Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros

Fundado em 27 de Dezembro de 2006

VOLUME IX

MONTES CLAROS
MINAS GERAIS – BRASIL
2012

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, nos termos de seu Estatuto, tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte Mineira, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.


COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007


Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Jornalista LUIS RIBEIRO
Dr. WANDERLINO ARRUDA


DIRETORIA 2012- 2014

PRESIDENTE DE HONRA Dr. Luiz de Paula Ferreira
PRESIDENTE Dr. Itamaury Telles de Oliveira
1º VICE - PRESIDENTE Dr. Wanderlino Arruda
2º VICE - PRESIDENTE Dr. Dário Teixeira Cotrim
DIRETOR EXECUTIVO Dr. Petrônio Braz
DIRETOR-SECRETÁRIO Dr. Manoel Messias de Oliveira
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO Drª Maria da Gloria Caxito Mameluque
DIRETOR DE FINANÇAS Coronel Lázaro Francisco Sena
DIRETOR DE FINANÇAS ADJUNTO Dr. Adnauer Denarte Dávila
DIRETORA DE PROTOCOLO Profª Felicidade Patrocínio
DIRETORA CULTURAL Profª Maria Luiza Silveira Teles
DIRETORA DE BIBLIOTECA Profª Marta Verônica Vasconcelos Leite
DIRETORA DE MUSEU Economista Roberto Carlos Morais Santiago
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
DIRETORIA DE JORNALISMO Jornalista Luiz Carlos Vieira Novaes
DIRETORA DE CURSOS Profª Ivana Ferrante Rebelo e Almeida

Nota da Coordenação

A ordem de publicação dos artigos dos sócios efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes. A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidas em artigos publicados. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.


CONSELHO CONSULTIVO

Prof. Juvenal Caldeira Durães
Drª Maria Fernanda M. Brito Ramos
Escritora Milene A. Coutinho Maurício
Profª Ruth Tupinambá Graça
Dr. Waldyr Senna Batista
Profª Yvonne de Oliveira Silveira

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Prof. Ivo das Chagas
Profª Anete Marília Pereira
Profª Maria Aparecida Costa

COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Profª Marta Verônica Vasconcelos Leite
Prof.. César Henrique de Queiroz Porto
Profª Felicidade Patrocínio

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA

Profª Maria Inês Silveira Carlos
Profª Cláudia Regina Almeida

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIO
S

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Profª Míriam Carvalho
Dr. Wandelrino Arruda
Profª Zoraide Guerra David

COMISSÃO DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO

Dr. Petrônio Braz - Coordenador
Profª Marta Verônica Vasconcelos Leite
Dr. Wanderlino Arruda
Prof. Juvenal Caldeira Durães

COMISSÃO REVISORA DA REVISTA

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Cel. Lázaro Francisco Sena
Dr. Wandelrino Arruda


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Dr José Santos Rameta Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Escritora Milene A. Coutinho Maurício Alfredo de Souza Coutinho
03
Padre Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Cel. Lázaro Francisco Sena Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Profª Yvonne de Oliveira Silveira Antônio Ferreira de Oliveira
06
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Professora Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Professora Anete Marilia Pereira Antônio Jorge
09
Professora Isabel Rebelo de Paula Antônio Lafetá Rebelo
10
Professora Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Vaga Ary Oliveira
12
Dr Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Dr Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Professora Karla Celene Campos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Jornalista Magnus Denner Medeiros Ataliba Machado
16
Dr Waldir de Senna Batista Athos Braga
17
Profa. Marta Verônica Vasconcelos Leite Auguste de Saint Hillaire
18
Dr Petrônio Braz Brasiliano Braz
19
Dr Luiz de Paula Ferreira Caio Mário Lafetá
20
Professora Felicidade Patrocínio Camilo Prates
21
Profa.Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Vaga Carlos Gomes da Mota
23
Historiador Hélio de Morais Carlos José Versiani
24
Vaga Celestino Soares da Cruz
25
Dr Ronaldo José de Almentida Corbiniano R Aquino
26
Profa. Maria Rejane Rodrigues Ruas Colares Cyro dos Anjos
27
Professora Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Jornalista Jerusia Xavier Arruda Darcy Ribeiro
29
Professora Filomena Luciene Cordeiro Demóstenes Rockert
30
Vaga Dona Tirbutina
31
Professora Clarice Sarmento Dulce Sarmento
32
Dr Edgar Antunes Pereira Edgar Martins Pereira
33
Dr Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Profa. Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35
Dr. Antônio Ferreira Cabral Ezequiel Pereira
36
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Dra. Jussara Veloso Ferreira Antunes Francisco Barbosa Cursino
38
Professora Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
Professor Ivo das Chagas Gentil Gonzaga
40
Drª Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Dr Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Professora Maria Luiza Silveira Teles Geraldo Tito da Silveira
43
Professor Benedito de Paula Said Godofredo Guedes
44
Economista Roberto Carlos M. Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Vaga Henrique Oliva Brasil
46
Professora Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Jornalista Paulo César Narciso Soares Hermenegildo Chaves
48
Profa. Maria das Dores Antunes Câmara Hermes Augusto de Paula
49
Vaga Irmã Beata
50
Jornalista Délio Pinheiro Neto Jair Oliveira
51
Dr José Carlos Vale de Lima João Alencar Athayde
52
Profa. Maria Isabel M. F. Sobreira João Chaves
53
Dr João Carlos M. Sobreira de Carvalho João Batista de Paula
54
Jornalista Adnauer Denarte Dávila João José Alves
55
Vaga João Luiz de Almeida
56
Dra. Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
Jornalista Luiz Carlos Novaes João Novaes Avelins
58
Profa. Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Jornalista Luiz Ribeiro dos Santos João Vale Maurício
60
Dr. Manoel Messias Oliveira Jorge Tadeu Guimarães
61
Jornalista Girleno Alencar Soares José Alves de Macedo
62
Profº José Geraldo de Freitas Drumond José Esteves Rodrigues
63
Vaga José Gomes Machado
64
Professora Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Dra. Maria de Lourdes Chaves José Gonçalves de Ulhôa
66
Arqueólogo Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Dr Elias Siuffi José Monteiro Fonseca
68
Professora Rejane Meireles Amaral José Nunes Mourão
69
Dr. Aderbal Esteves José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
Vaga José Tomaz Oliveira
71
Dra. Edwirges Teixeira de Freitas Júlio César de Melo Franco
72
Jornalista Theodomiro Paulino Correa Lazinho Pimenta
73
Dra. Maria das Mercês Paixão Guedes Lilia Câmara
74
Professor Laurindo Mekie Pereira Luiz Milton Prates
75
Vaga Manoel Ambrósio
76
Vaga Manoel Esteves
77
Profª Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Jornalista Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Professora Maria José Colares Moreira Mauro de Araújo Moreira
80
Vaga Miguel Braga
81
Prof. Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Dr Haroldo Lívio de Oliveira Nelson Viana
83
Vaga Newton Caetano d’Angelis
84
Dr Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
Historiador Expedito Veloso Barbosa Armênio Veloso
86
Professora Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Profa. Marta Edith Sayago M Marques Pedro Martins de Sant’Anna
88
Professora Miriam Carvalho Plínio Ribeiro dos Santos
89
Vaga Robson Costa
90
Vaga Romeu Barcelos Costa
91
Dr Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Professor Roberto Pinto Fonseca Sebastião Tupinambá
93
Dr Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Dr Luiz Pires Filho Teófilo Ribeiro Filho
95
Profa. Marilene Veloso Tófolo Terezinha Vasquez
96
Professora Ruth Tupinambá Graça Tobias Leal Tupinambá
97
Vaga Urbino Vianna
98
Vaga Virgilio Abreu de Paula
99
Vaga Waldemar Versiani dos Anjos
100
Professora Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

Sócios Correspondentes

Jornalista Adriano Souto Belo Horizonte - MG
Prof. Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas - BA
Jornalista Alberto Sena Batista Belo Horizonte - MG
Dr.André Kohene Caetité -BA
Prof. Regente Armênio Graça Filho Rio de Janeiro- RJ
Dr. Ático Vilas-Boas da Mota Macaúbas - BA
Dr. Augusto José Vieira Neto Belo Horizonte - MG
Dr. Avay Miranda Brasilia - DF
Jornalista Carlos Lindenberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Escritora Carmem Netto Victória Belo Horizonte - MG
Jornalista Cláudia Correia Costa Carvalho Luz - MG
Jornalista Cintia Bernes Belo Horizonte - MG
Historiadora Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Historiador Daniel Antunes Júnior Espinosas - MG
Historiador Dario Cardoso Vale Belo Horizonte - MG
Dr. Dêniston Fernandes Diamantino Januária - MG
Historiador Domingos Diniz Pirapora - MG
Historiador José Henrique Brandão Bocaiuca-MG
Historiador Paulo Costa Rio Pardo de Minas - MG
Historiador Pedro de Oliveira Várzea da Palma-MG
Dr. Enock Sacramento
São Paulo - SP
Dr. Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte - MG
Dr. Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte MG
Escritor Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Jornalista Genoveva Ruisdias Belo Horizonte - MG
Jornalista Geraldo Henriques (Riky Tereze) New York - USA
Prof. Herbet Sardinha Pinto Belo Horizonte - MG
Dr. Hermano Baggio Pirapora - MG
Jornalista Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
Jornalista João Martins Guanambi - BA
Dr. Jorge Lasmar Belo Horizonte MG
Dr. Leonardo Alvares da Silva Campos Belo Horizonte - MG
Prof. José Eustáquio Machado Coelho Belo Horizonte MG
Prof. Dr. Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
Dr. José Walter Pires Brumado - BA
Dr. Marco Aurélio Baggio Belo Horizonte MG
Profa. Dra. Maria da Consolação M. Figueiredo Cowen London - England
Prof. Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Jornalista Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Jornalista Manoel Hygino Santos Belo Horizonte - MG
Escritor Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Profa. Terezinha Teixeira Santos Guanambi - BA
Prof.Thiago Carvalho Makiyama Gunma-Ken - Japão
Prof. Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Historiador Zanoni Eustáquio Roque Neves
Belo Horizonte - MG

APRESENTAÇÃO

Esta nona edição da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros traz algumas inovações em seu aspecto gráfico e estrutural.

Os números anteriores mantiveram a mesma diagramação da capa, alterando, basicamente, a cor adotada em cada edição.

Como são sete as cores do arco-íris, embora sejam milhares as tonalidades derivadas, de nuances muito parecidas, resolvemos colocar um fim nessa fase e iniciar uma outra.

Doravante, as capas serão ilustradas com fotos de edificações importantes, na história de Montes Claros e da região norte-mineira, e que foram derrubadas, sem dó nem piedade, por motivações variadas.

Inauguramos a série com a foto do antigo mercado de Montes Claros, vetusta construção que conferia ar colonial ao centro da cidade.

Até hoje, a cidade lamenta e chora a perda da imponente obra arquitetônica, que tombou na gestão do ex-prefeito Antônio Lafetá Rebello, que projetara larga avenida passando justamente sobre o velho mercado.

Outra modificação em nossa Revista diz respeito a questão intestina do Instituto, porquanto serão destacados, nas páginas iniciais, os fatos marcantes da entidade e dos seus sócios, ocorridos no semestre anterior. Assim, contaremos a própria história do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, um dos mais prolíficos do gênero, com nove publicações, em menos de seis anos de existência.

Nesta edição, prestamos homenagem a um dos mais destacados jornalistas da imprensa mineira, que faleceu recentemente e deixou lacuna impreenchível em Montes Claros, onde residia desde 1951. Trata-se de Osvaldo Alves Antunes, que mereceu homenagens de jornalistas de prol da imprensa mineira, e de seus antigos companheiros de redação em Montes Claros - todos integrantes do quadro de associados do IHGMC: efetivos e correspondentes.

Além dessa homenagem, o leitor é premiado com novos e interessantes artigos, contemplando assuntos palpitantes da história e da geografia norte-mineiras.

Convém sejam destacados, nesses primeiros seis meses da nova administração do Instituto, dois fatos muito alvissareiros: o primeiro, foi a mudança da nossa sede, para sala cedida pela Secretaria Municipal de Cultura, no Centro Cultural Hermes de Paula; o segundo, a mudança da nossa biblioteca - com mais de 5 mil volumes -, para duas salas cedidas pela Superintendência de Ensino, junto à E.E. Prof. Plínio Ribeiro.

Essas conquistas, de há muito reivindicadas, só foram viabilizadas com a participação ativa de toda a diretoria do Instituto, aliada, evidentemente, à boa vontade do secretário Hamilton Trindade, da Cultura; de Robson Geraldo Figueiredo, superintendente de Ensino; e de Danilo Silva, diretor da E.E. Prof. Plínio Ribeiro. A todos eles rendemos nossos mais sinceros agradecimentos, pelo apoio e reconhecimento da importância do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, no cenário regional.

Itamaury Teles de Oliveira
Presidente do IHGMC


 


HOMENAGENS PÓSTUMAS A SÓCIOS


Historiador João Botelho Neto
1932 - 2007


Cônego Adherbal Murta de Almeida
1921 - 2008


Poeta Reivaldo Canela
1933 - 2008


Escritor Olyntho da Silveira
1909 - 2009


Necésio de Morais
1922 - 2010


Ájax Tolentino
1940 - 2012


Reginauro Silva
1950 - 2012


Fernanda Ramos
1928 - 2012

 

EPITÁFIO

Para um túmulo de amigo

“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”.

(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)


 

Empossada nova diretoria do Instituto Histórico e
Geográfico de Montes Claros


Itamaury Teles recebe a presidência do IHGMC do seu antecessor, Dário Cotrim,
tendo ao lado o primeiro presidente da entidade, Wanderlino Arruda

No dia 27 de dezembro de 2011, no salão de festas da Associação Atlética Banco do Brasil (AAAB), foi empossada a nova Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC) para a gestão 2012/2013, tendo como presidente o jornalista e escritor Itamaury Teles de Oliveira.

Durante a solene cerimônia, o historiador e ex-presidente Dário Teixeira Cotrim, que presidiu o Instituto Histórico e Geográfico no período 2010/2011, destacou as principais ações implementadas durante a sua gestão e lembrou a atuação brilhante do ex-presidente
Wanderlino Arruda.

Lembrou o ex-presidente Dário Cotrim que o Instituto, em sua gestão, recebeu o acervo bibliográfico de Simeão Ribeiro, que foi instalado em sua sede, com a criação do Museu e da Biblioteca do Instituto, com o nome Casa de Simeão Ribeiro, sendo que o Departamento de História recebeu o nome do historiador Brasiliano Braz, e o Departamento de Geografia o nome de Arthur Jardim de Castro Gomes.

Lembrou o ex-presidente Dário Cotrim que o IHGMC tem o reconhecimento do povo montes-clarense, mas esse reconhecimento
por si só não basta, é necessário que receba a atenção e o apoio dos administradores públicos (prefeitos e vereadores). O IHGMC é uma entidade séria, não visa lucros e depende na atualidade tão somente da boa vontade de seus associados. Tem feito importante trabalho de resgate histórico, preservando a memória da cidade e da região. O ex-presidente desenvolveu ações para a instalação definitiva do Instituto, fundado em dezembro de 2006. Entre outras providências, houve o registro de todos os documentos da fundação da entidade.

Ao tomar posse, o novo presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros fez um relato sobre o papel da entidade e destacou o trabalho realizado por seus antecessores.

Itamaury Teles de Oliveira falou das suas metas à frente do IHGMC, esclarecendo que pretende, com a ajuda dos membros da Diretoria e de todo o corpo social, empreender gestões no sentido de consolidar a Entidade, para que possa participar mais ativamente dos assuntos a ela ligados.

Afirmou que pretende, como uma de suas prioridades à frente do Instituto, buscar espaço público que possa abrigar, convenientemente, o rico acervo bibliográfico, em área mais central, para disponibilizá-lo a pesquisadores e associados.

Anunciou o presidente Itamaury Teles que pretende buscar novas fontes de custeio para a edição da Revista do Instituto, aumentando a sua tiragem e disponibilizando-a aos diversos Institutos e Academias, às Universidades, às Prefeituras da região norte-mineira e ao público em geral. Observou que a produção intelectual dos membros do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros pode servir de referência para os estudantes das nossas escolas públicas e privadas, para melhor conhecerem os fatos históricos e geográficos da nossa extensa e rica região.


Instituto Histórico recebe homenagem do colunista
Theodomiro Paulino

No dia 26 de maio, em noite de gala no Automóvel Clube de Montes Claros, O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS foi o destaque no setor Cultural, tendo recebido, por meio do seu presidente Itamaury Teles, o troféu Vitória Alada e o diploma de PERSONALIDADE DO ANO DO NORTE DE MINAS - 2012. A tradicional promoção é do colunista social Theodomiro Paulino (membro efetivo do IHGMC), que há mais de 40 anos homenageia, depois de rigorosa seleção, profissionais liberais e entidades que mais se destacaram no ano.


O presidente da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais, Deputado Dinis Pinheiro,
entrega o diploma ao presidente do IHGMC,
Itamaury Teles


Wanderlino Arruda (vice-presidente do IHGMC),
Itamaury Teles (presidente do IHGMC)
e o colunista Theodomiro Paulino (promotor da festa de homenagem)


Sócio do IHGMC entre os 200 jornalistas brasileiros
mais premiados de todos os tempos


O jornalista Luiz Ribeiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros (IHGMC), repórter dos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, está
entre os 200 jornalistas brasileiros mais premiados de todos os tempos.

Após amplo estudo realizado pela agência de noticias “Jornalistas & Cia”, e pelo Instituto Corda, baseado em registros de material pesquisado sobre os principais prêmios concedidos aos jornalistas brasileiros até hoje, foi elaborado “ranking” dos grandes nomes do jornalismo brasileiro. Luiz Ribeiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, figura na posição 115 e é o único jornalista mineiro em atividade em jornal diário a constar no estudo.

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC), Itamaury Telles de Oliveira, destaca a importância da inclusão do profissional de Montes Claros na seleta lista. “Para o IHGMC é motivo de orgulho que um dos nossos membros figure em uma lista tão distinta de nomes de expressão nacional. Luiz Ribeiro é um membro efetivo e um dos fundadores do Instituto. Ter um profissional do seu nível incluído numa relação de alto nível, elaborada a partir de ampla pesquisa, reforça o aspecto criterioso de seleção que o nosso Instituto vem fazendo para a indicação dos seus sócios efetivos. Sem dúvida, esse fato engrandece e orgulha a nossa entidade”, avalia Itamaury.

Para o vice-presidente do IGHMC, Wanderlino Arruda, a inclusão do nome de um jornalista de Montes Claros em uma lista tão importante é uma conquista para a cidade e toda a região. Wanderlino disse ainda que, para o Instituto, o feito é uma realização, pois ter um membro com tamanha notoriedade é uma honra e uma forma de levar
o nome da região para todo o Brasil. “Essa indicação veio apenas coroar o grande trabalho do jornalista Luiz Ribeiro e, mais uma vez, comprovar sua competência e seu talento”, disse Arruda, que também é ex-presidente e foi um dos fundadores do IHGMC.

PREMIAÇOES - A inclusão de Luiz Ribeiro na lista dos “200 Mais Premiados Jornalistas Brasileiros de Todos os Tempos” não foi por acaso. O jornalista, que nasceu em Francisco Sá e mora em Montes Claros desde a infância, já soma 26 prêmios de jornalismo, por trabalhos individuais e elaborados em equipe. Entre outras premiações, ele já faturou os Prêmios Fiat Allis/New Holland, Airton Senna e, por duas vezes, o Premio Esso, um dos que mais valem nos critérios na pesquisa do Instituto Corda e da agência Jornalistas & Cia. A mais recente conquista do repórter de Montes Claros foi o primeiro lugar no 5º Premio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público 2011, com a série de reportagens “Água de Beber”, que ganhou juntamente com as repórteres Alessandra Mello e Juliana Cipriani, no último dia 7 de dezembro, na sede da Academia Mineira de Letras, em Belo Horizonte.

“Sinceramente, a inclusão na lista dos 200 mais premiados jornalistas de todos os tempos foi uma surpresa para mim. Tanto é que quando uma colega de Belo Horizonte me mandou um email, me cumprimentando, respondi dizendo que era brincadeira dela. Mas, depois, foi comunicado oficialmente. Fico feliz por saber que foi resultado de um estudo bem feito, acadêmico mesmo. Acho que isso valoriza o jornalismo e, sobretudo, o setor de comunicação do Norte de Minas e de Minas Gerais”, afirma Luiz Ribeiro.


Destaque na imprensa baiana

JOSÉ WALTER É EMPOSSADO NO IHGMC
Do jornal Brumado Notícias


O sociólogo e cordelista foi empossado no cargo de sócio-correspondente no IHG/ MOC.
(Foto: Kauê Souza/Brumado Notícias).

A nova diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHG/MOC) foi empossada nesta terça-feira (27), em evento realizado no salão de festas da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Para a gestão de 2012/2013, além do presidente, Itamaury Teles de Oliveira, grande escritor e jornalista, também foi empossado
no cargo de sócio-correspondente o sociólogo e cordelista brumadense, José Walter Pires. Na cerimônia, o novo presidente falou sobre o papel da entidade e sobre as suas metas para promover o importante trabalho realizado no Instituto. “Pretendemos, com a ajuda dos membros da diretoria e de todo o corpo social, empreender gestões no sentido de consolidar a entidade, para que possamos participar mais ativamente dos assuntos a ela ligados”, afirmou ao Jornal A Tarde. Nesse sentido, Oliveira também discorreu acerca do novo espaço público que buscará com vistas a abrigar o rico acervo bibliográfico do Instituto em área mais central e sobre novas fontes de custeio para a edição da revista que divulga o trabalho da instituição na região, aumentando a sua tiragem. Dessa forma, a produção intelectual dos membros do Instituto servirá de referência para muitos estudantes. Por isso, a equipe do Brumado Notícias parabeniza José Walter por mais essa conquista, que proporciona o merecido reconhecimento do trabalho realizado pelo sociólogo em Brumado e região. Afinal, é mais um brumadense alcançando destaque nacional.


Novos sócios

Na sessão de posse da nova diretoria (2012/2013), vários novos
associados tomaram posse: Aderbal Esteves - Cadeira nº 69 - Patrono: José (Juca) Rodrigues Prates Júnior; Adnauer Denarte Dávila - Cadeira nº 54 - Patrono: João José Alves; Ajax Amaral Tolentino - Cadeira nº 22 - Patrono: Carlos Gomes Mota; Antônio Ferreira Cabral - Cadeira nº 35 - Patrono: Ezequiel Pereira; Délio Pinheiro Neto - Cadeira nº 50 - Patrono: Jair Oliveira; Edwirges Teixeira de Freitas - Cadeira nº 71 - Patrono: Júlio César Melo Franco; Expedito Veloso Barbosa - Cadeira nº 85 - Patrono: Armênio Veloso; Ivana Ferrante Rebelo - Cadeira nº 56 - Patrono: Luís Machado Lafetá; Jerúsia Arruda - Cadeira nº 28 - Patrono: Darcy Ribeiro; Jussara Veloso Ferreira Antunes - Cadeira nº 37 - Patrono: Francisco Barbosa Cursino; Manoel Messias de Oliveira - Cadeira nº 60 - Patrono: Jorge Tadeu Guimarães; Maria Ângela Figueiredo Braga - Cadeira nº 58 - Patrono: João Souto; Maria das Dores Antunes Câmara - Cadeira nº 48 - Patrono: Hermes Augusto de Paula; Maria Rejane Rodrigues Colares - Cadeira nº 27 - Patrono: Cyro dos Anjos; Marilene Veloso Tófolo - Cadeira nº 95 - Patrono: Terezinha Vasquez; Ronaldo José de Almeida - Cadeira nº 25 - Patrono: Corbiniano R. d’Aquino; Terezinha Gomes Pires - Cadeira nº 21 - Patrono: Cândido Canela.

Novas propostas de pretendentes encontram-se em análise na Comissão de Classificação e de Admissão de Sócios. Sete novos sócios já tiveram aprovados seus nomes, após pareceres favoráveis da CCAS, devendo ser empossados brevemente.


Flagrantes das nossas reuniões no semestre
Reunião de janeiro (15.01.2012)


Em pé: Itamaury Teles, Cel. Lázaro Senna, Roberto Carlos Santiago, Luís Carlos
Novaes, Roberto Pinto, Wanderlino Arruda e Manoel Messias Oliveira. Assentadas:
Rejane Colares, Jerúsia Arruda, Glorinha Mameluque, Geralda Magela Almeida e
Marilene Tófolo.

 

Reunião de fevereiro (26.02.2012)

Em pé: Dário Cotrim, Roberto C. Santiago, Haroldo Lívio, Expedito Barbosa, Ájax
Tolentino e Manoel Messias. Assentados: Petrônio Braz, Marilene Tófolo, Felicidade
Patrocínio, Wanderlino Arruda e Itamaury Teles.

 

Reunião do mês de março (18.03.2012)
Em pé: Itamaury Teles, Manoel Messias, Cel. Lázaro Senna, Juvenal Caldeira, Ájax
Tolentino, Luís Novaes, Dário Cotrim, Petrônio Braz e Expedito Veloso Barbosa.
Assentadas: Clarice Sarmento, Zoraide Guerra, Filomena Cordeiro, Jerúsia Arruda,
Felicidade Patrocínio, Maria Ângela Braga e Maria Luiza Silveira Teles

 

Reunião do mês de abril (15.04.2012)

Em pé: Haroldo Lívio, Cel. Lázaro Senna, Dário Cotrim, Denílson Meireles, Juvenal
Caldeira, Manoel Messias, Expedito Barbosa, Délio Pinheiro e Itamaury Teles.
Assentados: Ájax Tolentino, Marilene Tófolo, Marta Verônica, Zoraide David Guerra,
Palmyra Santos oliveira e Wanderlino Arruda.

 

Reunião do mês de maio (20.05.2012)


Em pé: Denílson Meireles, Aderbal Esteves, Ájax Tolentino, Petrônio Braz, Dário
Cotrim, Cel. Lázaro Senna, Délio Pinheiro e Wanderlino Arruda. Sentados: Palmyra
Santos Oliveira, Filomena Cordeiro, Marilene Tófolo, Maria Antunes Câmara, Marta
Verônica, Dorislene Araújo e Itamaury Teles.

 

Reunião do mês de junho (24.06.2012)


Juvenal Caldeira, Denise Prates, Manoel Messias, Marilene Tófolo, Filomena
Cordeiro, Mara Narciso, Ivo das Chagas, Itamaury Teles, Palmyra Santos Oliveira,
Geralda Magela Sena Almeida, Dário Cotrim, Wanderlino Arruda e Aderbal Esteves.


FATOS MARCANTES DO ÚLTIMO SEMESTRE

HOMENAGEM ESPECIAL AO JORNALISTA
OSWALDO ANTUNES

O jornalismo perdeu uma das suas figuras mais emblemáticas. No dia 11 de abril de 2012, aos 88 anos, encantou-se Oswaldo Alves Antunes. Durante muito tempo, dirigiu o vetusto “O Jornal de Montes Claros”, o mais lido e respeitado periódico da cidade, onde fez escola e formou gerações de jornalistas.

A sua guerra foi contra a incompreensão, os interesses subalternos da política, pois não compactuava com o que lhe ferisse princípios e a consciência profissional e pessoal. Legou exemplo de austeridade e independência, sendo, por isso mesmo, considerado o pai da moderna imprensa da cidade.

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, por meio de seus associados - muitos dos quais foram seus discípulos na arte da escrita - presta, nas páginas a seguir, uma justa e merecida homenagem ao Dr. Osvaldo, verdadeiro ícone do jornalismo montanhês.


Parabéns, Jornalista Oswaldo Antunes

Haroldo Lívio
Cadeira nº 82
Patrono: Nelson Viana

Parabéns por tudo que tem feito na vida, por tudo que escreveu até agora, pela prosa escorreita e pela poesia que reluta em mostrar, apesar dos elogios recebidos de Alphonsus de Guimaraens Filho. Principalmente parabéns por estar alcançando hoje, 21 de outubro de 2009, em pleno gozo de saúde e de bem com o mundo, a idade bíblica de 85 anos, dos quais mais de 60 dedicados a uma das mais completas carreiras no jornalismo, que pode colocá-lo em pé de igualdade com os nomes mais conhecidos e festejados da imprensa brasileira.

Não há nenhum excesso neste comentário sobre a trajetória profissional de um jornalista que fez sua caminhada num jornal do interior, O Jornal de Montes Claros, deixando de atuar nos órgãos do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, onde se consagra a carreira e para onde vão os jovens que ambicionam o sucesso e a fama. Você se contentou com a reputação adquirida na imprensa de Belo Horizonte, na cobertura política, em período de efervescência nacional, após a redemocratização, na década de 1940, e tomou a decisão de retornar às origens sertanejas, no momento em que deveria ter se transferido com armas e bagagens para a metrópole. Foi este o rumo tomado por seus colegas de redação, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino, Alphonsus Filho e tantos que tomaram o trem Vera Cruz e foram brilhar no Rio.

Dá para acreditar no destino. Bandeira fala da “vida que poderia ter sido e que não foi.”, que não é o seu caso, conforme relata em seu livro de memórias. Aconteceu que foi flechado por Cupido e trocou o sucesso pela felicidade. Apaixonado por uma beldade loura, mandou o jornal às favas, tendo decidido casar e abrir uma banca de advocacia em Montes Claros. Queria apenas ser feliz e acertou na escolha de seu par, dona Inilta, sua companheira da vida inteira e musa inspiradora.Juntos, trabalhando lado a lado, comungando os mesmos pensamentos, constituíram bela família de que muito se orgulham. Realmente, foi melhor do que ter ido para o Rio.

A advocacia durou pouco, e o jornalista teve uma recaída, Comprou
o jornal, que circulou de 1951 a 1990, funcionando como um baluarte na defesa das reivindicações mais destacadas da comunidade. Nas grandes crises, abria as baterias e fustigava as autoridades competentes buscando soluções para as necessidades prementes, como ocorreu na década de 1950, com a falta de luz.A campanha cívica que desaguou na candidatura única de Antonio Lafetá Rebello para a prefeitura, em 1966, e mudou os rumos da história política e administrativa de Montes Claros, abrindo um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social, foi concebida e gestada de sua pena flamejante.Houve outras campanhas memoráveis, merecendo destaque a moralização do tribunal do júri, que fez de Montes Claros uma cidade finalmente civilizada. Anteriormente, nossos jurados, submetidos ao domínio dos caciques políticos, absolviam até cangaceiro, como aconteceu em 1930, no julgamento do famigerado Rotílio Manduca, com muitas mortes nas costas e merecedor da pena máxima.

O jornalista corajoso, que não teme cara feia, que caminha em cima da fumaça, realizou esta obra desafiando forças poderosas, até sucumbir com o fechamento do jornal, para não interromper a tradição de independência e dignidade conquistada em quatro décadas de circulação.


Croniquinha proposital

Haroldo Lívio
Cadeira nº 82
Patrono: Nelson Viana

Atenção, amigo leitor, por acaso, você já foi chamado alguma vez de poeta? Talvez você ainda desconheça o poeta que traz escondido dentro de seu (pobre) coração. De médico, poeta e louco, todos nós temos um pouco, diz o adágio. Certa vez, o historiador Hermes de Paula, que era médico e gozava de boa saúde, contou-me, em entrevista, achando muita graça, ter sido chamado de poeta pelo folclorista Câmara Cascudo. Ao que se sabe, até aqui, o privilégio de ser tido nesta alta conta é de Drummond, é de Bandeira, Vinícius.

O Brasil é muito rico em jazidas de minérios, de pré-sal e de lirismo puro; em cada esquina você pode ter a felicidade de bater um papo com um poeta. Gente assim, inspirada, sentimental, sofredora, não tem estrela na testa indicando que se trata de um bardo à disposição de quem seja capaz de saborear um favo de poesia, que é doce que nem mel, quando fala de amor; e amargo que nem fel, quando chora um desengano. Antigamente, os poetas eram ouvidos e queridos, havendo alguns que diziam ouvir e entender estrelas. Porém, a poesia ainda anda por aí, no meio da rua, por toda parte, feito nuvem de chuva no céu, feito tarde de sol no estio, com cigarras cantando, sem que o sujeito, absorvido pelo cotidiano esterilizante, possa abrir um intervalo de admiração para contemplar a simplicidade encantadora da vida. Aponto o exemplo do intrépido jornalista Oswaldo Antunes que, em mais de meio século de serviço ativo e producente, construiu imagem de ser exclusivamente homem de imprensa, de agenda cheia, que não teria tempo para vagar por aí, tocando viola e versejando, à luz da lua merencórea.

No entanto, depois de aposentado e com o livro de memórias publicado, retira a máscara de audaz articulista para exibir sua verdadeira face de trovador renascentista, revelando, neste volume, a face preponderante de sua alma de artista. Intitulou sua obra poética de “Estrela final”, dando por encerrada a produção do menestrel, o que não pode ser verdade. Assim como passou a vida inteira incógnito, sem permitir sua identificação como poeta de primeira categoria, apresentando-se apenas como o mestre insuperável da prosa jornalística, suspeita-se de que esteja ocultando matéria já pronta, para encher outros volumes de poesia de alta voltagem. O futuro confirmará esta desconfiança. Por cautela, é aconselhável ficar de olho nele: tem que publicar.

Retornando ao título, perguntaria como explicar a presença desta prosaica croniquinha, mero subgênero literário, ocultada dentro deste ramalhete de versos trabalhados com o suor do criador e perfumados com a pureza de suas essências raras. Cartas para a Redação do O Jornal de Montes Claros.

(Este texto foi aprovado pelo saudoso poeta para a “orelha” de “Estrela Final”)


Doutor Oswaldo, um Mestre

Itamaury Teles
Cadeira nº 84
Patrono: Newton Prates


O jornalismo mineiro perde uma das suas figuras mais emblemáticas. No dia 11 de abril, aos 88 anos, encantou-se Oswaldo Alves Antunes. Durante muito tempo, dirigiu o vetusto “O Jornal de Montes Claros”, o mais lido e respeitado periódico da cidade, onde fez escola e formou gerações de jornalistas, direta ou indiretamente.

Tive a honra de integrar o corpo de repórteres desse jornal, a partir de junho de 1971, numa velha casa avarandada, na Rua Dr. Santos, 104. Guardo ótimas recordações desse tempo, pois significou para mim um rito de passagem. De jovem imberbe, chegado de Porteirinha, aos 16 anos, extremamente tímido, para um repórter policial que incomodava.

O “Doutor Oswaldo”, como o chamávamos, era figura distante, sisuda, para os “focas” como eu. Ele só aparecia ao jornal uma vez por semana, pois já havia feito seu sucessor, o Waldyr Senna Batista, secretário de redação. Chegava, cumprimentava os repórteres, e se dirigia à sala do Waldyr. Depois, ia para a sala dele, contígua à redação, e ali, vez ou outra, redigia um editorial, que causava impacto na cidade. Tínhamos por ele respeito reverencial. Era uma eminência parda, um jornalista paradigma, que sabia de todos os meandros da profissão. Um mestre dos mestres.

Sabíamos que ele passara, em sua juventude, por prestigiosos jornais da Capital mineira, e de lá voltara - após formar-se em Direito
- para fazer jornalismo diferente, profissional, na Montes Claros dos anos 50, comandada pelos “coronéis”.

Enfrentou, com altivez, os poderosos de plantão. Destemido, não se curvava ante as ameaças de “empastelamento” da tipografia do jornal. Infundiu em todos nós, pelo exemplo, a busca incessante pela
verdade dos fatos e o equilíbrio sensato no texto objetivo e isento de adjetivos e de paixões sectárias. Naquela redação, falava mais alto os interesses pelo progresso de Montes Claros.

Lembro-me de dois episódios ocorridos comigo, em que o Doutor Oswaldo esteve ao meu lado. O primeiro, quando chegou novo delegado à cidade. Nessa época, os delegados eram coronéis da Polícia Militar, e não bacharéis em Direito. A primeira decisão do delegado foi não mais permitir que eu ali atuasse como repórter, pois
era menor de idade. Quando soube, o Dr. Oswaldo ligou para o delegado, de forma firme, dizendo que o jornal não se curvaria à sua
decisão. E eu continuei a fazer o meu trabalho.

Noutra oportunidade, escrevera matéria criticando a forma truculenta com que alguns presos eram tratados por um determinado sargento. Desgostoso com nosso comentário, esse policial, em uma festa no Clube Montes Claros, ao passar por mim, deu-me um “chega pra lá” com o ombro, que quase me derruba. Levei o assunto à direção do jornal. Mais uma vez, o Dr. Oswaldo não se omitiu, exigindo do comando do 10º. Batalhão o enquadramento disciplinar do agressor.

Depois de grande ausência da cidade, por razões profissionais, volto e reencontro o velho mestre, no Café Galo. Acabamos por estreitar amizade, em prosas contemplando assuntos os mais variados. Passei a conhecer um outro Oswaldo Antunes, mais afável, mais sensível, de inteligência privilegiada.

Nos lançamentos dos meus livros, sua presença era sempre notada. Prestigiou-me em minha posse na Academia Montesclarense de Letras e, recentemente, no lançamento do meu “Balangador de rede”, mesmo apoiado em uma providencial bengala.

Quando pensou em publicar seu primeiro livro, intitulado “A tempo”, mandou-me os originais. Fiquei encantado com a elegância do seu texto escorreito, no qual não se acrescenta, nem se retira, uma vírgula sequer.

Ajudei-o, como pude, nas tratativas junto à Editora O Lutador, de Belo Horizonte, que edita os meus livros. Ele ficou muito satisfeito com a qualidade do resultado final do seu livro de estreia.

Ultimamente, Oswaldo Antunes só falava de poesia. Reservado, alinhavava poemas e tinha receio em publicá-los, confidenciou-me. Depois de muito insistir, mandou-me, a título de “tira-gosto”, alguns poemas do seu novo rebento - Estrela final - para a minha apreciação. Faz pouco mais de um mês.

Li e deleitei-me com seus poemas. Profundos, sensíveis, sonoros, bem escritos.

Há quinze dias, mandei-lhe meus comentários elogiosos. E mais: sugeria ao velho mestre que buscasse parceria para musicar seus poemas. Mas que o fizesse com critério, por meio de maestro competente, para não jogar “pérolas aos porcos”.

Semana passada, soube que Oswaldo Antunes procurou-me no Café Galo. Queria conversar comigo. Mas, com viagem agendada, fui à praia e, depois, pescar no São Francisco. Quando cheguei, recebi a triste notícia. Fiquei com assunto pendente com ele. Mas o céu pode
esperar.

Descanse em paz, mestre. Sou-lhe muito grato por tudo. Até qualquer dia.


 

Aconteceu perto de nós

Paulo César Narciso Soares
Cadeira nº 47
Patrono:Hermenegildo Chaves

Guardo na sala de direção da Rádio Montes Claros 98 FM documento emoldurado que melhor ficaria depositado, e reverenciado, nos arquivos dos momentos mais altos da imprensa mineira e brasileira, se este cuidado fosse comum entre nós.

São as folhas originais do editorial de fechamento de um jornal de província. No caso, o “O Jornal de Montes Claros”, que circulou por 38 anos. Jornais, como pessoas, nascem, vivem e morrem, e assim dão sequência aos serviços da natureza como resumiu líder espiritualista mineiro.

Uma coisa distingue este jornal e o seu editorial de fechamento de quantos são conhecidos.

Na década de 80, o diretor Oswaldo Antunes, da mesma turma e linhagem de Edgar da Matta Machado, Alphonsus de
Guimaraens Filho, Otto Lara Resende, José Mendonça, Hélio Pellegrino e Milton Amado, percebendo que não mais poderia
sustentar o jornal com a altivez e correção de quatro décadas preferiu, ele mesmo, sufocá-lo. Matá-lo.

Produziu um documento primoroso. Raro. Extraordinariamente belo e alto. E, no gesto solitário, sereno, cortou o caminho que pudesse levar o jornal, como as pessoas, a sangrar em público e descer pela vida.

Oswaldo Antunes, assim como Wander Pirolli, Célius Aulicus, Fialho Pacheco, Hermenegildo (Monzeca) Chaves, Odair de Oliveira, Teódulo Pereira, Pedro Agnaldo Fulgêncio e muitos outros, fez escola. Deixou discípulos. Faleceu em 11 de abril, aos 88 anos. Entre as homenagens que recebeu juntou-se o minuto de silêncio que o Atlético Mineiro enviou-lhe na tarde ensolarada de domingo, ao saber que tinha em M. Claros, incógnito, um torcedor tão discreto quanto fervoroso e honrado.

Por muito tempo se lerá o editorial “Calar Antes do Fim”, entre a contrição do sagrado e a veneração discipular. Ensinava o mestre: “... o órgão de imprensa, como os órgãos da emoção e da inteligência humana, não podem viver apenas para sobreviver. E quando essa sobrevivência somente seria possível com a mancha do dinheiro fácil, a ser conseguida no campo da corrupção e da submissão dos ideais, é melhor parar antes de sujar as mãos e a consciência. (...)

Este jornal viverá enquanto forem lembradas suas lutas, enquanto aqueles rapazes e moças que passaram pela redação continuarem, em outros órgãos de imprensa, a exercer com bravura, independência e inquietação social, tudo que aprenderam nesta casa, que souberam honrar e amar mais do que a pequena remuneração que recebiam. (...)

Um jornal acaba menos por se calar com honra e mais por submeter-se a interesses que não sejam os da comunidade. Por isso mesmo, resolvemos calar antes do fim!” Na noite em que foi velado, enquanto a notícia se espalhava pela cidade de quem é o pai da imprensa, refletiram todos na ausência que impunha o coração que deixara de pulsar, mas não de viver. Inevitável era revisitar o “Calar Antes do Fim”.

Para concluir que o editorial, extraído das cumeeiras morais mais altas, doeu mais naqueles que o leram, de súbito na tarde inadvertida da mocidade, do que no Homem que serenamente o datou e assinou, tão certo estava da convicção que o compelia. São momentos raros na vida dos povos. Existem. Aconteceu perto de nós e faz pouco tempo.


Sobre o último Editorial de “O Jornal de Montes Claros”

Calar antes do fim

Osvaldo Antunes

“Felizes por não sermos excessivamente felizes; no barrete da Fortuna, nós não somos o botão.” Shakespeare

 

Episódios mais poderiam ser relembrados se fosse prudente ampliar o espaço dos rascunhos e o tempo a ser cobrado de possíveis leitores. Prevaleceu o propósito de torná-lo menos enfadonho. A quem interessar, pode ser uma cozinha de jornal em que os assuntos são tratados sem muito raciocínio, ao sabor do tique-taque das máquinas, das conversas e interrupções costumeiras. Poderá satisfazer a curiosidade dos filhos, dos netos e de quem se interessar pela história da família e de sua influência na vida obscura de uma imprensa considerada menor. Resta dizer como findou o sonho de jornalismo quase utópico exercido pelo O JORNAL DE MONTES CLAROS - casa que abrigou a inconformidade dos homens e mulheres que precederam, acompanharam ou antecederam o jornalista, fora e dentro da cadeia dos relacionamentos de origem familiar. E dizer, no fim, o que seria mais apropriado no começo:

- Vim cumprir o meu destino, não vim mandado.
Vadim foi jornalista na conta imprevisível do tudo e do nada.
Aceitou grande peso nos ombros mercê de um idealismo talvez insensato, mas também como animal ferido por obsessões ancestrais. Ao atender o pedido dos filhos, do modo como pôde, desaponta-se ao perceber que as brumas do Mistério não foram afastadas nem resolvidas.

A sabedoria mostra tempos de plantar e de colher; há também tempo de prosseguir, assim coma chega o tempo de parar. Fecunda estação da vida havia, circunstancialmente, chegado ao fim para o jornalista, na direção do seu JORNAL. Culpas pelo aparente insucesso? Se houve, não as procura. Sabe apenas que fluiu a quadra propícia, madurou o gesto de resignação. Era já impossível reter nos dedos, embora ainda firmes, a chuva ou a areia, agora soprada pela procela que mudou rumos e impediu a continuidade no velejar. Ante
a vontade instintiva de prosseguir na vocação, restava o consolo de haver combatido sem pieguice - como fez o grande mensageiro -, acrescentando, entretanto, não ter a espada perdido o gume, pois apenas se embainhou.

Os sonhos passariam a ser lembranças, dariam vida a coisas
inanimadas. À velha prensa Aluzet de Rui Barbosa, de êmbolos e roldanas diariamente lubrificadas que garantiu, durante anos, a circulação do Jornal. Tão submissa e eficiente, parecia velha amiga, adquiriu a personalidade das coisas que se animam na imaginação. Tinha alma feita de ferro e sangue. Mas se tornara obsoleta, por ser sua impressão em plano e o municiamento manual. Para agilizar a tiragem, o jornalista tentou um passo à frente e errou. Em vez das máquinas em offset e composição pelo processo eletrônico, já recomendadas, optou por impressora tipográfica semi-automática, máquina insubmissa e sem alma; permaneceram também as muitas e pouco eficientes linotipos. A composição computadorizada, incipiente no interior do Estado, provocava o receio de faltar assistência
técnica quando se fizesse necessária. Esse erro de diagnóstico levou ao agravamento da crise anginosa e ao sufoco. A feição gráfica, antes razoavelmente boa, perdeu-se no desconhecimento da regulagem de tinta e gravação da impressora insensível, que fora remontado sem a plastia correta, apesar de tempo e dinheiro gastos com técnicos e técnica já superada, de manutenção difícil.

Teria sido possível evitar a queda, buscando, após o erro, o sistema de impressão conveniente? Sim, mas com necessidade de ajuda, em vão solicitada. O JORNAL, apesar de propriedade particular, era antes de tudo benevolência para com a cidade. O dinheiro, quando houve disponibilidade, fora empregado na aquisição da impressora e de compositoras de linhas e títulos. Proposta de abertura do capital da empresa para novos sócios, ninguém se moveu. Waldyr Senna Batista, auxiliar eficiente em tantos momentos difíceis, estava afastado da direção e fez falta nessa hora. O filho Márcio tentou ajudar, mas carecia, àquele tempo, de experiência maior.

O JORNAL se sustentara, sem ajuda da comunidade, durante 36 anos. Aos olhos de muitos a crise pareceu manha e embromação. Mal sabiam já estar a pequena renda da propriedade particular sacrificada na remuneração dos funcionários, compra de tinta e de papel.

Enquanto isso, surgiram dois jornais de boa impressão, já no sistema offset, vindos quase como desaforo. Embora ambos carecessem, no nascedouro, de maior despojamento pessoal dos dirigentes, tinham nitidez de texto e estampas policromas de fazer inveja. Vozearam, ao mesmo tempo, várias estações de rádio e emissoras comunitárias; a televisão invadiu os lares com suas imagens, novelas, noticiário multicolorido. Os sites eletrônicos começaram a aparecer. Ante a representação dinâmica dos fatos e a voz empostada nos aparelhinhos de rádio, pareceu à gente parva que o JMC já não se fazia necessário e cumprira, sem ninguém pedir e por isso nada lhe deviam, o papel de reformador dos costumes quase bárbaros encontrados quando começou.

Faltou, na hora precisa, a compreensão - hoje já despontando, ante a necessidade de um órgão independente - de ser o jornalismo não um oficio meramente técnico, nunca repositório de vaidade, nem simples meio de diversão ou entretenimento, como é, em parte, a televisão. A imprensa escrita exige responsabilidade moral permanente, ao fazer trabalho que é, a cada dia, a edição de um documento; nela se levantam e fixam anseios de progresso
individual ou coletivo, e são escriturados os problemas aflitivos que influenciam a evolução da comunidade. Esse jornalismo é, e possivelmente continuará sendo, de insubstituível função social. Mas precisa ser - principalmente agora quando a dubiedade moral apavora - eminentemente ético, apesar da urgência sempre pedida na veiculação da notícia, no comentário dos fatos. Foi esse o jornalismo proposto ao menino pelo seu sangue e vigorante
por mais de três décadas em Montes Claros.

Decidido o fechamento de O Jornal, o editorial de despedida afirmou, sem propósito de retórica, mas lastimosamente:

“Este será o último número do O JORNAL DE MONTES CLAROS, depois de trinta e oito anos de trabalho e bravura invejável. Nosso desejo inicial era calar também e deixar, como quis um grande homem, que o passado enterrasse seus mortos. Mas nos rendemos ao dever de dar aos leitores explicação, mesmo incompleta, das razões que levaram a interromper a circulação do jornal.Entendemos não se justificar a existência de um órgão de imprensa, jornal, rádio ou televisão, pela ganância imoral do dinheiro,
por benesses que possa encontrar junto ao poder ou pela facilidade de viver sob a tutela de grupos econômicos. Jornal é forma de criar e exercer consciência crítica, em face ao problema de comportamento social que faz a criatura, semelhança de Deus, revoltar-se contra a situação de submundo em que vive. Por isso mesmo, o órgão de imprensa, como os órgãos da emoção e da inteligência humana, não podem viver apenas para sobreviver. E quando essa sobrevivência somente seria possível com a mancha do dinheiro fácil, a ser conseguida no campo da corrupção e da submissão dos ideais, é melhor parar antes de sujar as mãos e a consciência.

Jornais se sujeitam a depender de situações que os obrigam a não ter idéias nem ideais. Ficam no hiato de sombra onde a liberdade de critica deixa de existir como luz, energia e motor de suas atividades. Nós sempre sustentamos, perante os leitores, a inclinação pela liberdade de expressão - sem a autocensura malandra dos vendidos - como parte inseparável das liberdades cívicas. Há algum tempo o JORNAL DE MONTES CLAROS chegou ao ponto crítico, além do qual, para sobreviver, precisaria abdicar de sua independência. Antes que o pior acontecesse, preferimos encerrar-lhe as atividades. Para um jornal que, durante trinta e oito anos viveu, honestamente, dos próprios recursos de pequena empresa, sem chafurdar-se em interesses mesquinhos, o melhor que decidimos foi calar com honra, em vez de falar sem dignidade e credibilidade. Ao silenciar, com o fechamento do jornal, algumas vozes destemidas que lhe dignificaram a existência, estamos convencidos de que esse silêncio, como o silêncio da germinação da vida na História, vai dar ênfase a tudo que o Mais Lido fez em favor da coletividade montes-clarense e norte-mineira. Este jornal viverá enquanto forem lembradas suas lutas, enquanto aqueles rapazes e moças que passaram pela redação continuarem, em outros órgãos de imprensa, a exercer com bravura, independência e inquietação social, tudo que aprenderam nesta casa, que souberam honrar e amar mais do que a pequena remuneração que recebiam.

Durante esses trinta e oito anos, cometemos imprecisões, aqueles erros a que está sujeita a diuturna atividade de lidar com a versão dos fatos e os interesses das pessoas. Mas esses erros se deveram mais a limitações do que ao desejo de errar.

Não estamos nos despedindo, porque a esperança de uma imprensa livre não acaba. Queremos afirmar a certeza de que o JORNAL DE MONTES CLAROS deixa herança. Fomos, como aqueles que lidam com a esperança do povo, instrumento de revolução nos costumes e no progresso da sociedade montes-clarense, revolução forjada nas oficinas e na redação, sobre as máquinas e as mesas de trabalho. Cumprimos nossa parte no dever que é de todos.

Um jornal acaba menos por se calar com honra e mais por submeter-se a interesses que não sejam os da comunidade. Por isso mesmo, resolvemos calar antes do fim!”


Oswaldo Antunes

Petrônio Braz
Cadeira nº 18
Patrono: Brasiliano Braz

Com o devido respeito, ouso discorda de Drummond quando ele afirma que o tempo é “os homens presentes, a vida presente”. Informa o professor de literatura brasileira Hélio de Seixas Guimarães, da USP, que as mais de mil crônicas escritas por Machado de Assis, ao longo de 50 anos, e publicadas em jornais do Rio de Janeiro no Século XIX, estão sendo reunidas por especialistas da obra machadiana. Machado não se inscreve entre os homens presentes e, lamentavelmente, também Oswaldo Antunes não mais se encontra entre nós, mas suas obras estão presentes.

Todo cronista deveria coletar seus escritos dispersos e republicá-los em livro, como uma forma de preservação cultural e até mesmo pessoal. Foi o que fez, com sucesso, o jornalista Carlos Lindenberg com o livro Quase História, que retrata suas atividades como jornalista político, onde nos oferta lembranças pessoais dos últimos trinta anos e profissionais, de uma atividade séria de irrepreensível conduta, a partir de 1900.

Os jornais, onde as crônicas são dadas ao leitor, são de vida efêmera como as flores que fenecem no próprio dia em que se abrem. O jornal de ontem já é velho em presença do jornal de hoje.

Ainda para dizer do influxo manifesto do tempo pretérito e de sua própria existência, vamos ao encontro de uma crônica de Oswaldo Antunes, publicada em 2007: “O comportamento político da maioria dos nossos homens públicos tem tudo a ver com antecedentes históricos regionais. No entanto, pesquisas nesse sentido - ou seu aproveitamento por uma psicologia social que devia ser aplicada - sempre foram casuais. Gilberto Freyre foi o primeiro a mostrar a formação da família brasileira sob a influência dos costumes da economia patriarcal. O sucesso de Casa Grande e Senzala ressaltou o fato de uma pesquisa
histórica regional, possibilitar a análise desse mosaico social e humano que é o passado brasileiro. Houve contribuições posteriores importantes, como ocorreu em Minas com Guimarães Rosa e Mário Palmério, entre outros menos citados. Mas nunca houve a preocupação maior de aproveitar no ensino o estudo sistemático da interação social dos indivíduos, apesar de a história ser fruto genético dos processos mentais que, ao longo de gerações, influenciam e até transformam o comportamento humano”.

Lembrou o mesmo Oswaldo Antunes que “foi como jornalista
que Karl Marx começou sua influência sobre o meio social e, ciente da obrigação de bem formar a opinião pública em benefício do ser humano, formulou ideias que influenciam ainda hoje a valorização do trabalho e a distribuição das riquezas”.

Nos sertões de Minas Gerais, Oswaldo Antunes, advogado, jornalista, poeta e escritor, precursor da imprensa em Montes Claros, valendo-se de sua experiência no campo da literatura e do jornalismo, de larga vivência no seio da sociedade cultural mineira, tendo compartilhado do convívio com Mário de Andrade, Edgar da Matta Machado, Alphonsus de Guimaraens Filho, Milton Amado, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende, João Etiene Filho e outros, em seu livro A Tempo, lançado em outubro de 2007, nos ofertou a tempo, com a ousadia de linguagem que lhe era peculiar, uma obra bem escrita e elaborada com esmerado cuidado. O jornalista, na direção do “Jornal de Montes Claros” fez história e viu passar o tempo e, com ele, os fatos da vida urbana de Montes Claros e da região no curso de quarenta
anos, que ele relembrou em detalhes.

Falando em tempo, nada melhor do que compartilhar com Oswaldo Antunes lendo o seu poema Dádiva: “Poderia esconder a todo mundo / os pés abrindo sulcos sob a terra, / esse afogado anseio da memória / e o caminho deixado à retaguarda. / Sequer olhar o céu que, moribundo, / escondeu o horizonte atrás da serra / e trouxe a fadiga dessa história / que anda comigo e paciente aguarda. / Mas ouviria as vozes do caminho, / do verde ermo o canto irrealidade, / pensamento aberto como lenho. / Veria a rosa, presa em seu espinho. / E na névoa que desce sobre a tarde / esconderia o tempo que ainda tenho”.

Nos saudosos idos do ano de 1944, em Belo Horizonte, no Hotel Tamoios, onde morávamos, eu estudante e Oswaldo Antunes estudante e já jornalista, estava eu a tentar escrever um acróstico à minha namorada, quando ele se aproximou e perguntou-me:

- Estudando, muito?

- Não - respondi. - Estou tentando escrever um acróstico.

Ele apanhou o papel e o lápis e, em menos de dez minutos, concluiu a poesia, para minha satisfação.


 

O pai da imprensa

Waldyr Senna Batista
Cadeira nº 16
Patrono: Athos Braga

Oswaldo Alves Antunes, falecido no dia 11 de abril de 2012, foi o pai da moderna imprensa da cidade. Em 1954, quando ele adquiriu “O Jornal de Montes Claros”, já se usava a composição a quente (linotipo), porém a impressão se dava com o uso da velha “Alouset” de quase um século de idade.

O JMC era um jornal vibrante, opinativo e desvinculado de grupos, que buscava influir nos acontecimentos da cidade, levantando o debate em torno dos problemas que realmente interessavam à comunidade. Era o que ele denominava de “jornalismo de confronto”.

A mudança de comando deu-se pelo “enxugamento” do texto, do qual se eliminou a adjetivação e em que se adotou o estilo impessoal e profissional, sem o tratamento de “doutor” ou de “prendada senhora” que caracterizava os jornais da época. O importante passou a ser a notícia, que era buscada na fonte pelo repórter, aliás uma figura até então inexistente na imprensa local. O jornal ganhou estrutura, com páginas dedicadas a cada setor: esporte, polícia, assuntos gerais, o que hoje se conhece como editorias. E adotou o editorial, que espelhava a opinião da direção do jornal, no que Oswaldo Antunes era mestre. Essa reformulação processou-se com a utilização de recursos humanos recrutados na própria cidade, rapazes que mostrassem pendor para a atividade e que recebiam treinamento exercendo a função. Essa adequação profissional produziu jornalistas da melhor qualidade, muitos aproveitados em jornais de circulação nacional.

Suprida essa etapa, o jornal passaria a se dedicar ao debate em torno dos problemas da comunidade. Começou pela moralização do Tribunal do Juri, que era escandalosamente manipulado pelos chefetes políticos, que se atribuíam o poder de condenar ou absolver os que se submetiam aos julgamentos. Graças à insistente campanha,
passou-se a fazer periódica revisão da lista de jurados, que era a mesma havia décadas. Reformulada sem a influência espúria, o tribunal adquiriu credibilidade.

O combate ao porte ilegal de armas foi outro capítulo importante. Os revólveres eram exibidos como troféus ou meros brinquedos, em plena praça Dr. Carlos, à luz do dia. Esse episódio custou ameaças de “empastelamento” das oficinas do jornal, mas ele não se calou enquanto não alcançou seu objetivo.

O impacto dessas campanhas marcou a presença do JMC e mostrou que a imprensa pode muito mais do que a mera divulgação da literatice ou do anedotário inocente da época, aspectos que divertiam a opinião pública, enquanto os acontecimentos que realmente importavam ficavam sem registro histórico.

O debate em torno de medidas estruturais começou pela reivindicação de serviço telefônico que fosse confiável e eficiente. Isso resultou na criação de empresa local, que manteve o serviço até que a legislação federal impôs a unificação do sistema.

Na década dos anos 50 do século passado não existia o termo “apagão”, mas a energia elétrica em Montes Claros era desligada às 23 horas. O JMC abriu o debate, mostrando o absurdo da situação. Criou-se comissão, cuja presidência foi confiada ao valente bispo D. Luiz Victor Sartori. Seus integrantes foram a Belo Horizonte exigir do então governador Juscelino Kubitschek solução para o problema. Ele mandou instalar motores a Diesel para a manutenção do serviço e garantiu que Montes Claros seria das primeiras cidades a receber energia elétrica de Três Marias, em construção. E foi.

Outras campanhas vieram, com apoio do jornal e por sua iniciativa: elaboração de plano diretor para a cidade; asfaltamento da BR-135; instalação do sistema de telefone interurbano; ampliação e asfaltamento do aeroporto; incentivo às entidades de classe; criação das associações de amigos de bairros; e, seu feito mais expressivo: a pacificação política, com o lançamento de candidato único à Prefeitura: o fazendeiro Antônio Lafetá Rebello, indicado pelo jornal e que correspondeu à expectativa.

A lista é longa e o espaço é limitado. Fica o relato como homenagem ao cidadão que influiu efetivamente no desenvolvimento da cidade que amava e que, nos últimos tempos, mostrava-se angustiado devido à acelerada deterioração que a acomete. E compreende-se sua angústia: faltava-lhe aquele poderoso instrumento que foi “O Jornal de Montes Claros”.


Lembranças do Dr. Oswaldo

Alberto Sena Batista
Sócio correspondente - Belo Horizonte - MG

Uma das imagens marcantes que conservo dele faz o ponteiro do relógio da vida girar em sentido contrário num mergulho ao início da década de 1970. O corpo de um homem havia sido encontrado, carbonizado, no município de Brasília de Minas. A princípio as suspeitas eram de que o crime tivesse sido encomendado por questões relativas à seara da política local. Veio de Belo Horizonte o coronel PM Humberto, que acabou virando delegado de Montes Claros, para apurar o assassinato praticado com características de pistolagem.

Segundo a polícia, a vítima teria sido morta em Montes Claros e o corpo fora levado para o município de Brasília de Minas, de certo com intenções de transferir responsabilidades e criar dificuldades para apuração.

À época, eu era “foca” no jornalismo como se é em verdade a vida inteira. Coube-me fazer a cobertura do assassinato e corria a boca pequena que um suspeito havia sido preso. O caso foi acompanhado por uma promotora vinda de Belo Horizonte especialmente para essa missão. O “foca” em questão era tímido ou nem mesmo sabia como abordar as autoridades da época para colher informações.

Cheguei à redação e ele foi logo me perguntando, e devo confessar, levei um susto. Foi mais ou menos este o diálogo: - Alguma novidade sobre o caso de Brasília de Minas?

- Não.

Disse-lhe.

- Como não?

- A polícia não quer dar nenhuma informação.

Eu disse.

E então ele entrou para o escritório dele, contiguo a redação, pegou o telefone preto e discou para a promotora que se encontrava em Brasília de Minas. Conversou com ela durante uns dez minutos, tempo suficiente para arrancar dela uma manchete de impacto, considerando que o caso ganhou repercussão nacional.

Enquanto ele conversava com a promotora, caneta e papel a mão, anotava tudo com agilidade, de modo que ao terminar de falar com a mulher, apanhou algumas laudas de redação e ao invés de sentar-se à máquina para escrever, ele, em questão de poucos minutos escreveu de próprio punho a reportagem e a levou para os linotipistas Andrezzo e Milton gravarem em chumbo.

Da redação, sentado de frente a porta do escritório dele, eu observava a maneira como ele escrevia e para mim aquilo foi marcante porque o tinha na melhor conta. Sabia-o homem de respeito, competente, que além de advogado trabalhara nos bons tempos do Diário de Minas, em Belo Horizonte, onde fora colega de redação de profissionais de renome ainda hoje na ativa.

Evidente que a essa altura quem o conheceu em vida sabe que falo do Dr. Oswaldo. Ele era chamado assim. Do lado da redação ficava a sala do secretário Waldyr e do outro era a sala dele. Se a gente queria entrevistar alguém por telefone, o melhor lugar era a sala do Dr. Oswaldo porque mais calma. A sala dele havia do lado esquerdo janelas basculantes que davam para um pequeno quadrado de área
onde reinava um pé de goiaba.

Isto foi no tempo em que O Jornal de Montes Claros era na Rua Dr. Santos, 103, ali onde fica hoje uma agência bancária. O espectro da cidade atual já se podia vislumbrar, mas Montes Claros mantinha ainda os seus costumes, os hábitos acolhedores de uma cidade sempre hospitaleira.

Pelas mãos do Dr. Oswaldo e de Waldyr passaram nomes importantes da imprensa. Em verdade digo que na redação do jornal Estado de Minas, O Jornal de Montes Claros era famoso e passou a ser chamado de “Escola de Jornalismo”, numa época em que escola nenhuma de jornalismo havia em Minas.

Foi uma pena que o Dr. Oswaldo tenha sido levado a encerrar a circulação do O Jornal de Montes Claros. Pena, digo eu porque se a nossa cidade é o que é hoje, em termos de desenvolvimento, damos graças ao empenho do O Jornal de Montes Claros, principalmente, porque naquela época, quando escola de jornalismo não havia em Minas, a imprensa de Montes Claros (O Diário de Montes Claros e a Rádio ZYD7) tornou-se uma referência.

Montes Claros é cidade hospitaleira, mas tem demonstrado não venerar na medida certa o nome dos homens e das mulheres que fizeram a força e a grandeza da cidade de hoje. O Dr. Oswaldo foi um deles e deve ser lembrado até o final dos tempos.

 

Adeus, caro mestre!

Augusto José Vieira Neto
Sócio Correspondente - Belo Horizonte - MG

Perdemos o grande Oswaldo Antunes, uma das maiores expressões culturais de minha aldeia. Fui a Montes Claros para o lançamento de seu livro “A Tempo”. O salão do Automóvel Clube estava lotado de pessoas do mais elevado nível intelectual. Ouvimos as palavras introdutórias de Waldyr Senna Batista, a apresentação da obra pelo escritor Petrônio Braz e a breve e calorosa fala do autor. Corri para a fila de autógrafos, porque também representava dois grandes amigos do mestre: José Bento Teixeira de Salles (...) e Roberto Elísio de Castro Silva. O mestre sorriu quando me viu e deu os três autógrafos. Agradeceu, na dedicatória, minha modesta colaboração, porque eu havia feito uma breve revisão, a pedido dele. Em casa, antes de dormir, abri
o livro e só o fechei depois de reler sua última página, na manhã do dia seguinte. Mais uma vez vi desfilar sob meus olhos a vida pessoal do escritor, que também é a vida do seu e nosso “Jornal de Montes Claros”. Mas o que mais me fascinou foi saber, pelo artístico marcador de páginas, em que está inscrito o poema “Caminho”, que o mestre está preparando mais um: “Estrela Final”. É, minha gente, esse macabeuzinho-caramuru-brasilminense-moquenho, em sua longa e merecida vida, jamais deixou o comando da resistência à invasão dos “borás”, só que, após a infância, passou a usar sua arma predileta: a escrita precisa, honesta, artística, profundamente eivada de filosofia de vida, de amor à sua família e ao semelhante. Publiquei em meu site um de seus últimos textos, “O Deus em que não creio”, onde ele mostra sua grande intimidade com Deus. Espero que a família reúna, na “Estrela Final”, todos os seus poemas, pérolas literárias que não podem ficar escondidas em ostras. Descanse em paz, mestre Oswaldo Antunes, na “Nova Estrela” que surgiu para abrigá-lo, carinhosamente, no firmamento e para iluminar nossas vidas, tanto quanto você o fez enquanto esteve aqui conosco!

 

Doutor Osvaldo

Carlos Lindenberg Spíndola de Castro
Sócio correspondente - Belo Horizonte - MG


De Oswaldo Antunes - “doutor Oswaldo”, como o chamávamos - não ouso falar mais do que falaram os outros que me precederam. E com propriedade. A dor da perda me impõe o silêncio respeitoso. Direi apenas: “Ao mestre, obrigado. Com saudades.” Carlos Lindenberg, desde sempre repórter do JMC, onde recebi de mãos hábeis e inteligência brilhante, o suficiente para seguir em frente.

 


Adeus, Grande Mestre


Flavio Henrique Ferreira Pinto
Sócio correspondente - Belo Horizonte - MG

Há tempos não o via. Talvez uns dez anos,quando,ano atrasado me viu passar e me chamou, à porta do Mercado de Montes Claros.

E foi aquela velha prosa, saborosa, vinda dum homem possuidor de uma cultura acima de poucos mortais que conheci, pessoalmente, sobre tudo e todos, com o mesmo poder de análise. Diferenciado, como se diz modernamente.

Deu palpites sobre meu primeiro livro e só lamento que foi embora sem saber que estou lançando outro. Adoraria sua opinião.

Se falar que foi diálogo, estaria mentindo.

Pois preferia mais ouvi-lo. Sempre.

Desde aquele dia, em 1962, na verde ignorância de meus saudosos dezessete anos, quando cheguei à redação do JMC, passando pela varanda da Rua Dr.Santos (ao lado da casinha de madeira de Tuia, o velho escravo que sempre me reconhecia e sorria) e obtive (de Waldir também, sorte minha) os ensinamentos e caminhos certos a percorrer nessa inglória e difícil arte de escrever. .

Hoje talvez ainda eu possa ser inculto e estar muito a desejar como escrevinhador, porém, verde, nunca mais, a partir dali.

PergunteiporKonstantin,outrogênio,àépocaaindaaquicomagente.

Contou as últimas e finalizou: “somos uns sobreviventes, caro Flavio”.

Que nunca serão esquecidos, Doutor Oswaldo.

Tenho certeza.

 

Ideal de grandeza

Manoel Hygino dos Santos
Sócio correspondente - Belo Horizonte - MG

A televisão mostrou a cena da jornalista francesa Edith Bouvier, ferida na cidade de Homs, na Síria, de regresso à pátria, depois de muitos dias sem assistência médica. Também foram mortos a jornalista americana Marie Colvin e o fotógrafo francês Remi Ochlik. A Unesco reprovou. As autoridades sírias desrespeitam a Convenção de Genebra sob as guerras, em que o trabalho da Imprensa deve ser preservado.

Mas o problema não é restrito. Relatório do International News Safsty Institute colocou o Brasil como o sétimo lugar mais perigoso para jornalistas no mundo. Não há apenas a morte de Wladimir Herzog a lamentar. Em 2011, no Brasil, foram mortos cinco profissionais, do total de 124, em 40 países. Os profissionais perdem a vida no cumprimento do dever ou simples mente pelo cumprimento do dever. Faço estas considerações quando registro, com pesar, o falecimento de um homem de Imprensa que honrou seu compromisso, mais forte do que o diploma, que valida uma definição de vida, ininterruptamente exposta.

Refiro-me a Oswaldo Antunes, que partiu no entardecer do dia 11 último, ele que foi o pai da Imprensa moderna de uma cidade, na expressão de Paulo Narciso, que a seu lado esteve expressivo período na redação do “O Jornal de Montes Claros”, na rua Dr. Santos. O dizer de outro companheiro daquela época, José Prates, nele se sentia competência e dignidade. Graças à sua conduta e idealismo, manteve a folha mais lida do norte-mineiro por longos anos, primando pela independência e imparcialidade, missão penosa em todos os lugares e tempos.

A sua guerra foi contra a incompreensão, os interesses subalternos da política, pois não compactuava com o que lhe ferisse princípios e a consciência profissional e pessoal. Daí, ter legado exemplos, não daqueles referidos pelo prefeito da cidade, em nota, ao aludir a “profissionais da Imprensa hodierna”. De um jornalista de escola, sobrevivente talvez de uma fauna em extinção, ouvi: “Sentiremos saudades, muitas. O dr. Oswaldo, depositado no chão do sepulcro, ao pé do qual estive, pareceu-me mesmo maior do que vivo - como na frase francesa, famosa”. No único livro que deixou publicado, e que honrosamente me submeteu à leitura antes de editá-lo, Oswaldo Antunes conta sua odisséia para manter um ideal de grandeza. Ele faz parte de “O Diário”, folha que alcançou números enormes de circulação no país, editado em Belo Horizonte, e do qual seria eu colaborador, depois diretor de redação e presidente.

Na antiga folha belo-horizontina, foi redator político nos anos 40-50, suas colunas recebiam e abrigavam talentos como Edgar da Matta Machado, Hélio Pellegrino, Alphonsus de Guimarães Filho, Otto Lara Resende, Milton Amado, o nosso excelente José Mendonça. Sem esquecer João Etienne Filho, Mello Cançado, João Camillo de Oliveira Torres, além de Tristão de Athayde, e ases do noticiário político, como Geraldo Magela Andrade e Geraldo Rezende. Houvera espaço e mais diria. Creio, porém poder concluir com um pensamento que Oswaldo Antunes apreciaria, de Tocqueville: “A Imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade.”


ARTIGOS DE ASSOCIADOS

Nota da Coordenação

A ordem de publicação dos artigos dos sócios obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações contidos em artigos publicados. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores.

 

Presença Africana: as Comunidades de Gerais Velho
e Vila Biúca no município de Ubaí, Minas Gerais

César Henrique de Queiroz Porto
Cadeira nº 13
Patrono: Ângelo Soares Neto
Gefferson Ramos Rodrigues
Mestre em História pela UFF

O objetivo deste ensaio é discutir o processo de formação de duas Comunidades de passado escravista, Gerais Velho e Vila Biuca, distritos de Ubaí, no sertão de Minas Gerais. Procura apresentar, mais precisamente, duas hipóteses de trabalho a respeito da origem e formação das referidas localidades.

Situado mais precisamente no norte de Minas Gerais, o município de Ubaí faz parte da área mineira da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), ou seja, região reconhecidamente pobre, onde o governo federal precisa atuar na realização de políticas públicas para promover o desenvolvimento. Antes de dar início aos objetivos propostos pelo texto, algumas observações preliminares se fazem necessárias.

Muito próximo a Vila Biúca está o distrito de Raiz, ou Raiz dos Mocó (como era chamado antigamente em razão da abundância que existia deste pequeno animal numa pedreira situada entre as duas Comunidades), e a história desses dois pequenos lugarejos praticamente se confundem, sendo bastante provável que tenham se formado simultaneamente. Mas algumas diferenças entre eles são bem acentuadas. A Vila Biúca é habitada eminentemente por pessoas afro-descendentes e mestiças; já a Raiz também conta com população afro-descendente, mas um maior número de pessoas mestiças e uma pequena quantidade de indivíduos brancos.

Além de possuir uma população predominantemente afro-descendente, para usar o termo mais atual, a Vila Biúca ainda apresenta outro traço marcante que é a de ser habitada praticamente por pessoas da mesma família. Portanto, muito embora possam ter sido formadas simultaneamente, ambas possuem singularidades bem significativas.

Quanto ao processo de formação em si, ainda que sejam distritos pertencentes a um mesmo município - o município de Ubaí - é bastante provável que tenham tido origens bem particulares.

O autor que primeiro conjeturou a esse respeito foi o saudoso Sr. Joaquim Veloso nas valorosas memórias que deixou escrita.1 Segundo o autor os moradores que se estabeleceram nesses, e mesmo em outros lugares, eram ex-escravos - alforriados com a Abolição de 1888 - de um grande proprietário da região de Contendas, atual Brasília de Minas, o Capitão João Nepomuceno Bernardino de Barros. De acordo as memórias do Sr. Joaquim Veloso, o Capitão João Bernardino era dono de várias propriedades. Uma delas se estendia da localidade de Almas até o Touro, além da fazenda situada no local denominado Cacimba, às margens do córrego Jataí. Mas sua maior propriedade era a fazenda Sabões, também chamada de Pindaíba, e conhecida atualmente por Bolívia. A maior das propriedades ficou de herança para o filho Domingos Nepomuceno e com a sua morte, a viúva Dona Mariquena vendeu a terra para Américo Martins.

Além de extensas propriedades e muitos escravos, João Bernardino possuía uma certa benevolência e conta-se que, antes mesmo da Abolição o Capitão costumava conceder cartas de alforria e terras a seus cativos para constituírem família, o que posteriormente teria dado origem a pequenos agrupamentos. Esta teria sido a procedência de vários deles como Raiz dos Mocó - por conseguinte, a Vila Biúca - e Gerais Velho, e localidades na região chamada de Gameleira, sendo os dois aqui estudados os que ficaram mais conhecidos. Os descendentes dos ex-escravos do Capitão João Bernardino estariam, assim, espalhados nas áreas rurais de São Bento - atualmente Bentópolis - e do município de Ponto Chique, regiões que passaram a abrigar os
antigos núcleos de habitação.

Em vista dessas considerações algumas semelhanças também podem ser traçados entre a Vila Biúca e o Gerais Velho.

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1 Foi possível ter acesso as memórias do autor graças a sua filha Helen Sira, a quem
se registra todos os agradecimentos. A versão original do texto ainda se encontra
manuscrita.
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O Gerais também conta com um número considerável de pessoas da mesma família, porém não na mesma proporção que a Biuca. O Gerais está mais próximo do São Francisco e, portanto, é mais provável que sua história esteja mais relacionada as fazendas que se situavam a beira do rio, principalmente sob a esfera de influência de São Romão. Já a Vila Biúca, por sua vez, está mais próxima a bacia do rio Verde, sugerindo que sua formação esteja mais filiada, neste caso, a Contendas, atual Brasília de Minas.

Desse modo, tanto os moradores de Gerais Velho quanto da Vila Biuca possuem inegavelmente um passado de origem escravista, e importante tarefa a ser feita é buscar junto aos órgãos competentes o reconhecimento de “Comunidades tradicionais”, ou “Comunidades remanescentes de quilombo”. Esta iniciativa já foi cumprida para o Gerais Velho mas espera-se que o mesmo ainda seja feito para a Vila Biuca.

 

Vila Biúca

Como foi dito anteriormente, segundo a hipótese levantada pelo Sr. Joaquim Veloso, os primeiros moradores que se estabeleceram na Vila Biúca eram ex-escravos alforriados com a Abolição de 1888, anteriormente pertencentes ao grande proprietário da região de Contendas, o Capitão João Bernardino Nepomuceno de Barros. Certamente, antes desse importante momento histórico, os ex-escravos pertencentes ao proprietário ao receberem alforria costumavam assinar com o sobrenome “Nepomuceno de Barros”, ou simplesmente “de Barros”. Por extensão, todas as pessoas que assinassem com o sobrenome “de Barros”, seriam assim descendentes de ex-escravos pertencentes ao Capitão João Bernardino Nepomuceno de Barros. Este teria sido o caso, por exemplo, de Pedro Nepomuceno de Barros, segundo o Sr. Joaquim Veloso, um escravo de seus serviços domésticos, ou em suas palavras “um nego de estimação”. Pedro e sua mulher Marcelina teriam sido exemplos de beneficiados pela benevolência do Capitão. Pedro por sua vez, era mais sugestivamente conhecido como Pedro Rico por ter conseguido algum recurso. Dionísio Preto, Cristino Preto, Preto e Inácio Preto, foram alguns dos filhos do casal, sendo que quase todos eles constituíram família. Dionísio, por exemplo, uniu-se a Felisbina com quem teve Isidoro que pelo menos até os anos 1990 residia em Ubaí. Preto se mudou para São Francisco e teve como filho Crispim e Diodalo. Inácio teve um filho por nome Eurico, que desfrutava de boa reputação com o influente Lindolfo Cardoso. Já Cristino Preto era muito popular em Ubaí.

Sr. Joaquim Veloso, a principal fonte utilizada aqui, ao tentar fornecer com detalhes os membros dessa importante família, é impreciso em algumas passagens do seu texto o que, neste caso, leva a apontar alguns membros da família de Pedro Rico, apenas como seus descendentes, não se sabendo exatamente se seriam seus filhos. É o caso de “Tiburcio Paulino de [leia-se, casado com] Teresa Braga”2 além de “Antonio casado com Iolanda” e Manoel José. A confusão se encontra no seguinte trecho: “Pedro Nepomuceno de Barros o sobrenome do seu Senhor este negro era avô de Tiburcio e Preto então bisavô de Paulino que erra casado com Tereza Braga Crispim de Preto também erra bisneto dele” (grifo nosso). Em algumas passagens de suas memórias menciona dois nomes para Pedro Rico; na primeira referência escreve Pedro Nepomuceno de Barros já em outro lugar grafa como, Pedro Ferreira de Barros. Isto não invalida, no entanto, o valor documental das memórias do Sr. Veloso. Com efeito, na Vila Biuca há várias pessoas com o sobrenome “de Barros”, o que em certa medida, parece apontar para a confirmação de sua hipótese.

Outro exemplo de beneficiado pela benfazeja atitude de Bernardino de Barros foi Camila, irmã de Pedro Rico. Sua ex-escrava casou-se com Estácio que por seu turno descendia de uma escrava de São Romão. Camila e Estácio tiveram como filhos João Pereira José do Meio Romualdo Tintino e Virgulino. “Estácio era irmão de Pedro [ileg.] pae de nono e Zé Martins”; “Pedro Rico e Camila tinha mais irmão inclusive o pai dos Mulato que era Teodoro, Domingos, José,
Julia e João...”.3

Diferentemente do Gerais Velho que se encontra numa área abstrusa, a Vila Biúca se localiza numa área mais acessível, situada num descampado de terras férteis e relativamente bem servido de água. Também cercada por uma pedreira, é claro que a vegetação que se conhece atualmente se alterou muito, de modo que, não é a mesma de 100 anos atrás, sendo plenamente possível que no passado também fosse uma localidade de difícil acesso. Isto poderia ser mais um dos elementos a apontar para um passado quilombola do lugar. Todavia o Sr. Joaquim Veloso, uma testemunha abalizada, indica que sua formação se deu pós-abolição de 1888, o que aqui se concorda. Ademais, os moradores da Vila Biúca se mostraram bastante receptivos com os visitantes, cabendo lembrar que ela se situa muito próxima a Raiz dos Mocó, localidade que conta com parcela de brancos e mestiços entre os seus moradores. Essas evidências sugerem uma maior integração da Biuca, com a sociedade em geral.

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2 Um dos problemas do precioso texto do Sr. Joaquim Veloso é a falta de pontuação, o que em algumas passagens alteraria completamente o sentido de determinadas frases.
Exemplo disso é quando escreve “Tiburcio Paulino de Teresa Braga,” quando pretende apontar os descendentes de Pedro Rico. Assim a frase tanto pode ser Tibúrcio, e Paulino que era casado com Teresa Braga. Atualmente se encontra em fase de preparação uma versão crítica e comentada do texto.

3 Mais uma vez o texto não contém virgulação e aqui estabeleceu-se a pontuação pois o
trecho contém apenas nomes próprios.
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Uma das expressões culturais que ali se manifesta esta uma devoção religiosa. Os moradores da Vila Biúca cultuavam uma pequena devoção, “o Santo da Pedra”. Como a região é cercada por formações rochosas, em determinadas localidades julgam que se assemelham a um Santo, sendo possível enxergar somente aqueles que possuem muita fé. Com ou sem fé, possível ou não de enxergar, o fato é que a localidade é alvo de peregrinações e já houve o registro de milagres alcançados como o de uma mulher que paralítica voltou a andar.

Conforme Anastácia, moradora local, em depoimento concedido no ano de 2005, “Tem o Santo da Pedra, o São José da Pedra, que as pessoas tinham muita devoção no tempo de Zé Botelho”.

Mesmo que contendo algumas imprecisões há que se considerar muito autorizado o testemunho do Sr. Joaquim Veloso, visto a sua longa experiência de vida e também por ter sido oficial de Cartório de Registro Civil, logo bastante conhecedor de documentação. Ademais deve-se acrescentar ainda que o autor das primeiras “Memórias de Ubaí”, que se tem conhecimento, conheceu boa parte dos homens a respeito de quem escreve, quando não, bebeu na rica tradição oral.

Uma questão central que envolve as Comunidades remanescentes de quilombo diz respeito ao acesso a terra. O fato de muitas delas se situarem em áreas de difícil acesso, fazia com que seus habitantes fossem invariavelmente seus primeiros moradores, o que teriam seus direitos assegurados pela lei de uso capião. Não é demais lembrar que além de praticarem a agricultura também se dedicavam a caça e a pesca, o que seria possível graças a fartura de terras. Todavia, a ação de grileiros e projetos encampados pelo próprio governo federal - sobretudo na época do Estado de Exceção com a Ditadura Militar - reduziram drasticamente a área que ocupavam.

Sabe-se que na Vila Biuca, as terras que habitam atualmente pertenciam originariamente a Sr. Lezin, grande proprietário com raízes em Brasília de Minas, a antiga Contendas. Herdadas de seu pai, Tiburcio José Botelho, Sr. Lezin cedeu as terras aos moradores da Vila Biuca. Todavia o habitante mais antigo que aqueles que residem ali dão conta era um certo Inácio, pai da Dona Biúca. Sr. Inácio deixou a maior parte das terras a sua filha Domingas Alves da Silva, a Dona Biuca. Esta por sua vez as repartiu entre seus filhos: Calixto, Juvenal,
João. Leocádia, Benzino, José Antonio Alves, Anastácia, Santa, Rita e Heloísa. Alguns dos filhos de Dona Biúca assinam com o sobrenome “Alves da Silva”, por parte da mãe, outros assinam com o sobrenome “Ferreira de Souza” por parte do pai.

A Vila Biuca parece não ter tido uma sina muito diferente das Comunidades remanescentes de quilombos no que diz respeito ao acesso a terra. Segundo Anastácia, filha de Dona Biúca, e portanto neta do Sr. Inácio, seu avô “deixou muita coisa, o povo foi cercando, tomando”.

Mesmo cerceados de boa parte de suas terras os moradores não deixaram de se dedicar a agricultura. Normalmente extraíam gordura de coco macaúba, plantavam feijão e vendiam um pequeno excedente em Ubaí.

Hoje em dia não se dedicam mais a essas atividades pois “os pés de coco não querem mais carregar e já não dão mais tanta gordura”; o feijão também já não se produz com tanta fartura já que “no lugar havia água que saía de umas pedras, atualmente secou tudo”. Apesar disso a Vila Biuca ainda encanta por suas belezas naturais.

As terras na Vila eram comuns a todos e tanto a produção quanto o consumo eram coletivos. O pequeno excedente produzido, principalmente de feijão, era comercializado com o núcleo urbano mais próximo, Ubaí.

Vila Biuca, traduz o nome de uma das primeiras moradoras da Comunidade, a Dona Biúca. Dentre as suas filhas não há como deixar de fazer menção a uma das mais conhecidas, Santa, mais popularmente chamada de Santa Bala. A filha mais popular da Dona Biúca gozava de boa reputação por ser bastante trabalhadeira. Afetada por problemas mentais chegou a se perder em São Paulo ficando por mais 4 anos desaparecida. Recolhida por uma instituição de caridade, foi aos poucos recobrando a memória dizendo ser de Minas Gerais sendo transferida para Belo Horizonte, onde um dia se lembrou completamente de onde era, até ser conduzida de vez para o seu lugar de origem. Assim como fazia sua mãe, Santa também vendia feijão, normalmente embalado em garrafas, em Ubaí. O ato pode ser tomado como símbolo da integração do mundo dos negros com o dos brancos. Como não desfrutava plenamente de suas faculdades, Santa era freqüentemente alvo de vexação dos moradores, em geral, crianças e adolescentes, que a aterrorizava e tudo que fazia para se
defender era correr atrás de quem a insultava. Por muito tempo foi o terror de crianças e adolescentes. Esta figura inofensiva, jamais foi capaz de fazer mal a alguém e apesar de todos os problemas que enfrentou, não impediu que constituísse família, e vivesse hoje na Vila que leva o nome de sua estimada mãe.

 

Gerais Velho

Mesmo considerando o testemunho do Sr. Joaquim Veloso muito abalizado, e tomando-o como ponto de partida, aqui se procura sustentar outros argumentos, sobretudo acerca da formação do Gerais Velho. Da Vila Biúca, ainda que com algumas reservas, certas questões possam ser ponderáveis, concorda-se em essência com os argumentos defendidos nas memórias, ou seja, de que a Comunidade da Vila Biuca seja remanescente de escravos. O mesmo não se pode dizer, exatamente nos mesmos termos, para o caso do Gerais Velho.

Partindo desse pressuposto, é possível conjeturar pelo menos duas suposições sobre sua formação. A primeira delas é a de que a localidade tenha se originado a partir da própria lei Áurea de 1888, como se tem dito, pois como é sabido a maioria dos ex-escravos se recusaram terminantemente a permanecer nas fazendas na condição de empregados, optando por migrar para as cidades ou se estabelecerem em áreas rurais distantes da esfera de influência de algum proprietário. Outra possibilidade é a de que o local seja uma Comunidade
remanescente de quilombo, ou mocambo, como talvez seja mais apropriado. Este tipo de agrupamento, que tinha como característica essencial ser integrado por escravos fugidos, normalmente se situavam em locais de difícil acesso, o que torna essa possibilidade um tanto mais provável em razão do lugar se encontrar numa área abstrusa, de geografia bastante acidentada. Outro aspecto, que pode reforçar a possibilidade do Gerais Velho ser remanescente de quilombo é o próprio comportamento dos seus moradores em relação as pessoas de vem de fora. Durante as entrevistas realizadas no ano de 2005, embora acompanhado de um morador local, os entrevistados se mostraram em princípio bastante arredios.4

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4 Aproveito para agradecer o Sr. Cícero que muito gentilmente me conduziu até a
Comunidade.

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A formação do Gerais Velho é de difícil comprovação empírica, e ainda que existam várias limitações para se asseverar sua origem, a Comunidade conta com uma marcante expressão cultural. Uma de suas mais ricas manifestações é a dança do batuque, vivenciada pelos seus moradores, também conhecida como dança do “roncôi”.

Em projeto realizado pela Professora de Língua Portuguesa, Valdenice Freire Rocha junto a Escola Estadual Professora Hilda Braga, instituição onde leciona, a educadora realizou uma descrição dessa manifestação,

“O grupo de “Dança do Batuque” é composto, em média, por 24 (vinte quatro) integrantes, todos da raça negra, que se reúnem para dançar ao som do “Roncolho”, instrumento fabricado de madeira oca, cujo nome é originado do som por ele produzido que se aproxima de um ronco e ao som de canções entoadas pelos animadores do grupo.

Para os momentos de apresentação, as mulheres se vestem com saias compridas e os homens procuram sempre usar calças largas e camisas de mangas longas.

A “Dança do Batuque” se dá com ligeiros movimentos e leves toques nos ombros dos parceiros.”

A essas descrições ainda é possível fazer mais alguns comentários. Nessa dança, normalmente homens e mulheres vestiam roupas inteiramente brancas. As mulheres de saia longa e um pano amarrado na cabeça; os homens de calça folgada e camisas de manga comprida. Todos de roupas bem soltas para acompanhar o movimento da dança. Ao som de 2 ou 3 tambores se movimentam em volta de uma roda. Entoando versos, a dança ainda apresenta uma linguagem corporal quando dão ligeiros toques nos ombros uns dos outros.

A dança possui ainda um sentido religioso quando os moradores se reúnem especialmente para as festas do mês de agosto. Segundo os praticantes além dessas ocasiões especiais a dança ainda era realizada de maneira mais esporádica e espontânea, normalmente ao cair da tarde, depois de um dia inteiro de trabalho árduo.

O que embala a todos é o instrumento de fabricação própria, feito de madeira oca com aproximadamente 1 metro de comprimento e 30 centímetros de circunferência, tal como um cilindro. Em uma das extremidades é pregado um couro, normalmente de veado, por ser bem fininho, ou de boi, quando bem curtido e esticado. No couro é fixado uma vareta - ligeiramente maior que a madeira - que percor re todo o interior do tambor. Grosso modo, o formato se assemelha ao de uma cuíca, porém para tocá-lo é necessário duas pessoas, uma em cada extremidade. Posiciona-se o instrumento no chão e para reproduzir seu som ainda é preciso uma bacia d’água, a fim de auxiliar um dos percussionistas. Enquanto um deles, montado no instrumento, rufa o tambor, o outro se posiciona na parte detrás a puxar a vareta com as mãos molhadas na água da bacia. Com a emissão de um som que se assemelha ao de um ronco, daí vem o nome do instrumento, “roncôi”, por conseguinte o da dança. Embora este seja o nome mais usual outras designações ainda são encontradas, como “Dança do batuque” e “Carneirada”.

Não se deve perceber a dança como um fenômeno isolado. Ela apresenta pontos em comum com manifestações correlatas a exemplo do tambor de crioula do Maranhão, e o jongo do Vale do Paraíba. Seria particularmente interessante fazer algumas comparações com essas manifestações, principalmente, em relação ao tambor de crioula, em que parece apresentar maior proximidade.

A dança mesclava, elementos sagrados, quando era praticada nas festas religiosas, e profanos, quando praticada também como entretenimento. Apresentava, desse modo, essas duas faces.

Para se reforçar a idéia do Gerais Velho ter se formado a partir de escravos provenientes das fazendas próximas ao rio São Francisco, essa mesma dança ainda é praticada, mesmo que num sentido mais folclórico, no município de São Romão. Até onde as fontes permitem afirmar o mais provável é que o Gerais seja remanescente de quilombo, formado a partir de escravos fugidos das fazendas de gado do rio São Francisco, principalmente das imediações de São Romão.

 

Considerações finais

As Comunidades aqui tratadas foram absolutamente importantes para o desenvolvimento do município de Ubaí, mais especificamente, e para a região, de modo geral, e é fundamental que sejam estudadas de maneira mais aprofundada.

A partir das conversas mantidas com os moradores das localidades, é bem notório que tanto aqueles que residem no Gerais, quanto na Biuca, serviram de mão-de-obra barata para os fazendeiros do município e mesmo da região. Em geral, os homens eram empregados como trabalhadores braçais na lavoura, ou como peões nas propriedades do lugar; as mulheres, por sua vez, frequentemente serviam de domésticas nas casas das famílias mais abastadas, ou ainda trabalhavam gratuitamente em troca de moradia e estudo. Tanto num
caso, como noutro serviam como mão-de-obra barata. Mesmo aqueles que decidiram permanecerem nas Comunidades e se dedicarem as suas terras - coletivas, em sua maior parte –, vendiam seus produtos a preços módicos na cidade. Os moradores mais velhos, quando aposentados, ao receberem seus salários na única agência bancária que existe, aproveitavam para comprar no mercado local aquilo que não produziam em suas terras contribuindo para incrementar o comércio.

Por todos esses motivos, e por outros que ainda precisam ser investigados, é que é necessário voltar um pouco as origens desses dois lugares. Conforme os resultados apresentados até agora o que se permite considerar é que a Vila Biúca tenha sido de fato formada a partir da iniciativa de ex-escravos que partiram das fazendas de Contendas. Já o caso do Gerais Velho tudo indica que sua origem se reporta as fazendas próximas ao rio São Francisco, nomeadamente daquelas situadas no entorno de São Romão.


Bandinhas

Clarice Sarmento
Cadeira nº 31
Patrona: Dulce Sarmento

Os primeiros grupos musicais chamados bandinhas, antecederam ao Conservatório e foram criados por D. Marina Lorenzo Fernández, com a finalidade de desenvolver o senso rítmico de seus alunos de piano, ao mesmo tempo em que aumentava seus conhecimentos da música brasileira e do folclore.


Primeira fila: Eleuza Teixeira da Carvalho - Maria Belmice Sarmento da Silva - Abigail Costa Pereira
-Elizabeth Mesquita - Maria Nereuda da Silva –I ranildes Cardoso de Oliveira (maninha) - Maria Neida
Mendes. Segunda fila: Heloisa Helena Sarmento - Maria de Lourdes Versiani Alencar - Izeine Maria
Cardoso de Oliveira - Maria Neide Mendes - Gilda Verônica de Paula (ausente na foto). Terceira fila
(em pé): Clarice Maciel - Marília Cunha - Selda Cabral - Maria do Carmo Maciel - Maria das Graças
Dias Alencar - (Greice) - Bernadete Alves de Aguiar - Laura Gusmão Braga - Maria Aparecida Dias
Alencar - Lídia Pereira - Maria Sheila Pimenta Teles.

 

Eram dois grupos: o das mocinhas e o dos rapazinhos. O repertório do grupo feminino era essencialmente folclórico, de músicas regionais, acompanhado por dois acordeons, pandeiros e outros instrumentos de percussão: chocalhos, triângulo, agogô, pratos, atabaques, bongô e tarol.


CURUMINS

Este grupo de meninos era mais erudito, pelo repertório e acompanhamento de piano, instrumentos de percussão tocados com coreografia e com alguns instrumentos inventados, como o caso de uma engenhoca percussiva feita a partir de um penico, criada por Augustão Bala Doce (sua irreverência já despontava). Tinha também um berimbau, tocado com coreografia. O grupo chamava-se “Curumins”

Entre as peças apresentadas podem ser citadas:

- Ari Barroso: Aquarela do Brasil
- Zequinha de Abreu: Tico-tico no Fubá, Pintinhos no Terreiro e
Sururu na Cidade
- Ernesto Nazaré: Apanhei-te cavaquinho e Brejeiro
- Ernesto Lecuona: Malaguenha
- Isaac Albeniz: Astúrias
- Lorenzo Fernandez: Cateretê

Todos os meninos acompanhavam por partituras, nas quais D. Marina anotava a entrada de cada instrumento.

Apresentávamos em quase todas as festas e reuniões sociais que aconteciam no “Clube Montes Claros”, na maioria das vezes. Infelizmente não encontrei nenhuma foto dos “Curumins”. Faziam parte do grupo: Ricardo e Eduardo L. Fernandez Silva, Eduardo, Ricardo e Claudio Tupinambá, José Eymard, Roberto Luiz e Paulo Cesar Oliveira, Carlos Guilherme, Marcus Alexandre e Augusto Vieira, Artur Ramos era o Pianista.

Estes grupos faziam o maior sucesso no final dos anos 50 (1958-1959). Com a saída de muitos para cursar faculdades em Belo Horizonte, os grupos se desfizeram.

 

TABATORIBA

Em 1962 é formado outro grupo, desta vez de alunas do Colégio Imaculada Conceição e, como os anteriores, sob orientação de D. Marina Lorenzo, sempre pronta a incentivar e orientar toda iniciativa de âmbito musical. Chamava-se TABATORIBA (grupo alegre, em Tupi-guarani). Na revista deste Instituto (vol.V pag. 46), Geralda Magela Sena, no artigo ”O que será TABATORIBA?” descreve como foi criada e a atuação desta “bandinha”.

 

OUTRAS BANDINHAS:

Em 1964, eu lecionava Educação musical para as alunas do curso de formação de professoras, na Escola Normal Oficial de Montes Claros (Somente no ano de 1968, o nome da escola passaria para Colégio Normal Estadual Professor Plínio Ribeiro).

As aulas de Educação musical, (três por semana), eram assim distribuídas: Uma para o repertório infantil, outra para desenvolvimento teórico (ritmo e afinação) e uma terceira para História da Música e Apreciação Musical. Para as atividades, canto coral e grupos instrumentais, por serem com alunos selecionados, os ensaios aconteciam em horários e locais diferentes. Estas atividades não eram remuneradas.

Como minha experiência na bandinha de D. Marina foi altamente enriquecedora, quis criar uma bandinha também com minhas alunas do 20 ano normal, no que fui incentivada e ajudada pela minha mestra, com toda sua criatividade e disponibilidade em ajudar. O diretor da escola, Dr. Luis Pires, era um grande entusiasta e dava a maior força às atividades artísticas.Ensaiávamos no auditório do Conservatório, fora dos horários de aula. Fizemos diversas apresentações na Escola, no Automóvel Clube e no Conservatório.


Na primeira fila, da esquerda para a direita: Leila Veloso: acordeom - Tânia Dutra Nicácio: pratos -
Clarice Sarmento: agogô - Terezinha Laughton: pandeiro - Dorinha Amaral: atabaque - Maria Luisa
Costa (Bisa): Tarol - Iraides Peixoto: acordeon. Segunda fila: Gerinha Figueiredo: pandeiro - Baby
Figueiredo: pandeiro - Irani Peixoto: tantã - Marília Ferrante: pandeiro - Fátima Pinheiro: pandeiro
- Rosemary Tófani: pandeiro - Teresa Cristina Oliveira: bongô. - Maria Tersa Lafetá: afouxê - Silvia
Machado: pandeiro - Cristina Pinto: pandeiro.

Com o término do ano letivo, tivemos que refazer o grupo no ano seguinte. Só que, desta vez, participavam alunas do 10, 20 e 30 anos e sua atividade teve maior duração, de 1965 a 1966.


Da esquerda para a direita: Primeira fila (assentadas): Maria Helena Gonçalves - Terezinha Mary
Parrela Mendes - Maria Dalva Versiani Alencar* - Segunda fila (em pé): Iris Ferreira Leal - Felicidade
Maria do Patrocínio Oliveira - Regina Maria Malveira de Sousa - Maria das Mercês Miranda Rocha -
Josefina Emília Amorim Tupinambá. Terceira fila: Terezinha Ferreira da Silva - Cleuza Coelho Godinho
- Mirtes Margarida Mendes - Vera Lucia Fernandes - Maria Lúcia dos Anjos Câmara. Quarta fila: Maria
Ondina de Paula - Ruth Alkmim - Lenita Arruda Batista.

Apresentações:

- Auditório do Colégio Normal Oficial
- Salão da Indústria de açúcar- Presente o Conde de Matarazzo e funcionários da indústria
- Teatro de Ouro Preto
- Festival do Colégio Isabela Hendrix, TV Itacolomi, recepção na casa do avô de Eleusa Braga (Belo- Horizonte)

Ficaram hospedados em Belo-Horizonte, na Colônia de Férias Silla Veloso (SESC). Acompanharam o grupo: Dr. Hermes de Paula, a professora Cibele Milo, Dona Marina Lorenzo Fernandez e a professora Clarice Sarmento.

Observação: Estes dados foram coletados por Maria Dalva Versiani Aguiar, participante do grupo e incansável na busca de todos os elementos da pesquisa.

BANZÉ

Fundada no Conservatório em 1968, na classe de folclore da professora Maria José Colares, esta “bandinha” teve também toda orientação inicial feita pela professora D. Marina Lorenzo. Sob a coordenação da professora Maria José Colares e a professora Antonieta Silvério, participante do grupo, recebeu professores e membros da comunidade, tornando-se um grupo de grande repercussão nacional e internacional, recebendo muitos prêmios e troféus.

Encampado pela UNIMONTES em 1993, continua hoje sua trajetória de sucessos. (Ver site www.grupobanze.com.br/histórico.htm).



SARUÊ

Também na Unimontes, um grupo sob a orientação de professores de Educação Física, apresenta danças com temática folclórica do norte e nordeste do país e se apresenta em eventos da universidade e comemorações sociais da cidade e região.

 

ZABELÊ

Com a saída do grupo Banzé para a UNIMONTES, foi criado no Conservatório, em 1994, o grupo Zabelê, sob a coordenação da musicista e professora de dança folclórica, Maria Lúcia Macedo.

Voltado também para a pesquisa, tem promovido a divulgação do folclore em todo o território nacional e exterior, tendo participado de nove festivais internacionais de dança folclórica em Montes Claros e um em Gravataí (RS). Participou do X Encuentro Internacional de S. José (Uruguai) e tem um CD gravado com as músicas que apresenta. Está em plena atividade e tem alcançado grande sucesso.

 

FITAS

Fundado em 2005, na Fundação Cultural Marina Lorenzo Fernândez, sob a direção de Ênio Telles, é um grupo bastante apreciado, tendo se apresentado em numerosas cidades da região. Participou dos festivais internacionais de dança folclórica em S. Bernardo do Campo (2008), no Peru (2009) em Recife(2011) e já tem agendadas apresentações em Belo Horizonte e no festival do Rio Grande do Sul (2012). Hoje está sob a direção de Marco Aurélio Dumont. Ver Site www.fitasgrupo.com.br.

Estes grupos divulgaram o nosso folclore regional, projetaram Montes Claros no cenário artístico nacional e internacional, alegraram reuniões e atividades culturais. O Zabelê, o Banzé, o Saruê e o Fitas, hoje em plena atividade, são motivo de orgulho para a “Cidade da Arte e da Cultura”, difundindo nosso folclore e destacando nossa região.


In Memoriam

Dário Teixeira Cotrim
Cadeira nº 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

“A morte vem de manso, em dia
incerto e fecha os olhos dos que têm mais
sono...”.

(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, i.)

Escreveu Lean Cocteau que “o verdadeiro túmulo dos mortos não é o cemitério, mais o coração esquecediço dos vivos”,por isso, há de se lembrar deles por uma eternidade. O nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, com apenas seis anos de existência já contabilizou, com muita tristeza, oito baixas no seu quadro de sócios efetivos. Agora, num esforço hercúleo para não ultrapassar os limites da emoção, estamos relembrando os seus nomes, que ajudaram a escrever a história no nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e que agora estão no plano superior. Todos eles foram possuidores de elevada cultura e merecedores das homenagens, com méritos, que hoje estamos fazendo para publicação na Revista do Instituto. Vejamos então: João Botelho Neto, Adhebal Murta de Almeida, Reivaldo Simões de Souza Canela, Olyntho Oliveira da Silveira, Necésio der Morais, Reginauro Rodrigues da Silva, Maria Fernanda Reis Monteiro e Brito Ramos e Ajax Amaral Tolentino.

João Botelho Neto nasceu no dia 31 de outubro de 1932, filho de José (Zezé) Botelho e de dona Emília Neves Botelho, na cidade de São Francisco/MG e faleceu em Montes Claros no dia primeiro de novembro de 2007. Segundo o nosso confrade Haroldo Lívio, o saudoso João Botelho estava concluindo o seu trabalho de pesquisa sobre o Rio São Francisco. Era, também, membro da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco. “Sua alma partiu para a Eternidade, no dia de todos os santos. E seu corpo desceu ao jazigo, no dia de todos os finados”. No IHGMC ocupava a Cadeira 37 que tem como patrono Francisco Barbosa Cursino (Atual ocupante: Jussara Veloso Ferreira Antunes).

Adhebal Murta de Almeida nasceu em Rubelita/MG, aos 8 de maio de 1921 e morreu no dia 8 de maio de 2008. Ele era filho de Adhemar de Almeida e de dona Emília de Almeida Miranda. Foi vigário nas cidades de Monte Azul, Brasília de Minas, Bocaiúva e Montes Claros. Pertence à Ordem dos Premonstratenses, tendo realizado o curso de Filosofia Pura, em São Paulo. Dirigiu o Colégio Brasil, em Ervália/MG e o Colégio São Norberto, em Montes Claros no decorrer de 32 anos. Membro da Academia Montesclarense de Letras e da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco. Escreveu várias crônicas nos jornais de Montes Claros. No IHGMC ele ocupava a Cadeira 99, que tem como patrono Waldemar Versiani dos Anjos (vaga)

Reivaldo Simões de Souza Canela, poeta (sonetista) e escritor. Era filho de Cândido Simões Canela e de dona Laurinda Prates, nasceu no dia 31 de julho de 1933. Era membro da Academia Montesclarense de Letras e foi eleito para a Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco, que não chegou a tomar posse. Aluno brilhante do curso de Direito pela Unimontes e gostava de escrever crônicas para o Jornal de Notícias, no Suplemento Mulher. Deixou publicado o seu livro de crônicas “Menino Pescador”. Morreu no dia 22 de outubro de 2008. Sobre Reivaldo, escreveu Wanderlino Arruda: “Nobre Reivaldo Canela, os que viveram próximo a você e todos nós, companheiros e amigos, continuaremos por aqui vivendo e saudando-o mais do que calorosamente. Você foi sempre amado e admirado. E árvore plantada com amor, nenhum vento derruba. N em mesmo num grave momento de despedida”. No IHGMC ele ocupava a Cadeira 21, que tem como patrono Cândido Canela (Atual ocupante: Terezinha Gomes Pires).

Olyntho Oliveira da Silveira nasceu em Brejo das Almas no dia 25 de agosto de 1909. Era filho de Jacinto Alves da Silveira e de dona Maria Luiza de Araújo da Silveira. Escreveu, em parceria com a esposa Yvonne de Oliveira Silveira, o livro “Brejo das Almas”. Ainda escreveu “Cantos e Desencantos”, “Minha Terra e a nossa História”, “Postais versificados”, “O Filho da Enfermeira” entre outros. Era membro da Academia Montesclarense de Letras, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Escreveu nos jornais de Montes Claros. No IHGMC ele ocupava a Cadeira 50, que tem como patrono Jair Oliveira (Atual ocupante: Délio Pinheiro Neto)

Necésio Velloso de Morais nasceu no ano de 1922 na cidade de Pedra Azul/MG, que antes chamava Fortaleza e morreu em Montes Claros aos 22 de agosto de 2010 quando a cidade que tanto amou e honrou estava em festa, louvando o Espírito Santo, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. “Era uma enciclopédia viva. Era um contador de histórias, um Forrest Gump norte-mineiro, que destilava sabedoria auxiliada por sua memória infalível por datas, fatos, nomes e pessoas” (Blog de Flávio Colares) No IHGMC ele ocupava a Cadeira 58, que tem como patrono o poeta seresteiro João Souto (Atual ocupante: Maria Ângela Figueiredo Braga).

Reginauro Rodrigues da Silva nasceu na cidade de Almenara/ MG, no dia 18 de janeiro de 1950. Ele era filho de Rebeldino Gomes da Silva e de dona Laura Rodrigues da Silva. Fez o curdo de Direito na Unimontes. “Como teatrólogo Reginauro Silva ajudou a divulgar a arte de representar e brindou Montes Claros com um de seus textos mais criativos, uma homenagem à cidade que tanto amou. “Montes Claros, a formiga que queria ser cidade e virou Princesa”. Também é de sua lavra a peça “Seu marido sabe que você tem outro homem?”, primeiro trabalho do ator gurutubano Jackson Antunes, antes de estrear na Rede Globo de Televisão” (Blog A Província). Morreu no dia 21 de maio de 2012. No IHGMC ele ocupava a Cadeira 11 que tem como patrono Ary Oliveira (vaga).

Maria Fernanda Reis Monteiro e Brito Ramos nasceu em Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro e muito jovem ainda foi morar em Portugal. Casada com Arthur Loureiro Ramos o casal veio residir em Montes Claros. Conforme carta patente do presidente português, Mário Soares, dona Fernanda Ramos foi nomeada Cônsul Honorária de Portugal em Montes Claros. Ela era membro da Academia Municipalista de Belo Horizonte e presidente honorária do Elos Clube de Montes Claros. Morreu dona Fernanda Ramos no dia 25 de junho de 2010, em Belo Horizonte. Em artigo publicado na Revista do IHGMC, disse a nossa confreira Felicidade Patrocínio que “tudo isto e mais que sei dela me causa incontida admiração, mas o que mais me encanta é quando ela deixa escapar o seu jeito de menina grande, não escondendo franqueza nem verdade, enquanto lhe transbordam, ainda, graça, força e determinação”. No IHGMC ela ocupava a Cadeira 49 que tem como patrona a Irmã Beata. (vaga).


Ajax Amaral Tolentino nasceu na cidade de Riacho dos Machados no dia 4 de setembro de 1940 e morreu em Montes Claros no dia 25 de julho de 2012. Ele era filho de Walduque Soares do Amaral e de dona (...). Fez o curso de Direito na Unimontes. Escreveu os romances “Amor Cigano” e “Na Terra do Pequi” e, ainda, participou da Antologia Poética do “Psiu Poético 2010 – Cinepoesia” com três poemas. No IHGMC ele ocupava a Cadeira 22, que tem como patrono Carlos Gomes da Mota e como sua fundadora a professora Ligia dos Anjos Braga. (vaga)

Todas as nossas anotações se referem num momento de saudade, gratidão e de respeito profundo às reminiscências dos nossos sócios falecidos. Numa certa ocasião o nosso saudoso confrade João Guimarães Rosa, com a sua inspiração poética à flor da pele, nos disse com muita propriedade que as pessoas não morrem, elas ficam encantadas. O presidente francês François Miterrand, por sua vez, disse no leito de morte que ele não temia morrer, mas sentia pena de deixar de viver.

Livros consultados
Poetas Ilustres – Dário Teixeira Cotrim;
Revistas do IHGMC (os volumes I a VIII);
Os Blogs: “Flávio Colares”, “A Província” e “O Norte”;
Antologia da Academia Montesclarense de Letras - Volume II;
Na Terra do Pequi – Ajax Amaral Tolentino.


Um jeito novo de comemorar

Felicidade Patrocínio
Cadeira nº 20
Patrono: Camilo Prates

Ficará marcada de forma indelével na memória do povo simples
de Serra Nova e adjacências, a festa que a família Silveira, mais especificamente, os irmãos Patrocínios fizeram para comemorar o centenário de nascimento do seu patriarca Dário Dias Silveira.

Tudo começou em Agosto de 2009, quando José do Patrocínio,
em gozo de férias do Senado, há muito vencidas e postergadas e movido pelas impressões de um sonho que tivera com o seu falecido pai, viaja até Serra Nova, “distrito anexado ao município de Rio Pardo de Minas, localizado entre os vales do Jequitinhonha e do São Francisco, abrigando hoje o Parque Serra Nova que acolhe um braço da Serra do Espinhaço com extensão de quase 50 mil hectares, vários rios e cachoeiras, de 1.455 metros de altitude.” Ali mesmo, onde se inicia o famoso romance “Grande Sertão Veredas,” de Guimarães Rosa, onde, de acordo com pesquisas do historiador Dário Cotrim e informações passadas pela população mais antiga da vila, aconteceu a passagem dos revoltosos da coluna Prestes. Ali, José, na companhia da esposa e irmãs Márcia e Felicidade Patrocínio, inicia os preparativos de uma grande festa para o ano seguinte em comemoração ao centenário do seu pai, nascido naquele povoado. Todos os seus irmãos e descendentes, residentes nos quatro cantos do país, aderiram. Daí nasceu um programa de festa diferente, baseado na lembrança dos benefícios que Dário, grande benfeitor do lugar, sempre oferecera à vila e a seus pobres moradores, mesmo residindo na distante Montes Claros. E o trabalho começou através de contatos com autoridades próximas e distantes, reivindicações de melhorias das vias de acesso ao distrito, terraplanagem e compactação das ruas do povoado, construção da praça central em redor da igreja, passarelas, meios fios, restauração e pintura da grande escola de 1° e 2° graus que abriga 500 alunos da região. Aquilo que José não conseguiu das autoridades, resolveu fazer às próprias expensas: ampliação da igreja, construção da torre do campanário, restauração do grande sino de bronze e muito mais. Durante um ano de idas e vindas, José e familiares, apoiados por parentes residentes em Rio Pardo, de maneira especial pela tia Nenzinha, a mais idosa dos Silveira, cuidaram dos preparativos.

Nos dias 13, 14, e 15 de Agosto de 2010, durante a novena em homenagem à santa padroeira N. Sra. do Patrocínio, aquela que Dário homenageou, estendendo o nome aos filhos, Serra Nova conheceu um novo modo de festejar a gratidão por um homem exemplar e pai extremoso. A todo instante, foguetes pipocavam anunciando a chegada dos Silveira, vindos de toda parte do Brasil. Eram carros, carrões, ônibus, adentrando as vielas do lugarejo com pessoas alegres e felizes saudando o chão da ancestralidade.

Pelas ruas da vila, atendendo à solicitação do irmão José, a escultora Felicidade Patrocínio, filha de Dário, pregava placas artísticas de cerâmica indicativas dos nomes e, na praça da igreja, confeccionou um artístico chafariz que agora oferece beleza e água à população.

Via-se também, plantando árvores, Sebastião Patrocínio, outro filho de Dário que chegara mais cedo e arborizava toda a vila com as 130 mudas de árvores selecionadas e retiradas do seu viveiro de Brasília.

Na Sexta-feira à tarde, no ginásio coberto da escola, iniciou-se a programação oficial com o lançamento do livro editado pela família contendo artigos de todos os filhos do homenageado, pesquisas e redações selecionadas dos alunos e professores da escola, sobre Serra Nova e o cidadão Dário. O Coral da Serra, composto de alunos da mesma escola, ensaiado por Márcia Patrocínio, professora de música em Visconde de Mauá (RJ), apresentou lindas músicas. Discursos eloquentes se fizeram ouvir pelos organizadores do livro, José e Roberto Patrocínio, pelo ex-senador que veio do Tocantins, Carlos Patrocínio, todos filhos de Dário, pelas autoridades de Rio Pardo, inclusive seu prefeito. Logo após, o historiador Dário Cotrim fez palestra apresentando o resultado da sua pesquisa sobre a história do lugar. Presentes, estavam quase toda a população e a Silveirada.


O ex-senador Carlos Patrocínio discursando na inauguração do busto de seu pai,
Dário Dias Silveira, escultura de autoria da filha, Felicidade Patrocínio

À noite, após os ritos religiosos, foram comemorados com trufas e guaranás, os aniversários da semana. Na madrugada de sábado, todos acordaram ao som dos foguetes e da alvorada; uma multidão se juntou aos músicos e cantores nas ruas e após foi servido um lauto café comunitário. A seguir, e novamente no ginásio da escola, os presentes participaram de um show com os artistas Ruy Tupinambá e Eliana Delfino, cujo roteiro valorizava mensagens educativas e éticas, seguido de um gostoso almoço comunitário.

À tarde, causou impacto a beleza da cavalgada, cuja chegada de 150 cavaleiros mostravam blusas estampadas com fotos da santa padroeira e a efígie do homenageado. Junto ao ritmo cadenciado do trote dos cavalos, ouviam-se vivas a Dário Silveira, no som tonitruante das vozes masculinas. A seguir, as rezas, como nos relatos de Guimarães Rosa, tudo cantado e comentado no linguajar puro, devoto e espontâneo do povo nativo. E então, o levantamento do mastro.

A inauguração do busto de Dário Silveira, esculpido em bronze
sobre um elegante socle de granito preto, que o José encomendara a sua irmã Felicidade, foi precedida pelo show pirotécnico que desenhou formas inusitadas e coloriu o escuro céu sobre as montanhas, causando verdadeiro êxtase na grande multidão que viera de todos os arredores. Apresentou-se então a folia de reis, tradição preservada por grupo de músicos e senhoras de Rio Pardo e após esta, o show com cantores e bailarinas de fora, contratados pelo festeiro, no grande palco armado na praça. Foi necessário ao José, entre outras providências, encomendar, a preço de ouro, geradores de energia para a iluminação feérica que possibilitou os festejos.


Descendentes de Dário Dias Silveira em volta do seu busto de bronze inaugurado na praça de Serra Nova

Assim amanheceu o Domingo com missa, coroação da santa na
praça, por anjos ricamente vestidos seguida da procissão que finalizou os ritos da devoção. Tudo foi acompanhado pelo farto pipocar de foguetes executados por Lourival e Donério, também filhos de Dário. A confraternização entre os Silveira foi efetiva e profunda, pois estavam presentes todos os ramos da família da matriarca Felicidade Silveira, a mãe de Dário. Lá estavam os descendentes, em várias gerações dos filhos de Dário e dos seus irmãos, Durvalina, Arlindo e Donério.

Antes de terminar a festa, as irmãs Márcia, Zélia, Graça (filhas do homenageado) e o primo Zé Cícero Silveira, distribuíram 60 cestas básicas de alimentação completas, assim como 60 caixas com utensílios de casa e objetos pessoais, doadas às famílias mais carentes do lugar.

Assim, felizes e já saudosos, nutridos pelo amor e pelas sementes das suas raízes, foram todos se despedindo e tomando os rumos de volta para casa. Então vi que o José estava em paz. Ao retribuir, através de significativo tributo, o amor do seu pai por sua família, por aquela terra e por aquela gente, permitira que nós, seus irmãos, também nos redimíssemos nesse resgate. Emocionada com tudo isso, deixei rolar algumas lágrimas, percebendo mais uma vez, que se quisermos e fizermos, o mundo pode ser melhorado, bastando para isso, vivificar com um “sopro” o amor que dorme em nossas sombras.


Centenário de Jader Figueiredo

Haroldo Lívio
Cadeira nº 82
Patrono: Nelson Viana

Há precisamente oitenta anos atrás, no ano de 1932, um jovem montes- clarense de vinte anos, quase adolescente, alistou-se para combater os paulistas na Revolução Constitucionalista. Pena que ele tenha escolhido a bandeira errada, porque os sediciosos de São Paulo estavam lutando por um ideal democrático, porém o espírito da mineiridade falou mais alto e o fez envergar o uniforme da Força Pública de Minas Gerais. Por seu grau de instrução de ex-aluno do célebre Gymnazio Leopoldinense, recebeu a patente provisória de 2º Tenente e partiu para a frente de combate comandando um pelotão. Participou de escaramuças, no teatro de operações, até que veio a celebração do armistício, com a rendição dos bravos paulistas que clamavam pela convocação de uma constituinte. Após o cessar-fogo, o tenente Jader foi designado governador militar da cidade de Leme, então ocupada por tropas mineiras. Ocupou a prefeitura e passou a administrar o município, sem contar com o apoio da população, que o rejeitava.

No começo da interventoria, mal podia sair à rua, pois os moradores, humilhados com a presença do inimigo, batiam as janelas à passagem do governador militar que, habilmente, encontrou meios para aproximá-lo dos cidadãos lemenses. Tomou gosto pela administração municipal e deixou marcos de sua passagem pelo governo, ao fim do qual conseguiu efetivar diversos melhoramentos urbanos.

Conquistou, finalmente, a simpatia da cidade inteira, tanto que ao encerrar seu período deixou Leme debaixo dos aplausos da cidadania agradecida, que compareceu maciçamente ao seu embarque de volta para casa. Quem praticou esta proeza política foi um garoto de vinte anos, mal despertado para a vida.

Jader Dias de Figueiredo, o tenente de que falamos, faleceu há
dez anos e nasceu há cem anos, no dia 15 de março de 1912. Poucos montes-clarenses amaram o seu berço com a mesma intensidade que ele o amou. Ele era apaixonado por sua terra natal, sendo capaz até de violência para beneficiá-la, como o fez quando obteve de JK, seu grande amigo e confidente, a transferência da diretoria da Comissão do Vale do São Francisco (hoje Codevasf) de Pirapora, na beira do rio, para Montes Claros, no seco. Por estas e outras, sempre que surgia uma empreitada difícil, tipo missão impossível, lembravam-se de confiá-la ao comando de Jader Figueiredo, tido como o homem
providencial e capaz de operar milagres em situações aflitivas.

Por ocasião do rumoroso crime passional do Hotel Trampolim, no Rio de Janeiro, em 1953, envolvendo o pecuarista João Alencar Athayde em duplo homicídio, Jader comandou uma força-tarefa de homens destemidos dispostos a correr perigo em defesa do amigo em apuros, ferido e exposto à sanha dos colegas das vítimas, dois policiais civis. Não só garantiu a integridade física do pecuarista, com seus fieis escudeiros, como também teve participação primordial na coordenação da defesa do réu em juízo, sendo um dos artífices da estruturação da tese de legítima defesa, que foi admitida na sentença de impronúncia que dispensou o júri popular, isentando-o de culpa.

O criminalista Sobral Pinto, patrono da causa, tornou-se grande admirador da inteligência e da habilidade diplomática do montes-clarense, lamentando que não fosse advogado.

Engano do mestre, pois o nosso personagem já tivera experiência de advogado criminal, em tempos idos, na comarca de Coração de Jesus, quando o juiz o nomeava defensor dativo do réu pobre que não dispusesse de recursos para contratar advogado. E diplomata, representando o Brasil, ele o foi também em 1956, chefiando a delegação brasileira em um congresso iberoamericano de municípios, em Madri. Esteve em Roma e foi recebido pelo Papa Pio XII, em audiência especial na residência de verão de Castel Gandolfo. Voltou de lá com a bênção apostólica do sumo pontífice, mas não mudou nada por este motivo. Continuou vivendo como gostava de viver e achava que valia a pena viver.

Foi vereador, foi deputado, foi nomeado secretário de administração pelo governador Bias Fortes e não quis tomar posse. Passou bom período morando só em uma ilha fluvial, observando a natureza e refletindo. Quem poderia entender o que passava por sua cabeça de elevado QI. Contudo, foi o norte-mineiro mais bem relacionado na vida pública nacional, depois do ministro Francisco Sá, não resta a menor dúvida. Esteve bem próximo de Juscelino, de Jango, de Santiago Dantas, de Tancredo Neves, mas nada pleiteou para si desfrutando da intimidade dos poderosos. Gostava da tranquilidade, do pôquer com os amigos, de recordar os bons tempos do cassino da Pampulha, onde deslizava pelos salões ao som caribenho da orquestra Lecuona Cuban Boys, quando o jogo era livre; das partidas no Clube Montes Claros e no Automóvel Clube de Belo Horizonte. Na Capital, ele e Hermenegildo Chaves, o Monzeca, depois de fechado o clube e já nos primeiros albores da manhã, iam para o Mercado Central comer feijoada e matar saudades de Montes Claros.

Jader não envelheceu esquecido num canto, embora quase não
saísse. Tinha a casa sempre cheia de amigos e recebia o afeto da família, que não lhe faltou. Sua cidade, por projeto da vereadora Fátima Pereira, destinou seu nome à rua situada na lateral esquerda da Codevasf, em agradecimento pelos serviços prestados, faltando apenas colocar a placa. Solenemente, com fogos e banda de música, como manda o figurino.


Quem foi Joaquim Nagô?

Itamaury Teles de Oliveira
Cadeira nº 84
Patrono: Newton Prates


Joaquim Nagô

Andei à procura do meu chapéu Panamá desaparecido, inclusive por meio de crônica, no jornal e na internet. Solidários, leitores sugeriram que me apegasse a São Longuinho - dando três pulinhos - que eu o encontraria. Todavia, preferi mesmo foi invocar o Joaquim Nagô, conhecidíssimo em Montes Claros, onde inaugurara o cadafalso, na antiga Rua da Forca.

Fiz apenas pedido mental, sem balbuciar coisa alguma. Sem rezas ou velas acesas, por não me ser agradável o cheiro de parafina queimada...

Acredite quem quiser, mas o meu chapéu foi re-encontrado no dia seguinte. Atribuí o achado ao Joaquim Nagô, em nova crônica. Mas ficou no ar a curiosidade popular sobre quem fora
ele, principalmente entre os não nascidos em Montes Claros.

Joaquim Nagô - ou Joaquim Africano - era um jovem escravo, natural de Nagô, na África, que fora condenado à forca por um crime que não cometera.

Ele foi acusado de haver assassinado, a 22 de abril de 1835, Joaquim Antunes de Oliveira, em São José do Gorutuba. A acusação baseou-se estritamente em provas testemunhais, “por ouvir dizer”. Ao longo do processo, praticamente fora seu único defensor, negando a autoria do crime. O julgamento, por júri popular, o condenou à “pena de morte natural por enforcamento”, o que foi confirmado pelo Regente, em nome do Imperador. Em 26 de março de 1836, ordenou a execução do réu “com as solenidades de estilo”.

Em patíbulo montado nas cercanias do atual Café Galo, seu enforcamento não foi fácil. Segundo relato do historiado Nelson Vianna, em seu livro “Serões Montesclarenses”, a corda se partira duas vezes. A sentença de morte só foi cumprida, pelo famoso carrasco Fortunato José, depois de utilizado forte laço de couro trançado e ensebado, que Francisco Xavier do Ó, conhecido por Xico do Ó, cidadão que assistia à cena, buscara em sua casa.

Embora os assistentes pedissem clemência para o réu, o escravo Joaquim jazeu dependurado pelo pescoço. Isso aconteceu em 30 de maio de 1836...

Muitos anos depois, em Diamantina, um tropeiro agonizante confessa a autoria do crime atribuído a Joaquim Nagô: a morte de Joaquim Antunes, na vila de São José do Gorutuba (atual distrito de Porteirinha).

Para o historiador Hermes de Paula, em seu livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, Joaquim Nagô “não chega a ser um santo completo com poderes de realizar milagres, atos sobrenaturais. Contudo, sua alma se purificou, tornou-se acessível, capaz de ouvir e atender às donas de casa em pequenas aflições, como achar uma agulha ou tesoura perdida, abrandar tempestades, chegando às vezes a intervir em acontecimentos graves, sempre ligados à esfera doméstica.
Com uma auréola de semi-santidade e protetor dos aflitos, é conhecido e respeitado; há casa onde a sua devoção chega às raias da impertinência - dez vezes por dia “pegam” com a alma de Joaquim Nagô, quase sem motivo - acostumaram-se a lhe dar serviço.”

Agora, Virgínia de Paula, filha do historiador, pesquisa para saber onde Joaquim Nagô fora sepultado. Segundo já apurou, teria sido em antigo cemitério onde hoje se situa o bairro Delfino Magalhães, que seria exclusivo para a última morada de escravos. Mas muito longe do centro da então Vila de Montes Claros de Formigas, no entorno da Praça da Matriz.

Sabe-se que havia cemitério mais próximo, na Malhada das Almas, onde a Catedral de Nossa Senhora Aparecida foi posteriormente erguida, no início do século passado. Acho mais plausível tenha sido ali a última morada do semissanto Joaquim Nagô, que, ainda hoje, inspira a devoção de muitos montes-clarenses...


A Revista do Instituto

Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Cadeira nº 56
Patrono: João Luiz Lafetá

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, fundado em 27 de dezembro de 2006, vem cumprindo seu papel de difundir, entre os filhos de Montes Claros e de toda a região norte mineira, valores, conhecimentos e matérias circunscritos ao patrimônio histórico, artístico e cultural regionais. E a empreitada não configura trabalho de pouca monta: requer pesquisa, dedicação e idealismo dos seus membros. Estes, reunidos pelo amor à cultura e dotados do espírito de doação, acreditam na educação como princípio norteador dos valores maiores e creditam ao conhecimento a respeito de seu lugar de origem e dos homens que o fizeram as bases para as conquistas futuras. Na vida cultural brasileira, o papel desempenhado pelos Institutos Históricos e Geográficos foi determinante para descobrir valores e cristalizar bens imateriais.

Esta nona edição da Revista do IHGMC vem consolidar uma
publicação semestral de artigos, ensaios e textos opinativos, todos pautados pela vocação cultural e pela ambição de lutar em prol da preservação dos patrimônios culturais de uma região sabidamente esquecida do estado de Minas Gerais.

Os “Gerais” mineiros, boa parte do que compõe o Sertão imortalizado por Guimarães Rosa, até pouco tempo eram tidos como terra de excentricidades (refiro-me ao sentido lato do termo), de violências, de atraso e pobreza cultural. Não é. No local onde existiam os fazendões de gado - e a despeito da ausência das políticas públicas, que ignoraram durante anos essa parcela do Estado - vigorou um povo forte e trabalhador e uma cultura rica e diversificada. A língua, substrato do processo inventivo de que se municiou Guimarães Rosa para escrever seus livros, ficou aqui conservada como nos tempos da colonização, diferenciando-se, portanto, do falar de qualquer outra parte do Brasil. Petrônio Braz, escritor e pesquisador, registra em seu livro, O Léxico Barranqueiro, incontáveis verbetes desse falar sertanejo. Essa é uma prova de que a idealização e a constituição de um Instituto Histórico e Geográfico da região eram mais que necessárias.

O IHGMC veio cumprir uma lacuna entre as associações e academias existentes nesses Gerais mineiros. E esta publicação vem resgatar um desejo natural de promover valores e bens que o tempo, naturalmente, concorre para corroer. A escrita destes artigos representa uma luta contrária ao poder destruidor do tempo, imortalizando, pelas letras, as histórias e personalidades que constituem a identidade do nosso povo. E essa razão já é suficiente para recomendar a leitura da revista que ora se apresenta.

A despeito de não se constituir uma publicação científica, no que tange à formatação e à proposta, trata-se, entretanto, de um periódico cuja natureza é, sim, investigativa, e cumpre bem seu papel de divulgar nomes, lugares, valores e fatos que constituem a formação do sertanejo. Trata-se, portanto, de matéria de ciência, mas contém, especificamente, o saber e o saber da nossa gente.


Isabel Rebello de Paula, a mulher
que sonhou a Unimontes

Ivana Ferrante Rebello
Cadeira nº 56
Patrono: João Luiz Lafetá

RESUMO: Este trabalho é fruto de uma entrevista concedida a mim por Isabel Rebello de Paula. A intenção era redescobrir os movimentos fundadores da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, a FAFIL, matriz da Universidade Estadual de Montes Claros. Na ocasião, a entrevistada disponibilizou para leitura e reprodução os arquivos pessoais, guardados com inegável desvelo, nos quais encontrei dados constantes desse texto. Além de desvelar os trâmites do nascimento da Unimontes, encontrei uma História, ainda encoberta que identificava o pioneirismo e a luta de um grupo de mulheres, responsável pelos novos rumos culturais da região norte mineira. Palavras- chave: Isabel Rebello, Fafil, História, Unimontes.

Nos cento e vinte mil quilômetros quadrados do sertão mineiro,
então chamado “polígono da secas”, numa área correspondente a 1/5 do território de Minas Gerais, havia 57 estabelecimentos de ensino de nível médio, que atendia uma população de mais de um milhão de habitantes. Os poucos que conseguiam terminar os estudos ficavam paralisados, impotentes para vencer as distâncias de todos os níveis que delegava ao sertão norte- mineiro o atraso e o esquecimento. Entre os poucos afortunados que saíam em busca de
aprimoramento em nível superior, muitos desistiam, vencidos pelas dificuldades advindas, em sua maioria, da posição marginal do estado em relação às políticas públicas. Outros se deixavam ficar nos grandes centros, atraídos pelas oportunidades das metrópoles. Entre os 57 estabelecimentos de ensino, 97% eram de iniciativa particular, o que testemunhava o olhar preguiçoso do estado em relação aos Gerais Mineiros. O berro do boi e o braço forte do sertanejo marcavam o compasso da vida.

Montes Claros de 1961 contava com pouco mais de 70.000 habitantes. Era uma cidade de ares interioranos, como uma menina vestida de chita, sertaneja em tudo, escondida entre montanhas, afastada dos grandes centros, cuja economia desenvolvia-se basicamente em torno da pecuária de corte. Mas era uma cidade com pretensões de ser grande. Na cidade norte-mineira fervilhava um espírito de luta e destemor, espírito acolhedor de tantos quantos aqui chegassem, com mãos fortes de fazer e ideias de construir.

No entanto, a cidade de Montes Claros tinha a vocação do ensino, conforme testemunha a professora Isabel Rebello de Paula, em artigo antológico do nº 1, da revista Vínculo, que até hoje é publicada no Departamento de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros.(5) Em tal artigo, a historiadora Isabel Rebello registra que a Montes Claros daquele tempo já contava com um terço de sua população em bancos escolares. E era a localidade que mais comprava livros entre todas as cidades interioranas de Minas Gerais. Mas a terra fértil, o clima e a tradição, que vinculava a cidade aos Currais de Gado da província de Pernambuco, já tinham desenhado as linhas gerais de uma história que só seria modificada porque uma mulher ousou sonhar.

Nesse aspecto, ressalte-se que a História que conhecemos, e que habitualmente encontramos nos manuais de História, foi escrita pelos homens, sobretudo a história dos Gerais mineiros, consolidada num patriarcado feroz e numa ferrenha luta pelo poder travada entre coroneis e jagunços. A mulher, conforme os poucos registros documentais e uma ainda incipiente historiografia literária da região, ficava confinada no espaço doméstico e na tarefa de procriar e criar a prole, quase sempre numerosa, que lhe cabia.

Na década de sessenta do século XX, esse modelo social pouco se tinha alterado na cidade de Montes Claros, sobretudo se considerarmos a escassez de escolas e as raras oportunidades que se abriam aos jovens. Profissionalmente, era aceitável que a mulher se constituísse como professora, mas, então, a figura da mestra escolar pouco se diferia do modelo da mãe abnegada, o que nos leva a crer que o magistério era pouco mais que a extensão do próprio lar.

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5 A revista Vínculo, Ano I, nº 1, foi publicada em março de 1973. Sua diretora e fundadora foi Isabel Rebello de Paula.
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Nesse quadro, em que o ritmo da vida muito se assemelhava ao celebrado por Drummond em “Cidadezinha Qualquer”, uma mulher ousou sonhar e a História de Montes Claros, a partir daquele sonho, efetivamente mudou.

Tal registro importa por duas razões: primeiramente pela tendência cada vez maior de se retomar os documentos do passado, procurando neles as marcas de silenciamento e as rasuras impostas pelas interdições e pela censura. A voz de muitas mulheres desbravadoras, corajosas e atuantes começa a surgir desses guardados e redesenha outros traços constituintes de novas identidades e de novas relações sociais. O que se tem descoberto é que o papel da mulher foi mais expressivo e forte do que originalmente se supôs. A outra razão é que os estudos atuais possibilitam a oitiva de outra História - dessa vez, contada por mãos de mulher.

Assim, para corrigir uma lacuna da História que conhecemos e para ser justa com a memória dos homens e mulheres montes-clarenses é que retomo a gênese da Universidade Estadual de Montes Claros, para onde confluem tantos nomes, tantos esforços conjuntos e o ideal comum de se fundar uma instituição de ensino superior em Montes Claros.

Era uma pequena cidade sertaneja que abrigava grandes mulheres. E entre essas mulheres destaca-se uma jovem, seus vinte e poucos anos, seus livros, seus ideais, sua coragem. Essa jovenzinha era Isabel Lafetá Rebello, que cursava o último ano de História, na Universidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Era o ano de 1961, aproximavam-se as férias escolares, o caminho de volta a Montes Claros parecia traçado, mas Isabel lança a Maria Dalva Dias, então cursando Geografia na mesma instituição, a pergunta decisiva: E se fundássemos uma faculdade de Filosofia em Montes Claros?

A hipótese, lançada ao ar, ganhou força e ares de realização. Juntaram-se as duas em conversação com o fundador da Faculdade de Filosofia da UMG, Professor Tabajara Pedroso, para saberem da viabilidade da ideia. Essa conversa - cujo teor somou entusiasmo e advertências acerca das inúmeras dificuldades que encontrariam, selou os rumos daquela ideia, que, naquele momento, já se tinha convertido em ideal, propósito e projeto.

Havia uma manifestação, sob forma de lei estadual, que “criava” a Universidade Norte Mineira e estabelecia, em seu artigo 9º, que as primeiras unidades a se implantarem na região seriam uma Escola de Agronomia e Veterinária e um Instituto Superior de Pesquisas da Região. O interesse do legislador, coerente com a vocação agropecuária da região, não encontraria ressonância entre os nascidos em Montes Claros.

Em 30 de julho de 1962, no auditório do Colégio Imaculada Conceição, o professor Zair de Carvalho Rocha, representando o então governador do Estado, Magalhães Pinto, procedeu à “instalação” da universidade. Era pretensão de o governo convocar a população local para uma espécie de “esforço de guerra”, pois caberia à dita população sustentar essa universidade que lhe fora outorgada por Lei. O resultado é que a sonhada empreitada entrou num estágio de desânimo, descrédito, até chegar à “desativação”. Eis por que aquela pergunta lançada por Isabel Rebello à colega Maria Dalva Dias de Paula iria encontrar em solo montes-clarense outro propósito para florescer. Isabel acreditava firmemente que formar educadores seria o passo prioritário para colocar a pequena cidade de Montes Claros no caminho do desenvolvimento e do progresso. Em palestras, conversas e entrevistas feitas por Isabel a boa semente seria lançada e ganharia adeptos. Montes Claros tinha fome de saber. Estava lançada a pedra fundamental, em cujas bases se construiria a Unimontes.

Isabel Rebello e Maria Dalva Dias reuniram, em Montes Claros, um grupo de mulheres entusiastas, afeitas à educação, idealistas, corajosas, movidas pela inquietude de realizar. Esse Grupo Fundador era formado por Isabel Rebello, Maria Dalva Dias, Maria Florinda Ribeiro Marques, Maria da Consolação Figueiredo, Maria Isabel Figueiredo Sobreira. Formaram-se, a partir daí, várias comissões de trabalho, unidas pelo mesmo ideal. Em 2 de agosto de 1963, a Fundação Educacional Luiz de Paula (FELP) encampou a luta que se travava e abraçou o ideal da constituição de uma escola de ensino superior em Montes Claros. Estavam presentes os senhores Luiz de Paula Ferreira, José Monteiro Fonseca, José Carlos Lafetá, Simeão Ribeiro Pires, Alberto Celestino Ferreira, José Lopes de Oliveira, João Valle Maurício, Francisco Antônio Oliveira e Genésio da Costa Zuba. Esses senhores, ouvindo o apelo daquele grupo de mulheres, engajaram-se na luta estabelecida para viabilizar a primeira instituição de ensino superior de Montes Claros. Tais foram as pioneiras daquele ato fundador: Isabel Rebello, Maria Dalva Dias, Maria Florinda Ramos, Heloísa Veloso dos Anjos, Maria Isabel Magalhães Figueiredo, Yêdde Ribeiro Christova, Maria da Consolação de Magalhães Figueiredo, Marlene Veloso Pereira, Maria de Lourdes Santos Zuba, Glacira Guimarães Mendes e Maria Jacy Ribeiro. Na ocasião, constituiu-se uma Diretoria Provisória, formada pelos componentes do grupo de trabalho que vinha atuando juntamente com a FELP, tendo a professora Isabel Rebelo na presidência. Em 19 de setembro do mesmo ano, a FELP encaminhou expediente à Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura comunicando a criação da Faculdade. Nesse ato, também se nomearam as comissões de trabalho, que assim se estabeleceram: Comissão de Documentação da Entidade Mantenedora: Dr. Luiz de Paula Ferreira, Conselho Curador e Conselho Diretor da FELP; Comissão de Elaboração do Regimento Interno: Florinda Ramos Peres, Maria Dalva Dias e Isabel Rebello; Comissão de Organização Didática: Isabel Rebello, Maria Dalva Dias, Maria Isabel Figueiredo e Maria da Consolação Figueiredo; Comissão de Documentação do Corpo
Docente: Isabel Rebello e Geraldo Lafetá Rebello.(6) A ideia de Isabel Rebello de Paula ganhava, dessa forma, força documental e registro definitivo. Em outubro de 1963, a Diretora Executiva da FELP, Isabel Rebello, esteve no comando do Curso Preparatório, destinado a aqueles que desejassem prestar o concurso de habilitação para o ingresso na recém-criada faculdade. No mês de dezembro, foram aprovados o Regimento Interno e a Organização Didática da Faculdade, que se iniciaria com os cursos de Letras, Geografia, História e Pedagogia. Em 1964, as salas de aula, que então funcionavam nas dependências do Colégio Imaculada Conceição, abriam-se para acolher os primeiros alunos. Esse foi o ano de batismo da Fundação Universidade Norte Mineira; esse foi a marco fundador da UNIMONTES.

A instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas Gerais surgiu das bases, refletia o anseio e a coragem das suas jovens idealizadoras e o inconformismo de uma região cujo destino parecia ser o da marginalidade e da pobreza. O esforço empreendedor de tantos quantos se uniram para sua criação, manutenção e viabilidade, reflete bem a força do sertanejo, quando se trata de resolver problemas.

Em 12 de outubro de 1964, chega a Montes Claros, atendendo
convite da Faculdade de Filosofia do Norte de Minas, o professor Joseph Damien Saunal, catedrático da Sourbone, e então adido à Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais. As conferências proferidas na ocasião - com temas que versavam sobre Chateaubriand e a Independência do Brasil, Camus e A Peste - atraíram um grupo ávido por debates intelectuais, causando no professor visitante vívida impressão. Em entrevista ao Diário de Montes Claros, o professor Saunal declara o que hoje se configura como predição: “O desenvolvimento intelectual da cidade vai fazer de Montes Claros a capital intelectual do Norte de Minas.” 7

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6 - Os dados constam da Ata de Fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Arquivo pessoal de Isabel Rebello de Paula.
7 - A entrevista pode ser lida na íntegra no Diário de Montes Claros, Ano III, nº 349, de 13 de outubro de 1963, p.1. Esse jornal, bem como outros documentos relativos à fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas (FAFIL), fazem parte do arquivo pessoal de Isabel Rebello de Paula.
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Isabel Rebello de Paula foi Professora de História na FAFIL; fundadora da revista Vínculo; Vice-diretora da FUNM, presidente da Comissão Técnica De Concursos, chefe do Departamento de Ciências Humanas da FAFIL, Fundadora e coordenadora do centro de Estudos Históricos da FAFIL, Diretora Executiva da Fundação Educacional Luiz de Paula, Co-fundadora e primeira diretora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Montes Claros. Essa filha de Montes Claros, nascida na família de Jayme Rebello e de Dolores Lafetá Rebello, tem-se destacado por sua inteligência, sua elegância natural, sua discrição. Multiplicou-se em muitas mulheres, cumprindo um destino tradicional a todas nós.

A História, escrita por mãos de mulher, dá curso a uma necessidade de se recuperar, por entre a corrosão natural do tempo, os vestígios da presença da mulher norte- mineira na construção de uma cidade que, doravante, encontraria outro curso. Desnecessário é lembrar a influência e participação da Unimontes na economia, no ensino e na cultura local. Estendendo-se a várias localidades circunvizinhas, a Universidade Estadual de Montes Claros alcança proporções talvez não imaginadas por aquele Grupo Fundador, constituído de mulheres. Se a bota do tropeiro e a “precata” do sertanejo pisaram o barro, lutaram contra os desafios da seca e conquistaram as terras, foi pela voz e pelo movimento inquieto da mulher que a cidade sertaneja expandiu sua cultura.

Um rio nasce pequenino por entre as pedras da montanha. Mas
ele irrompe com força por sobre os obstáculos do caminho, abrindo espaço entre montanhas, rodeando pedras e lajedos, descendo montanhas, alimentando-se das águas de outros rios para ir mais longe, cumprir seu destino de ser parte do mar. Esse rio nasceu há muito tempo, no coração de uma jovem mulher. Nasceu como ideia, cresceu como vocação e cumpriu seu destino natural de provocar os lugares enrijecidos, amealhar riquezas, desbravar territórios do saber. Esse rio tinha o nome de progresso, alimentou-se do trabalho e do sonho de muitos, mas teve uma mãe.

Isabel Rebello de Paula foi a mulher que sonhou a primeira instituição de ensino superior para Montes Claros, que deu origem à Universidade Estadual de Montes Claros.


REFERÊNCIAS

Ata de Fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Montes Claros, 2 de agosto, 1963.
Diário de Montes Claros. Montes Claros, 13 de outubro de 1964. Ano III, nº 349, p. 1.
REBELLO, Isabel. “Pequena resenha histórica da Fafil”. Revista Vínculo, 1973, p. 9-12.
REBELLO, Isabel. “FAFIL: seus ideais, seu compromisso, suas necessidades, seus valores.” Revista Vínculo, 1987, p. 9-18.

 


Coisas do passado V

Juvenal Caldeira Durães
Cadeira nº 81
Patrono: Nathércio França

Na década de trinta, o ensino era acanhado e fora do alcance das classes menos privilegiadas. O curso primário na cidade de Montes Claros resumia em poucos estabelecimentos. Na zona rural, era precário, ministrado em casas inadequadas e mantido pelos moradores. O ensino secundário era raro, e o superior não existia na nossa região. De modo geral, a educação era deficiente e de difícil acesso. Só os afortunados tinham oportunidades de fazer os seus primeiros estudos aqui, para depois continuar com cursos superiores nos grandes centros.

Com o passar do tempo, as coisas foram evoluindo e o ensino
também, mas a passos lentos. Em 1955, ao terminar o 1º grau em Londrina, regressei à cidade de Montes Claros com o propósito de matricular-me no curso científico (2º grau). Para a minha surpresa, esse curso não existia na nossa região. Apenas funcionava o curso normal no Colégio Imaculada e na Escola Normal. No Instituto Norte Mineiro, era ministrado o curso técnico de contabilidade.

Juntei-me a um grupo de jovens amotinados que também, pleiteava o curso científico e fomos para as ruas, para a Escola Normal e às casas de políticos atrás de soluções para o funcionamento do referido curso. O tempo passava, as promessas tornavam-se vazias e a nossa pressão aumentava, até que o bondoso bispo D. José Alves Trindade resolveu o problema com a instalação provisória do curso no Colégio Imaculada com anuência das irmãs, enquanto preparava o Colégio Diocesano para nos receber e dar continuidade as nossas pretensões.

Destacaram como alunos pioneiros do curso cientifico em Montes Claros: Délcio Gonçalves (líder do movimento), Franklim Santos, Juvenal Caldeira Durães, Antálcidas Drumond, Cícero Medeiros, Célio Dourado, Homero Meira, Lúcio Benquerer, João Élcio Rocha, Bernardo, Celso, Paulo Ponciano, Cláudio Pereira, Marlene Veloso, Dulce Mendes Cardoso, Maria Zoé, Miriam Dalva, Ione Ribeiro, Juracy Sena, Mário Vasconcelos, Humberto Queiroz e outros.

Como professores colaboradores do curso: Engº Dr. João Antônio Pimenta de Carvalho, Dentista Dr. Fábio de Castro, Monsenhor Gustavo de Souza, Pe. Joaquim Cesário de Macedo, Pe. Paulo Pimenta de Carvalho, Pe. Stanislau, Irmã Branca, Irmã Galgânia, Irmã de Lourdes, Irmã Nina, Engº Dr. Américo, Farmacêutica Santinha Dias, Dentista Dr. Francolino Santos e outros, profissionais liberais e religiosos de boa vontade. Profissionais do Ensino: Professor de História Pedro Santana e a Professora de Filosofia e Espanhol Maria de Lourdes Freitas.

O tempo passou, Montes Claros cresceu e o Ensino não ficou para trás. Acompanhou o efervescente crescimento da cidade, levando-a à categoria de centro universitário e de cidade pólo do rincão Norte Mineiro. Hoje, contamos com uma universidade estadual que vi nascer, crescer e amadurecer. Além de várias faculdades particulares, cursos pré-vestibulares, colégios de 1º e 2º graus.

Venho seguindo e participando da evolução e trajetória do Ensino no Norte de Minas. No período de 1955/57, fui aluno do curso científico. No curso superior, participei desde seus primórdios na década de 60, como aluno das primeiras turmas dos cursos de Pedagogia em 1964 e de Matemática em 1968. Como professor de Matemática e Física (Reg. da CADES/MEC) a partir de 1957, chefe de departamento de Matemática, vice-diretor por várias ocasiões e como diretor do Centro de Ciências Humanas/CCH./UNIMONTES até 1997, com a aposentadoria.

Baseado nessa vivência desde 1955 no meio educacional, pensei produzir um histórico detalhado sobre o assunto, mas como o espaço é curto, tratarei apenas de alguns detalhes, aparentemente simples, mas imprescindíveis à história do Ensino em geral, a partir de 1958 e a dos 50 anos da UNIMONTES, por ter servido de sustentáculos nos bastidores dos colégios e do moroso e penoso trabalho de implantação da FUNM, por pessoas abnegadas e devotadas ao bem comum.

Além dos professores pioneiros do curso científico, acima citados, enumeramos os principais professores que compunham o corpo docente da Escola Normal Oficial (Efetivos da Congregação e contratados):

Português: Márcio Aguiar, Rosita Aquino, Eloísa Neto, Tereza Barbosa; Matemática: João de Almeida Filho, Waldir Rametta, Juvenal Caldeira Durães, José Carlos Callado, Alcides de Carvalho e Rosa Terezinha Durães;
Latim: José Amâncio; Francês: Terezinha Guimarães;
Inglês: Jane Crosland Guimarães, Edmundo Andrade Santos;
Ciências: Francolino Santos, Aloísio Pimenta;
Geografia: Francolino Santos, Neize Melo Franco e Neuza Maciel;
História: Pedro Santana, Neide Melo Franco;
Desenho e Artes: Zorilda Madureira e D. Taúde ( também diretora);
Música: D. Dulce Sarmento e Clarice Sarmento;
Educação Física: Naide Veloso, Piloto e Lígia Dias;
Biologia: Luiz Pires;
Química: Simeão Ribeiro;
Magistério Primário: Heloísa Sarmento, Terezinha Pimenta e outros.

Em 1962, a saudosa Escola Estadual Oficial foi transferida do velho casarão da rua Cel. Celestino nº 75 para o novo e suntuoso prédio que levou o nome de seu benfeitor Dr. Plínio Ribeiro, possibilitando a ampliação de turmas e a admissão de novos professores para atender ao crescimento e ao curso científico implantado.

A congregação dos “intocáveis” da velha Escola Normal foi democratizada e acessível a todos os professores concursados, mudando profundamente a sua filosofia e passando a funcionar com mais 4000 alunos. A nova denominação de “Escola Estadual Prof. Plínio Ribeiro /EEPPR”, não mudou o habitual e tradicional nível elevado de ensino do educandário até pouco tempo, caindo com a defasagem óbvia proveniente das medidas governamentais, apesar do empenho
e qualificação superior dos professores.

O ensino superior começou com a eficaz e valiosa atuação do
deputado Cícero Drumont junto às autoridades governamentais em prol da criação da FUNM em 1962, sendo transformada em 1990 em “Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES”.

Não podemos esquecer do movimento e empenho das incansáveis “meninas loucas” como disse a professora e escritora Yvonne Silveira num de seus discursos em referências às recém-formadas em Educação na capital Belo Horizonte, que regressaram à nossa terra com o propósito de lutar para a criação do ensino superior que, até então, não passava de um sonho dos norte-mineiros. Esse grupo de revolucionárias formadas pelas irmãs gêmeas Mary e Baby Figueiredo, Florinda Ramos, Dalva Dias, Isabel Rabelo, diretora dos primeiros cursos com início em 1964 nas dependências do Colégio Imaculada: Português, Geografia, História e Pedagogia, do qual tive a honra de ser aluno ao lado de uma elite pensante que esperava por uma oportunidade para desabrochar seus conhecimentos acumulados pelas experiências vividas, como a escritora Maria Pires, a famosa diretora educacional D. América Nogueira, D. Elisa Pires e outras personalidades de mesmo nível e com suas situações profissionais definidas.

Posteriormente o grupo foi reforçado para manter os cursos com eficiência, com a chegada de Glacira Mendes, Maria de Lourdes Freitas e Sônia de Quadros, também formadas nas faculdades de Belo Horizonte e, ainda aproveitaram intelectuais, profissionais liberais e religiosos de notório saber, para completar o corpo docente para aprimoramento e crescimento da Instituição criando novos cursos, como o de Matemática em 1968, criado por empenho dos professores leigos de Matemática, junto a então diretora Sônia de Quadros. O companheiro do movimento Wandaik Wanderley foi designado para intermediar e trazer o Prof. Francisco Basto Gil de São João Del Rey para dar início ao curso. Os 64 aprovados no vestibular formaram duas turmas, porém, só 16 alunos chegaram ao final em 1971. No ano seguinte eu, José Soares e Rosa Terezinha P. Durães fomos aproveitados pela FUNM como professores de Matemática, Física e Estatística respectivamente. Tempo depois, fui eleito vice-diretor da FAFIL na chapa da Profª. D. Lourdes Ribeiro e depois eleito diretor do Centro de Ciências Humanas UNIMONTES/(CCH), tendo como vice a eficiente e zelosa Profª. Maria Aparecida e a colaboração de Josy e Marta Aurora Mota, até a minha aposentadoria em 1997.

Não podemos esquecer, também, dos dirigentes, professores, funcionários que se destacaram pela eficiência e trabalho honesto, como: Antônio Jorge, sua esposa Zinda, vindos de BH para reforço do ensino e, mais tarde, nossos ex-alunos egressos dos cursos, passaram a assumir às lides da Instituição com eficiência, na posição de funcionários zelosos, professores competentes e até alcançando altos cargos da administração e do magistério, como: Rosina Nuzzi, Dilma Mourão, Ruth Tolentino, Rosa Terezinha Paixão Durães, José Soares, Rosivaldo, Édson, João Barbosa, Rômulo, Sebastião Alves, Luiz Ribeiro, Benedito Said, Otávio Braga, Humberto Veloso, Cibele Veloso Milo, Maria Luiza Silveira e também, o pessoal das secretarias e dos serviços gerais e, outros de igual valor, tornando a UNIMONTES, orgulho do norte de Minas e cartão postal de Montes Claros.

Como nada é de graça, esses acontecimentos não caíram das nuvens, tiveram início com o trabalho incansável do laborioso Dr. Hermes de Paula, respaldado pela assessora Adélia Miranda (“Eterna Secretária da FAFIL”), do dinâmico Dr. Mário Ribeiro e outros de mesma estirpe e importância para a comunidade universitária. Devemos ainda, destacar com justiça, como bem-feitor o Dr. João Vale Maurício, que usando sua visão de administrador perspicaz escolheu e adquiriu da Mitra Diocesana o lugar adequado e estratégico para a implantação da então FUNM, dando-a estabilidade e condições de crescimento ininterrupto e definido, para que o seus sucessores, Dr. Raimundo Avelar e Dr. José Geraldo de Freitas Drumond, também de tino administrativo refinado, pudesse fazer, com eficiência e brilhantismo o seu trabalho, apoiado por assessores e funcionários abnegados, legando à Instituição estruturas sólidas com a implantação de modelos novos de departamentos funcionais, sem esquecer do crescimento físico com construções modernas e práticas para o enriquecimento do patrimônio da comunidade universitária e bem estar de seus usuários. Não descuidou da expansão de centros e cursos, levando-os às cidades vizinhas para o desenvolvimento regional da educação, além de proporcionar a comodidade dos estudantes norte mineiros, evitando-lhes “do vai e vem” das viagens penosas, para receber aulas distantes de seus domicílios, diariamente. Tenho o prazer de dizer, que de certo modo e modestamente, participei desse movimento efervescente e edificante do Reitor Dr. José Geraldo de Freitas Drumond, como professor de Matemática e diretor do CCH e, ainda do processo de implantação e da direção do primeiro centro criado, para funcionar na cidade de Januária.

Enfim, foi um período de gestação salutar para criar e solidificar um trabalho, com o propósito de preparar a UNIMONTES para o bem comum e para e continuidade tranquila das administrações de seus sucessores.

Nessa jornada, sem intenção de promover-me, mas, a bem da verdade, eu assisti e participei dos avanços do Ensino em Montes Claros irmanados com companheiros entusiastas e de espírito solidário, todavia não faltaram as dificuldades naturais de bastidores geradas por circunstâncias diversas e por alguns elementos de difícil relacionamento que, às vezes, dificultavam e até desestabilizavam o trabalho sério das pessoas no cumprimento de seus deveres. Contudo, os frutos vieram e vingaram para o bem geral. O trabalho em grupo nem sempre é fácil. Precisa paciência e sabedoria como lidar com as intempéries da vida, para realizar metas e alcançar objetivos almejados em prol da sociedade.

Muitos fatos ainda serão contados e outras pessoas de peso aparecerão como protagonistas dos acontecimentos no cenário educacional, como os atuais dirigentes da UNIMONTES, o Reitor Dr. João Canela e a Vice-Reitora Profª. Maria Ivete Soares Almeida que, com a paciência e competência que lhes são peculiares, continuarão, com suas valorosas equipes de colaboradores, o progresso desse patrimônio cultural em benefício do povo de Montes Claros e do Norte de Minas.


O 10º Batalhão na mudança da Capital
Federal


Lázaro Francisco Sena
Cadeira nº 04
Patrono: Des. Antônio Augusto Veloso

O 10º Batalhão participou ativamente da operação de transferência da Capital brasileira, da cidade do Rio de Janeiro para Brasília, dia 21-04-1960, com a missão de “vigiar e manter a segurança dos pontos importantes” da então BR-7, rodovia Belo Horizonte-Brasília, “ tendo-se em vista a possibilidade de sabotagem, com o fim de dificultar o êxito daquele histórico empreendimento” . Além disso, os policiais-militares ali empregados tinham por dever “orientar os transeuntes, prestando-lhes todas as informações solicitadas, bem como socorrer as vítimas de acidentes verificados nas proximidades de seus postos”. O Batalhão era comandado pelo TenCel Armindo Pereira Fernandes, tendo como Sub Cmt o Maj Aderbal Correa da Silva.

Através da “Ordem de Serviço Nº 1”, de 12 de abril de l960, foram empregados 94 (noventa e quatro) homens, cerca de 20% (vinte por cento) do total da Unidade, acampados ao longo da rodovia, no período de 17 a 22 daquele mês, distribuídos nos seguintes setores e postos de sentinela:

- 1º Setor, com sede em João Pinheiro, sob o comando do Cap
Geraldo Tito Silveira, auxiliado pelo 3º Sgt Celso Fernandes de Souza, compreendendo 10 (dez) postos, cada um deles ocupado por 1Cb e 4 Sd, nas seguintes localidades:

- P 01, ponte sobre o rio Curral das Éguas, Km 172;
- P 02, ponte sobre o rio Abaeté, Km 178;
- P 03, ponte sobre o rio Santo Antônio, Km 212;
- P 04, ponte sobre o ribeirão Facão, Km 221;
- P 05, ponte sobre o córrego João Fernandes, Km 230;
- P 06, ponte sobre o Ribeirão das Almas, Km 234;
- P 07, ponte sobre o Rio do Sono, Km 248;
- P 08, ponte sobre o córrego Taquara, Km 254;
- P 09, ponte sobre o Rio da Prata, Km 305;
- P 10, ponte sobre o córrego Poções, Km 314;

- 2º Setor, com sede em Paracatu, sob o comando do 1º Ten Idimar Vilas Boas, auxiliado pelo 3º sgt Albertino Pereira de Souza, compreendendo 5 (cinco) postos, nas seguintes localidades:
- P 11, ponte sobre o córrego Extreminho, Km 319;
- P 12, ponte sobre o rio Escuro, Km 332;
- P 13, ponte sobre o córrego Rico, Km 341;
- P 14, ponte sobre o córrego Fecha-Mão, Km 353;
- P 15, ponte sobre o rio São Marcos, Km 403.

Os serviços de almoxarifado e aprovisionadoria estiveram a cargo do 2º TenAdm Agostinho Geraldo de Melo, auxiliado pelo 3º Sgt Antônio Lopes dos Santos. Informa-se que os Oficiais e Sargentos foram armados de revólver calibre .45 e os Cabos e
Soldados com fuzil. Foram previstas 5 (cinco) viaturas: um jipe, uma caminhonete e três caminhões, sendo que o Batalhão dispunha apenas do jipe e dois caminhões, solicitando-se, “por
empréstimo”, um caminhão FNM do DNOCS e uma caminhonete do DER, com os respectivos motoristas.


TenCel Geraldo Tito Silveira,
Comandou a operação, quando era Capitão

Passados 52 (cinquenta e dois) anos daquela operação, podemos comentar alguns detalhes do emprego do Batalhão naquele evento de cunho nacional. Convém registrar que muitos participantes daquele trabalho já são falecidos, inclusive o seu comandante, o então Capitão Geraldo Tito Silveira. Outros, todavia, ainda estão entre nós, citando-se alguns deles, com as graduações que detinham na oportunidade:

1º TenIdimar Vilas Boas;
3º Sgt Celso Fernandes de Souza;
Sd Adão Geraldo de Faria;
Sd Ulisses Ribeiro dos Santos;
Sd Elesbão Camilo da Hora e
Sd Vicente de Abreu Moreira.

O Batalhão tinha, na época, estrutura e preparo essencialmente militares, o que aparece bem caracterizado no armamento (revólver calibre .45 e fuzil 7mm), no uniforme (de campanha) e nos equipamentos. Destaque para a precariedade
e impropriedade dos veículos usados no transporte do pessoal, em carroçaria de caminhões sem ao menos uma cobertura de lona, como faziam os “romeiros” para Bom Jesus da Lapa, na Bahia, sem falar da situação das estradas até o local da operação, todas sem asfalto e cheias de buracos. Outro aspecto negativo, a olhos de hoje, é a ausência total deumesquema de comunicações, não só entre a sede do Batalhão e o comando da tropa empenhada, como também entre as frações distribuídas pelos diversos postos; predominava o sistema de mensageiro, embora já existisse comunicação via rádio, mas a Polícia Militar não dispunha dos aparelhos necessários. Em síntese, nem parece que a operação foi realizada pelomesmoBatalhão que hoje conhecemos, ali mesmo no “coração” de Minas Gerais, há tão pouco tempo decorrido. Nenhuma dificuldade, todavia, era impedimento para um perfeito cumprimento da missão, pois tudo era compensado pela estrita observância da hierarquia e da disciplina.

Buscando testemunhar os fatos com depoimentos atuais, entrevistamos o 2º Tenente Vicente de Abreu Moreira, do Quadro de Oficiais da Reserva, popularmente conhecido como Tenente Macarrão, que participou da operação como Soldado.


2º Ten Vicente de Abreu Moreira

Veja as perguntas e respostas aqui formuladas:
1ª - Você se recorda da operação? Lembra-se de algum fato em especial?

Respondeu que se lembra perfeitamente da operação, inclusive de que o seu posto de serviço foi na ponte do rio São Marcos, na divisa dos municípios de Paracatu-MGe Cristalina-GO. Alguns acontecimentos ainda permanecem em sua memória, mas destaca o defeito apresentado pelo caminhão em que viajava, que “pifou” exatamente sobre os trilhos da estrada de ferro, na passagem da cidade de Várzea da Palma, onde ficaram por cerca de seis horas, até que a viatura fosse consertada. Outra situação de que ainda se recorda foi a dificuldade para receber alimentação no local de trabalho, ao ponto de passar fome, até a chegada das marmitas de campanha, com a “bóia” totalmente fria. Outro fato interessante de que se lembra foi da preleção preparatória do comandante do Batalhão, antes da partida da tropa, recomendando expressamente que todo mundo deveria levar uma “muda” de roupa limpa.

2ª - Como foi o deslocamento da tropa até o local da operação? Disse que a tropa foi transportada em dois caminhões velhos, que nem bancos de madeira possuíam, sendo que os PM sentavam-se no fundo da carroçaria e se seguravam em cordas amarradas de lado a lado. Seguiram por estradas de terra, passando por Jequitaí, Várzea da Palma e Pirapora, onde cruzaram o Rio São Francisco, pela ponte de ferro, até Buritizeiro, daí seguindo até a rodovia Belo Horizonte/ Brasília, no local denominado Trevo JK.

3ª - Qual foi o serviço efetivamente executado pela PM ?
Afirmou que cada posto de serviço era ocupado por uma equipe de um Cabo e quatro Soldados, que ali permaneceram acampados durante a operação. O Cabo e o Soldado mais antigo se revezavam no comando, enquanto os três Soldados mais modernos se revezavam na sentinela, cumprindo duas horas de guarda por quatro de descanso, em turnos sucessivos. O Soldado de guarda ficava sobre a ponte, de fuzil com baioneta “calada”, passando de um lado para o outro periodicamente, com a arma em posição de combate.

4ª - Como foi o trânsito na rodovia naqueles dias?
Disse que o trânsito foi bastante intenso, com destino a Brasília, com muitos ônibus e caminhões nos dias anteriores e, na véspera, muitos carros, inclusive de placas oficiais do Rio de Janeiro. Ressaltou que a estrada já era toda asfaltada e não houve notícia de acidentes ou socorro a veículos enguiçados.

5ª - Houve algum problema de segurança, de qualquer ordem,
durante a operação?
Não se lembra de qualquer alteração da ordem pública no local
da operação. A preocupação principal era evitar a prática de atos de sabotagem para destruir as pontes da rodovia, por parte de minorias insatisfeitas com a mudança da Capital, ou simplesmente para perturbar a ordem pública e o governo constituído.

6ª - O que comentavam os Soldados, entre si, sobre a operação e a própria mudança da Capital?
Não havia comentários maldosos ou jocosos entre os Soldados,
mesmo porque a tropa ficou dispersa ao longo da rodovia. Por outro lado, prevalecia o espírito de hierarquia e disciplina, evitando-se qualquer comentário que pudesse influenciar negativamente o sentido da operação.


Minha história com a Unimontes

Maria da Glória Caxito Mameluque
Cadeira nº 40
Patrono: Georgino Jorge de Souza

Era o ano de 1973. Eu acabara de chegar de São Francisco, onde meu marido tinha sido Prefeito até janeiro daquele ano. Anteriormente ele ocupava o cargo de Diretor Comercial da Companhia de Navegação do São Francisco, em Pirapora e já havia sido Prefeito daquela cidade, de 1963 a 1965. Tínhamos muitas mordomias e o cargo era bem remunerado. Mas eis que uma noite chega à nossa casa uma caravana de homens de São Francisco, sob a direção de Petrônio Braz, convidando, ou melhor, convocando meu marido para voltar e candidatar-se novamente para um período de dois anos (1971 e 1972). Para tanto, ele teria que desligar-se do cargo ocupado para candidatar-se. Foi uma reviravolta em nossa vida: novamente
campanha política, desassossego e toda sorte de acontecimentos que uma política do interior carrega.

Relutei muito, mas ao final, não houve jeito. Mesmo contra a minha vontade, tive de acompanhar meu marido, com uma promessa que, se saísse vitorioso, assim que terminasse a gestão, nos mudaríamos para outra cidade para começar de novo.

Assim aconteceu: vitória nas urnas, período tumultuado, muitas cobranças, pois em dois anos, pouco se pode fazer. Mas dentro do possível, muito foi feito.

Terminado o mandato, estávamos sem emprego, sem economias e com quatro filhos pequenos. Era preciso recomeçar do nada. Decidimos mudar para Montes Claros, pois eu era funcionária da Coletoria Estadual e consegui uma transferência. A cidade nos oferecia mais oportunidades de estudos para nossos filhos, de vez que em São Francisco só havia o ensino fundamental, antigo ginasial.

Em pleno carnaval de 1973, colocamos nossa bagagem em cima de um caminhão e aportamos em Montes Claros, numa casa que alugamos na Ovídio de Abreu. Os meninos foram estudar no Grupo Escolar Armênio Veloso bem perto da nossa casa. Apenas o mais velho, Gustavo, que já concluira o 4º ano primário, foi matriculado no Colégio Marista, e posteriormente no Colégio Polivalente, onde todos foram estudar depois.

Os primeiros tempos foram difíceis. Pedro viajava todas as semanas para São Francisco, para advogar, recuperando seus antigos clientes e eu, na Superintendência Regional da Fazenda, em dois expedientes.Mas nada como o tempo para ir acomodando as coisas.

Nessa época meu salário era pouco mais que o salário mínimo e eu percebi que para melhorar minha situação funcional (cargo em comissão) era exigido o curso de Direito, Economia ou Administração. Eu tinha o curso de Enfermagem, que abandonei quando me casei, por falta de oportunidade de trabalho nessa área, que na época não era tão valorizado, como é hoje.

Aproximava-se o vestibular e impulsionada por meu marido que me incentivou, decidi fazer inscrição para o curso de Direito na antiga FADIR, depois transformada e agregada na UNIMONTES.
Foi uma correria, pois trabalhando o dia todo e com quatro filhos ainda pequenos, quase não tinha tempo para estudar. Preparei-me sozinha, com o programa, no pouco tempo que me sobrava. Estudei muito e logrei o segundo lugar no vestibular daquele ano, para o Curso de Direito.

Tivemos um trote interessante: pintaram o nosso cabelo, louro de um lado apenas ( o direito) e fizemos uma passeata na rua até à porta do Fórum. Tudo muito civilizado e ordeiro.

Começou a minha maratona: trabalhava em dois expedientes, na Rua Cel. Joaquim Costa. Saía às seis horas da tarde, corria à minha casa na Ovídio de Abreu, para conferir se os meninos tinham feito os deveres de casa e saía novamente para a Faculdade, que ficava no casarão do fundo da Matriz, pois a aula começava às sete e dez. Ter minada a aula, ia novamente para casa, percorrendo a Rua Dr.Santos até à altura da Praça Cel.Ribeiro e dali prosseguia, passando pela antiga rodoviária até chegar em casa, o que acontecia lá pela onze horas ou mais. Todo esse percurso de ida e volta, era feito a pé.

Como morávamos em casa de aluguel e o proprietário pediu a
casa, tivemos que procurar outra e minha escolha caiu em alguma, mesmo que velha e com pouco conforto, nas imediações da Faculdade, para facilitar minha vida. Fomos morar então na Rua Gonçalves Figueira, nos últimos dois anos de Faculdade, de onde eu ouvia a sirene para o começo das aulas e para onde eu ia, quando havia horário vago. Tudo ficou mais fácil: não precisava mais fazer aquele longo percurso de antes.

Nessa época, estava sendo implantado o pagamento do pessoal pelo sistema informatizado, área onde eu trabalhava e era um trabalho que exigia muita atenção. Lembro-me de que muitas vezes, eu sentia tanto cansaço, que entrava no banheiro da repartição, sentava no chão e tirava um cochilo, pois já não me aguentava mais de sono.

 

OS PROFESSORES

Começaram as aulas: minha primeira aula foi com o professor Augusto Vieira Neto, o popular “Bala Doce”. Ele começou a aula de Direito Constitucional narrando a tragédia grega escrita por Sófocles. Antígona, filha de Édipo e Jocasta, deseja enterrar seu irmão Polinice, que atentou contra a cidade de Tebas, mas o tirano Creonte promulgou uma lei impedindo que os mortos que atentaram contra a lei da cidade fossem enterrados, o que era uma grande ofensa para o morto e sua família, pois a alma do morto não faria a transição ao mundo dos mortos e ficaria vagando na margens do rio, sem passar para o outro lado. Antígona, enfurecida, vai então sozinha contra a lei e enterra seu irmão. É capturada e sentenciada à morte.

Com essa história, o professor inteligentemente quis mostrar para nós alunos, que existe uma lei maior que todas: o Direito Natural. Em meio a piadas e palavrões, o professor ia despejando sobre nós, a sua sabedoria.

Para contrabalançar, eis que surge uma professora culta, bonita, educada, fina, por coincidência, esposa do primeiro professor, Heloisa Helena Ruiz Combat Vieira, que nos abre as portas do Direito Civil, com maestria e finesse. Heloisa é hoje Desembargadora do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

E não poderia faltar a Introdução ao estudo do Direito, ministrada pelo professor Hélio Oscar Valle Moreira. Aprendemos com ele que o Direito é uma matéria “gelatinosa” que se não tivermos conhecimento e competência, nos escapa às mãos.

E aí vão desfilando outros professores, ao longo do curso: Dr. Georgino Jorge de Souza, com aulas magistrais sobre o Direito Penal, quando teatralmente nos mostrava como se defende um réu no Tribunal do Júri, dando-nos vários exemplos de sua longa carreira; Dr. Ubaldino Assis, com os meandros do Direito Comercial e de quem guardo até hoje uma máxima, sempre repetida por ele: “Quem paga mal, paga duas vezes...”; Dr. João Luiz de Almeida (o pai e o filho) que era o terror dos alunos na hora da prova (o pai), com situações incríveis que teríamos que decifrar e aplicar a capitulação certa; o professor Eustáquio Crusoé, que um dia me fez um elogio inadvertidamente, ao responder uma minha pergunta: “Você, tão inteligente, me perguntar isso?”

No decorrer de cinco anos, vieram outros e muitos outros: Dr.
Hélio Lessa, com seus mortos e dissecações nas aulas de medicina legal; Dr. Danilo Borges, mostrando-nos os caminhos intrincados do Processo Civil; Dr. João Casassanta, Direito do Trabalho; Dr. Sidônio Paes Ferreira, Processo Penal... Até aulas de Português tivemos, com o Padre Zuba, pois advogado que se preze tem que escrever bem. Aprendi muito com ele e sempre tirava boas notas.

 

OS COLEGAS

Éramos duas turmas. Como sempre acontece, existem aqueles
com quem temos mais afinidades, mas nos dávamos bem com todos e sempre tínhamos reuniões e festinhas.Tanto que após formados, todos os anos nos reuníamos. E em 2008 fizemos uma celebração e um jantar para comemorarmos os 30 anos de formatura. Entre muitos, posso citar Luiz Tadeu Leite (atual Prefeito Municipal), Dr.Gilmar Clemente de Souza (Juiz de Direito), Reginauro Silva, Benedito Alves, Benedito Monção, Duplanil Nunes Neto, Jarbas Pinheiro, Manoel Muniz, Maria Luiza Barbosa, Maria das Neves, Mário e Mary Mendes, Myrthes Almeida, Terezinha Jardim, Wilson Silveira.

Nossa formatura aconteceu com uma missa na Matriz e colação de grau no antigo Cine Montes Claros. Nosso paraninfo, o Dr. Hélio Lessa e orador o colega Wilson Silveira. Eu tive o privilégio de receber o diploma Dr. João Luiz de Almeida, como a melhor aluna da turma. Meu pai que morava conosco, já doente, emocionou-se até as lágrimas quando anunciaram o meu nome para receber o prêmio de melhor aluna. Foi um presente para ele também.

Pouco tempo depois, a FADIR foi absorvida pela UNIMONTES. Muitos momentos bons da minha vida foram vividos naquele velho casarão que alojava a FADIR (da antiga FUNM). Apesar de casada e mãe de quatro filhos, curti minha vida de estudante como qualquer outro, sem regalias ou mordomias.

São tempos que guardo com muita saudade e muitas lembranças.

Anos depois, quando minha filha passou no vestibular de Medicina, em 1985, na antiga FAMED, as Faculdades já haviam sido transferidas para o Campus onde hoje funciona a UNIMONTES. Hoje ela é professora no curso de Medicina.

Em 1990, meu filho Gustavo Mameluque graduou-se em Direito
pela UNIMONTES e hoje, meu neto Fernão Gabriel cursa Letras/
Inglês. São três gerações participando da história da UNIMONTES. São muitas as lembranças que guardamos, foram muitas as experiências, hoje transformadas em saudades, que temos da nossa vivência na FADIR, da antiga FUNM, hoje UNIMONTES.


Pequeno Histórico da Seresta em Montes Claros

Maria de Lourdes Chaves
Cadeira nº 65
Patrono: José Gonçalves de Ulhôa

Dando um mergulho no cerne da existência da seresta em Montes Claros (MG), reportamo-nos ao início do século XX.

Lá, encontraremos a seresta cultivada pelos jovens cantores e instrumentistas, numa época em que a diversão dos rapazes se resumia em fazer serenatas para as donzelas quando já dormiam em seus travesseiros de flores.

O jurista, poeta, compositor e instrumentista João Chaves, serestava com seus amigos: José Maria Fernandes, cantor e compositor, natural de Januária. Dele, disse João Chaves: vem à minha mente, com frequência à imagem quase negra do mulato januarense, José Maria Fernandes que residiu aqui por muitos anos. Enxergo-o no meu momento, vibrando com proficiência as cordas do seu violão, cantando esta canção: “Tu és como a rosa gentil purpurina...”.

Antônio Cardoso Faria (Tonico Faria), natural de Montes Claros, foi um dos maiores seresteiros da cidade e dos rapazes mais elegantes do seu tempo.

Antônio Xavier de Mendonça (Mendoncinha), natural de Montes Claros.

Pedro Mendonça, irmão de Antônio, montes-clarense.
Totônio Américo – natural de São Francisco – MG.

Virgolino Narciso Soares, solteirão, natural de Montes Claros.

Américo França, cantor e junto com João Chaves, fundaram o
jornal semanal “O Sol“.


Grupo de Seresta Amo-te muito: Em pé da esquerda para a direita: Zezé, Manoel, Pedro, Vítor, Aroldo, Jasuino, Maria, Zenaide e Deolindo. Sentados da esquerda para a direita: Lourdes, Amelina, Terrezinha, Lola, Carmem, Rosa e Lúcia. Ausentes: Bruno, Rilson e Olga.

Leônidas de Andrade Câmara, montes-clarense. Foi escrivão do
Cartório do Crime em Montes Claros, nos anos de 1.886. Era poeta e autor do letra do hino de Ginásio Municipal.

Gentil Sarmento, era viajante comercial.

José Augusto Prates, apelidado de José de Siá Deca, natural de Montes Claros. Foi funcionário dos correios e telégrafos. Augustinho Guimarães, músico exímio e dono de uma bela voz e compositor. Era pai de Telé, cantor do grupo de serestas “João Chaves“.

Donato Quintino, natural de Montes Claros.

Luiz Gregório Júnior, professor.

Elpídio José César, natural de São Romão – MG, cantor e compositor.

Silva Reis, “Manoel da Silva Reis“, no dizer de João Chaves, de
voz doce, límpida, sonora e suave. Diamantinense violinista e cantor. Faleceu em Montes Claros, com apenas 44 anos de idade. Foi para ele que João Chaves dedicou a letra e música da modinha “Adeus“ consagrada pelo povo com o título de “Bardo“.

Saltando no tempo, do início do século XX para o ano de 1.967, vemos Dr. Hermes Augusto de Paula, médico sanitarista e historiador, convidando cantores e instrumentistas para organizar o 1º grupo de serestas em Montes Claros que recebeu o nome de Grupo de Seresta João Chaves em 1.968.

No início do grupo, eram seus integrantes:
Sinval Fróes - Violão.
Sebastião Mendes “Ducho“ – Bandolim
Cantores: Nivaldo Maciel, João Leopoldo Alves França, Celestino Soares da Cruz “Telé“, Tereza Maria, Josefina Abreu de Paula, Clarice Maciel, Maria de Lourdes Chaves “Lola“ e Selma Abreu.

Com o passar do tempo, uns saíram, outros entraram. Raimundo Chaves, Luiz Procópio, Adélia Miranda, Gilberto Câmara, Tolêdo, Luizinho, Virgílio de Paula, Beto Viriato, Terezinha Jardim, Clarisse Sarmento, Adélcio Saraiva, Alaide Neves.

Foram gravados 8 LP’s. O grupo, na sua primeira formação, apresentou-se no programa de Flávio Cavalcante, em Ouro Preto – MG, tirando o 1º lugar, entre outras cidades no concurso de modinhas. A peça de confronto foi “Amo-te muito“ de João Chaves.

A formação atual do grupo é a seguinte:
Presidente: Josefina Abreu de Paula
Presidente administrativa: Terezinha Jardim
Diretor de comunicação: Adélcio Saraiva
Diretora musical: Maristela Cardoso
Diretora financeira e Secretária: Marta Marcondes.
Instrumentos:
Violão: Luiz Porfírio, Milton Barbosa, Adélcio Saraiva
Bandolim: Marlene Cunha e Mafalda Mafra Madureira
Percussão: Rogério Botelho.
Cantores: Adélcio Saraiva, Rogério Botelho, Ademar Toledo, Hélio Saraiva, Terezinha Jardim, Maristela Cardoso, Walderez de Paula, Josefina Abreu de Paula, Marlene Pereira, Carmina Gonçalves, Marta Marcondes e Alice Navarro.

O primeiro grupo, gravou um disco com 3 músicas. Nivaldo Maciel cantou “Acorda minha beleza“, Telé “Amo-te muito“ e João Leopoldo “Camélia“.

O grupo de seresta “João Chaves“ de Montes Claros, sempre se apresentou com grande sucesso por várias cidades de diversos estados brasileiros. Embora todas as apresentações tenham sido importantes, vale aqui ressaltar algumas que se destacaram devido a excelente repercussão, conforme informações obtidas de Virgínia Abreu de Paula:


a) No Palácio da Alvorada, em Brasília – DF, especialmente para o Presidente Costa e Silva;

b) no cemitério do Bonfim, em Montes Claros, por ocasião do sétimo dia de falecimento do patrono João Chaves. Novamente no mesmo cemitério, especialmente para o programa Fantástico da rede Globo de TV;

c) em Araxá, quando cantaram para uma comitiva de Moscou
com a presença do embaixador da Rússia;

d) no Goldem Room do Copacabana Palace no Rio de Janeiro,
juntamente com nomes expressivos da música brasileira, como Nara Leão, Paulinho e Maurício Tapajós, Paulo Tapajós, cantoras do Quarteto em Si e Maria Lúcia Godoy. O motivo foi o lançamento de um álbum especial sobre modinhas, com participação do presidente JK. O grupo de seresta foi o único grupo do gênero convidado para esse importante evento;

e) na Vargem Grande de Montes Claros para o presidente JK;

f) em Ouro Preto, nas comemorações do dia de Tiradentes de
1.969, ao lado da cantora Mayra e Flávio Cavalcante;

g) no Palácio das Artes de Belo Horizonte, apresentados pelo maestro Isac Karabtchevsky. Ao término, o maestro fascinado pelo que ouviu, “contratou“ o grupo para cantar “O Bardo“ no sétimo dia de seu falecimento, junto ao seu túmulo;

h) em Buenos Aires – Argentina, com onze shows de sucesso no Teatro Coliseu e no Hotel Sheraton, durante o festival internacional da cozinha; e

i) nos programas do renomado apresentador de TV, Rolando Boldrin, tanto na Globo quanto na Bandeirantes.

Em seguida, foi criado o grupo de serestas João Vale Maurício, médico cardiologista e escritor. Sua criação foi ideia de Ada Camisasca, então diretora do SESC de Montes Claros.

Direção: Geni Rosa.
Violão: Geni Rosa e Geronildes Oliva.
Cantores: Flávia Rabelo, Beatriz Helena Azevedo, Celeste Silva e Gomes, Nilza Lopes, Ana Maria Santos, Valdir Alves, Ademar Toledo, Cassimiro Mendes. Este foi o grupo original.

2º grupo: Carlos Pereira, Solange, Valdir, Sissi, Iracema, Nô, Amélia, Toledo, Tio Tonico, Carmem, Pedro Lúcio, Beatriz, Trui Geraldo Paulista, Claudia, gravaram o disco “Lágrimas ao luar“ (grupo extinto).

Grupo de seresta Luiz de Paula, empresário e escritor (grupo extinto).

Integrantes do grupo:

Voz e violão: Osvaldo Eusébio.
Bandolim: Urze de Almeida.
Cantores: Ana Maria, Celeste, Edimilson Cordeiro, Wanda Cardoso e João Carneiro.

Em 1.978, foi criado o grupo de serestas “Minas Gerais“ dirigido por Dr. Francisco Alencar Carneiro, advogado, contabilista e instrumentista.

Grupo original:
Instrumentos:
Bandolim: Dr. Francisco Alencar Carneiro.
Violão: Edgar Muniz, Adair Gomes, Jesuino Ramos.
Cantores: Adair Gomes, Felisberto Veloso, João Pereira, Jacy
Saraiva, José neto, Maurício Marcos, Pedro Lúcio, Carmem Lemos, Maria Salomé, Maria de Lourdes Chaves “ Lola “, Olga Santos e Terezinha Fróes.

Este grupo gravou o disco “Relíquias da Seresta Brasileira“. Ele se apresentou para magistrados, Polícia Militar e em vários casamentos da sociedade montes-clarense, em missas solenes e coroações. Seu fundador Dr. Francisco Alencar Carneiro, faleceu aos 2 de Fevereiro de 2002.

Em Abril de 2002, o grupo passou a ser dirigido pela autora deste artigo. Foram gravados 2 CD’s: “Pérolas de saudades“ e “Céu de Montes Claros“ e o DVD “Para sempre“.

Formação do atual grupo:
Relações públicas: Amelina Chaves e Orlinda Andrade.
Instrumentos:
Violão: Jesuino Ramos, Deolindo Freitas, Pedro Rodrigues.
Cavaquinho: Manoel Soares.
Pandeiro: Maria Paulino e Milton.
Contra-baixo: Batuta.
Triângulo: Lourdes.
Cantores: Deolindo, Maria, Carmem Lemos, José Fernandes
“Zezé“, Zenaide Teixeira, Lourdes França, Carlos Costa, Jacy Saraiva, Maria Lúcia Lacerda, Vítor Luiz Dias, Olga Santos, Maria de Lourdes Chaves “Lola“, Terezinha Rodrigues Correia, Lúcia Lacerda e Rosa Durães.

Este grupo já se apresentou para o colegiado de Diretores dos
Tribunais de Justiça do Brasil, reunidos no Buffet Catharina em Belo Horizonte, no Forum Gonçalves Chaves, no Shopping Montes Claros, em vários estabelecimentos de ensino em comemorações de aniversários, Bodas de Prata, na Câmara de Vereadores desta cidade, em Corinto, Lontra, Januária, Poços de Caldas, Brasília – DF, por diversas vezes em Belo Horizonte, sempre fazendo sucesso.

Hoje, o grupo denomina-se “Grupo de Serestas Amo-te muito“.
Outros grupos atuam em Montes Claros, enriquecendo cada vez mais o celeiro de seresteiros.

Grupo Marucas Avelar, hoje “Geraldo Avelar“.
Grupo Manoel Meira.
Grupo Vozes de prata.
Grupo Idade de Ouro.

Montes Claros, 19 de Agosto de 2012.


A menina que se tornou governadora

Maria Inês Silveira Carlos
Cadeira nº 38
Patrono: Francisco Sá

Amenina sonhadora do Brejo das Almas está alçando voo como
águia, rumo à realização de seus sonhos”. Recebi essa mensagem da minha amiga Nilza Gontijo Vivian quando ela e o Governador Javert Vivian vieram à minha despedida rumo a San Diego (EUA), onde eu participaria da Assembleia de Rotary International.

Fiquei muito emocionada e reflexiva, porque o que foi dito por
Nilza é uma frase que resume a mais pura e cristalina verdade. Sim, a menina inquieta de Brejo das Almas, pequeno torrão encravado neste Norte de Minas, fortaleceu suas asas e voou em busca de um sonho que, não é mais um sonho e nem uma quimera, é uma realidade.

Não sei ao certo quando esse sonho começou. Na minha infância? Talvez. Recuo no tempo e volto ao ano de 1960, quando um grandioso fato aconteceu na minha pequena Francisco Sá e que transformou sua história. Em fevereiro daquele ano aqui foi fundado o Rotary Club de Francisco Sá. Não sabia com exatidão o que era, mas sabia no meu entender de criança, que era uma coisa boa, porque os homens importantes da minha cidade se reuniam, conversavam, planejavam e executavam tarefas em prol da comunidade, e pela primeira vez eu ouvi o nome Paul Harris e o admirei por ser ele o idealizador do Rotary International. O local das reuniões semanais era o Hotel Mineiro, gerenciado pelo Sr. Antônio e D. Alzira, meus pais.

Com minhas mãos infantis ajudava a servir o jantar feito, com
muito carinho, pela minha mãe. E pela minha participação indireta nas reuniões desenvolvi com aqueles primeiros rotarianos o Ideal de Servir. Por maiores que fossem as minhas fantasias e devaneios, de menina que ainda acreditava em lendas, carochinhas e fadas, e queria ser trapezista de circo ou professora, nunca imaginei fazer parte daquela nobre e magnífica entidade, muito menos ocupar o lugar mais elevado da pirâmide do Distrito 4760.


Nossa existência é uma constante caixa de surpresas. Às vezes um lago azul sereno, outras um mar agitado e turbulento. Dos anos sessenta até 1995, o mundo e aminha vida sofreraminúmeras e fortes transformações. Estudei interna no Colégio Imaculada Conceição, em Montes Claros, de onde ainda guardo belas recordações. Dancei ao som da música dos Beatles, de Elvis Presley e do eterno rei Roberto Carlos. E tive a ousadia de ser uma das primeiras garotas a usar minissaia.
Em 1968 formei-me em Magistério do 1º Grau pela Escola Estadual “Tiburtino Pena”, em Francisco Sá. Como veem não me tornei trapezista de circo. No dia 25 de julho de 1970, de Maria Inês Alves da Silveira tornei-me Maria Inês Silveira Carlos ao me casar com Salvador Carlos da Silva, ato em que formamos uma unida e sólida família com os filhos Max Guilherme, Raquel Christine e Fábio Henrique, agora acrescida da neta Bettina e da nora Maria Rita. A roda da vida girou e várias oportunidades a mim chegaram tanto profissionalmente
como no serviço voluntário.

O mundo se transformava com a rapidez de um sopro, nos oferecendo tecnologias cada vez mais avançadas, mas algo me incomodava: a sociedade ainda permanecia sob o domínio masculino. Os grandes postos e melhores salários ainda pertenciam aos homens, poucas mulheres tinham chances de demonstrar seu potencial. As portas de centenas de empresas, associações, cursos profissionalizantes permaneciam hermeticamente fechadas para nós mulheres.OSéculo XX foi marcado por três grandes projetos que revolucionar ama humanidade. Trata-se do Projeto Manhattan que inventou a bomba atômica, o Projeto Apolo que permitiu ao homem pisar o solo lunar e o Projeto Genoma que desvendou parte do mistério da vida, o mapeamento do DNA. Eu acrescento que o Século XXI tem o Projeto Mulher que nos permitiu o direito de escolher e decidir nossa vida. Este projeto ainda está em construção. Sua elaboração deu-se devagar. Só no final do século passado é que ele tomou corpo e o alvorecer do Século XXI nos mostra que as mudanças chegaram e chegaram para ficar.

O Rotary International foi fundado em 23 de fevereiro de 1905
e ao modelo da época vetou o ingresso das mulheres. E assim permaneceu até o ano de 1987. O movimento para a nossa chegada em Rotary começou em um clube nos Estados Unidos que colocou no seu quadro associativo, três mulheres, baseando-se na igualdade das profissões (O Rotary é uma associação de profissionais).
O Rotary International suspendeu as atividades do clube por contrariar seu Regimento. O clube lutou na justiça e só depois de vários embates, o Rotary International - que continuava rígido em seus princípios - foi
que a Suprema Corte Americana, baseando-se na lei da isonomia, isto é, do direito igual para homens e mulheres, obrigou o R. I. a mudar seu regimento. A alteração do Regimento Interno foi efetuada pelo Conselho de Legislação de 1989, que votou pela eliminação da posição até então adotada, de que todo o Rotary deve ser uma organização “exclusivamente masculina”, mudando a redação para “uma organização formada por homens e mulheres.”

Paul Harris, ao fundar o Rotary, previa muitas transformações,
pois escreveu que: ”Este é um mundo que se transforma; precisamos nos preparar para acompanhá-lo. A história do Rotary terá que ser escrita muitas vezes”. E foi assim que em fevereiro de 1995 o Governador do Distrito 4760, Wanderlino Arruda, fundou o Rotary Club de Francisco Sá - Norte, um clube formado por homens e mulheres e que teve como padrinho o Rotary Club de Francisco Sá. E quando o Rotary disse sim às mulheres, mais uma página da história de minha vida se abriu para uma nova missão. A sublime missão de servir sob o lema “Dar de Si antes de Pensar em Si”. Esse sim inclui também que, pela primeira vez, uma mulher iria administrar o grandioso Distrito 4760, grandioso em extensão e mais grandioso ainda por seus valores humanos.

E o Rotary disse sim às mulheres! As mulheres chegaram ao Rotary como elementos de trabalho e renovação. Em revoadas, chegamos. Em voos multicoloridos, trouxemos mais alegria, mais vida e o perfume das flores que inebriam os ambientes e nos fazem únicas. Com garra, eficiência e ternura viemos juntar aos rotarianos para que o plano arquitetado pelo Pai fosse posto em prática: “Homem e mulher trilharão o mesmo caminho para que a harmonia e a paz sejam
construídas pelos dois”.

Minha trajetória como primeira Governadora do Distrito 4760
começou com a minha indicação como candidata pelo meu Clube, o Rotary Clube de Francisco Sá-Norte. No dia 7 de novembro de 2008 fui comunicada pelo Governador Roberto Kfuri que eu tinha sido eleita pelos clubes do meu Distrito para ocupar o cargo de Governadora para o ano rotário 2009-2010. Para alguns pode não parecer um avanço, tanto faz homem ou mulher ocupar cargos; serão bons ou maus governantes de acordo com seu grau de responsabilidade e dedicação. Mas na organização rotária que até quase vinte anos atrás não tinha nenhuma mulher em seus clubes, foi sim um grande avanço. E vejo com muita tristeza que até hoje em muitos Distritos do Brasil e no meu, o Distrito 4760, ainda existem clubes que não
admitem mulheres.

A partir dessa data, um novo começo de vida iniciou-se para mim; mais uma vez a colcha de retalhos que é nossa existência, foi acrescida de novos fatos, novas experiências, muito trabalho e de imensas alegrias. Fiquei um ano me preparando para ocupar tão nobre, honroso e difícil encargo. Procurava estar atenta e curiosa a cada encontro, a cada seminário, a cada reunião para que as informações e ensinamentos me chegassem claras e distintas. Escolhi para ser meu Instrutor Distrital, o Governador Wanderlino Arruda, que além de ser o fundador do meu Clube, é uma pessoa dedicada de corpo e alma à causa rotária, sempre disposto a nos ensinar com seus conhecimentos e exemplos. A ele a minha mais alta gratidão pelos seus sábios ensinamentos, pelas longas viagens para ministrar o Seminário de Governadores Assistentes e da Comissão Distrital, os Seminários de Presidentes, pelo sucesso deles, pela dedicação de preparar o material, por ouvir minhas dúvidas e respondê-las prontamente. À sua esposa Olímpia meu carinho e o meu “muito obrigada” por estar sempre com as portas de sua casa abertas para mim, onde passei longas horas preparando esse maravilhoso ano que vivi. Deus lhe pague pelos almoços, pelos lanches, pelos cafés e, sobretudo pela sua tolerância e compreensão.

A partir do dia 1º de julho de 2009, tornei-me oficialmente a primeira Governadora do Distrito 4760. E o dia começou com festa... Acordei de madrugada com pipocar de foguetes e seresta. Ao abrir a porta da minha casa deparei com uma multidão de amigos, familiares e companheiros que vieram me saudar com fogos, músicas, café da manhã, faixas e, sobretudo com muitos abraços e desejos de imenso sucesso. As surpresas não pararam por aí, a minha patriazinha querida estava com suas principais praças e ruas ostentando faixas de
apoio e orgulho pela menina que virou Governadora.

A festa da posse aconteceu no dia 4 de julho na cidade de Montes
Claros. Linda e marcante. Um grande encontro de companheiros, amigos e familiares envoltos num clima de risos, música, danças e show pirotécnico. O ponto culminante, sem dúvida, foi o momento solene do ato de posse, quando o Governador 2008/2009, Javert Vivian, passou às minhas mãos a responsabilidade de conduzir os destinos do nosso amado Distrito. Uma Governadora Distrital tem como uma das principais missões visitar os clubes de seu Distrito para melhor divulgar os objetivos do Rotary e estreitar os laços de amizades e de companheirismo.

E assim iniciei minhas visitas oficiais no dia 20 de julho. Na madrugada desse dia, eu e a minha amiga e companheira Wanda Nilta, agora também motorista da Governadora, deixamos nossas famílias e rumamos para uma longa e desconhecida jornada. O primeiro clube visitado foi o Rotary Clube de Porteirinha. Durante cinco meses e meio, com algumas pausas para vir em casa, percorremos cerca de vinte e seis mil quilômetros por este belo, aprazível e enorme Estado
de Minas Gerais. Foram oitenta e dois clubes visitados. Enfrentamos chuvas, alguns quilômetros de estrada de terra, fizemos travessias em balsas sobre o Velho Chico, vimos inúmeros amanheceres radiosos e crepúsculos espetaculares. Subimos por montanhas azuis e percorremos planícies verdejantes e floridas. Experimentamos a vasta culinária mineira, conhecemos a riquíssima e diversificada cultura de nossas Minas Gerais.

Toda essa beleza e pujança não teriam valor algum sem a presença dos companheiros e companheiras. E como eles foram maravilhosos. Não citarei o nome de nenhum clube, ficará para outra vez. Serão vários capítulos, são histórias peculiares e particulares de cada um. Fui recebida de maneiras bastante diferentes: com foguetes, banda de música, coral de crianças, carreatas. Largos sorrisos, abraços fraternos, curiosidade em conhecer a primeira Governadora. Eram recepções diferentes, mas o espírito de amizade e de companheirismo reinava igualmente em todos em todos os lugares e corações.

Vivi momentos de intensas alegrias ao presenciar que o SERVIR e o COMPANHEIRISMO irmanados realizam a multiplicação dos pães em forma de bibliotecas comunitárias, consultórios médicos, salas de informática, amparo à criança violentada em seus direitos, no calor e aconchego de creches, respeito e carinho aos idosos em asilos, dis tribuição de sopa, plantios de árvores, combate à paralisia infantil e outras moléstias.

Após este inesquecível período de visitas oficiais, me dediquei a expandir o Distrito com a fundação de novos clubes: O RC de Belo Horizonte -Liberdade, o RC de Montes Claros-Princesa do Norte e o RC de Montes Claros-Liberdade.

O ano rotário é extenso em obrigações e atividades: fizemos o IGE com a Bélgica, enviamos e recebemos cerca de cinquenta jovens do Programa de Intercâmbio, apoio total ao Interact, Rotaract e Rotary Kids. Com alegria voltei a vários clubes para comemorar aniversários de fundação, para fazer palestras, participar de seminários, para entregar comendas de Companheiros Paul Harris e para receber homenagens.

O ápice de uma governadoria é a Conferência Distrital. A Conferência da Alegria foi um encontro de amor, encontro de ternura, encontro de verdadeiro companheirismo. Ela foi realmente INESQUECÍVEL.Ficará para sempre em nossas mentes e corações.

O tempo passou como um piscar de olhos ou um estalar de dedos. “O tempo não para, o tempo não para”! Está escrito nos versos de Cazuza. É a marcha inexorável da vida. Mas ele não passou em vão, descuidado ou desperdiçado. Talvez não fosse suficiente para se executar todas as propostas, mas foi profícuo e benevolente nas ações realizadas, haja vista em prêmios recibos pelo meu ano rotário.

No dia 3 de julho de 2010 fui até a cidade de Patos de Minas entregar ao meu sucessor, Wilson Caixeta de Castro, o bastão para que ele continuasse esta corrida de servir e amar ao próximo. Valeu à pena? Faço minhas as palavras do grande poeta português Fernando Pessoa no seu poema, quando cantava o poder domar nas conquistas portuguesas que diz:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar.
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.”


Um pouco da nossa história

Maria Luiza Silveira Teles
Cadeira nº 42
Patrono: Geraldo Tito da Silveira

Revendo um filme que tantas vezes passei para meus alunos em todos os recantos do país, minha alma volta ao velho casarão da Rua Cel. Celestino, hoje “Corredor Cultural Padre Dudu”

Foi lá que passei grande parte de minha vida. Foi lá que lecionei por anos com grande paixão como o professor do filme.

Ah, recordo-me de cada turma, de cada aluno! E um mundo de
lembranças passa por minha cabeça... O interesse vibrante de uns pela disciplina, o desabafo de tantos com seus problemas familiares, amorosos e existenciais... Como amei cada um desses alunos! E penso que também fui amada, pois fui madrinha, ano após ano.

Em 1974, recebi uma medalha pelo reconhecimento dos alunos
que me elegeram a melhor professora do ano no curso de Pedagogia.

Agora, minh’alma passeia por suas salas e corredores e vejo desfilar por minha mente aquele alvoroço do entusiasmo de todos pelo Saber.

Alguns alunos estão vivos em minha memória e em meu coração, mas já estão em outro plano. Sei que não parece justo. Aluno algum deveria preceder seus mestres na Grande Viagem, assim como os filhos não deveriam preceder seus pais. Mas, sabe-se lá qual o Plano Divino? Quem somos nós para contestar?!

Na Secretaria, Adélia, sempre sorridente, pronta para atender a todos. Com todos os arquivos da história de nossa escola na cabeça. Doce Adélia! Saudosa Adélia!

Pelos corredores, Dalva Dias, Paulo Pimenta, Padre Tadeu, Padre Murta, dona América, Hamilton Lopes, Sônia Quadros, Antônio Jorge e tantos outros que nos ensinaram, com sua postura, seu exemplo, seu conhecimento... Minha alma parece perceber suas sombras por lá, talvez saudosos como eu...

Vejo Mary e Baby Figueiredo, Florinda Ramos, Isabel de Paula, verdadeiros ícones de nossa História, por sua luta e competência. Vejo mocinhas e rapazinhos, que brilharam na vida cá fora e se tornaram gente madura, educadores de verdade, e, hoje, já avôs e avós...

Ah, a nossa velha escola, que vivia caindo aos pedaços, com um conserto daqui, outro dacolá. Quantas vezes demos aulas nos cantos, fugindo das goteiras.

Um dia, parada diante dela, não pude conter as lágrimas... Quem hoje pode imaginar o que vivemos ali naquele antigo casarão, berço da atual Universidade?... Só nós sabemos das lutas, das dificuldades, dos obstáculos a serem vencidos e do entusiasmo e alegria de todos, apaixonados pela velha escola e pelo Conhecimento. Quantas madrugadas trabalhamos em projetos, sem ganhar um tostão, simplesmente levados pelo ideal...

O antigo casarão é um dos poucos que a Memória Montes-clarense mantém de pé.

Hoje mesmo, passando pela esquina da Rua Tiradentes com a Praça Coronel Ribeiro, deparo-me com casas que vieram abaixo. Cada casa destruída dói-me no peito, pois é um pouco de mim e de nossa História que se vai...

Amo aquelas casas que resistem ao tempo e à ânsia devoradora do capitalismo atroz, que só pensa em construir prédios e mais prédios, que vão descaracterizando a nossa querida Montes Claros.

É, pode ser que, embora ainda cheia de vida, de energia e entusiasmo, com a alma jovem, um pouco de mim esteja já envelhecendo e sendo tomada pelo saudosismo. A verdade, porém, é que gostaria que Montes Claros fosse como Ouro Preto, Diamantina, Salvador e outras tantas cidades européias que mantêm de pé construções seculares!

Sei que a cidade tem de se expandir, crescer e progredir. Mas, será que o preço desse progresso deve ser a morte de nossa História?

Quando me deparei com a casa de Cândido Canela no chão,
também não pude conter-me... Lá não deveria ser um museu onde guardaríamos com carinho as lembranças de nosso poeta maior?...

As novas gerações montes-clarenses (quem inventou essa forma “besta” de escrever?...) estão crescendo sem conhecer os nomes daqueles que tanto lutaram por nossa terra em várias áreas. As vidas das pessoas não são feitas de tijolo e argamassa, mas de lutas, crenças, ideais, risos, lágrimas, sangue e utopias. Tem uma casa vida se lá dentro não se desenrola uma história?

‘Por isso, a História é um relicário tão importante. Só através dela podemos compreender a nossa identidade cultural. É como se ela fosse o Inconsciente Coletivo que guarda todos os fatos que fizeram de nós o que somos hoje, como pessoas, como cidadãos, como cidade.

Acaso tantos bons profissionais formados pela UNIMONTES conhecem os nomes e a vida daqueles que estão lá naquelas placas?... Já ouvi, inclusive, a conversa de uma possível retirada delas para a colocação de outros nomes.

Querem assassinar e apagar a nossa História?

Será que as tantas faculdades que por aí proliferam lembram-se, com respeito, dos nomes daqueles que implantaram esta ousada e corajosa ideia aqui no solo de nosso sertão, com seu sol inclemente, suas ruas de poeira e sua mentalidade provinciana?...

Ah, Montes Claros querida!... Pouco a pouco todos aqueles que amei, admirei e respeitei estão indo embora e, com eles, os velhos casarões, os antigos recantos de minha juventude...

Olho os rostos de meus companheiros de jornada e vejo que o inverno já lhes deixa sinais na face, no corpo, no cabelo, como também em mim, é claro. Nós, também estamos indo... E quem de nós se lembrará um dia?...

Somos um bocado de heróis que, lutando contra todas as adversidades, inclusive as financeiras, estamos tentando no nosso Instituto Histórico e Geográfico e na Academia de Letras, deixar registrada alguma coisa da nossa História. Será, porém, que a nossa cidade, hoje metrópole, amanhã megalópole, guardará, com carinho e respeito, tudo aquilo que estamos tentando construir? Ou tudo haverá de virar cinza, assim como nós?!

Será que algum jovem sabe responder quem foi João Valle Maurício, João Luiz de Almeida, Corbiniano Aquino, José Macedo, Coronel Georgino, Coronel Tito, Dr. Jardim, Olyntho Alves da Silveira, Paulo Emílio Pimenta, Dr. Júlio de Melo Franco, Mário Ribeiro, Oswaldo Antunes, Toninho Rebello, Dr. Romildo Mendes e tantos outros? Para que não sejam esquecidos nosso escritor e historiador Wanderlino Arruda lançou o primeiro volume de “Construtores de Montes Claros”.


Não basta que estes sejam nomes de ruas, escolas ou praças
. É preciso que as crianças e os jovens aprendam na escola a conhecer os nomes daqueles que, na Arquitetura, na Educação, na Literatura, nas Artes Plásticas, na Segurança, na Agropecuária, no Jornalismo, no Comércio, na Administração e em todas as áreas, enfim, construíram a nossa História e sopraram alma à nossa terra.

Nós ressignificamos o mundo, construímos valores, nomeamos e apagamos saberes e impomos conceitos. Imprimimos na História nossa própria história e deixamos marcas de subjetividade que só o tempo pode acender ou apagar.

Muito dessa responsabilidade cabe aos educadores, aos intelectuais, mas, principalmente à Administração Pública.

Se não formos guardiães de nossa História, quem o será?...


Major Alexandre da Barroca d’Água

Marilene Veloso Tófolo
Cadeira nº 95
Patrono: Terezinha Vasques

No século XIX, o mais antigo dos Rodrigues conhecidos, era João Rodrigues da Silva, morador da Barroca d’água, antiga Bela Vista e hoje cidade de Mirabela. Casado com Ana Vitória da Silva teve três filhos, entre eles o Alexandre, que era casado com Luíza Vieira Camelo, tendo onze filhos, entre os quais consta a minha bisavó Antônia.

Aqui começa a história, em terras brasileiras, porque segundo consta, vieram de terras da península ibérica (Portugal e Espanha). O período ao qual me refiro era restrito a propriedades rurais longe de cidades e povoados, onde o proprietário era um senhor feudal, com a família, agregados e exercia o seu poder político, social e econômico! O que restou deste passado foi um retrato, onde estão várias pessoas de Montes Claros, como: Coronel Spyer, Camilo Prates, Padre Vincart e outras autoridades. As mulheres com vestidos longos, as crianças com as roupas “domingueiras” comemoravam algum acontecimento. A realidade, as lendas, e a tradição oral, chegam-nos de várias maneiras... A autoridade, o mando político, o poder econômico, e o título de major não tem documento que o comprove, apenas as histórias contadas!

Quem foi o Major Alexandre? Homem valente, político, senhor de posses e terras, amigo, leal, homem da lei, ou simplesmente o chefe do seu clã!

A sua história correu pelos Gerais, sua importância ultrapassou
os limites de Mirabela e conseguiu ser respeitado no sertão norte
mineiro, pelos seus atos e descendentes! Sua figura imponente, sua palavra, firmeza e atitudes foram decisivas na época, onde a lei, a política eram locais. Os meios de comunicação eram difíceis, não existiam estradas em todos os recantos, o trem de ferro era nos grandes centros, o homem tinha que sobreviver através de seus recursos e vencer os obstáculos.

A sobrevivência nestas condições materiais, sem apoio político e econômico os homens eram obrigados a fazer a suas leis, unir-se aos outros, num local distante e foi o que fez o Major Alexandre com o que recebeu dos seus ancestrais.

Figura austera, forte, sociável, político, conciliador, acima de tudo empreendedor foi o exemplo que deixou aos seus.

O Major Alexandre, com o título de major, latifundiário, oligarca, comandava a política local de Mirabela, impunha autoridade a seus agregados, familiares, vizinhos e “apadrinhados”. Conseguiu reunir políticos e pessoas importantes da época para as suas festividades. As mulheres usavam jóias, ornamentos levados pelos viajantes em tropas de burro, vindos da capital da província; a vida econômica transcorria ao redor das fazendas, através da criação de gados e suínos. Era a época do voto de “cabresto”, onde se votava no chefe político através de favores econômicos, políticos ou de amizade. A vida social transcorria em torno do engenho, onde a rapadura e a cachaça eram produzidas. Todos se reuniam perto das fogueiras, onde comemoravam
o fim da colheita, o ano de fartura, casamentos, batizados e festas do santo padroeiro... Cantavam, rezavam, dançavam e muitos amores ali começavam entre parentes e vizinhos, sobre a benção dos donos da casa que aprovavam ou não essas uniões... Era difícil a vinda de um padre para essas reuniões que teriam que vir montados a cavalo, por isso as festas eram coletivas.

Foi neste cenário que o poder de Major Alexandre estendeu-se
da sua Fazenda da Barroca d’Água até as cercanias das fazendas vizinhas onde alcançou um grande prestígio.
Pesquisa bibliográfica:

Coronelismo:

“Conceito:
O termo coronel no período republicano significava chefe político, de um determinado local, que geralmente era dono de terras ou comerciante.

O coronelismo foi um período de práticas autoritárias e violentas, comandadas pelos coronéis. Eles conseguiam formar regimes e tributos em sua região, porque possuíam grande quantidade de colonos em suas terras, abusavam de seu prestígio para manipular as pessoas - Como período histórico do Brasil, compreende o intervalo entre proclamação da República em 1889 até a prisão dos coronéis baianos em 1930. Tendo como seu fim simbólico, no assassinato de Horácio de Matos e a derrubada do caudilho gaúcho, Flores da Cunha
e a implantação do Estado Novo em 1937. Era absoluto o poder do chefe local, evoluindo para o coronelismo até as modernas formas de clientelismo. Embora o cargo de coronel da guarda nacional tenha sido originado na própria guarda do período regencial o Padre Feijó (ministro) não era a mesma patente do Exército, e como fenômeno social e político teve lugar, após o advento da República.

Raízes:

Provém da tradição patriarcal brasileira, e arcaísmo da estrutura agropecuária, no interior remoto do Brasil. Os grandes latifundiários e oligarcas começaram a financiar campanhas políticas.

Devido a esta estrutura a patente da guarda nacional passou a ser um título nobiliárquico, concedido de preferência aos grandes proprietários de terras. Desta forma conseguiram autoridade para impor a ordem sobre o povo e os escravos.”

Bibliografia: Moraes, Walfrido. Jagunços e heróis. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1963.

Queiroz, Claudionor de Oliveira. O sertão que eu conheci. Salvador: Editora Alba, 2° edição, 1968.


D. Beja, Chica da Silva e Tiburtina

Marilene Veloso Tófolo
Cadeira nº 95
Patrono: Terezinha Vasques

As cidades mineiras Araxá, Montes Claros e Diamantina não tiveram em comum, apenas, o ciclo do ouro, mas todas elas em épocas diferentes tiveram riquezas advindas dele, e estas mulheres fizeram história nas suas respectivas cidades: Dona Beja em Araxá, Tiburtina em Montes Claros e Chica da Silva em Diamantina.

Qual a ligação entre elas? D. Beja (Ana Jacinta do S. José), na sua beleza, na sua história narrada em novela, criou fama nas terras de Minas.

Falo dos dias, das noites, dos dias de inverno, das noites de lua cheia, de paisagens, de gentes, de crepúsculos, de amores, desamores, de terras distantes, de desenganos, de paixões, riquezas, de algo que não se prende, que se perdeu em sonhos, em pessoas que se perderam em terras mineiras, em rios e fontes do interior das Minas Gerais...

Que gente é essa, que construiu os seus sonhos, nas minas, nos montes e em jazidas do interior do sertão?

Araxá, Montes Claros e Diamantina, com destinos paralelos, cidades perdidas, a procura do ouro, do brilhante, ou do vil metal, que se encontram no meio do sertão, cada uma com seu destino, geográfico, topográfico e cultural, e em cada período fizeram a sua história.

Lendas, costumes, riquezas, gente, construção de estradas, ferrovias, Minas foi se desenvolvendo e construindo, através de suas gentes o seu desenvolvimento!

Traços em comum:
Estas três mulheres foram belas, tiveram no seu passado um homem que era o seu protetor, viviam no luxo, tinham poder político e econômico e as suas histórias de amor eram “sui generis” para a época...

Tiburtina: João Alves.
Dona Beja: O Ouvidor do Rei (Mota)
Chica da Silva: João Fernandes de Oliveira.

Os homens eram pessoas importantes, detinham os poderes: político, econômico e social, mas quem sobressaia eram as suas mulheres, não pela instrução, dinheiro, inteligência, mas pela beleza e poder que exerciam sobre seus companheiros...

Eram mulheres fortes, onde exerciam o seu poder sobre os subordinados, escravos, ou aqueles que conviviam com elas. Casas, carruagens, vida na corte, todos os luxos da época, de um país que iniciava seus passos, eram peculiares a estas mulheres que tinha primazia na sociedade local!

Conclusão:
As mulheres eram as verdadeiras autoras da história, eram elas
que se destacavam na sociedade local, os homens eram aqueles que atendiam aos seus luxos, desejos e comandava-os como capazes de manter seus interesses!

Dona Tiburtina, nos bastidores, ajudava o marido na política local, incentivava-o no exercício da medicina, como mulher e mãe apoiava-o em todos os setores.

Dona Beja, quando criança havia sido levada pelo “procurador”
para longe de casa, durante dois anos, ao voltar para sua cidade foi viver com ele, o qual satisfazia seus gostos e deu-lhe uma vida de luxo e riquezas.

Chica da Silva, era mulata e também bela, conseguiu que João
Fernandes fizesse para ela uma luxuosa casa, uma igreja, e satisfez todos os seus gostos até que ele teve que voltar à Corte.


Dona Beja:

Mulher de rara beleza,
buscou nas águas termais,
na cidade de Araxá
conservar os seus encantos...

A casa é a mais bela,
os escravos a servi-la,
os homens a seus pés,
a sua vontade era de ferro!

Nos verdes das cidades,
no luxo, no poder e no dinheiro,
os amores corriam pelos campos,
a sua lenda corria pelo seu encanto!

Mulher forte, linda e altaneira
cantada em prosa e verso,
foi saudada por nobres e plebeus
e tornou-se um símbolo do povo mineiro!


Dona Beja já
idosa
Fonte: internet


Chica da Silva:

Diamantina é o seu berço,
entre as riquezas de Minas,
as ladeiras e as Igrejas
embalam seus sonhos!

Do “Tijuco” que corre pelos vales,
entre cascalhos e escravos
surge o brilhante altaneiro,
que desperta a cobiça de nobres e plebeus!

De sua luxuosa casa,
nas montanhas de Minas,
entre pedras e morros
ela reina majestosa!

Mulher Forte, bela e autoritária
exige os seus desejos satisfeitos,
gosta de luxos e encantos
e dos homens aos seus pés!

A quietude de Diamantina
é quebrada pelo seu poder,
vivendo em grande riqueza,
nas terras de Minas Gerais!


A ex-escrava Chica
da Silva sendo
conduzida por suas
escravas.
Fonte: Cristinavela.
blogspot.com


Dona Tiburtina:
Coragem, valentia
e beleza

Tiburtina:

Mulher bela e cheia de encantos,
vinda de Itamarandiba,
chegou a Montes Claros,
e encantou-se por João Alves!

Ele era chefe político, médico,
homem influente, comandava a aliança liberal,
e rendeu-se a beleza e ao amor de
D. Tiburtina, mulher forte e leal...

Este amor transpôs barreiras,
de preconceitos e tiroteios,
pois João Alves e Tiburtina,
foram protagonistas de seis de fevereiro!

Montes Claros ficou conhecida por este tiroteio
ocorrido na praça Dr. João Alves,
foi manchete nos jornais
da capital da República!

Tiburtina foi famosa,
pela beleza e coragem,
por ter conquistado um homem,
belo, forte e valente!

Não falo do tiroteio, de política, ou desavença,
falo da mulher, bela, de fibra,
da valentia, do amor, da sabedoria,
de alguém que venceu a tirania...
Tudo era contrário a este episódio,
mas Tiburtina, valente, venceu todos os contratempos,
e passou para a história,
como mulher valente corajosa e bela!

Fatos:

Três mulheres mineiras, belas, valentes, viviam no luxo, amparadas por homens de posses, possuíam escravos ou agregados, seus protetores; ou eram políticos, ou possuíam cargos no governo da época. As riquezas, o ouro, os diamantes eram comuns entre os seus bens; eram menos cultas do que os homens da sua localidade; a classe social era privilegiada e estavam entre os que detinham o poder.

A beleza, o poder, a riqueza eram comuns a estas três mulheres, que moravam em lugares diferentes de Minas Gerais, mas detinham estes requisitos...

Em uma época em que os homens eram os senhores, estas mulheres,
mesmo que através dos bastidores conseguiram sobrepujá-los!

Dona Beija, Chica da Silva e Tiburtina, conseguiram tornar-se personagens lendários, através da cultura mineira, apesar de tradicionalista e cheia de preconceitos com as mulheres, que não estivessem de acordo com a Tradição de Minas Gerais.


Montes Claros da minha mocidade

Palmyra Santos Oliveira
Cadeira nº 64
Patrono: José Gomes de Oliveira

Em 1939, em plena 2ª. Guerra Mundial, as moças de Montes Claros se empregaram no comércio, porque os homens haviam ido para o front, na Itália.

Lembro-me de algumas que, como eu, enfrentaram o trabalho fora do lar: Elza Freire, na Casa Ramos (ela foi noiva de um pracinha que, na guerra, aprendeu a falsificar assinaturas. No seu retorno, colocou em prática sua habilidade criminosa, levando-a a romper o noivado com o falsário); Palmyra Teixeira, nas Casas Pernambucanas; Dinha Amorim (filha de Pedro Montes Claros), recepcionista na Alfaiataria Pinheiro; Engrácia, na casa comercial do Sr. Amândio Loureiro; Edwirges de Freitas Teixeira (Du, nossa confreira no Instituto Histórico), ainda criança, no gabinete dentário do Sr. Daniel Graciano; Eu, Palmyra Santos Oliveira, em A Preferida.

Nós fomos as pioneiras do comércio montes-clarense.

À noite, passeávamos na Rua 15.

Na mocidade, tudo são flores, a Rua 15 dos meus amores.

A partir de um flerte, surgia o namoro, que consistia em dançar no Clube Montes Claros, ou andar, um ao lado do outro, acompanhados de amigos; ir para casa conversando e, no final, pegar na mão para se despedir. Não havia beijos para as moças direitas que se prezavam.

Nessa época, havia o Integralismo e, ao passarmos pelos rapazes que se vestiam de verde, nos cumprimentávamos com “Anauê”.

O sr. Plínio Salgado era o grande líder do Integralismo.

Quando chegava um parque em Montes Claros, era armado na
Praça Dr. Carlos Versiani. Aí, o footing da Rua 15 era transferido para o parque.

Nós, moças, andávamos sempre acompanhadas de amigas. E nos protegíamos mutuamente de rapazes mais avançados - que sempre existiram.

Naquela época, quando uma moça arrumava um namorado, todos ficavam sabendo, pois Montes Claros era uma cidade pequena e bucólica.

Havia um aparelho de rádio, no Café do Bentinho. Nas noites de sexta-feira, esperávamos Mary Chaves cantar, na Rádio Inconfidência, com sua bela voz que todo montes-clarense gostava de apreciar, pois era nossa conterrânea, filha do sr. Raul Corrêa.

Nessas ocasiões, a esquina de Betinho ficava cheia de pessoas.

As apresentações eram às 21 horas.

Depois, Montes Claros ganhou a sua primeira emissora de rádio,
a ZYD-7, situada na Rua 15.


Francisco Gê Acayaba de Montezuma

Roberto Carlos Morais Santiago
Cadeira nº 44
Patrono: Heloísa Veloso Anjos Sarmento

Rio Pardo de Minas e São Romão foram os primeiros e únicos municípios criados na região norte-mineira por Decreto Regencial no dia 13 de outubro de 1831, primeira metade do século XIX. O Decreto Regencial foi assinado por José Lino Coutinho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império. Até então, toda a região norte-mineira pertencia à Comarca do Serro Frio. O período regencial durou dez anos entre 1831 e 1841, entre a abdicação de D. Pedro I (1831) e a coroação de D. Pedro II (1841), quando teve sua maioridade proclamada.

Em sua monumental obra literária sobre a história da região de
Rio Pardo, ÂNGELIS (1973: 71-72) descreve a Resolução de 13 de outubro de 1831 que criou as duas vilas:

“A Regência, em nome do Imperador o Senhor
D. Pedro II, Há por bem Sancionar e Mandar que
se execute a seguinte Resolução da Assembléia
Geral Legislativa, tomada sobre outra do Conselho
Geral da Província de Minas Gerais:
Art. 1º. - Ficam creadasvillas na província de
Minas Geraes as seguintes povoações:
(...);
4ª. - A povoação do Rio pardo, compreendendo
no seu termo a freguesia do mesmo nome, e a
de S. Miguel de Jequitinhonha;
5ª. - A povoação de S. Romão, compreendendo
no seu termo o julgado do mesmo nome, e do
Desemboque;
(...).”

Quase dois anos depois, no dia 24 de agosto de 1833 é instalada a Primeira Câmara Municipal da Vila do Rio Pardo, para o período de 1833 a 1836, com a posse dos primeiros vereadores eleitos: Manoel Zeferino Ribeiro (presidente), João Nepomuceno Moreira de Pinho (vice-presidente), José Teodoro de Sá, Donato Francisco Mendes, José Cardoso de Araújo, Plácio José Ferreira e Henrique Manuel de Almeida. A instalação e posse foi em sessão presidida pelo padre Carlos Pereira Freire de Moura (posteriormente eleito Bispo de Mariana), presidente da Câmara Municipal da Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Minas Novas do Arassuahi (atual município de Minas Novas), Comarca do Serro Frio, de onde o território da nova vila foi emancipado (ÂNGELIS, 1973: 199-201).

O território da Vila do Rio Pardo foi dividido nos seguintes distritos: Rio Pardo (sede), Rio Preto, São João, Nossa Senhora de Oliveira, Santo Antônio de Salinas, Santo Antônio da Barra de Itinga e Arraial da Sétima Divisão (São Miguel).

O que pouca gente sabe é a circunstância em que foi criada a Vila do Rio Pardo. Pode-se afirmar que foi ao acaso em razão da passagem de um baiano no povoado em 1831 com o nome de Francisco Gê Acayaba de Montezuma. Procedente de Salvador e com destino ao Rio de Janeiro, Francisco Montezuma utilizara aquela rota a cavalo.

Ao passar pelo povoado de Rio Pardo ali ficou por alguns dias para descansar e seguir viagem. Com isso teve contato com algumas pessoas, principalmente com o líder local Conrado Gomes da Silva, filho de João Gomes da Silva e Thereza de Jesus Caldeira, e sobrinho do terceiro contratador de diamantes, Felisberto Caldeira Brant. As pessoas simples do povoado logo ficaram sabendo que aquele visitante era deputado e possuía muito prestígio junto a Alta Corte Regencial (1831-1840), no Rio de Janeiro.

Agradecido pela boa recepção do povo local se colocou à disposição do povoado para atender qualquer solicitação ao seu alcance. Localizado em um ponto distante do sertão norte-mineiro, com uma economia primitiva, refém da exploração decadente dos diamantes e sem qualquer tipo de influência política, os rio-pardenses vislumbraram naquele homem a possibilidade de pleitear na Corte a elevação do povoado à categoria de Vila (equivalente a município atualmente), uma antiga aspiração local. Este, comovido com a recepção e com os apelos e justificativas, principalmente de Conrado Gomes da Silva, se colocou à disposição para ser porta-voz junto à Corte.

Pouco tempo depois de sua passagem pelo povoado de Rio Pardo, foi publicado Decreto Regencial elevando a povoação à categoria de Vila, no dia 13 de outubro de 1831. E mais: Conrado Gomes da Silva foi nomeado Tenente-Coronel da Guarda Nacional.

Comovido e grato, o povo de Rio Pardo rebatizou o nome do
povoado de Água Quente para Montezuma em sua homenagem. O lugar é muito famoso por suas fontes termais e possui grande potencial turístico.

Mas, quem foi esse homem responsável pela criação da Vila do
Rio Pardo em 1831, que desencadeou processo de surgimento de novas vilas, a partir de então?

Francisco Gê Acayaba de Montezuma nasceu em Salvador, Bahia, no dia 23 de março de 1794 com o nome de batismo de Francisco Gomes Brandão, filho do comerciante português Manoel Gomes Brandão e da mestiça brasileira Narcisa Teresa de Jesus Barreto.

Ainda jovem, tentou a carreira militar, mas foi obstado pela sua
família que se opôs. Depois, em 1816, agora com estímulos da família, foi para Portugal estudar na tradicional Universidade de Coimbra, onde se formou na Faculdade de Ciências Jurídicas e Filosóficas em 1821. Retornando para a Bahia torna-se defensor ardoroso da independência.

Proclamada a Independência, em 1822, abandona o nome de batismo, passando a se chamar Francisco Gê Acayaba de Montezuma, como forma de se opor ao colonialismo lusitano. Como prêmio por sua participação nas lutas, o Imperador D. Pedro I concede a Francisco Montezuma o título de Barão de Cachoeira, que foi recusado. Porém, aceitou ser agraciado com a comenda da Imperial Ordem do Cruzeiro.

Francisco Montezuma ingressa na política em 1823 e é eleito deputado pela Bahia, indo para a Corte. Ali, exerce ferrenha oposição ao Ministro da Guerra. É preso e exilado na França por oito anos.

No seu retorno ao Brasil, é eleito para a Assembleia Geral Constituinte de 1831. Torna-se o primeiro deputado brasileiro a levantar bandeira contra o tráfico negreiro se colocando como um dos pioneiros do movimento abolicionista.

Em 1837, é nomeado Ministro da Justiça e dos Estrangeiros. Ocupou, ainda, o cargo de Ministro Plenipotenciário (diplomata) junto ao Império Britânico.

Em 1850, foi nomeado Conselheiro de Estado, e em 1851 se elege Senador por seu estado natal, Bahia.

Foi fundador e primeiro presidente do Instituto dos Advogados do Brasil e um dos membros-fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil.

Recebeu o título de Visconde com Grandeza (Grande do Império), por meio de Decreto Imperial de 2 de dezembro de 1854. Foi ainda comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e condecorado com a medalha da Guerra da Independência.

Francisco Gê Acayaba de Montezuma teve lugar de destaque na história da Maçonaria do Brasil. Em 12 de março de 1829, então no exílio, recebe do Supremo Conselho dos Países Baixos, hoje Bélgica, uma carta de autorização para instalar um Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil. De volta ao Brasil, instala o Supremo Conselho, usando a autorização do Supremo Conselho da Bélgica, em 12 de novembro de 1832.

Figura polêmica e contraditória, Francisco Gê Acayaba de Montezuma foi pessoa importante durante o Segundo Reinado. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 15 de fevereiro de 1870, aos 76 anos.

Sua breve passagem por Rio Pardo, em 1831, foi um marco histórico para a região do Alto Rio Pardo, hoje compreendida na Microrregião de Salinas, e região norte-mineira. Culminou com o início de mudança na geopolítica da região, com o surgimento de novas vilas e termos. Atualmente, a região Alto Rio Pardo é composta por dezessete municípios e área geográfica de 17,8 mil quilômetros quadrados, com população de 209,2 mil habitantes (Censo IBGE, 2010). O povo da região, sobretudo o rio-pardense, deve render a Francisco Gê Acayaba de Montezuma todas as homenagens.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÂNGELIS, Newton Cônego. Efemérides Riopardenses. Salinas: R & S Arte Gráfica, 1973.

NEVES, Antonino da Silva. Corografia do Município do Rio Pardo. Montes Claros, 2008 (edição especial em homenagem aos 100 anos de nascimento do Autor).

PIRES, Simeão Ribeiro. Serra Geral: Diamantes, Garimpeiros e Escravos. Belo Horizonte: Cuatiara, 2001.

SITE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_J%C3%AA_Acaiaba_de_
Montezuma.


Praça de Esportes retalhada!

Ruth Tupinambá Graça
Cadeira nº 96
Patrono: Tobias Leal Tupinambá

O que será da nossa “Princesa do Norte de Minas” se a Administração Pública continuar retalhando-a, vendendo pedaços às empresas gananciosas que pensam somente em “cifras”? Chegou ao cúmulo do absurdo: vender parte da nossa Praça de Esportes, para, em troca, construir um “majestoso estádio”, um “grandioso teatro” terminal de ônibus urbanos, etc. A cidade realmente precisa (pelo seu valor cultural) de um teatro, mas não é “desvestindo um santo para vestir outro” que se resolve um problema. Não será retalhando a Praça de Esportes, destruindo uma obra tão querida e necessária, em troca de outras construções para as quais faltam verbas.

As crianças e adolescentes - juventude de nossa cidade - precisam de práticas esportivas e lazer e não têm outra opção: por que a Praça de Esportes ficou abandonada, sem rumo sem direção adequada?

Tudo culpa da administração pública e também da nossa comunidade displicente que aceita tudo por comodidade. Sabemos que o esporte é a esperança, a solução para tirar a juventude do vicio das drogas, que cresce assustadoramente em nossa cidade. Traficantes tomaram conta e as “bocas de fumo” se espalham por toda a periferia, causando diariamente mortes e assaltos. A violência nos assusta; a população vive presa atrás dos altos muros e das cercas elétricas, enquanto os “reis das drogas”, matando e roubando, zombam da policia. Pois realmente são os “donos do pedaço”.

A nossa Praça de Esportes já deveria ter sido tombada como Patrimônio Histórico pelos relevantes serviços prestados á nossa comunidade. Ela Tem valor próprio, È a nossa herança do passado com que vivemos hoje e passaremos para gerações vindouras, levando-se em consideração seu interesse e trabalho para identidade cultural da nossa cidade.

No passado, centenas de jovens atletas ( por ela treinados) brilharam, disputando em várias cidades do nosso Estado, elevando o nome de Montes Claros e trazendo medalhas. A Praça de Esportes tinha vida, tinha alegria e orgulho dos seus campeões, Eu era jovem e freqüentadora e posso neste momento dizer o que foi a Praça e os momentos felizes da sua existência e que muitos desconhecem.

A Praça de Esportes não surgiu de uma noite para o dia como
num “passe de mágica”. Foi muito difícil a sua trajetória. Em 1941 ela surgiu bela e majestosa conquistando todos os corações. Este acontecimento marcou época em nossa cidade. Nem todos sabem o que foi outrora o local onde ela se localiza hoje. Era uma várzea servindo de logradouro público, e na época de chuvas ela se transformava num verdadeiro pantanal. Até 1938 esta várzea escura e triste permaneceu abandonada. As noites eram tranqüilas e o único sinal de vida era o coaxar dos sapos, que na sua orquestra extravagante quebrava a monotonia daquela várzea, em completa solidão. Chamava-se Prado Oswaldo Cruz.

Um largo enorme, maltratado, algumas casas comerciais antigas espalhadas ao seu redor e no centro um grande “papa vento”. As autoridades competentes da nossa cidade, até então, nunca conseguiram transformá-la numa praça atraente e bonita, nem tampouco aproveitar aquela imensa extensão para melhores fins. Os anos foram passando e o destino (para sorte de Montes Claros) deu-lhe um novo Prefeito: Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, o Dr. Santos, como era chamado.

Inteligente, dinâmico, admirável força de trabalho, empreendedor de grande coragem e otimismo. Bom caráter (o que hoje é mais difícil) personalidade forte que levava pessoas a respeitá-lo, inclusive os amigos e correligionários.

Dr. Santos sonhava com o progresso de Montes Claros e cheio de entusiasmo, idealizou a Praça de Esportes. Queria um esporte planejado e bem orientado, de maneira que a infância, adolescência e juventude montes-clarense pudessem praticá-lo desenvolvendo-se física e socialmente. A obra era caríssima, levando em conta os cofres vazios da Prefeitura. Naquela época não existiam as gordas verbas de hoje, principalmente para as regiões esquecidas do nosso sertão. Entretanto nunca desistiu, nem vendeu pedaços da nossa cidade. Graças á sua capacidade de trabalho e prestigio, conseguiu vencer todos os obstáculos.

Em 15 de março de1939 foi lançada a pedra fundamental, começando imediatamente a drenagem daquele famoso pântano. E em 1941 estava pronta a sonhada Praça de Esportes com quadras de vôlei, tênis, piscina, etc.

Trouxe de Belo Horizonte, para beleza e estética, plantas variadas e um jardineiro especializado para cuidar do jardim e treinar os novos contratados da Prefeitura ,que ainda desconheciam técnicas de jardinagem. Nossa Praça ficou um luxo!

Mais tarde foi construída a sua sede social, luxuosa e confortável, anexa . Era o ponto onde se celebravam todos os acontecimentos políticos e sociais da nossa cidade. AS recepções (inclusive serviço de “buffet”) dos casamentos das minhas filhas foram realizadas no salão da sede da Praça, com um serviço impecável. Aos domingos aconteciam as celebres “matinês dançantes”, a “coqueluche dos anos dourados. No salão repleto reinava alegria, animação e respeito. E como dançavam naquele tempo!..

Época dos boleros de rosto colado, única extravagância permitida aos namorados. Nada de bebidas alcoólicas. Era só o prazer de dançar e sentir o calorzinho do par muito querido e desejado. A nossa cidade foi crescendo, surgindo novos clubes e a Praça de Esportes foi ficando no escanteio.

É o grande defeito dos prefeitos( na maioria) : quando assumem a Prefeitura não valorizam e abandonam o que os antecessores fizeram. Até a sede social foi demolida, nem mesmo sabe-se por que. Coisas que só em Montes Claros acontecem. Hoje ela está mais velha e mais triste. O seu jardim, antes tão bonito, perdeu aquele colorido, as flores desapareceram, morreram de sede e de paixão... E as “bougainvilles” que formavam uma cerca viva em sua volta - numa festa de cores - foram desaparecendo, pouco a pouco.

Árvores enormes, sem trato, tomaram conta quebrando sua estética. Hoje é apenas uma caricatura. Tornou-se cada vez mais isolada com ausência dos namorados, dançarinos e atletas dos áureos tempos. Desprezaram-na. Esqueceram-se dos mais de 60 anos de benefícios prestados á nossa comunidade. Nos sa Praça de Esportes está morrendo e que morte triste! Retalhada. Acordem, montes-clarenses! Basta de displicência e comodismo. Balancem este “formigueiro humano” (como no passado) e protestem, gritem, convoquem os responsáveis pelos problemas políticos e sociais da nossa cidade e região, deputados, vereadores, políticos e comunidade. Não deixem a peteca cair...

Do contrário será mais um Monumento Histórico que irá desaparecer, assim como Igrejinha do Rosário, Mercado Municipal, Colégio Diocesano e muitos outros já demolidos para nossa tristeza e saudade.


Ângelo Soares Neto

Wanderlino Arruda
Cadeira nº 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

Já não é mais tempo de escrever sobre o “Hotel Cachoeira de S. Felix”, considerado o grande tempo que nos separa do lançamento feito em Montes Claros pelo meu amigo e colega Ângelo Soares Neto. Faço-o, entretanto, levando em conta a sua eleição e posse na Academia Montesclarense de Letras, quando vida e obra tiveram o máximo de destaque para acadêmicos, familiares e público em geral. Agora vem-me à mente uma lembrança muito grata da nova leitura que fiz do romance escrito em Salvador pelo montes-clarense de Taiobeiras, o amado filho de D. Laura.

Acrescente-se também a recordação de um interessante discurso feito no lançamento por Ubaldino Assis, tio e conselheiro do romancista, um desfilar de apontamentos entre o racional e o apaixonado,coisasdequandooÂngeloeragaroto,meninoderecados do Banco do Nordeste, aluno do velho Instituto do Dr. João Luiz.

O tempo passa, a experiência amadurece, as visões e as realidades da paisagem de muitos pedaços de Brasil vão se fixando na memória do escritor. A imensidão de Brasília, o vertical, o horizontal, as linhas curvas da arte de Lúcio Costa e de Niemeyer, a busca da solidariedade, o mando, o asfalto, o agreste, a imensidão do planalto de Goiás, tudo fica retido. Ao lado ou como superposição, o mar, o verde mar de Iracema, a lagoa azul de Iracema, a praça do Ferreira, a Aldeota, a cajuína, o caju, a graviola, o mercado, o calor de Fortaleza e, como símbolo do Ceará, a serra do Baturité. De longe, como memória de infância, o gerais, o serrado, o frio, a garoa, os pequis de Taiobeiras. Muito de Irecê, de Itabuna, de Propriá, de Guanambi, um mundo, um mundão desta terra descoberta por Cabral.

De Montes Claros, Ângelo revive uma gostosa vida de menino levado, parada dura no Grêmio do Instituto Norte Mineiro, curso de contabilidade, primeiras namoradas, feijão-tropeiro, torresmo, quebra-queixo, seresta, cinemas aos domingos para ver os seriados, conversas perdidas na frente da casa de Konstantin, solteirão da rua D. João Pimenta. Acredito que, além da diversão que era muita, aconteceu também muita leitura nos escritos de Cândido Canela, Olyntho e Yvonne Silveira, Nelson Viana, João Chaves, substrato que floresce, hoje, em muitas de suas ideias.

Claro que a evidência maior é mesmo a da cidade de São Salvador, principalmente do Largo do Pelourinho, campo de batalha antigo de estudantes
e intelectuais e atual de prostitutas e viciados, vivendo eternamente de batidas da polícia. De Salvador, Ângelo revive seus melhores anos de Banco do Nordeste e da Faculdade de Direito, mas, principalmente, da pensão-hotel-república, mundo de suas aventuras de amor e perdição. Professor de dança para americanas, guia turístico de fala francesa nos fins de semana, foi ele um jovem cidadão baiano no Farol da Barra, no Terreiro de Jesus, na Praça Castro Alves, na Avenida Sete, na grã-fina Rua Chile, para não falar das incursões do Mercado Modelo, da Feira da Água dos Meninos, nas praias de Amaralina até Itapoã. Dir-se-ia um universo de contradições do maravilhoso pagão e do místico cristão, produto da mescla cultural que só a Bahia consegue ter e reter.

“Hotel Cachoeira de S. Félix” é um livro de confissão à moda de Darcy Ribeiro, em “O Mulo”. De repente, o autor se deita num divã do analista e começa a contar suas experiências, suas vivências, a vida das pessoas que passaram por sua vida. Pensa e sonha com o que foi real, dando mais forças aos temperos das comidas e no doce sabor dos beijos das namoradas ou das mulheres de encontros sem compromisso. De repente, o autor descobre na força telúrica dos homens e mulheres rudes do campo, do casamento do indivíduo com a natureza, das paixões de baixo de cobertores domésticos ou dos lençois enxovalhados das casas de tolerância, um universo de perfumes de mocinhas de boa família e de fêmeas de brilhantina barata, tudo numa vida mais agitada que um furacão ainda por explodir.

Felizmente, o autor fala também de artes, de sentimentos, de ternuras, de doces carícias, de inocência, de momentos em que um minuto vale por um milhão de séculos, onde o passageiro é a eternidade. Tudo uma fotografia verbalizada do acontecido. Quando registrada, a palavra não passa!


Armindo Morais

Wanderlino Arruda
Cadeira nº 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

Os revoltosos iriam chegar a qualquer hora e, para passar por Salinas, a fazenda do meu avô João Morais tinha que ser caminho obrigatório. Como esperá-los seria loucura ou, no mínimo, ato bem arriscado, todo o pessoal da fazenda tratou depressa de tirar o time de campo e descobrir o lugar mais isolado e seguro que fosse possível encontrar. Aliás, isso não seria problema, pois, quem mais conhece mesmo a sua fazenda é o fazendeiro. Meu avô deu ordens expressas para que levassemde um tudo, o necessário para uma agradável aventura de pelo menos trinta dias: material de cozinha, roupas de dormir e de vestir, vacas de leite, garrotinhos de carne macia, porcos, cabritos, frangos e galinhas, capões, todas as abóboras e maxixes e raízes de mandioca mansa que pudessem tirar, sal, tempero, rapadura, açúcar de pedra, e mais todos os etcéteras - etcéteras. Também o mais importante para os trinta dias de festas: pandeiros, violões, sanfonas e um ou outro garrafão da melhor pinga do alambique, não muita, porque minha família nunca foi de beber lá esse tanto.

Quando penso nessa proeza, não posso fugir à lembrança de saída dos judeus para a Terra Prometida, com Moisés e Josué dirigindo o povo com todos os animais e todos os terecos de valor. Para governar o rebanho, foi nomeado o filho mais velho, o mais ajuizado, o defensor intransigente do patrimônio, já quase em ponto de se casar, o Armindo Morais. Todos contam, ainda hoje, da pequena viagem, como uma grande saga, um ato de alegre heroísmo, um descontraído sacrifício de velhos e jovens, de patrões e agregados, Mamãe conta que, mesmo nas paradas para o descanso das mulas de carga, o sanfoneiro tinha de tocar e a dança era obrigatória. Para qualquer fomezinha, morria logo uma leitoa, o arroz com carne, cozinhava fumegando de gostoso. Todos gozavam a vida e só o Armindo dava o toque de responsabilidade no verdadeiro serviço, só ele comandava para assunto sério.

Conto esta estória para dizer que talvez tenha sido nesse impre visto contra-revolucionário de 1926 o grande início de vida do meu Tio Armindo, um homem de sessenta anos de trabalhos, do dia que se entendeu por gente até a hora final por acidente numa fazenda do Pará. Todo o tempo de sua existência foi tempo sem férias ou feriados e, como não podia deixar de ser, a última viagem era também de serviço. O melhor descanso - dizia - era um bom exercício, ma atividade para ocupar a cabeça, dar tratos ao juízo. Quando sentiu terminar sua tarefa de fazer as fazendas de Salinas, Cachoeira de Pajeú e numa espécie de sesmaria que comprou de Filomeno Ribeiro pelas bandas do Rio Caititu, pulou de fronteiras e iniciou um novo império nas matas da Amazônia. Não era homem de pequenos lotes de terra, era um bandeirante e um colonizador, seja em Salinas, seja em Montes Claros.

Foi conversando com Tio Armindo, aconselhando-o e dele recebendo conselho, interrogando-o sempre sobre a importância da terra e da vida, sobre a pragmática do trabalho e a vantagem de saber pensar, é que criei dentro de mim um grande respeito pelo fazendeiro, pelo homem do campo, a única nação de gente que sabe unir o suor à meditação, sabe remoer calado as fatias de beleza de todas as horas do dia.


Joaquim Soares de Jesus

Wanderlino Arruda
Cadeira nº 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza

Valho-me da filosofia do meu companheiro Alberto Bittencourt, Governador do Rotary em Pernambuco, para afirmar que Joaquim Soares de Jesus é, sem qualquer dúvida, uma personagem- -solução, que participa, com interesse, de todos os eventos, sempre disponível, motivado, companheiro e amigo. Agindo com simplicidade, Joaquim é sempre peça importante no tabuleiro de atividades e relações no seu meio ou junto das suas muitas comunidades. Como personagem-solução, integrou - desde muito moço - as mais importantes comissões de trabalho das cidades em que morou e dos seus entornos geográficos, seja fazendo, seja ajudando a fazer. Como personagem-solução, esteve, dia e noite, interessado nos resultados sociais e culturais. Quando houve problemas, não perdeu tempo e interesse, e sempre se concentrou em resolvê-los. Grande Joaquim!

Não é esta a minha primeira participação no livro MINHA HISTÓRIA, MINHA VIDA. Já nos primeiros rascunhos, nos primeiros gestos de alinhavar escritos, Joaquim procurou ouvir os conselhos deste seu amigo, pelos muitos anos mais vividos, um pouco mais de experiência. Talvez mais do que isto, por ser mais do que conterrâneos nas andanças, nos estudos e no trabalho por este Norte de Minas, além das participações em múltiplas instituições que moldaram e ainda moldam nosso caráter. Acredito que nunca faltei com o incentivo e o louvor para que fosse materializado o seu sonho e o seu desejo, formadores de exemplo e cidadania. Juntos no ontem, junto no hoje, espero ainda muito mais juntos no amanhã.

Se pudéssemos ter ainda mais consciência do quanto nossa romagem terrena é passageira, talvez pensássemos mais um pouco antes de postergarmos oportunidades de sermos mais felizes e de fazermos outras pessoas tão felizes como nós, ou ainda muito mais. Queiramos ou não, sentimos saudade de certos momentos da nossa vida e de certos momentos de muitas pessoas que passaram por ela. A verdade é que, a longo prazo, moldamos nossas vidas e moldamos a nós mesmos em processos que nunca terminam. Creio até que é por isso que nunca devemos aprisionar nossos dons, nossos modos de ser, pois pequenos ou grandes sempre são válidos para outras pessoas que nos fazem de espelhos. Alguém em algum lugar tem fome de seguir bons exemplos. Desculpe-me o leitor, mas é preciso dizer que até humildade tem que ter limites. Que não fiquem escondidos nem os pequenos nem os grandes amores, nem as pequenas nem as grandes amizades. Foi Madre Tereza de Calcutá que disse: “Não pense que o amor, para ser genuíno, tenha que ser extraordinário. O que é preciso é amarmos sem nos cansarmos de fazê-lo”. Foi Vinicius de Morais que escreveu: “Eu poderia suportar, embora não sem dor que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos”.

Espero que o livro MINHA HISTÓRIA, MINHA VIDA seja um alento de entusiasmo e de muito interesse para todos que o lerem. Um perfeito exemplo de grandeza para a vida do aprender e do trabalhar, para fixar boas razões do quanto vale a prática do bem em todas as etapas desta viagem que Deus nos concede realizar por aqui. Como ninguém pode exigir amor de ninguém, podemos apenas dar boas razões para que gostem de nós. Sejam constantes, pois, as nossas ações para melhorar o mundo e as pessoas, pois embora pequenos, somos parte importante da criação. Assim, nada mais importante do que a solidariedade. Chico Xavier nos ensinou que o Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros. Daí o sucesso de Joaquim!

Parabéns, querido Amigo e Irmão Joaquim Soares de Jesus. O seu livro marcará época, servirá de exemplo, constituirá leitura proveitosa e agradável. Alegrará os seus filhos e netos, alegrará muito e muito os seus admiradores, os que acompanham você em muitas etapas da sua vida. Artista principal da peça, esteja certo que nunca estará sozinho no palco, pois seus exemplos foram sempre dignos de acompanhamento. E quem não estiver no alto, no meio do cenário, estará num entusiástico auditório, de pé e à ordem para sempre aplaudi-lo. Você nos ensina a olhar para fora e sonharmos, e a olharmos para dentro e despertarmo-nos. Você é personagem perfeita do que escreveu Fernando Pessoa, os supra Camões da Língua Portuguesa: “O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”

Que o Grande Arquiteto do Universo o proteja muito, nos proteja sempre!