conversando sobre obras de autores locais que mereciam uma reedição, apresentei o projeto de uma coleção, ele me ajudou muito a realizar esse meu sonho, inclusive a conseguir os direitos autorais gratuitamente junto às famílias dos autores.

Haroldo sempre passava pela minha sala que ficava no andar superior do Casarão dos Mendes, ao lado do Centro Cultural. Numa tarde ele me entregou um envelope com um exemplar do seu livro“Nelson, o personagem”, mas não pediu que eu o incluísse na coleção que ia tomando forma. Eu então reli o livro e achei que suas crônicas fechariam bem a sonhada coleção, já que vários dos autores homenageados apareciam como personagens do seu livro, sem falar que Nelson Vianna, o seu personagem, participava com 3 obras: “Foiceiros e Vaqueiros”, “Serrões Montesclarenses e Efemérides Montesclarenses.

Das nossas longas conversas sobre Montes Claros e sua gente, ele me falou do meu bisavô João de Quincó e do meu tataravô Joaquim Pereira de Vasconcelos, que foi avô dos meus avós, que eram primos irmãos. Nossa! Eu que sempre vasculhei os arquivos familiares em busca desses antepassados, fiquei encantada e agradecida por tanto conhecimento e por tão boa memória. No seu livro ele cita um fato ocorrido entre Nelson Vianna e meu bisavô, mas o melhor foi conhecer através dele os livros de Nelson Vianna e encontrar meus parentes por inteiro, na simplicidade, honradez e até ingenuidade, como são os sertanejos de raiz.

Para finalizar essa pequena homenagem ao grande pesquisador Haroldo Lívio de Oliveira, fica o pesar por constatar que escritores como ele tenham publicado tão pouco. Perdemos muito com sua morte.

Bibliografia: Coleção Sesquicentenária. Montes Claros: Unimontes, 2007.



Virgínia Abreu de Paula
Cadeira N. 99
Patrono: Waldemar Versiani dos Anjos

Ruth Tupinambá Graça

Grande memorialista. Brindou-nos com textos deliciosos contando, com carinho e precisão, histórias de nossa cidade vividas por ela. Prima carnal dos meus pais. Minha prima em segundo grau, e por ser mais velha, tornou-se Tia Ruth. De olhos fechados eu a vejo em sua casa na rua Dr. Veloso, em casa da Titia Maria, aqui em casa, sem nunca afastar o sorriso dos lábios. Bonita a tia Ruth. Quando mocinha foi considerada uma das mais belas da cidade. Ganhou segundo lugar num concurso de beleza acontecido num parque de diversões. O primeiro lugar foi para minha mãe. Elas se pareciam! Casou-se com Armênio Graça, um marido incrivelmente elegante e fino. Teve diversos filhos. Não sei bem a razão torneime mais chegada aos meninos! Alberto Graça, o cineasta, e Armênio, o musicista, entre outras coisas. Tia Ruth não apenas recordava seu passado. Em suas crônicas era comum defender, e bem, as suas convicções. E que delícia passear pela antiga Montes Claros através da sua narrativa. Eu marcava trechos do seu livro “Montes Claros Era
Assim...” para comentar com minha mãe, sua leitora voraz. Passáva mos horas entretidas com aquelas memórias saborosas.

Minha mãe sempre acrescentando detalhes lembrados por ela. Foi assim, graças a Tia Ruth, que surgiu em mim a vontade de escrever sobre as memórias da minha mãe no seu tempo de menina na Rua de Baixo. –“Ruth era mais ligada a Aracy do que a mim, pela idade. Ela morou lá em casa, sabia? Para estudar. Os pais estavam morando onde não havia escola...” –“Espere aí, mamãe. Vou pegar caderno e caneta. Vamos fazer um livro!” O livro tornou-se realidade graças ao primo Fabiano de Paula que, sonhou comigo o mesmo sonho. Encontrou novos parceiros e escritores... inclusive a tia Ruth. Foi na sua sala inglesa (aquele recanto ficaria bem no condado de East Sussex ou Glouscestershire), que estive com ela pela última vez, numa tarde de pesquisas para o livro. Eu e Fabiano. Ela entusiasmada com o projeto, removendo nossas dúvidas, acrescentando informações. -“Que memória prodigiosa”, comenta Fabiano.” –“Fui criada com leite de cabra”, nos revela.

Serena nos deixou. Despediu-se dos filhos sem dramas, consciente de estar indo para um bom lugar. Não duvido que, no novo e belo mundo onde agora reside, escreva suas memórias desse plano grosseiro em que vivemos. Minha gratidão à Tia Ruth pelo que fez por nossa cultura e pelo muito que me ensinou.



Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

HAROLDO LÍVIO
BARÃO DE GRÃO-MOGOL

A história é bem normal de tudo de conformidade com os cânones do comércio de nossos dias, fruto dos princípios da oferta e da procura. Negócio de toma-lá-e-dá-cá, envolvendo naturalmente valores e moedas comuns de qualquer ato comercial. Só põe romantismo numa operação dessas quem pode vê-la com olhos de poesia, com traços românticos de filosofia literária. Em tudo, não resta dúvida, mesmo nos atos de pura barganha e interesses outros, a gente consegue dar um colorido de fantasia, bem própria dos que vivem do trato das artes de das letras.

É que a verdade é bem interessante, amigos. Haroldo Lívio, cidadão brasileiro, brasilminense de nascimento, montes-clarense de coração, agora assina um atestado de amor à terra de Grão Mogol. Assina e paga. Paga com toda a força que o dinheiro põe e dispõe no mundo moderno, mesmo em se tratando de coisas antigas. Haroldo Lívio – é bom dizer logo – acaba de efetuar uma transação comercial de alto coturno na cidade de Grão Mogol. Comprou e pagou e tomou posse, com registro em Cartório, mediante todas as cláusulas, inclusive a de evicção.

Haroldo Lívio, ou melhor, Doutor Haroldo Lívio de Oliveira, brasileiro, advogado, casado com a socióloga, D. Maria do Carmo, é hoje senhor de um solar antigo e sensorial na cidade de Grão Mogol. Senhor legítimo de uma antiga casa, grande e imponente, construída possivelmente por mãos escravas, de paredes de pesadas pedras, escavadas com o suor do século passado. Caso de amor à primeira vista, Haroldo embeiçou-se pela nobre vivenda e sentiu-se imediatamente na pele de um poderoso grão-proprietário, dono da segurança de uma fortaleza ao mesmo tempo urbana e histórica. Viu e gostou. Gostou e comprou. Comprou e pagou. Pagou por ser o incontestável possuidor da possuída posse.


Haroldo Lívio e Maria do Carmo.

A casa de Haroldo, amigos, não é uma casa comum, que a escritura diz construída de alvenaria, de simples e perecíveis tijolos. É obra granítica, com paredes de meia braça, a sustentar janelas coloniais, portas imensas, de duas bandas, com pesadíssimas traves e ferrolhos, frutos, não só da segurança mineira como da senhorial competência de suados ferreiros de antanho. A casa de Haroldo, de telhado de aroeira lavrada a golpes de enxó por mãos competentes, tem repetidas ripas de jacarandá! As paredes das salas mais nobres são revestidas com lambris e o piso é digno das passadas de um comandante-centurião. Na frente, o arquitetônico ornato de uma resistente cimalha dá o toque do poderio e da força de uma escolha consciente do construtor e mestre-de-obras, orgulho da arte de cantaria.

O fundo do nobre solar, após generoso quintal de frutos opimos, divisa com as mais cristalinas águas do rio de areias brancas, leito de pedras polidas, barrancas atapetadas de grama verdinha e capim gordura. Ao longe, mas não muito distante, o perfil elegante de centenárias árvores a formar moldura com o azul de ferrugem das serras e a linha cinzenta-celeste do horizonte. Tudo uma graça, um encanto para os olhos e um prazer para o coração...

Por tudo isso, pelo amor, pelo romantismo da decisão comercial, pela poesia, pelo gosto, pela nobre humildade e pela humilde nobreza de sã consciência, prevalecendo-me não sei de que autoridade, não tenho dúvida de atribuir a Haroldo Lívio, culto e intelectual senhor das Minas Gerais, o Título de Barão de Grão-Mogol.



Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

YVONNE SILVEIRA

Não basta crer e saber, é necessário viver a nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática cotidiana da vida os princípios superiores que adotamos.
Léon Denis

 

Yvonne de Oliveira Silveira é de Montes Claros e veio ao mundo em 30 de dezembro de 1914, numa casona de esquina das Ruas Padre Augusto/Doutor Santos, onde agora reina o Banco Itaú. Tempo bom de infância de Cândido Canela, Mário Veloso, Waldir Bessone, Raul Peres, Ciro dos Anjos, Felicidade Tupinambá, tempo de suas amigas Walkiria Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora dos Anjos, Idoleta e Maria Maciel. Tempo de seu futuro namorado, noivo e marido Olyntho Silveira. Tem duas origens interessantes: da família Peres, de tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu pai Antônio Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome brasileiro, porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda, José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios: Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia. Francisco era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres, agora chegando aos 104.

Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora perfeita da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fereiros e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Foi sempre uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e hortas de alface, brincadeiras de quintal e de rua, com estórias dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical para cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o número do mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze lindas sonoridades. O que não era poeira do chão, era boniteza colorida dos pequis, dos cachos de banana, dos sacos de laranja, dos bacuparis e das pitangas, das carnes penduradas e cheirosas pingando gordura. Tudo, tudo entre a realidade e os sonhos.

Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo como colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se transformar em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho, cabelo arrumado, perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama mais do que tudo a existência. Em Yvonne Silveira, nada mais condizente que as palavras de Emmanuel construídas no sonho e concretizadas no amor: “Duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus: uma chama-se AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo -a para o Alto”.

O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos em 1967, para sermos professores universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo
Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a batalha política e cultural em várias partes deste Brasil. Fico encantado quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita. Como a sua estreia no magistério foi aos doze anos, ela teve no mínimo oitenta e oito de oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à cultura.

Disse muito bem Charles Chaplin que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. É preciso que a gente cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Acrescenta Fernando Pessoa que o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. E é por isso que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Não seria exagero dizer que os dois mestres – sem conhecer Yvonne Silveira - escreveram isso tempos atrás baseados num modelo nela inspirado ou que ela inspira. Neste momento em que escrevo, ela está comemorando e ajudando a comemorar o Dia Internacional da Mulher, desfilando nobremente num escaldante sol de Verão, por vontade própria e atendendo a um convite do Rotary de Montes Claros-União. Estou quasecerto de que ela estará sendo fotografada e dando uma entrevista para os repórteres da TV e apresentando ideias para a moçada dos jornais e das rádios. Voz de moça de trinta anos, com toda uma lógica no raciocínio e uma perfeita coerência de ideias. Numa rara queixa esta semana, ela me disse, por telefone, que acha que está envelhecendo, pois se vê distraída, sentindo umas tonteiras e tendo dificuldade para subir escadas. Claro que velha seria a avó dela se ainda estivesse viva.

De publicação, Yvonne Silveira tem Montes Claros – Crônicas,“Cantar de Amigos - Poemas, História do Elos Clube de Montes Claros, Montes Claros de Ontem e de Hoje, e Folclore para Crianças, (em parceria com Zezé Colares) e Brejo das Almas – Contos e Crônicas, livro dela e do marido Olyntho Silveira. Foram muitos e muitos os prefácios para livros de amigos, muitas as análises literárias, muitos poemas e crônicas, muitas as peças para apresentações de
teatro. Professora de tudo quanto é escola em Brejo das Almas e em Montes Claros, nunca houve na sua vida um dia de desemprego, trajetória do ensino primário até a eficiência universitária. O cargo talvez mais elevado entre os muitos que tem exercido seja o de Diretora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, nossa querida Fafil. Isso sem falar que foi professora de História das Artes no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, ao tempo de D. Marina. Presidente da Academia Montesclarense de Letras desde 1985, nunca teve vontade de deixar o cargo, nem vai deixá-lo, dizendo-se sempre influenciada por Austregésilo de Athayde, da Academia Brasileira de Letras, e por Vivaldi Moreira, da Academia Mineira, que tiveram mandatos infinitos e existenciais. Só aos quase cem anos, ela admitiu passar o cargo para “alguém mais novo/a”, acredito uma grande conversa da boca para fora, porque de alma sempre nova, ela sempre sentiu a perpetuidade do seu mandato. Iluminar, iluminar tudo, iluminar todos, iluminar sempre, esse é o seu lema, essa a sua trajetória, esse o seu dever, o que entende por sua missão.

Yvonne e Olyntho realizaram, lá pela meia idade, uma mais do que querida adoção. Receberam, com muita alegria, Ireni, Ireni Mota Carlos, que lhes deu dois netos: Maria Luíza e Pedro Vinícius. O nascimento de Maria Luíza Oliveira Silveira foi elegantemente comemorado com um soneto de Olyntho, um dos mais bonitos que ele escreveu. De Maria Luíza, curso superior de Enfermagem, casada com Leandro Pimenta Peres, nasceu o bisneto Vinícius Silveira Peres, que já anda como rapaz, dá recados e faz as honras da casa quando chega uma visita. Moram todos numa linda mansão da Rua Basílio de Paula, que liga a Vila Brasília ao Bairro Todos os Santos, desculpem-me a falta de modéstia, uma área das mais nobres. Para a época de antanho do casamento, em Brejo das Almas, Olyntho e Yvonne se uniram já bem coroas (76 anos de vida em comum), ele com 23, ela com 18. E só se casaram depois de quatro anos de namoro, porque Olyntho não lhe dava sossego, passando dia e noite de bicicleta em frente à casa de D. Cândida e Niquinho Oliveira, seu pai. Por falar em Niquinho,é bom dizer que ele, na verdade, tinha um nome de literato e de orador e dois apelidos como farmacêutico, um no Brejo, outro em Montes Claros: o normal era Niquinho Oliveira. O outro, que lhe foi posto por Joaquim Sarmento, um dos seus melhores amigos, era Niquinho Açúcar, só usado pelos mais íntimos. E por que Ninquinho Açúcar? Havia, na Camilo Prates, da Padre Augusto até a Praça Doutor Carlos, dois Niquinhos farmacêuticos: Niquinho Teixeira e Niquinho Oliveira. O Oliveira, louro e brancão, como disse antes, de olhos verdes; o Teixeira, um tanto quanto amorenado. Para distinguir melhor, Joaquim Sarmento apelidou-os de Niquinho Açúcar e Niquinho Rapadura, ficando assim bem mais clara a identificação. Yvonne e eu somos da fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Ela tem como patrono o pai farmacêutico Antônio Ferreira Oliveira e eu, o farmacêutico Antônio Augusto Teixeira, ambos fundadores do Rotary de Montes Claros em 1926, o terceiro clube rotário do Brasil.

Quando não era ainda normais as viagens para outros países, Dona Yvonne fez duas aventuras na Europa. A primeira em 1981, lembro-me muito tendo de memória os comentários do seu companheiro de turismo, Lazinho Pimenta. A segunda em 1991, com um turma de amigas, um mês inteiro percorrendo Portugal, depois de participar como representante brasileira em uma Convenção do Elos, no Faro, quando D. Fernanda Ramos era presidente internacional. Sem dúvida, fizeram muito sucesso, bela apresentação do elismo brasileiro, principalmente do nosso Elos Clube de Montes Claros, que sempre esteve na vanguarda. Desejo lembrar também aqui da admissão de Dona Yvonne na Academia Montesclarense de Letras, juntamente com Simeão Ribeiro Pires, Olyntho Silveira, Cândido Canela e Sílvia dos Anjos, primeira turma convocada para se unir aos fundadores Alfredo Marques Vianna de Góes, João Valle Maurício, Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Francisco José Pereira, Orlando Ferreira Lima, Heloísa Neto de Castro, Antônio Augusto Veloso, Maria Ribeiro Pires, Dulce Sarmento, José Raimundo Neto, Hélio Oscar Valle Moreira, Avay Miranda e Geraldo Avelar. A curiosidade é que os criadores da Academia não queriam ter patronos, privilégio que ficaria para eles mesmos, quando morressem. Foi Yvonne Silveira que os convenceu a adotar a prática normal.

Neste grandioso 2014, ano de seu centenário, estaremos em constante festa, preparando e comemorando juntamente com ela todas as glórias que Deus lhe permitiu. Ana Valda Vasconcelos, representando o Elos Clube, Maristela Cardoso planejando pelos artistas, e eu, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, estamos nos reunindo com muitas instituições para realizarmos importantes reuniões festivas. Elos Clube, Academias de Letras, Instituto Histórico e Geográfico, Rotary, Conservatório, Fundação Marina, Ateliê Felicidade Patrocínio, Associação dos Artistas Plásticos, Automóvel Clube, Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. As duas maiores manifestações deverão ser da Reitoria da Unimontes e da Secretaria de Cultura. O Reitor João dos Reis Canela já está preparando sua festa para o mês de maio.

Clássica e renascentista, sempre antenada a cada tempo, é Yvonne Silveira conservadora ao máximo, alma de absoluta mineiridade.

Intelectual tanto dormindo como acordada, será sempre um dos símbolos de Montes Claros e de Francisco Sá, seu saudoso Brejo. Ontem como hoje teve e tem uma multidão de admiradores e de amigos. Deo gratias!


Wanderlino Arruda e Yvonne de Oliveira Silveira





Daniel Antunes Júnior
Sócio Correspondente
Belo Horizonte - Minas Gerais

MONTES CLAROS,
CAPITAL DO NORTE DE MINAS

Quando há pouco tempo participei de uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, ora sob a presidência do incansável Wanderlino Arruda, sendo ali tão bem recebido pelos nobres integrantes de seu quadro social, depois de saudado gentilmente pelo Dr. Dário Teixeira Cotrim, tive a oportunidade de ressaltar o quanto é rico o patrimônio histórico dessa acolhedora cidade, onde morei por alguns anos, e da qual guardo gratas recordações.

Com efeito, Montes Claros, que se tornou cidade universitária de grande expressão, se destaca, não apenas como pólo de desenvolvimento regional, de comércio ativo, indústria promissora, e intensa atividade política, mas também como centro cultural da maior importância. Por isso mesmo, é considerada, a justo título, como capital do Norte de Minas.

Tive o privilégio de conhecer pessoalmente várias figuras de destaque de Montes Claros, hoje desaparecidas, tais como Da. Tiburtina, Esteves Rodrigues, João Chaves, Cel. Lopinho, Cândido Canela, Nelson Vianna, João Alencar Athayde, Mauricinho, Cel. Filomeno, Plínio, Simeão e Mário Ribeiro, Deraldo Calixto, Dulce Sarmento, João Paculdino, Mauro Moreira, Constantin Kristof e tantas outras, alem do Capitão Eneas, que eu chamava de Visconde de Burarama. O Darcy Ribeiro, só conheci de nome. E hoje desfruto da amizade e consideração de várias pessoas que são referência dessa cidade altaneira, destacando a figura do bom amigo Luiz de Paula Ferreira, que continua firme nos arreios.

No meu tempo de gerente bancário, quando a economia local girava em torno da pecuária, Montes Claros já era o mais importante centro comercial do Note de Minas

Em nossos dias, quem transita pelo centro da cidade, vendo o burburinho de gente apressada, de todos os matizes, que vai e vem, como num formigueiro humano, tem a idéia de que ali está a versão sertaneja da cosmopolita e estuante Hong Kong.

Mas desde tempos primevos, a cidade, hoje bafejada pelos ventos do progresso, guarda, ainda, a reminiscência de suas tradições, usos, costumes, tipos populares e suas crenças. Nos seus casarões de muitas portas e janelas, inclusive o que sedia o nosso Instituto, respirase numa atmosfera de austeridade senhorial, de grandeza e seriedade.

Mas o que me moveu a fazer este modesto comentário, foi o conteúdo da Revista do Instituto, com artigos diversificados dos associados, cada qual a seu modo. Já com o Volume XII, essa publicação espelha a dedicação e o entusiasmo dos autores.

Detive-me no que escreveu o Juvenal Durães sobre Nathércio França, porque lembro-me muito bem da figura amena daquele meu saudoso amigo, genro de D. Tiburtina e concunhado do impetuoso pecuarista João Batista Pedreira.

O meu primeiro terno de casemira, sob medida, (naquele tempo não havia o tropical inglês), foi comprado da Renner, de Porto Alegre, da qual o Nathércio era representante em Montes Claros. Foi ele quem me tirou as medidas e o terno ficou ótimo.

Tempos depois, quando eu já morava em Uberlândia, Nathércio, que gostava da aviação, veio a ser o encarregado da Nacional Linhas Aéreas em nossa Montes Claros, Foi então que me aconteceu um caso interessante.

Vindo a essa cidade, trouxe comigo, como de hábito, um livro para ler no avião, aproveitando o tempo, que me era escasso. Mas o livro era uma droga e não passei da segunda página.

Dispus-me a rifá-lo na primeira oportunidade. Assim, ao fazer o avião uma escala em Pirapora, achei que chegara a hora da desova e desci com o livro A Miss Minas Gerais, que veio a bordo e era ali esperada por uma luzida comissão, teve festiva recepção, com flores e saudação de boas-vindas. Com aquela movimentação e a beleza da moça, me distrai um pouco e acabei por disfarçar mal o “esquecimento” do livro sobre o balcão, Ao sermos chamados para o reembarque, eu já entrava no avião, e zeloso funcionário veio correndo trazendo-o de volta...

Frustrado na primeira tentativa, antes de pousar em Montes Claros coloquei o livro na bolsa que fica atrás da poltrona da frente e desta vez senti-me aliviado, porque ninguém viu.

Entretanto, após o desembarque, o Nathércio, ao fazer uma vistoria no interior avião, encontrou o maldito livro, e não sei como descobriu que ele era meu, tendo o cuidado de mandar levá-lo a mim no hotel...

Mas na volta à Capital, escalando em Diamantina, tive a coragem de deixá-lo, num cesto de papel, à vista de todo mundo, e nunca mais o lvi.

Hoje, não consigo lembrar o título do livro, mas jamais poderia esquecer aquela gentileza do Nathércio...




André Koehne
Sócio Correspondente
Caetité - Bahia

UMA EPOPEIA SUBTERRÂNEA

A cidade baiana de Caetité possui uma forte ligação com Minas Gerais. Além de ter sido, por séculos, ponto de partida de vários“retirantes” que buscavam no sul maiores oportunidades, sua emancipação política em 1810 se deu graças ao estabelecimento, ali, de várias famílias que fugiam às perseguições decorrentes da Inconfidência. Muitas dessas famílias trouxeram, também, a experiência mineradora que logo se fez útil na exploração das ametistas, descobertas ainda no final do século XVIII, num distrito que passou a chamarse Brejinho das Ametistas, ou na descoberta de diamantes na Chapada Diamantina.

Ali, nas “grunas” abertas nos montes, garimpeiros passavam de geração em geração os conhecimentos adquiridos de forma empírica, seguindo nas rochas os veios promissores, com um senso de direção quase inato.

Os “gruneiros” subsistem em Brejinho das Ametistas, terra natal do cantor Waldick Soriano – cuja história familiar confunde-se com a do próprio distrito.

Situada em pleno sertão, Caetité está sujeita às estiagens nordestinas. A água, ali, sempre foi um bem precioso e motivou a localização da sua sede, num vale cheio de riachos e nascentes que, mesmo nos períodos mais secos, mantinham-se perenes. Uma situação que o desmatamento e o crescimento urbano fez, no final do século XX, alterar-se de forma radical – culminando com a falta d’água na grande seca de 1974.

A sede, como boa parte do território do município, faz parte da Bacia do Rio de Contas – uma bacia completamente “baiana”. Já o distrito de Brejinho, contudo, compõe a Bacia do São Francisco, ali nascendo o Carnaíba de Dentro que, junto ao Carnaíba de Fora (também com nascente em Caetité), formam o Rio das Rãs, afluente do São Francisco. Mesmo uma parte de Brejinho descamba para o Rio de Contas, como é o caso do Rio da Faca que, nascendo ali, irá desaguar no Rio do Antônio, um dos afluentes do Rio de Contas. Um divisor de águas, de duas importantes bacias, onde a água em si torna-se cada vez mais um elemento raro.

O relevo acidentado (Brejinho está ao fim da Serra do Espinhaço), longos planaltos de campos gerais, ali um pequeno rio era perene em tempos passados. Um rio “sem nome”, conhecido pelo trecho no qual cruzava a estrada de terra que ligava a sede ao lugarejo: “Passagem da Pedra”.

Do rio da Passagem da Pedra até a sede citadina são cerca de doze quilômetros, e entre ambos uma elevação de vários metros que tornava impossível trazer aquela água até lá. Um projeto que a engenharia moderna facilmente venceria, a custos gigantescos que, àquelaépoca, não estavam disponíveis.

 

UM PROBLEMA FINANCEIRO

Durante o governo do médico Roberto Santos, pela Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa), foi realizado um estudo sobre a viabilidade da transposição das águas da Passagem da Pedra até Caetité. Da equipe então formada para isto fazia parte o geólogo João Lessa que, assim, voltava à cidade onde passara a infância.

João Lessa nascera na cidade de Livramento de Nossa Senhora, em 20 de abril de 1937, mas seus pais mudaram-se para Caetité quando ainda tinha meros quarenta dias de vida, e aqui estudara as primeiras letras até o ginasial. Aquele retorno era a primeira vez que o fazia, a trabalho.

A Embasa tinha feito uma estação de tratamento de água no lugar denominado “Brás”, às margens da BR 030, no meio de uma imensa ladeira, antigamente denominada “Ladeira da Tabatinga”, saída para a cidade de Guanambi, mais de duzentos metros acima do centro de Caetité, na altitude, e a uns três quilômetros dele.

Lessa, diante do monte que se erguia a meio caminho entre o rio e a estação, sugeriu que fosse aberto um túnel para se vencer o obstáculo, já que não dispunham de meios para bombear o líquido para o alto. A ideia foi considerada totalmente inviável – uma “loucura” segundo alguns dos técnicos que o acompanhavam – mas não para o geólogo, que conhecia as habilidades dos mineiros do distrito próximo. Se não tinham recursos técnicos e financeiros para a empreitada, esta poderia ser feita de outra forma.

Lessa havia, junto ao Superintendente de Obras da Embasa, visitado o trabalho dos mineiros numa das “grunas” – buracos abertos na terra – no garimpo da ametista. Ali, observara que os “gruneiros” tinham uma capacidade de orientação única sob o solo, construindo aberturas capazes de, com relativa segurança, mantê-los na atividade extrativa por anos a fio.

Voltando ao distrito, perguntou aos moradores dentre os garimpeiros qual o melhor gruneiro que havia, e todos lhe indicaram um senhor de nome Manoel. Apresentado ao mesmo, um homem já maduro e com grande experiência, descreveu-lhe o desafio: levar aágua da Passagem da Pedra para Caetité.

Sorrindo, o velho garimpeiro declarou, apenas: “A gente só não engruna na areia”.

Diante do olhar admirado e incrédulo dos técnicos da Embasa, alguns poucos gruneiros de Brejinho das Ametistas deram início à escavação, sob o comando de Seu Manoel. Fariam, com o custo quase que somente da mão de obra, aquilo que custaria milhões à engenharia.

 

AS ESCAVAÇÕES

A cada 50 metros eram abertos poços verticais, no fundo dos quais seria feito o túnel por onde passaria o encanamento da água da Passagem da Pedra. Nestes poços desciam os gruneiros e o material necessário, bem como era retirada a terra resultante da escavação e por onde saíam.

Nada de cálculos meticulosos, ou mesmo os triângulos de Pitágoras: toda a “tecnologia” era baseada apenas na experiência dos gruneiros, e no conhecimento empírico de Seu Manoel.

Era o velho minerador quem guiava as seções a serem abertas, para que viessem a se encontrar no subsolo: além dos próprios instintos, guiavam-se pela propagação do som. Um método bastante simples e que deu certo em todos os pontos – exceto num, justamente o último: nele o som era desviado em razão do mergulho de uma formação geológica de quartzito.

João Lessa, como os demais funcionários da Embasa que estiveram no estudo inicial, morava na capital baiana, mas todas as semanas vinha a Caetité, de avião, para acompanhar o andamento dos trabalhos e vistoriar sua execução.

O trecho final teve que ser interrompido, com a chegada do período chuvoso: João Lessa constatou que ali a formação do solo era instável, e ordenou a imediata evacuação do túnel. O desabamento efetivamente veio a ocorrer, o que fez aumentar o respeito por parte dos gruneiros a este geólogo que lhes confiara um trabalho tão grandioso.

Com o desabamento, a boca do túnel foi então feita em “bermas” (alargamento que se faz nos aterros assentados sobre terrenos lodosos, para impedir o refluxo destes), ficando com o aspecto de anfiteatro.


A INAUGURAÇÃO

Uma obra tão grandiosa foi um acontecimento merecedor de toda a atenção política. Seu término coincidiu com o início do governo de João Durval Carneiro. O ex-deputado caetiteense e liderança estadual, Vilobaldo Freitas (irmão do membro da Academia Mineira de Letras, Flávio Neves) e o próprio governador, vieram a Caetité para a solene inauguração.

Uma missa celebrada pelo Monsenhor Osvaldo Pereira de Magalhães sacramentava a realização, que proveria as necessidades deágua da cidade sertaneja. Nela o pároco, falecido em 2014 aos 98 anos, lembrou – em face de tantos que ali estavam para receber o crédito pela obra, que o seu verdadeiro responsável não estava presente: o “Joãozinho de Dona Alvina”, o Dr. João Lessa, que acreditara na viabilidade de tão ousado projeto.

Uma obra que se fez não pelos meticulosos cálculos da engenharia, ou pelos milhões das empreiteiras – e sim por heroicos e anônimos gruneiros de Brejinho das Ametistas.

 

CONCLUSÃO

No ano de 2014 a barragem da Passagem da Pedra jaz abandonada. Ao longo dos anos seu uso foi sendo preterido pela abertura de poços artesianos que, com o crescimento exponencial da população caetiteense, se mostraram insuficientes e forçaram a mesma Embasa a, neste mesmo ano, inaugurar um aqueduto que levava do longínquo rio São Francisco a água que, mesmo nele, é faltante. Obra de fôlego, que guarda a promessa de “resolver” a falta do líquido...

A barragem da Passagem da Pedra ficou completamente assoreada, e o desmatamento suicida que as margens do seu riacho sofreu faz com que, mesmo em tempos chuvosos, pouca água exista.

A obra de sua transposição, e a aventura nela envolvida, foram esquecidas e inúteis, num presente que não apenas se abandona o passado, como parece querer destruí-lo, junto ao futuro que surge de mais e mais dificuldades...

A irresponsabilidade, que começa no gesto ignorante do desmatamento e culmina no descaso dos governos, torna-se mera lembrança da história. Cujo registro, esperamos, sirva para mudar um tanto as mentes e os homens...


Catedral de Nossa Senhora de Santana – Caetité / Bahia


Escola Normal de Caetité (Salão Nobre) Caetité - Bahia





Convidados

 

UM REGISTRO HISTÓRICO


Fonte: Maria das Dores Guimarães Gomes


Tobias Vechio - Dr. Marciano Mauricio e João Alves Mauricio Versiani. Um pouco da história de cada um: Tobias Vecchio. Nasceu em San Martino, na Província de Salerno, Itália, a 15 de janeiro de 1856, embarcando para o Brasil quando contava apenas quinze anos de idade. Estabeleceu-se na cidade de Três Pontas, Minas, casando-se em 1882 com dona Cândida Flora Vecchio. Residiu por vários anos no Estado do Rio Grande do Sul, onde foi sócio de diversas firmas. Transferindo-se para Montes Claros, foi fazendeiro neste município e construiu o Palácio Episcopal desta Diocese. Dr. Marciano Mauricio, galanteador e a diplomacia em pessoa, conhecedor da matéria de Psicologia Infantil e Higiene Escolar. Unia o útil ao agradável, era um tremendo “pé de valsa”, não perdia os bailes da Caixa Escolar e dançava com todas as alunas. João Alves Maurício Versiani, nasceu em Montes Claros, a 6 de janeiro de 1864, filho do cel. João Alves Maurício e dona Firmina Versiani Maurício. Exerceu vários mandatos de natureza política, tendo funcionado como Juiz Seccional. Elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Montes Claros, por várias vêzes. Casou-se com dona Artimina Alves Maurício, a 4 de outubro de 1884. Era fazendeiro no município de Montes Claros.


Alberto de Sena Batista


Grão Mogol Consternada
por Haroldo Lívio


Fonte: Jéferson Augusto de Figueiredo


Consternação. Como prefeito Municipal de Grão Mogol resumo numa só palavra o que nós amigos grãomogolenses de Haroldo Lívio de Oliveira sentimos com o seu passamento. Esse sentimento pairou no ar da urbe, eternizada por ele numa expressão simbolicamente cunhada em pedras: “Grão Mogol, Cidade Presépio”.

Haroldo Lívio era Cidadão Honorário de Grão Mogol. Um grande amigo apaixonado por esta cidade que desperta paixão principalmente em quem enxerga a beleza por meio da alma. Aqueles que são poetas/escritores, cronistas, historiadores de nascença como Haroldo Lívio, um dos grandes divulgadores de Grão Mogol e de suas belezas naturais.

De tão apaixonado ele ficou que, de fato e de direito se casou, um dia, com Grão Mogol, quando comprou uma casa na Rua Luís Gonçalves, 74, na sequência da Rua Cristiano Relo (Rua Direita, nome antigo), no Centro Histórico em vias de tombamento pelo

IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Uma casa aconchegante.

Não é uma casa comum, porque cheia de histórias, a casa que Haroldo Lívio comprou. “É obra granítica, com paredes de meia braça, a sustentar janelas coloniais, portas imensas, de duas bandas, com pesadíssimas traves e ferrolhos, frutos, não só da segurança mineira como da senhorial competência de suados ferreiros de antanho”, descreve o também poeta e escritor Wanderlino Arruda.

Havia sete meses que Haroldo Lívio não vinha a Grão Mogol, apesar da casa montada e bem aparelhada que sempre emprestava aos amigos de Montes Claros num gesto solidário, uma das muitas qualidades do amigo que foi enriquecer com a sua intelectualidade e o bom coração as hostes celestiais.

Somente agora, após a sua partida é que interpretamos o retorno de Haroldo Lívio a Grão Mogol, há questão de um mês, como uma maneira de inconscientemente se despedir da terra que ele amou, assim como amou Brasília de Minas, onde nasceu; Porteirinha, onde possuía cartório; e Montes Claros, onde viveu e se projetou como intelectual.

A turma do Café Galo, de Montes Claros ficou empobrecida, mas ao mesmo tempo se enriquecerá daqui por diante quando as pessoas recontarem os muitos contos da privilegiada cabeça de Haroldo Lívio.

Na ocasião em que retornou a esta terra abençoada, ele veio passar alguns poucos dias a fim de se preparar para uma cirurgia na bexiga. Bem sucedida. Mas amigos dele confidenciaram que Haroldo sentira muito a morte do irmão, Fernando Lívio de Oliveira, há cerca de dez meses. Os pretextos podem ser vários para justificar a partida definitiva de alguém quando é chegada a hora.

Esse grande amigo, que tanto dignificou Grão Mogol esteve na cidade por ocasião da inauguração do Presépio Natural Mãos de


Fabíola, Maria do Carmo e Haroldo Lívio

Deus, em dezembro de 2011, obra edificada pelo empresário Lúcio Bemquerer. Antes ainda, Haroldo esteve no presépio em novembro, no dia da chegada da escultura do Menino Jesus.

Na condição de prefeito municipal de Grão Mogol e em nome dos grãomogolenses que conheceram e conviveram com Haroldo Lívio, transmito à família enlutada, a viúva Maria do Carmo Santos Oliveira e as filhas Fabíola Belkiss, Luciana e Clarissa Mônica Santos de Oliveira os nossos mais sinceros sentimentos. O nome deste estimado amigo será lembrado sempre por nós tendo por base nossa gratidão.


Convidados


Morre Dom Geraldo
Majela de Castro


Fonte: Ana Maria Santos Veloso e Ana Paula Paixão

Faleceu hoje, (14/05), às 6h10, o Bispo Emérito de Montes Claros, Dom Geraldo Majela de Castro, aos 84 anos, em decorrência de complicações da ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica. Dom Geraldo permaneceu internado como paciente morador na Santa Casa de Montes Claros durante dois anos e oito meses.

Filho de Eunápio Raymundo de Castro e Ana Batista de Castro, Dom Geraldo Majela de Castro nasceu em Montes Claros, em 24 de junho de 1930, sendo o primeiro de uma família de nove filhos. Ainda na infância, foi manifestada a vocação para o sacerdócio, com a missão de servir a Deus e aos irmãos.

Em 1942, aos 11 anos, ingressou no Seminário, em Pirapora do Bom Jesus, São Paulo, onde permaneceu até o ano de 1947. No início do ano seguinte ingressou no Noviciado da Ordem Premonstratense para estudar filosofia e teologia. Em dezembro de 1953 foi nomeado Padre em Montes Claros pelo Bispo Dom Luis Victor Sartori. Durante 17 anos trabalhou na Escola Apostólica São Norberto. Após esse tempo, foi pároco em Bocaiúva por 12 anos até ser ordenado Bispo de Montes Claros em 8 de setembro de 1982.


Dom Geraldo Majela de Castro

No dia 29 de junho de 2001, Dom Geraldo Majela foi nomeado pelo Papa João Paulo II primeiro Arcebispo Metropolitano da Província Eclesiástica de Montes Claros, a 39ª do país, que elevou a Diocese de Montes Claros à condição de Arquidiocese ou Sede Metropolitana. Teve como antecessores Dom João Antônio Pimenta (primeiro Bispo), Dom Aristides Porto, Dom Antônio Morais, Dom Luiz Victor Sartori e Dom José Alves Trindade. Durante oito anos, Dom Geraldo foi Arcebispo Emérito de Montes Claros.


DOM GERALDO E A SANTA CASA DE MONTES CLAROS


Em 1988, tornou-se responsável pela Irmandade Nossa Senhora das Mercês, onde permaneceu até abril de 2007. Durante a atuação à frente da Irmandade, Dom Geraldo nomeou capelães, apoiou o trabalho das Irmãs para que a Santa Casa cumprisse a missão de atender os mais carentes e para que o serviço continuasse cada vez mais qualificado, com acolhimento humanizado aos pacientes, além dos trabalhos de condução espiritual do maior hospital da região.

Devido a dificuldades econômicas vividas pelo país e, consequentemente, pela instituição, Dom Geraldo nomeou nova Provedoria e Superintendência, que trouxeram profissionalismo e experiênciaà gestão hospitalar, fazendo crescer e desenvolver ainda mais a Santa Casa. Ele sempre atuou em defesa do hospital e da população regional, com grande representatividade junto aos governos estadual e federal, ao buscar recursos financeiros e apoio para a gestão, em relação à qualificação e modernização.

De acordo com ele, todas essas ações sempre foram possíveis devido ao apoio e trabalho incansável das Irmãs da Congregação do Sagrado Coração de Maria, a exemplo de Irmã Beata, Irmã Malvina, Irmã Taís, Irmã Irene, Irmã Veerle e Irmã Chantall, que sempre lutaram em defesa dos pobres, cumprindo o verdadeiro sentido da filantropia.

Ele manifestou toda a sua admiração e respeito pelo hospital, ao declarar que “a Santa Casa significa uma grande instituição, criada na Igreja pela Irmandade Nossa Senhora das Mercês, que se desenvolveu, tomando grandes proporções, ao longo do tempo, com a ajuda de todos os provedores e diretores que por ela passaram. Representa ainda uma entidade de extrema confiança para o SUS, de grande valor para a população de Montes Claros e região, sobretudo a mais carente, que nela encontra o alento para os seus sofrimentos”, acrescenta.

A atuação de Dom Geraldo na Santa Casa sempre foi pautada pelo profissionalismo, simplicidade, serenidade, pureza de coração e ações pautadas pela sustentação e equilíbrio, sempre, com plena sabedoria, trabalhando em prol do desenvolvimento da instituição e da garantia da qualidade da assistência para os que mais precisam. Ele foi homenageado pela instituição em diversos momentos: na inauguração do Pavilhão Dom Geraldo Majela de Castro, em 21 de dezembro de 1994, com o Troféu Irmã Beata, Comenda Amigos da Santa Casa, Troféu Família Santa Casa, Torneio de Futebol Society Dom Geraldo Majela de Castro e com foto oficial na Galeria de Bispos, localizada na Sala da Provedoria.


Convidados


DOLOROSO ADEUS
A HAROLDO LÍVIO

Fonte: Raquel Mendonça


No coração, a dor profunda do adeus ao grande amigo, mais que amigo, irmão, Haroldo Lívio. A sua tristíssima partida, da qual só tive notícia através do artista plástico e amigo Hélio Brantes, quase às 22h00 de sábado, dia 02 (estávamos ausentes da cidade no dia 1°), e porque o contato telefônico nosso (entre eu e ele ou eu e Maria do Carmo, Duca) mais frequente, era o da Secretaria de Cultura, na sexta-feira fechada. Duca me disse hoje foram muitas as tentativas infrutíferas de me falar. O que importa mesmo, no entanto, lembrou, foi eu ter participado tanto do convívio familiar, não somente aqui, mas também na bela casa da família em Grão Mogol, junto a Ana Bárbara, que o admirava muito também e por quem tinha grande carinho. Ela se encontrou com ele recentemente, na entrada da Secretaria de Cultura quando ele saia, depois de mais uma preciosa visita ao nosso setor e, em meio a cumprimentos, conversa gentil, cortês, afetuosa, ele falou alegremente, de forma bem humorada, palavras que acabam inesquecíveis.

Liguei para Magnus Medeiros, amigo comum, no sábado, e ele, que tanta força e apoio proporcionou à família antes e depois, relatou-me os fatos. Disse-me optou por não me avisar, porque sabia quanto ficaria abalada. E concluímos que Deus sabe o que faz, porque não sei se suportaria - embora lamente muito não ter podido estar lá o tempo todo - despedir-me dele pessoalmente, em sala da Santa Casa, que em nada lembra o seu lar cheio de vida, verde, arte e beleza, distribuídos por todos os cantos e recantos, de forma harmoniosa e aprazível, por Duca. A bela casa no Todos os Santos sempre decorada, em momentos especiais ainda mais, com o extremo bom gosto e habilidade artística da amada esposa e mãe de três filhas de ouro, Clarissa Mônica, Fabíola e Luciana, a mais nova e que vinha levando o pai ao
Cartório que mantém em Porteirinha, depois de algumas delicadas intervenções cirúrgicas pelas quais ele passou. Falando em Haroldo e Duca, foram quarenta e oito anos de uma união exemplar, cercada pelas graças e bênçãos de Deus e pelo amor, desvelo, vigilância, cuidado e carinho extremados de Maria do Carmo, que se esquecia, muitas vezes, de si mesma, a partir das primeiras horas da manhã, para zelar por tudo que a ele dizia respeito, desde os remédios às refeições, auxiliada de perto pelas filhas, chegando a se levantar oito, dez vezes à noite, para ver como ele estava, para resolver o que faltara; para pensar, detalhar e programar o que fazer por ele e para ele no dia seguinte!...

No coração a dor, na mão, “Nelson Vianna, O Personagem” (Matéria de Jornal) - Edições Cuatiara -, dedicado aos seus queridos pais José Luiz e Dalva (in memoriam), exemplar que dele recebi em 18.06.1996: “Para a querida amiga Raquel, com o maior apreço e admiração, oferece o autor”. O Prefácio de jornalista do valor de um Oswaldo Alves Antunes, de cujo O Jornal de Montes Claros saiu a seleção de crônicas ali elaboradas e publicadas, lembra, o que também fica claro nas palavras sempre especiais de Waldyr Senna Batista. Oswaldo Antunes define: “Haroldo mostra em seu livro, às vezes com carinhosa ironia, outras com lirismo e saudade, a parte mais amena do labor jornalístico: relata casos, referencia pessoas e fatos históricos, como se lhe estivesse dando fé-de-ofício. (...)”, livro que contou com participação de Antologia da obra “Montes Claros - Sua história, sua gente, seus costumes”, do também grande e saudoso historiador Hermes Augusto de Paula (Minas Gráfica Editora - 2a. Edição - 1979).

Lá no alto Haroldo deve ter sido recebido, em seguida à bela, sublime e festiva cerimônia de entrada organizada pela comitiva celestial, cercada de seresteiros da terra a entoarem “Amo-te muito” e“O Bardo”, além de tantas outras belas (“As mais belas do mundo...”) modinhas de João Chaves, por nomes como Dr. Veloso, Urbino de Souza Vianna e Hermes de Paula, aos quais tocou a tarefa, segundo Haroldo Lívio em seu livro, de cadastrar, minuciosamente, todos os dados históricos registrados desde a fundação dos primeiros currais de gado, que deram origem à cidade. Ao lado deles, a também grande historiadora, recentemente falecida, aos 98 anos de idade, Ruth Tupinambá Graça, a nossa muito amada, querida e admirada Rutinha, que se foi logo após o grande “roqueiro de Moc”, poeta e compositor Elthomar, e o genial, musical “Sapo na Muda” ou seu parente apressado Peré. Sem contarem outros tantos amigos e familiares idos. Claro, ao lado deles, o cronista, justa e merecidamente homenageado, Nelson Washington Vianna, já a partir do comentário do autor: “... dificilmente surgirá alguém que possa sobrelevá-lo em seus méritos de estilista e observador arguto dos acontecimentos que fazem o cotidiano da vida encantadora de uma cidade.”

Nada melhor, pois, para lembrar e homenagear o grande cronista e extraordinário historiador que ora nos deixa, que transmutar Nelson Vianna, o Personagem, nas palavras de abertura do importante livro, no próprio Haroldo Lívio de Oliveira: “Como sempre acontece na vida real, um belo dia o autor deixa a pena e se muda em personagem, como acaba de suceder com o imortal Haroldo Lívio. Os sinos dobram finados anunciando o desaparecimento de uma das pessoas mais admiradas (...), - conhecidas e reconhecidas - de Montes Claros. Finou-se aos setenta e seis anos de idade, cercado do respeito e do reconhecimento ao valor de sua - vida e obra -, o notável escritor - e historiador - Haroldo Lívio de Oliveira, brasilminense de estirpe fidalga que dedicou toda a força de seu amor e sua inteligência de escolà missão de garimpar o nosso passado./Montes Claros o pranteia porque foi ele, sem nenhum favor, um dos autores mais lidos da literatura montes-clarense, entre todos que mourejaram nas letras, aqui residindo e recolhendo a história local da boca do próprio povo.”

Além disso, a Haroldo coube pesquisar a fundo a história da cidade! E ninguém melhor do que ele havia para relatá-la, fato a fato, data a data, personagem a personagem, de forma sempre fiel, precisa, inteiramente pertinente e profundamente fundamentada em fatos reais! Tanto que, volta e meia, junto a ele tirávamos dúvidas as mais diversas, muitas vezes em atendimento a alunos de todas as séries e escolas, até mestrandos, doutorandos, de Montes Claros ou não, interessados em inúmeros nomes e acontecimentos que permearam a rica e pacífica - vezes conturbada, via Rua de Baixo versus Rua de Cima - história de Montes Claros, informando os seus telefones (fixo e celular) e endereço eletrônico a meia cidade e meia, para dirimirem dúvidas sobre os fatos históricos mais complexos, porque a ele “coube o laborioso e paciente recenseamento - histórico e cultural - de nossa Montes Claros de seu tempo (...) e (..) dos tempos de antanho”! Osvaldo Antunes completa, magistralmente: “... e dizer que através da janela desse Nelson Vianna, o Personagem, nós, retirantes do tempo, contemplaremos paisagens humanas vivenciadas ou cuidadosamente pesquisadas por Haroldo Lívio, - também memorialista de primeiraágua -, que se coloca entre seu personagem Nelson Vianna e seu quase conterrâneo Niquinho Teixeira, de memórias análogas.”

Aqui deixou Haroldo, além de sua maravilhosa família, inconformados, milhares de admiradores e amigos, entre os quais eu e minha filha nos incluímos! Era um ser humano excepcional, querido por todos que o conheciam, liam ou dele recebiam sempre as mais corretas e completas informações históricas ou lições. A ele encaminhávamos muitos e muitos, quando os questionamentos ultrapassavam as fronteiras de nosso tempo e conhecimento.

Agora o que fazer, além de reverenciar para sempre o seu imenso legado, o seu nome, trabalho e história honrados, inapagados?! Quando alguma dúvida surgir ou faltar algum dado precioso para compor mais de trezentos anos de história montesclarina, restar-nos-á olhar para os céus e pedir a ele, piedosamente, lance as informações em forma de gotas ou chuvas de sabedoria - que tinha de sobra!! - pelas janelas a ele abertas do paraíso, e que se materializarão, como por milagre, aqui na terra, em mentes e corações preparados para espiritualmente recebê-las.

Obrigada por ter existido em nossas vidas (e trabalho) amigo
Haroldo! Não estava autorizado a nos deixar tão cedo - eu lhe cobrei
muitas vezes a mais longa “vida longa” ou longevidade do mundo! -,
mas Deus haverá de dar à sua família e amigos sinceros e verdadeiros
toda a força, fé, conforto e consolo necessários, para aprenderem a
viver sem a sua presença apenas física, porque, não há dúvida, você
continua mais vivo e mais amável do que nunca entre nós, eternamente
encantado e preparado para contar e recontar, todo o tempo,
histórias memoráveis, antológicas, inesquecíveis da cidade que teve a
honra de tê-lo como um de seus filhos mais ilustres, insignes, sérios,
corretos e éticos!...

Sei que se foi excepcionalmente bem composto, sob todos os aspectos, trajado, arrumado, nos mínimos detalhes (o terço branco da pureza entre as mãos...), para uma grande festa de gala e louvor eternos nos céus, como poucos no mundo o são, mais um mérito da esposa Duca, e sob o som de todos os cânticos, credos e orações (agrande cantora lírica Maristela Cardoso estava lá!), ao lado de nomes como Dona Yvonne de Oliveira (Centenária) Silveira - Salve “Olintho da Silveira Setentão”, uma de suas belas e brilhantes crônicas-, que o homenageou em poéticas, harmoniosas, emocionadas palavras e ao segurar, firmemente, alça do seu último berço; Maria Luiza Silveira Telles, a nossa extraordinária escritora, país e mundo afora; o amigo de longa data Paulo Narciso, que, soube, regou o tronco de uma árvore com suas lágrimas de dor e adeus, e tanta gente mais, porque você queria e teve prá lá de “um milhão de - fiéis e devotados - amigos!”

Adeus então, como em crônica falou ao seu pai super-herói, o montes-clarense da atual Rua Gonçalves Figueira, parte do Centro Histórico da cidade, José Luiz de Oliveira, Imperador do Divino das Festas de Agosto de Montes Claros, sonho irrealizado de Darcy Ribeiro! Adeus então, querido e sábio companheiro de trabalho de cunho histórico, admirável e inesquecível Irmão-Amigo, a quem, não por acaso, eu chamava “Mestre” e lhe beijava a mão na despedida, após conversas próximas ou no Café Galo, bem como no setor de Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros, por tudo que era e reuniu sobre a verdadeira história da cidade, cujos filhos, legítimos ou legitimamente adotivos ou afetivos, o aplaudem, longa e sonoramente e, penhoradamente, agradecem-lhe toda a atenção, interesse e ensinamentos, para sempre e alegremente em pé, embora chorando a perda de um mestre e amigo insubstituível!...

É realmente incalculável a sua contribuição à cultura, história, literatura e imprensa do município e região! Muito ainda haveria a dizer ou destacar sobre você, mas só não podemos, neste momento, deixar de dizer, alto e bom som:
Viva Haroldo! Viva!...



LIVROS PUBLICADOS
1º semestre de 2015


Crônicas Históricas de Montes Claros
Dário Teixeira Cotrim

A jornada literária de Dário é árdua, marcada pelo seu empenho em “conhecer, valorizar e divulgar” fatos e personagens, proporcionando-lhe prazer (apelidado por ‘vaidade’) fazendo jus ao seu garimpar as fontes, objetivando resgate histórico.

Zoraide Guerra David

 



Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@hotmail.com
Telefax: (38) 3221-6790